15 de janeiro de 2025

O que é a unção dos enfermos e quando deve ser concedida?

A unção dos enfermos, um sinal de fé e cura

"Alguém dentre vós está sofrendo? Recorra à oração. Alguém está alegre? Entoe hinos. Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor. A oração feita da fé salvará" (Tg 5,13-15). O sacramento da unção dos enfermos é uma graça que o Senhor nos concede por meio da Igreja. Para nós, católicos, a oração de cura e a unção têm muito valor. Como lemos na Carta de São Tiago, quando alguém está doente deve recorrer à oração, ao Céu e, claro, aos médicos e tratamentos, como nos recomenda a Igreja, pois também esses são dons do Senhor para a cura.

O que é a unção dos enfermos e quando deve ser concedida?

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O sacramento da reconciliação é o primeiro sacramento de cura; depois dele, há a unção dos enfermos que, antigamente, era chamada de "extrema unção". O nome mudou. Ainda bem! Ficou mais suave. O nome antigo ainda espanta, porque parece um sacramento que "sela" a pessoa para a morte.

O sacramento da unção dos enfermos é uma graça que o Senhor nos concede por meio da Igreja

Na verdade, esse é um sacramento de vida, pois, como todos os outros sacramentos, tem a finalidade de sarar, de animar e perdoar os pecados. Sim, a unção dos enfermos perdoa os pecados; foi mencionado na Escritura e confirmado pela Igreja. Segundo as normas de cada diocese, essa graça pode ser propagada nas celebrações individuais ou coletivas.

A unção pode ser ministrada para todos os doentes em perigo de morte e, também, para aqueles que farão uma cirurgia delicada. O óleo deve ser de oliveira ou extraído de plantas onde há dificuldades para encontrar essa matéria. Normalmente, o sacerdote leva consigo um recipiente com o óleo, para que, caso haja necessidade, faça uso dele. A unção é feita na fronte, nas mãos ou, se não for possível nesses locais, é feita numa outra parte.


Doenças do corpo e da alma

A fórmula desse sacramento diz: "Por essa santa unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em seu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos seus pecados, Ele o salve e, na Sua bondade, alivie os seus sofrimentos". Que maravilha de sacramento, porque alivia os sofrimentos! E que grande sofrimento é o pecado! Que grande sofrimento passam tantos irmãos nossos no corpo e na alma! Recorramos ao Senhor para que Ele sare e salve os nossos irmãos que estão doentes no corpo e na alma.

Neste tempo de sacerdócio, já vi Deus curar e restaurar a saúde de muitos e, também, já O vi fortalecer pessoas na hora da morte, dando-lhes uma morte tranquila e em paz, porque foram perdoadas e ungidas.

Conhece alguém doente no corpo e na alma? Indique-lhe um sacerdote, verifique se na comunidade há celebração para os enfermos, e avise a esse doente ou a um parente próximo a ele. Não deixe essa graça passar!

Equipe de formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/o-que-e-uncao-dos-enfermos-e-quando-deve-ser-concedida/

14 de janeiro de 2025

O futuro da cultura em mundo com Inteligência Artificial

O protagonismo humano em xeque: o impacto da IA na cultura

A sociedade contemporânea vive, em polvorosa, a ascensão das inteligências artificiais e seu impacto na vida e no comportamento humano. Sobretudo, no campo da produção intelectual, muitos se questionam se este é o fim do protagonismo humano na cultura, se passaremos a ser simples consumidores de textos, áudios e vídeos produzidos automaticamente por robôs.

A cultura como espelho da humanidade

A cultura é reflexo do estado da sociedade humana, seus hábitos, costumes, religiões entre vários outros aspectos, assim como a estrutura familiar, política e a realidade econômica. Dessa maneira, não há como a cultura refletir outra coisa, senão o próprio estado do ser humano no tempo. Logo, a cultura é a expressão de valores e sentidos, próprios à realidade no tempo em que a sociedade está inserida. Assim, podemos definir que a cultura é a pegada do homem no tempo.

Crédito: MTStock Studio / GettyImages

A cultura de massas: a cultura enlatada

A cultura de massas é um fenômeno marcante que teve seu início no século XX, e este é definido por Edgar Morin como o processo pelo qual a alta cultura é resumida e simplificada, figurativamente enlatada para ser consumida pelo público em geral. Diferente da alta cultura, a cultura de massas é pensada de forma a depender muito menos de que o público alvo tenha uma base cultural e intelectual. Ela é pensada de maneira a fomentar valores, pensamentos e comportamento, em especial de forma a atender interesses mercadológicos.

A história da humanidade em constante reinvenção

Em suas diversas eras, a humanidade deparou-se com realidades em que se viu obrigada a ressignificar a maneira como entende seu próprio papel. Esse processo se deu, sobretudo, no contexto na qual a tecnologia, mais especificamente o conforto provido pela tecnologia, lhe permitia transcender atividades que antes demandavam muito mais tempo e esforço.

O desafio da IA para a criatividade humana

A tecnologia da informação não só forçou o ser humano a repensar seus hábitos, mas o desafia a voltar a pensar em seu papel. Há pensamentos fatalistas que profetizam, de maneira quase apocalíptica, que as inteligências artificiais formarão seres humanos incapazes de pensar, logo, incapazes de produzir a cultura em suas diversas expressões.

Nesse contexto, textos, imagens, músicas e vídeos são gerados em escala massiva por um vasto leque de ferramentas baseadas em inteligência artificial. A produção de conteúdo abraçou o uso dessas ferramentas e projeta-se que o uso delas não irá retroceder. Logo, tudo o que consumimos, em breve, será produzido por inteligência artificial?

A adaptação à tecnologia

O encantamento da novidade, os comportamentos por vezes inconsequentes na utilização dessa tecnologia etc. podem parecer confirmar as suspeitas de um pensamento fatalista. Mas, assim como outras tecnologias, essa se saturará e se tornará tão banal na rotina humana, que o homem voltará a encontrar seu lugar e seu papel, a sociedade e o comportamento se adaptarão e logo esta será mais uma na miríade de tecnologias que fazem parte do cotidiano ordinário.

A IA como ferramenta, não como substituto

Ao pensarmos na IA como algo que poderia suplantar o homem com agente ativo na cultura, estaríamos supondo ser ela algo muito maior do que uma ferramenta criada pelo próprio homem. Poderia o homem criar algo que não fosse reflexo dele próprio? Poderia o homem criar algo maior do que ele mesmo? Não, a IA não é senão uma nova ramificação da cultura, talvez muito mais enlatada, automatizada e colocada em linha de produção. Mas mesmo a mais sofisticada linha de produção autônoma precisa de alguém que a programe e lhe dê os parâmetros pelos quais trabalhar.

A cultura como expressão humana: presente e futuro

Portanto, a cultura é e continuará a ser uma multiplicidade de expressões do ser humano. Este, direta e indiretamente, deixará rastros de sua presença no tempo. Tal como Deus o criou, a imagem e semelhança d'Ele, dotado por Ele de inteligência, habilidade e inventividade, protagonista na criação. Ainda que grandes coisas possam ser criadas pelo homem, suas criações e sua cultura são e sempre serão apenas reflexo daquilo que o homem é, com suas capacidades e limitações.


 

Jonatas Passos é natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/tecnologia/o-futuro-da-cultura-em-mundo-com-inteligencia-artificial/

13 de janeiro de 2025

O mosaico do coração, reunindo os fragmentos da vida

"Coração mosaico", uma reconciliação de um mundo fragmentado

A vida contemporânea, alicerçada e emoldurada por impressionantes avanços tecnológicos e conquistas científicas, sofre com um acentuado processo de fragmentação que afeta o reconhecimento sobre o sentido da vida. Um peso e desafio existencial, originado também na força deletéria do individualismo. A superação desse entrave se faz pelo coração, ensina o Papa Francisco, na sua mais recente Carta Encíclica, sobre o amor humano e divino do coração de Jesus.

O mosaico do coração, reunindo os fragmentos da vida

Crédito: troyka / GettyImages

É muito oportuno viver o Ano Jubilar 2025 acolhendo o ensinamento do Papa e, assim, se tornar peregrino de
esperança. Sabe-se que as fragmentações trazem consequências graves para a vida de cada pessoa, das famílias e da sociedade. O coração é essencial para superar os males provocados por esse fenômeno, que é inevitável, considerando as múltiplas e velozes dinâmicas da atualidade. Apesar desta importância, a sociedade tem sido dominada pelo narcisismo que é anticoração, bem adverte o Papa Francisco.

Coração humano, sede de amor e reconciliação

Quando o coração é desconsiderado, não se enxerga o semelhante no horizonte, tornando as pessoas limitadas pelo egoísmo, incapazes de relações saudáveis e atitudes de reconciliação. E sem reconciliações o mundo padece, convive com guerras, torna-se caótico, semelhante ao caos inicial quando Deus fez surgir a Criação como expressão de seu amor. Avançar rumo a cenários caóticos resulta, pois, da incapacidade de acolher a Deus, deixando-se guiar pela soberba e pela indiferença.

Consequentemente, perde-se a capacidade de hospedar o semelhante no próprio coração. Um coração desvirtuado perde também a faculdade de harmonizar a própria história, unindo os muitos fragmentos que tecem a vida de cada pessoa. Essa perda prejudica, pois, a autovalorização e, ao mesmo tempo, a abertura ao semelhante. O ser humano torna-se, assim, inábil para dialogar, exercício essencial à busca de sentido nesta realidade tão fragmentada do mundo contemporâneo.

Curando as feridas da terra com um coração renovado

Tenha-se presente que na era da inteligência artificial não se pode esquecer a poesia e o amor como instrumentos de salvação do ser humano. O algoritmo não é capaz de promover as experiências essenciais que conferem sentido à vida. Esse sentido vem do coração e das vivências que somente são possíveis a partir deste núcleo que define e
sustenta o ser humano no seu viver e na sua missão. É a sede do amor, que precisa ser bem cuidada, tendo em conta que a identidade de cada um se alicerça na competência para amar.


É um desastre perder o coração, conformando-se com a indiferença diante das guerras ou do abandono dos pobres e vulneráveis. A indiferença que contamina corações é responsável por cenários desoladores da civilização atual. O Papa Francisco sublinha: "Quando alguém reflete, procura ou medita sobre o próprio ser e a sua identidade, ou analisa questões mais elevadas; quando pensa no sentido da própria vida e até mesmo procura por Deus, e ainda quando sente o gosto de ter vislumbrado algo da verdade; todas estas reflexões exigem que se encontre o seu ponto culminante no amor. Amando, a pessoa sente que sabe porque e para que vive. Assim, tudo converge para um estado de conexão e de harmonia."

A essência da fraternidade e do amor ao próximo

O caminho da harmonia pode dar ao mundo contemporâneo um novo rumo. Buscar alcançá-la, cuidando para que o próprio coração seja marcado pelo amor, é experiência de espiritualidade sem a qual torna-se mais difícil avançar na direção da fraternidade e da amizade social.

A dinâmica da espiritualidade permite a emersão de novas práticas de reconciliação e priorização de tudo o que ajuda e sustém o semelhante, particularmente os pobres e vulneráveis. Comprova-se que, sem deixar de lado o horizonte luminoso e indispensável da racionalidade, deve-se percorrer o caminho insubstituível da fraternidade, fonte alimentadora e alicerce do viver reconciliado.

Ora, o coração ama, adora, pede perdão, serve, onde for preciso, com coragem e disposição, dando sempre prioridade ao bem, jamais a caprichos, disputas de poder ou ressentimentos mesquinhos e egoístas. Amizade e reconciliação só se constroem com o coração, exercendo o amor. Determinante nesta experiência é saber quem foi o primeiro a amar – o coração de Deus. E o coração de Deus revela-se n'Aquele que morreu e ressuscitou para salvar a
humanidade, Jesus Cristo. É o coração de Deus falando ao coração humano pela linguagem e gestos de amor.

Um novo começo, rumo a um mundo mais humano e solidário

Daí nasce a indicação preciosa de investir na centralidade de Cristo como Senhor e Mestre da própria vida. Trata-se do caminho que leva à purificação e à aquisição de sabedoria, tesouros indispensáveis para quem quer ser feliz de verdade. Aprender com Jesus abre um horizonte novo de compreensão sobre o viver humano. Importa convencer-se que somente um coração qualificado é capaz de colocar as outras faculdades e paixões em uma atitude justa diante do amor de Deus.

A cura desta terra ferida se operará mediante o tesouro inesgotável que é o coração de Deus, revelado e colocado como fonte pelo coração de Cristo. Grande é o risco provocado pela vaidade humana, que alimenta soberbas, fecha o
caminho para um coração renovado, com propriedades para "ajuntar os cacos" e compor "belo mosaico", repleto de nobres sentidos para a humanidade.

Para que a civilização contemporânea supere seus muitos desafios não são suficientes apenas as estratégias e lógicas alicerçadas na técnica. Gestos de amor são fundamentais. Gestos de amor pequenos e grandes que, em conjunto, mudam o mundo. A sociedade contemporânea não dispensa os avanços tecnológicos, mas demanda, principalmente,
um cuidado maior com o coração de cada pessoa, que precisa estar entrelaçado com o coração do semelhante, compondo uma rede capaz de resgatar o mundo das depredações ambientais, sociais e políticas. Assim, as fragmentações tornam-se belo mosaico, por um novo tempo, mais humano, fraterno e solidário.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-mosaico-coracao-reunindo-os-fragmentos-da-vida/

12 de janeiro de 2025

O desafio do testemunho cristão no mundo atual

Vivendo o evangelho de Cristo em nosso tempo

Jesus foi visitado pelos pobres pastores dos arredores de Belém, e nós contemplamos este mistério com serenidade e alegria. Surpreendeu a todos, a seu tempo, a misteriosa visita daqueles Magos, Sábios chegados do Oriente, que estudavam a posição das estrelas, trazendo presentes muito significativos àquele que é Deus, Rei e plenamente homem, tanto que passaria pelo sofrimento e pela morte.

O desafio do testemunho cristão no mundo atual

Crédito: deimagine / GettyImages

Passam os anos e Jesus é proclamado publicamente pelo Pai Eterno como o Filho amado, sobre o qual repousa o Espírito Santo. E no início de seu ministério, a água transformada em vinho, nas Bodas de Caná, conduz à fé discípulos titubeantes, noivos e humanidade. Depois de tais manifestações, resta a todos nós a coragem da decisão diante dele, em quem se cumprem promessas antigas e novas, assim como os sonhos de realização e felicidade de toda a humanidade.

Um corpo, uma fé: A unidade do povo de Deus

Temos a clareza de que Deus nos constituiu como um corpo o Povo de Deus, que age e testemunha a própria fé. De fato, se "Deus aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença" (cf. At 10,35), aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que o conhecesse na verdade e o servisse santamente.


Escolheu, por isso, a nação israelita para seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-se a si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para si. Todas estas coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne.

Um povo reconcilidado, a nova aliança com Cristo

Esta nova aliança instituiu-a Cristo, o novo testamento no seu sangue (cf. 1 Cor 11,25), chamando o seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito, e tornar-se o Povo de Deus. Com efeito, os que creem em Cristo, regenerados não pela força de germe corruptível mas incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cf. 1 Pd 1,23), não pela virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (cf. Jo 3, 5-6), são finalmente constituídos em raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado, que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus (1 Pd 2, 9-10) (Cf. Lumen gentium 9).

E agora, passados os séculos, está em nossas mãos a responsabilidade de, como povo escolhido, dar testemunho de Jesus, sendo sal, luz e fermento nos tempos que correm, sem discriminar as outras pessoas, mas atraí-las com amor ao amor de Cristo. Em nosso coração e em nossas mãos estão os instrumentos oferecidos pela Igreja: a Palavra de Deus, a Vida em Comunidade, a Fé, a Esperança e a Caridade, e os Sacramentos, que nos mergulharam na vida da Santíssima Trindade.

O evangelho vivo, o futuro transformado pelo amor

Ser cristão hoje equivale a ser testemunhas em todos os ambientes de nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado, Salvador do mundo. Como testemunhas, haveremos de mostrar em nossa vida de batizados, redimidos, que Jesus venceu o pecado em nossa própria vida, porque nos fez filhos de Deus e adotamos seus sentimentos e as atitudes evangélicas expressas nas bem-aventuranças: pobreza de espírito, mansidão, fome e sede de justiça, misericórdia, pureza de coração, solidariedade, reconciliação e fraternidade.

Se queremos demonstrar de verdade que nós encontramos o Messias, aquele que dá sentido à história humana e dá esperança a toda a humanidade e à vida de cada um de nós, devemos proclamar, com a palavra e as obras, que Jesus, na plenitude do Espírito Santo, é luz para todas as áreas escuras da história humana e de cada pessoa, e que ele, com sua Ressurreição, torna possível a esperança num futuro melhor, a confiança nas pessoas e a transformação do mundo, através da única revolução eficaz, a conversão pessoal ao amor e à justiça, que vêm de Deus (cf. La Parola per ogni giorno, Basilio Caballero, Pauline, 1991).

Há alguns anos houve pessoas que pensavam estar diante de um cristianismo anônimo, perdido no meio da massa, e sabemos como cresceu esta massa! Não se trata disso! Hoje, devemos nos perguntar como responder com identidade própria e clareza aos desafios que se apresentam, sem fanatismos, opções ideológicas de qualquer lado, cujo desenrolar se revela estéril, ou tentativas anacrônicas, igualmente estéreis, de volta a um clima de cristandade!

Os desafios da fé em um mundo indiferente

Abertura ao Espírito Santo, intensa vida de oração, processos claros de discernimento, criatividade, espírito apostólico e missionário, esta é a estrada para viver como cristãos em nosso tempo. Respostas? Eis algumas propostas, destinadas a provocar continuidade na reflexão e o inadiável compromisso pessoal. A primeira delas é olhar ao nosso redor, identificando pessoas e situações, estabelecendo conexões com quem tem as mesmas inquietações e o desejo de superar uma prática religiosa de fachada ou um tentador indiferentismo.

Quem está rezando seriamente? Que pessoas estão comprometidas diretamente com a caridade? Já descobriu em seu ambiente de trabalho gente que não suja as mãos com o egoísmo, a corrupção e a imoralidade? Será que não chama a sua atenção aquelas pessoas que sempre se dispõem a algum serviço na Comunidade? Justamente aqui surge uma outra ideia! Tomar iniciativa!

Guiados pelo Espírito Santo, reconstruímos o Corpo de Cristo

Se muitos não frequentam a Missa, sua presença mostrará o quanto constrói o Corpo de Cristo, que é a Igreja, sua
participação Eucarística, a busca do Sacramento da Reconciliação! E se muitos não praticam a justiça, comece por você mesmo! E se queremos ampliar nosso horizonte, a pessoas que tomam decisões semelhantes, caberá também a disposição para o diálogo com quem pensa diferente, na diversidade de nosso mundo.

Tal atitude contribuirá para que o senso do bem comum, suscitado pelo Espírito Santo além de todas as fronteiras, seja redescoberto e promova gestos e programas de ação no conjunto da sociedade. À nossa capacidade de reflexão, à inteligência da fé concedida nos Sacramentos da Iniciação Cristã e, mais ainda, à ação do Espírito Santo que nos conduz, lançamos o desafio de continuar esta lista de propostas para sermos, diante do mundo que clama por sentido, os peregrinos da Esperança, a fim de que o Jubileu que vivemos seja tempo de graça, perdão, reconciliação e acolhida para muitos!

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/sem-categoria/o-desafio-do-testemunho-cristao-no-mundo-atual/

11 de janeiro de 2025

Jubileu 2025: A terra seca clama por vida e esperança

Dom Jailton Oliveira Lino

Bispo de Teixeira de Freitas-Caravelas (BA)

 

"Quando a terra seca clama pelo céu…" Quantos de nós já nos sentimos assim? Perdidos, áridos, como um solo que há muito tempo não sente o frescor da chuva. A canção Terra Seca não fala apenas da natureza. Ela fala de nós. De nossas almas sedentas, de nossos corações que tantas vezes têm vivido longe da fonte de vida que é Deus. 

E agora, em 2025, a Igreja nos chama. O Jubileu chega como a resposta desse clamor. É como se o próprio céu dissesse: "Eu ouvi o teu grito. Eu trarei a chuva." Mas eu te pergunto: você está pronto para recebê-la? 

Vivemos tempos difíceis. O mundo está seco de compaixão, de justiça, de amor. Quantos corações estão endurecidos pela indiferença? Quantas vezes escolhemos o egoísmo, ignorando o outro? Estamos como a terra rachada que rejeita a semente porque não se preparou para o momento da chuva. Mas o Jubileu nos desafia: prepare o solo do seu coração. 

Esse ano santo não é apenas uma celebração. É um chamado. Um chamado para sairmos de nossa zona de conforto, para enfrentarmos a aridez de nossas vidas e nos deixarmos transformar pela misericórdia de Deus. O Jubileu nos convida a sermos peregrinos da esperança, mas para isso, precisamos nos perguntar: estamos dispostos a caminhar? 

A graça de Deus é como a chuva, mas a terra precisa querer florescer. Você está disposto a abrir mão do orgulho, da raiva, da culpa que pesa no peito? Está disposto a perdoar quem te feriu e buscar reconciliação com Deus, com os outros e com você mesmo? 

Olhe para o mundo ao seu redor. As guerras, as desigualdades, o sofrimento dos pobres e o descaso com a criação são reflexos de uma humanidade que se afastou da sua essência. O Jubileu é um convite para mudar essa realidade, mas a mudança começa em você. 

Talvez você se pergunte: E se eu não conseguir? Eu te digo: Deus é fiel. Ele nunca te abandonará. Assim como a chuva vem no tempo certo, a graça d'Ele chega para renovar aquilo que parecia perdido. Mas você precisa estar disposto. É preciso abrir o coração, tirar as pedras do caminho e deixar que Ele faça o impossível: transformar seu deserto em um jardim. 

Não viva este ano santo como um espectador. Seja protagonista. Vá à confissão, participe das celebrações, ajude quem precisa, cuide da criação. Viva como quem acredita que o amor de Deus pode mudar o mundo, porque pode. 

A terra seca está clamando. Você também está. E Deus responde: "Eis que faço novas todas as coisas." O que você fará com essa promessa? 

"Que venha a chuva. Que venha a vida." 


Fonte: https://www.cnbb.org.br/jubileu-2025-a-terra-seca-clama-por-vida-e-esperanca/

10 de janeiro de 2025

“Tu és meu Filho amado”

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

O Tempo do Natal fez-nos contemplar o Menino Jesus nascido na gruta de Belém.  Olhamos para a Sagrada Família, modelo para as famílias cristãs, na qual Jesus cresceu, se desenvolveu, trabalhou. No dia primeiro de janeiro celebramos Maria Mãe de Deus e hoje, com Festa do Batismo do Senhor, encerramos este tempo litúrgico (Isaías 42,1-7, Salmo 28, Atos dos Apóstolos 10,34-38 e Lucas 3, 15-16.21-22).  

João Batista, o precursor de Jesus, aponta para presença do Messias. Não deixa o povo imaginar que seja ele, pois o que virá é "mais forte do que eu", do qual  "não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias", "eu batizo com água", mas Ele "vos batizará no Espírito Santo e no fogo".  

Mesmo assim, "quando todo povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: "Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer". As palavras de João Batista e a voz vinda do céu revelam a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Depois de batizado, Jesus reza dirigindo-se ao Pai. O Céu de abre e desce o Espírito Santo.  

O Festa do Batismo de Jesus é um convite para rezarmos e refletirmos sobre o Sacramento do Batismo. O batismo marca o início da missão de Jesus, momento em que recebe o reconhecimento público e oficial da sua identidade. Assim também, para os cristãos o batismo é um início, uma mudança profunda na vida e um novo caminho que se abre. 

Jesus, após ser batizado, reza. Entra em contato com o Pai e o céu abre-se sobre Ele. No Sacramento do Batismo abre-se o céu ao batizando e ouve-se a mesma voz dirigida a Jesus: "Tu és meu Filho amado". O batismo é adoção na família de Deus, na comunhão com a Santíssima Trindade, na comunhão do Pai, com o Filho e o Espírito Santo. Por isso, o batismo é administrado em nome da Santíssima Trindade. Os batizados renascem como filhos de Deus. Já são filhos de pais humanos, agora passam a ser também filhos de Deus. 

Por que usamos a água no batismo? A água é o elemento da fecundidade. Sem água não há vida. No começo do cristianismo, a água tornou-se o símbolo do seio materno da Igreja. Assim como a criança, antes de nascer, estava envolta em substância líquida, agora ela entra no ventre da Igreja. Tertuliano afirma que "Cristo nunca existe sem água". Com isto ele disse que Cristo jamais existe sem a Igreja e a vida do cristão existe e de concretiza na Igreja. O batizado faz parte desta nova família indicando que ser batizado não é apenas uma questão espiritual, individual, subjetiva, mas que é algo concreto, envolvendo outras pessoas. Enquanto filhos de Deus e inseridos na Igreja, podemos recitar o "Pai-nosso". Rezamos usando nós. 

João Batista fala do batismo "no Espírito Santo e no fogo". Ensina que o batismo não é um gesto ou um desejo humano para orientar-nos para Deus com as próprias forças. No batismo é Deus que vem ao nosso encontro. É o próprio Deus que age. É Jesus que age através do Espírito Santo. É Deus que assume e torna os batizados seus filhos.  

Deus não age de modo mágico e contra a liberdade humana. Ele interpela a liberdade e convida a cooperar com o fogo do Espírito Santo. São dois aspectos que caminham juntos no batismo. Ele sempre será um dom de Deus que nos fez seus filhos adotivos e membros da Igreja. Mas, sempre solicitará a nossa cooperação, a disponibilidade da nossa liberdade para dizer "sim" que tornará a graça divina uma ação sempre eficaz.  


Fonte: https://www.cnbb.org.br/tu-es-meu-filho-amado-2/

8 de janeiro de 2025

O batismo nos torna peregrinos e missionários do projeto do Reino

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

Ao encerrarmos o tempo do Natal celebramos no Batismo de Jesus o início de sua missão de testemunhar com alegria e esperança o seu Reino.  

Somos enviados a viver e testemunhar a grandiosa mudança da filiação divina em nós, boa nova para toda a humanidade que é convidada a mergulhar também nas águas da salvação.  

O batismo longe de ser apenas um rito de acesso a uma religião, conforma para os cristãos a porta da salvação o berço e a fonte da vida nova que jorra abundantemente da redenção operada na Cruz.  

Ser batizados é ser assumidos plenamente pelo Pai como seus filhos adotivos, participar da sua graça e ser herdeiros da vida eterna. Tornamo-nos como afirma São Pedro em pedras vivas do templo, que é o Corpo de Cristo, a Igreja. Constitui o nascimento para a vida da graça, nos marca para sempre com a imagem de Cristo, nosso irmão e Salvador, e Templos do Espírito Santo, nossa força e inspiração.  

Deixamos para atrás o homem velho, egoísta e auto centrado incapaz para libertar-se das amarras e estruturas perversas da cultura do pecado e da morte. Mas muitas vezes somos sufocados e aceitamos como normal a mediocridade espiritual, a rotina cinzenta de práticas que almejam dar garantias de segurança mas não preenchem o enorme vazio da falta do amor comunhão que deve pautar e nutrir nossa vida de corresuscitados e redimidos em Cristo.  

Ao abrirmos o Jubileu da Esperança somos convidados primeiramente a renovar a raiz da nossa existência cristã, a partir de nossa consciência e vivência radical de batizados e mergulhados na Páscoa do Senhor, renovaremos e transformaremos as estruturas e relacionamentos na Igreja e na sociedade, fazendo acontecer a sinodalidade missionária que almeja gerar verdadeiros sinais de esperança, explicitados na defesa da vida, na reconciliação em todos os níveis e âmbitos, na harmonização dos conflitos visando a uma paz justa equitativa e duradoura, a empatia comprometida com os pobres, doentes, presos e prostituídos(as), para que nosso anuncio tenha a credibilidade do Evangelho e seja sinal eficaz de libertação e salvação, Deus seja louvado! 


Fonte: https://www.cnbb.org.br/o-batismo-nos-torna-peregrinos-e-missionarios-do-projeto-do-reino/