6 de julho de 2024

Casa edificada sobre a rocha

Oração pelo Papa: um apelo à unidade e à fé

"Oremos pelo nosso Pontífice, o Papa Francisco! O Senhor o conserve, lhe dê vida e o torne feliz na terra, e não o entregue em poder dos seus inimigos. Ó Deus, que na vossa Providência quisestes edificar a vossa Igreja sobre São Pedro, chefe dos Apóstolos, fazei que o nosso Papa Francisco, que constituístes sucessor de Pedro, seja para o vosso povo o princípio e o fundamento visível da unidade da fé e da comunhão na caridade. Por Cristo nosso Senhor. Amém." Assim reza a Igreja numa das belas orações pelo Papa, e nós desejamos assumi-la de forma especial no Dia do Papa, comemorado na Solenidade de São Pedro e São Paulo.

A escolha de Pedro e a missão da Igreja

Jesus Cristo é a Pedra Angular, que sustenta todo o edifício da Igreja. Nele o Reino de Deus chegou para toda a humanidade e na sua Palavra está a vida eterna. Fomos chamados a ser discípulos fiéis de Jesus Cristo. Ninguém pode edificar solidamente senão em Jesus Cristo. 

A entrega das chaves a São Pedro.
Créditos: Pietro Perugino/Domínio Público

Na gratuidade do dom de Deus, que é Ele mesmo, Jesus chamou seus discípulos, que percorreram com ele um exigente caminho de formação. Com a liberdade que lhe é própria, escolheu os doze apóstolos, feitos colunas da Igreja. Três deles, Pedro, Tiago e João, foram testemunhas de alguns fatos muito significativos, como a Transfiguração e a Oração de Jesus no Horto das Oliveiras, e presenciaram milagres como volta à vida da filha de Jairo. Talvez não fossem os melhores, humanamente falando, como se vê em algumas referências a Tiago e João, assim como à fragilidade de Simão Pedro e a negação da qual se arrependeu amargamente! Mas foram os escolhidos, na infinita misericórdia do Senhor, e estiveram próximos do Senhor, recebendo depois as graças a eles destinadas para o crescimento da Igreja e do Reino de Deus.

A fortaleza na fragilidade: O legado de Pedro e a importância do Papa

Voltemo-nos para Simão Pedro! A seu nome Simão, o próprio Jesus acrescentou "Pedro", que quer dizer Pedra. Um homem de uma generosidade inigualável, aliada a um temperamento complicado, algumas vezes irascível, inseguro nos passos dados em sua fé, ao mesmo tempo humilde diante de seu Senhor. O Evangelho da Solenidade que celebramos no-lo mostra tomando a palavra em nome de seus companheiros: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro respondeu: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Jesus então declarou: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus'" (Mt 16,15-19). Sabemos que quem foi feito rocha não deixou de carregar suas próprias fraquezas, mas foi o escolhido. Mais tarde, já na Última Ceia, Jesus quer reforçar nela e fonte da força que lhe será concedida: "Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos". Simão disse: 'Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!' Jesus, porém, respondeu: 'Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces'" (Lc 22,31-34).

Após a Ressurreição, tendo chorado amargamente sua negação, três vezes professou o amor a Jesus, ouvindo depois a palavra forte, antes pronunciada no primeiro chamado: "Segue-me!" Anos mais tarde, foi como o Senhor até a morte, sendo crucificado numa colina, onde se encontram referências expressivas ao seu túmulo, sobre as quais foi edificada a Basílica de São Pedro. Tudo o que foi dito a respeito de Pedro aconteceu realmente em Roma, e ele foi fundamento do crescimento da Igreja, ao lado de Paulo, o Apóstolo das gentes. "Pedro, o primeiro a confessar a fé em Cristo, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel; Paulo, mestre e doutor da fé, iluminou as profundezas do mistério e anunciou o Evangelho a todas as nações. Assim, por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem por toda a terra a mesma veneração" (cf. Prefácio da Solenidade de São Pedro e São Paulo).

Na sucessão dos tempos, a Igreja nunca ficou sem um sucessor de Pedro, cujo nome hoje é Papa Francisco, ponto de unidade para todos. Se queremos ser cristãos católicos, havemos de reconhecer o significado da presença do Papa na Igreja. O Papa Francisco tem exercido, de forma corajosa e cheia de unção, o ministério que lhe foi confiado!

O Papa Francisco e o chamado à fidelidade

Como ser fiéis ao Papa? É bom saber que todos os Papas e em todos os séculos foram muitas vezes criticados e julgados pela opinião pública, o que se torna mais patente em tempos de comunicação tão intensa e variegada. É necessário e urgente, da parte de todos os cristãos católicos amar o Papa, reconhecê-lo como legítimo Sucessor de Pedro. Depois, como ele mesmo pede com insistência, rezar sempre e muito pelo Santo Padre, porque ele é homem como todos nós, com a fragilidade que é característica de todas as pessoas humanas. O Papa, ensina o Concílio Vaticano I, é infalível quando declara, consciente e claramente, verdades da fé correspondentes à revelação. Muitas pessoas já se surpreenderam ao verem o Papa ajoelhar-se num confessionário da Basílica de São Pedro, como qualquer outro penitente. E nestes últimos dias, faleceu um frade franciscano, confessor do Papa, que o atendia a cada quinze dias.

Fidelidade ao Papa exige nossa adesão aos ensinamentos dele emanados e disposição para colocá-los em prática, sabendo que todos eles são frutos de muita oração e abertura ao Espírito Santo, além da assessoria que lhe é oferecida por tantos estudiosos e pastores, que contribuem na elaboração dos Documentos. Estamos vivendo um tempo especial, entre duas partes do Sínodo dos Bispos, justamente a respeito da Sinodalidade, que significa caminhar juntos, urgência para o nosso tempo e para a nossa plena fidelidade ao Evangelho. Ao mesmo tempo, haveremos de responder aos seus apelos, como nesta Solenidade de São Pedro e São Paulo, para a Coleta do Óbolo de São Pedro, com a qual o Santo Padre vai ao encontro de muitas necessidades da Igreja no mundo inteiro. Vida longa, Saúde, Força e Inspiração ao Santo Padre o Papa Francisco!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/igreja-catolica-missao-do-papa/

3 de julho de 2024

O poder do Sangue de Jesus contra os demônios

Sangue precioso: a força que nos liberta das garras do mal

O Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo é o selo da Nova Aliança, simbolizando o restabelecimento de nossa comunhão com Deus, rompida por Adão e Eva6. Na época de Jesus Cristo, um selo representava autenticidade e autoridade3. A autenticidade4 reside no fato de que essa comunhão é restaurada pelo próprio Deus encarnado, a segunda pessoa da Trindade Santa, e não por qualquer humano, garantindo sua veracidade. Já a autoridade5 decorre do poder de Deus em realizar tal restauração.

Créditos: jchizhe / GettyImagens

A rebelião e a queda

Satanás, o Diabo, e os demais demônios são anjos decaídos por terem livremente rejeitado servir a Deus e seu desígnio. Sua escolha contra Deus é irreversível, buscando sempre associar a humanidade à sua rebelião (CIC 414).

O homem, inicialmente estabelecido por Deus em santidade, foi seduzido pelo Maligno desde os primórdios da história, abusando de sua liberdade ao se rebelar contra Deus e buscar um destino à parte Dele (CIC 415).

Ao aceitarem a sedução de Satanás (a serpente) no paraíso, nossos primeiros pais romperam a antiga aliança. No entanto, o poder redentor do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo nos resgatou das garras de Satanás e seus seguidores.

"Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo Sangue Precioso de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo." (1 Pedro 1,18-19).

Independente de nossas vivências até hoje, é crucial lembrar que, ao nos arrependermos e voltarmos a buscar a Deus através da obediência aos Seus mandamentos, da aceitação de Sua vontade e do oferecimento de amor em todas as nossas ações, mesmo nas menores, seremos purificados por seu sangue, conforme Sua promessa:

"Se, porém, andarmos na luz, como Ele mesmo está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado." (1 João 1,7)

A firmeza da fé

Se o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo derramado na Cruz foi o preço pago para nos restaurar ao Paraíso, então devemos enfrentar cada tentação e situação que nos leve à desobediência aos mandamentos de Deus, ou mesmo ao menor pecado venial, com a mesma firmeza de São Gaspar Del Búfalo, apóstolo da devoção ao preciosíssimo Sangue de Jesus: "Non posso, non debbo, non voglio" (Não posso, não devo, não quero)7. Devemos repetir sempre, em cada situação de perigo para nossa alma, como na Ladainha em honra ao Preciosíssimo Sangue de Cristo: "Sangue de Cristo, força dos tentados, salvai-nos"8.

 

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova


Referências

[1] Mateus 22,20. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[2] Nota de rodapé da Bíblia Católica Ave-Maria, referente a Mateus 22,20. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[3] "Escrevei, portanto, vós mesmos em nome do rei em favor dos judeus, como bem vos parecer e selai com o selo real, porque toda ordem escrita em nome do rei e firmada com seu selo é irrevogável" – Ester 8,8. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[4] Qualidade ou caráter do que é autêntico, do que não é falso, forjado, nem sofreu adulteração (autenticidade da gravação/mensagem/foto); FIDEDIGNIDADE; VERACIDADE. DICIONÁRIO AULETE DIGITAL. Autenticidade. Disponível em: https://www.aulete.com.br/autenticidade. Acesso em: 26 jun. 2024.

[5] Pessoa que tem esse direito ou poder. DICIONÁRIO AULETE DIGITAL. Autoridade. Disponível em:https://www.aulete.com.br/autoridade.Acesso em: 26 jun. 2024.

[6] Gênesis 3, 6-23. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[7] Vatican News. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/10/21/s–gaspar-del-bufalo–presbitero–fundador-dos-missionarios-do-p.html. Acesso em: 26 jun. 2024.

[8] Padre Paulo Ricardo em: https://padrepauloricardo.org/blog/ladainha-em-honra-ao-preciosissimo-sangue-de-cristo. Acesso em: 26 jun. 2024.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/purificacao-sangue-cristo/

1 de julho de 2024

O sangue precioso de Jesus, um símbolo de amor e redenção

O sangue de Jesus, derramado em sacrifício na cruz, cura as feridas da alma

Cada gota desse sangue precioso convoca ao verdadeiro Amor, que transforma a morte em vida, o ódio em amor e a dor em esperança!

A festa do sangue de Jesus, derramado na cruz, é mais do que um evento histórico, ele representa um ato de amor e sacrifício incomparável, que trouxe esperança e redenção para toda a humanidade.

A dádiva por meio Eucaristia: perdão, purificação e vida

Ademais, em todas as Missas celebradas o ano inteiro e em todo lugar, esse sangue real se faz dádiva através da Eucaristia e podemos comungá-lo, sob as espécies do pão e do vinho.

Para os cristãos, representa o preço pago pela nossa salvação. Através dele, somos purificados de nossos pecados, recebendo perdão e a possibilidade de uma vida plena em Cristo.

Conheça a história da devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Créditos: jchizhe by GettyImages/cancaonova.com

O Evangelho de Lucas 22,44 nos diz: "E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão". Nesse ato de amor de Jesus rompeu-se a barreira do pecado abrindo caminho para uma relação íntima com Deus.

A aliança que nos fez povo eleito

Por meio de Seu Filho único, Deus selou um pacto eterno conosco, seus filhos, povo eleito, garantindo o amor de Pai para sempre. Essa aliança nos garante a sua Misericórdia e Justiça mesmo diante das dificuldades da vida.

Além da redenção e da aliança, o sangue de Jesus nos direciona à vivência do amor incondicional, já que, mesmo sendo Filho de Deus, Deus feito homem que se encarnou no seio da Virgem Maria, não se poupou, mas se entregou por nós, mesmo que não merecêssemos. Esse ato de abnegação e sacrifício nos convoca a amarmos uns aos outros, a perdoarmos e a oferecermos o nosso melhor neste mundo para a honra e glória do Nome de Jesus.

Clamemos o poder do Sangue de Cristo

Para que bem celebremos esse mês de julho, convidamos a missionária Adriana Queirós para juntos clamarmos o poder que emana do Sangue de Nosso Senhor e rezarmos a Ladainha ao Preciosíssimo Sangue de Cristo.


Micheline Teixeira
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-sangue-precioso-de-jesus-um-simbolo-de-amor-e-redencao/

28 de junho de 2024

A Barca da Igreja e a Evangelização

Navegando em Águas Profundas: A Igreja e a Evangelização nos Dias Atuais

As águas, os rios e os mares sempre provocaram a humanidade. Ao mesmo tempo que são fonte de vida e alimento, meio de transporte e comunicação entre as pessoas, impressionam pela sua força também destrutiva, como testemunham enchentes recentes em nosso país e outras partes do mundo.

A Arquidiocese de Belém e a Convivência com as Águas

Nossa Arquidiocese de Belém, com seus vários núcleos insulares de assistência pastoral, convive com embarcações de todo porte, desde os grandes navios e balsas, passando pelos barcos, lanchas, rabetas e simples "casquinhas" que transportam pessoas e gêneros alimentícios. Nossos portos e trapiches, de todo tipo e tamanho, podem servir para o bem e, infelizmente, muitas vezes servem para o terrível tráfico humano e de drogas.

Convivemos com as águas, ouvimos tantas vezes as pessoas dizerem que o rio é nossa rua, assumimos juntos o desafio de conservar as imensas riquezas de nossas águas, educando as novas gerações ao trato mais respeitoso com os dons que Deus nos prodigalizou em abundância.

Há poucos dias, com Dom Antônio e Dom Paulo, participamos de uma magnífica peregrinação e convivência com outros Bispos brasileiros a convite das Comunidades Neocatecumenais, um imenso e reconhecido serviço de Evangelização presente em muitas de nossas Paróquias. Uma das propostas de meditação e oração foi motivada pelo Evangelho do Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum, Palavra proclamada neste final de semana e que ouvimos proclamado onde Jesus o anunciou. Numa boa parte do tempo, estivemos em torno do Mar da Galileia.

Em nossas Missas desse final de semana, com a semente parecida com o grão de mostarda do Evangelho do Domingo anterior, cujos frutos certamente aparecerão, na hora e na medida de Deus, desejamos ajudar-nos mutuamente a superar os desafios e os medos das águas do mar da vida, tantas vezes revoltas e ameaçadoras.

Visão da proa de um barco, tendo o horizonte infinito do oceano.

Créditos: Francis ODonohue / GettyImagens

O Mar da Galileia e os Ensinamentos de Jesus

Jesus, em tempos de Galileia, atravessou muitas vezes o Lago, que de tão grande era chamado de Mar, percorrendo as vilas e cidades. Quem está no cimo do Monte das Bem-aventuranças, lugar em que os Bispos se hospedaram durante alguns dias, onde também o Senhor pronunciou o Sermão da Montanha, tem uma visão privilegiada.

Foi ali, à beira do Lago, que Jesus determinou que os discípulos de ontem e de hoje se aventurassem por águas mais profundas (Cf. Lc 5,1-11). Ali, Tabgha, lugar do primado de Pedro, às margens do Lago, onde Jesus, não uma sombra ou um fantasma, mas o próprio Senhor, os mandou lançar as redes e preparou-lhes uma refeição mais do que simbólica, ou Cafarnaum, quem sabe, Magdala, Tiberíades e outros tantos lugares.

É possível ver, do outro lado do Lago, áreas que pertencem hoje à Síria. Por aquelas bandas Jesus foi à região da Decápole, onde mostrou também sua força, poder e missão. Foi também pelo Lago que Jesus foi a Gérasa (Cf. Mc 5,1-20), onde expulsou demônios e foi rejeitado pelos moradores. Muitos os fatos, todos eles carregados de ensinamentos, que não estamos diante de um livro de histórias edificantes, mas do Evangelho! Foi a nossa experiência nesta peregrinação à Terra Santa.

Rito Significativo em Tabgha e a Renovação dos Compromissos Episcopais

Em Tabgha, os Bispos participaram de um rito significativo, respondendo "Tu sabes tudo, tudo sabes que te amo", depois da pergunta feita por Jesus a Pedro: "Tu me amas?". Foi uma graça especial presidir a este rito, assim como à renovação dos compromissos Episcopais, feita em Jerusalém, na Domus Mambré, no mesmo dia em que visitamos o Cenáculo. Deus nos fez experimentar a beleza e a responsabilidade da Comunhão para nos comprometermos com a oração sacerdotal de Jesus: "Que todos sejam um, para que o mundo creia" (Jo 17,21).

Entretanto, a Liturgia do décimo segundo Domingo do Tempo Comum (Jó 38,1-8.11; 1 Cor 5,14-17; Mc 4, 35-41) oferece-nos também oportunidade privilegiada para uma reflexão a partir do receio provocado pelas águas e a força de Deus Criador e Senhor, que aliás se manifesta diante dos discípulos, acostumados ao medo das águas e das tempestades, por muitos dos antigos consideradas habitações de monstros e sinal de morte!

A Palavra de Deus em Jó e o Domínio de Deus

Provavelmente, não lhes era claro o que já se encontrava no livro de Jó, pronunciado pelo Senhor: "Quem fechou com portas o mar, quando ele irrompeu, como se saísse das entranhas, quando eu lhe dava a nuvem por vestido e o envolvia de escuridão como de fralda? Eu o demarquei com meus limites e lhe pus ferrolho e portas, dizendo: 'Até aqui chegarás, e não além; aqui dominarás as tuas ondas encapeladas!'" (Jó 38,8-11).

Jesus determina aos discípulos a viagem para outra margem (Mc 4,35-41). Noutra ocasião, mandou-os à frente, para depois caminhar sobre as águas (Jo 6,16-20), quando podemos imaginá-lo "cavalgando sobre as águas" (Cf. Sl 46,1-12; Sl 68,1-5). Agora, Jesus está placidamente dormindo dentro da barca, e o vento e a chuva se enfurecem. Pensam estar perecendo por não terem tomado consciência daquele que os acompanhava, cujo poder faz as águas se acalmarem.

Os Desafios da Igreja no Tempo Presente

Agora, os discípulos de hoje. Não basta repetir o que temos feito até hoje! Os desafios são novos e diferentes. O apelo do Papa Francisco ressoa a atitude de Jesus, lançando-nos a descobrir caminhos novos, sair missionariamente ao encontro dos mais afastados. Aceitar a provocação positiva que nos lança a buscar águas mais profundas (Cf. Lc 5,1-11), mesmo quando nos sentimos frágeis e pecadores, pois o Senhor vai além de nossos pecados e fraquezas, fazendo de todos nós pescadores de homens, como aconteceu com os primeiros discípulos.
A atitude a ser assumida é a coragem vinda da fé, lançando-nos a buscar caminhos novos, criatividade e ousadia.

Em meu primeiro encontro com o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em 2013, ao apresentar-me como Arcebispo de Belém, ouvi palavras fortes, à época transmitidas ao povo de Belém: "Sejam corajosos, sejam ousados. Se não forem ousados, já estarão errando de princípio". E nossa Igreja há de retomar esta proposta. Temos abertas algumas estradas e tantas portas, para ajudarmos nosso mundo e nosso tempo a se encherem de alegria!

Os Três Desafios da Igreja: Missão, Evangelização da Juventude e Unidade

O desafio atual tem três nomes: Primeiro, assumir como próprio de todas as instâncias da vida da Igreja o compromisso Missionário. O segundo é a Evangelização da Juventude, que tem um sinal expressivo do Acampamento Arquidiocesano da Juventude, no primeiro final de semana de julho. Terceiro desafio, mas não menos importante, é que todos acolhamos a belíssima diversidade de métodos pastorais, serviços e iniciativas que o Espírito Santo suscita em nossa Arquidiocese, o desafio da unidade e da comunhão. O diferente não é inimigo ou adversário, mas conduzido pelo Espírito a atingir pessoas e grupos sedentos do Evangelho com o Testemunho e a Palavra. É um tempo novo e positivamente provocante, com outras margens e águas mais profundas.

E concluímos com o grande anúncio ressoado a partir da pedra do Santo Sepulcro, onde celebramos a Eucaristia no encerramento da Peregrinação: "Aquele que venceu as ondas da morte está vivo no meio de nós. Ele é o Senhor e Salvador. Com ele e nele somos anunciadores e realizadores da esperança para o nosso tempo". Beijei a pedra do Santo Sepulcro em nome de todos os nossos fiéis da Igreja de Belém. Todos estavam ali conosco!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/barca-da-igreja-e-evangelizacao/

27 de junho de 2024

A juventude e o sentido para a vida

Auxiliar a juventude na busca de um sentido na era neoliberal, um desafio para pais e educadores

Nessa sociedade dita Neoliberal em que vivemos, atuar como pais e/ou mestres traz várias questões à tona, entre elas o sentido da vida.

E dar sentido ao viver é uma tarefa que nos coloca diante de perdas e ganhos, onde é imperativo seguir em frente e orientar os esforços com o que temos. Isso, para os adolescentes e jovens, está permeado de agitação e insegurança, crises de valores, rupturas, apreciação ou não das colocações e posicionamentos dos mais velhos, na tentativa de construir os seus próprios.

Nesse sentido, o conhecido filósofo Platão, inclusive, colocava-se contra o uso de bebidas alcoólicas pelos mais jovens, pois, em seu entender, tal coisa era como colocar fogo no fogo. Ademais, nós pais devemos tomar cuidado em querer evitar que nossos filhos sofram, pois o sofrimento é inerente ao ser humano, e se não temos como escapar dele, é preciso entender o que a vida quer dizer a cada um.

Jovens de diferente etnias, tirando uma selfie com o que parece ser uma tela de celular, eles sorriem, tendo ao fundo campos verdes, levemente desfocados

Créditos: doidam10 / GettyImagens

A busca pela identidade e autoconhecimento na adolescência

Assim, nessa fase de mudanças biológicas importantíssimas, esses rapazes e moças precisam de apoio para lidar com as suas questões psicoemocionais, pois, ao mesmo tempo em que isso acontece, há uma busca pelo autoconhecimento, pela autonomia e, sobretudo, pela realização como indivíduo.

Nessa perspectiva, é preciso destacar a importância do autoconceito e da autoestima, que são traços individuais que testificam a relação dos adolescentes com os demais, e é claro, consigo mesmos.

O papel do grupo social na formação de valores

Vemos aí a relevância da participação destes em grupos sociais para assumirem responsabilidade e aprenderem a tomar decisões que resultem em valores que atinjam a todos. Afinal, indivíduos sadios mobilizam as suas riquezas interiores em vista dos outros, dedicando-se a uma tarefa, a uma causa maior ou ao amor por outrem.

"É como o olho que só pode cumprir a sua função de ver o mundo enquanto ele não vê a si próprio" (Frankl, V.E. (1991): A psicoterapia na prática. Campinas: Papirus, p. 18.)

E aí vem a grande questão para os mais novos: Quem eu sou neste mundo? O que a sociedade me oferece?

Guiando os jovens na escalada rumo ao sucesso

Diante dela, nós, como adultos, temos que os ajudar para que tenham sucesso em sua escalada. Pois assim terão condições de significar a sua vida, partindo de suas vivências sociais, de como têm sido lembrados, tratados e amados. As pessoas precisam de afeto, comunicação e sentimentos. Afetamos e nos deixamos afetar pelos outros no encontro com a família, com o outro e com Deus.

Desafios da juventude: separação, solidão e influência das telas

Nessa jornada, muitos são os problemas vivenciados pelos jovens, como separação dos pais, distanciamento, evasão dos lares e ainda serem educados pelas telas.

Avançar para a maturidade é trilhar o caminho do perdão, superar os desafios das relações humanas, valorizando os que os cercam, respeitando-os e superando as mágoas.

Sem isso, nós os acompanhamos como meros telespectadores, pois há uma corrida para a busca de sentido que não acontece, frustrando e gerando ansiedade, irritabilidade e até o vazio existencial.

Superando a utopia e encontrando propósito na realidade

Os rapazes e moças deverão ser encaminhados a passarem a ser objetivos em suas escolhas, haja vista que os mesmos, no período de maturação, tendem a ser utópicos.

Há aqueles, dentro desse grupo, que tendem ao isolamento, por isso enfrentam a solidão. A melhor direção é ensiná-los como ocupar o seu espaço, tanto na sociedade quanto na família.

Liberdade interior e responsabilidade: pilares para uma vida significativa

Outra questão importante é a da liberdade. No livro 'Em busca de sentido', Viktor Frankl aborda o conceito de liberdade interior, trazendo uma importante pergunta, que é bem pertinente a ser feita ao nosso público alvo, os jovens: "Onde fica a liberdade humana?" (Frankl, 2008, p. 88)

Na visão do autor citado, o ser humano é dotado de espiritualidade e responsabilidade junto às quais caminha a liberdade.

Liberdade é a capacidade de realizar escolhas e tomar decisões; dar respostas ao que a vida lhe propõe. E ser responsável diz do comprometimento com a vida, pois nela há sempre sentido. Mesmo diante das frustrações, não devemos perder a vitalidade, mas agir com boa educação, fortes conceitos e virtudes.

Consumismo e perda da dignidade humana: desafios da sociedade moderna

Aliás, seja dito de passagem, hoje em dia, o mundo carece de tradições e há crise de valores, conflitos familiares, problemas sexuais, distúrbios físicos e psicossomáticos, problemas financeiros e orientações rotineiras.

A regra da sociedade é a busca pelo prazer em todos os momentos, tentando desenfreadamente fugir da dor, o que nem sempre é possível. A fama, as riquezas, a tecnologia, a disposição e, por vezes, relacionamentos nada profundos, são a resposta para uma vida sem projetos importantes.

E os jovens são atraídos a isso, por não terem a percepção de que por trás das facilidades algo está sendo perdido: a dignidade humana.

Quem vende esses produtos só se importa em comercializá-los, sem valorizar o ser humano que existe em cada um.

Encontrando sentido na solidariedade e no serviço ao próximo

Nessa mesma sociedade também existem caminhos saudáveis para uma vida cheia de sentido.

O jovem é voltado para a solidariedade. Qual é, portanto, o papel dos adultos para que os jovens possam escolher bons rumos? Direcioná-los ao serviço e à comunhão com o próximo para criarem vínculos afetivos fortes com a família, amigos e com Deus.

Ou seja, dar significado à vida é utilizar-se de suas potencialidades para além de si, e questionar quando desrespeitamos os outros, a nós mesmos, a natureza e a Deus em primeiro lugar.

A importância da fé e da espiritualidade na vida dos jovens

Contudo, é também importante lembrar que a repressão cultural da fé é responsável por sujeitos doentes; e, assim sendo, é preciso liberar o seu potencial religioso, pois não há nada de vergonhoso nisso.

Inclusive, São João Paulo II lembra aos jovens, em seu discurso em Caracas, que a relação com Deus deve estar em primeiro lugar. Afinal, com Ele presente na vida dos jovens, com certeza, atingirão metas, terão direcionamento e uma vida de oração, com profunda intimidade com Deus.


Educação para o trabalho: desenvolvendo potencialidades e resiliência

Dentre os mais variados direcionamentos aos mais jovens está a educação para o trabalho, uma vez que é uma das ocupações que mais demandarão tempo em sua vida.

O trabalho é importante, pois é uma forma de dar-se ao mundo, vai além de apenas ganhar dinheiro. Principalmente para os mais jovens, esse é o tempo de conhecer e trabalhar as potencialidades. É preciso coragem e resiliência para esperar que a Providência Santíssima que rege todas as coisas complete a sua obra. As restrições de possibilidades podem ensiná-los muito.

Pais não devem projetar nos filhos o que não conseguiram realizar profissionalmente, pois os filhos são seres singulares, livres e precisam ser apoiados nessa liberdade. Precisam construir o seu próprio caminho.

Incentivando o protagonismo e o compromisso com o trabalho

Essa formação pode começar com o incentivo ao voluntariado, trabalhos interdisciplinares, seriedade nos estudos e empenho nas tarefas da casa.

Nós adultos precisamos e devemos ser exemplos de bons trabalhadores, que entendem que é no trabalho que as respostas com compromisso e responsabilidade são dadas.

Entretanto, aqui é importante lembrar que o que nos torna felizes não é a atribuição em si, mas a forma como podemos exercer as atividades diárias.

Em tudo o que realizarmos, não busquemos o prazer, mas encontremos o sentido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-juventude-e-o-sentido-para-a-vida/

18 de junho de 2024

A Igreja Católica e o aborto

A Igreja Católica é categoricamente contra o aborto provocado em qualquer circunstância.

Este artigo pretende apresentar a doutrina da Igreja acerca da defesa da vida em seus mais diversos documentos, discursos dos Santos Padres, santos e grandes personalidades católicas.

Antes de mais nada, é necessário entender que a defesa do aborto não apenas não é espontâneamente, como também é parte de um nefasto ecossistema acertadamente entitulado por São João Paulo II de cultura de morte.

A cultura de morte e suas faces

Na Solenidade da Anunciação do Senhor — e não haveria festa litúrgica mais oportuna — de 1995, São João Paulo II nos dava aquela que seria uma de suas mais importantes e proféticas encíclicas, a Evangelium vitae  (Evangelho da Vida — EV). Tratava-se de uma reafirmação precisa e firme do valor da vida humana e de sua inviolabilidade1.

As palavras do Santo Padre assumem um tom profético especialmente quando escancara a luta dramática do nosso tempo entre a cultura da morte e a cultura da vida 2. Aborto, eutanásia, contracepção, controle de natalidade, estão todos debaixo de um mesmo guarda-chuva, de uma mesma mentalidade, de uma mesma cultura que relativiza o valor da vida humana, sob disfarces de progresso científico, reforma social e direitos humanos.

Essa mesma cultura foi chamada pelo Papa Francisco de Cultura do Descarte: o descarte dos idosos, o descarte dos pobres, o descarte das crianças, em especial das crianças por nascer. Novas vidas são vistas como impedimentos, vidas antigas são obstáculos.

Controle de natalidade

Vende-se a ideia do controle de natalidade como uma reforma social, ideia que Chesterton genialmente comparou ao dizer que seria como afirmar que a decapitação é um avanço para a odontologia — é inútil praticar a odontologia em cadáveres ou a filantropia com os não nascidos 3.

Contracepção

Por meio da contracepção, contradiz-se a verdade integral do ato sexual enquanto expressão própria do amor conjugal 4, dissociando-o de uma de suas duas características — a procriativa — ou, nas palavras do famoso polemista britânico3, pretende-se gozar do prazer que advém de um processo natural, ao mesmo tempo em que se frustra esse processo de forma violenta e antinatural.

Aborto e eutanásia

Aborto e eutanásia opõe-se à virtude da justiça e violam diretamente o preceito divino "Não matarás"5. A vida que requereria mais acolhimento, amor e cuidado, é reputada inútil ou considerada como um peso insuportável, e, consequentemente, rejeitada sob múltiplas formas6. Nessa cultura do descarte, doentes terminais têm sua morte antecipada e veem tolhido seu direito a uma morte digna; bebês ainda no ventre materno diagnosticados com síndromes são abortados de forma eugênica, fruto de uma mentalidade que acolhe a vida apenas sob certas condições, e que recusa a limitação, a deficiência, a enfermidade7.

Sobre a face específica do aborto, em virtude da tramitação da ADPF 442 que visa descriminalizar o aborto até 12 semanas, gostaríamos de reafirmar o posição da Igreja Católica.

A Igreja Católica é contra o aborto

A Igreja Católica sempre foi contra o aborto

A tradição da Igreja sempre considerou a vida humana como algo que deve ser protegido e favorecido, desde o seu início, do mesmo modo que durante as diversas fases do seu desenvolvimento8.

O primeiro catecismo da Igreja, escrito por volta do ano 150 d.C., a Didaqué, já trazia em seus primeiros capítulos: Não mate a criança no seio de sua mãe e nem depois que ela tenha nascido9.

mãe segurando o pé de seu recém nascido, significando a posição da igreja católica contra o aborto

Em 197 d.C., Tertuliano escreveu em sua obra mais famosa: "Impedir um nascimento é simplesmente uma forma mais rápida de matar um homem, não importando se mata a vida de quem já nasceu, ou põe fim a de quem está para nascer. Esse é um homem que está se formando, pois tendes o fruto já em sua semente10.

A Congregação para Doutrina da Fé, na sua Declaração sobre o aborto provocado, remonta a um breve histórico de condenações ao aborto ao longo da história da Igreja11:

  • O primeiro Concílio de Mogúncia, em 847 d.C., confirma as penas estabelecidas por Concílios precedentes contra o aborto; e determina que seja imposta a penitência mais rigorosa às mulheres "que matarem as suas crianças ou que provocarem a eliminação do fruto concebido no próprio seio"
  • O Decreto de Graciano (1140 d.C.) refere estas palavras do Papa Estêvão V: "É homicida aquele que fizer perecer, mediante o aborto, o que tinha sido concebido"
  • Santo Tomás, Doutor comum da Igreja, ensina no seu Comentário sobre as Sentenças que o aborto é um pecado grave contrário à lei natural por volta de 1252 d.C.
  • Nos tempos da Renascença, o Papa Sisto V condena o aborto com a maior severidade na bula Effraenatam (1588).
  • Um século mais tarde, Inocêncio XI reprova as proposições de alguns canonistas « laxistas », que pretendiam desculpar o aborto provocado antes do momento em que certos autores fixavam dar-se a animação espiritual do novo ser.

A Igreja Católica ainda é contra o aborto

O ensinamento da Igreja Católica a respeito do aborto permanece o mesmo. E a prova cabal disso são os documentos e pronunciamentos dos Santos Padres e do Concílio Vaticano II.

Pio XI escreveu em sua encíclica Casti connubii:

Aqueles, enfim, que têm o supremo governo das nações e o poder legislativo não podem licitamente esquecer-se de que é dever da autoridade pública defender a vida dos inocentes com leis oportunas e sanções penais, tanto mais quanto menos se podem defender aqueles cuja vida está em perigo e é atacada, entre os quais ocupam, sem dúvida, o primeiro lugar as crianças ainda escondidas no seio materno12

Pio XII excluiu toda possibilidade de aborto direto, ou seja, aquele que é intentado como um fim ou como um meio para o fim:

Até ao momento em que um homem não se tornar culpado, a sua vida é intocável; e por isso é ilícito todo e qualquer acto que tenda directamente para destruí-la, quer essa destruição seja intentada como fim, ou somente como meio para o fim, quer se trate de uma vida no seu estado embrionário ou já no seu desenvolvimento pleno ou, ainda, prestes a chegar ao seu termo 13

João XXIII, na encíclica Mater et Magistra, reforçou o caráter inviolável da vida:

A vida humana é sagrada: mesmo a partir da sua origem, ela exige a intervenção direta da ação criadora de Deus. Quem viola as leis da vida, ofende a Divina Majestade, degrada-se a si e ao gênero humano, e enfraquece a comunidade de que é membro. 14

Paulo VI, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes:

São João Paulo II, Papa, segurando uma criança; Na Igreja Católica, ele foi um grane baluarte na luta contra o aborto.

O aborto e o infanticídio são crimes abomináveis15

Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e abjurável16

João Paulo II discorre extensamente sobre o aborto na Evangelium Vitae já citada neste artigo:

Bento XVI, em especial, aos Bispos do Quênia, em visita Ad limina, disse que o aborto nunca pode ser justificado.

O Papa Francisco, por sua vez, sempre foi claramente contrário ao aborto. Poucos dias depois da legalização do aborto na Argentina, ele declarou:

"No século passado, o mundo todo se escandalizou com o que faziam os nazistas para cuidar da pureza da raça. Hoje fazemos o mesmo, mas com luvas brancas de ferro".

A legalização do aborto e o fracasso da nossa sociedade

Zilda Arns, médica sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, ferrenha combatente na luta pela redução da mortalidade infantil e, por sua atuação, indicada diversas vezes ao Nobel da Paz, deu uma entrevista contundente, apontando que considerar o aborto como solução significava o fracasso da nossa sociedade:

Tentar solucionar problemas, como a gravidez indesejada na adolescência, ou atos violentos, como estupros e os milhares de abortos clandestinos realizados a cada ano no País, com a legalização do aborto, é uma ação paliativa, que apontaria o fracasso da sociedade nas áreas da saúde, da educação e da cidadania e, em especial, daqueles que são responsáveis pela legislação no país. Não se pode consertar um crime com outro ainda maior, tirando a vida de um ser humano indefeso17.

Uma oração em defesa da vida para todos os católicos

Em momentos como esse, além de ação política de pressionar os parlamentares que votamos, para que representem nossa posição, e nos posicionar publicamente como contrários ao aborto, devemos também — e em primeiro lugar — suplicar a Deus pelas almas das crianças inocentes e pedir para que não permita que manobras como a ADPF 442 sejam feitas. 

Nestes dias, Santa Gianna Beretta Molla é um grande luzeiro humano e espiritual. A santa italiana decidiu continuar com a gravidez de seu quarto filho, em vez submeter-se a um aborto, como lhe sugeriam os médicos para salvar sua vida de um câncer.  Foi canonizada em  2004 pelo então Papa João Paulo II, que a tornou padroeira da defesa da vida.
Por isso, convidamos todos a se unirem a nós rezando a Novena a Santa Gianna, disponível no nosso blog.

Referências

  1. EV, n. 5[]
  2. EV, n. 50[]
  3. G.K. Chesterton, Reforma social versus controle de natalidade, disponível em A Superstição do Divórcio e outros ensaios sobre a família, a mulher e a sociedade[][]
  4. EV, n. 3[]
  5. EV, n. 13[]
  6. EV, n. 12[]
  7. EV, n. 14[]
  8. Declaração sobre o aborto provado, n. 6[]
  9. Didaqué, Cap II, 2[]
  10. Apologia, IX[]
  11. Declaração sobre o aborto provado, n. 7[]
  12. Casti connubii, 67, disponível em Rumo a Santidade[]
  13. Discorsi e radiomessaggi, VI, p. 191, citado em Declaração sobre o aborto provado, n. 15[]
  14. Mater et Magistra, 193[]
  15. Gaudium et Spes, 51[]
  16. Evangelium Vitae, 58[]
  17. IHU Online – "Sou absolutamente contra o aborto" – Unisinos[]

12 de junho de 2024

Possessão demoníaca: discernimento e sinais

Como discernir quais são os sintomas de uma possessão demoníaca?

Essa pergunta não é tão difícil de ser respondida, uma vez que é somente necessário entender do que se trata uma possessão demoníaca.

A primeira realidade que precisa estar clara é que uma possessão demoníaca é possível, e que o próprio Jesus, nos Evangelhos, demonstra essa verdade expulsando o demônio, como por exemplo, no Evangelho de Marcos, capítulo 5; em Mateus, nos capítulos 8, 9, 12, e em outros… Os apóstolos, no capítulo 10 do Evangelho de Lucas, atestam o poder do Nome de Jesus quando dizem:

"Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do Teu nome" (Lc 10,17).

Na tradição da Igreja, nos relatos e na vida dos santos, também é possível ver claramente essa realidade da ação demoníaca direta sobre uma pessoa.

Ação direta do demônio sobre uma pessoa

Quando nós falamos de uma ação direta do demônio sobre uma pessoa, a Igreja, com o passar do tempo e com a experiência, pôde pontuar algumas realidades que, se observadas e somadas, nos levam a um tipo maior de discernimento para concluirmos se se trata ou não de uma ação extraordinária do Mal sobre aquela pessoa.

Em geral, os sintomas de uma possessão diabólica são tão claros, e de certa forma até extraordinários, que, chegar a um discernimento não é difícil. É claro que aqui estou falando de um discernimento feito por pessoas preparadas para isso, que estão acostumadas com as realidades espirituais.

Podemos dizer que, quando falamos de uma possessão diabólica, estamos falando de uma ação do demônio diretamente sobre uma pessoa, na qual o demônio começa a ter um certo domínio sobre o corpo da pessoa, sobre os seus movimentos, sobre a sua fala e ações. A pessoa que sofre tal ação do Maligno não tem, de certo modo, responsabilidades sobre os seus atos, uma vez que não está em posse de sua plena liberdade de fazer escolhas. Só por isso já poderíamos ter, de inicio, um bom discernimento; porém, é verdade que existem certos tipos de doenças mentais que podem chegar muito próximas aos "traços" de uma possessão diabólica, por isso a Igreja nos ensina, dentro do próprio ritual dos exorcismos, mais alguns critérios que podem nos servir como ajuda no discernimento.

Em geral, uma pessoa que está sofrendo uma ação direta do demônio ficará muito incomodada em estar presente em momentos fortes de oração, seja em momentos de orações comunitárias, na oração do Santo Terço, em momentos de louvores, no Grupo de Oração e, de modo muito acentuado, na Santa Missa.

É importante frisar que uma pessoa que sofre de uma possessão diabólica não está constantemente em "transe", por isso pode levar uma vida normal, tendo, em alguns momentos, certos tipos de manifestações específicas. Por isso que frisei, em primeiro lugar, os momentos de oração, pois isso incomoda muito o demônio. Também é comum que pessoas que sofrem essa ação extraordinária do demônio, que é a possessão, acabam por experimentar outros tipos de ações do demônio, como por exemplo, obsessões diabólicas ou vexações diabólicas.

O que diz o Ritual Romano

O Ritual Romano indica alguns outros sinais que podem nos ajudar no discernimento e diagnóstico. É bom reforçar que sinais isolados precisam ser bem averiguados para se discernir com precisão, mas que, quanto mais sinais destes que serão apresentados forem possíveis confirmar, maior se torna a possibilidade de uma real possessão diabólica.

Assim descreve o Ritual Romano:

"Segundo a prática comprovada, consideram-se como sinais de possessão do demônio: dizer muitas palavras de língua desconhecida ou entender quem assim fala; revelar coisas distantes e ocultas; manifestar forças acima da sua idade ou condição natural. estes sinais podem fornecer algum indício. Como, porém, os sinais deste gênero não são necessariamente atribuíveis à intervenção do diabo, convém também atender a outros, sobretudo de ordem moral e espiritual, que manifestem de outro modo a intervenção diabólica, como por exemplo a aversão veemente a deus, ao santíssimo Nome de Jesus, à Bem-aventurada virgem Maria e aos santos, à igreja, à Palavra de deus, a objetos e ritos, especialmente sacramentais, e às imagens sagradas. Finalmente, por vezes é preciso ponderar bem a relação de todos os sinais com a fé e o combate espiritual na vida cristã, porque o Maligno é principalmente inimigo de deus e de tudo o que relaciona os fiéis com a ação salvífica". (Ritual Romano, Prel. 16)

Em síntese, esse são os sinais:

Falar ou compreender línguas desconhecidas:

Durante a manifestação diabólica, o possesso pode falar perfeitamente ou compreender línguas que nunca aprendeu e com as quais nem mesmo teve algum tipo de contato.

Estas línguas podem ser línguas atuais, modernas, e até mesmo línguas mortas. Consideram-se línguas mortas o idioma que não possui mais falantes nativos, e somente há registros de sua escrita. Por exemplo o Latim, o Fenício, sânscrito, e outras mais.

– Revelação de coisas ocultas ou distantes:

Durante a manifestação diabólica, o demônio pode, através do possesso, revelar realidades e acontecimentos escondidos e esquecidos das pessoas que estiverem presentes durante o ritual do exorcismo ou oração de libertação.

É possível também que o possesso revele um segredo ou um pecado escondido que não foi confessado ou que não houve verdadeiro arrependimento.

O demônio pode saber o nome de pessoas, sem que o possesso nem mesmo conheça essas pessoas. Pode dizer fatos que estão acontecendo em outros lugares naquele exato momento.

– Força física além do natural e outros sinais corporais:

Durante a ação diabólica, o possesso pode manifestar uma força que é desproporcional em relação à sua idade ou até mesmo em relação às suas condições físicas. Por exemplo, uma jovem franzina precisar de quatro homens fortes para segurá-la durante a possessão, ou ainda, uma pessoa de idade e até mesmo debilitada fisicamente ganhar agilidade e força desproporcional em relação à sua condição física atual.


– Aversão ao Sagrado:

Tudo o que é sagrado ou remete ao sagrado gera um certo incômodo a pessoa. Se não estiverem possessas naquele momento, qualquer momento de oração gerará certa agitação na pessoa ou fará com que ela se sinta mal fisicamente, com mal estar, fraquezas, ânsias de vômito, ódio e raiva sem explicações.

Não conseguem usar com frequência sacramentais atados ao seu corpo, passam mal ao entrar em igrejas, quando dado água benta a estas pessoas, muitas reclamam do sabor amargo.

Portanto, esses são apenas alguns sinais que podem demonstrar uma real possessão diabólica numa pessoa, o que faz com que nada mais se veja no campo da  medicina ou no campo humano. Sendo assim possível, chegarmos a um discernimento mais apurado.

Mas faço questão de frisar mais uma vez: esse campo do discernimento e da oração por tais pessoas, só devem ser realizados por pessoas habilitadas e que saibam o que está sendo feito.

Danilo Gesualdo
Missionário da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/possessao-demoniaca-discernimento-e-sinais/