29 de abril de 2020

A desumanização é o que permite o discurso de ódio

Infelizmente, é muito fácil julgar e condenar as pessoas. Sem dúvida, as redes sociais têm potencializado essa falha incompassível. Isso ocorre porque o julgamento e a condenação pressupõem a desumanização da pessoa julgada, quer dizer, ignorasse que falamos de alguém como nós, com sentimentos, família e suas próprias qualidades. É mais cômodo para o agressor atacar a "@ana_julia_123" do que a menina Ana Júlia, filha do Marcelo e da Renata, irmã do Felipe, que adora livros de aventura e musicais da Disney. O ensinamento de Jesus Cristo não poderia ser mais claro e objetivo: "Não julgueis, e não sereis julgados" (Mt 7,1), mas é a desumanização que tem possibilitado os corriqueiros e cruéis discursos de ódio.

Quando o alvo do julgamento é observado como uma pessoa, como eu e você, com seus próprios problemas, sentimentos e sua dignidade, a ofensa se torna penosa para o próprio agressor. Se, do contrário, esquecermos dessa humanidade e, no calor no momento, condenarmos sem ponderar a situação do outro, cometemos o erro da "desumanização que nos apresenta sob a forma da indiferença, da hipocrisia e da intolerância" (Papa Francisco).

A desumanização é o que permite o discurso de ódio

Foto ilustrativa: leremy by Getty Images

Na internet, a desumanização é ainda mais comum. Com lamentável frequência, temos nos deparado com discursos de ódio e narrativas de agressão nas redes sociais. Sempre me intrigou o fato de haver pessoas que se dispõem a "seguir" outras, única e exclusivamente, para ofender e criticar cada foto, cada comentário, cada postagem. É uma vida muito vazia. Claro que não são críticas construtivas, são ataques injustos, fundamentados na frustração e no desespero do próprio agressor. E para tentar amenizar esse cenário tão comum na internet, o papel do cristão é ser um agente do amor e da caridade.

Busque não alimentar o discurso de ódio!

Eis o verdadeiro desafio: "Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma coisa?" (Mt 5, 46). Assim, a proposta é tratar os agressores com caridade. Se o método de agressão é a desumanização, a resposta deve ser humanitária. Ouvir, refletir e ponderar. É uma tarefa difícil. Tentar ajudar quem está disposto apenas a agredir é oferecer a outra face (Mt 5, 39). Precisamos buscar compreender o que levou o agressor à prática dos julgamentos e não alimentar esse ódio.


"O perigo consiste em negar o próximo e assim, sem se dar conta, negar a sua humanidade, a nossa humanidade, negar-nos a nós mesmos e negar o mandamento mais importante de Jesus. Esta é a desumanização" (Papa Francisco). O exercício de empatia não é fácil. É preciso respirar fundo, ponderar, refletir e, só então, transmitir uma mensagem de caridade. Nas redes sociais, esse desafio deveria ser mais fácil, porque não há necessidade de uma resposta imediata. É possível ler, reler, pensar, beber água e rezar para, só então, escrever a resposta.

Que Deus nos dê firmeza e serenidade para sempre enxergarmos o outro como igual, como humano, como irmão. É importante sempre considerar que mesmo o agressor tem sua parcela de sofrimento e, se ele está disposto a apenas propagar o ódio, ele precisa mais de ajuda do que de condenação. É uma missão árdua, não há dúvidas. Que Deus nos ajude. Que assim seja.

Referências:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
PAPA FRANCISCO. Mensagem aos participantes no encontro dos movimentos populares realizado em Modesto, Califórnia. 10 fev. 2017.



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã. Advogado com atuação na área de Direito de Família e Direito Bancário. Tecnólogo em Gestão Empresarial. Professor de cursos técnicos-profissionalizantes.
Instagram: @luisguconde Contato: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/a-desumanizacao-e-o-que-permite-o-discurso-de-odio/

27 de abril de 2020

Na quarentena, convide Jesus para o seu lar

Diante deste cenário de pandemia em que vivemos, é quase impossível afastar-se das notícias que parecem apontar para uma situação cada dia mais preocupante. Embora seja necessário estar ciente da gravidade da situação e bem informado quanto às medidas de combate ao contágio, a insistência desmedida no assunto causa tristeza e exaustão emocional. Era também com tristeza que os discípulos caminhavam para Emaús. Eles "conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido" (Lc 24, 14), mas quando perguntados sobre tal assunto só puderam responder "com o rosto triste" (Lc 24, 17). Para superar essa tristeza, foi necessário lembrar-se das Escrituras e partilhar o pão.

A crucificação de Jesus foi um acontecimento triste para os cristãos da época que ainda não compreendiam todo o seu significado. Apesar das profecias já terem anunciado o Messias e a Ressurreição, a fé daquelas pessoas não estava estabelecida em seus corações. Ao encontrar os discípulos que caminhavam para Emaús, Jesus os lembrou das profecias e com eles partilhou o pão, a fim de que eles se alegrassem e percebessem que aquele momento de aparente derrota era, na verdade, o anúncio da Boa Nova. Hoje, em momento de isolamento social e tantas incertezas, é necessário fazer o mesmo, lembrar-se das Sagradas Escrituras e da presença de Deus conosco.

Na quarentena, convide Jesus para o seu lar

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Nesta quarentena, permita-se aproximar de Jesus

São Pedro dirigiu sua primeira carta aos povos que viviam a hostilidade do mundo dizendo-lhes: "Graças à fé e pelo poder de Deus, estais guardados para a salvação que deve revelar-se nos últimos tempo. Isso é motivo de alegria para vós, embora seja necessário que no momento estejais por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. Deste modo, o quilate de vossa fé, que tem mais valor que o ouro testado no fogo, alcançará louvor, honra e glória, no dia da revelação de Jesus Cristo" (1Pd 1, 5-7). Não há dúvidas que as tribulações da vida são mais facilmente superadas por aqueles que aceitam a companhia de Jesus Cristo, que O convidam para entrar em suas casas e têm junto deles o Deus Vivo e Verdadeiro, que não abandona nem desampara.


"Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!" (Lc 24, 29): foi o convite que os discípulos de Emaús fizeram a Jesus. Façamos o mesmo, ao abrir o nosso lar para a presença de Jesus Cristo. Todos os dias e em vários horários a TV Canção Nova transmite a Santa Missa e, atualmente, muitas paróquias também estão transmitindo as suas missas via internet. Vamos tirar as bíblias das gavetas, montar um altar ou aprimorar o que já temos. É o momento de vivenciar com maior fervor a presença de Deus junto de nossa família.

Faça-se e cumpra-se a vontade de Deus sobre todas as coisas, que una nossas famílias em oração, para que possamos enfrentar esse momento de provação com o coração alegre, na certeza da presença do Cristo em nossos lares. Que assim seja.

Referências:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
Horários de Missas transmitidas pela TV Canção Nova: https://tv.cancaonova.com/programa/santa-missa/



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã. Advogado com atuação na área de Direito de Família e Direito Bancário. Tecnólogo em Gestão Empresarial. Professor de cursos técnicos-profissionalizantes.
Instagram: @luisguconde Contato: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/na-quarentena-convide-jesus-para-o-seu-lar/

24 de abril de 2020

A Igreja não está de quarentena!

Estamos confinados, de modo restrito, aqui na França desde o dia 14 de março. Provavelmente, se tudo estiver bem, retomaremos, pouco a pouco, nossas atividades a partir de 11 de maio. Nesse contexto, nenhuma religião pode reunir seus fiéis para nenhum tipo de cerimônia, exceto para funerais, com a presença de, no máximo, 20 pessoas no local da celebração.

Somos a Igreja do Senhor, e cada um dos batizados é um membro do Corpo de Cristo (1 Co 12,27). Nossas igrejas são locais importantes para prestarmos, juntos, um culto comunitário a Deus.

Na igreja, sentimo-nos mais unidos e partilhamos nossa fé com alegria – um é sustento do outro. A igreja é o lugar onde, habitualmente, vivenciamos a Missa, a qual, claro, tem um valor inestimável, pois nela recebemos os sacramentos que nos permitem continuar avançando até o Reino dos Céus.

Temos, contudo, que ter bem claro em nossos corações: não celebrar em comunidade e não ter acesso aos sacramentos não significa esfriar e perder a vitalidade, pelo contrário: "católicos, é hora de intensificar as orações". Entender isso é um passo importante para atravessar a crise da pandemia sem viver uma crise de fé.

A Igreja não está de quarentena!

Foto ilustrativa: MichalLudwiczak by Getty Images

Seja Igreja!

Na primeira Carta aos Tessalonicenses, São Paulo nos dá vários conselhos sobre a vivência da fé cristã, e acho que eles servem perfeitamente para a crise atual:

"Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis. Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e vos admoestar. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a paz entre vós. Pedimo-vos, porém, irmãos, corrigi os desordeiros, encorajai os tímidos, amparai os fracos e tende paciência para com todos. Vede que ninguém pague a outro mal por mal. Antes, procurai sempre praticar o bem entre vós e para com todos. Vivei sempre contentes. Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo: abraçai o que é bom. Guardai-vos de toda a espécie de mal" (I Ts 5,11-22)

Na prática, entendemos e queremos intensificar as orações: queremos ter forças para "atravessar a tempestade" com o coração cheio de esperança e para pedir ao Senhor que nos "livre de todo mal". Mas, estando já há mais de um mês confinados, ouvindo algumas pessoas por telefone, e dando-me conta da minha própria realidade, percebi que este bom desejo de caminhar na fé e com coragem pode esfriar rapidamente. Irmãos, não é fácil viver a fé sozinhos. Prestem atenção: sozinhos estamos em perigo!

Para vivermos nossa fé, não podemos negligenciar nosso corpo nem a nossa mente. Somos a religião da encarnação – Deus se fez homem! E lembremo-nos: Deus nos deu um corpo. Por isso, depois de algumas leituras sobre o assunto, partilho com vocês nove pistas sobre como viver a quarentena da melhor maneira possível:


Dicas

1. Crie um ritmo para o seu dia: tenha hora para se levantar, fazer suas refeições, rezar, brincar, estudar e dormir. Pense em criar um programa para a semana, com metas a cumprir (limpar a casa, arrumar o armário, ler um livro etc.) Faça com que os fins de semana sejam diferentes dos demais dias.

2. Mexa-se: nosso corpo influencia muito nosso humor: ele não pode ficar parado. Ideias de exercícios físicos, às vezes simples, não vão faltar, tenho certeza.

3. Permita-se fazer coisas que lhe dão prazer: uma boa comida, ouvir boa música, dançar, fazer artesanato etc.

4. Cuide de suas relações com familiares e amigos: telefone, escreva ou faça "lives". Esse contato, ainda que virtual, é de extrema importância.

5. Pense nas pessoas em dificuldade: a solidariedade faz bem para todos – para quem faz e para quem recebe! Procure ver quem são as pessoas que precisam ou que estão sozinhas, sobretudo idosos, e veja como pode ajudar (e não se preocupe: faça somente aquilo que está ao seu alcance).

6. Administre os conflitos da melhor maneira possível. Passar muito tempo junto, às vezes numa casa pequena, não é nada fácil. A paciência pode se esgotar muito rápido. Brigas são frequentes em muitos lares. No que estiver ao seu alcance, deixe para lá; ficar remoendo tal comportamento ou tal palavra faz mal para todo mundo. Se puder, diga o que está sentindo e dê espaço aos outros para que falem também. Se preciso for, delimite espaços privados em casa – isso não é faltar com caridade, é respeitar o outro.

7. Use a razão: já fez todo o possível para evitar a propagação do vírus? Se sim, não fique com "neuras" em casa, achando que tudo e todos estão contaminados. Aliás, muitas horas nas redes sociais ou vendo os jornais, pode contaminar o cérebro e suas relações sociais. Saiba que não tem problema se você não viu quantas pessoas foram contaminas ou mortas nos últimos três dias!

8. Lembre-se de que estamos atravessando uma crise, e que ela vai passar. Na sua vida, quantas tempestades você já teve que enfrentar? Se puder, lembre de algumas delas e perceba como elas foram ocasiões de dor, mas, sobretudo, de crescimento e aprendizado. Agradeça e confie no Senhor, que é o seu pastor e que está sempre ao seu lado.

9. Cuide de sua vida interior – é assim que você se sentirá fortalecido. Sobretudo, leia a Bíblia: a leitura assídua da Palavra de Deus reconforta, encoraja, anima, orienta, consola, instrui, dá esperança e cura os corações dos medos e traumas.

Reze ao Pai das Misericórdias

"Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias, Deus de toda consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!" (2 Co 1,3-4)

Deus abençoe você e sua família.



Padre André Favoretti

Natural de Vitória – ES, foi ordenado sacerdote dia 25/06/2017, na diocese de Fréjus-Toulon, onde atua como missionário. Antes de ser padre, concluiu uma licenciatura em Geografia (UFES), foi professor e fez uma pós-graduação em filosofia (UFOP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/igreja-nao-esta-de-quarentena/

22 de abril de 2020

Como posso ser íntegro e temente a Deus?

A liturgia nos convida a sempre meditarmos a Palavra de Deus; e o livro de Jó nos mostra um homem que sofreu inúmeras provações, sendo íntegro e temente a Deus.

Está escrito no livro de Jó: "Então, Jó levantou-se, rasgou as vestes, raspou a cabeça, caiu por terra e, prostrado em adoração, falou: 'Nu, saí do ventre de minha mãe; e nu voltarei para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou; como foi do agrado do Senhor, assim aconteceu. Seja bendito o nome do Senhor!'. Apesar de tudo isso, Jó não pecou com seus lábios, nem disse coisa alguma insensata contra Deus". (Jó 1,20-22)

O ponto-chave de toda a trama que vai se desenrolando, durante a leitura desse livro, é o sofrimento do justo, ou melhor, o mistério do sofrimento do justo.

Daí surge a seguinte pergunta: "Por que o justo sofre?". Parece uma pergunta simples de se responder, mas não é!

Por que o homem passa por tantas provações?

O fato de os homens bons padecerem, os tementes a Deus serem provados, os virtuosos, humilhados, muitas vezes, é, de fato, um mistério. Enfim, seguir Jesus, deparar-se com a cruz que temos de carregar em Seu seguimento e senti-la, muitas vezes, pesada, dura, fria em nosso ombro, não é uma experiência fácil de se explicar.

Como posso ser íntegro e temente a Deus

Foto: Getty Images/ AntonioGuillem

No entanto, uma grande lição para nossa vida, que podemos tirar do exemplo de Jó, é o de não "perdermos" Deus. Entenda-se esse termo "perder" como "abrir mão", não tomar posse, não priorizar, deixar passar, e assim por diante.

Diante de tanta notícia ruim, Jó poderia ter ficado louco, ter praguejado contra Deus ou coisas do tipo. O que fez Jó? Numa sequência rápida: levantou-se, rasgou as vestes, raspou a cabeça, caiu por terra, adorou a Deus, louvou e não disse nada de insensato contra o Senhor.

A atitude de Jó me faz pensar naquelas manobras que se aprendem em primeiros socorros e que precisam ser executadas com o máximo de atenção e rapidez para que a vítima não morra. Assim fez Jó: para não morrer em sua , ele tratou de cuidar daquilo que lhe era mais caro, mais precioso! E o fez rapidamente.

O que seria tão importante para Jó? Respondo: o seu relacionamento com Deus.

Aí vai uma importante lição: às vezes, a nossa vida parece que, do dia para a noite, "virou do avesso". Nada dá certo! Só notícia desagradável, problemas e mais problemas, conflitos familiares, crises financeiras, traições e por aí vai.

Precisamos compreender, então, que a primeira coisa a ser feita é proteger aquilo que, logo de imediato, vê-se atacado pelas tribulações, que é, exatamente, a nossa fé em Deus.


Sem esmorecer na fé, ser temente a Deus

Não deixe, por nada neste mundo, que a sua fé em Deus seja abalada pelos problemas. Mais ainda: não deixe que as situações "roubem" Deus do seu coração. Jó nos ensina esta preciosa lição: ele não é um "conformado" diante dos problemas; antes de tudo, é alguém extremamente sábio, tão sábio, que tratou logo de preservar aquilo que jamais deveria ser maculado e distorcido, ou seja, o seu amor, a sua fé em Deus.

Jó louvou, para nos ensinar que é possível louvarmos também em meio às tragédias e às terríveis situações que nos cercam! Jó não disse nada de insensato contra Deus, para nos mostrar que reclamar, murmurar e até mesmo amaldiçoar não nos leva a nada! É preciso fazer, assim como Jó, a melhor escolha. Jó perdeu bois, ovelhas, filhos, mas não perdeu Deus.

Vemos nisso não um "Jó alienado", mas um homem que sabia quem era o seu Deus e de que matéria-prima era feita a sua fé. Será que eu sei quem é o meu Deus e qual é a minha fé? E você? (Fica aqui a pergunta).

Há pessoas que, diante de qualquer situação dolorosa, tratam logo de culpar Deus pelo ocorrido e, simplesmente, colocam a sua fé para escanteio. Será que você é uma dessas pessoas? Acredito que não! Penso que você também, a exemplo de Jó, é uma daquelas pessoas sábias e coerentes que não deixam a provação arrancar do seu coração aquela saudade do Deus que é eterno.

Continue lutando, mesmo chorando, e não perca Deus de vista. Caso você tenha se afastado d'Ele, volte! Simplesmente volte! E tenha essa alegria e certeza: Jesus sempre se deixa encontrar por aqueles que buscam por Ele.

Lembre-se: a sua fé é preciosa demais para ser perdida.



Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal 'Formação' do Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-posso-ser-integro-e-temente-deus/

20 de abril de 2020

Céu, nossa pátria definitiva

A Pátria definitiva que desejamos habitar é a casa cuja construção começa na terra. A Palavra de Deus reúne o povo que lhe pertence, convocando-o à comunhão com o próprio Senhor para ser um sinal de um mundo diferente, possível para todos os homens e mulheres pela ação da graças. Jesus, Filho de Deus verdadeiro, veio ao mundo e trouxe a "cultura do céu", oferecendo-a com generosidade. "De rico que era, tornou-se pobre por amor para que nos enriquecer com sua pobreza" (2 Cor 8,9).

N'Ele e com Ele se encontra o chamado e a graça a restaurar todas as coisas. Em Jesus Cristo, Deus "nos fez conhecer o mistério de sua vontade, segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, para realizá-lo na plenitude dos tempos: recapitular tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra" (Ef 1,9-10). Esta terra não é um restolho a ser desprezado, mas campo de prova e de missão, entregue a todos os filhos amados de Deus. A nós cabe a resposta a este plano de amor!

Não faltam os desafios a serem enfrentados para que os sonhos de Deus e de seus filhos se realizem. Dentre estes, assoma significativo o verdadeiro abismo entre grupos sociais, passando da extrema e escandalosa miséria até chegar à abundância, ao esbanjamento e ao desperdício que têm provocado indignação e clamado soluções construtivas. A sensibilidade especial do Evangelho de São Lucas para os pobres e pequenos (Cf. Lc 16, 10-31) mostra Jesus que, através da provocante linguagem das parábolas, quer suscitar novas atitudes, semeando novas relações entre as pessoas.

Céu, nossa pátria definitiva

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O Céu está bem perto de nós

Lázaro, o pobre de outrora e de sempre, assim como o rico epulão continuam presentes e incômodos, quando a parábola é contada por Jesus. Mas o céu, com seu modo de viver baseado na comunhão e na partilha, está bem perto de nós. Antes de pôr o dedo na ferida da desigualdade e da injustiça presentes em nosso tempo, faz bem olhar ao nosso redor e identificar onde se encontram experiências diferentes, nas quais o céu desce à terra. Perto e dentro de nós, existem gestos de comunhão, gente de coração generoso, sensibilidade diferente à fraternidade. Penso em tantas iniciativas tomadas por pessoas e grupos, como as tantas obras sociais da Igreja ou de outras instâncias da sociedade, nas quais se superam as distâncias e a fraternidade se instala. E quantas são as pessoas tocadas pela força da Palavra de Deus e hoje mais fraternas e sensíveis às necessidades dos outros, capazes de acolher os outros e proporcionar-lhes caminhos novos de promoção e autonomia.

Depois, trata-se de alargar a compreensão para verificar as marcas de verdadeiro inferno existentes em torno a nós, onde o egoísmo se espalha e deixa seu rastro destruidor. Uma imagem de tal situação me veio há poucos dias diante dos olhos: um morador de rua recolhendo água suja de uma valeta numa grande cidade, para "quase fazer de conta" se lavar no início de um novo dia.

Penso em tantos homens e mulheres que veem seus filhos vagando pelas ruas, revestidos de andrajos, com o coração dolorido por não terem roupas adequadas. E os homens e mulheres que recolhem restos de comida, quais lázaros que competem com cães vadios? Brada ao Céu a terra que edificamos! A dignidade humana, inscrita por Deus em todos os seus filhos, grita por novas atitudes. Para acordar a humanidade adormecida dentro de nós, foram dados lei, profetas e, mais ainda, alguém que ressuscitou dos mortos (Cf. Lc 16, 29-31). E não falta o grito da realidade, mas ouvidos sensíveis!

O primeiro passo é saber que o céu, pátria definitiva em que desejamos habitar, é a casa cuja construção começa na terra. Dar guarida a cada pessoa que clama pelo nosso amor, sem deixar quem quer que seja passar em vão ao nosso lado. Diante do aleijado encontrado pelas ruas, Pedro e João tinham muito mais do que recursos materiais: "Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!" (At 3,5). Deram a cura, abriram o coração do homem para Deus. E os textos dos Atos dos Apóstolos mostram que os primeiros cristãos lutaram pela comunhão de bens, um dos sinais da presença de Cristo Ressuscitado. Palavra, pão, remédio, abraço, consolo, sorriso, mãos que elevam, cura. Tudo serve e certamente haverá, no tesouro do coração de cada pessoa, algo a oferecer. Começar já, do jeito que é possível para cada um de nós.

Mas muitos podem oferecer outras coisas! Quem tem responsabilidades públicas, à frente de organismos da sociedade, pode aguçar sua sensibilidade e priorizar ações correspondentes aos valores da dignidade humana e proporcionar maior respeito às pessoas, especialmente aos mais necessitados. Há muita cara fechada e muita burocracia a serem superadas nas repartições públicas. Muitas filas podem diminuir, se crescer a boa vontade. Há projetos em vista do bem comum a serem implantados, vencendo interesses corporativos que emperram a vida dos cidadãos. Existe um caminho de conversão adequado para as pessoas que detêm cargos eletivos, quem sabe, inscritos até nos discursos bonitos da campanha eleitoral! Há mãos a serem lavadas na água pura da fonte da vida!

O Céu é o limite

Tudo isso só será possível se os valores que norteiam o comportamento tiverem referências diferentes. Escrevendo a Timóteo, companheiro de jornada no anúncio do Evangelho, São Paulo fez notar que "na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas, procura antes a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado quando fizeste a tua bela profissão de fé diante de muitas testemunhas" (1 Tm 6, 10-16). A atualidade patente da Escritura provoca novas atitudes. Só com homens e mulheres renovados e transformados com os critérios do Evangelho se pode implantar relações novas na sociedade.

Enfim, vale dizer que se o céu é o limite, não há de temê-lo. Quando a Escritura e a Igreja falam das realidades definitivas, chamadas "novíssimos do homem", não desejam incutir o pavor nem converter à força as pessoas. Não fomos feitos para rastejar no pecado e no egoísmo, mas pensados por Deus para a felicidade, construída e partilhada nesta terra e vivida em plenitude na eternidade.



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/ceu-nossa-patria-definitiva/

16 de abril de 2020

Contribuição das redes sociais em tempo de quarentena

Sabemos que a velocidade com que a informação se propaga, num mundo tecnológico e de redes sociais, é imensa e varre todo o canto do mundo em segundos. O que, antes, levaria horas ou dias para chegar ao conhecimento do outro, hoje, em apenas um toque torna-se sabido a milhões de pessoas.

A velha brincadeira do telefone sem fio pode se tornar perigosa, catastrófica, desumana, irreal e trazer pânico. Como temos lido, muitas vezes, nos últimos dias: morri com a informação ou a desinformação que tive. Sabe aquela história do ouvir dizer, que alguém disse e foi comprovado pela fala de um terceiro? Pois é: é sobre esse perigo que falamos. O poder das fake news ou das notícias falsas é especialmente perigoso e pode destruir pessoas.

Vale a pena, contudo, olharmos para as redes sociais como uma forma rica e até mesmo divertida de entretenimento e informação, desde que consultadas as fontes.

Contribuição das redes sociais em tempo de quarentena

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Dicas para usar bem as redes sociais, principalmente neste tempo

Usar bem um recurso diz de tirar o melhor que ele pode nos oferecer e usar com sabedoria e discernimento. Essa é a principal lição que podemos tirar deste tempo.

Uma outra rica contribuição das redes sociais é o poder de aproximar as pessoas: aos filhos, que longe estão dos seus pais; dos irmãos que conversam uns com os outros; dos coleguinhas de escola que, sem se verem, sentem a falta um do outro; daqueles que trabalham na área da saúde e têm evitado estar próximos de suas famílias; dos que estão nos hospitais e, por força da internação, comunicam-se com seus familiares. Tudo isso é rico, é fonte de amor e cuidado, é a forma saudável pela qual as redes sociais nos aproximam.

Vale uma dica bastante importante: evite ficar o dia todo nas redes sociais, não tenha este meio como única fonte de informação. Procure mesclar seu tempo em outras tarefas e responsabilidades do seu dia, até porque qualquer tipo de excesso é prejudicial em nossa vida.

Leia mais:
::Estar em casa é também voltar para a nossa Galileia
::Como enfrentar o período de férias em casa?
::O exercício das "pequenas coisas" durante a quarentena
::Testemunho de um padre na China

Busque distrair-se!

Aproveite este tempo para selecionar seu conteúdo preferido: informação, diversão, atualização e passatempo. Tudo isso pode ser vivido, levando em consideração os pontos que destacamos.

Estando em distanciamento social, isolamento ou mesmo para aqueles que necessitam sair às ruas para trabalhar, as três situações causam preocupação e alterações significativas de humor: a incerteza de futuro, a condição financeira alterada, e diversas preocupações que poderíamos destacar aqui estão rondando cada um de nós.

É natural e saudável, inclusive, que busquemos fontes de distração, de alívio de tensões: vídeos de orientação, de música, de um universo gigantesco de informação. É um lembrete bem importante: use com consciência, moderação e com aquele bom filtro para selecionar aquilo que pode agregar valor para sua vida e para seu princípios.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.


13 de abril de 2020

Viver ressuscitado é saboroso como o chocolate

Que conceito bonito este de que a família é a Igreja doméstica! "Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concilio Vaticano II chama a família, usando uma antiga expressão, de 'Eclésia doméstica'. É no seio da família que os pais são 'para os filhos, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada'" (Catecismo da Igreja Católica, n° 1656).

O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso, o lar é chamado, com toda razão, de "Igreja doméstica", comunidade de graça e oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã (Catecismo da Igreja Católica, n° 1666).

Viver ressuscitado é saboroso como o chocolate - 1600x1200Foto: Copyright: 1905HKN, iStock by getty images

A Páscoa é uma festa de família, porque viver ressuscitado é saboroso como o chocolate

Os pais são os primeiros a transmitir a fé, os valores cristãos e universais e uma boa educação para os filhos. Pai e mãe são mestres da vida; pela palavra e pelo exemplo, eles nos ensinam coisas que vamos levar para a vida toda, que vão influenciar nossas escolhas e, principalmente, formar a nossa consciência do bem e do mal. Serão os primeiros catequistas, que, muito mais do que ensinar, vão transmitir pela prática, porque os filhos os verão fazendo.

Eu mesmo poderia dizer da minha mãe e da minha avó quando as via rezar o terço diante da imagem de Nossa Senhora: "Era uma santa ouvindo o que a outra santa dizia!". Meus pais imprimiram em mim muito mais do que traços biológicos e heranças hereditárias, qualidades e defeitos e o desejo de um futuro brilhante. Eles fizeram com que eu experimentasse o amor de Deus e a graça da fé. Quando ainda era criança, sem que eu entendesse, deram-me um banho de Água Viva, que me fez nascer de novo e me enxertou em Cristo Jesus. Dando-me assim o dom da imortalidade e a graça de pertencer a uma família muito grande: a Igreja!

Como explicar para as crianças e os jovens que o mais importante é a festa da vida?

Como explicar para as crianças e os jovens que, na Páscoa, o mais importante é a festa da vida que vence a morte? Que Cristo verdadeiramente foi morto numa cruz e que, por aceitar morrer assim, Ele nos libertou do pecado e nos salvou pela Sua Ressurreição? A Páscoa é uma festa de família, porque viver ressuscitado é saboroso como o chocolate, é cheio de vida como o ovo e é tão fecundo como um casal de coelhinhos. É preciso ter a coragem de celebrar a fé em família e ensinar o verdadeiro sentido de ser cristão.


O sentido dos símbolos pascais

Celebrar a Páscoa é renascer com Cristo ressuscitado, é passar da morte para a vida, é vencer o pecado e a morte. É também celebrar a vida com o sabor de um ovo de chocolate e mostrar ao mundo que o cristão precisa ser como o coelho: fecundo em virtudes, amor e santidade. É arrumar uma ceia e acender uma vela para convidar os amigos e parentes para se iluminarem com a luz de nossa fé. Uma fé que nasce e renasce constantemente no seio de nossas famílias. É ser criativo e pedir ao Espírito Santo que grave em nossos corações a graça e o verdadeiro sentido dos símbolos pascais:

O Círio Pascal: Representa o Cristo Ressuscitado, que deixou o túmulo, radioso e vitorioso. Na vela pascal ficam gravadas as letras Alfa e Ômega, significando que Deus é o princípio e o fim. Os algarismos do ano também ficam gravados no Círio Pascal. Nas casas cristãs, é comum o uso da vela no centro da mesa no almoço de Páscoa.

O ovo, aparentemente morto, é o símbolo da vida que surge repentinamente, destruindo as paredes externas e irrompendo com a vida. Simboliza a Ressurreição.

O Cordeiro: Na Páscoa da antiga aliança, era sacrificado um cordeiro. No Novo Testamento, a vítima pascal é Jesus Cristo, chamado Cordeiro Pascal.

O Coelho: Símbolo da rápida e múltipla fecundidade da Igreja, que está espalhada por toda a parte, reproduzindo fiéis: há um número incalculável de filhos de Deus, frutos da Graça da Ressurreição.

O Trigo e a Uva: Simbolizam o pão e o vinho da Santa Missa e, por seu grande significado com a Trindade Santa, traduzem, por excelência, o símbolo Pascal. Para a ornamentação da mesa de Páscoa, nada mais indicado que um centro feito com uvas e trigo, entre cestas de pães e jarras de vinho.

O peixe é o mais antigo dos símbolos de Cristo. Se Ele é o Grande Peixe, somos os peixinhos d'Ele. Isso quer dizer que devemos sempre viver mergulhados na graça de Cristo e na vida divina, trazidas a nós pela água do batismo, momento em que nascemos espiritualmente, como os peixinhos nascem dentro d'água.

Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!

FELIZ PÁSCOA!



Padre Luizinho

Padre Luizinho, natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 22 de dezembro de 2000, cujo lema sacerdotal é "Tudo posso naquele que me dá força". Twitter: http://@peluizinho


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/pascoa/viver-ressuscitado-e-saboroso-como-o-chocolate/