30 de março de 2016

O que viver na Páscoa?

Páscoa é a estação da primavera espiritual

Cristo ressuscitou! Aleluia! Por Sua Paixão e Morte, um novo tempo foi inaugurado na história da humanidade. As coisas antigas passaram e desabrochou, no alvorecer da vida, as alegrias que rompem as trevas da morte!

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O tempo litúrgico da Páscoa é a estação da primavera espiritual, e somos chamados a caminhar pelo jardim da Ressurreição, que é o próprio Cristo presente em nosso meio. Ao longo de cinquenta dias, vamos exalar o suave aroma dessa alegria em nossa alma. O canto de 'aleluia' presente em nossas liturgias, mas também aclamado em nosso coração, recorda-nos este tempo novo que Cristo nos oferece por amor e misericórdia.

O Círio Pascal é símbolo dessa presença do Ressuscitado na comunidade que se reúne para celebrar este tempo novo, onde cantamos as glórias do Senhor, que venceu a morte e nos deu a vida eterna.


É tempo de nos despedirmos do homem velho

"Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Cl 3,1). É chegado o momento de nos despedirmos do homem velho, pois Cristo rompeu as trevas do pecado e trouxe-nos a certeza definitiva da vida que vence a morte.

Neste tempo pascal, busquemos as "coisas do alto". Não nos conformemos com as realidades que oprimem a vida, mas transformemo-las por nosso exemplo e misericórdia. Em nossa comunidade, busquemos viver a paz do Cristo Ressuscitado nos pequenos gestos. Se for preciso, que silenciemos nossas palavras mediante uma crítica que pode ferir e causar constrangimento. Coloquemo-nos a serviço, não buscando elogios, mas fazendo de nosso ato voluntário uma oferta de gratidão a Cristo, por tanto amor a nós doado.

Busquemos as coisas do alto em nossos ambientes familiares, orando em meio às situações complexas e que não apresentam soluções imediatas. Levemos a paz do Ressuscitado como dom a ser ofertado em pequenos gestos que desabrocham como lírios perfumados na alma de quem os acolhe.

Com Cristo ressuscitado celebremos a Páscoa na vida cotidiana, antecipando a gloriosa realidade que vislumbramos, hoje, pela fé e, um dia, junto de Deus, na plenitude da graça que esperamos. Aleluia!

 


Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG).

Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: www.facebook.com/peflaviosobreiro


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/pascoa/o-que-viver-na-pascoa/

28 de março de 2016

Terço a São José

Aprenda a rezar o terço a São José

Nas contas grandes:

Meu glorioso São José, nas vossas maiores aflições e tribulações, não vos valeu o anjo do Senhor? Valei-me, São José!

Nas contas pequenas:

Valei-me, São José.

No fim, reze este oferecimento:

"A vós, glorioso São José, ofereço este terço em louvor e glória de Jesus e Maria, para que seja minha luz e guia, minha proteção e defesa, minha fortaleza e alegria em todos os meus trabalhos e tribulações, principalmente na hora da agonia.

Pelo nome de Jesus, pela glória de Maria, imploro o vosso poderoso patrocínio, para que me alcanceis a graça que tanto desejo. Falai em meu favor, advogai a minha causa no céu e na terra, alegrai a minha alma para honra de Jesus, de Maria e vossa. Amém."


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/terco-a-sao-jose/

23 de março de 2016

A espiritualidade da Quinta-feira Santa

A espiritualidade da Quinta-feira Santa é repleta de sentido

Neste dia, começa o Tríduo Pascal, a preparação para a grande celebração da Páscoa, a vitória de Jesus Cristo sobre a morte, o pecado, o sofrimento e o inferno.

Este é o dia em que a Igreja celebra a instituição dos grandes sacramentos da ordem e da Eucaristia. Jesus é o grande e eterno Sacerdote, mas quis precisar de ministros sagrados, retirados do meio do povo, para levar ao mundo a salvação que Ele conquistou com a Sua Morte e Ressurreição.

A espiritualidade da Sexta-feira Santa - 1600x1200

Jesus desejou ardentemente celebrar aquela hora: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer" (Lc 22,15).

Na celebração da Páscoa, após instituir o sacramento da Eucaristia, ele disse aos discípulos: "Fazei isto em memória de Mim". Com essas palavras, Ele instituiu o sacerdócio cristão: "Pegando o cálice, deu graças e disse: Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim." (cf. Lc 22,17-19)

Na noite em que foi traído, mais Ele nos amou, pois bebeu o cálice da Paixão até a última e amarga gota. São João disse que "antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou." (Jo 13,1)

Instituição do sacramento da confissão

Depois que Jesus passou por toda a terrível Paixão e Morte de Cruz, ninguém mais tem o direito de duvidar do amor de Deus por cada pessoa.

Aos mesmos discípulos ele vai dizer, depois, no Domingo da Ressurreição: "Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20,23). Estava, assim, instituída também a sagrada confissão, o sacramento da penitência; o perdão dos pecados dos homens que Ele tinha acabado de conquistar com o Seu Sangue.

Na noite da Ceia Pascal, o Senhor lavou os pés dos discípulos, fez esse gesto marcante, que era realizado pelos servos, para mostrar que, no Seu Reino, "o último será o primeiro", e que o cristão deve ter como meta servir e não ser servido. Quem não vive para servir não serve para viver; quem não vive para servir não é feliz, porque a autêntica felicidade o tempo não apaga, as crises não destroem e o vento não leva; ela nasce do serviço ao outro, desinteressadamente.

Nessa mesma noite, Jesus fez várias promessas importantíssimas à Igreja que instituiu sobre Pedro e os apóstolos. Prometeu-lhes o Espírito Santo, e a garantia de que ela seria guiada por Ele a "toda a verdade". Sem isso, a Igreja não poderia guardar intacto o "depósito da fé", que São Paulo chamou de "sã doutrina". Sem a assistência permanente do Espírito Santo, desde Pentecostes, ela não poderia ter chegado até hoje e não poderia cumprir sua missão de levar a salvação a todos os homens de todas as nações.

"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós." (Jo 14, 16-17).

Igreja, coluna e fundamento da verdade

Que promessa maravilhosa! O Espírito da Verdade permanecerá convosco e em vós. Como pode alguém ter a coragem de dizer que, um dia, a Igreja errou o caminho? Seria preciso que o Espírito da Verdade a tivesse abandonado.

"Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito." (Jo 14, 25-26)

Na Última Ceia, o Senhor deixou à Igreja essa grande promessa: O Espírito Santo "ensinar-vos-á todas as coisas". É por isso que São Paulo disse a Timóteo que "a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade" (1Tm 3, 15). Quem desafiar a verdade de doutrina e de fé, ensinada pela Igreja, vai escorregar pelas trevas do erro.

Na mesma Santa Ceia, o Senhor lhes diz: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade…" (Jo 16,12-13)


Jesus sabia que aqueles homens simples não tinham condições de compreender toda a teologia cristã; mas lhes assegura que o Paráclito lhes ensinaria tudo, ao longo do tempo, até os nossos dias de hoje. E o Sagrado Magistério dirigido pelo Papa continua assistido pelo Espírito de Jesus.

São essas promessas, feitas à Igreja na Santa Ceia, que dão a ela a estabilidade e a infalibilidade em matéria de fé e costumes. Portanto, não só o Senhor instituiu os sacramentos da Eucaristia e da ordem, na Santa Ceia, mas colocou as bases para a firmeza permanente da Sua Igreja. Assim, Ele concluiu a obra que o Pai Lhe confiou, antes de consumar Sua missão na cruz.




Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/a-espiritualidade-da-quinta-feira-santa/

21 de março de 2016

A política partidária no Brasil instalou o caos na sociedade

A política partidária no Brasil configura-se como um devastador desastre humano

"A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo…". Assim começa a narração do Livro do Gênesis, permitindo uma analogia com o atual momento político do Brasil. A política partidária instalou incontestavelmente o caos na sociedade. Está perdida a capacidade para o diálogo que gera consensos e entendimentos. Não paira, absolutamente, o Espírito de Deus no mundo da política. É uma escuridão que fomenta o caos – um "salve-se quem puder" que passa por cima do bem comum como um trator. Não há esperança de que a política partidária consiga, rapidamente, oferecer contribuições para os rumos da nação. A lista de desmandos, escolhas absurdas, interesseiras e manipulações é interminável. Comenta-se, em muitas esferas da sociedade, sobre a expectativa do surgimento de um líder político capaz de gerar agregação e apontar novas direções. Isso parece ser difícil de ocorrer, justamente pelo atual cenário vivido pela política partidária. Quem seria capaz, agora, de reverter essa difícil situação? O mundo da política partidária no Brasil configura-se como um devastador desastre humano à semelhança das incidências horrendas que ferem o meio ambiente.

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A deterioração da esfera política e o tratamento inadequado das questões ambientais se desenvolvem a partir da mesma raiz. Aqui vale relembrar as palavras do Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, quando se refere à nova idolatria do dinheiro. O caos vem dessa idolatria. É inexistente a nobreza de fazer política pelo bem comum, com o objetivo de ajudar a nação a alcançar patamares de civilidade e de funcionamentos que promovam, sem populismos, os seus cidadãos. A falta dessa nobreza é resultado de carência na formação humanística que ilumina intuições, capacita para o bem, muito acima do interesse de enriquecimentos ilícitos. O Papa Francisco afirma que "uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e nossas sociedades". Essa verdade explica os desajustes no tecido da cultura, que delineia a identidade da sociedade e influencia suas direções.

Onde está a base do caos instalado na sociedade?

O Papa Francisco oferece a chave de interpretação desse caos instalado que produz, por exemplo, a crise financeira que pesa sobre os ombros de todos. A base da desordem é a negação da primazia do ser humano. Esse colapso antropológico tem muitas feições. Descompassa relações, articulações de grupos e segmentos na sustentação de uma sociedade que deve se mover no horizonte da justiça e da solidariedade. É triste constatar o que ocorre na política partidária. O desejo de ocupar cargos públicos não vem acompanhado do sentido cidadão mais profundo de ajudar decisivamente na construção de uma sociedade solidária e justa. Trata-se de interesse doentio pelo dinheiro, para alimentar ilusórias sensações de poder e segurança. Uma ambição que produz essa economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano.

Ora, a idolatria do dinheiro é perigosa, gera ilusões e desgasta o mais nobre sentido da política, que é promover o bem comum. Essa idolatria é tão terrível que faz crescer, de modo generalizado, a sensação de que não há mais tempo para fazer o que é necessário. Isto fica explícito nas muitas lamentações e ladainhas exaustivamente propaladas. O interesse mesmo é ganhar sempre mais, produzir menos. Nada de sacrifícios e esforços para alcançar o bem de todos. Uma luz precisa brilhar para iluminar essas trevas. E de onde ela pode vir? Em primeiro lugar, da corresponsabilidade e seriedade cidadã de cada indivíduo. Sistemicamente, essa luz pode e precisa brilhar com o fortalecimento, em seriedade e audácia, dos diferentes segmentos da sociedade – empresarial, religioso, judiciário, acadêmico e intelectual, artístico e outros mais. Cada setor, pela seriedade e honestidade, tem o dever de dissipar as trevas que preenchem o abismo onde está inserida a sociedade brasileira. Que venha de todas as pessoas e grupos, pelo compromisso com o bem, a justiça e a verdade, essa a luz que tem a força para resgatar o país do caos.

 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).

http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/politica/a-politica-partidaria-no-brasil-instalou-o-caos-na-sociedade/

18 de março de 2016

As faces da escravidão ontem e hoje

Cada pessoa tem o direito de não ser mantida em estado de escravidão ou servidão

Desde tempos imemoriais, as diferentes sociedades humanas conhecem o fenômeno da sujeição do homem pelo homem. Houve períodos na história da humanidade em que a instituição da escravatura era geralmente admitida e regulamentada pelo direito. Esse estabelecia quem nascia livre e quem, pelo contrário, nascia escravo, bem como as condições em que a pessoa, nascida livre, podia perder a sua liberdade ou recuperá-la. Por outras palavras, o próprio direito admitia que algumas pessoas podiam ou deviam ser consideradas propriedade de outra pessoa, a qual podia dispor livremente delas; o escravo podia ser vendido e comprado, cedido e adquirido como se fosse uma mercadoria qualquer.

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Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Hoje, na sequência duma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravatura – delito de lesa humanidade– foi formalmente abolida no mundo. O direito de cada pessoa não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi reconhecido, no direito internacional, como norma inderrogável.

Apesar de a comunidade internacional ter adotado numerosos acordos para pôr termo à escravatura em todas as suas formas e ter lançado diversas estratégias para combater este fenômeno, ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura.

Escravos a nível formal e informal

Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos setores, formal e informal, desde o trabalho doméstico ao trabalho agrícola, da indústria manufatureira à mineração, tanto nos países onde a legislação do trabalho não está conforme as normas e padrões mínimos internacionais, como – ainda que ilegalmente – naqueles cuja legislação protege o trabalhador.

Penso também nas condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajeto dramático, padecem de fome, são privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente. Penso em tantos deles que, chegados ao destino depois duma viagem duríssima e dominada pelo medo e a insegurança, ficam detidos em condições às vezes desumanas. Penso em tantos deles que, por diversas circunstâncias sociais, políticas e econômicas, impelem a passar à clandestinidade, e naqueles que, para permanecer na legalidade, aceitam viver e trabalhar em condições indignas, especialmente quando as legislações nacionais criam ou permitem uma dependência estrutural do trabalhador migrante em relação ao dador de trabalho como, por exemplo, condicionando a legalidade da estadia ao contrato de trabalho. Sim! Penso no trabalho escravo.

 

Escravos sexuais

Penso nas pessoas obrigadas a prostituírem-se, entre as quais se contam muitos menores, e nas escravas e escravos sexuais; nas mulheres forçadas a casar-se, quer as que são vendidas para casamento, quer as que são deixadas em sucessão a um familiar por morte do marido, sem que tenham o direito de dar ou não o próprio consentimento.

Não posso deixar de pensar em quantos, menores e adultos, são objeto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos, para ser recrutados como soldados, para servir de pedintes, para atividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas de adoção internacional.

Penso, enfim, em todos aqueles que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, servindo a seus objetivos como combatentes ou, especialmente, no que diz respeito às meninas e mulheres, como escravas sexuais. Muitos deles desaparecem, alguns são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou mortos.

Medidas de combate à escravidão

Quando se observa o fenômeno do comércio de pessoas, do tráfico ilegal de migrantes e de outras faces conhecidas e desconhecidas da escravidão, fica-se frequentemente com a impressão de que o mesmo tem lugar no meio da indiferença geral.

Os Estados deveriam vigiar, porque as respectivas legislações nacionais sobre as migrações, o trabalho, as adoções, a transferência das empresas e a comercialização de produtos feitos por meio da exploração do trabalho sejam efetivamente respeitadoras da dignidade da pessoa.

As organizações intergovernamentais são chamadas, no respeito pelo princípio da
subsidiariedade, a implementar iniciativas coordenadas para combater as redes transnacionais do crime organizado que gerem o mercado de pessoas humanas e o tráfico ilegal dos migrantes.

 

Referência:

1 – Cf. Discurso à Delegação internacional da Associação de Direito Penal (23 de Outubro de 2014): L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 30/X/2014), 9.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/as-faces-da-escravidao-ontem-e-hoje/

16 de março de 2016

Demônio e exorcismo em sete questões

Demônio e exorcismo discutidos em sete questões

1 – Os demônios existem?

Sim, existem. "A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos é uma verdade de fé"¹. Alguns desses anjos, criados bons por Deus, liderados por satanás, também chamado diabo, "tornaram-se maus por sua própria iniciativa"², portanto, deve-se afirmar que, "de fato, o diabo e os outros demônios foram por Deus criados naturalmente bons, mas eles, por si próprios, se fizeram maus"³.

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Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

2 – Satanás pode causar todos os males que quer?

Não. "O pode de satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito"4, isto é, um anjo que, tal como todos os anjos, "superam a perfeição todas as criaturas visíveis"5.

3 – O cristão pode praticar yoga?

Não. O conjunto de crenças do yoga é indissociável do hinduísmo. O yoga, que significa literalmente "união", pretende levar o homem à união com a divindade impessoal (iluminação), por meio de determinados ritos e invocações (entoação de mantras), aos quais vem atribuída uma eficácia "espiritual". Não se trata apenas de determinadas técnicas de relaxamento, como pensam muitos; são, na realidade, gestos carregados de significados espirituais, que afastam as pessoas da verdade e da graça que Jesus6 nos trouxe e abrem o coração à ação diabólica, como se pode constatar em tantos casos de exorcismo.


4 – O demônio é o instigador de todos os nossos pecados e a causa de todos os males?

Não. Como ensina Jesus, na parábola do semeador, às vezes somos levados a pecar movidos pelas seduções do mundo ou pelas nossas próprias más inclinações. "Não se deve acusar o diabo em todas as coisas que acontecem; de fato, às vezes, o próprio homem faz-se diabo para si mesmo"7.

5 – Um cristão pode ouvir qualquer tipo de música?

Não. Atualmente, cada vez mais músicas têm letras ou melodias que incitam ao pecado de várias maneiras. Tais músicas são inaceitáveis para quem ama e segue Jesus Cristo. Infelizmente, são cada vez mais numerosos os cantores que confessam publicamente terem feito um pacto com o demônio, e que, durante seus espetáculos, tributam-lhe culto explícito.

6 – Que tipo de capacidade têm os anjos e demônios?

Eles têm certo domínio sobre as realidades materiais; por exemplo: podem mover objetos8 e atuar sobre nossos sentidos externos ou internos9.

7 – Os fiéis podem rezar o pequeno exorcismo do Papa Leão XII?

"Não é lícito aos fiéis cristãos utilizar a fórmula de exorcismo contra satanás e os anjos apóstatas, contida no Rito que foi publicado por ordem do Sumo Pontífice Leão XIII; muito menos lhes é lícito aplicar o texto inteiro deste exorcismo"10. Os fiéis batizados, embora tenham pelo batismo a capacidade de exorcizar os demônios, tal como acontecia nos primeiros séculos da vida da Igreja, atualmente estão proibidos de o fazer, pois trata-se de um ministério delicado, que requer uma especial ciência, prudência e experiência, razão pela qual, atualmente, está reservado aos bispos ou aos presbíteros por estes nomeados.


Trecho extraído do Livro de padre Duarte Lara: "Demônio, exorcismo e oração de libertação em 40 questões".


Referências:

1- Catecismo da Igreja Católica, n. 328.
2 – Ibidem 391.
3 – Concílio de Latrão IV, cap. 1, De fife catholica: DH 800.
4 – Catecismo da Igreja Católica, n. 395.
5 – Ibidem, n. 329
6 – Carta aos Bispos da Igreja Católica acerca de alguns aspectos da meditação cristã.
7 – Agostinho de Hipona (santo), Serm. 163/B, 5.
8 – Suma Teológica de São Tomás de Aquino
9 – Ibidem 111.
10 – Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução sobre o exorcismo, 24.09.1985.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/demonio-e-exorcismo-em-sete-questoes/

14 de março de 2016

O tribunal da misericórdia

No tribunal da misericórdia a sentença é sempre o perdão

Regras bem definidas conduziam o julgamento de pessoas acusadas de crimes considerados de extrema gravidade. É o caso da mulher apanhada em adultério (Jo 8, 1-11). A cena se abre numa área aberta do templo, a turba se reúne e quer ver sangue, quem sabe a projetar seus próprios traumas ou até culpas escondidas. São autoridades abalizadas a conduzir a pecadora pública e Jesus está presente, após a festa das tendas (Cf. Jo 7, 1-52). É bom saber que o pano de fundo é um outro julgamento em curso, no qual o alvo é o próprio Jesus. Qualquer gesto ou palavra será usado contra ele. Sabemos que algum tempo depois, do alto da cátedra da Cruz, ele mesmo se torna o juiz da história.
Por enquanto, acompanhemos a cena do julgamento da mulher adúltera. Trata-se de assunto ligado à família e alçado às relações sociais e à religião, pois a Escritura contém normas e leis que regulam toda a convivência humana (Cf. Dt 22.22; Dt 31.10; Lv 15.16,19; 18.6, 22,23; Js 8.35). O adultério é considerado crime hediondo e a mulher é a parte mais fustigada em tais situações. Armou-se o tribunal.

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As normas eram claras e a mulher fora "apanhada em adultério". Nem sabemos por onde estaria andando a outra parte envolvida no crime! Juízes são os mestres da lei e outras pessoas revestidas de autoridade. Dá para ver que as provas, ainda que contundentes, foram interesseiramente recolhidas. Chama-se em causa o próprio Moisés, cujo nome remete à lei. Sabemos que muitos acréscimos foram feitos e seu nome era aposto como assinatura a tantas práticas que beiravam o absurdo. Questões de decadência na prática jurídica, espertezas de tantos que, desde aquele tempo, sabem manipular as normas escritas ou orais!

Todos somos apresentados no tribunal aberto em praça pública na história do mundo

Do ponto de vista das práticas correntes, tudo perfeito e preparado para uma provocação àquele que entrava na história sem nela estar envolvido, justamente quem se apresentava como enviado de Deus, para escândalo de muita gente. Cumprir a lei ou saltar uma de suas normas mais claras? O impasse está criado e o tribunal deve decidir depressa! Como resolver a questão? Aqui o protagonismo de Jesus se manifesta, sorrateiramente aos olhos de alguns! Escrever no chão, nem sabemos que frases ou palavras, a única vez em que os evangelhos no-lo apresentam em tal atividade, até porque ele é "a" Palavra feita Carne e não "palavra escrita". Escreveu sobre a areia e logo tudo foi apagado.

Chega o momento da contraprova! Depressa, cumpra-se a lei, mas "quem entre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra"! Sabedoria daquele que é mais sábio do que Salomão! (Cf. Mt 12, 38-42) Um a um, todos se retiram, a começar pelos mais velhos! A sessão do tribunal foi interrompida, sem que o juiz tivesse que bater o martelo! O novo juiz está sozinho, diante da mulher: "Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais!"

Um salto no tempo! Todos nós, muito ou pouco, somos apresentados diante do tribunal aberto em praça pública na história do mundo. Faz-se necessário, por honestidade de princípio, que saibamos ser pecadores da lista que quisermos fazer dos pecados de todas as gerações. "Eu sou o primeiro pecador" é a confissão honesta de cada pessoa em tempo de Quaresma. É a declaração do Apóstolo: "É digna de fé e de ser acolhida por todos esta palavra: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. Mas alcancei misericórdia, para que em mim, o primeiro dos pecadores, Jesus Cristo mostrasse toda a sua paciência, fazendo de mim um exemplo para todos os que crerão nele, em vista da vida eterna" (1 Tm 1, 15-16).

No tribunal, calem-se todas as vozes acusatórias e resplandeça o silêncio dos olhares agora transfigurados em misericórdia! Esta é a grande virada do jogo da vida. Ninguém se arvore em presunção de inocência, todos tenham coragem de bater no peito e se reconheçam pecadores, frágeis, mas… amados! Este é o segredo! Ao pecador chegue o olhar daquele cujos dedos só escrevem pecados na areia, mas gravam na rocha de seu amor infinito a gratuidade do perdão e da acolhida benevolente.

É preciso apresentar a lista das misérias para serem queimadas no tribunal da misericórdia

Venham para a praça da vida todas as pessoas machucadas pela sua própria história, ou tantas outras acusadas de crimes de toda espécie para chegar até os pecadilhos escondidos! Comecem o exame de consciência olhando para a luz de Deus e não apenas para o espelho, pois este pode estar turvo de complexos e traumas acumulados com o tempo. Tragam todos a lista de suas misérias, deixando que sejam queimadas na fornalha do amor misericordioso, no júbilo do Ano Santo.

Só existe uma condição indispensável, a sinceridade e a honestidade diante de Deus. Abatam-se as barreiras da vaidade, da dissimulação e do orgulho. Desmontem-se todas as pretensões de inocência ou as muitas justificativas dos erros cometidos, pois é o tempo da verdade que liberta (Cf. Jo 8, 32).

Este é o caminho da reconciliação com Deus e a Igreja. Existe uma oferta de amor, disponível para todos. É Sacramento da Penitência. Alguns gostam de chamá-lo Tribunal da Penitência, mas a sentença é sempre o perdão. Estão abertas suas portas em nossas igrejas! Para testemunhar seu valor, em dias recentes foi estampada mais uma vez a imagem do Papa Francisco diante de um confessor na Basílica de São Pedro. O sucessor de Pedro, que repetidas vezes se declara pecador e carente da misericórdia de Deus, como todos nós, puxou a fila dos penitentes, certamente acompanhado de uma multidão interminável que, aqui e em outras paragens, começa a sair dos intrincados novelos do pecado para abrir-se à graça, ouvindo com alegria: "Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais" (Jo 8, 11).


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/ano-da-misericordia/o-tribunal-da-misericordia/