6 de março de 2025

Santa Rosa de Viterbo, a pequena gigante da fé

A fé inquebrável de Santa Rosa de Viterbo

Rosa é prova e testemunho para nós de que mesmo uma vida breve e simples pode ser extraordinária e admirável, influenciando milhares de pessoas no transcorrer dos séculos. Sua fé, enraizada no amor, dava-lhe autenticidade. Todos sabiam que ela pregava sobre aquilo em que firmemente acreditava, sobre aquilo que vivia, sobre aquilo que sinceramente amava e sentia.

Crédito: Bartolome Esteban / Domínio Público

Um nascimento excepcional

Seu nascimento já indicava algo excepcional, pois quem nascia com o esterno – osso na parte anterior do tórax – era condenado a morrer em três anos, porque seu esqueleto não consegue ser sustentado. No entanto, Rosa viveu 18 anos, sempre com o sorriso nos lábios.

Isso fez-me lembrar o que nos ensinava Monsenhor Jonas Abib: ele dizia a nós, missionários da Canção Nova, que teríamos um hábito (ou seja, um vestimento religioso diferenciado), mas que o nosso hábito, o que nos distinguiria como Canção Nova, seria nosso sorriso. O sorriso é algo poderoso e muito evangelizador, pois nos acolhe sem julgamentos.

Rosa, não podendo receber o hábito religioso, entrou para a Ordem Terceira de São Francisco e começou a percorrer toda a cidade, com uma cruz no pescoço, levando uma vida de penitência e de caridade com os pobres e enfermos.

Um contexto de conflitos

Rosa viveu numa época de grandes confrontos entre os poderes do pontificado e do imperador, somados aos conflitos civis provocados por duas famílias que disputavam o governo da cidade de Viterbo. Ela nasceu nesta cidade num dia incerto do ano de 1234. Os pais, João e Catarina, eram cristãos fervorosos. Então, o contexto social e histórico era muito conflituoso.


Rosa teria muitas justificativas para explicar sua impossibilidade de fazer algo pelo outro. Mas ela não se deu por vencida, pois quem tem seu coração verdadeiramente abrasado pelo amor de Deus não consegue se conter e sente uma imperiosa necessidade de levar esse amor a outros. Como sua mãe, Catarina, trabalhava com as Irmãs Clarissas do mosteiro da cidade, Rosa recebeu a influência da espiritualidade franciscana ainda muito pequena.

Dons especiais e amor incondicional

Ela era uma criança carismática, possuía dons especiais e um amor incondicional ao Senhor e a Virgem Maria. Dizem que, com apenas três anos de idade, transformava pães em rosas e, aos sete, pregava nas praças, convertendo multidões. Aos doze anos, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco por causa de uma visão em que Nossa Senhora assim lhe determinava.

Defesa da fé e exílio

No ano de 1247, a cidade de Viterbo, fiel ao Papa, caiu nas mãos do imperador Frederico II, um herege que negava a autoridade do Papa e o poder do Sacerdote de perdoar os pecados e consagrar. Lembrando que o próprio Jesus deixou bem claro para Pedro o poder de ligar e desligar nos céus. Está em Mateus 16,19: "Eu lhe darei as chaves do Reino dos Céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus; e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus".

Rosa teve outra visão, desta vez com Cristo, que estava com o coração em chamas. Ela não se conteve, saiu pelas ruas pregando com um crucifixo nas mãos. A notícia correu toda a cidade, muitos foram estimulados na fé, e vários hereges se converteram. Com suas palavras, confundia até os mais preparados. Por isso, representava uma ameaça para as autoridades locais.

Em 1250, o prefeito a condenou ao exílio. Rosa e seus pais foram morar em Soriano, onde sua fama já havia chegado.

Retorno e morte

Na noite de 5 de dezembro de 1251, Rosa recebeu a visita de um anjo que lhe revelou que o imperador Frederico II, uma semana depois, morreria. O que de fato aconteceu. Com isso, o poder dos hereges enfraqueceu, e Rosa pôde retornar a Viterbo. Toda a região voltou a viver em paz. No dia 6 de março de 1252, sem agonia, ela morreu.

O processo de canonização

No mesmo ano, o Papa Inocêncio IV mandou instaurar o processo para a canonização de Rosa. Cinco anos depois, o mesmo Pontífice mandou exumar o corpo e, para a surpresa de todos, ele foi encontrado intacto. O convento das Irmãs Clarissas, que nesta cerimônia passou a se chamar Convento de Santa Rosa.

Depois dessa cerimônia, a Santa só foi "canonizada" pelo povo, porque, curiosamente, o processo nunca foi promulgado. A canonização de Rosa ficou assim, nunca foi oficializada. Mas também nunca foi negada pelo Papa e pela Igreja. Santa Rosa de Viterbo, desde o momento de sua morte, foi "canonizada" pelo povo.

Um legado de fé

Sua vida demonstra a força e a luz de alguém que abraça a fé com determinação e plenitude. A presença de Deus nessas almas torna-se palpável e concreta para aqueles que as circundam. Aprendamos com Santa Rosa a abraçar a fé com firmeza e integridade, não importa as circunstâncias que nos cerquem.

Santa Rosa de Viterbo, rogai por nós!

Edvânia Duarte Eleutério
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/santa-rosa-de-viterbo-pequena-gigante-da-fe/

5 de março de 2025

Conversão e Penitência

– Fomentar a conversão do coração, especialmente durante este tempo.
– Obras de penitência: o jejum, a mortificação, a esmola…
– A Quaresma, um tempo para nos aproximarmos mais de Deus.

I. COMEÇA A QUARESMA, tempo de penitência e de renovação interior para prepararmos a Páscoa do Senhor 1A liturgia da Igreja convida-nos com insistência a purificar a nossa alma e a recomeçar novamente.

Diz o Senhor Todo-Poderoso: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, com jejum, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai os vossos corações, não as vossas vestes; convertei-vos ao Senhor vosso Deus, porque ele é compassivo e misericordioso… 2, lemos na primeira leitura da Missa de hoje. E quando o sacerdote impuser as cinzas sobre as nossas cabeças, recordar-nos-á as palavras do Gênesis, depois do pecado original: "Memento homo, quia pulvis es…Lembra-te, ó homem, de que és pó e em pó te hás de tornar 3.

"Memento homo…Lembra-te… E, não obstante, às vezes esquecemos que sem o Senhor não somos nada. "Sem Deus, nada resta da grandeza do homem senão este montinho de pó sobre um prato, numa ponta do altar, nesta Quarta-feira de Cinzas, com o qual a Igreja nos deposita na testa como que a nossa própria substância" 4.

O Senhor quer que nos desapeguemos das coisas da terra para que possamos dirigir-nos a Ele, e que nos afastemos do pecado, que envelhece e mata, e retornemos à fonte da Vida e da alegria: "O próprio Jesus Cristo é a graça mais sublime de toda a Quaresma. É Ele quem se apresenta diante de nós na simplicidade admirável do Evangelho" 5.

Dirigir o coração a Deus, converter-se, significa estarmos dispostos a empregar todos os meios para viver como Ele espera que vivamos, a não tentar servir a dois senhores 6, a afastar da vida qualquer pecado deliberado. Jesus procura em nós um coração contrito, conhecedor das suas faltas e pecados e disposto a eliminá-los. Então lembrar-vos-eis do vosso proceder perverso e dos vossos dias que não foram bons… 7. O Senhor deseja uma dor sincera dos pecados, que se manifestará antes de mais nada na Confissão sacramental: "Converter-se quer dizer para nós procurar novamente o perdão e a força de Deus no sacramento da reconciliação e assim recomeçar sempre, avançar diariamente" 8.

Para fomentar em nós a contrição, a liturgia de hoje propõe-nos o salmo com que o rei David manifestou o seu arrependimento, o mesmo com que tantos santos suplicaram o perdão de Deus.

Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E, segundo a imensidão da vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade, dizemos a Jesus com o profeta real.

Lavai-me totalmente da minha falta e purificai-me do meu pecado. Eu reconheço a minha iniqüidade e tenho sempre diante de mim o meu pecado. Somente contra Vós pequei.

Ó meu Deus, criai em mim um coração puro e renovai-me o espírito de firmeza. Não me expulseis para longe do vosso rosto, não me priveis do vosso santo espírito.

Restituí-me a alegria da salvação e sustentai-me com uma vontade generosa. Senhor, abri os meus lábios a fim de que a minha boca anuncie os vossos louvores 9.

O Senhor nos atenderá se no dia de hoje repetirmos de todo o coração, como uma jaculatória: Ó meu Deus, criai em mim um coração puro e renovai-me o espírito de firmeza.

II. O SENHOR também nos pede hoje um sacrifício um pouco especial: a abstinência e, além dela, o jejum, pois o jejum "fortifica o espírito, mortificando a carne e a sua sensualidade; eleva a alma a Deus; abate a concupiscência, dando forças para vencer e amortecer as suas paixões, e prepara o coração para que não procure outra coisa senão agradar a Deus em tudo" 10.

Além destas manifestações de penitência (a abstinência de carne a partir dos 14 anos e o jejum entre os 18 e os 59 completos), que nos aproximam do Senhor e dão à alma uma alegria especial, a Igreja pede-nos também que pratiquemos a esmola que, oferecida com um coração misericordioso, deseja levar um pouco de consolo aos que passam por privações ou contribuir conforme as possibilidades de cada um para uma obra apostólica em bem das almas. "Todos os cristãos podem praticar a esmola, não só os ricos e abastados, mas mesmo os de posição média e ainda os pobres; deste modo, embora sejam desiguais pela sua capacidade de dar esmola, são semelhantes no amor e afeto com que a praticam" 11.

O desprendimento das coisas materiais, a mortificação e a abstinência purificam os nossos pecados e ajudam-nos a encontrar o Senhor. Porque "quem procura a Deus querendo continuar com os seus gostos, procura-o de noite e, de noite, não o encontrará" 12.

A fonte desta mortificação está principalmente no trabalho diário: nos pormenores de ordem, na pontualidade com que começamos as nossas tarefas, na intensidade com que as realizamos; na convivência com os colegas, que nos deparará ocasiões de mortificar o nosso egoísmo e de contribuir para criar um clima mais agradável à nossa volta. "Mortificações que não mortifiquem os outros, que nos tornem mais delicados, mais compreensivos, mais abertos a todos. Não seremos mortificados se formos suscetíveis, se estivermos preocupados apenas com os nossos egoísmos, se esmagarmos os outros, se não nos soubermos privar do supérfluo e, às vezes, do necessário; se nos entristecermos quando as coisas não correm como tínhamos previsto. Pelo contrário, seremos mortificados se nos soubermos fazer tudo para todos, para salvar a todos (I Cor 9, 22)" 13Cada um de nós deve preparar um plano concreto de pequenos sacrifícios para oferecer ao Senhor diariamente nesta Quaresma.

III. NÃO PODEMOS DEIXAR passar este dia sem fomentar na alma um desejo profundo e eficaz de voltar uma vez mais para Deus, como o filho pródigo, a fim de estarmos mais perto dEle. São Paulo, na segunda leitura da Missa, diz que este é um tempo excelente que devemos aproveitar para nos convertermos: Nós vos exortamos a não receber a graça de Deus em vão […]. Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação 14E o Senhor nos repete a cada um, na intimidade do coração: Convertei-vos. Voltai-vos para mim de todo o coração.

Abre-se agora um tempo em que este recomeçar em Cristo se irá apoiar numa particular graça de Deus, própria do tempo litúrgico que começamos. Por isso, a mensagem da Quaresma está repassada de alegria e de esperança, ainda que seja uma mensagem de penitência e mortificação.

"Quando algum de nós reconhece estar triste, deve pensar: é que não estou suficientemente perto de Cristo. E o mesmo deve pensar quando reconhece em si uma clara tendência para o mau humor, para a irritação. E não deve pretender jogar a culpa nas coisas que tem à sua volta, pois seria um erro e uma maneira de se desorientar na procura da causa dos seus estados de ânimo" 15.

Às vezes, certa apatia ou tristeza espiritual pode ser motivada pelo cansaço, pela doença…, mas com muito mais freqüência procede da falta de generosidade em corresponder ao que o Senhor nos pede, do pouco esforço em mortificar os sentidos, da falta de preocupação pelos outros. Em resumo, de um estado de tibieza.

Em Cristo encontramos sempre o remédio para uma possível tibieza e as forças para vencer defeitos que de outro modo seriam insuperáveis. Quando alguém diz: "Sou irremediavelmente preguiçoso, não sou tenaz, não consigo terminar as coisas que começo, deveria pensar (hoje): Não estou tão perto de Cristo como deveria.

"Por isso, aquilo que cada um de nós possa reconhecer na sua vida como defeito, como doença, deveria ser imediatamente referido a este exame íntimo e direto: Não sou perseverante? Não estou perto de Cristo. Não sinto alegria? Não estou perto de Cristo. Vou deixar de pensar que a culpa é do trabalho, que a culpa é da família, dos pais ou dos filhos… Não. A culpa íntima é do fato de eu não estar perto de Cristo. E Cristo me está dizendo: Volta. Voltai-vos para mim de todo o coração.

"[…] Tempo para que cada um se sinta urgido por Jesus Cristo. Para que os que alguma vez se sentiram inclinados a adiar esta decisão saibam que chegou o momento. Para que os que estão dominados pelo pessimismo, pensando que os seus defeitos não têm remédio, saibam que chegou o momento. Começa a Quaresma; vamos encará-la como um tempo de mudança e de esperança" 16.

(1) Cfr. Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 109; (2) Joel 2, 12; (3) Gên 3, 19; (4) J. Leclercq, Siguiendo el año litúrgico, Madrid, 1957, pág. 117; (5) João Paulo II, Homilia da Quarta-feira de Cinzas, 28-II-1979; (6) cfr. Mt 6, 24; (7) Ez 36, 31-32; (8) João Paulo II, Carta Novo incipiente, 8-IV-1979; (9) Sl 50, 3-6.12-14.17; (10) São Francisco de Sales, Sermão sobre o jejum; (11) São Leão Magno,Liturgia das Horas. Segunda leitura da quinta-feira depois das Cinzas; (12) São João da Cruz, Cântico espiritual, 3, 3; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, 3ª ed., Quadrante, São Paulo, n. 9; (14) 2 Cor 5, 20; Segunda leitura da Missa da Quarta-feira de Cinzas; (15) A. M. García Dorronsoro, Tiempo para creer, pág. 118; (16) ib.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Fonte: https://institutohesed.org.br/conversao-e-penitencia-2/

4 de março de 2025

O tesouro do bom coração

A prova da tribulação e os frutos do coração

"Como o forno prova os vasos do oleiro, assim é a prova da tribulação para os justos. O fruto revela como foi cultivada a árvore: assim, a palavra que provém do pensamento do coração" (Eclo 27,6-7). A Liturgia da Igreja do Oitavo Domingo do Tempo Comum nos conduz ao Coração! Coração de Cristo, aberto pela lança na Cruz, fonte inesgotável que se oferece continuamente no Sacrifício do Altar, atraindo todos a ele! Coração de cada homem e de cada mulher, chamados a tirar do seu tesouro o bem que foi plantado pela graça, para produzir frutos (cf. Lc 6,39-45).

Crédito: Rouzes/GettyImages

Coração ardoroso do Apóstolo São Paulo, na convicção proclamada com toda força de que a vitória sobre a morte e o pecado nos foi garantida pelo Senhor nosso, Jesus Cristo (cf. 1 Cor 15,54-58). Paulo está convicto de que Deus "quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade, pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos" (cf. 1 Tm 2,4-7).

Cristo, o mediador

Deus não fez ninguém para a perdição ou para ficar "amassando barro" na miséria e na tristeza. Podemos fazer uma verdadeira viagem ao coração de cada pessoa, e descobrir, lá dentro, a semente do bem e o anseio pela verdade.

De fato, mesmo quando pecamos, acontece algo misterioso e desafiador, pois, pelo menos, naquele momento, por defeito na formação da personalidade, por vícios adquiridos ou por hábito de maldade e pecado, naquele momento, o erro nos pareceu o melhor, o que não justifica o erro, mas ajuda a entender e buscar caminhos para a eventual correção de rota.

O tesouro do bom coração, um caminho para a santidade

A experiência com os viciados em drogas que buscam a recuperação na Fazenda da Esperança tem nos ajudado
a redescobrir este substrato de bondade plantado por Deus em todas as pessoas, jovens e adultos que, às vezes de inconsciente, clamam por ajuda e pela necessária luz, a fim de encontrar o caminho da verdade e da santidade.

Nesta "viagem", desejamos propor uma operação de limpeza dos resquícios de maus sentimentos, invejas, ódio, ciúme, práticas caluniosas e espírito de destruição, coisas que só estragam o tesouro precioso de nosso bom coração. Com esta certeza, coloquemo-nos todos no mesmo barco da vida para os necessários apelos a uma vida santa. Pode ser um belo passo a recomendação de tirar do tesouro do bom coração coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52; Lc 6,52).

O bem que habita em nós

Se existe, podemos dizer, uma reserva de maldade dentro do coração que é mau, maior é a reserva de bondade
no bom tesouro do coração. O exercício pode ser a reação positiva e construtiva diante da vida e das atitudes dos outros, a capacidade de elogiar e estimular as pessoas que estão amadurecendo na fé, as iniciativas do bem em nossos ambientes de convivência e em nossas famílias, a disposição para dar o primeiro passo de criatividade ou de perdão, a disposição para associar-nos a pessoas que estão levando adiante projetos de bem comum e uma série de ações que o Espírito Santo certamente inspirará a cada um de nós.

Aproveitemos para fazer uma pergunta positivamente provocante: o que cada um de nós tem de melhor? Ocorre-me propor um exame de consciência do lado positivo e construtivo. Agradeçamos a Deus e comprometamo-nos a colocar à disposição dos outros aquilo que temos. É bom que tal exame de consciência comece com a pergunta sobre o que Deus pensa de nós.

Encontrando o bem e partilhando a graça

Certamente, teremos boas surpresas, pois ele nos fez por amor e para amá-lo e amar o próximo, e tem uma visão melhor a respeito de nossa história. Deus nos conhece mais do que nós mesmos! Ao fazer este exame, um bom passo será reconhecer o bem que praticamos e encontramos. Uma vida sem louvor e ação de graças não é propriamente cristã, ainda que a muitos possa parecer até realista.

Se o homem bom "tira coisas boas de seu bom coração", desejamos indicar outro passo correspondente às graças que Deus nos dá, que é a partilha das experiências na vivência do Evangelho. Voltando à experiência da Fazenda da Esperança, a que nos referimos, nosso método de recuperação é baseado na convivência sadia, nas atividades
laborativas em voluntariado e na espiritualidade.

Comunhão, a chave da recuperação

Nunca fazemos palestras ou instruções sobre drogadição, pois nosso público está repleto de informações e de práticas, das quais quer libertar-se! Duas formas de partilha ajudam a crescer na vivência evangélica, a saber, a comunhão de alma, quando cada pessoa partilha sua caminhada e a situação em que se encontra, e vêm à tona tesouros impressionantes, e depois a comunhão de experiências da Palavra de Deus vivida.


Uma palavra, comunhão, que expressa a chave do processo de recuperação! Se a experiência da Fazenda da Esperança gera frutos impressionantes de conversão e de vida nova, será excelente levar algo semelhante às nossas famílias, comunidades e Paróquias. Muitas de nossas reuniões e encontros têm estilo de "lavar roupa suja", havendo uma inexplicável dificuldade em falar com clareza do bem que procuramos e colocamos em prática, para edificação recíproca.

O caminho da edificação, conforto, amor e paz

Recordemo-nos mais uma vez do Apóstolo São Paulo: "Confortai-vos e edificai-vos uns aos outros, como aliás já fazeis. Pedimos-vos, irmãos, que tenhais toda a consideração para com aqueles que se afadigam entre vós e, no Senhor, vos presidem e admoestam. Cercai-os de estima e de extremado amor em razão do seu trabalho. Conservai a paz entre vós. Pedimos-vos, irmãos: chamai a atenção dos que levam vida desordenada, animai os tímidos, sustentai os fracos, sede pacientes para com todos.

Tomai cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas procurai sempre o bem entre vós e para com todos. Estai sempre alegres. Orai continuamente. Dai graças, em toda e qualquer situação, porque esta é a vontade de Deus, no Cristo Jesus, a vosso respeito" (cf. 1Ts. 5,12-17). E edificaremos o bem, a partir do bom coração!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-tesouro-do-bom-coracao/

28 de fevereiro de 2025

Teologia da Prosperidade à luz da Doutrina Católica

A chamada "Teologia da Prosperidade" tem sido um tópico amplamente debatido dentro do cristianismo, especialmente entre as denominações protestantes neopentecostais. Entretanto, a Igreja Católica assume uma postura crítica em relação a essa abordagem, considerando-a uma distorção do verdadeiro Evangelho de Cristo. Neste artigo, exploraremos o conceito de Teologia da Prosperidade, seus fundamentos, sua incompatibilidade com a Doutrina Católica e as diretrizes da Igreja sobre o assunto.

O que é Teologia da Prosperidade?

A Teologia da Prosperidade é uma doutrina que ensina que a fé em Deus resulta diretamente em bênçãos materiais e saúde física. Essa crença é baseada em uma interpretação literal de certas passagens bíblicas, tais como:

Malaquias 3,10: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja alimento na minha casa. E provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, e vede se eu não vos abrirei as comportas dos céus, e não derramarei sobre vós uma bênção tal, que vos advenha a maior abastança".

João 10,10: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância."

Os pregadores da Teologia da Prosperidade argumentam que Deus deseja que todos os crentes sejam financeiramente prósperos e saudáveis, e que essa prosperidade pode ser alcançada por meio da fé e de contribuições financeiras à Igreja.

A posição da Igreja Católica

A Igreja Católica rejeita a Teologia da Prosperidade por várias razões, e a principal delas é que ela distorce a verdadeira mensagem do Evangelho. Em 2018, o Papa Francisco disse que essa teologia é "uma falácia" e "uma visão enganosa do cristianismo". A Igreja ensina que o sofrimento e a cruz fazem parte do caminho cristão e que a busca desenfreada por riquezas pode ser um obstáculo à salvação.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) reforça esta posição:

CIC 2444: "Os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho, e o amor por eles inspirado pela caridade de Cristo torna-se critério de autenticidade da nossa vida cristã."

CCC 2544-2547: A Igreja recorda que Jesus chamou seus discípulos a uma atitude de desapego dos bens materiais, alertando contra a ganância e a busca desenfreada de riquezas.

Além disso, em vários documentos, como a encíclica Evangelii Gaudium (2013), o Papa Francisco alerta para os perigos do materialismo e do culto ao dinheiro, que afastam as pessoas do verdadeiro significado da fé.

Crédito: Deagreez / GettyImages

Prosperidade no contexto bíblico e católico

A Bíblia não nega a importância dos bens materiais, mas ensina que eles não devem ser o centro da vida cristã. Jesus Cristo nos deu o exemplo supremo de humildade e desapego, nascendo em uma manjedoura e vivendo uma vida simples. Algumas passagens da Bíblia que são contrárias à Teologia da Prosperidade incluem:

Mateus 6,24: "Ninguém pode servir a dois senhores; Ou ele odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas."

Lucas 16,19-31: A parábola do homem rico e Lázaro ensina que aqueles que confiam nas riquezas podem perder a vida eterna.

Mateus 19,21: "Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que você tem e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu; Então venha e siga-me."

A Igreja ensina que a verdadeira prosperidade não é encontrada na riqueza material, mas na graça de Deus e na comunhão com Ele. Santos como São Francisco de Assis, Santa Teresa de Calcutá e São Vicente de Paulo demonstraram por suas vidas que a verdadeira riqueza é encontrada na caridade e na dedicação a Deus.

Os perigos da Teologia da Prosperidade

Além de distorcer o Evangelho, a Teologia da Prosperidade apresenta outros perigos, como:

Culpar o indivíduo pela pobreza – Muitos pregadores dessa teologia ensinam que a falta de prosperidade é resultado da falta de fé ou do pecado, o que contradiz a Doutrina Católica sobre a dignidade dos pobres.

Transforma Deus em um meio para um fim – Em vez de buscar Deus por amor e santidade, a Teologia da Prosperidade incentiva a busca por bênçãos materiais.

Ela tira o foco da cruz – O sofrimento faz parte da vida cristã, e a Teologia da Prosperidade ignora o chamado de Jesus para carregar a cruz.

A Igreja Católica rejeita a Teologia da Prosperidade porque ela distorce a mensagem central do Evangelho. A verdadeira fé cristã não se baseia em promessas de riqueza material, mas no amor a Deus, no serviço ao próximo e na busca pela santidade. A prosperidade que Jesus oferece é a vida eterna, não o acúmulo de bens terrenos. Como cristãos católicos, somos chamados a viver com generosidade, desapego e confiança na providência divina, colocando sempre Deus acima de qualquer riqueza mundana.

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova


Referências

Catecismo da Igreja Católica

Evangelii Gaudium, Papa Francisco


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/teologia-da-prosperidade-e-a-igreja-catolica/

27 de fevereiro de 2025

Lições de um jovem para a santidade

As virtudes de São Gabriel da Virgem Dolorosa

São Gabriel da Virgem Dolorosa, cuja memória celebramos em 27 de fevereiro, é um referencial que todos os jovens contemporâneos deveriam conhecer. Assim como Santa Teresinha do Menino Jesus, este santo morreu muito jovem, aos 24 anos, mas sua vida profundamente virtuosa e exemplar, ainda que breve, serve como bússola para quem busca sentido para uma vida frutuosa.

Créditos: cancaonova.com

Vale a pena acompanhar mais de perto a vida deste jovem santo para aprendermos como ele reagia frente a cada exigência da vida. São Gabriel era seu nome religioso; o de batismo, Francisco Possenti. Nascido em 1838, em Assis, Francisco teve uma infância bem cuidada, com espiritualidade e atenção ao caráter, o que faz muita diferença. É como a boa semente que germina no tempo devido e dá muitos frutos.

Os fundamentos da fé de Francisco

Veja o testemunho dos irmãos no Processo da beatificação do Servo de Deus: "Nós fomos educados com o máximo cuidado, no que diz respeito à piedade e à instrução. Nossa mãe era piedosíssima e nos educou segundo as máximas da nossa santa Religião".

Nos braços e sobre os joelhos de uma mãe profundamente religiosa, o pequeno Francisco aprendeu os rudimentos da vida cristã e a pronunciar os santos nomes de Jesus e Maria. Do pai, o próprio Francisco disse ao seu diretor espiritual: "Meu pai tinha por costume levantar-se bem cedo, dedicava uma hora à oração e meditação. Terminadas estas, ia à igreja assistir à santa Missa e levava consigo os filhos que não fossem impedidos. Finda a Santa Missa, metia-se ao trabalho. À noite, reunia seus filhos e dava-lhes sábios conselhos e úteis exortações. Falava-lhes dos deveres para com Deus, do respeito devido à autoridade paternal e do perigo das más companhias."

Francisco, um jovem entre a obediência e a vaidade

Não só da espiritualidade, mas também do caráter eram os cuidados recebidos naquela família. Seu pai não era daqueles que desculpam os caprichos de seus filhos, sem pensar que mais tarde teriam de pagar bem caro esta condescendência e fraqueza. Francisco era obediente e respeitava o pai, o que não o impedia de demonstrar seu descontentamento e raiva. Mas logo voltava às boas e pedia perdão.

Com os irmãos, era o anjo da paz, sempre pronto para desculpar e defendê-los. Não suportava a injúria, contra si ou contra um dos seus. Com a maior facilidade se desfazia de objetos de certo valor que ganhasse. Naquela casa se encontrava amor, firmeza e presença.

Apesar de piedoso, Francisco, no verdor dos anos, revelava-se um tanto inconstante, volúvel e irascível. Era, ao mesmo tempo, vaidoso, querendo se trajar sempre com esmero e conforme a moda. Frequentava as reuniões joviais e se entregava com ardor e entusiasmo aos divertimentos frívolos, ainda que sempre honestos. Os desafios apresentados à juventude daquele tempo continuam semelhantes, apenas com novos aspectos e nomes. Os modismos, o materialismo e o desejo desordenado de aproveitar ao máximo podem confundir os jovens na caminhada da vida.

O caminho da vida verdadeira

O que os jovens precisam aprender é que esta vida não é o fim último dessa caminhada, mas sim um meio para alcançar a vida verdadeira, a eterna. Os jovens precisam aprender a distinguir aquilo que traz o selo do eterno e, portanto, tem valor real, daquilo que pode conferir um grande prazer imediato, mas é passageiro e efêmero. Para isso, contribuirão uma vida de oração e a frequência aos sacramentos.

Com Francisco, a frequente recepção da santa comunhão preservou-o de graves desvios no meio das tentações do mundo, ajudando-o na distinção entre efêmero e eterno. Aprender a fazer essa distinção diz muito sobre o amadurecimento do jovem, e assim ocorreu com Gabriel. "Muitas vezes" – diz quem bem o conhecia – "Possenti sentiu o chamado de Deus, de deixar a vida no mundo e trocá-la pelo estado religioso". Seu diretor, Pe. Norberto, Passionista, declara: "A vocação, se bem que descuidada e sufocada, estava nele havia muito tempo e ele a sentiu desde os mais tenros anos".

A voz da virgem e a confirmação da vocação de São Gabriel

A vida também vai dando seus sinais, apontando aquilo que tem valor verdadeiro. No caso de São Gabriel, dois fatos chamam a atenção. Primeiro, na prática de uma de suas paixões, a caça, o fuzil disparou e o projétil passou-lhe rente à testa, pouco faltando para lhe rebentar o crânio. Francisco, reconhecendo logo a providência deste aviso, renovou sua promessa de entregar sua vida a Deus. Mas logo arrefeceu de seus propósitos.


Em segundo lugar, Maria Luísa, sua irmã 9 anos mais velha, a quem ele era muito ligado, faleceu de cólera, e isso o abalou tanto que ficou deprimido. Depois, quis novamente entrar para a vida religiosa. Mas seu pai o dissuadiu. Essa entrega só se concretizou depois que, em frente à imagem da Virgem Maria, pareceu-lhe ouvi-la dizendo: "Francisco, o mundo não é para ti; a vida no convento te espera". Para um bom discernimento, procurou o conselho de pessoas maduras e sábias, e todos confirmaram a vocação.

São Gabriel da Virgem Dolorosa, um exemplo de amor a Cristo crucificado

Entrando para os Passionistas, em 21 de setembro de 1856, recebeu o hábito com o nome de Gabriel dell'Addolorata. Chamava a atenção de todos o seu amor a Jesus Crucificado, à Eucaristia e a Nossa Senhora das Dores. Aos 23 anos, apareceram os primeiros sintomas da tuberculose pulmonar que o levaria ao túmulo.

Momentos antes da morte, o agonizante, que parecia dormir, de repente, todo sorridente, como que tomado de uma grande comoção diante de uma visão impressionante, deu um profundo suspiro de afeto e, nesta atitude, sempre sorridente, com as mãos apertando as imagens do crucifixo e da Mater Dolorosa, passou desta vida para a outra. Que São Gabriel interceda por nós e nos ajude no caminho rumo à eternidade!

Edvânia Eleutério
Missionária Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/licoes-de-um-jovem-para-santidade/

25 de fevereiro de 2025

O Bom Samaritano 2.0: como ser um herói nas redes sociais hoje em dia?

Do scrolling à esperança, como comunicar com o coração nas redes sociais

A comunicação na Igreja é uma resposta ao mandado de Cristo: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todos" (Mc 16, 15). De fato, em um mundo cada vez mais conectado, mas frequentemente desconectado em termos de valores e compreensão mútua, a comunicação assume um papel crucial na construção de pontes entre as pessoas.

Este ano, a Igreja celebra o 59º Dia Mundial das Comunicações, no dia 1º de junho, com o tema "Partilhai com mansidão, a esperança que está nos vossos corações" (cf. 1 Pd 3,15-16).

O Bom Samaritano 2.0, como ser um heroi nas redes sociais hoje em dia?

Crédito: Thx4Stock / GettyImages

Nesse contexto, o Papa Francisco alerta para um outro fenômeno preocupante: "poderíamos designá-lo como a 'dispersão programada da atenção' através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa percepção da realidade".

Poder da proximidade

O Papa Francisco ressalta o "poder da proximidade" representado pela parábola do Bom Samaritano. A comunicação precisa gerar esperança. Nesse sentido, não se pode limitar à transmissão de informações, mas levar a uma relação profunda com o próximo, levando uma palavra de consolo e esperança. Não basta comunicar a verdade, é preciso também ser verdadeiro.

Ao longo dos séculos, a Igreja Católica tem sido uma força ativa nesse processo. Ela compreende a comunicação como meio poderoso para aproximar pessoas. Neste contexto especial do Jubileu das Comunicações, apresenta o Bom Samaritano como modelo do bom comunicador.

O poder da palavra na era digital

Entre as maravilhosas invenções da técnica desenvolvidas ao longo da história, a Igreja vê com bons olhos o avanço dos meios de comunicação. Em um momento de grande inspiração, que foi o Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI afirmou, no Decreto Inter Mirifica, que a Mãe Igreja sabe que a reta utilização desses meios torna-se ajuda valiosa na propagação do Reino de Deus.


Alerta, porém, para o risco de "utilizar tais meios contra o desígnio do Criador e convertê-los em meios da sua própria ruína". Por ocasião do Jubileu dos Comunicadores, em 25 de janeiro, Francisco convocou os participantes a serem corajosos e a libertarem o coração daquilo que o corrompe. Orientou os comunicadores a vencerem a "putrefação cerebral" causada pelo vício do scrolling contínuo, o "deslizar" nas redes sociais, definido pelo Dicionário de Oxford como a palavra do ano.

Hopetelling, a esperança é a história

"Que o vosso storytelling seja também hopetelling. Quando narrardes o mal, deixai espaço à possibilidade de remendar o que está rasgado, ao dinamismo do bem que pode consertar o que está quebrado. Semeai interrogações! Narrar a esperança significa ver as migalhas de bem escondidas até quando tudo parece perdido, significa permitir esperar até contra toda a esperança. Significa dar-se conta dos rebentos que brotam quando a terra ainda está coberta de cinzas. Narrar a esperança significa ter um olhar que transforma a realidade, levando-a a tornar-se o que poderia, o que deveria ser. Significa fazer com que a realidade se encaminhe para o seu destino. Eis o poder das histórias! E é isso que vos encorajo a fazer: narrar a esperança, compartilhá-la. Este é – como diria São Paulo – o vosso 'bom combate'!"

(Discurso do Papa Francisco no Jubileu dos Comunicadores – 25/01/25).

"Voltem a falar com o coração"

Por fim, nesta época em que a comunicação é marcada pela inteligência artificial, a Igreja nos lança um desafio: "voltar a falar do coração". Na Encíclica Dilexit Nos, o Papa Francisco afirma que temos um coração, e que o nosso coração coexiste com outros corações que o ajudam a ser um "tu".

Explica que é no coração que origina a proximidade; é pelo coração que me encontro junto dos outros, e os outros estão igualmente junto de mim. Só o coração pode acolher, dar refúgio.

Comunicação que transforma

Missão essa que não deve ser pensada sozinho, comunicar Cristo como se fosse algo apenas entre mim e Ele. A Comunicação na Igreja é vivida em comunhão com a própria comunidade e com a Igreja. "Se nos afastarmos da comunidade, afastamo-nos também de Jesus. Se a esquecermos e não nos preocuparmos com ela, a nossa amizade com Jesus arrefecerá. Nunca se deve esquecer este segredo: o amor pelos irmãos e irmãs da própria comunidade – religiosa, paroquial, diocesana etc. – é como o combustível que alimenta a nossa amizade com Jesus.

Os atos de amor para com os irmãos e irmãs da comunidade podem ser a melhor ou, por vezes, a única forma possível de exprimir aos outros o amor de Jesus Cristo. O próprio Senhor o disse: 'Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros' (Jo 13, 35)", conforme explica a Encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus.

Rodrigo Luiz dos Santos
Missionário Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/o-bom-samaritano-2-0-como-ser-um-heroi-nas-redes-sociais-hoje-em-dia/

23 de fevereiro de 2025

Faça seu nome valer a pena, uma vida com propósito

A honra de todo nome

O nome identifica o ser humano, remete à identidade e à história de cada pessoa, contemplando aptidões, escolhas vocacionais, profissionais e a qualidade de sua conduta cidadã. Por isso, nomes podem se destacar no altar da história, desde aqueles universalmente famosos, contemplando também os que se singularizam pela dedicação ao contexto comunitário e familiar. A grandeza de um nome relaciona-se à contribuição que seu titular oferece à promoção da fraternidade e da solidariedade em diferentes âmbitos da vida – na cultura, na arte, no esporte, no mundo científico e tecnológico, na espiritualidade, na política, na economia, no humanismo.

Crédito: Prostock-Studio / GettyImages

Cada pessoa tem um papel missionário na vida social. Isso significa que viver não é simplesmente buscar "um lugar
ao sol" ou apenas o próprio bem-estar, não raramente de modo desarvorado, individualista e mesquinho. O desafio humano-existencial é fazer da própria vida um alicerce que ajuda a sustentar outras vidas, dedicando-se à sociedade. Não se vive para si mesmo, ensina a espiritualidade cristã. O ser humano alcança êxito e tem seu nome lembrado quando, adequadamente, exerce a sua missão de promover o bem ao seu semelhante.

Autenticidade e serviço

Muitos oferecerão contribuições capazes de alcançar a coletividade, tornando seus nomes inesquecíveis na história de instituições. Assim a cultura se consolida, a arte se enriquece, a cidadania conquista referências; a vivência religiosa e espiritual é marcada com o selo de sua autenticidade, todos os campos técnico-científicos recebem contribuições e se tornam herança para novas descobertas de gerações futuras.

Viver procurando efetivar contribuições para a vida do semelhante é antídoto para a mediocridade. Aqueles que buscam servir sabem que o valor maior está na responsabilidade assumida – e não nos benefícios de eventuais cargos ocupados, que podem levar a uma glória ilusória.

A grandeza reside na simplicidade

Essa consciência verdadeiramente ajuda a conduzir o próprio nome à honra, mais que a fama midiática possível de ser conquistada. No fim, serão lembrados aqueles que ofereceram suas aptidões e recursos para o bem da comunidade.

E tornam-se notáveis não apenas os que marcaram os grandes acontecimentos da história. Têm também seus nomes lembrados os que fazem a diferença no recato de sua condição simples. Oportuno partilhar a história de Dona Nega, assim conhecida no pequeno distrito do interior onde residia com a sua família.

Ela, voluntariamente, e por convicção generosa de fé, sempre se dedicou a cuidar da igreja de sua comunidade. Certo dia, um viajante passou pelo pequeno distrito e parou perto da igreja. Perguntou para uma menina que ali passava quem era a padroeira do lugar.

O nome que carrega uma missão

A menina, prontamente, respondeu: Dona Nega. Uma comprovação da grandeza de honrar o nome que se tem pela força generosa da contribuição que se pode dar a partir das próprias aptidões, assumindo a corresponsabilidade de contribuir com a sociedade, para torná-la mais justa e solidária.


O fundamento da corresponsabilidade que cada ser humano tem no cuidado com o seu semelhante está na verdade ensinada pela fé cristã: ser imagem e semelhança de Deus remete a um existir que está sempre em relação com o semelhante, porque Deus mesmo é uno e trino, é comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Esta comunhão de amor é o modelo para o viver de cada ser humano, criatura querida por Deus.

O sentido da existência e o serviço ao próximo

Assim, cada pessoa não pode realizar-se plenamente senão pelo dom sincero de si mesmo. O ser humano alcança o seu sentido de existir quando busca favorecer o desenvolvimento de relações alicerçadas no amor, na justiça e na solidariedade. Compreende-se que cada pessoa reveste de honra o seu próprio nome quando vive a sua vocação de promover a dignidade de seus semelhantes.

Uma vocação radicada no amor de Deus. Conquista benefícios quem está a serviço da comunhão entre pessoas, por um desempenho social, político e religioso-cultural que impulsiona um funcionamento comunitário pela garantia da justiça e da paz. Por isso mesmo, não haja lugar para vaidades e disputas, mesquinhez e ganância, pecados tão comuns.

É preciso inspirar-se em Jesus, aquele que faz nova todas as criaturas, para alcançar uma transformação interior e alavancar a renovação das relações humanas, buscando servir no exercício de aptidões, carismas e generosidade. Assim, tanto quem ocupa lugares de grande visibilidade e aqueles que estão longe dos holofotes se capacitam para inscrever seus honrados nomes na memória das pessoas, da família ou da sociedade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/faca-seu-nome-valer-pena-uma-vida-com-proposito/