8 de abril de 2025

Bullying e violência escolar: uma perspectiva católica

Combate ao bullying

Sete de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Esse tema é relevante a todos, mas, em especial, aos pais, professores e gestores escolares. É imprescindível que os formadores de crianças e adolescentes compreendam o seu importantíssimo papel na missão de erradicar o bullying e a violência nas escolas.

Créditos: cancaonova.com

Entende-se bullying como "intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. Inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos entre outros. Torna-se algo rotineiro, em que um jovem ou grupo começa a perseguir um ou mais colegas".

Ainda é relevante destacar que o bullying e a violência causam significativos impactos na vida escolar e pessoal de um aluno, desde o baixo rendimento acadêmico até graves problemas psicológicos. Essas consequências podem perdurar ao longo da vida, chegando até mesmo à fase adulta.

Diante disso, você como pai, mãe, professor, gestor escolar, o que poderá fazer para que seus filhos e alunos não se tornem agressores nem mesmo vítimas de bullying e violência escolar?

Faz parte de sua missão a formação integral da criança e do adolescente. Ou seja, formá-los nos aspectos físico, acadêmico, humano e espiritual. Sim, sem o aspecto espiritual, é inexistente a formação integral, pois somos corpo e alma, não sendo possível a separação. E qual a importância da formação espiritual para o combate ao bullying e a violência escolar?

Educar na fé

A importância se dá, pois, ao formar filhos e alunos na perspectiva de que nascemos para ser santos e um dia chegarmos ao céu, não existirá outro caminho para atingir esse objetivo a não ser o desenvolvimento das virtudes. Ou seja, a formação humana e espiritual fará toda a diferença para que, intencionalmente, as crianças e adolescentes não sejam agressores nem vítimas de bullying.

Mais do que projetos isolados de combate ao bullying e à violência, as escolas precisam se preparar para um currículo que contenha, em sua essência, a formação de alunos virtuosos. Bem como as famílias, precisam ter claramente a visão de que, muito mais do que uma boa casa, presentes etc., é preciso gastar tempo com seus filhos, em prol de uma eficaz formação humana e espiritual.

O Catecismo da Igreja Católica (n. 1804) diz que "as virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade… as virtudes regulam nossos atos, ordenando nossas paixões, guiando-nos segundo a razão e a fé".


Filhos e alunos virtuosos

Ou seja, as virtudes humanas são adquiridas com esforço constante, pois, devido ao pecado original, não temos todas as virtudes como tendências espontâneas ou instintivas. É possível então compreender que as virtudes forjam o caráter de um indivíduo, fazendo com que suas atitudes sejam coerentes com uma pessoa que deseja, antes de tudo, agradar a Deus.

Sendo assim, pode-se esperar que o trabalho de formar filhos e alunos virtuosos seja árduo, mas que os frutos de os ver respeitosos, generosos, mansos, trará a certeza de que a missão da verdadeira formação integral está sendo cumprida com a graça de Deus e seu esforço humano.

Finalizo, então, com o convite: pais e profissionais escolares, não negligenciem essa missão confiada por Deus, estudem e planejem com intencionalidade como será o processo de formação humana e espiritual de seus filhos e alunos.

Deus os abençoe e lhes dê a graça de serem formadores de muitas almas para o céu!

Bárbara Sparapan
Casada, Missionária do 2º Elo da Comunidade Canção Nova e Psicopedagoga.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/juntos-contra-o-bullying-7-de-abril-e-dia-de-promover-respeito-e-seguranca-nas-escolas/

6 de abril de 2025

Raízes da crise, uma reflexão sobre tecnologia e poder

A crise ecológica

A crise ecológica pode ser compreendida a partir de múltiplas raízes, a exemplo dos enraizamentos apontados pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si', sobre o paradigma tecnocrático e humano.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial.

Singularidade que torna urgente a interpelação advinda do horizonte da Quaresma: o convite para a conversão ecológica. Assim, os sintomas da crise atual requerem a pertinente abordagem da sua raiz humana. 

O modo de se conceber e de viver a vida está incontestavelmente desordenado. Produz descompassos que incluem as relações do ser humano consigo mesmo, com Deus Criador, com o próximo e com o meio ambiente, arruinando, consequentemente, a casa comum. 

O poder da tecnologia

O caminho Quaresmal propõe uma lúcida revisão a respeito do lugar que o ser humano tem ocupado no mundo, a partir do paradigma tecnocrático. O poder da tecnologia, com seus avanços incríveis e assustadores, representa um progresso que revela a velocidade e as incidências das mudanças, desafiando o ser humano a assumir novas posturas humanísticas, com permanente revisão de escolhas e de posicionamentos. 

Reconhecidos os avanços da ciência e da tecnologia, reverencie-se a criatividade da inteligência humana, agraciada por Deus. A origem dessa dádiva inclui o desafio existencial de se conquistar uma estatura que não seja engolida ou dizimada pelo que é próprio da ciência e da tecnologia. 

A superação natural e necessária de determinadas condições materiais não pode exercer uma hegemonia que apaga a singularidade do ser humano. Importa muito e sempre a tecnociência como possibilidade de desenvolvimento de invenções valiosas. Melhora a qualidade de vida de cada pessoa. 

O exercício do poder

Mas é o ser humano quem tem a condição de qualificar esses processos ao dar beleza às coisas. A tecnociência transmite, pois, um enorme poder, particularmente, àqueles que detêm o recurso econômico. Evidente que esse tremendo poder conquistado pela humanidade na contemporaneidade não dispensa a preocupação e o compromisso de seu uso adequado para o bem de todos. Nesse ponto, cabe reconhecer a necessidade de se avaliar o atual modo de se viver, apontando a inquestionável urgência de um novo estilo de vida.

O exercício do poder, advindo da tecnociência, levanta a preocupação em relação àqueles que têm, em suas mãos, este controle. Ilusório e perigoso nesta pauta é considerar que a realidade, o bem e a verdade podem desabrochar espontaneamente da própria tecnologia e da economia, adverte o Papa Francisco na Laudato Si'. 

O ser humano e o crescimento tecnológico

O crescimento tecnológico não foi acompanhado pela maturação adequada do ser humano. Quanto menor a estatura humana e espiritual, maior será o encantamento pelo poder em exercer altos cargos e receber titularidades. Bastando-lhe, não raramente, um desempenho pífio de suas responsabilidades, produzindo ações sem alcances humanísticos ou com força de transformação de realidades sociais e institucionais. Atua-se, pela pequenez da estatura humana, de modo irrelevante, ao sabor de vaidades e de caprichos ideológicos perigosos. 

Como sublinha o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si', o ser humano não é plenamente autônomo, crescendo assim a possibilidade de mau uso do poder que se tem, abrindo espaço para a vivência de uma liberdade que adoece, entregue às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo e da violência brutal. 

Esse despreparo humanístico, camuflado no uso de tecnologias e avanços, passa despercebido, acentuando a crise ecológica de raiz humana. A ação predatória na natureza alimenta a perspectiva de um crescimento infinito e ilimitado. Atende a ilusão econômica de enriquecimento, própria do horizonte do mercado financeiro e  tecnológico. 

Os limites do ser humano

Envolvido pela mentira que alimenta a convicção sobre a inesgotável condição dos recursos da natureza, o ser humano não está sabendo lidar com limites. Adota-se um modelo de compreensão que justifica a elaboração de metodologias e objetivos. Resultados que afetam a realidade humana e social, aceitando e perpetrando a degradação do meio ambiente. Somente em um caminho e em uma experiência de profunda conversão é que se conquistará grandeza humanística para o exercício do poder.


A conquista de clarividências humanísticas é indispensável. Fruto de um processo de conversão e qualificação espiritual para desbloquear estilos de vida. Apostando em novos modelos, exequíveis com mudanças profundas de mentalidade e do modo de estabelecer laços com o conjunto da criação. 

Acreditar na mudança

Nessa direção, para reconfiguração da raiz humana da crise ecológica, é necessário acreditar, a partir de valores e princípios inegociáveis e consistentes, em uma nova perspectiva cultural, capaz de fazer usufruto do paradigma tecnocrático como mero instrumento, sem dominação, saindo da jaula de imposição hegemônica de sua lógica. 

Sem virar as costas a essa realidade, ouse-se pensar uma saída pela dinâmica da contemplação, envolvendo um profundo silêncio. Revela a beleza da criação, fomentando estilos de vida mais libertos das lógicas tecnocráticas, fazendo valer mais a grandeza do sentido e, menos, os resultados econômicos e financeiros, fontes também de degradações sociais e humanísticas. 

A raiz humana da crise ecológica tem uma porta de saída na contemplação. Alavanca um novo estilo de vida sinalizado pela simplicidade, frugalidade e leveza.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/raiz-humana-da-crise-ecologica-reflexao-sobre-tecnologia-e-poder/

5 de abril de 2025

Eis que faço novas todas as coisas

As leis de Jesus

Sobre os cristãos, chega uma enxurrada de provocações dando conta de que o mundo mudou, e muitas coisas antes consideradas como pecado deveriam ser admitidas com plena liberdade. Inclusive, é aparentemente fácil jogar no rosto de que tem fé as eventuais falhas dos cristãos no correr da história, falhas essas que não mancharam a própria Igreja, mas se tornam pedras continuamente usadas para atacá-la, considerando-a retrógada e inadequada para os tempos modernos.

Créditos: Imagem gerada por inteligência artificial

Jesus se encontra a ensinar no templo (Jo 8,1-11), e um grupo de pessoas que se consideravam proprietários da lei e da moral lhe trazem uma mulher surpreendida em adultério. Mais do que a situação dolorosa e pecaminosa em que esta pessoa se encontrava, trata-se de uma verdadeira armadilha, pois qualquer que fosse a resposta dada por Jesus a respeito de uma eventual sentença sobre o caso, seria Ele mesmo chamado em juízo e condenado por contrariar a lei ou o amor misericordioso, que era a Sua fama. Jesus não modifica qualquer letra ou sinal na lei antiga, mas amplia o horizonte, forçando seus interlocutores a se reconhecerem, também eles, pecadores.

Jesus e a mulher pecadora

Terrivelmente curioso é saber que o autor do adultério, um homem, não era condenado, apenas a mulher, num ambiente opressor em relação a uma mulher pecadora. Desaparecidos os acusadores, a libertadora sentença final: "Ele levantou-se e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor!' Jesus, então, lhe disse: 'Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante, não peques mais" (Jo 8,10-11).O único que poderia apedrejar, por ser sem pecado, mostra claramente que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva (cf. Ez 22,11).

Se o Evangelho de São Lucas nos contou as parábolas da Misericórdia, especialmente a do Pai Misericordioso e o Filho Pródigo, mais forte é a realidade contada pelo Evangelho de São João do que a parábola, de forma a entrarmos todos na mesma aventura.

Misericórdia infinita

A Lei do Amor e da Misericórdia, chegada com Jesus, nos abre o horizonte.  Reconhecer as limitações existentes em nós não é a experiência de dedos acusadores em riste, mas da Luz verdadeira que veio a este mundo, capaz de mostrar o erro e, ao mesmo tempo, sanar com o fogo do amor que liberta. Um honesto exame de consciência, inclusive o que somos chamados a fazer na Quaresma, só pode ser fruto de um encontro pessoal com o Senhor, que nos quer vivos e felizes, não acusados nem condenados!

Reconhecida a realidade do pecado, trata-se então de acolher o amor libertador de Jesus Cristo. Saber que somos amados não porque eventualmente sejamos justos, mas com um amor precedente a qualquer mérito humano. E cabe a nós, no relacionamento com os outros, anunciar a todas as pessoas encontradas o mesmo amor. E nem é obrigatório dizer que Jesus ama a pessoa, mas ser este amor do Senhor por todos. Vale uma visita, vale um olhar isento de julgamentos, vale um elogio.

E quando nos deparamos com casos extremos, em que as pessoas se afastaram totalmente do bem e da verdade? No plano de Deus, todos são candidatos à união com Ele e à capacidade de amar e ser amados. Mãos estendidas quando encontramos gente revoltada e de mal com a vida, escuta atenta de histórias, em geral longas e complicadas, atenção, olhar ao redor para identificar o bem que podemos fazer.

Pensemos no campo das mudanças climáticas e nas questões de ecologia, quando a Igreja propõe, na Campanha da Fraternidade, a busca de Ecologia integral. Descubramos o quanto pessoas do campo da intelectualidade podem aproximar-se e conversar conosco, com resultados certamente positivos para a Igreja e o conjunto da sociedade.


São caminhos para que tudo se torne novo, e não destruamos a vida que de Deus recebemos. De dentro de homens e mulheres virão as forças necessárias, plantadas pelo Espírito Santo de Deus, sem o qual nada subsiste. Podemos então rezar: "Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! Dai-me de novo a alegria de ser salvo e confirmai-me com espírito generoso!" (Sl 50,12-14).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/eis-que-faco-novas-todas-coisas/

2 de abril de 2025

E quando a minha oração não é ouvida?

O desafio da alegria e a confiança constante no Senhor

"Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: Alegrai-vos!" (Fil4,4). Essa é a ordem de São Paulo , um desafio para todo cristão! Uma convocação que, para ser vivida, além da graça de Deus, pressupõe maturidade espiritual. Desde sempre, o que mais o ser humano sempre quis em sua vida foi ser feliz. Esse anseio, como garantia do Catecismo da Igreja Católica, está impresso em nosso coração (cf. n. 1718).

Crédito: KatarzynaBialasiewicz/GettyImages

Entretanto, para nós, equivocadamente, ser feliz virou sinônimo de ter o que quer, alcançar vitórias e sempre ter novos desafios, e quando tudo isso está acontecendo de forma natural, nossa vida vai bem. Ficamos em paz com o mundo, com Deus, com os outros e conosco. Porém, se o que desejamos não acontece ou não se dá da maneira que queremos, desencadeia em nós uma crise existencial

Mas o que configura o cristão a Cristo é a possibilidade de fazer renúncias e sacrifícios com alegria, sabendo que isso nos faz crescer. Cristo despojou-se de sua condição de vida, renunciou às glórias deste mundo e cumpriu sua missão conforme o pai pedia. Portanto, quando não somos ouvidos num pedido, em vez de reclamarmos, nos entristecermos e desistirmos de tudo, existem outras possibilidades a serem consideradas:

    1. Não estamos prontos para receber aquilo: precisamos olhar para a realidade de que não é o momento ainda de o Senhor nos conceder o que desejamos, porque, antes disso, existem outras obras importantes que Ele precisa realizar em nós. Ex.: ajudar-nos em desapegos, crescimentos, aptidões. Muitas vezes, somente depois de uma primeira ação do Senhor, é que nossas bases estão prontas para receber aquilo que pedimos em nossas orações.
    2. Deus não quer nos dar o que pedimos: por mais que algo seja bom aos nossos olhos, é possível que o Senhor não nos queira dar aquilo que desejamos, pois, certamente, o que pedimos não irá nos exigir em nada, não vai nos ajudar na obra de santificação que Ele está oferecendo em nós.

Sendo assim, considerando a primeira possibilidade – a de que Deus não quer dar, neste momento, uma graça que pedimos – nossa atitude precisa ser:

    1. Alegrar-se, porque a negação atual implica que temos um Deus que nos ama e sabe a hora certa de nos dar algo. Ele cuida de nós!
    2. Louvar, pois esta é considerada a grandeza do Senhor e a nossa pequenez. Ele tem o conhecimento de todas as coisas e nossa sabedoria é limitada.
    3. Aprender a esperar, porque, uma vez que ele nos quer dar, mas ainda não estamos prontos, precisamos esperar com fé, ou seja, preparar-nos para receber. Corrigindo o que precisa ser corrigido em nós, numa atitude de conversão e superação.
    4. Desprender-se, aguardar com fé, entregar-se nas mãos do Senhor, deixando que Ele perceba as coisas em Seu tempo. Esse desprendimento pede ainda que você abra mão do que espera e viva aquilo que o Senhor está lhe pedindo hoje.

Considerando a segunda possibilidade, que é o fato de Deus não querer dar o que você pede, uma grande atitude, além de todos os passos acima é:

    1. Renunciar. Não é fácil, porque nosso ego pede que as coisas sejam como sempre sonhamos, porém, essa renúncia o deixará livre para receber todas as outras coisas que Deus quer lhe dar. Você também vai amadurecer na fé porque, com isso, você estará participando do sacrifício de Cristo.
    2. Perseverar na esperança, pois tudo concorre para o nosso bem. Essa grande renúncia de hoje é semente para as graças colhidas amanhã. Não se deixe vencer pela tristeza. O Senhor é bom o suficiente para realizar planos maravilhosos em nossa
      vida!

Aceite a vontade de Deus e alegre-se!

Elane Gomes
Missionária Aliança da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/e-quando-a-minha-oracao-nao-e-ouvida/

1 de abril de 2025

A oração de intercessão

Herança da oração, o poder da intercessão para transformar vidas

Como batizados, somos autorizados a exercer esse grande ministério de oração por uma pessoa ou uma situação, colocando-nos diante de presença de Deus com intimidade, fé, confiança e esperança, unindo-nos ao coração de Deus, que é rico em bondade e misericórdia, para pedir e suplicar sua ação, sua manifestação e sua glória em situações que, aos olhos humanos, são tão difíceis, tão complicadas ou, muitas vezes, impossíveis; e cremos que Deus pode responder aos nossos anseios como tem feito ao longo da história da salvação na vida do Seu povo.

Crédito: Moment Makers Group/GettyImages

No Antigo Testamento, encontramos grandes personagens que oravam a favor dos seus, confiando que a mão de Deus tinha o poder de atingir os corações, transformando vidas e mudando direções (Ex 32,32; Ex 17, 11-13). Quantas vezes Deus agiu graças ao pedido de um amigo ou de um servo fiel! Sim, de um amigo! Pois, para ser um intercessor, é necessária a intimidade de quem fala com um amigo. 

Para ser intercessor, é necessário a fé de quem confia que sua mão poderosa e sua glória podem ser manifestadas a qualquer momento e em qualquer situação. Para ser intercessor, é necessária a confiança de que Deus, justo juiz, realizará a Sua vontade de acordo com os Seus desígnios para um bem maior.

O poder da intercessão, a confiança na ação de Deus

Quantas vezes intercedemos em favor de alguém e esperamos ansiosamente a resposta do alto. Porque amamos, porque cremos, porque temos confiança. Interceder é muito mais do que nos unirmos à dor ou à súplica do outro; é acreditar que Deus, por ser Deus, tem a soberania, a autoridade e o poder para realizar todas as coisas segundo a Sua vontade, como nos diz São Paulo em Filipenses 2.13: "Porque Deus é quem opera em vós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a Sua vontade". Deus é capaz de fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, segundo o Seu poder que atua em nós.


Quantos testemunhos temos de pessoas que oraram e acreditaram, e Deus agiu poderosamente! Às vezes, não é necessário dizer muito, pois, com pouco, já tocamos as fibras do coração de Jesus, como Marta, em Betânia, que envia uma mensagem a Jesus pelo seu irmão Lázaro e diz apenas: "Aquele que você ama está enfermo." (Jo 11,3)

Marta está dizendo: "Jesus, apenas te informei, agora está em suas mãos. Você conhece bem esse amigo, e eu sei que você o ama e pode realizar um milagre, então confio. Mesmo que, aos nossos olhos, não exista mais solução, confio que você pode trazer vida e vida em abundância".

Orar sem cessar, um caminho de fé e esperança

Outras vezes, é preciso suplicar — não uma, mas várias vezes. Persistir na oração. Rezar sempre, em todo lugar, suplicando e acreditando que, em algum momento, Deus irá agir — como fez a viúva de Lc 18,1-5, que insistiu até que o seu pedido fosse alcançado.

Outras vezes, é necessário nos colocarmos diante da presença de Deus e dizer como Jesus: "Não seja feita a minha vontade, mas a Tua", em uma entrega total e absoluta, mas com paz, como quem assina um documento em branco e diz: "Estou em tuas mãos, Senhor".

Para que sejamos perfeitos na unidade e para que o mundo conheça que Deus enviou Seu Filho amado para trazer a salvação a todo homem, para que não pereça, mas tenha a vida eterna.

Enquanto escrevia este artigo, fiquei pensando em quantas vezes pedi a intercessão de alguém ou quantas vezes escutei alguém dizer: "Rezei por você." E quantas vezes retribuí essa oração, sem interesse algum, sem que essa pessoa tivesse me pedido nada.

Lembremos, então, de orar, hoje, por todas as pessoas que, um dia, intercederam a Deus por nós, por nossas intenções ou por nossas necessidades, para que Deus retribua com graça e amor, e que a sua misericórdia as envolva. A oração de intercessão é tão necessária nos dias de hoje, pois é uma arma poderosa para continuarmos vivendo como peregrinos da esperança. 

Que Deus continue dirigindo nossa vida, trazendo conforto, solução, cura, respostas, mas, acima de tudo, conversão.

Angela Munhoz Chineze
Coordenadora da Comissão de Intercessão do CHARIS – Brasil


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/a-oracao-de-intercessao/

31 de março de 2025

Hora de reagir!

Campanha da Fraternidade 2025, um chamado à ecologia integral 

Compreender o mundo no horizonte da ecologia integral é passo importante para enfrentar a crise climática, neste momento em que todos são chamados a reagir. Uma reação que está atrasada, considerando os efeitos deletérios da crise. Graves entraves precisam ser vencidos para que ocorra a necessária resposta ao desafio enfrentado pela humanidade: um desinteresse sobre as mudanças climáticas, uma concepção equivocada sobre o planeta, a dificuldade de abrir mão dos lucros desmedidos alcançados a partir do sacrifício ambiental, a adoção de lógicas inadequadas, espúrias, para se alcançar o progresso.

Créditos: Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Especialmente perigosa é uma compreensão sobre a fé que desconsidera a relação entre o Criador, Deus, e suas criaturas, no conjunto da Criação. No lugar dessa
compreensão perigosa, deve prevalecer sempre o apelo à reação que vem da própria fé, um broto de esperança, que recebe o empenho da Igreja Católica no Brasil, por meio da Campanha da Fraternidade 2025 – Fraternidade e Ecologia Integral. Promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante o tempo da Quaresma, a Campanha da Fraternidade contribui, com lucidez e destemor profético, para adequadamente reagir às mudanças climáticas.

A fé é importante luz que ilumina o caminho da humanidade com uma incontestável verdade: homens e mulheres devem se compreender como instrumentos de Deus, Pai Criador. Precisam, pois, corresponder ao projeto de Deus para o planeta – uma terra de paz, beleza e plenitude. Essa compreensão é essencial para vencer a costumeira apatia diante da urgência de se reagir e superar a degradação ambiental.

A falácia da filantropia, como a destruição ambiental é maquiada

Essa fraqueza se consolida justamente pela insensibilidade para escutar os gritos da Terra e pela indiferença diante das dores dos abandonados do mundo. Percebe-se que ainda não existe uma cultura consolidada capaz de sustentar o enfrentamento à grave crise que ameaça a humanidade. Uma carência provocada pela falta de líderes capazes de contribuir com soluções inteligentes e humanísticas para superar os descompassos da atualidade. Grave é a fraqueza da reação promovida pela política internacional, submissa a interesses econômicos, sem considerar o bem comum.

Consequentemente, convive-se com manipulações e ajustes legislativos que impedem o nascimento de novos modos de se viver na casa comum. No horizonte da fé é inequívoca a convicção acerca do princípio que as intervenções e usufruto dos recursos naturais não podem estar submetidos a interesses de grupos econômicos que arrasam e exploram irracionalmente as fontes da vida.


Essa exploração irracional está evidente em muitos procedimentos a serviço de interesses minerários e de muitas outras atividades. Algumas concessões de caráter filantrópico, infinitamente desproporcionais em relação aos lucros exorbitantes desses empreendimentos que destroem o planeta, servem apenas para melhorar a imagem daqueles que promovem a devastação. O Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Si', adverte que os poderes econômicos continuam a justificar o sistema mundial, onde predomina uma especulação e uma busca por receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente, entrelaçando degradação ambiental e degradação humana.

Sinal de esperança é saber que alguns países se dedicam à recuperação de rios poluídos, revitalização de florestas nativas, produção de energia limpa, melhoria de transportes públicos. Ainda que a humanidade esteja muito aquém de uma reação adequada, há sinais promissores: o ser humano é capaz de intervir positivamente na Criação de Deus.

A hora de reagir, o chamado à ação

Essa esperança alimenta reações a uma perspectiva ecológica superficial, descomprometida com acordos assinados. Esse "reagir" pede uma abertura ao diálogo,
para superar o extremismo de uma perspectiva que busca o progresso sem qualquer pudor ético, a qualquer custo. Por isso, a Igreja, com outras instituições e instâncias, governamentais e não-governamentais, investe na promoção de um debate honesto, contemplando cientistas, governantes e representantes da sociedade, com a partilha e a escuta de opiniões diferentes, para encontrar adequados discernimentos e escolhas. Há sempre uma saída para retirar a humanidade do caminho que está em contraposição ao desígnio divino.

Ora, a natureza é lugar onde Deus se manifesta. A fé cristã professa que o Espírito vivificante de Deus está em cada criatura. Esta verdade estimula o desenvolvimento de virtudes ecológicas com propriedades para alavancar reações positivas e incidentes na realidade. As criaturas desse mundo não constituem um bem a ser apropriado por um dono. O ser humano tem seu valor singular, mas não lhe é permitido tratar as demais criaturas de qualquer jeito. É preciso buscar equilíbrio, enfrentando cenários nos quais alguns vivem em situação degradante e outros na abundância – sem mesmo saber o que fazer com o muito que possuem.

Esse equilíbrio almejado somente se efetiva com o cultivo da ternura e da compaixão, em relação ao semelhante e ao planeta. Urgente é proteger o meio ambiente, cultivando amor sincero em relação ao semelhante, dedicando-se a enfrentar os problemas sociais. Não se perca a oportunidade para uma reação. Ninguém deve se situar no ridículo de acordar e comprometer-se com promissoras soluções, mas não cumprir o que foi combinado. A gravidade da crise contemporânea convoca: está na hora de reagir!

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/hora-de-reagir/

29 de março de 2025

Na casa da parábola

A alegria do reencontro, redescobrindo a misericórdia na parábola do filho pródigo

As parábolas contadas por Jesus partem de situações cotidianas vividas pelas pessoas, assim como de uma observação apurada da natureza, onde aparecem animais e plantas. As chamadas parábolas da misericórdia, do capítulo quinze do Evangelho de São Lucas, referem-se a uma ovelha perdida, uma moeda perdida e um filho perdido! (Lc 15,1-32). Mais ainda, falam da alegria do reencontro! O quarto domingo de Quaresma nos faz participar da história do Pai Misericordioso e do filho pródigo, gastador e perdido! Permitamo-nos entrar na casa da família descrita por Jesus na parábola.

Crédito: Jacob Wackerhausen/GettyImages

O dia a dia da família, que é o pano de fundo da parábola, parece muito normal, ainda que a figura da mãe não venha à tona. Podemos imaginar uma família de recursos, com um pai curioso, rebanhos e plantações eram cuidadas pela família e trabalhavam, condições para garantir uma boa herança aos dois filhos. Pode ser comparado com muitas das nossas famílias, mesmo quando não nos parece ter disponibilidade para heranças semelhantes.

Pais e mães que trabalham e buscam dar o melhor possível aos filhos, mãos e corações que se empenham na labuta diária, uma história edificada com muito esforço, alternando convivência, atividades laborais, compromissos sociais e religiosos. É bom considerar a normalidade de nossas famílias, mesmo estando prontas para enfrentar os possíveis desafios.

Volta ao lar, a ação da misericórdia divina

E a família que olhamos com uma visão bem humana, sabendo que nos remete à grande família de Deus Pai Misericordioso, encontra-se agora diante do desafio imprevisto. Um jovem rebelde, disposto a aventuras, desejoso de ir ao encontro do desconhecido. Quem de nós, em alguma etapa da vida, não sonhou com a independência, preferindo correr pelo mundo no lugar do aconchego da casa paterna? E quantos são os jovens que, sem grandes conflitos com seus familiares, querem morar separados dos pais, percorrer suas próprias carreiras estudantis ou de início de profissão! Sem julgá-los, entremos em seu coração e identifiquemos seus sonhos e projetos! Entretanto, o filho mais novo daquela família abandonou tudo o que o pai pôs à sua disposição.


Deixou a casa para tornar às ruas e o mundo, a sua própria casa. O amor parecia limitado sua liberdade! Incrivelmente, o vício e a libertinagem atraem e se apresentam como um bem! Muitas vezes, cantamos esta aventura: "Eu pensei que poderia viver por mim mesmo, eu pensei que as coisas do mundo não iriam me derrubar. O orgulho tomou conta do meu ser e o pecado devastou o meu viver. Fui embora, disse: ó Pai, dá-me o que é meu, dá-me a parte que me cabe da herança. Fui pro mundo, gastei tudo, me restou só o pecado" (Música "Tudo é do Pai", composta por Frederico Cruz).

Incapacidade pera ver com os outros as decisões a serem tomadas, obrigações, sonhos de grandeza, perda dos valores morais, tudo no mesmo pacote de passos enganosos, dados porque a própria família e os afetos paternos estão vinculados, e estes podem soar insuportáveis. Quem já passou por isso entende bem e sabe que a narrativa se repete e deixa de ser apenas uma historinha! É que Jesus entende de humanidade mais do que todos nós juntos! No fundo do poço, nasce um sentimento confuso de saudade e de estômago vazio.

A lição do filho pródigo, o valor da casa do pai

O lugar de trabalho descrito na parábola era o mais odioso num ambiente judaico, cuidar de porcos! Jesus carrega as tintas, para mostrar os sentimentos humanos existentes em quem tocou no ponto mais baixo que pode existir. Mais do que a sede e a fome, a dor maior é a do pecado e suas consequências! O jovem sonhou com as curvas das estradas para a casa paterna, enquanto o próprio pai misericordioso deve ter incansavelmente olhado para as mesmas curvas.

Chegou a hora do arrependimento, confirmando erros cometidos que causaram a quebra na cabeça! E nele nos encontramos nas centenas de vezes em que aprendemos de novo o valor da casa paterna, daquele Pai que não volta atrás em seu infinito amor.

Para voltar à casa do pai, o jovem aventureiro teve que ensaiar mil vezes o discurso! "Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'" (Lc 15,17-19). A chegada é compartilhada de emoção, e se pensa que o verdadeiro pai é o Pai Deus misericordioso, encanta saber que Deus se emociona com nossa volta e o perdão, no abraço e nos beijos da reconciliação! Festa, roupa nova, anel, sandália aos pés, porque o filho perdido foi encontrado, quem estava morto começou a viver! Não é necessário dizer muitas coisas, apenas viver!

Implicante é a situação do filho mais velho, cujo erro é justificado na hora que deveria ser da misericórdia. Mais grave é o julgamento de que todos os caminhos errados e escandalosos do outro! A casa, a criação, as plantações, tudo é do Pai e de seus filhos. Na casa, podemos desfrutar de todos os bens! Cabe a nós, muitas vezes filhos mais velhos, deixem de ficar emburrados e entrem na dança da festa da misericórdia. E a Igreja é esta casa, aberta de modo especial nesta Quaresma, para o abraço da reconciliação, no Sacramento da Penitência, para nos ajustarmos com o Senhor, e também no dia a dia, perdoando-nos mutuamente. A festa é nossa e podemos cantar e rezar: "Tudo é do Pai, toda honra e toda glória, é dele a vitória alcançada em minha vida. Tudo é do Pai, se sou fraco e pecador, bem mais forte é o meu Senhor, que me cura por amor. Hoje sei que nada é meu, tudo é do Pai, toda honra e toda glória, é dele a vitória alcançada em minha vida!" (Ibid.).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/paternidade/na-casa-da-parabola/