11 de abril de 2025

Desmistificando a bipolaridade

Bipolaridade: sintomas, diagnóstico e a importância do apoio

Para além dos estereótipos: entendendo a complexidade do transtorno

A bipolaridade é um assunto sério, um transtorno que apresenta alto risco de suicídio. Para se ter uma ideia, na depressão unipolar grave, a taxa é de 20%. Já na bipolaridade, esse número sobe para 40% a 50%. Além disso, 4,2 milhões de brasileiros sofrem desse transtorno, incluindo muitos jovens.

Para compreender a profundidade e a complexidade dessa condição, convido você a deixar de lado preconceitos e estereótipos. Comentários como "essa mulher irritada só pode ser bipolar!" ou "esse adolescente nervoso, com certeza, é bipolar!" são inadequados. Talvez a pessoa tenha o transtorno e precise de acolhimento, mas também pode estar enfrentando dificuldades específicas, como problemas conjugais ou os desafios da adolescência.

Identificando os sintomas: um guia prático

Como identificar os sintomas? Primeiro, é essencial entender que a bipolaridade não é uma questão de comportamento ou moda; é uma condição hereditária, transmitida ao longo das gerações. Alguém pode pensar: "Minha mãe não era bipolar, mas eu sou". No entanto, talvez ela nunca tenha sido diagnosticada corretamente e tenha sido considerada apenas depressiva. Quantas vezes ouvimos que alguém "sofreu de depressão a vida inteira"? Será que era realmente depressão ou um diagnóstico equivocado?

A oscilação de humor: muito além da irritação

Um sintoma comum é a oscilação de humor, mas não se trata de simples irritação passageira. Durante a fase de mania, o cérebro fica hiperativado, levando a noites sem sono, fala acelerada e pensamentos incessantes. A pessoa pode estar eufórica um dia e, no seguinte, não conseguir sair da cama. Essa mudança brusca é um dos sinais mais marcantes.

Starry Night
Crédito: Pintura de Vincent Van Gogh/ Domínio Público

Compulsões e seus perigos

Compulsões também são frequentes. Não falamos de pequenas compras impulsivas, mas de gastos descontrolados que levam a dívidas graves. Pessoas em fase maníaca podem perder tudo. O alcoolismo é outro fator relevante, pois muitos alcoólatras podem estar mascarando um transtorno bipolar. Há também compulsões por jogos, pornografia e drogas.

A hipersexualidade é um sintoma pouco discutido. Algumas pessoas desenvolvem um comportamento sexual impulsivo, chegando à promiscuidade. Isso pode ser um sinal do transtorno e merece atenção.

Diagnóstico: a busca pela precisão

Nem todas as pessoas com o transtorno apresentam todos os sintomas. Lembro de uma paciente diagnosticada com depressão severa, sem resposta a antidepressivos. Após tratamento terapêutico, seus pensamentos melhoraram, mas seu corpo continuava apático. Encaminhei-a a um psiquiatra, que retirou os antidepressivos e introduziu estabilizadores de humor. Em sete dias, ela apresentou uma melhora impressionante.

Conversei com o médico sobre o caso, pois ela nunca havia tido episódios maníacos. Ele explicou que algumas pessoas, inicialmente diagnosticadas com depressão, respondem melhor a estabilizadores de humor. Isso reforça a necessidade de diagnósticos mais precisos.


Nem todos os sintomas se manifestam em todos os casos

A bipolaridade, muitas vezes, passa despercebida, sendo confundida com depressão. Em uma anamnese, um médico investigou o histórico familiar de uma paciente e identificou tentativas de suicídio na família. Durante a conversa, ela mencionou que um irmão "ficou estranho" por alguns dias, o que pode ter sido um episódio bipolar não diagnosticado. Após iniciar o tratamento adequado, a paciente melhorou rapidamente.

Esse é um tema amplo; a conscientização e o conhecimento são as melhores ferramentas para oferecer apoio a quem precisa.

ADRIANA POTEXKI, nascida em Curitiba (PR), filha de pais cristãos e família com várias vocações religiosas, sempre vinculada a pastorais na igreja e, desde jovem, membro do Movimento dos Focolares. Mãe do Lucas Miguel, adolescente de 14 anos que adora aventura e é DJ católico. Com formação em Psicologia, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é terapeuta certificada pelo EMDR Institute e Brainspotting. Participou de diversos programas de TV e rádio, inclusive como apresentadora do programa "Psicologia e Arte" e "Psicologia e Espiritualidade". Autora do livro "Cura dos Sentimentos – em mim e no mundo", (Editora Paulinas), "A cura dos Sentimentos nos Pequeninos – Papai e Mamãe brigaram" e "Vencendo os traumas que nos prendem – descubra os primeiros passos para recomeçar" (Editora Canção Nova). É palestrante internacional, psicóloga clínica e colunista do Formação Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/bipolaridade-sintomas-diagnostico-e-acolhimento/

10 de abril de 2025

Adoração que cura: quando olhar para Cristo é o caminho

Olhar para Cristo é buscá-Lo nos sacramentos da Igreja, é adorá-Lo no Santíssimo Sacramento, é buscá-Lo na Palavra

"Quando viu Pedro e João entrarem no templo, o homem pediu uma esmola. Pedro, com João, olhou bem para ele e disse: 'Olha para nós!' O homem ficou olhando para eles esperando receber alguma coisa. Pedro então disse: 'Não tenho ouro nem prata, mas o que eu tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!' E tomando-o pela mão direita, Pedro o levantou" (At 3,3-7).

Ao olhar para o coxo, Pedro lhe diz: "Olha para nós!". O Senhor está olhando para cada um de nós e nos dizendo: "Olhe para mim!".

Créditos: cancaonova.com

Precisamos saber aonde ir

Para nos levantarmos, precisamos estar com os olhos fixos no Senhor. Ninguém consegue subir na vida se não tiver uma meta, um objetivo bem delineado. Se não soubermos para onde ir, não chegaremos a lugar nenhum. Se não olharmos fixamente para Jesus e enxergarmos um Deus compassivo, amoroso, poderoso, que está ao nosso lado, não conseguiremos nos erguer diante das quedas.

As pessoas permanecem caídas, porque ficam olhando para o chão, para os seus problemas, para os "arranhões", para seu próprio umbigo. Quando não temos a capacidade de mudar o foco da nossa vida, não conseguimos transformá-la.

Vários jovens me procuram para ajudá-los em algumas situações pelas quais estão passando. Certa vez, uma garota trouxe-me o caso do rompimento do seu namoro, que a machucou muito. Ela não soube reagir diante dessa perda, não conseguia se alimentar, entrou em depressão, perdeu peso, continuou ligando pra ele, enviando e-mail etc., ou seja, ela ainda não se desvinculara da situação, e por não conseguir se desprender, não conseguiu a cura e continuou prostrada no chão.

O que poderia dizer para essa jovem e para tantos outros que vivem situações semelhantes? "Você precisa mudar o foco da sua vida. Afaste-se de tudo o que lembra o seu namoro, ponha, diante dos seus olhos, outras atividades".

Mudar o foco

Não podemos ficar olhando o erro cometido e chorando por ele, pois isso não vai adiantar nada. O pecado que você cometeu deve ser superado, você não pode mais ficar remoendo o erro, curtindo a dor e a infelicidade, pois "a tristeza mata muitos e não traz proveito algum" (Eclo 30,25). É preciso mudar o foco, olhar em outra direção.

Caso você esteja vivendo em um "beco sem saída", no qual, mesmo olhando para frente, para trás, para os lados, nada consegue enxergar. Hoje, você é convidado a olhar para cima. Quando Pedro disse "olhe para nós", ele quis dizer para aquele coxo: "olhe para o alto, para cima, para o Céu, para o lugar de onde vem o socorro". "Levanto os olhos para os montes: de onde me virá auxílio? Meu auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra" (Sl 121,1-2).

Depois de nos tentar e de nos fazer cair no pecado, o demônio tem o prazer de nos acusar e de nos fazer remoer o nosso erro. Ele quer que fiquemos como os porcos, que vivem olhando para baixo, lambuzados na lama. Basta! Hoje, é o dia em que ouvimos o convite ou mesmo a ordem do próprio Jesus: "Olhe para mim!".


Fixar o olhar no Senhor

Acredite, meu irmão, você que está caído, que se sente fraco, olhe para Jesus. Quantas vezes, durante minha caminhada, quando me senti pequeno, fraco, medíocre, com vontade de desistir, de "chutar o pau da barraca", fui até a capela e, ali, fiquei olhando para o Senhor dizendo: "Ajuda-me! Ajuda-me!". Esse é o momento de olhar para o alto, de fixar o olhar no Senhor.

Se não tivermos a capacidade de olhar para o nosso Deus, não conseguiremos nos levantar de verdade. Olhar para Jesus é reconhecer que Ele é o nosso sustento, nossa fortaleza, nosso Deus e Senhor. Olhar para Cristo é buscá-Lo nos sacramentos da Igreja, é adorá-Lo no Santíssimo Sacramento, é buscá-Lo na Palavra. Essas são as formas de olhar para o Senhor nos dias de hoje.

O Senhor nos diz: "Olhe para mim". Pedro diz: "Olha para nós!". Olhe para a Igreja, para os seus irmãos, para a comunidade cristã. Você não está só! E não pode viver o levantar-se sozinho. É preciso olhar ao seu redor e enxergar e discernir os verdadeiros irmãos em Cristo, amigos pela fé que o ajudarão a se levantar.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/olhar-para-cristo-para-se-levantar/

9 de abril de 2025

Qual o sentido do sofrimento em minha vida?

Fortes nas tribulações

São Mateus 16,24

"Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me."

O sofrimento é o meio eficaz que Deus me dá para que eu possa ser forjado na graça para uma vida de santidade. As tribulações são realidades que, embora aparentem ser uma realidade ruim ao olhar meramente humano, no âmbito espiritual é a realidade que Deus se utiliza como instrumento eficaz que me faz ser melhor, que me santifica. Quando não sou compreendido, quando sou humilhado, quando sou colocado em circunstâncias de indiferentismo, estes são também meios que estão me forjando, e que preciso aceitar de bom grado.

Eclesiástico 2,1-5;8

"Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; [2]humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, [3]sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que, no derradeiro momento, tua vida se enriqueça. [4]Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. [5]Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação. [8]Vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa."

Essa palavra de Eclesiástico aponta exatamente o que ocorre a alguém que está sendo introduzido na olaria de Deus. Nessa olaria, se o barro ainda está fora do ponto para moldar a peça no torno, o Oleiro vai amassar aquele barro, lançar água e bater com o malho até conseguir achar o ponto certo para que aquele barro seja modelado de acordo com o que o oleiro deseja criar. Assim também eu sou, como esse barro nas mãos de Deus: se ele vê que preciso ser "malhado" para ganhar a forma que Ele quer me dar, eu preciso aceitar de bom grado. Carregar a cruz renunciando a si mesmo é saber que vou perder o prestígio, vou perder talvez boa fama, vou ser injustiçado, vou ser difamado, incompreendido e vilipendiado.

Crédito: Tobias_K / GettyImages

São Lucas 22,42

"[42]Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua. Ele, como Filho de Deus, fez esse processo a ponto de suar sangue. Antes de carregar a sua cruz para nos salvar e abrir o paraíso para nós, Ele sofreu, e por esse sofrimento e angústia, fez d'Ele como grão de trigo amassado, ou azeitona esmagada e espremida para extrair o seu óleo.

Para Jesus suportar a dor e o sofrimento, seja ele moral ou na carne em seu físico, Ele passou pelo processo da renúncia de si mesmo.

Hebreus 5,7-8

[7]Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. [8]Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.

Por isso, sem renúncia não há obediência, não haverá sacrifício, não há cruz; e por assim ser, não haverá ressurreição.

Filipenses 1,28-29

"[29]porque a vós vos é dado não somente crer em Cristo, mas ainda por ele sofrer." Tenho que ter em mim essa certeza: não basta apenas crer em Jesus, mas devo, através dessa fé, caminhar neste mundo como ele caminhou (cf. 1 Jo 2,6), aprender que o sofrimento vai gerar vida, vai gerar santidade, vai gerar conversão em mim. Pois não é um sofrimento sem sentido, é um sofrimento que tem foco, que tem horizonte. Portanto, devo, de bom grado, renunciando a mim mesmo, tomar a minha cruz de cada dia e segui-Lo aonde Ele me levar.

 Confiar em Deus

A tribulação, as perseguições, as incompreensões, as indiferenças, as injustiças, os maus tratos e toda realidade que eu possa vir a sofrer são realidades que me darão mais lastro, mais consistência, mais constância , mais esperança, pois é no sofrimento que o ser humano cresce e encontra o sentido do para que ele é.

Senhor, ajuda-me a entender, de maneira madura, essa realidade da lógica do sofrimento, não segundo o olhar humano, mas diante da Tua graça e misericórdia para comigo.

Que eu não fuja da minha cruz por não ser capaz de renunciar a mim mesmo, mas, ao contrário, que eu aceite de bom grado tudo o que me acontecer, na certeza de que, mesmo sendo esmagado como uva no lagar, azeitona na prensa ou grão de trigo no pilão; eu saberei que o Senhor estará tirando para a minha salvação, o vinho, o azeite e a farinha para o pão…


Que eu possa saber olhar nesta ótica sempre e, por assim ser, renunciar a mim mesmo para viver para o Senhor na alegria de que, se estou nesta dinâmica, significa que estou sendo moldado por Ti em seu torno, para a minha santificação.

Ajuda-me a ser, pelo sofrimento, uma pessoa capaz de suportar as contrariedades com respostas de amor, conforme ordena o Senhor em seu Evangelho.

Amém!

Paulo César 
Missionário Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/sofrimento-caminho-de-santidade/

O sentido da oração cristã: louvor, gratidão e conversão

O que é a oração?

São Tomás de Aquino, utilizando São João Damasceno, responde com perfeição: "É a elevação da mente a Deus para louvá-Lo e pedir-Lhe coisas convenientes à eterna salvação". 

Veja a importância dessa definição: não se trata de pedir bens temporais apenas ou curas, milagres, solução de problemas e de sofrimentos, mas, antes, elevar a mente a Deus para louvá-Lo. Quando estamos afastados do pecado, precisamos ter um submisso agradecimento a Deus pelas coisas que Ele nos dá, mesmo que, em meio a isso, esteja algo de que não gostamos, pois tudo serve para a nossa conversão.

Créditos cancaonova.com

Ao nos dirigirmos a Deus, precisamos pedir tão somente aquilo que convém à nossa salvação. Se algum bem temporal pode nos conduzir ao apego, à distração das coisas de Deus, o melhor é não pedir. Pense: Deus vai nos dar aquilo que vai nos afastar d'Ele? Como importa, portanto, pedir somente aquilo que pode nos conduzir à salvação!

Quando sabemos orar, construímos uma vida de oração que nos aproxima de Deus

Agora, mesmo estando em pecado, convém nos aproximarmos de Deus, especialmente para Lhe pedir ajuda para ter uma vida mais próxima d'Ele!

Existe um livro que se chama "Teologia da Pefección Cristiana", de um padre dominicano chamado Fr. Antonio Royo Marin. Na última parte desse livro, há um tratado sobre a oração que se chama "Os Nove Graus da Oração". Temos, ali, a explicação do passo a passo de como construir uma vida de oração e como progredir nela.

No primeiro grau de oração, temos a oração vocal. É o primeiro grau, o mais simples, acessível a todo cristão. Nela, estão as orações da Igreja, assim como a Santa Missa, a recitação do Santo Terço e as jaculatórias. Na oração vocal, também estão as orações espontâneas, quando falamos a Deus como falamos a qualquer pessoa, partilhando nossas alegrias, tristezas, dificuldades e batalhas. 

Quem está no primeiro grau de oração tem a sensação de que, se não falar nada, não há oração. Não cabe ainda ao entendimento dessa pessoa que a oração se passa também na mente, enquanto meditamos na vida de Jesus, nas coisas que Ele fez ou em alguma verdade de fé que a nossa Santa Igreja Católica nos ensina.


 Deus não está longe

Pensemos que Ele está o tempo todo conosco. Mesmo que estejamos cheios de pecado, Ele permanece conosco, sustentando-nos na existência. Portanto, comecemos exercitando a oração vocal, conversando com Deus, partilhando o que se passa no nosso coração, no nosso dia a dia. Não fiquemos quietos como quem diz: "Ele já sabe de tudo". Não! Ele quer que paremos, que nos concentremos n'Ele, que falemos, de todo coração, aquilo que está guardado, das coisas que não temos coragem de falar para mais ninguém. Façamos isso, mesmo nos sentindo indignos de olhar para o céu. Foi pensando em nós que Cristo deu Sua vida. É com cada um de nós que Ele quer se relacionar. 

Sim, nós precisamos ter um relacionamento com Deus. Além da Santa Missa, separemos um tempo para irmos à capela. Ao entrar, devemos nos ajoelhar, cumprimentá-Lo e, se pudermos, nos ajoelhar em algum local ou sentado, falemos com Ele sobre nossas alegrias, dificuldades, desejos, medos e vitórias.

Certamente, Ele vai se mostrar a nós, vai mostrar o quanto nos ama. Quem sabe surge a coragem e a decisão de procurar ajuda para largarmos as coisas que ofendem Deus de alguma forma. É muito melhor o arrependimento, a confissão e a permanência longe dos pecados. Nesse caso, começaremos um caminho de aproximação com Deus. Isso nos garantirá permanecer o tempo todo sob o cuidado divino.

Senhor, aumenta nossa fé

É também extremamente importante para aquele que quer falar com Deus, pedir o aumento da fé. Peçamos com fé o aumento da fé! Parece até uma contradição, porque, como vou pedir com fé para ter fé? Acontece que Deus dá o mínimo para todo ser humano crescer espiritualmente, até mesmo uma pequenina fé. Quando pedimos o aumento da fé, Deus não pode se recusar a nos dá-la. É o melhor e mais verdadeiro pedido de socorro e ajuda. Mesmo para o maior dos pecadores, se este pedir, com sinceridade, o aumento da , todos os dias, em algum tempo, será possível experimentar que a coragem de ficar longe do pecado vai aumentando, a disposição de lutar também; e logo será possível, com a ajuda da graça, com os ensinos da Igreja, dos escritos dos santos e de um desenvolvimento da oração, largar o pecado de vez!

Viu como é fácil? Quer começar a ter vida de oração? Peça a Deus todos os dias, várias vezes ao dia, o aumento da fé! Fale com Ele como um amigo.

Procure conhecer Jesus pelas Sagradas Escrituras, vá à Santa Missa, procure ler sobre a vida dos santos, sobre a doutrina cristã. São pequenos passos que, pouco a pouco, vão nos conduzindo a uma vida de fé mais profunda.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/como-construir-uma-vida-de-oracao/

8 de abril de 2025

Bullying e violência escolar: uma perspectiva católica

Combate ao bullying

Sete de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Esse tema é relevante a todos, mas, em especial, aos pais, professores e gestores escolares. É imprescindível que os formadores de crianças e adolescentes compreendam o seu importantíssimo papel na missão de erradicar o bullying e a violência nas escolas.

Créditos: cancaonova.com

Entende-se bullying como "intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. Inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos entre outros. Torna-se algo rotineiro, em que um jovem ou grupo começa a perseguir um ou mais colegas".

Ainda é relevante destacar que o bullying e a violência causam significativos impactos na vida escolar e pessoal de um aluno, desde o baixo rendimento acadêmico até graves problemas psicológicos. Essas consequências podem perdurar ao longo da vida, chegando até mesmo à fase adulta.

Diante disso, você como pai, mãe, professor, gestor escolar, o que poderá fazer para que seus filhos e alunos não se tornem agressores nem mesmo vítimas de bullying e violência escolar?

Faz parte de sua missão a formação integral da criança e do adolescente. Ou seja, formá-los nos aspectos físico, acadêmico, humano e espiritual. Sim, sem o aspecto espiritual, é inexistente a formação integral, pois somos corpo e alma, não sendo possível a separação. E qual a importância da formação espiritual para o combate ao bullying e a violência escolar?

Educar na fé

A importância se dá, pois, ao formar filhos e alunos na perspectiva de que nascemos para ser santos e um dia chegarmos ao céu, não existirá outro caminho para atingir esse objetivo a não ser o desenvolvimento das virtudes. Ou seja, a formação humana e espiritual fará toda a diferença para que, intencionalmente, as crianças e adolescentes não sejam agressores nem vítimas de bullying.

Mais do que projetos isolados de combate ao bullying e à violência, as escolas precisam se preparar para um currículo que contenha, em sua essência, a formação de alunos virtuosos. Bem como as famílias, precisam ter claramente a visão de que, muito mais do que uma boa casa, presentes etc., é preciso gastar tempo com seus filhos, em prol de uma eficaz formação humana e espiritual.

O Catecismo da Igreja Católica (n. 1804) diz que "as virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade… as virtudes regulam nossos atos, ordenando nossas paixões, guiando-nos segundo a razão e a fé".


Filhos e alunos virtuosos

Ou seja, as virtudes humanas são adquiridas com esforço constante, pois, devido ao pecado original, não temos todas as virtudes como tendências espontâneas ou instintivas. É possível então compreender que as virtudes forjam o caráter de um indivíduo, fazendo com que suas atitudes sejam coerentes com uma pessoa que deseja, antes de tudo, agradar a Deus.

Sendo assim, pode-se esperar que o trabalho de formar filhos e alunos virtuosos seja árduo, mas que os frutos de os ver respeitosos, generosos, mansos, trará a certeza de que a missão da verdadeira formação integral está sendo cumprida com a graça de Deus e seu esforço humano.

Finalizo, então, com o convite: pais e profissionais escolares, não negligenciem essa missão confiada por Deus, estudem e planejem com intencionalidade como será o processo de formação humana e espiritual de seus filhos e alunos.

Deus os abençoe e lhes dê a graça de serem formadores de muitas almas para o céu!

Bárbara Sparapan
Casada, Missionária do 2º Elo da Comunidade Canção Nova e Psicopedagoga.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/juntos-contra-o-bullying-7-de-abril-e-dia-de-promover-respeito-e-seguranca-nas-escolas/

6 de abril de 2025

Raízes da crise, uma reflexão sobre tecnologia e poder

A crise ecológica

A crise ecológica pode ser compreendida a partir de múltiplas raízes, a exemplo dos enraizamentos apontados pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si', sobre o paradigma tecnocrático e humano.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial.

Singularidade que torna urgente a interpelação advinda do horizonte da Quaresma: o convite para a conversão ecológica. Assim, os sintomas da crise atual requerem a pertinente abordagem da sua raiz humana. 

O modo de se conceber e de viver a vida está incontestavelmente desordenado. Produz descompassos que incluem as relações do ser humano consigo mesmo, com Deus Criador, com o próximo e com o meio ambiente, arruinando, consequentemente, a casa comum. 

O poder da tecnologia

O caminho Quaresmal propõe uma lúcida revisão a respeito do lugar que o ser humano tem ocupado no mundo, a partir do paradigma tecnocrático. O poder da tecnologia, com seus avanços incríveis e assustadores, representa um progresso que revela a velocidade e as incidências das mudanças, desafiando o ser humano a assumir novas posturas humanísticas, com permanente revisão de escolhas e de posicionamentos. 

Reconhecidos os avanços da ciência e da tecnologia, reverencie-se a criatividade da inteligência humana, agraciada por Deus. A origem dessa dádiva inclui o desafio existencial de se conquistar uma estatura que não seja engolida ou dizimada pelo que é próprio da ciência e da tecnologia. 

A superação natural e necessária de determinadas condições materiais não pode exercer uma hegemonia que apaga a singularidade do ser humano. Importa muito e sempre a tecnociência como possibilidade de desenvolvimento de invenções valiosas. Melhora a qualidade de vida de cada pessoa. 

O exercício do poder

Mas é o ser humano quem tem a condição de qualificar esses processos ao dar beleza às coisas. A tecnociência transmite, pois, um enorme poder, particularmente, àqueles que detêm o recurso econômico. Evidente que esse tremendo poder conquistado pela humanidade na contemporaneidade não dispensa a preocupação e o compromisso de seu uso adequado para o bem de todos. Nesse ponto, cabe reconhecer a necessidade de se avaliar o atual modo de se viver, apontando a inquestionável urgência de um novo estilo de vida.

O exercício do poder, advindo da tecnociência, levanta a preocupação em relação àqueles que têm, em suas mãos, este controle. Ilusório e perigoso nesta pauta é considerar que a realidade, o bem e a verdade podem desabrochar espontaneamente da própria tecnologia e da economia, adverte o Papa Francisco na Laudato Si'. 

O ser humano e o crescimento tecnológico

O crescimento tecnológico não foi acompanhado pela maturação adequada do ser humano. Quanto menor a estatura humana e espiritual, maior será o encantamento pelo poder em exercer altos cargos e receber titularidades. Bastando-lhe, não raramente, um desempenho pífio de suas responsabilidades, produzindo ações sem alcances humanísticos ou com força de transformação de realidades sociais e institucionais. Atua-se, pela pequenez da estatura humana, de modo irrelevante, ao sabor de vaidades e de caprichos ideológicos perigosos. 

Como sublinha o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si', o ser humano não é plenamente autônomo, crescendo assim a possibilidade de mau uso do poder que se tem, abrindo espaço para a vivência de uma liberdade que adoece, entregue às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo e da violência brutal. 

Esse despreparo humanístico, camuflado no uso de tecnologias e avanços, passa despercebido, acentuando a crise ecológica de raiz humana. A ação predatória na natureza alimenta a perspectiva de um crescimento infinito e ilimitado. Atende a ilusão econômica de enriquecimento, própria do horizonte do mercado financeiro e  tecnológico. 

Os limites do ser humano

Envolvido pela mentira que alimenta a convicção sobre a inesgotável condição dos recursos da natureza, o ser humano não está sabendo lidar com limites. Adota-se um modelo de compreensão que justifica a elaboração de metodologias e objetivos. Resultados que afetam a realidade humana e social, aceitando e perpetrando a degradação do meio ambiente. Somente em um caminho e em uma experiência de profunda conversão é que se conquistará grandeza humanística para o exercício do poder.


A conquista de clarividências humanísticas é indispensável. Fruto de um processo de conversão e qualificação espiritual para desbloquear estilos de vida. Apostando em novos modelos, exequíveis com mudanças profundas de mentalidade e do modo de estabelecer laços com o conjunto da criação. 

Acreditar na mudança

Nessa direção, para reconfiguração da raiz humana da crise ecológica, é necessário acreditar, a partir de valores e princípios inegociáveis e consistentes, em uma nova perspectiva cultural, capaz de fazer usufruto do paradigma tecnocrático como mero instrumento, sem dominação, saindo da jaula de imposição hegemônica de sua lógica. 

Sem virar as costas a essa realidade, ouse-se pensar uma saída pela dinâmica da contemplação, envolvendo um profundo silêncio. Revela a beleza da criação, fomentando estilos de vida mais libertos das lógicas tecnocráticas, fazendo valer mais a grandeza do sentido e, menos, os resultados econômicos e financeiros, fontes também de degradações sociais e humanísticas. 

A raiz humana da crise ecológica tem uma porta de saída na contemplação. Alavanca um novo estilo de vida sinalizado pela simplicidade, frugalidade e leveza.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/raiz-humana-da-crise-ecologica-reflexao-sobre-tecnologia-e-poder/

5 de abril de 2025

Eis que faço novas todas as coisas

As leis de Jesus

Sobre os cristãos, chega uma enxurrada de provocações dando conta de que o mundo mudou, e muitas coisas antes consideradas como pecado deveriam ser admitidas com plena liberdade. Inclusive, é aparentemente fácil jogar no rosto de que tem fé as eventuais falhas dos cristãos no correr da história, falhas essas que não mancharam a própria Igreja, mas se tornam pedras continuamente usadas para atacá-la, considerando-a retrógada e inadequada para os tempos modernos.

Créditos: Imagem gerada por inteligência artificial

Jesus se encontra a ensinar no templo (Jo 8,1-11), e um grupo de pessoas que se consideravam proprietários da lei e da moral lhe trazem uma mulher surpreendida em adultério. Mais do que a situação dolorosa e pecaminosa em que esta pessoa se encontrava, trata-se de uma verdadeira armadilha, pois qualquer que fosse a resposta dada por Jesus a respeito de uma eventual sentença sobre o caso, seria Ele mesmo chamado em juízo e condenado por contrariar a lei ou o amor misericordioso, que era a Sua fama. Jesus não modifica qualquer letra ou sinal na lei antiga, mas amplia o horizonte, forçando seus interlocutores a se reconhecerem, também eles, pecadores.

Jesus e a mulher pecadora

Terrivelmente curioso é saber que o autor do adultério, um homem, não era condenado, apenas a mulher, num ambiente opressor em relação a uma mulher pecadora. Desaparecidos os acusadores, a libertadora sentença final: "Ele levantou-se e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor!' Jesus, então, lhe disse: 'Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante, não peques mais" (Jo 8,10-11).O único que poderia apedrejar, por ser sem pecado, mostra claramente que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva (cf. Ez 22,11).

Se o Evangelho de São Lucas nos contou as parábolas da Misericórdia, especialmente a do Pai Misericordioso e o Filho Pródigo, mais forte é a realidade contada pelo Evangelho de São João do que a parábola, de forma a entrarmos todos na mesma aventura.

Misericórdia infinita

A Lei do Amor e da Misericórdia, chegada com Jesus, nos abre o horizonte.  Reconhecer as limitações existentes em nós não é a experiência de dedos acusadores em riste, mas da Luz verdadeira que veio a este mundo, capaz de mostrar o erro e, ao mesmo tempo, sanar com o fogo do amor que liberta. Um honesto exame de consciência, inclusive o que somos chamados a fazer na Quaresma, só pode ser fruto de um encontro pessoal com o Senhor, que nos quer vivos e felizes, não acusados nem condenados!

Reconhecida a realidade do pecado, trata-se então de acolher o amor libertador de Jesus Cristo. Saber que somos amados não porque eventualmente sejamos justos, mas com um amor precedente a qualquer mérito humano. E cabe a nós, no relacionamento com os outros, anunciar a todas as pessoas encontradas o mesmo amor. E nem é obrigatório dizer que Jesus ama a pessoa, mas ser este amor do Senhor por todos. Vale uma visita, vale um olhar isento de julgamentos, vale um elogio.

E quando nos deparamos com casos extremos, em que as pessoas se afastaram totalmente do bem e da verdade? No plano de Deus, todos são candidatos à união com Ele e à capacidade de amar e ser amados. Mãos estendidas quando encontramos gente revoltada e de mal com a vida, escuta atenta de histórias, em geral longas e complicadas, atenção, olhar ao redor para identificar o bem que podemos fazer.

Pensemos no campo das mudanças climáticas e nas questões de ecologia, quando a Igreja propõe, na Campanha da Fraternidade, a busca de Ecologia integral. Descubramos o quanto pessoas do campo da intelectualidade podem aproximar-se e conversar conosco, com resultados certamente positivos para a Igreja e o conjunto da sociedade.


São caminhos para que tudo se torne novo, e não destruamos a vida que de Deus recebemos. De dentro de homens e mulheres virão as forças necessárias, plantadas pelo Espírito Santo de Deus, sem o qual nada subsiste. Podemos então rezar: "Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! Dai-me de novo a alegria de ser salvo e confirmai-me com espírito generoso!" (Sl 50,12-14).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/eis-que-faco-novas-todas-coisas/