21 de março de 2025

São Filipe Néri, testemunho de alegria impetuosa que resiste aos sofrimentos

São Filipe Néri, o santo da alegria

A felicidade é objeto da busca humana desde o início dos tempos. É natural ao homem e à mulher que, diante daquilo que experimentam em vida, optem sempre pelo que lhes traga maior prazer ou alegria. Contudo, o mundo parece cruel demais, como se a todo o tempo tentasse roubar a felicidade humana. Trabalho, dificuldades, brigas e diversos outros elementos presentes no nosso cotidiano acabam nos impulsionando mais à reclamação do que ao sorriso. Acontece, porém, que a felicidade é um imperativo para os cristãos. "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!", escreveu São Paulo (Fl 4,4). Não se trata de um convite, mas de uma ordem que, mais do que prender o olhar nas dificuldades da vida, nos leva a contemplar Deus e sua infinita bondade.

Crédito: Sebastiano Conca/Domínio Público

Testemunho dessa felicidade que vem do Senhor é São Filipe Néri, que ficou conhecido como "o santo da alegria". Nascido em 1515 na Itália, tornou-se um sacerdote cuja principal marca era justamente o amor e a bondade ao tratar as pessoas ao seu redor. O Catecismo da Igreja Católica afirma que "o progresso espiritual envolve ascese e mortificação, que levam gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças" (CIC n. 2015). Deus quer que vivamos plenamente desde agora, mas para isso precisamos também suportar as dificuldades que surgem.

"Eu prefiro o paraíso!"

São Filipe Néri compreendeu isso. Conhecido também pelas penitências que fazia, ele afirmava que "os sofrimentos deste mundo são a melhor escola do desprezo do mundo: quem não se matricular nesta escola, merece dó, porque é um infeliz". Esta infelicidade deriva de um apego às coisas terrenas, opostas ao que vem do alto.
Seguindo esta lógica, concluímos que é feliz aquele que consegue suportar os sofrimentos e provações, que "produzem a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança" (Rm 5,3-4). A esperança da qual São Paulo fala não é a mera expectativa por dias melhores neste mundo, mas a certeza de que Deus tem muito mais para nós.


Foi diante desta esperança que São Filipe Néri aprendeu a bradar "eu prefiro o paraíso!", um grito que precisa ecoar como um lembrete constante em nossos corações do que realmente nos faz felizes. Eu fico impressionado com o poder que a murmuração tem perante os homens. Basta uma pessoa reclamar, ainda que baixinho, da demora na fila do banco que todos os outros logo se unirão em um coro azedo de críticas.

Um coração dilatado de alegria

A impetuosidade que temos para reclamar deveria ser, na verdade, para resistirmos aos sofrimentos e nos mantermos alegres. "Longe de mim, o pecado e a tristeza", exclamava São Filipe Néri. O que nos falta para termos a mesma resiliência diante da dor? Pois bem, a alegria é um dos frutos do Espírito Santo (Gl 5,22-23), e aí está a nossa resposta. Somente alguém cuja vida é repleta da graça que vem do Espírito Santo – e a palavra grega para "alegria", que é "chara" (χαρά), significa justamente proveniente da graça – pode ser verdadeiramente alegre.

Mais uma vez, São Filipe Néri é exemplo disso. Durante uma vigília de Pentecostes, o padre sentiu seu coração se encher de alegria, e uma bola de fogo surgiu diante dele. Ela entrou por sua boca e pousou em seu coração, que se dilatou para poder comportar tamanho amor. Após sua morte, foi verificado que duas de suas costelas se quebraram por conta deste fato.

Que possamos então clamar pela ação do Espírito Santo em nossas vidas para que, pela intercessão de São Filipe Néri, sejamos cheios da graça de Deus e da alegria que vem da esperança de um dia estarmos na presença d'Ele no céu.

Gabriel Fontana
Jornalista da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/sao-filipe-neri-testemunho-de-alegria-impetuosa-que-resiste-aos-sofrimentos/

A neurociência da felicidade: como o cérebro constrói o bem-estar

Felicidade: bem-estar, prazer e propósito

"Assim, eu concluí que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida; e que comer,
beber e gozar do fruto de seu trabalho é um dom de Deus." (Eclesiastes 3, 12-13)

O que é felicidade? Essa é uma pergunta que permeia muitos corações que desejam ser felizes. Para alguns, felicidade é o bem-estar e a satisfação com a vida. As pessoas associam felicidade a um estado de equilíbrio, onde se sentem bem com quem são, com o que fazem e com o que têm. Isso inclui sentir-se realizado em aspectos como relacionamentos, trabalho e saúde. Para outros, felicidade é composta por momentos de prazer e alegria, ou seja, é vivenciar momentos de prazer intenso, como estar com a família ou amigos, aproveitar uma boa refeição, viajar ou praticar atividades que geram prazer, como esportes ou hobbies.

Crédito: JLco – Julia Amaral/GettyImages

Outros ainda consideram a felicidade como realização pessoal e conquistas, aquela sensação de progresso e conquista de metas pessoais, sejam elas relacionadas à carreira, aos estudos ou a objetivos de vida. Muitas pessoas acham que ser feliz envolve ter um propósito na vida, algo que dê sentido ao que fazem. Isso pode estar relacionado a valores pessoais, como ajudar os outros, buscar crescimento espiritual ou contribuir para o crescimento do Reino de Deus. Muitos acreditam que amar e ser amado, além de se sentir parte de uma comunidade, são essenciais para o bem-estar emocional.

A neurociência da felicidade: o que acontece no seu cérebro?

A felicidade é um equilíbrio entre momentos de prazer, realizações pessoais e um estado emocional positivo, com foco em conexões humanas e um propósito de vida. Mas o que acontece no nosso cérebro para nos sentimos felizes? Segundo a Neurociência, a felicidade é vista como um fenômeno complexo, que envolve interações entre neurotransmissores, estruturas cerebrais, fatores psicológicos e sociais. Ela não é apenas uma resposta a estímulos externos, mas também um processo interno relacionado ao equilíbrio químico e à percepção de nossas experiências.

A maneira como vemos o mundo, como reagimos aos nossos sentimentos e as relações com outras pessoas também têm um grande impacto. A felicidade é um estado de bem-estar que ocorre quando certas partes do nosso cérebro são ativadas e liberam substâncias químicas que nos fazem sentir bem e nos ajudam a processar prazer e recompensa. Essas substâncias químicas são produzidas pelo corpo de formas naturais, e podemos estimulá-las de diversas maneiras através de comportamentos e atividades.

  • Dopamina: É a substância que nos dá aquela sensação de recompensa, como quando conquistamos algo ou sentimos prazer.
  • Serotonina: Está ligada ao nosso humor e à sensação de satisfação. Quando temos exposição ao sol, prática de atividades físicas (especialmente exercícios aeróbicos), meditação, consumo de alimentos ricos em triptofano (como ovos, queijos, nozes e sementes), e uma boa noite de sono.
  • Ocitocina: É liberada quando nos conectamos com outras pessoas, como durante abraços ou momentos de carinho, ajudando a criar laços e aumentar o bem-estar.
  • Endorfinas: São os "hormônios da felicidade", que nos fazem sentir bem, como quando praticamos esportes, rimos, comemos alimentos picantes e até mesmo realizamos atividades criativas ou artísticas.

A boa notícia é que o cérebro é adaptável! Isso significa que práticas como meditação da Palavra de Deus, gratidão e louvor a Jesus, ter boas amizades, fazer atividade física e ter uma boa alimentação contribuem com o nosso bem-estar e aumentam nossa felicidade ao longo do tempo.

Convido você a cuidar do seu corpo e da sua alma para encontrar a verdadeira felicidade, que é Jesus!

Deus o abençoe.

Margarete Rabelo
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/neurociencia-da-felicidade-como-o-cerebro-constroi-o-bem-estar/

20 de março de 2025

Escada de Jacó

A transfiguração, luz no tempo da quaresma

Jesus subiu ao Tabor com seus três discípulos (cf. Lc 9,28-36) para rezar! Ali ele se transfigurou, apareceram testemunhas qualificadas, Moisés e Elias, e fez-se ouvir a voz do Pai, quando estavam envolvidos na nuvem, apontando para o Espírito Santo! Imenso valor dado por Deus àqueles três homens e a todos nós, um presente para não nos escandalizarmos com o mistério da Cruz, pela qual Jesus e todos nós chegamos à glória e à vitória. Entretanto, desta feita o Segundo Domingo da Quaresma, com o qual aprendemos a fidelidade de Jesus e a nossa às consequências da Encarnação, fazendo-nos vislumbrar os efeitos da graça batismal, suscitou uma lembrança da escada de Jacó (Gn 28,10-22), em cujo sonho subiam e desciam os Anjos de Deus.



Créditos: Pichai Puntong/GettyImages

Ali ele experimentou estar na Casa de Deus e Porta do Céu, e Jacó chamou de Betel aquele lugar! No encontro com Natanael (Jo 1,51), Jesus se reporta a esta escada, anunciando a profunda comunhão entre o Céu e a Terra, cujo anúncio e realização nele mesmo acontecem! De fato, quando Jesus e seus discípulos sobem ao Monte para rezar, o Céu desce à terra, com a manifestação da glória de Deus, a voz do Pai, que assegura aos amigos temerosos ser ele o Filho, o Escolhido, cuja Palavra há de ser ouvida e plenamente acolhida.

Comunhão divina, o amor como ponte entre o céu e a terra

No plano de Deus, há de existir comunhão profunda entre o Céu e a Terra, e a acolhida a Jesus Cristo e sua Palavra estabelece a estrada para esta desejada aproximação, de modo que os critérios do Céu aqui se estabeleçam! E é bom recordar que o Senhor, quando nos deu o "seu" mandamento trouxe exatamente estes critérios: "Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15,12). O modo de viver na Santíssima Trindade desceu à terra e se
transformou em mandamento para os que creem.


Na criação do mundo, segundo a narrativa do Livro do Gênesis, Deus vem do alto, cria o mundo e nele estabelece a presença humana. Aos homens e mulheres cabe cuidar da magnífica obra, vinda da arte eterna e criativa de Deus: "Deus os abençoou e lhes disse: 'Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão'. Deus disse: 'Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento'. E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia" (Gn 1,28-31). Não há semente de maldade na criação de Deus. Tudo o que pensou e fez é muito bom!

Cuidar da criação, um mandato de amor e reciprocidade

Reportamo-nos à Encíclica Laudato si', do Papa Francisco, onde recolhemos o ensinamento sobre o cuidado com a natureza: "Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada. Isto permite responder a uma acusação lançada contra o pensamento judaico- cristão: foi dito que a narração do Gênesis, que convida a 'dominar' a terra (cf. Gn 1, 28), favoreceria a exploração selvagem da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e devastador. Mas esta não é uma interpretação correta da Bíblia, como a entende a Igreja. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas. É importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a 'cultivar e guardar' o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto 'cultivar' quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, 'guardar' significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Em última análise, 'ao Senhor pertence a terra' (Sl 24, 1), a Ele pertence 'a terra e tudo o que nela existe' (Dt 10, 14). Por isso, Deus proíbe-nos toda a pretensão de posse absoluta: 'Nenhuma terra será vendida definitivamente, porque a terra me pertence, e vós sois apenas estrangeiros e meus hóspedes'" (Lv 25, 23) (LS 67). Cabe-nos entrar na dinâmica da Transfiguração, coerentes em tudo com a graça batismal recebida, cuidando com o amor que desce do Céu de tudo o que existe.

Podemos ir ao encontro das sementes de bondade que existem no coração das pessoas, superando julgamentos e condenações. Uma pessoa bem amada não se desfigura, mas se transfigura! Acolhamos ainda do plano de Deus o olhar positivo e otimista diante da criação. Saber admirar a natureza, a arte com que Deus a pensou, através dos mistérios nela mesma escondidos, isso nos fará mais alegres e nos possibilitará identificar os traços do Céu na Terra. E nasça em nós o gosto pela
harmonia, a capacidade de olhar ao redor para aproveitar todos os elementos possíveis para que o mundo seja bem cuidado.

Fraternidade e ecologia integral, um chamado à conversão

Arrumar a casa, vestir-se com gosto, falar coisas boas, elogiar a beleza e o bem! Atos de amor correspondentes ao plano de Deus! A Campanha da Fraternidade de 2025, com tema tão desafiador quanto importante, "Fraternidade e Ecologia Integral", sugere práticas de cuidado com a criação de Deus que, em si é boa, mas muitas vezes maltratada por aqueles que receberam de Deus a responsabilidade de "cuidar". É bom acolher o convite àquilo que tem sido chamado de "Conversão Ecológica", assumindo práticas sustentáveis.

É conversão por se tratar de um processo, lento, mas seguro e fundamental, no qual todos somos chamados a nos comprometer. Aqui, podemos abrir os olhos
e assumir práticas diferentes, por exemplo, no modo de recolher o lixo e todos os resíduos, com a possível coleta seletiva e tratamento adequado, a diminuição do uso do plástico, a alimentação mais adequada, com práticas e cuidados sustentáveis e mais saudáveis. A nós cabe ajudar o mundo a se transfigurar! Entretanto, só com a conversão a Deus e ao Evangelho entenderemos e nos comprometeremos com tais ideias e iniciativas!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/escada-de-jaco/

19 de março de 2025

Autodomínio dos afetos

Acolher, compreender e integrar: o caminho para a felicidade emocional

Nem suprimir, nem se deixar dominar por nossos afetos, é uma arte necessária que exige equilíbrio emocional com raízes fincadas no autoconhecimento. Muitas vezes, somos tentados a viver dois extremos: ou nos afundamos na tempestade das nossas emoções ou construímos muralhas, no sentido de proteger os nossos afetos com uma postura de indiferença para não sentir nada. O problema é que nem um extremo nem outro pode nos fazer felizes, porque nos aprisiona, e a felicidade tem alicerce na liberdade vivida com responsabilidade e ordenada para o amor que se traduz em uma vivência equilibrada entre o sentir e o orientar nossos sentimentos para o bem, tanto o nosso bem, como e o bem do próximo.

Crédito: PeopleImages/GettyImages

Mas será que existe um caminho seguro que nos leve até lá? A resposta é sim, e a via de condução não está na fuga nem no excesso, mas no aprendizado de acolher os afetos, compreendê-los e integrá-los à nossa vida real no dia a dia. É verdade que não temos controle sobre muitas coisas que nos acontecem, inclusive a manifestação das nossas emoções, mas a forma como escolhemos lidar com elas pode piorar ou melhorar a situação. E, às vezes, o que mais precisamos fazer é "trocar a lente" através da qual estamos vendo as situações para melhor lidarmos com nossas emoções.

Entre a razão e a emoção, o caminho do autoconhecimento

Nesse sentido, o autoconhecimento é vital, pois somente quando conhecemos a raiz das nossas ações, o que nos leva a dar essa ou aquela resposta, é que podemos agir com a estratégia certa de maneira que nossos afetos não nos matem, mas também não morram, mas nos ajudem a cumprir nossa missão no lugar onde Deus nos permite estar com tudo o que somos.

Entre ser refém dos afetos e ignorá-los completamente existe um caminho de liberdade, onde precisamos escolher entre o bem e o mal o tempo todo. Seja nas situações corriqueiras, seja nas mais complexas que podem mudar completamente o rumo da nossa vida. Às vezes, nossos afetos parecem um mar agitado. Sentimos tudo ao mesmo tempo e, se não soubermos nadar contra a correnteza das paixões, podemos nos afogar nelas e tomarmos decisões contrárias aos nossos propósitos e nos arrependermos amargamente depois. Outras vezes, são como um inverno rigoroso, e agimos com indiferença diante dos acontecimentos como se nossos sentimentos estivessem congelados, e nada mais nos abala. Porém, no fundo da alma, sabemos que algo não está acontecendo do jeito que deveria, e isso rouba a nossa paz.

Além do sentir, o caminho para lidar com os afetos

Ou seja, a grande questão está em aprendermos a lidar com nossos afetos, porque o problema não é sentir, mas não saber o que fazer com o que sentimos. E quando não sabemos lidar com uma situação ligada às emoções, a tendência mais lógica é fugirmos dela, embora saibamos que isso pode até aliviar a crise, mas dificilmente resolverá o problema.


Portanto, se seus afetos estão oscilando entre o "mar agitado das emoções e o gelo do inverno", proponha a eles passar pelo desprendimento do outono para chegar à ordem e ao florescimento da primavera. E lembre-se de que isso leva um tempo, a vida saudável e real que você deseja é construída dia após dia entre um acontecimento e outro, e os afetos naturalmente fazem parte desse processo, e educá-los não significa reprimi-los, mas integrá-los à realidade de forma harmônica. "Seja a favor de si mesmo", como ensina São Bernado de Claraval e apresente seus afetos a Deus através da oração, para que Ele lhe ensine a viver em posse da liberdade que Jesus Cristo conquistou para você na cruz, e assim possa lidar com seus afetos sem medo de senti-los, e sem se deixar arrastar por eles.

Dijanira Silva
Missionária Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/autodominio-dos-afetos/

18 de março de 2025

Reparar a criação

A fé em ação, reparando a casa comum

Reparar a Criação é núcleo vigoroso da fé cristã. Os relógios verdadeiros e completos remetem a Cristo, Salvador e Redentor, pela força e méritos de sua paixão, morte e ressurreição. Sem Ele o caminho fica pela metade, o vigor físico e o espiritual colapsam, e não se dá conta da tarefa nobilíssima dada ao ser humano: cuidar da regência no conjunto da Criação, que remete ao próprio Criador. Cuidar da harmonia do planeta é, pois, ação de fé, dedicada a restaurar a Casa Comum depredada e tratada, mesquinhamente, pela ganância do extrativismo, emoldurado estranhamente por uma orgulhosa pretensão humana de querer se apoderar de tudo.

Crédito: oatawa/GettyImages

Reparar a Criação, sinal de conversão e de busca por mudanças, constituição urgência e oportunidade, para consolidar nova conduta humana em relação ao tratamento do meio ambiente . A adoção de novos hábitos capazes de superar a depredação do planeta pede revisão no estilo de vida contemporâneo, com incidências nos campos da política e da economia. Sem novos estilos de vida, a humanidade pode sucumbir às catástrofes climáticas e outras ameaças provocadas pelo desequilíbrio ecológico.

A luz da fé na Quaresma, rumo a um novo estilo de vida

A racionalidade contemporânea não está conseguindo construir entendimentos sociopolíticos capazes de reverter a rotação do planeta. A esperança vem da fé, com a sua luminosidade, que pode concordar com a visão equivocada de que o ser humano é dono do mundo e de tudo o que existe, com direito de decidir, friamente, apenas por cálculos, modos de explorar os bens da Criação.

Uma frieza que leva a cenários de injustiças e perversidades, acentuando desigualdades sociais para consolidar privilégios, muitas vezes por meio de manipulações ganâncias. Compreende-se que o apelo quaresmal da conversão – mudança de rumo na própria conduta – depende da luz que vem da fé. E a conversão contempla uma autoavaliação adequada sobre o modo de se viver na casa comum. Enriquece, pois, o caminho quaresmal buscar tratar uma das mais graves feridas no conjunto da vida contemporânea: revisar estilos de vida para reparar a Criação .

Fé e ecologia integral, um caminho quaresmal para a criação

Pode-se corrigir os descompassos no tratamento dedicado à casa comum tomando consciência da centralidade de Deus-Criador e do lugar a ser ocupado pelo ser humano – criatura escolhida pelo Pai para cuidar da gestão de tudo que integra a Criação. A partir dessa consciência, abre-se um horizonte humanístico que ilumina escolhas, sem permitir irracionalidades, a exemplo da busca gananciosa pelo lucro, mesmo a partir do sacrifício do semelhante.

Quando se confirma a centralidade do Deus-Criador e o papel do ser humano na regência da criação prioriza-se a solidariedade dedicada aos pobres e indefesos.
Recompõe-se o sentido de fraternidade pelo caminho da ecologia integral. Quando o conceito de ecologia integral é compreendido e passa a inspirar as atitudes do ser humano, cria-se caminho para a reconciliação solidária, debela-se o desejo velado e pretensioso de possuir, egoisticamente, os bens da Criação. Ao contrário do que alguns podem até pensar, há profunda relação entre o caminho quaresmal e as dinâmicas propostas pelo conceito de ecologia integral.

Restaurando a criação

A vivência da ecologia integral tem potencial incalculável para conversão, com mudanças profundas na vida pessoal e comunitária. Ao pensar em ecologia integral, observe que o conjunto de relações que pode promover ou ameaçar a vida está interligado com tudo o que existe na natureza. Por isso, não há outro caminho para reparar a Criação senão pela via do relacionamento avançado e sadio, com o desenvolvimento de uma sensibilidade ancorada em Deus – Senhor da história.


Quando se cultiva a sensibilidade relacional tendo Deus, Senhor da história, como fundamento, desenvolve-se uma habilidade para aprimorar lidar com o semelhante, reconhecendo a sua sacralidade. Agir nos parâmetros da ecologia integral fortalece a capacidade para se estabelecer limites, na contramão de autoritarismos, da promoção de esgotamentos homicidas dos recursos humanos e naturais.

Laudato Si: Reciprocidade e responsabilidade 

A destruição do planeta, por sua manipulação e exploração gananciosa é, em si, declarada de morte a quem recebeu a honrosa tarefa de reger os dons da Criação. Vale ter presente uma advertência simples e, ao mesmo tempo, forte, do Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Sì, quando afirma sobre o sentido inegociável de uma relação de reciprocidade entre o ser humano e a natureza. Papa Francisco sublinha que cada comunidade pode tomar posse da Terra aquilo que necessita para a sua sobrevivência, sem ignorar o dever de proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras.

Inscreva-se aqui a necessidade de senso de legislações que não podem se submeter à lógica cega do lucro e deixar, por exemplo, que os nascentes sejam eliminados em nome de uma exploração minerária predatória. Os graves danos ambientais com as suas pesadas consequências expõem a responsabilidade do ser humano de se adotar um novo modo de viver no planeta, conquistado por meio de conversão ecológica. Trata-se do caminho para o desenvolvimento sustentável que é o único modo de debelar o acentuado processo de gestão ambiental da atualidade.

As estatísticas são pavorosas, as catástrofes climáticas batem, de repente, em qualquer porta, como um grito do planeta que pede socorro e convida todos a se dedicarem aos processos de seus componentes. Reparar a Criação é ato de amor que pede o sacrifício de si mesmo, com força de redenção. Uma tarefa nobre a ser assumida pela humanidade, que tem a obrigação de exercer a regência de tudo o que existe e, por isso mesmo, o dever de reparar a Criação.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/reparar-a-criacao/

17 de março de 2025

Ouvir ou escutar? Eis a questão!

A arte de escutar, um caminho para a saúde auditiva e espiritual

Parafraseando Hamlet, personagem da peça homônima de William Shakespeare, todavia fundamentada numa visão formativa e sem perder o viés da reflexão, levanto o questionamento sobre qual é a ação mais salutar, essencial ou producente para a saúde auditiva do ser humano: ouvir ou escutar? Será que há diferenças, contraposição, contiguidade, consonância? A resposta a tal pergunta é uma informação que precisa ser propagada e uma reflexão realizada de forma pessoal e periódica. 0 3 de março é o Dia Mundial da Audição, quando, todos os anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promove uma nova temática com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade acerca da surdez, promovendo ações e iniciativas de prevenção e cuidados contra a deficiência auditiva.

Crédito: Prostock-Studio/ Getty Imagens

E quanto à surdez espiritual? O que podemos fazer para prevenir nossa alma e o nosso ser dessa doença fatal? O ouvido é um sistema ósseo composto por canais por onde passam líquidos que estimulam as células sensoriais do equilíbrio e da audição. O aparelho auditivo do homem é, ao mesmo tempo, um sistema complexo, mecânico, acústico e reflexivo. Qualquer alteração nesse processo pode dificultar a audição ou provocar problemas auditivos e de estabilidade.

O poder da escuta: compreensão, atenção e alteridade

Ouvir ou escutar? Eis a questão! Ouvir provêm do latim audire, que significa perceber o som, é um processo mecânico, ou seja, é a capacidade do ouvido para captar os sons externos como fala, ruídos, melodias, sons contínuos, intermitentes, de alta ou baixa frequência e/ou intensidade. Somente ouvir algo não significa que a informação foi entendida. Para ouvir, é imprescindível que o ouvido esteja saudável, que ele seja capaz de captar as ondas sonoras espalhadas pelos ares, por meio das orelhas externas que funcionam como perfeitos amplificadores sonoros; transmitir este som por meio do ouvido médio, um verdadeiro canal por onde o som vai sendo purificado até chegar ao ouvido interno, no cérebro, onde é processado e compreendido.

Nessa fase, não é mais apenas ouvir, é uma ação mais profunda e complexa, é escutar. Portanto, o verbo escutar, também proveniente do latim auscutare, é o ato de dar atenção e compreender o som que é ouvido. Escutar é uma habilidade que se desenvolve à medida do crescimento e amadurecimento da pessoa, também é um processo consciente e livre da vontade humana para compreender o que é ouvido. É ainda uma atitude de alteridade, onde há respeito, consideração e abertura ao
diálogo com o outro.

Escutar é mais do que dar atenção ao som, é ouvir com o coração. Contudo, tanto para ouvir quanto para escutar, a pessoa precisa ter seu aparelho auditivo íntegro, em perfeitas condições de funcionamento, portanto, deve adotar medidas preventivas e protetivas para com o seu ouvido e cérebro. Uma perda auditiva de menor ou maior intensidade pode causar problemas e dificuldades significativas na vida diária da pessoa, influenciando essencialmente na comunicação, podendo tornar
seus relacionamentos e seu viver mais difíceis.

Seu mundo sem som?

As causas mais frequentes de perdas auditivas são: o uso constante de cotonetes; a exposição a barulhos altos por longos períodos, como ferramentas elétricas; ouvir músicas em alto volume; o envelhecimento natural; barulhos súbitos e muito altos, como disparo de arma de fogo ou proximidade a explosão e infecções do ouvido, particularmente em crianças e jovens adultos. As causas menos comuns de perdas auditivas incluem as doenças autoimune (doenças que levam o sistema imunológico do corpo a atacar os próprios tecidos); doenças sistêmicas como diabetes mellitus e hipertensão arterial que podem alterar a vascularização dos ouvidos e provocar a deterioração do órgão; a genética, isto é, condições que causam surdez ou perdas auditivas herdadas do histórico familiar; defeitos congênitos, onde a pessoa nasce com alguma deformidade no ouvido; o uso de alguns medicamentos ototóxicos que lesam os ouvidos como efeitos colaterais; lesões nas orelhas e tumores dentro do ouvido ou em partes do cérebro e prematuridade infantil.

Sabemos que a perda auditiva pode não ser perceptível inicialmente, e mesmo que nem todos os danos auditivos possam ser evitados, existem algumas atitudes que podem reduzir o risco ou até impedir a perda auditiva relacionada à idade e/ou induzida.

Seguem algumas dicas importantes para serem adotadas e divulgadas.

  1. Realizar o teste da orelhinha, teste fundamental para a detecção precoce dos problemas auditivos na infância.
  2. Evitar barulhos altos por tempo prolongado.
  3. Usar dispositivos de proteção adequados. Em muitas situações, a exposição a ruídos altos é inevitável, como na rotina de profissionais que operam máquinas, atuam em fábricas ou trabalham com música e eventos. Nesse caso, é fundamental seguir as orientações de ergonomia previstas para cada área de atuação.
  4. Usar fones de ouvido com cuidado, o volume deve ser suficiente para ouvir de modo confortável. A OMS estima que mais de 1 bilhão de jovens correm o risco de desenvolver perda auditiva permanente na atualidade devido a essa e outras práticas inseguras.
  5. Manter as orelhas secas, o excesso de umidade nos ouvidos pode facilitar a entrada de bactérias e um possível ataque ao canal auditiva com proliferação bacteriana.
  6. Tratar as infecções adequadamente, seguindo sempre as orientações médicas. É importante ficar atento sempre que perceber sinais de gripes e resfriados fortes e dores no ouvido.
  7. Não introduzir objetos no canal auditivo. Ao colocar qualquer objeto dentro do ouvido, existe o risco de danificar partes sensíveis, como o tímpano e causar perda auditiva. Ter cera no ouvido é normal e importante para a saúde auditiva.
  8. Consultar o otorrinolaringologista sempre que necessário.

Escutar com o coração, a cura para a surdez existencial

Ouvir e escutar com os ouvidos é algo natural ao ser humano. Escutar com o coração também deveria ser, pois essa ação tem o poder não somente de transformar as ondas sonoras em som inteligível, como promove a escuta da própria voz, favorece a compreensão dos nossos semelhantes e nos torna assaz escutadores da voz do Sagrado que habita nosso interior. Quem não escuta com o coração, pode tornar-se um surdo existencial, já não se trata apenas de uma perda auditiva física, mas de uma surdez espiritual, talvez mais grave e nociva à realidade de filho de Deus. Muitas vezes, a causa dessa surdez é o pecado, mas podem ser também as dores, as feridas, os traumas ou os sofrimentos diversos, pois um coração machucado torna-se fechado e isolado, dificilmente se comunica, torna-se surdo, não ouve nada nem ninguém.


Jesus foi um homem que escutou com o coração. Certa vez, levaram um surdo-mudo para que Ele o curasse. Ao tocar-lhe, Jesus disse: "Effathá!", ou seja, "Abra-te". Imediatamente, os ouvidos do homem abriram-se, sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente (Mc 7,35). Antes de se encontrar com Jesus, aquele homem era um sofredor, estava fechado e isolado em um mundo de silêncio, para ele era difícil comunicar-se. Com fé, atitude e no encontro com Deus feito homem, ele foi curado, houve uma abertura partindo dos órgãos auditivos até o coração, o surdo-mudo se abriu para falar e relacionar-se. É isso que Jesus veio fazer. Ele quer nos libertar, nos tornar capazes de viver uma plena relação conosco, com o outro e com o Pai.

"Abre-te!" O chamado divino para uma escuta transformadora

Jesus quer nos ensinar a escutar a voz de Deus, a compreender a linguagem do Amor que fala ao nosso coração. Este ano, o tema proposto pela OMS para o Dia Mundial da Audição é "Mudando mentalidades: empodere-se para tornar o cuidado auditivo uma realidade para todos. É necessário reforçar a importância de atitudes práticas e conscientes para proteger nossa audição e apoiar os deficientes auditivos. E numa atitude de empoderar-se da filiação Divina, todo ser humano é convidado a escutar a voz do Divino Mestre que diz "Abre-te!". Essa é uma palavra dirigida por Deus a cada um de nós. É um convite a não nos fecharmos em nós mesmos, a sermos sensíveis aos problemas e dores dos outros.

Ele pede abertura não só dos ouvidos, mas da vida inteira, é um chamado a escutar e deixar Deus entrar em nosso interior, curar nossas feridas e nos libertar de toda surdez espiritual, pois o pior surdo é aquele que não quer ouvir. Ouvir com os ouvidos e escutar com o coração, eis a nossa meta, eis a nossa missão.

Jací Fagundes
Escritora, Mentora do Simplesmente Mulher, Missionária, Terapeuta, Fonoaudióloga e Filósofa.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/ouvir-ou-escutar-eis-questao/

14 de março de 2025

Da Aldeia da Cova da Iria para o mundo, a serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus

Uma camponesa escolhida por Deus

Seu nome de batismo é Lúcia de Jesus Rosa dos Santos, a mais nova dos sete irmãos, filha de gente simples, seu pai Antônio dos Santos e sua mãe Maria Rosa Ferreira. Uma camponesa que não sabia ler nem escrever. Ela não esperava que, juntamente com os primos, os irmãos Francisco e Jacinta Marto, encontrariam graça diante de Deus, e que lhes seriam revelados os mistérios do Reino dos Céus através das aparições: as do Anjo da Guarda de Portugal, em 1916, e de Nossa Senhora em 1917.

Créditos: Domínio Público

Os três pastorinhos videntes de Fátima

Em cada tempo, Deus tem a pedagogia adequada para atuar no mundo, que passa por pessoas e lugares. E foram as crianças, conhecidas como os três pastorinhos, que Ele quis contar e os fez videntes das Aparições de Fátima. Lúcia, com apenas 10 anos de idade, foi a que via, ouvia e falava com Nossa Senhora, sinais importantes que ajudariam na divulgação da mensagem que recebiam do céu.

Iluminados pelas sagradas escrituras, compreendemos que a lógica da manifestação de Deus é oposta à do mundo: "… o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte" (I Cor 1,27).

A missão revelada a Lúcia

Na aparição de 13 de junho, Nossa Senhora pediu para aprenderem a ler e escrever, revelou que Jacinta e Francisco iriam em breve para o céu, e a missão que Deus tinha para Lúcia: "A Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração". Lúcia pergunta se ficará sozinha e a querida Mãe do céu responde: "Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus".

Fátima, lugar de fé e conversão

Como em Nazaré, um lugar pequeno, inóspito, desconhecido, terra de agricultores, Deus fez da Cova da Iria a mensagem de Fátima ecoar nos corações de milhares de pessoas e se alastrando pelo mundo, tornando Fátima lugar de forte apelo e grande manifestação de fé, conversão, sacrifícios e orações.

A fidelidade de Lúcia após a morte dos primos

Após a morte dos primos pela gripe espanhola, Francisco em abril de 1919, e Jacinta em fevereiro de 1920, coube a Lúcia permanecer fiel a Deus diante do legado dado por Ele através das Aparições. Os sofrimentos não eram poucos: a morte dos primos, a multidão que a procurava, a liberdade restrita, a incompreensão da mãe que não acreditava, as visitas dos enviados pela Igreja para a interrogar. Para poupá-la do assédio das pessoas, o Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, a orienta a partir para a cidade do Porto para estudar.

A sétima aparição, o consolo de Nossa Senhora

Para Lúcia, deixar a sua terra, a casa paterna, o lugar bendito das aparições, desencadeou no seu interior conflitos de sentimentos, e foi tentada a não partir. Nesse momento de conflito interior, Nossa Senhora cumpre a promessa feita a 13 de Maio de 1917: "…voltarei ainda aqui uma sétima vez."


No seu diário de Carmelita, Lúcia registrou esse acontecimento, que só foi revelado após a sua morte: Estava nesta luta, quando foi à Cova da Iria: Assim solícita, mais uma vez desceste à terra, e foi então que senti a Tua mão amiga e maternal tocar-me no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe bendita a dar-me a mão e a indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce timbre da tua voz restituiu a luz e a paz à minha alma: "Aqui estou pela sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser levar, essa é a vontade de Deus."

Repeti então o meu "sim", agora bem mais consciente do que o do dia 13 de maio de 1917, e enquanto que, de novo, Te elevavas ao Céu, como num relance, passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar, havia apenas quatro anos, ali me tinha sido dado contemplar.

A vida religiosa e as memórias de Fátima

Lúcia partiu para o Porto, onde estudou e sentiu o chamado à vida religiosa contemplativa carmelita. Porém, nesse período, houve a extinção das Ordens religiosas em Portugal, que a levou a entrar para as Irmãs Doroteias. Foi em Vilar, no Porto, que escreveu, a pedido do Bispo Dom José Alves, "As memórias da Irmã Lúcia I", onde relatava a vida dos primos e as suas virtudes heroicas, os santos Francisco e Jacinta. Irmã Lúcia escreveu também outros livros.

Aparições em Pontevedra e Tuy

Ela viveu em Tuy e Pontevedra, na Espanha, onde aconteceram algumas aparições: Em Pontevedra, a 10 de dezembro de 1925, Nossa Senhora pediu que "durante cinco meses, ao primeiro sábado, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas. Em Tuy, a 19 de junho de 1929, lhe apareceu a Santíssima Trindade e Nossa Senhora, trazendo a mensagem que Deus pedia para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio.

A vida no carmelo e a devoção ao Imaculado Coração de Maria

A 25 de março de 1948, Lúcia ingressou no Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, Portugal, e, mesmo no claustro do Carmelo, viveu a Prática Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, conforme lhe pediu Nossa Senhora. Do silêncio do Carmelo, realizou a sua missão de levar a Devoção ao Imaculado Coração de Maria ao mundo. De vida simples, alegre e serviçal, viveu como todas as outras irmãs, porém única portadora da Mensagem recebida do céu. Conforme os escritos no seu diário espiritual, a Solicita Mãe Celeste nunca a deixou e continuou lhe aparecendo no Carmelo.

Guardiã da mensagem de Fátima

Foi guardiã da Mensagem de Fátima, uma profeta da graça e misericórdia que Deus quer derramar sobre o mundo. A sua vida foi sempre oferecida em união com Jesus Eucarístico e com o Coração Imaculado de Maria, pela Igreja e pela conversão dos  pecadores. Diante dos sofrimentos interiores que vivia, Ir. Lúcia permaneceu dócil e obediente à voz de Deus através da Igreja até os últimos momentos de sua vida no Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, partindo para o céu a 13 de Fevereiro de 2005, aos 97 anos, após escutar a leitura do telegrama de São João Paulo II.

O caminho para a santidade

Pela vida virtuosa e exemplar, foi reconhecida Venerável, e para alcançar a honra dos altares e ser declarada santa, precisará de um milagre reconhecido e aprovado pela Igreja para ser Beatificada, como também outro milagre para a canonização.

Venerável Irmã Lúcia de Jesus, rogai por nós!

Nilza Pires 
Misssionária Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/da-aldeia-da-cova-da-iria-para-o-mundo-serva-de-deus-irma-lucia-de-jesus/