29 de junho de 2019

Igreja e meio ambiente, olhos voltados para a Amazônia

Papa Francisco, exercendo sua missão de sucessor do apóstolo Pedro, no zelo apostólico com o povo da Amazônia e para qualificar sempre mais a presença missionária e servidora da Igreja Católica, convocou um Sínodo Especial para a Amazônia, a ser realizado de 6 a 27 de outubro deste ano, em Roma. 

Sabe-se que a Igreja Católica, incontestavelmente, tem uma qualificada presença capilar em diferentes culturas de todo o mundo e sua presença na região pan-amazônica é de especial importância, com todos os muitos desafios e exigências. Lidar com essas exigências e desafios requer o exercício da escuta para servir mais e melhor no anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. O Sínodo é, pois, um longo caminho de escuta. Oportunidade para a Igreja Católica qualificar ainda mais a sua missão na Amazônia, oferecendo a todos singular chance de se dedicar mais atenção a essa realidade ambiental, histórica, cultural, política e religiosa de notável relevância. Por isso mesmo, a realização do Sínodo interpela as pessoas a ouvirem a Amazônia, repleta de vida e sabedoria.

Igreja e meio ambiente, olhos voltados para a Amazônia

Foto ilustrativa: by Getty Images: AndamanSE

Cuidar do meio ambiente é cuidar da Casa Comum que Deus nos deu, e olhar para a Amazônia é essencial para este falar deste tema

Essa realidade clama e exige novas posturas para enfrentar o doloroso processo de desflorestamento e extrativismo, urgindo uma conversão ecológica integral. A consideração do território amazônico deve se transformar em grande oportunidade de mudanças sociais e civilizatórias com ganhos para essa região e todo o conjunto da sociedade. Essa é a valiosa contribuição promovida pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), alargando e clareando horizontes para um tempo de muitas conversões. De modo especial, é urgente a conversão ecológica para assimilação de novos rumos e, em razão das ricas singularidades, ouvir a voz da Amazônia.

É preciso considerar a grave crise socioambiental em curso, atingindo de modo fatal a Amazônia. Ora, a Amazônia é fonte de vida. Por isso, o Sínodo considera o conjunto da vida na região amazônica – o território, a Igreja, os povos e o planeta. Avançar na consideração da Amazônia a partir dos parâmetros da ecologia integral é determinante. O horizonte é o Evangelho de Jesus Cristo e a Igreja Católica com sua presença evangelizadora é essencial. Seu foco mais importante é, pois, o discipulado no seguimento de Jesus Cristo, desdobrado em compromisso com a vida plena, oferta de Jesus que todos têm a responsabilidade de buscar, contemplando os povos indígenas –  respeitados os seus parâmetros de bem viver. Cultivar a harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres humanos e com Deus é a conquista exemplar a ser buscada.

Descuidar da natureza também é descuidar da vida

Há de se encontrar caminhos para superar os processos que ameaçam a vida, pela destruição e exploração que depreda a Casa Comum e viola direitos humanos elementares da população amazônica. Essa ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos de setores dominantes da sociedade com conivências de governos. É preciso, assim, enfrentar a exploração irracional e construir um novo tempo, tempo de Deus, humanizado, na Amazônia.


Importa agora estar em comunhão com esse caminho. Isso significa buscar uma participação mais ativa e estar aberto a um novo modo de viver, conforme a dinâmica do Evangelho de Jesus Cristo. Um momento para aprender e exercitar-se numa nova compreensão. Deixar-se educar à luz da Palavra de Deus, que revela a aliança fecunda entre a humanidade e o ambiente, para uma cultura do encantamento, do cuidado responsável e da beleza, inspirados no Criador que "viu que tudo era bom" (Gn 1, 31). Eis a oportunidade para grande virada civilizatória, a partir de nova compreensão desdobrada em comprometimentos com os valores do Evangelho de Jesus Cristo pela força missionária da Igreja na Amazônia.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/igreja-e-meio-ambiente-olhos-voltados-para-amazonia/

24 de junho de 2019

Como escolher o nome para os filhos?

Dar nome sempre significou uma complementação ao ato de dar a vida. É um gesto de poder, certamente legítimo, que assiste aos pais. Esse poder proveio da participação no ato criador divino. "Terás um filho, e darás a ele o nome de Jesus" (Lc 1,31).

Quanto possível, o nome será programático, e deverá ser um nome respeitado. O nome mais venerado, pronunciado de maneira devota, é o do Pai do Céu. Seu nome deve ser mais do que respeitado. Deve ser santificado (Lc 11,2). E Ele quer que todos os seus filhos tenham um nome bonito, glorioso e cheio de significado. Por isso, nosso Pai Celeste mesmo providenciou um nome para seu Filho Jesus. Para nós cristãos é o nome mais sublime sobre a face da Terra. E o nome que os pais darão aos filhos também será o mais lindo possível, porque será "afixado em nossas frontes" (Ap 22,4), para sermos salvos no final dos tempos.

Como escolher o nome para os filhos?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Assim como Deus escolheu sabiamente o nome de Seu Filho, também nós devemos escolher

Como escolher nomes? Hoje, isso não parece ser coisa fácil. Comecemos dizendo como eles não devem ser. A Igreja, na sua sabedoria, apenas pede que não passemos nomes de inimigos dos cristãos ou da humanidade. Caso contrário, os filhos sofrerão repulsa e suscitarão indignação, sem terem nenhuma culpa. Também não devem receber nomes que vão levantar observações desairosas. São os nomes feios, que levam as pessoas à galhofa ou ao vilipêndio. Falemos também como podem ser os nomes. Podem ser novos, inexistentes ainda, mas que tenham sentido. Como também podem provir da lista quase infinita dos nomes de santos e de santas, que lembram virtudes cristãs.

Assim, por exemplo, Roque (modéstia às favas) tem relação com rocha e leva a pensar na firmeza da fé. Os nomes bíblicos detêm inspiração permanente. Também não é proibido usar nomes de celebridades históricas. Mas atenção: não queremos ser vassalos de nenhum país do mundo, nem da América do Norte.


Também é legítimo apelar para a vasta nomenclatura de artistas de cinema, de cantores, de heróis das novelas. Mas, nesse assunto, parece que já fomos longe demais. Num mesmo dia crismei doze "Amandas" (nome bonito), mas repetitivo. Já há um bom tempo que não crismo nenhuma "Maria" e nenhum "José". Tornamo-nos vassalos dos heróis da televisão.

Dom Aloísio Roque Oppermann


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/como-escolher-o-nome-para-os-filhos/

21 de junho de 2019

Não fomos criados para a solidão

O seu coração sabe disso, porque, certamente, já experimentou o amargo sabor da solidão. É no encontro com o outro que o eu se afirma e se constrói existencialmente. O outro é o espelho onde o eu se solidifica, preenche-se, encontra-se e fortalece-se para ser o que é. O processo contrário também é verdadeiro, pois nem sempre as pessoas se encontram a partir dessa responsabilidade que deveria perpassar as relações humanas.

Você, mesmo se tiver pouca idade, pode viver um dos momentos mais belos da vida. Você pode experimentar o ponto alto dos relacionamentos humanos, porque a juventude nos possibilita ensaiar o futuro no exercício do presente. Já me explico. Tudo o que você vive, hoje, será muito importante e determinante para a sua forma de ser amanhã.

Neste momento da vida, você tem a possibilidade de estabelecer vínculos muito diversificados. Família, amigos, grupos de objetivos diversos, namorados e namoradas. Principalmente esses últimos, que não são poucos. Namora-se muito nos dias de hoje, porque as relações humanas estão, cada vez mais, instáveis e, por isso, menos duradouras. Parece que o amor eterno está em crise.

Não fomos criados para a solidão

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Da solidão ao amor possessivo

Quando paramos para pensar um pouco, chegamos à conclusão de que o problema está, justamente, na forma como estabelecemos nossos relacionamentos. O grande problema é que, geralmente, investimos todas as nossas cartas naquela pessoa nova que chegou. Ela passa a centralizar a nossa vida, consumindo nosso tempo, nossos afetos, pensamentos e energias. Tudo passa a convergir para ela e, com isso, vamos reduzindo o nosso círculo de relações. O outro vai tomando tanto nossa atenção, que, aos poucos, até mesmo a família vai sendo esquecida. Porém, quando nos esquecemos de cultivar esses vínculos, que, até então, faziam parte de nós, vamos criando lacunas afetivas dentro do nosso coração.

É nesse momento que a confusão acontece, pois todas as necessidades começam a ser preenchidas pela pessoa enamorada. Com o passar do tempo, ela começa a carregar um fardo muito pesado, pois passou a exercer a função de pai, mãe, irmão e amigo, quando, na verdade, ela é apenas um namorado ou namorada.

Cada forma de amor no seu lugar!

Essa relação começará a ser muito pesada para ambos. Será fortemente marcada pela dependência, pelas cobranças e pelo ciúme. Ambos passam a viver uma insegurança muito grande, pois nunca sabem ao certo o papel que exercem na vida um do outro. O amor deixa de ser amor e passa a ser sentimento de posse, como se o outro fosse uma propriedade adquirida, pronta para atender todos nossos desejos.

Quando o coração humano identifica esse sentimento de posse, ele tende a se esconder de si mesmo e, consequentemente, dos outros. Teme que alguém venha quebrar o encanto, mostrando que não existe nenhuma história de amor, e que ambos viraram sapos. E, o pior, acorrentados.

A mudança, no entanto,  é sempre possível. Só é preciso que sejamos honestos. Se, por acaso, você se identificou com essa possessiva e conturbada forma de amar, vale a pena buscar uma ajuda. Comece a canalizar melhor os seus afetos. Não os direcione a uma única pessoa. Tenha amigos, cultive-os. Redescubra sua casa, seus pais, seus irmãos, mesmo que existam problemas entre vocês.

Deixe aflorar os afetos que ficaram adormecidos dentro de você. Não coloque sobre a pessoa que você diz amar a responsabilidade de ser o centro do seu mundo, nem se sinta deixado de lado o dia em que ela disser que não vai ver você, porque precisa ficar com a família. É que existem momentos que o colo da mãe é muito mais necessário do que o seu.

É duro de ouvir isso? Pois é! Muito mais duro é não compreender.



Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção Espiritual" na TV Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/nao-fomos-criados-para-solidao/

19 de junho de 2019

Como educar um filho para não se tornar um adulto agressor?

Neste século, estamos vivendo distúrbios comportamentais motivados por vários fatores que demarcam a agressividade. Recordo-me dos momentos em que eu brincava de roda com meus vizinhos. Fazíamos uma fila, e duas crianças de mãos dadas representavam uma ponte. Nós tínhamos de passar por baixo dos braços delas, cantando: "três, três passará, derradeiro ficará. Bom vaqueiro, bom vaqueiro, dá licença pr'eu passar com meus filhos pequeninos, pr'eu acabar de educar". Ao parar diante das crianças com os braços em forma de ponte, respondíamos o que elas nos perguntavam. Banana ou maçã? Dependendo da resposta, cada criança ia para um lado; assim, a brincadeira chegava ao fim.

Desde essa época, eu ficava imaginando o quanto seria bom para os pais terminarem de criar seus filhos. Hoje, a experiência de ser mãe encoraja-me a pedir licença para acabar de criá-los. Pedir licença a quem? Pedir licença para quê? A este mundo descrente, para não sermos engolidos e afetados por nossas negligências. Pedir licença à violência, à falta de tempo para o outro, à intolerância, à impaciência, à falta de comunicação, à falta de afeto, de fé e de atenção. É preciso pedir licença, caso contrário, não saberemos ou não conseguiremos acabar de criar nossos filhos. Portanto, faz-se necessário escolher o melhor lado: banana ou maçã?

Como educar um filho para não se tornar um adulto agressor?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Fazer essa escolha é educar os filhos para que não se tornem adultos agressores. É decidir por um planejamento familiar que promova a vida e diga 'não' à cultura de morte. Contudo, essa opção exige de nós disponibilidade para cultivarmos relações humanas fortalecidas na verdade e no respeito, evitando desgastes perturbadores tanto para os pais quanto para os filhos.

Educar com limites

Cabe à família selecionar quais conteúdos ela gostaria que seus filhos aprendessem, a fim de não se tornarem adultos agressores. Para tanto, o limite precisa ser dado com ternura e serenidade, pois, desta maneira, como pais, possibilitaremos o conhecimento e a compreensão dos filhos com seus próprios sentimentos. A agressividade é um comportamento vivido por pais e filhos devido a vários fatores, quer seja por perdas significativas, falta de atenção e afeto, quer por excesso de reforço negativo; até mesmo pela falta de experiência com Deus.

O organismo humano, controlado aversivamente por esses estímulos, responde, muitas vezes, de igual forma, ora com mentiras, ora com atitudes de furtos ou incomodando socialmente, assumindo uma conduta caótica diante dos conflitos. Provavelmente, já estará instalado, nesse comportamento, a raiva. Ela nem sempre precisa ser repreendida, mas acolhida para que seja trabalhada da melhor forma possível; evitando, assim, consequências danosas, como o próprio comportamento agressor.

Neste século, estamos vivendo distúrbios comportamentais motivados por vários fatores que demarcam a agressividade. A exemplo do bullying, da violência entre torcidas nos campos de futebol, quando os brasileiros se manifestaram diante das suas insatisfações, podemos apresentar um comportamento agressor tanto na infância como na fase adulta.

Responsabilidade de todos

Nesse momento, não podemos esquecer que o indivíduo saiu de um útero, foi educado em uma família, frequentou uma escola e, muitas vezes, visitou uma igreja. Portanto, uma educação pautada na promoção do indivíduo é responsabilidade de todos: família, sociedade e Estado.

Quando nosso filho demonstrar que precisa de ajuda, pois o seu comportamento está inadequado, deveremos acolhê-los em suas necessidades. É possível reestruturar o seu comportamento. Podemos desenvolver em nós algumas habilidades para combater essa situação quando as coisas não vão bem. Outros motivos que concorrem para a existência desse fenômeno é o consumismo, a pressa em satisfazer os desejos, o uso desordenado de jogos e a ausência de autoridade em casa. Conhecer as características da faixa etária do seu filho também se torna um fator preventivo. Fiquemos atentos às brigas na escola, às dificuldade no enfrentamento dos desafios, ao comportamento de medo e ansiedade, à arrogância, à baixa autoestima e introspecção.

Vamos assumir o amor que temos por cada um deles, expressando em gestos e palavras o quanto são queridos por nós. Que eles não são responsáveis pela dureza da vida que muitos pais vivem. Nossos filhos, para não serem adultos agressores, precisarão ter a certeza de que são desejados por nós.



Judinara Braz

Administradora de Empresa com Habilitação em Marketing.
Psicóloga especializada em Análise do Comportamento.
Autora do Livro "Sala de Aula, a vida como ela é."
Diretora Pedagógica da Escola João Paulo I – Feira de Santana (BA).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/como-educar-um-filho-para-nao-se-tornar-um-adulto-agressor/

17 de junho de 2019

Que tipo de amor quero receber?

O Livro do Gêneses nos fala que o ser humano foi criado por Deus, à sua imagem e semelhança. Deus incutiu nele atributos que nenhum animal, nenhum ser possui: inteligência, liberdade entre outros. E entre eles está a capacidade de amar. O ser humano traz essa capacidade devido a sua criação, já escrita em seu coração. De modo que todos nós corremos a nossa vida inteira, saibamos ou não, para amarmos e sermos amados. Ninguém pode fugir disso, faz parte de nós. Tudo o que fazemos em nossa vida faz parte desse desejo instintivo de realizarmos aquilo para o qual Deus nos criou: amar, ser felizes, adorá-Lo.

Por que sofremos tanto, então? Porque, muitas vezes, não conseguimos visualizar tudo isso que está em nós, e que, ao mesmo tempo, todas as nossas atitudes vão ao encontro de realizar todo este desejo do nosso coração. No entanto, por não reconhecermos que a sede da nossa alma está em Deus, vamos procurar realizar a nossa felicidade em outras coisas, pessoas, lugares… A nossa felicidade está em Deus e não há outro lugar em que podemos ser completos, senão n'Ele. É Ele e somente Ele que pode completar aquilo que falta em nossa alma, que pode saciar a nossa sede, que pode nos dar aquilo que, no mais íntimo do nosso ser, desejamos.

Que tipo de amor quero receber?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Criados para amar

Nesta sede de amar, de nos realizar, de sermos felizes, buscando a felicidade nas coisas e nas pessoas, ferimo-nos profundamente. Ao comprovar que nos decepcionamos, frustramo-nos, porque a sede da nossa alma é muito grande. Naturalmente, esperamos muito dos outros, esperamos uma reação de alguém, uma palavra amiga, um gesto de carinho, sua presença, afeto, amor. E quantas expectativas geramos em nosso interior ao perceber que estamos nos doando, muitas vezes, sem reservas para alguém em um relacionamento de amizade, namoro ou em outro relacionamento. À medida que vamos nos entregando a essa pessoa, vamos percebendo que, em algum momento, ela pode não nos corresponder o suficiente, de acordo com o que esperávamos e ansiávamos. Então, começa a surgir a frustração, a desilusão e a decepção.

Quem nunca se decepcionou com alguém? Penso que todos, em algum momento da vida, já passaram por isso. Logo depois, veio aquele sentimento de não mais querer investir em ninguém, de não mais se empenhar nisso. E, assim, muitas vezes, começam a surgir os votos íntimos: "Não vou gostar mais de ninguém" e "Não dou certo com ninguém!" ou "Nasci para viver sozinho"… Quantas coisas a gente vai decretando sobre nossa vida, mesmo sem perceber, frutos da desilusão. Fato este inevitável, pois nós somos humanos e, afinal, somente Deus nos completa naquilo que a nossa alma necessita.

A presença de Deus em nossa vida

O Senhor, a todo o momento, revela o Seu amor e presença por meio das pessoas. E buscar ter uma alma completa n'Ele impele que O busquemos nelas. E ao fazê-lo, muito mais do que o outro possa nos oferecer ou ser para nós, buscamos a presença de Deus nele, a fim de que nossa alma possa ser complementada. Dessa forma, paramos de buscar as pessoas simplesmente, mas sim, Deus nelas.

Pelo batismo no Espírito Santo, tornamo-nos templos vivos do Senhor. Ao entrarmos em uma capela para rezar ou adorar ao Senhor, não levamos nada dela, a não ser o brilho e a presença de Deus em nós, pelo contato com Jesus Eucarístico. Da mesma forma, ao entrarmos nas "capelas" particulares dos demais, não podemos querer levar ou exigir nada deles, vamos lá para "adorar" a presença de Deus neles.

Quando experimentamos que somente Deus é quem pode nos fazer felizes e que não nos decepciona jamais, é que podemos nos sentir livres para não esperar dos outros aquilo que somente o Senhor pode nos oferecer, mas que nos é revelado também por meio das pessoas.

Que o nosso coração possa, realmente, ser preenchido pela felicidade que Deus pode nos dar. Amemos o Senhor!

Enilson Martins Benício, missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/que-tipo-de-amor-quero-receber/

14 de junho de 2019

Transtorno de imagem: como lidar com essa síndrome

Um transtorno de imagem não aparece do dia para a noite e não vem por acaso. O autoconhecimento é uma das melhores ferramentas que você terá em mãos e que o auxiliará em inúmeras situações para o resto da sua vida. Entretanto, ele não aparece num passe de mágica. É preciso buscá-lo, construí-lo, ter coragem e persistência para adentrar alguns cantos escuros de si, colocar um pouco de iluminação e reconhecer que certos lugares precisam de faxina, de mudanças.

Quando a preocupação por um traço indesejado no próprio corpo passa a ser obsessiva, quando traz muita ansiedade e alguns comportamentos restritivos, podemos dizer que o transtorno está ali para apontar algo mais profundo.

Não é o nariz torto ou a assimetria do rosto que são problemas. A fixação por pequenas imperfeições pode esconder um perfil extremamente controlador e intolerante com as restrições da vida. Podemos dizer que, quando falta o controle interno, a pessoa tende a desenvolver um excesso de controle externo, com desejo de que todos satisfaçam seus anseios e atendam as suas expectativas, inclusive o próprio corpo.

Transtorno de imagem: como lidar com essa síndrome

Foto ilustrativa: Copyright: VladimirFLoyd

O que fazer diante do quadro de transtorno de imagem?

Diante desses quadros, é possível pensar algumas questões fundamentais: o que esses desejos de controle estão querendo me dizer? Para onde estão me apontado? O que de importante estou deixando de lado?

Por mais contraditório que possa parecer, um transtorno como esse pode ser recebido como um grande amigo, que chega aos poucos, muitas vezes, sem muito alarde, e tenta mostrar algo de errado que você não consegue enxergar. E esse algo, definitivamente, não tem nada a ver com a aparência. Quando nossa essência fica descuidada por muito tempo, uma doença como essa pode ser recebida como uma ajuda oportuna, para que algo seja modificado na sua postura em relação a si mesmo e aos outros.

Por isso, a questão do autoconhecimento é tão importante. Quando a pessoa sabe quem é verdadeiramente, quando assume seus traumas, reconcilia-se com sua história de vida e tem a coragem de mexer nos entulhos que ficaram escondidos em algum canto dentro de si mesma, tem a possibilidade de aceitar-se inteiramente, com suas falhas e virtudes, seus defeitos, limitações, potencialidades e qualidades.

Um incômodo no próprio corpo poderá trazer a possibilidade de maior aceitação de si e, consequentemente, maior tolerância com as imperfeições do outro. Se isso não é uma prática, poderá ser um comportamento adquirido com o tempo, pois temos capacidades de aprendizado e modificações que, às vezes, desconhecemos ou subestimamos.

Transtorno de imagem e as limitações no processo de cura

Diante de um quadro de Transtorno de Imagem, o primeiro passo é reconhecer uma limitação que está sendo vivenciada. Depois de reconhecer, procure acolher esse desconforto, essa realidade que se apresentou por algum motivo. Não é necessário culpa ou autocondenação de nenhuma ordem. Fique tranquilo, pois basta ser humano para ser passível de apresentar algum transtorno psíquico. E, acima de tudo, saiba que é possível superar e curar esse mal que o impede de ser mais pleno e livre.

Sugiro que faça o esforço de reconhecer as qualidades externas que possui, procurando traços no seu rosto que o agradam, vendo no seu corpo, no seu cabelo, pele, altura etc., pontos de beleza e delicadezas de Deus. Repare que existem detalhes extremamente funcionais no seu corpo, que revelam linhas de perfeição, mesmo sendo imperfeito.

Vá direto ao ponto e reconheça: não gosto da minha barriga, por exemplo. Se o externo o incomoda tanto, pense nos órgãos internos que ela abriga, lembre-se de que existe um estômago, um fígado, intestino, rins e outros órgãos funcionando em harmonia dentro dessa barriga que o desagrada. Se é o nariz que tira o seu sossego, procure reparar na importante função que ele exerce para a sobrevivência do seu corpo, filtrando parte do ar que entra, expelindo o ar que não lhe serve mais, sendo canal de passagem para o oxigênio que lhe é vital.

Percebe como é possível lançar novos olhares para figuras antigas? Esse pode ser o ponto de partida para uma mudança mais profunda na percepção das coisas ao seu redor. Ver a essência por detrás da aparência é um movimento que exige atitude e uma postura ativa diante da vida, mas que deixará rastros de liberdade e autenticidade em você.

Um proposta prática

O olhar obcecado por algum defeito acaba aprisionando o indivíduo em um círculo pessimista de pouca aceitação de si, rebaixamento da autoestima, autorrejeição e um olhar nebuloso sobre todos os outros aspectos da vida. As dicas propostas, neste artigo, são um convite para soprar nessas nuvens escuras e perceber que raios de luz podem adentrar num cenário escuro.


É uma proposta, um movimento apenas, de passos que podem até doer no início, porque promovem o desalojamento de um lugar conhecido. Costumo dizer que movimento gera movimento; assim, com um passo simples e pequeno dado na direção do novo, a cura pode ir se instalando na alma oprimida por motivos ocultos.

Não deixe de buscar ajuda se reconhecer que possui um transtorno de imagem. O isolamento poderá ser uma armadilha difícil de sair, pois limitará as suas opções de agir diante desse desafio.



Milena Carbonari

Palestrante em empresas, escolas e comunidades, a psicóloga Milena Carbonari é pós-graduanda em Educação e Terapia Sexual e terapeuta de EMDR (tratamento de traumas e fobias). Contato: psicologa@milenacarbonari.com. br

12 de junho de 2019

Que mal faz uma mentira?

Que mal faz uma mentira? "Foi por uma boa causa!" "Eu não tinha outra escolha." "Foi para proteger a pessoa." "Teria sido muito pior se tivesse contado a verdade."

Quantas desculpas são apresentadas para sustentar as pequenas mentiras do dia a dia! Diante de tantas justificativas, talvez nos convençamos de que, afinal, mentir não é algo tão grave assim. Não existem aqueles que "mentem e nem sentem"? Esse é o resultado de nos acostumarmos com as mentiras, esse "pecado de estimação". Mas se acreditarmos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, o que nos impedirá de agir conforme aquilo que dizemos acreditar?

Você já mentiu hoje? Seja honesto. Já passou alguma informação distorcida, exagerada ou enganosa pela internet ou no meio em que convive? Já assinou o ponto fora de hora? Quantas desculpas você já deu de atrasos e pequenas infrações? E quando a mentira tem a finalidade de evitar que alguém se decepcione ou fique magoado com você?

Que mal faz uma mentira?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Quando a mentira entra em nossa vida

Como a mentira entra em nossa vida? Como aprendemos a mentir? Algumas questões são úteis para você deixar, definitivamente, a mentira de lado. Na sua família, existe o hábito de justificar as coisas com pequenas mentiras? Quando alguém telefona para sua mãe e ela não quer atender, como você responde a quem ligou? O que você é orientada a falar? Pois é, são essas pequenas mentiras, muitas vezes aprendidas em família, na orientação dos pais para os filhos ou em seu modelo, que formam a base do hábito de mentir. Um hábito que os próprios pais estabelecem, mesmo não querendo.

Talvez, seja possível perceber, com um pouco de honestidade e ao avaliar as situações em que mentimos, que isso acontece por não sabermos como fazer o certo. Será que essa é uma desculpa para não nos empenharmos em melhorar? Se nos propusermos a ser melhores, o caminho será um só: aprender a falar sempre a verdade, por mais difícil que seja! Ouvi, certa vez, uma senhora dizer que "a verdade, quando dita com ternura, nunca prejudica ninguém".

Mentira, uma forma de encobrir os fracassos

A mentira serve para encobrir os fracassos que experimentamos quando erramos, quando optamos pelo "mal", quando justificamos nossas incoerências, quando não conseguimos fazer o bem que gostaríamos (Rm 7,19) nem conseguimos expressar, de forma clara, objetiva e direta o que sentimos, o que pensamos, o que esperamos, o que gostaríamos. Quantas vezes fugimos de situações constrangedoras, dizendo estar ocupados, cansados ou doentes? Quantas vezes foi necessário recorrer às mentiras para esconder nossa dificuldade em dizer 'não'?

Ser sincero parece ser mais difícil, porque nos expõe mais. Se você conhece a alegria de uma relação transparente, com certeza vai optar por assumir suas fraquezas e dificuldades. Mentiras "leves" ou "pesadas", não importa! Se você quer buscar a vida, é preciso buscar a verdade. Essa é a busca que nos abre as portas para descobrirmos o que há de melhor em nós, mas que, muitas vezes, desconhecemos: os dons que nos foram agraciados para, com eles, lidarmos com todas as dificuldades (ternura, paciência, brandura). Não podemos mais ser coniventes com a mentira.

Reconhecer-se mentiroso

O principal problema para o mentiroso é a recusa em reconhecer-se um mentiroso. Por isso, talvez seja o momento de rever as perguntas iniciais, identificar as mentiras na sua vida, as mentiras que você vive e conta para si mesmo, pensar nas causas e, principalmente, assumir sua responsabilidade por uma conversão, por uma mudança. Observe-se. Identifique as mentiras. Analise o motivo, a dificuldade em se comprometer com a verdade naquela situação. Proponha-se, então, a enfrentar essa dificuldade.

A alegria consiste em viver reconciliado com sua realidade, sem fugas, sem esquivas, sem desculpas, portanto, sem mentiras. Ser livre consiste em assumir as consequências dos nossos atos. Por pior que seja a realidade, as verdadeiras ervas daninhas são aquelas que você cultiva no seu coração quando foge de viver o que sua realidade lhe oferece.


Só para finalizar: aquela história de "no dia que ele mudar, eu mudo", muitas vezes, é um tipo de mentira também. Portanto, não olhe para o outro, mas para aquilo que hoje em você precisa encontrar a verdade.

Cláudia May Philippi – Psicóloga Clínica – CRP 2357/1
Kleuton Izidio Brandão e Silva – Psicólogo Clínico – CRP 6089/1


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/que-mal-faz-uma-mentira/