9 de abril de 2025

Qual o sentido do sofrimento em minha vida?

Fortes nas tribulações

São Mateus 16,24

"Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me."

O sofrimento é o meio eficaz que Deus me dá para que eu possa ser forjado na graça para uma vida de santidade. As tribulações são realidades que, embora aparentem ser uma realidade ruim ao olhar meramente humano, no âmbito espiritual é a realidade que Deus se utiliza como instrumento eficaz que me faz ser melhor, que me santifica. Quando não sou compreendido, quando sou humilhado, quando sou colocado em circunstâncias de indiferentismo, estes são também meios que estão me forjando, e que preciso aceitar de bom grado.

Eclesiástico 2,1-5;8

"Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; [2]humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, [3]sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que, no derradeiro momento, tua vida se enriqueça. [4]Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. [5]Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação. [8]Vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa."

Essa palavra de Eclesiástico aponta exatamente o que ocorre a alguém que está sendo introduzido na olaria de Deus. Nessa olaria, se o barro ainda está fora do ponto para moldar a peça no torno, o Oleiro vai amassar aquele barro, lançar água e bater com o malho até conseguir achar o ponto certo para que aquele barro seja modelado de acordo com o que o oleiro deseja criar. Assim também eu sou, como esse barro nas mãos de Deus: se ele vê que preciso ser "malhado" para ganhar a forma que Ele quer me dar, eu preciso aceitar de bom grado. Carregar a cruz renunciando a si mesmo é saber que vou perder o prestígio, vou perder talvez boa fama, vou ser injustiçado, vou ser difamado, incompreendido e vilipendiado.

Crédito: Tobias_K / GettyImages

São Lucas 22,42

"[42]Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua. Ele, como Filho de Deus, fez esse processo a ponto de suar sangue. Antes de carregar a sua cruz para nos salvar e abrir o paraíso para nós, Ele sofreu, e por esse sofrimento e angústia, fez d'Ele como grão de trigo amassado, ou azeitona esmagada e espremida para extrair o seu óleo.

Para Jesus suportar a dor e o sofrimento, seja ele moral ou na carne em seu físico, Ele passou pelo processo da renúncia de si mesmo.

Hebreus 5,7-8

[7]Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. [8]Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.

Por isso, sem renúncia não há obediência, não haverá sacrifício, não há cruz; e por assim ser, não haverá ressurreição.

Filipenses 1,28-29

"[29]porque a vós vos é dado não somente crer em Cristo, mas ainda por ele sofrer." Tenho que ter em mim essa certeza: não basta apenas crer em Jesus, mas devo, através dessa fé, caminhar neste mundo como ele caminhou (cf. 1 Jo 2,6), aprender que o sofrimento vai gerar vida, vai gerar santidade, vai gerar conversão em mim. Pois não é um sofrimento sem sentido, é um sofrimento que tem foco, que tem horizonte. Portanto, devo, de bom grado, renunciando a mim mesmo, tomar a minha cruz de cada dia e segui-Lo aonde Ele me levar.

 Confiar em Deus

A tribulação, as perseguições, as incompreensões, as indiferenças, as injustiças, os maus tratos e toda realidade que eu possa vir a sofrer são realidades que me darão mais lastro, mais consistência, mais constância , mais esperança, pois é no sofrimento que o ser humano cresce e encontra o sentido do para que ele é.

Senhor, ajuda-me a entender, de maneira madura, essa realidade da lógica do sofrimento, não segundo o olhar humano, mas diante da Tua graça e misericórdia para comigo.

Que eu não fuja da minha cruz por não ser capaz de renunciar a mim mesmo, mas, ao contrário, que eu aceite de bom grado tudo o que me acontecer, na certeza de que, mesmo sendo esmagado como uva no lagar, azeitona na prensa ou grão de trigo no pilão; eu saberei que o Senhor estará tirando para a minha salvação, o vinho, o azeite e a farinha para o pão…


Que eu possa saber olhar nesta ótica sempre e, por assim ser, renunciar a mim mesmo para viver para o Senhor na alegria de que, se estou nesta dinâmica, significa que estou sendo moldado por Ti em seu torno, para a minha santificação.

Ajuda-me a ser, pelo sofrimento, uma pessoa capaz de suportar as contrariedades com respostas de amor, conforme ordena o Senhor em seu Evangelho.

Amém!

Paulo César 
Missionário Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/sofrimento-caminho-de-santidade/

O sentido da oração cristã: louvor, gratidão e conversão

O que é a oração?

São Tomás de Aquino, utilizando São João Damasceno, responde com perfeição: "É a elevação da mente a Deus para louvá-Lo e pedir-Lhe coisas convenientes à eterna salvação". 

Veja a importância dessa definição: não se trata de pedir bens temporais apenas ou curas, milagres, solução de problemas e de sofrimentos, mas, antes, elevar a mente a Deus para louvá-Lo. Quando estamos afastados do pecado, precisamos ter um submisso agradecimento a Deus pelas coisas que Ele nos dá, mesmo que, em meio a isso, esteja algo de que não gostamos, pois tudo serve para a nossa conversão.

Créditos cancaonova.com

Ao nos dirigirmos a Deus, precisamos pedir tão somente aquilo que convém à nossa salvação. Se algum bem temporal pode nos conduzir ao apego, à distração das coisas de Deus, o melhor é não pedir. Pense: Deus vai nos dar aquilo que vai nos afastar d'Ele? Como importa, portanto, pedir somente aquilo que pode nos conduzir à salvação!

Quando sabemos orar, construímos uma vida de oração que nos aproxima de Deus

Agora, mesmo estando em pecado, convém nos aproximarmos de Deus, especialmente para Lhe pedir ajuda para ter uma vida mais próxima d'Ele!

Existe um livro que se chama "Teologia da Pefección Cristiana", de um padre dominicano chamado Fr. Antonio Royo Marin. Na última parte desse livro, há um tratado sobre a oração que se chama "Os Nove Graus da Oração". Temos, ali, a explicação do passo a passo de como construir uma vida de oração e como progredir nela.

No primeiro grau de oração, temos a oração vocal. É o primeiro grau, o mais simples, acessível a todo cristão. Nela, estão as orações da Igreja, assim como a Santa Missa, a recitação do Santo Terço e as jaculatórias. Na oração vocal, também estão as orações espontâneas, quando falamos a Deus como falamos a qualquer pessoa, partilhando nossas alegrias, tristezas, dificuldades e batalhas. 

Quem está no primeiro grau de oração tem a sensação de que, se não falar nada, não há oração. Não cabe ainda ao entendimento dessa pessoa que a oração se passa também na mente, enquanto meditamos na vida de Jesus, nas coisas que Ele fez ou em alguma verdade de fé que a nossa Santa Igreja Católica nos ensina.


 Deus não está longe

Pensemos que Ele está o tempo todo conosco. Mesmo que estejamos cheios de pecado, Ele permanece conosco, sustentando-nos na existência. Portanto, comecemos exercitando a oração vocal, conversando com Deus, partilhando o que se passa no nosso coração, no nosso dia a dia. Não fiquemos quietos como quem diz: "Ele já sabe de tudo". Não! Ele quer que paremos, que nos concentremos n'Ele, que falemos, de todo coração, aquilo que está guardado, das coisas que não temos coragem de falar para mais ninguém. Façamos isso, mesmo nos sentindo indignos de olhar para o céu. Foi pensando em nós que Cristo deu Sua vida. É com cada um de nós que Ele quer se relacionar. 

Sim, nós precisamos ter um relacionamento com Deus. Além da Santa Missa, separemos um tempo para irmos à capela. Ao entrar, devemos nos ajoelhar, cumprimentá-Lo e, se pudermos, nos ajoelhar em algum local ou sentado, falemos com Ele sobre nossas alegrias, dificuldades, desejos, medos e vitórias.

Certamente, Ele vai se mostrar a nós, vai mostrar o quanto nos ama. Quem sabe surge a coragem e a decisão de procurar ajuda para largarmos as coisas que ofendem Deus de alguma forma. É muito melhor o arrependimento, a confissão e a permanência longe dos pecados. Nesse caso, começaremos um caminho de aproximação com Deus. Isso nos garantirá permanecer o tempo todo sob o cuidado divino.

Senhor, aumenta nossa fé

É também extremamente importante para aquele que quer falar com Deus, pedir o aumento da fé. Peçamos com fé o aumento da fé! Parece até uma contradição, porque, como vou pedir com fé para ter fé? Acontece que Deus dá o mínimo para todo ser humano crescer espiritualmente, até mesmo uma pequenina fé. Quando pedimos o aumento da fé, Deus não pode se recusar a nos dá-la. É o melhor e mais verdadeiro pedido de socorro e ajuda. Mesmo para o maior dos pecadores, se este pedir, com sinceridade, o aumento da , todos os dias, em algum tempo, será possível experimentar que a coragem de ficar longe do pecado vai aumentando, a disposição de lutar também; e logo será possível, com a ajuda da graça, com os ensinos da Igreja, dos escritos dos santos e de um desenvolvimento da oração, largar o pecado de vez!

Viu como é fácil? Quer começar a ter vida de oração? Peça a Deus todos os dias, várias vezes ao dia, o aumento da fé! Fale com Ele como um amigo.

Procure conhecer Jesus pelas Sagradas Escrituras, vá à Santa Missa, procure ler sobre a vida dos santos, sobre a doutrina cristã. São pequenos passos que, pouco a pouco, vão nos conduzindo a uma vida de fé mais profunda.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/como-construir-uma-vida-de-oracao/

8 de abril de 2025

Bullying e violência escolar: uma perspectiva católica

Combate ao bullying

Sete de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Esse tema é relevante a todos, mas, em especial, aos pais, professores e gestores escolares. É imprescindível que os formadores de crianças e adolescentes compreendam o seu importantíssimo papel na missão de erradicar o bullying e a violência nas escolas.

Créditos: cancaonova.com

Entende-se bullying como "intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. Inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos entre outros. Torna-se algo rotineiro, em que um jovem ou grupo começa a perseguir um ou mais colegas".

Ainda é relevante destacar que o bullying e a violência causam significativos impactos na vida escolar e pessoal de um aluno, desde o baixo rendimento acadêmico até graves problemas psicológicos. Essas consequências podem perdurar ao longo da vida, chegando até mesmo à fase adulta.

Diante disso, você como pai, mãe, professor, gestor escolar, o que poderá fazer para que seus filhos e alunos não se tornem agressores nem mesmo vítimas de bullying e violência escolar?

Faz parte de sua missão a formação integral da criança e do adolescente. Ou seja, formá-los nos aspectos físico, acadêmico, humano e espiritual. Sim, sem o aspecto espiritual, é inexistente a formação integral, pois somos corpo e alma, não sendo possível a separação. E qual a importância da formação espiritual para o combate ao bullying e a violência escolar?

Educar na fé

A importância se dá, pois, ao formar filhos e alunos na perspectiva de que nascemos para ser santos e um dia chegarmos ao céu, não existirá outro caminho para atingir esse objetivo a não ser o desenvolvimento das virtudes. Ou seja, a formação humana e espiritual fará toda a diferença para que, intencionalmente, as crianças e adolescentes não sejam agressores nem vítimas de bullying.

Mais do que projetos isolados de combate ao bullying e à violência, as escolas precisam se preparar para um currículo que contenha, em sua essência, a formação de alunos virtuosos. Bem como as famílias, precisam ter claramente a visão de que, muito mais do que uma boa casa, presentes etc., é preciso gastar tempo com seus filhos, em prol de uma eficaz formação humana e espiritual.

O Catecismo da Igreja Católica (n. 1804) diz que "as virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade… as virtudes regulam nossos atos, ordenando nossas paixões, guiando-nos segundo a razão e a fé".


Filhos e alunos virtuosos

Ou seja, as virtudes humanas são adquiridas com esforço constante, pois, devido ao pecado original, não temos todas as virtudes como tendências espontâneas ou instintivas. É possível então compreender que as virtudes forjam o caráter de um indivíduo, fazendo com que suas atitudes sejam coerentes com uma pessoa que deseja, antes de tudo, agradar a Deus.

Sendo assim, pode-se esperar que o trabalho de formar filhos e alunos virtuosos seja árduo, mas que os frutos de os ver respeitosos, generosos, mansos, trará a certeza de que a missão da verdadeira formação integral está sendo cumprida com a graça de Deus e seu esforço humano.

Finalizo, então, com o convite: pais e profissionais escolares, não negligenciem essa missão confiada por Deus, estudem e planejem com intencionalidade como será o processo de formação humana e espiritual de seus filhos e alunos.

Deus os abençoe e lhes dê a graça de serem formadores de muitas almas para o céu!

Bárbara Sparapan
Casada, Missionária do 2º Elo da Comunidade Canção Nova e Psicopedagoga.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/juntos-contra-o-bullying-7-de-abril-e-dia-de-promover-respeito-e-seguranca-nas-escolas/

6 de abril de 2025

Raízes da crise, uma reflexão sobre tecnologia e poder

A crise ecológica

A crise ecológica pode ser compreendida a partir de múltiplas raízes, a exemplo dos enraizamentos apontados pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si', sobre o paradigma tecnocrático e humano.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial.

Singularidade que torna urgente a interpelação advinda do horizonte da Quaresma: o convite para a conversão ecológica. Assim, os sintomas da crise atual requerem a pertinente abordagem da sua raiz humana. 

O modo de se conceber e de viver a vida está incontestavelmente desordenado. Produz descompassos que incluem as relações do ser humano consigo mesmo, com Deus Criador, com o próximo e com o meio ambiente, arruinando, consequentemente, a casa comum. 

O poder da tecnologia

O caminho Quaresmal propõe uma lúcida revisão a respeito do lugar que o ser humano tem ocupado no mundo, a partir do paradigma tecnocrático. O poder da tecnologia, com seus avanços incríveis e assustadores, representa um progresso que revela a velocidade e as incidências das mudanças, desafiando o ser humano a assumir novas posturas humanísticas, com permanente revisão de escolhas e de posicionamentos. 

Reconhecidos os avanços da ciência e da tecnologia, reverencie-se a criatividade da inteligência humana, agraciada por Deus. A origem dessa dádiva inclui o desafio existencial de se conquistar uma estatura que não seja engolida ou dizimada pelo que é próprio da ciência e da tecnologia. 

A superação natural e necessária de determinadas condições materiais não pode exercer uma hegemonia que apaga a singularidade do ser humano. Importa muito e sempre a tecnociência como possibilidade de desenvolvimento de invenções valiosas. Melhora a qualidade de vida de cada pessoa. 

O exercício do poder

Mas é o ser humano quem tem a condição de qualificar esses processos ao dar beleza às coisas. A tecnociência transmite, pois, um enorme poder, particularmente, àqueles que detêm o recurso econômico. Evidente que esse tremendo poder conquistado pela humanidade na contemporaneidade não dispensa a preocupação e o compromisso de seu uso adequado para o bem de todos. Nesse ponto, cabe reconhecer a necessidade de se avaliar o atual modo de se viver, apontando a inquestionável urgência de um novo estilo de vida.

O exercício do poder, advindo da tecnociência, levanta a preocupação em relação àqueles que têm, em suas mãos, este controle. Ilusório e perigoso nesta pauta é considerar que a realidade, o bem e a verdade podem desabrochar espontaneamente da própria tecnologia e da economia, adverte o Papa Francisco na Laudato Si'. 

O ser humano e o crescimento tecnológico

O crescimento tecnológico não foi acompanhado pela maturação adequada do ser humano. Quanto menor a estatura humana e espiritual, maior será o encantamento pelo poder em exercer altos cargos e receber titularidades. Bastando-lhe, não raramente, um desempenho pífio de suas responsabilidades, produzindo ações sem alcances humanísticos ou com força de transformação de realidades sociais e institucionais. Atua-se, pela pequenez da estatura humana, de modo irrelevante, ao sabor de vaidades e de caprichos ideológicos perigosos. 

Como sublinha o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si', o ser humano não é plenamente autônomo, crescendo assim a possibilidade de mau uso do poder que se tem, abrindo espaço para a vivência de uma liberdade que adoece, entregue às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo e da violência brutal. 

Esse despreparo humanístico, camuflado no uso de tecnologias e avanços, passa despercebido, acentuando a crise ecológica de raiz humana. A ação predatória na natureza alimenta a perspectiva de um crescimento infinito e ilimitado. Atende a ilusão econômica de enriquecimento, própria do horizonte do mercado financeiro e  tecnológico. 

Os limites do ser humano

Envolvido pela mentira que alimenta a convicção sobre a inesgotável condição dos recursos da natureza, o ser humano não está sabendo lidar com limites. Adota-se um modelo de compreensão que justifica a elaboração de metodologias e objetivos. Resultados que afetam a realidade humana e social, aceitando e perpetrando a degradação do meio ambiente. Somente em um caminho e em uma experiência de profunda conversão é que se conquistará grandeza humanística para o exercício do poder.


A conquista de clarividências humanísticas é indispensável. Fruto de um processo de conversão e qualificação espiritual para desbloquear estilos de vida. Apostando em novos modelos, exequíveis com mudanças profundas de mentalidade e do modo de estabelecer laços com o conjunto da criação. 

Acreditar na mudança

Nessa direção, para reconfiguração da raiz humana da crise ecológica, é necessário acreditar, a partir de valores e princípios inegociáveis e consistentes, em uma nova perspectiva cultural, capaz de fazer usufruto do paradigma tecnocrático como mero instrumento, sem dominação, saindo da jaula de imposição hegemônica de sua lógica. 

Sem virar as costas a essa realidade, ouse-se pensar uma saída pela dinâmica da contemplação, envolvendo um profundo silêncio. Revela a beleza da criação, fomentando estilos de vida mais libertos das lógicas tecnocráticas, fazendo valer mais a grandeza do sentido e, menos, os resultados econômicos e financeiros, fontes também de degradações sociais e humanísticas. 

A raiz humana da crise ecológica tem uma porta de saída na contemplação. Alavanca um novo estilo de vida sinalizado pela simplicidade, frugalidade e leveza.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/raiz-humana-da-crise-ecologica-reflexao-sobre-tecnologia-e-poder/

5 de abril de 2025

Eis que faço novas todas as coisas

As leis de Jesus

Sobre os cristãos, chega uma enxurrada de provocações dando conta de que o mundo mudou, e muitas coisas antes consideradas como pecado deveriam ser admitidas com plena liberdade. Inclusive, é aparentemente fácil jogar no rosto de que tem fé as eventuais falhas dos cristãos no correr da história, falhas essas que não mancharam a própria Igreja, mas se tornam pedras continuamente usadas para atacá-la, considerando-a retrógada e inadequada para os tempos modernos.

Créditos: Imagem gerada por inteligência artificial

Jesus se encontra a ensinar no templo (Jo 8,1-11), e um grupo de pessoas que se consideravam proprietários da lei e da moral lhe trazem uma mulher surpreendida em adultério. Mais do que a situação dolorosa e pecaminosa em que esta pessoa se encontrava, trata-se de uma verdadeira armadilha, pois qualquer que fosse a resposta dada por Jesus a respeito de uma eventual sentença sobre o caso, seria Ele mesmo chamado em juízo e condenado por contrariar a lei ou o amor misericordioso, que era a Sua fama. Jesus não modifica qualquer letra ou sinal na lei antiga, mas amplia o horizonte, forçando seus interlocutores a se reconhecerem, também eles, pecadores.

Jesus e a mulher pecadora

Terrivelmente curioso é saber que o autor do adultério, um homem, não era condenado, apenas a mulher, num ambiente opressor em relação a uma mulher pecadora. Desaparecidos os acusadores, a libertadora sentença final: "Ele levantou-se e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor!' Jesus, então, lhe disse: 'Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante, não peques mais" (Jo 8,10-11).O único que poderia apedrejar, por ser sem pecado, mostra claramente que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva (cf. Ez 22,11).

Se o Evangelho de São Lucas nos contou as parábolas da Misericórdia, especialmente a do Pai Misericordioso e o Filho Pródigo, mais forte é a realidade contada pelo Evangelho de São João do que a parábola, de forma a entrarmos todos na mesma aventura.

Misericórdia infinita

A Lei do Amor e da Misericórdia, chegada com Jesus, nos abre o horizonte.  Reconhecer as limitações existentes em nós não é a experiência de dedos acusadores em riste, mas da Luz verdadeira que veio a este mundo, capaz de mostrar o erro e, ao mesmo tempo, sanar com o fogo do amor que liberta. Um honesto exame de consciência, inclusive o que somos chamados a fazer na Quaresma, só pode ser fruto de um encontro pessoal com o Senhor, que nos quer vivos e felizes, não acusados nem condenados!

Reconhecida a realidade do pecado, trata-se então de acolher o amor libertador de Jesus Cristo. Saber que somos amados não porque eventualmente sejamos justos, mas com um amor precedente a qualquer mérito humano. E cabe a nós, no relacionamento com os outros, anunciar a todas as pessoas encontradas o mesmo amor. E nem é obrigatório dizer que Jesus ama a pessoa, mas ser este amor do Senhor por todos. Vale uma visita, vale um olhar isento de julgamentos, vale um elogio.

E quando nos deparamos com casos extremos, em que as pessoas se afastaram totalmente do bem e da verdade? No plano de Deus, todos são candidatos à união com Ele e à capacidade de amar e ser amados. Mãos estendidas quando encontramos gente revoltada e de mal com a vida, escuta atenta de histórias, em geral longas e complicadas, atenção, olhar ao redor para identificar o bem que podemos fazer.

Pensemos no campo das mudanças climáticas e nas questões de ecologia, quando a Igreja propõe, na Campanha da Fraternidade, a busca de Ecologia integral. Descubramos o quanto pessoas do campo da intelectualidade podem aproximar-se e conversar conosco, com resultados certamente positivos para a Igreja e o conjunto da sociedade.


São caminhos para que tudo se torne novo, e não destruamos a vida que de Deus recebemos. De dentro de homens e mulheres virão as forças necessárias, plantadas pelo Espírito Santo de Deus, sem o qual nada subsiste. Podemos então rezar: "Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! Dai-me de novo a alegria de ser salvo e confirmai-me com espírito generoso!" (Sl 50,12-14).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/eis-que-faco-novas-todas-coisas/

2 de abril de 2025

E quando a minha oração não é ouvida?

O desafio da alegria e a confiança constante no Senhor

"Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: Alegrai-vos!" (Fil4,4). Essa é a ordem de São Paulo , um desafio para todo cristão! Uma convocação que, para ser vivida, além da graça de Deus, pressupõe maturidade espiritual. Desde sempre, o que mais o ser humano sempre quis em sua vida foi ser feliz. Esse anseio, como garantia do Catecismo da Igreja Católica, está impresso em nosso coração (cf. n. 1718).

Crédito: KatarzynaBialasiewicz/GettyImages

Entretanto, para nós, equivocadamente, ser feliz virou sinônimo de ter o que quer, alcançar vitórias e sempre ter novos desafios, e quando tudo isso está acontecendo de forma natural, nossa vida vai bem. Ficamos em paz com o mundo, com Deus, com os outros e conosco. Porém, se o que desejamos não acontece ou não se dá da maneira que queremos, desencadeia em nós uma crise existencial

Mas o que configura o cristão a Cristo é a possibilidade de fazer renúncias e sacrifícios com alegria, sabendo que isso nos faz crescer. Cristo despojou-se de sua condição de vida, renunciou às glórias deste mundo e cumpriu sua missão conforme o pai pedia. Portanto, quando não somos ouvidos num pedido, em vez de reclamarmos, nos entristecermos e desistirmos de tudo, existem outras possibilidades a serem consideradas:

    1. Não estamos prontos para receber aquilo: precisamos olhar para a realidade de que não é o momento ainda de o Senhor nos conceder o que desejamos, porque, antes disso, existem outras obras importantes que Ele precisa realizar em nós. Ex.: ajudar-nos em desapegos, crescimentos, aptidões. Muitas vezes, somente depois de uma primeira ação do Senhor, é que nossas bases estão prontas para receber aquilo que pedimos em nossas orações.
    2. Deus não quer nos dar o que pedimos: por mais que algo seja bom aos nossos olhos, é possível que o Senhor não nos queira dar aquilo que desejamos, pois, certamente, o que pedimos não irá nos exigir em nada, não vai nos ajudar na obra de santificação que Ele está oferecendo em nós.

Sendo assim, considerando a primeira possibilidade – a de que Deus não quer dar, neste momento, uma graça que pedimos – nossa atitude precisa ser:

    1. Alegrar-se, porque a negação atual implica que temos um Deus que nos ama e sabe a hora certa de nos dar algo. Ele cuida de nós!
    2. Louvar, pois esta é considerada a grandeza do Senhor e a nossa pequenez. Ele tem o conhecimento de todas as coisas e nossa sabedoria é limitada.
    3. Aprender a esperar, porque, uma vez que ele nos quer dar, mas ainda não estamos prontos, precisamos esperar com fé, ou seja, preparar-nos para receber. Corrigindo o que precisa ser corrigido em nós, numa atitude de conversão e superação.
    4. Desprender-se, aguardar com fé, entregar-se nas mãos do Senhor, deixando que Ele perceba as coisas em Seu tempo. Esse desprendimento pede ainda que você abra mão do que espera e viva aquilo que o Senhor está lhe pedindo hoje.

Considerando a segunda possibilidade, que é o fato de Deus não querer dar o que você pede, uma grande atitude, além de todos os passos acima é:

    1. Renunciar. Não é fácil, porque nosso ego pede que as coisas sejam como sempre sonhamos, porém, essa renúncia o deixará livre para receber todas as outras coisas que Deus quer lhe dar. Você também vai amadurecer na fé porque, com isso, você estará participando do sacrifício de Cristo.
    2. Perseverar na esperança, pois tudo concorre para o nosso bem. Essa grande renúncia de hoje é semente para as graças colhidas amanhã. Não se deixe vencer pela tristeza. O Senhor é bom o suficiente para realizar planos maravilhosos em nossa
      vida!

Aceite a vontade de Deus e alegre-se!

Elane Gomes
Missionária Aliança da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/e-quando-a-minha-oracao-nao-e-ouvida/

1 de abril de 2025

A oração de intercessão

Herança da oração, o poder da intercessão para transformar vidas

Como batizados, somos autorizados a exercer esse grande ministério de oração por uma pessoa ou uma situação, colocando-nos diante de presença de Deus com intimidade, fé, confiança e esperança, unindo-nos ao coração de Deus, que é rico em bondade e misericórdia, para pedir e suplicar sua ação, sua manifestação e sua glória em situações que, aos olhos humanos, são tão difíceis, tão complicadas ou, muitas vezes, impossíveis; e cremos que Deus pode responder aos nossos anseios como tem feito ao longo da história da salvação na vida do Seu povo.

Crédito: Moment Makers Group/GettyImages

No Antigo Testamento, encontramos grandes personagens que oravam a favor dos seus, confiando que a mão de Deus tinha o poder de atingir os corações, transformando vidas e mudando direções (Ex 32,32; Ex 17, 11-13). Quantas vezes Deus agiu graças ao pedido de um amigo ou de um servo fiel! Sim, de um amigo! Pois, para ser um intercessor, é necessária a intimidade de quem fala com um amigo. 

Para ser intercessor, é necessário a fé de quem confia que sua mão poderosa e sua glória podem ser manifestadas a qualquer momento e em qualquer situação. Para ser intercessor, é necessária a confiança de que Deus, justo juiz, realizará a Sua vontade de acordo com os Seus desígnios para um bem maior.

O poder da intercessão, a confiança na ação de Deus

Quantas vezes intercedemos em favor de alguém e esperamos ansiosamente a resposta do alto. Porque amamos, porque cremos, porque temos confiança. Interceder é muito mais do que nos unirmos à dor ou à súplica do outro; é acreditar que Deus, por ser Deus, tem a soberania, a autoridade e o poder para realizar todas as coisas segundo a Sua vontade, como nos diz São Paulo em Filipenses 2.13: "Porque Deus é quem opera em vós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a Sua vontade". Deus é capaz de fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, segundo o Seu poder que atua em nós.


Quantos testemunhos temos de pessoas que oraram e acreditaram, e Deus agiu poderosamente! Às vezes, não é necessário dizer muito, pois, com pouco, já tocamos as fibras do coração de Jesus, como Marta, em Betânia, que envia uma mensagem a Jesus pelo seu irmão Lázaro e diz apenas: "Aquele que você ama está enfermo." (Jo 11,3)

Marta está dizendo: "Jesus, apenas te informei, agora está em suas mãos. Você conhece bem esse amigo, e eu sei que você o ama e pode realizar um milagre, então confio. Mesmo que, aos nossos olhos, não exista mais solução, confio que você pode trazer vida e vida em abundância".

Orar sem cessar, um caminho de fé e esperança

Outras vezes, é preciso suplicar — não uma, mas várias vezes. Persistir na oração. Rezar sempre, em todo lugar, suplicando e acreditando que, em algum momento, Deus irá agir — como fez a viúva de Lc 18,1-5, que insistiu até que o seu pedido fosse alcançado.

Outras vezes, é necessário nos colocarmos diante da presença de Deus e dizer como Jesus: "Não seja feita a minha vontade, mas a Tua", em uma entrega total e absoluta, mas com paz, como quem assina um documento em branco e diz: "Estou em tuas mãos, Senhor".

Para que sejamos perfeitos na unidade e para que o mundo conheça que Deus enviou Seu Filho amado para trazer a salvação a todo homem, para que não pereça, mas tenha a vida eterna.

Enquanto escrevia este artigo, fiquei pensando em quantas vezes pedi a intercessão de alguém ou quantas vezes escutei alguém dizer: "Rezei por você." E quantas vezes retribuí essa oração, sem interesse algum, sem que essa pessoa tivesse me pedido nada.

Lembremos, então, de orar, hoje, por todas as pessoas que, um dia, intercederam a Deus por nós, por nossas intenções ou por nossas necessidades, para que Deus retribua com graça e amor, e que a sua misericórdia as envolva. A oração de intercessão é tão necessária nos dias de hoje, pois é uma arma poderosa para continuarmos vivendo como peregrinos da esperança. 

Que Deus continue dirigindo nossa vida, trazendo conforto, solução, cura, respostas, mas, acima de tudo, conversão.

Angela Munhoz Chineze
Coordenadora da Comissão de Intercessão do CHARIS – Brasil


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/a-oracao-de-intercessao/