1 de dezembro de 2024

Chamados a uma vida santa

Chamados a uma vida santa

Chamados a uma vida santa tendo em vista que, toda vocação tem como alicerce o amor de Deus, que é  o fundamento e a origem de todas as vocações. Esse amor veio  até nós e se manifestou através de Jesus, ou seja, o Amor veio ao mundo de  forma humana para nos revelar o céu, para nos ensinar a caminhar na presença de Deus. O Senhor, que se aproximou de nós por amor, anseia que o amemos de todo nosso coração.

Chamados a uma vida santa

Crédito: FatCamera / GettyImages

Convite à santidade!

O amor de Deus por nós nos faz um convite: viver  em estado de gratidão. Ser grato é a melhor forma de viver uma vida segundo o desejo de seu amor por nós, e caminharmos em santidade, onde a forma como eu vivo, o que sou, e as escolhas que faço, dizem a quem pertenço. Onde minhas ações demonstram se caminho na luz ou não, se com a minha vida desejo corresponder ao Senhor e ao seu amor por mim.

Nas Sagradas Escrituras, o próprio Cristo nos exorta a corresponder a esse amor, vivendo em santidade:

"Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito." (Mt 5,48)

Esse caminho é uma vida reta, na presença de Deus, em louvor e gratuidade em todas as realidades que vivemos na nossa peregrinação aqui na Terra.

Jesus é o nosso  modelo de santidade!

Chamados a uma vida santa, temos um grande modelo a seguir, Jesus. Ele, como Deus, desce até nós, e se torna semelhante a nós, com um desejo: nos redimir e salvar. Ele se despoja de si mesmo por amor a mim e a você, sendo humilde, simples, verdadeiro, disposto a fazer a  vontade do Pai.

Ele é um verdadeiro exemplo de vocação fundamentada no amor, e, assim, todos nós somos  chamados a cultivar "o mesmo sentimento de Cristo Jesus, que implica viver como Ele viveu, amando o próximo, respeitando Seus limites e indicando o caminho a seguir, sendo verdadeiro e nos ensinado a buscar as coisas do Alto, nossa morada eterna.

Chamados a buscar uma vida santa!

O amor por Deus nos inspira a desejar escutar Sua voz e a atender ao Seu chamado para a santidade, que é o caminho para a salvação. Que possamos caminhar atentos em Sua direção, direção essa que encontramos quando  buscamos os sacramentos, vida de oração e intimidade com Sua Palavra.

Tudo isso nos impulsiona a ser pessoas melhores, convida-nos amar o nosso próximo e  ser sinal de gratidão, de santidade nesse mundo.

Renilson Gois
Comunidade Canção Nova


Fonte: https://mensagem.cancaonova.com/mensagem-do-dia/chamados-a-uma-vida-santa/

Construir com o coração: a chave para uma sociedade de amor e compaixão

A sociedade atual e os perigos do individualismo

A sociedade contemporânea, que supervaloriza os meios tecnológicos, neste tempo onde muito se fala sobre "inteligência artificial", corre o risco de desconsiderar que seus rumos são decisivamente determinados por valores que habitam no coração humano. A Carta Encíclica do Papa Francisco sobre o amor humano e divino do coração de Jesus sublinha a importância do coração em todos os processos sociais.

Construir com o coração: a chave para uma sociedade de amor e compaixão

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Por isso, há de se aprender sempre mais sobre o coração – sua força singular na configuração de vínculos essenciais ao impulsionamento do humanismo integral que pode salvar o planeta, dar novos rumos à civilização e revestir de sentido o cotidiano de cada pessoa. Sem a força que vem do coração, não é possível superar os riscos do individualismo, que leva à grave fragmentação social, destruindo vínculos altruístas e construtivos, enquanto agrava o caos na civilização, acentuando disputas motivadas pela mesquinhez humana.

Sintoma do individualismo, o narcisismo crescente na contemporaneidade cria um autoisolamento a partir da desconsideração pelo semelhante. Incapacita, pois, o ser humano para as relações saudáveis, tornando a sociedade "um campo de batalha". Prejudica uma essencial experiência: o aproximar-se de Deus. Sem essa experiência fundamental para cada pessoa, são multiplicadas realidades confusas. A dificuldade para acolher Deus sinaliza que o ser humano não está conseguindo fazer, do seu próprio coração, uma "casa de hóspedes", ensina o Papa Francisco, citando o filósofo Heidegger.

O coração é o núcleo da transformação da sociedade

O coração é núcleo essencial para cada pessoa se autovalorizar, e também se abrir ao encontro com o semelhante. Sem esse núcleo, perde-se a condição para unificar e harmonizar a própria história, que passa a ser vivida como narrativas fragmentadas, incapazes de dar sentido ao próprio viver. Sem esse sentido, a vida se torna um "peso", as dificuldades são encaradas como pesadelo insuportável. É preciso cuidar deste núcleo, o coração, criado para o amor, onde habita a sabedoria para o ser humano amar e ser amado.

Compreende-se que o mundo, tão carente de mudanças, pode alcançar suas almejadas transformações a partir da força que vem do coração. Afirma o Papa Francisco: "Valorizar o coração tem consequências sociais, porque os desequilíbrios da atualidade se radicam no coração humano. Não se busca, com esse entendimento, afirmar que o coração humano é a única solução para tudo, pois a humanidade não é autossuficiente – precisa de Deus."

Nesse sentido, a Carta Encíclica do Papa Francisco ressalta que o coração de Cristo precisa ser fonte referencial da experiência humana. Cristo é o "coração do mundo", fonte de lições perenes a respeito da compaixão– caminho de resgate desta terra ferida, na qual Ele quis habitar. Contam a grandeza de gestos e a competência espiritual para partilhar palavras de amor, seguindo o exemplo de Jesus.

O Coração de Cristo é o modelo para um mundo ferido

O coração humano tem, então, um modelo: um coração que ama, o Coração de Jesus. Um modelo que ensina cada pessoa a constituir a própria identidade sem se esvaziar e sem perder rumos, mantendo-se, ao mesmo tempo, aberto ao semelhante. Uma proximidade que liberta, a exemplo do encontro de Jesus com a Samaritana, que a possibilitou conquistar dignidade e sentido para a sua própria vida. Ou o encontro, em uma noite escura, do Mestre com Nicodemos, que tinha medo de ser visto perto de Jesus. A maestria de Cristo se revela também no seu modo de acolher sem preconceitos, conforme ensina a narrativa em que o Mestre, sem se envergonhar, permite que uma prostituta lhe lave os pés. Jesus, com as suas atitudes, mostra que, a partir do coração, feridas são curadas e o ser humano se recompõe.


O encontro com Cristo representa possibilidade efetiva de se conquistar um coração capaz de hospedar o bem e a verdade. A presença de Jesus, com o seu coração, constitui força transformadora que abre caminhos e ilumina os horizontes da humanidade. Do coração de Cristo, brotam palavras vivas com força de convocação e com indicações que conduzem o ser humano ao que é melhor para a sua existência. Jesus ensina que quem cultiva um coração semelhante ao Seu capacita-se para conquistar a paz e não perder o rumo da própria vida.

Aprender com Cristo a sabedoria do coração

O ser humano, a exemplo de Cristo, precisa semear palavras cheias de sentimentos com uma força de reconfiguração. Muitos poderão considerar essa meta como um simples discurso religioso, mas, afirma o Papa Francisco, trata-se de itinerário decisivo para se alcançar vida nova, bem vivida.

Aprender com o coração de Cristo é investimento que alicerça a interioridade humana, abrindo horizontes para se conquistar inteireza moral e espiritual, humana e cidadã. Possibilita alcançar a grandeza de um amor humano capaz de reconfigurar a sociedade, decisivamente contribuindo para superar graves problemas. Com o aprendizado das lições vindas do coração de Jesus, descortina-se o sentido do encontro com o semelhante e com o diálogo, condições essenciais à construção de uma civilização justa e solidária.

O coração é o centro gerador da unidade de cada pessoa. Muitas ciências e saberes podem ajudar na conquista de um coração habilitado para configurar essa unidade, mas é essencial buscar aprender as lições vindas do coração de Jesus. Assim, investe-se para livrar o próprio coração de ódios, de sentimentos nascidos de disputas, qualificando-o para ajudar a humanidade a descobrir o caminho do amor, tecendo a cultura da paz.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/construir-com-o-coracao-a-chave-para-uma-sociedade-de-amor-e-compaixao/

A Importância da humildade na vida cristã

Conhecendo a si mesmo através da humildade

Pode-se definir a humildade da seguinte forma: "Uma virtude sobrenatural que, pelo conhecimento que nos dá de nós mesmos, nos inclina a nos estimarmos em nosso justo valor e a buscarmos o abatimento e o desprezo" (Cf. Compêndio de Teologia Ascética e Mística, n. 1127). Por ser uma virtude sobrenatural, pratiquemos qualquer exercício humano, não é algo de origem humana, é Deus quem nos dá. E isso acontece quando a pessoa está em Estado de Graça; nessa ocasião, ela recebe todo o cortejo das virtudes sobrenaturais. Enquanto recebe as virtudes sobrenaturais, aí sim, deve procurar conhecê-la e praticá-la com a ajuda da Graça Atual.

A Importância da humildade na vida cristã

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Por meio da humildade, conhecemos a nós mesmos como quem olha para um espelho límpido e enxerga a própria alma. Enxergamos tudo o que há de bom em nós, mas ao invés de nos orgulharmos e exaltarmos essas qualidades, reconhecemos que o autor de todas as coisas boas é o próprio Deus e não seríamos capazes de um único ato bom se não fosse a graça dele.

Percebemos as inúmeras imperfeições que carregamos, os atos maus que cometemos, o quanto precisamos melhorar em diversos aspectos, e assumimos nossa máxima culpa em todas essas coisas. O orgulhoso, por sua vez, enxerga os atos bons e diz: "Eu tenho mérito, eu fiz tal coisa, se não fosse eu…". Percebe-se um abismo entre a maneira de pensar e se comportar do homem humilde e o homem orgulhoso, este último sempre fará referência a si, aos seus feitos e pouco fará juízo de suas ações.

Elogio à humildade

A Sagrada Escritura é repleta de ensinamentos e, quanto à virtude da humildade, diz o seguinte: "Revesti-vos todos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, sob a poderosa mão de Deus, para que, na hora oportuna, Ele vos exalte" (cf. I Pd 5,5-6); também diz: "Todo aquele que se humilhar será exaltado" (cf. Mt 23,12).

Há uma ordem para sermos humildes e uma promessa direta para aqueles que entram nesta forma. Deus dará a sua graça e exaltará os humildes. Contudo, não confunda essa exaltação com o modelo que temos neste mundo. A exaltação de que a Palavra nos fala é o acesso ao Reino dos Céus. Se não formos humildes, não acessaremos o Reino dos Céus: "Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus" (Mt 18,3).

Pelo exercício dessa virtude, podemos combater com mais força o demônio, que é orgulhoso e nos ataca para devorar.  Combatemos as tentações da carne porque nos conhecemos melhor e desconfiamos de nós mesmos. Combatemos o mundo porque vivemos com mais intensidade a metanoia, a mudança de vida proposta pelo Evangelho.

A humildade e o acesso ao Reino dos Céus

Não há vida de oração sem humildade. O próprio Catecismo afirma o seguinte: "A humildade é o fundamento da oração […] A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus" (cf. CIC 2559). Inclusive, muitos santos recomendam que se faça um ato de humildade logo no início da oração, e que depois, durante a oração, se repita este ato de humildade quantas vezes for necessário.

A humildade nos assemelha a Nosso Senhor Jesus Cristo, que "despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte de cruz!" (cf. Fl 2,7-8). Cristo é o nosso modelo, não temos outro caminho senão por Ele, conforme está escrito: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (cf. Jo 14,6). Essa é uma enorme graça, um presente que Deus nos deixou, ao se encarnar e viver o que é próprio desta vida, exceto o pecado, Ele passou por diversos desafios e humilhações. E assim, Cristo santificou a vida comum dos homens.

Portanto, quando vivemos o comum desta vida, em Estado de Graça, imbuídos da humildade e todas as outras virtudes, caminhamos na esteira da santificação. Quando nos humilham, nos julgam, desdenham a nossa pregação, quando somos preteridos, perseguidos, caluniados, escorraçados, achincalhados, traídos, abandonados e mortos; podemos dizer: estamos na via humilhante do Senhor. Não deveríamos exultar por tamanho presente? Porém, não exultamos porque ainda em nossa alma impera o verme do orgulho e do amor próprio desordenado.

Humildade: base da vida espiritual

Sem a humildade, fundamento da vida espiritual, todo edifício não permanece de pé, tudo desaba. Mas quando entendemos a importância desta virtude e o quanto devemos exercitá-la no dia a dia, descobrimos uma chave que nos dá acesso a um tesouro. Esta é a graça reservada aos pequeninos, àqueles que se apresentam diante de Deus, como o publicano que se pôs a rezar do seguinte modo: "O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem se atrevia a levantar os olhos ao céu, mas batia no
peito, dizendo: Meu Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!" (cf. Lc 18, 13).

A parábola termina dizendo que este homem voltou para casa justificado. Não há dúvida, somos pecadores e não merecemos tamanha graça, só nos resta o caminho dos pequeninos, a humildade.

Jonathan Ferreira
Missionário Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/a-importancia-da-humildade-na-vida-crista/

30 de novembro de 2024

Inteligência artificial: inteligente e ética?

A busca pela consciência artificial: uma análise filosófica

O desenvolvimento da área de estudo sobre a natureza dos estados mentais recorre, com frequência, à analogia entre computadores e cérebros, para traçar semelhanças e diferenças e compreender o que é o pensamento.

Na área da filosofia da mente, um debate relevante que tem sido travado, nas últimas décadas, é a respeito da distinção entre "inteligência artificial" no sentido forte e no sentido fraco. Por um lado, em sentido forte, diz-se que máquinas, como computadores, adequadamente programados, têm estados cognitivos e, portanto, pensam do mesmo modo como fazem os seres humanos. Por outro, em sentido fraco, assevera-se que os computadores apenas simulam o ato de pensar.

Inteligência artificial inteligente e ética

Crédito: BlackJack3D / GettyImages

No âmbito filosófico, essa é, pois, uma questão ontológica, termo usado para a investigação das coisas que realmente são como elas são (e não como se imagina que são) e sobre qual a essência delas. Isso significa perguntar sobre a ontologia dos estados mentais, ou seja, entender no que eles realmente consistem. Basicamente, os filósofos da mente se dividem em dualistas e unionistas.

Dualismo vs. Unionismo: a questão da natureza da mente

René Descartes é dualista. Para ele, o pensamento é substância, ou seja, é algo que existe por si, independente da realidade corpórea, vale dizer, o corpo é constituído pela res extensa (coisa extensa), que não passa de um autômato ou máquina (sangue vai do coração ao cérebro, passa para os nervos, para os músculos e se estende aos membros), ao passo que a alma (mente) é constituída pela res cogitans/substantia cogitans (coisa pensante/substância pensante), que pode pensar, de maneira independente, tanto de qualquer coisa material, quanto do tempo e do espaço.

Aristóteles é unionista. Já para ele, o intelecto surge da relação entre alma e corpo e ambos não são substâncias separadas. A alma é causa e princípio do corpo vivo. E o que caracteriza a alma é que ela exerce a função vegetativa (conservação do corpo), a função sensitiva (sentidos externos, sentidos internos = sentido comum, memória e fantasia; e, apetite = vontade) e a função intelectiva (exercida de três modos: abstração, juízo e argumentação). Para a abstração, o intelecto agente (ativo) ilumina os dados sensíveis recebidos das coisas particulares, produzindo conceitos ou ideias, e o intelecto paciente (passivo) recolhe e conserva esses conceitos ou ideias.

Inteligência Artificial: simulação ou verdadeira cognição?

Não por outro motivo que uns dizem que algoritmos jamais poderão tomar decisões importantes pelos seres humanos, porquanto, decisões assim, inevitavelmente, envolvem uma dimensão ética, e algoritmos não entendem de ética. Outros já começam a dizer, contudo, que não há razão para supor que algoritmos não sejam capazes de enfrentar os dilemas éticos, na medida em que aparelhos celulares inteligentes e veículos autônomos, por exemplo, já se deparam com problemas éticos que atormentam a consciência humana há muito tempo.

A ficção científica, porém, tende a confundir consciência com inteligência, e supõe que a chamada "inteligência artificial", aquela dos computadores, dos robôs e artefatos análogos, poderá se equiparar ou até mesmo suplantar a inteligência humana, o que exigirá dela desenvolvimento de consciência.

Inteligência artificial e a natureza humana

O enredo básico dos filmes e livros sobre "inteligência artificial", geralmente, tem como ápice o momento apoteótico em que uma "máquina-homem" adquire consciência. Entretanto, na realidade, não é tão simples assim dizer que a "inteligência artificial" irá desenvolver consciência, haja vista que inteligência e consciência são bastante diferentes entre si. Por isso, é inevitável discutir os muitos desafios éticos na implementação da "inteligência artificial".

Contudo, essa discussão pressupõe, ao menos, percorrer três linhas psicológico-antropológicas e seus reflexos éticos a respeito da própria natureza humana, com seus desdobramentos nas múltiplas interações sociais, na era da tecnologia da informação e da comunicação, todas elas confrontáveis com as "máquinas-homens" – computadores, robôs e outras análogas – já identificadas na sociedade contemporânea.

Inteligência vs. Consciência: uma distinção crucial

A filosofia não tem nenhuma especialidade, a não ser a capacidade de elaboração de conceitos, sem os quais faltaram, invariavelmente, ideias mais claras e distintas sobre as coisas em qualquer tempo e espaço. Dois deles, muito importantes, entre tantos outros, são inteligência e consciência, os quais não podem e não devem ser confundidos. Inteligência é capacidade para a resolução de problemas com eficiência (Harari, 2018, p 98). Por sua vez, consciência é aptidão para discernir e avaliar condutas como boas ou más, justas ou injustas, certas ou erradas, virtuosas ou viciosas, generosas ou egoísticas e, até mesmo, prazerosas ou dolorosas, tais como, "[…] sentir coisas como dor, alegria, amor e raiva" (Harari, 2018, p. 98).

Os limites da inteligência artificial

Alan Mathison Turing teve papel ímpar na história da inteligência artificial. Já em 1950, ele publicou um artigo em que discutiu se uma máquina podia pensar e tomar decisões de forma tão racional e inteligente quanto um ser humano (Turing, 2024).

Segundo Aristóteles, como todos os seres dotados de matéria, o homem é constituído de matéria e forma. No homem, a matéria chama-se corpo e a forma denomina-se alma. Com essa teoria, Aristóteles marcou, desde a antiguidade e por longo tempo, uma noção psicológico-antropológica fundamental, qual seja, a união substancial entre corpo e alma (Aristóteles, 2011, p. 31-33).

Trata-se, pois, de uma concepção de profundo caráter unionista. Para Aristóteles, o homem é um ser racional, capaz de aprender e apreender virtudes. A virtude é uma disposição da alma racional para escolher entre o bem e o mal. A medida da liberdade consiste, pois, em conhecer o bem e agir segundo o bem que decorre desse conhecimento repleto de discernimento (Aristóteles, 2018, p. 21-23).

O problema mente-corpo: uma perspectiva histórica

Com René Descartes, já na filosofia moderna, é introduzida a noção fundamental do cogito, ergo sum, o que significa uma realidade pensante (res cogitans), uma realidade não distinta do pensamento. Ao dizer que o pensamento é substância, ele afirma que o pensamento é algo que existe por si, independentemente da realidade corpórea. De fato, esse existir por si é a substancialidade. Assim, as expressões cogito (penso) e cogitatio (pensamento) são substituídas por substantia cogitans (substância pensante) ou res cogitans (coisa pensante), que é contraposta à substância corpórea ou coisa corpórea (res extensa).

Na ótica cartesiana, não há aquela união substancial entre a alma e o corpo (Descartes, 2005, p. 51-53). São duas realidades distintas e separadas. Existe uma alma imaterial e um corpo material. O corpo humano não passaria, pois, de um enorme maquinismo que deveria ser controlado pela alma, ou seja, ela deveria guiar as suas ações.


Para René Descartes, o problema era suscitar a refundação racional de todo o sistema do saber, que transmite a articulação entre a lógica, o real e a ética. No projeto cartesiano, busca-se uma moral como sabedoria plenamente racional na ordem do bem a ser realizado pela ação.

Nesse projeto, a razão manifesta-se como liberdade na constituição de um ethos pensado e, portanto, plenamente inteligível, que pode e deve ser vivido com sabedoria, o que significa a busca ideal da perfeição entre o saber e o agir. Essa gradação exige que se percorra os planos fisiológico, psicológico e propriamente racional, culminando com a paixão mais elevada da alma, qual seja, a perfeita generosidade (Descartes, 1987, p.45-47). A generosidade cartesiana é a expressão acabada do preceito do bem julgar para o bem agir, aplicado a si mesmo e aos outros. O generoso é a manifestação concreta da mais alta moral, vale dizer, a moral de uma razão que é, indissoluvelmente, bem pensar e bem agir.

Corpo e Alma: um debate filosófico clássico

Como se pode perceber, ainda que com concepções bastante distintas, tanto para um unionista como Aristóteles, quanto para um dualista como René Descartes, a preocupação com uma alma racional (aristotélica) ou uma alma pensante (cartesiana) para bem agir está sempre presente na própria natureza humana.

Por sua vez, Julien Offray de La Mettrie entende que as teorias acerca do homem constituído de duas substâncias, alma e corpo, são impossíveis de comprovação empírica. Mais afinado com a filosofia cartesiana, mas sem lhe render adesão, ele transfere o postulado da sua fundamentação da res extensa para uma reflexão filosófica em conexão com a análise médica, o que implica dizer que o homem não seria mais do que uma máquina, isto é, todas as operações mentais são entendidas sob o ponto de vista físico-orgânico.

Não é nem Aristóteles, com sua teoria da união substancial alma e corpo, nem Descartes, com sua teoria da separação alma e corpo, que apresentam a melhor resposta sobre o homem (La Mettrie, 1982, p.125). O homem é o seu corpo e o corpo humano encerra uma mecanicidade, pois não passa de um complexo orgânico que se estrutura e funciona como uma máquina.

Dualismo Cartesiano: a separação entre res cogitans e res extensa

Para ele, o corpo do ser humano se organiza por meio de reações químicas e físicas através estímulos no cérebro e no sistema nervoso. O corpo é um relógio, mas um relógio imenso, construído com tanto artifício e habilidade que se parar a roda que serve para marcar os segundos, a dos minutos continua a girar e segue seu curso, assim como a dos quartos continuará a mover-se (La Mettrie, 1982, p. 94). O corpo é uma organização química e física que cumpre seu papel para o qual foi determinado de maneira mecânica, de tal forma que todas as ações são explicadas apenas pelo corpo. O próprio pensar é extensão corporal e suprime a alma como uma substância pensante.

O desenvolvimento da inteligência ocorre de forma evolutiva, na medida em que os homens utilizaram, primeiramente, os instintos e as sensações para adquirir inteligência e, dessa maneira, chegar ao conhecimento das coisas. A alma, se é dela que ainda se pretende falar, não escapa de ser afetada pelas sensações manifestadas no cérebro e, se houver algum desarranjo em alguma parte do corpo, isso terá repercussões, alterando o organismo, tal como ocorre, por exemplo, no caso da vertigem (La Mettrie, 1987, p. 22).

La Mettrie e o Homem-Máquina: uma perspectiva materialista

Significa uma concepção antropológico-psicológica monista, posto que alma, cérebro e corpo constituem uma coisa só, e as ações e reações se organizam sempre a partir da mecânica corpórea, chamada de "máquina-homem". Julien Offray de La Mettrie entende que a ética a ser seguida é, portanto, a do mais prazeroso para si mesmo e para os outros, por se tratar uma sensação corpórea, que é uma espécie de combustível da própria vida. Assim, não seria demasiado dizer que virtude, generosidade e prazer ainda permanecem como reivindicações éticas sublimes, no mundo contemporâneo, na era das tecnologias da informação e da comunicação, e as "máquinas-homens" não dão sinais de que já tenham alguma consciência disso.

Uma "máquina-homem", chamada de "inteligência artificial", está distante de ser uma alma unida substancialmente a um corpo, capaz de agir de maneira virtuosa, porque consegue discernir e deliberar sobre o bem ou o mal que realiza ao executar suas tarefas.

O conceito de "Máquina-Homem" na filosofia

Essa "máquina-homem", do mesmo modo, também não pode ser identificada como uma alma separada de um corpo, capaz de alcançar a generosidade, entendida como preceito do julgar e do agir com elevada e perfeita moral, ou seja, movida por uma racionalidade comprometida com o melhor alinhamento possível entre o bem pensar e o bem agir. E, se essa "máquina-homem" estiver mais próxima do homem-máquina, mesmo assim não há nada que ateste que ela é capaz de avaliar o que é e não é prazeroso a ela e aos outros em suas operações.

Nesse sentido, uma "máquina-homem", por mais que possa atuar com certa autonomia, depois de processar e filtrar inúmeras informações, ainda está bem distante de enviar uma mensagem, ao término de uma tarefa, de que procurou agir de maneira virtuosa, generosa ou prazerosa.

Por mais que se queira denominá-la de "máquina-homem", continua sendo somente uma máquina, para a qual a ética ainda é bastante estranha, como se fosse uma miragem, por ser incapaz de um juízo de valor sobre a virtude, a generosidade ou mesmo o prazer, para si e para os outros, de suas operações "finalizadas com sucesso", como costumam ser emitidas suas mensagens ao término de um procedimento realizado.

O homem e a máquina

Mensagem essa de mero resultado alcançado obviamente, e não de uma ação ética. Uma "máquina-homem", como por exemplo, a "inteligência artificial" do ChatGPT, a partir de suas buscas em várias fontes diretas ou indiretas, pode preparar e apresentar um texto, como uma produção própria, sem deixar qualquer sinal, porém, se o trabalho efetivado, na realidade, se caracteriza como um plágio de uma ou mais dessas fontes. Concluir um trabalho escolar por meio de plágio não é e jamais poderá ser considerado pela ética virtuoso, generoso ou mesmo prazeroso.

É certo que homem e máquina podem plagiar. A diferença é que o homem pode começar a desenvolver consciência ética desse malfeito, enquanto a máquina, pelo que se percebe, nem mesmo sinaliza que está em busca essa consciência. Assim, virtuoso, generoso ou prazeroso é quem programa essa "máquina-homem" ou quem se utiliza dela de maneira virtuosa, generosa ou prazeroso; logo, quem não se ocupa com nenhum desses critérios está distante de uma ação ética.

E uma "máquina-homem", vale dizer, uma inteligência artificial – computador, robô ou outra análoga – ainda não parece sequer estar perto de ter iniciado um processo de desenvolvimento da consciência do que é virtuoso, generoso ou mesmo prazeroso para si e para os outros. Portanto, os desafios éticos não pertencem a universo dessa "máquina-homem", com sua sofisticada inteligência artificial, e sim do homem consciente, com sua espantosa inteligência natural.


Marcius Tadeu Maciel Nahur

Natural de Lorena (SP), Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova. Formado em Direito, História e Filosofia. Mestrado em Direito com ênfase na Filosofia de Henrique Cláudio de Lima Vaz. Delegado de Polícia Aposentado.


Referências

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Edson Bini. 4. ed. São Paulo: Edipro, 2018. 392 p.
ARISTÓTELES. Da Alma. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2011. 144 p.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: L&PM, 2005. 128 p.
DESCARTES, René. As Paixões da Alma. Tradução de Jacob Guinsberg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1987. 223 p.
HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 441 p.
LA METTRIE, Julien Offray de. Traité de l'âme. Paris: Fayard, 1987. 129 p.
LA METTRIE, Julien Offray de. O Homem-Máquina. Tradução de Antônio Carvalho. Lisboa: Estampa, 1982. 200 p.
TURING, Alan Mathison. Computing Machinery and Intelligence. Disponível em: chrome- extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://redirect.cs.umbc.edu/courses/471/papers/turing.pdf. Acesso em: 20 nov. 2024.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/inteligencia-artificial-inteligente-e-etica/

O exemplo dos pastorinhos: simplicidade e santidade

A espiritualidade de Fátima: um caminho de santidade

O exemplo dos três pastorinhos permanece pertinente, pois a espiritualidade de Fátima nos faz refletir sobre os acontecimentos atuais. Quantas guerras ocorreram desde a primeira aparição! Quantas famílias foram destruídas por ideologias! Contudo, a mensagem de Fátima persiste.

O exemplo dos pastorinhos simplicidade e santidade

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Os três pastorinhos eram crianças simples, de origem humilde, que viviam em Aljustrel, Portugal. Lúcia, a mais velha, prima de Francisco e Jacinta, nasceu em 28 de março de 1907 e tinha dez anos na época das aparições. Francisco, irmão de Jacinta, nasceu em 11 de junho de 1908 e tinha nove anos. Jacinta, a mais nova, nasceu em 11 de março de 1910 e tinha sete anos. Nossa Senhora concedeu-lhes dons para perceber as aparições: Lúcia podia ver, ouvir e falar; Francisco, apenas ver; e Jacinta ver e ouvir. Cada uma das crianças tinham um dom, que fora dado por Nossa Senhora para elas conseguirem perceber as aparições.

Francisco: a humildade e a oração

Francisco faleceu em 4 de abril de 1919, vítima da gripe espanhola. Antes, porém, sofreu intensamente com a doença, oferecendo a Deus seus padecimentos. Segundo relatos de Lúcia, Francisco era o mais religioso dos três. Certa vez, Lúcia perguntou a Nossa Senhora se Francisco iria para o céu, e Ela respondeu que sim, mas que ele precisava rezar muitos terços. A incapacidade de ouvir a voz de Nossa Senhora demonstra a humildade de Francisco, que não o impediu de trilhar o caminho da santidade. Alguns especialistas afirmam que sua fé se fortaleceu pela purificação do olhar, intensificada após a visão do inferno. Francisco passou a dedicar-se à oração, constantemente rezando o terço, sozinho ou com as primas. Purificado pela doença, afirmava que o sofrimento não importava, pois desejava o céu.

Em 3 de abril de 1919, após receber a Sagrada Comunhão, disse a Jacinta: "Hoje, sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá depressa". No dia seguinte, Francisco faleceu.

Jacinta: o sofrimento oferecido por amor

Jacinta, a mais nova, teve uma vida breve e sofrida. Assim como Francisco, praticava penitências e, em seus últimos dias, experimentou um verdadeiro martírio. Submetida a uma cirurgia sem anestesia para a retirada de duas costelas, dizia, segundo o médico, que oferecia sua dor para consolar o coração de Jesus. Jacinta morreu longe da família, que não possuía recursos para permanecer na cidade grande. Sozinha no hospital, sentia muita saudade da sua família, principalmente da sua mãe, mas oferecia diariamente seus sofrimentos pela conversão dos pecadores e de seus familiares. Apesar da pouca idade, demonstrava a maturidade espiritual de grandes santos. Faleceu em 20 de fevereiro de 1920.


Lúcia: a voz  que ecoa a mensagem de Nossa Senhora

Lúcia, a única que podia ver, ouvir e falar com Nossa Senhora, seguiu a vida religiosa. A conselho do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva foi para o Asilo de Vilar, no Porto, e depois para o postulantado das Irmãs Doroteias, na Espanha, aos 15 anos. Posteriormente, ingressou na clausura do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde permaneceu de 17 de maio de 1946 até seu falecimento em 13 de fevereiro de 2005. Já como Irmã Lúcia, relatou suas visões e conversas com Nossa Senhora, tornando-se a principal fonte de informações sobre Francisco e Jacinta. Revelou os três segredos de Fátima e escreveu livros sobre suas experiências, falecendo no Carmelo.

Ela foi escolhida para transmitir as mensagens de Nossa Senhora, que exortava à conversão, penitência, jejum, oração diária do terço e devoção ao Imaculado Coração de Maria.

O legado dos pastorinhos de Fátima

Francisco e Jacinta Marto foram canonizados em 13 de maio de 2017, na missa celebrada pelo Papa Francisco em homenagem ao Centenário das Aparições. O processo de canonização da Irmã Lúcia está em andamento. A fase diocesana foi aberta em 30 de abril de 2008 por D. Albino Cleto e concluída em 13 de janeiro de 2017. A sessão solene de encerramento ocorreu em 13 de fevereiro de 2017.

Que santidade de vida dessas crianças! Apesar da brevidade da vida de Francisco e Jacinta, experimentaram profunda intimidade com Deus e Nossa Senhora, vivenciando a espiritualidade de Fátima: conversão, penitência, jejum, oração e devoção ao Imaculado Coração de Maria. Somos chamados a vivenciar essa mesma experiência, transformando nossas dores e sofrimentos em degraus para o céu, a exemplo dos pastorinhos.

Wesley Paulo Santos Moreira


Referência:

https://www.papa2017.fatima.pt/pt/pages/pastorinhos


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/o-exemplo-dos-pastorinhos-simplicidade-e-santidade/

28 de novembro de 2024

Jesus ora pelos discípulos

Jesus ora para permanecermos na fé

No capítulo 17 do Evangelho de São João, Jesus ora para permanecermos na fé. "Já não estou no mundo, mas eles estão ainda no mundo; eu, porém, vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós… Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal…Santifica-os pela verdade." (Jo. 17,11.15.17)

 

Jesus ora pelos discípulos

Crédito: Denis-Art / GettyImages

Jesus ora pelos discípulos

"Guarda-os em teu nome" "os preserve do mal" "santifica-os". Estas palavras fazem parte da oração de Jesus, na última ceia, narrada no Evangelho de São João. O Senhor lembra ao Pai que, os que Ele lhe deu são seus, porém estão no mundo, e por isso precisam ser protegidos e fortalecidos para vencerem o mal, que age não somente em nós, mas contra nós. Cristo pede, ainda, que o Pai os santifique, ou seja, os consagre.

Vejo que, nesta oração, o Senhor, desejando que os seus permaneçam fiéis, nos dá três elementos importantes para a constância.
O primeiro é a guarda do Pai, ou seja, que ele nos proteja dos perigos deste mundo que nos seduz e, muitas vezes, chega a nos tirar do essencial com suas ofertas de poder, fama e riquezas, que tanto atraem nossa concupiscência. Quantos não se perderam da vida em Deus, em busca destas ofertas baratas? Que o Senhor convença o nosso coração de que não somos do mundo, para que não nos deixemos enganar. Aqui é uma questão de luta contra as nossas tendências e paixões desordenadas com o auxílio de Deus.

O segundo elemento que chama a atenção nesta oração de Jesus é a preservação do mal. É a batalha contra o Mal propriamente dito. O Inimigo tem ódio de nós e fará tudo para nos afastar de Cristo. Deste modo, Jesus mesmo já pediu ao Pai que nos livre do mal, que armará ciladas a fim de que abandonemos a fé. Só se vence o mal com o auxílio do Senhor.

O terceiro ponto da oração de Jesus que me salta aos olhos é a santificação na verdade da Palavra, ou seja, vivendo o Evangelho em nossa vida, estaremos na luz e longe do pecado, coerentes com o que acreditamos e pregamos; caindo talvez, mas não ficando no chão. Se dissermos que somos de Deus, mas não vivermos na verdade, estaremos na mentira. O viver "na verdade" amadurece a nossa fé, a fim de não nos deixarmos vencer pelas incoerências e hipocrisias. E é Deus quem nos dá a graça para isso.

Jesus nos ajuda a perseverar

O próprio Jesus, que já orou pela nossa fidelidade, é quem nos ajuda a sermos constantes na fé. Permanecer em Deus é possível porque Cristo nos põe de pé com a sua salvação e nos levanta quando caímos. Se algumas vezes encontramos pessoas derrotadas porque voltaram atrás, certamente, foram as que quiserem se erguer sozinhas. Por nós mesmos não conseguimos nos levantar após uma queda, mas Nosso Salvador, que já orou por nós, quer e virá nos dar a força capaz de nos sustentar até o fim. Nossa perseverança é do tamanho da nossa confiança em Deus. Depende do abandono em suas mãos e do reconhecimento de nossa incapacidade de salvar a nós mesmos.

Deixe-se salvar por Deus hoje. Ele, que já orou para que sua fé não se enfraqueça, agora, estende a mão para erguê-lo! Apenas reconheça que precisa d'Ele!

Elane Gomes
Comunidade Canção Nova


Fonte: https://mensagem.cancaonova.com/mensagem-do-dia/jesus-ora-pelos-discipulos/

25 de novembro de 2024

Venha a nós o vosso reino

Um novo ano litúrgico, um novo Jubileu

Estamos chegando ao final do ano civil, que se conclui no último dia do mês de dezembro. Para a Igreja, o ano litúrgico começa no primeiro Domingo do Advento e se encerra com a Solenidade de Cristo Rei, que celebramos neste final de semana, desdobrando-se nos dias que se seguem, para abrir a temporada da Esperança, característica do Tempo do Advento. Tudo isso reforça nossa expectativa da abertura solene do Jubileu de 2025, no dia vinte e nove de dezembro, em todas as Catedrais do mundo, com o tema proposto pelo Papa Francisco, "Peregrinos da Esperança", que vai iluminar toda a nossa vida cristã durante os próximos meses. E em todo o ano novo, serão muitas as peregrinações à Catedral e aos oito Santuários Arquidiocesanos de nossa Igreja de Belém, aos quais acorrerão em peregrinação os fiéis, com a disposição renovada para serem sinais de esperança para o mundo.

Crédito: artplus / GettyImages

Construindo o Reino de Deus no tempo presente: um chamado à esperança e à ação

Não é novidade afirmar e reconhecer que estamos vivendo a chamada "mudança de época", com verdadeira revolução nos princípios que deveriam alicerçar as decisões de pessoas, grupos e nações. As famílias experimentam a dificuldade para comunicar às novas gerações os valores que todos reconheciam como sólidos, tanto do ponto de vista ético e moral quanto à dimensão religiosa. Olhamos para o mundo e muitas pessoas até afirmam estar próximo fim do mesmo mundo, tamanhas as transformações e desafios que se apresentam.

A resposta da fé em tempos de crise

Tal realidade pode e deve provocar uma sadia e honesta revisão de nossa vida, conduzindo-nos ao apego corajoso àquilo que é essencial, e a nossa fé oferece os elementos necessários. O conteúdo de nossa profissão de fé é sempre o mesmo, mas a forma de apresentá-lo pode e deve buscar caminhos novos, uma linguagem adequada e a coragem para aproximar-nos das pessoas e situações que chegam a causar medo!

Jesus, o Rei que serve e cura

Jesus é verdadeiramente Deus e Homem, e veio a este mundo, nas circunstâncias encontradas à época em que se fez igual a nós em tudo, exceto no pecado. Convocou discípulos vindos de um ambiente desafiador, com expectativas messiânicas cultivadas ao longo de séculos, muitas delas decepcionadas com seu jeito de ser, que veio realizar a figura do Servo, aquele mesmo Servo sofredor anunciado nas profecias. Os machucados existentes na vida das pessoas foram por ele tocados, sem rejeitar nenhum deles. O Senhor veio ao encontro de todas as situações, passando pelo mundo como aquele que faz bem todas as coisas, sem que ninguém se sentisse alheio à sua presença e seu amor corajoso e mais desafiador do que os problemas existentes. E como Jesus continua presente, pois não abandonou seus discípulos e sua Igreja, ele mesmo oferece os instrumentos para fermentar, em qualquer tempo, a realidade que o apaixonava e perpassou toda a sua pregação e seus gestos, o Reino de Deus! Ao celebrá-lo como Rei do Universo, Solenidade instituída para toda a Igreja nos primeiros anos do século XX, quando os primeiros sinais de uma mudança profunda se faziam presentes, nós desejamos proclamar o valor de seu Reino e comprometer-nos com ele!

A construção do Reino: pequenos gestos, grandes mudanças

Pode existir no coração de muitos cristãos e pessoas de boa vontade o desejo de um retorno a um clima de cristandade, no qual a palavra da Igreja e a prática da vida cristã influenciava todas as realidades humanas. Sabemos que em nosso modo de espalhar o Reino de Deus hoje há de se redescobrir a pequenez da semente de mostarda, a força do fermento no meio da massa, a humildade do sal que se perde para dar sabor à vida e a intensidade da luz, não desejosa de ofuscar, mas pronta a iluminar e realçar o bem existente nas pessoas e em todas as realidades humanas.

A ação começa agora

Ninguém pretenda aguardar um acontecimento cósmico e espetacular para espalhar o Reino de Deus. Decida-se antes a começar agora, imediatamente. Olhe ao seu redor e descubra os valores que o caracterizam, a verdade e a vida, a justiça, a santidade, o amor e a paz. Aceite estimular, em quem quer que seja, tais valores e atitudes, e no pequeno que possa parecer, estaremos todos contribuindo para o crescimento do Reino de Deus.

Paixão pela Igreja, compromisso com o Reino

Outro passo há de ser nosso compromisso com a Igreja, realidade visível do Reino de Deus, malgrado nossas limitações e pecados. É da grande Santa Catarina a proposta de uma "paixão pela Igreja", o que esta grande figura experimentou em tempos muito difíceis, questionando e apontando erros de personalidades de Igreja, mas tudo feito com um amor de dimensões impensáveis, nascidas de seu mergulho na vida da Santíssima Trindade e em seu amor pelo Sangue de Cristo, derramado pela salvação do mundo. Paixão pela salvação das pessoas, coração repleto de compaixão, pois lavado na misericórdia de Deus!

Unidade e fidelidade aos pastores

O amor à Igreja nos conduzirá à fidelidade aos pastores que a Providência Divina nos oferece a cada tempo, especialmente o amor ao Papa e aos Bispos, homens como todos os outros, mas revestidos de uma graça especial, que tem conservado a Igreja unida desde seus primórdios, preservada do ensino do erro e da mentira. Desejar um caminho "solo", da parte de pessoas ou grupos, é destinar-se ao fracasso e à multiplicação de divisões, entrando justamente no jogo do maligno, aquele que separa e divide!

Venha a nós o vosso Reino: uma oração que transforma

Tudo isso encontrará cotidianamente os cristãos que suplicam "Venha a nós o vosso Reino!" São milhares de corações, silenciosos ou em alta voz que, no mínimo três vezes por dia fazem este pedido. E se acrescentarmos as orações do Rosário, multiplicaremos esta súplica! Um dos frutos será a percepção de que Deus não fica dormindo, mas trabalha sempre. Infelizes seremos se não descobrirmos os sinais do Reino de Deus, a fé professada, a caridade vivida por pessoas de todas as classes sociais, o amor ao mais pobres e sofridos, a instituições de Igreja, as muitas iniciativas pastorais e o bem que acontece, bem ali, em nossa vizinhança, em nossa Paróquia ou Comunidade, os gestos de amor realizados por pessoas muitas vezes distantes da vida de Igreja, mas capazes de amar, corações que acolheram as sementes do bem e do Reino de Deus plantadas pelo Espírito Santo! Venha a nós o vosso Reino!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/venha-nos-o-vosso-reino/