27 de outubro de 2024

O modelo do discípulo

Jesus formou Seus discípulos através de Seus sermões, fazendo-os testemunhar milagres, conversando com o pequeno grupo, contou-lhes inúmeras parábolas, enviou-os em missão, respondeu suas perguntas, fez gestos que se tornaram referência para a vida da Igreja, como o Lava-pés, instituiu a Eucaristia, deixou-lhes e a nós o mandamento novo do Amor. Sobre a Pedra que escolheu, Simão Pedro, malgrado todos os limites daquele homem, edificou sua Igreja, contra a qual as forças do inferno não podem prevalecer.

Aprendendo com o Mestre

Depois de três anúncios de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, vendo que os discípulos precisavam crescer na compreensão de seu mistério, faz com eles uma Escola Itinerante, descendo da Galileia, pelo percurso do Jordão, para alcançar a subida para Jerusalém, quando se desencadearam os acontecimentos finais, que marcaram o novo começo. Olhando à distância, temos a impressão de que muitas interrogações povoavam a mente dos discípulos, colocando-os muitas vezes em crise. Passando por Jericó, imaginamos seus amigos quase engolindo Jesus com os olhos, tentando entender mais, quando Jesus acolhe um homem de nome Bartimeu, morador de Jericó, cego e mendigo (Mc 10,46-52). Parece-me conhecer justamente o modelo do discípulo, justamente de onde não se poderia esperar muito!

Bartimeu: um modelo inesperado de discipulado

Jesus passa por Jericó como um Missionário itinerante. Sabemos que na mesma cidade encontrou Zaqueu, o publicano que o acolheu e viu a salvação entrar em sua casa e em sua vida (Lc 19,1-10). É bom saber que ele tem um olhar perspicaz e um coração acolhedor para pobres e ricos, pequenos e grandes. Qualquer pessoa que se dispuser ao discipulado de Jesus saiba escancarar seu ângulo de visão e também seu coração, pois, quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. E até hoje, no meio da multidão, estão as massas e as pessoas com seus clamores pela salvação, muitas vezes sem saber dar nomes aos seus anseios, mas Deus nos fez a todos para encontrá-Lo! Cada discípulo de Jesus, nós todos, somos chamados do meio da multidão que busca o sentido da vida, só possível de encontrar naquele que é Caminho, Verdade e Vida. 

Crédito: Eustache Le Sueur/Domínio público

À margem do caminho

À beira do caminho, encontrava-se Bartimeu, nosso modelo de discípulo! Mendigo, Cego e morador de Jericó! Muita coisa ruim sobre uma pessoa, pela mendicância, a cegueira que muitos consideravam um castigo e morador de uma cidade cuja fama era a pior possível. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho, quem sabe, de cócoras, esperando as ondas de um destino terrível. Vindo com este fato até nós, é bom saber que não temos desculpas, pois todos, nas multidões dos séculos, sempre terão lugar e futuro no encontro com Jesus Cristo. Se queremos ser discípulos, do fundo do poço de nossa existência, podemos levantar a vista!

A coragem de clamar por Jesus

De fato, ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim". Discípulo que se preze há de ter coragem de pedir, suplicar, gritar! Muitos, a turma do "deixa disso" o repreendiam, para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim". Chamar Jesus de Filho de Davi era afirmar, numa fé que brotava transbordante, que aquele Senhor era a realização das promessas. O cego não era tolo! Já havia escutado as profecias, e tira lá do fundo de sua angústia, o grito pela Salvação!

Um chamado pessoal

E aqui a certeza de que Jesus quer dar um trato, uma atenção especial ao cego e a cada um de nós, conhecidos pelo nome e pela história pessoal. Ele o afastou do meio da multidão. Jesus parou e disse: "Chamai-o!" Eles o chamaram, dizendo: "Coragem, levanta-te! Ele te chama!". Quando fomos batizados, a pronúncia de nosso nome foi a proclamação de que somos tirados do meio da multidão, para sermos tratados como Filhos de Deus, homens novos como outro Cristo, na força do Espírito Santo. Deus não tem medo de nossos gritos, acolhe nossas esperanças, vai ao encontro de nossas origens tantas vezes carregadas de traumas, olha para nossa pobreza material e espiritual, não nos julga nem condena por passos errados que tenhamos dado.

A importância da liberdade e da fé

Entretanto, como o cego que jogou fora o manto, deu um pulo e se aproximou de Jesus, aqui entra em jogo o mistério de nossa liberdade e a prontidão para dar os pulos e os saltos na fé, pois Deus não nos oferece um guia completo de tudo o que pode acontecer! Onde quer que se encontrem as pessoas que têm acesso a esta reflexão, é necessário aproximar-se do Senhor, arriscando tudo nele. Começa com o coração que pulsa esperança e alegria. Com tempo, todas as explicações chegarão à nossa cabeça!


O desejo de ver e a graça de receber mais

Neste mistério de liberdade, Jesus perguntou: "Que queres que eu te faça?" O cego respondeu: Rabuni, que eu veja". De fato, Deus quer saber o que procuramos, o que desejamos, nossos anseios mais profundos. Querer ver era a primeira necessidade de Bartimeu, mas vemos que ele recebeu mais, recebeu o tudo que nem poderia imaginar: "Jesus disse: 'Vai, tua fé te salvou'". No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho. Jesus não é um taumaturgo ou milagreiro à disposição dos pedidos da humanidade. Seria reduzi-lo indevidamente querer apenas milagres, curas ou libertações, segundo nossos desejos. Ele quer dar mais, o tudo da vida divina que oferece transbordante, à disposição de todos os que andam por este mundo de Deus afora, para dar-lhes a vida em abundância.

O caminho do discipulado

Este é um caminho de discipulado, abrindo-nos à possibilidade da configuração com Cristo, que vai à profundidade de um dos lugares mais baixos da terra, e posso ser eu mesmo este lugar para fazer-me discípulo, disposto a subir com ele a Jerusalém.


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-modelo-discipulo/

24 de outubro de 2024

Alegria do Evangelho: vivendo a missão no dia a dia

Testemunho cristão: Pequenos gestos que transformam o mundo

A Igreja destina o mês de Outubro  para nos lembrar que ela é, por sua mesma natureza, missionária e que, pelo Batismo, todos nós somos missionários". Por isso, convém relembrar e meditar sobre esse chamado de cada batizado sermos missionários. Mas  o que significa isso? Que devemos deixar nossa terra e partir para lugares extremos para pregar a Palavra de Deus??? Para entender melhor o nosso chamado a missionariedade, podemos olhar de mais perto o que a própria igreja nos diz sobre o assunto e os exemplos que ela nos apresenta. 

O Exemplo Inspirador de João Paulo II

Para mim, um dos grandes exemplos modernos de missionariedade que a própria Igreja nos oferece como modelo é o Papa João Paulo II. Ele, mesmo em idade avançada e com saúde que se fragilizava,  viajou para 129 países e percorreu 1,2 milhões de quilômetros. Professor Felipe Aquino nos ensina que essas viagens representam 29 voltas ao redor do mundo e três vezes a distância entre a Terra e a Lua. São João Paulo II impôs a si mesmo essa vida de peregrino.

A Missão como Caminho de Santidade

Na sua encíclica Redemptoris Missio, publicada em 1990, é ele mesmo que nos diz: " "Desde o início do meu pontificado, decidi caminhar até aos confins da terra para manifestar esta solicitude missionária, e este contato direto com os povos, que ignoram Cristo".  Para aprofundar essa compreensão, vejamos o que mais ele nos fala nesse documento: " "O chamamento à missão deriva por sua natureza da vocação à santidade. Todo missionário só o é autenticamente, se se empenhar no caminho da santidade".

Então, se você almeja por um autêntico seguimento de Cristo e uma vivência responsável da religião e do aspecto espiritual da sua vida, deve dar passos mais concretos e profundos para compreender e viver a missão.  Se você encontrou Cristo verdadeiramente, não consegue ficar com essa linda descoberta guardada só para si, quer partilhar com os demais, é desse desejo genuíno que nasce a missão.

Crédito: desifoto / GettyImages

A Força do Testemunho Silencioso

Muitos devem lembrar aquela cena do papa na janela de seu quarto, em frente à Praça de São Pedro, poucos dias antes de sua morte.

Consumido pela dor, ele tentava falar aos fiéis. Foi impossível não chorar ou se emocionar com seu esforço. Sem conseguir pronunciar uma palavra, ele apenas abençoou várias vezes o seu povo. Foi a penúltima vez que apareceu em público. Isso para mim, foi tão impressionante: já quase sem força, momentos antes de morrer, ele quis se expor e nos deixar a benção. A meu ver, só alguém movido por um grande senso de propósito e amor é capaz disso. Sim, é essa chama de amor por Nosso Senhor Jesus Cristo que move o missionário. E é na mesma encíclica Redemptoris Missio que ele explica essa mola propulsora que o move:

"A característica de qualquer vida missionária autêntica é a alegria interior que vem da fé. Num mundo angustiado e oprimido por tantos problemas, que tende ao pessimismo, o proclamador da Boa Nova deve ser um homem que encontrou, em Cristo, a verdadeira esperança".

O Missionário é uma pessoa repleta de alegria e esperança porque ele encontrou Jesus, e por isso vive a vida como uma grande e bela aventura, consegue encontrar a vida em abundância que Jesus mesmo prometeu em João 10,10 . 

Vivendo a Missão no dia a dia

Mas se você já se encontrou com essa vida verdadeira e quer também compartilhar essa experiência com os outros, pode estar se fazendo a mesma pergunta lá do começo desse texto: eu preciso deixar o lugar onde vivo e partir a terras longínquas para pregar a palavra de Deus para viver essa missionariedade? Esse mês de Outubro e o Dia das Missões servem para você alargar sua visão e compreensão sobre vida missionária bem como um convite ao exercício em sua vida comum desse chamado a Missão.


O Convite à Missão: Um chamado para todos

Essa palavra 'convite' me remeteu ao que o Papa Francisco escreveu em sua mensagem para o Dia das Missões de 2024. Ele tirou o tema da parábola evangélica do banquete nupcial (cf. Mt 22, 1-14). Depois que os convidados recusaram o convite, o rei – protagonista da narração – diz aos seus servos: «Ide às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes» (22, 9).

Você pode ser, meu irmão, o convidado, bem como se colocar como o servo que sai a convidar. A  missão é incansável ida rumo a toda a humanidade para a convidar ao encontro e à comunhão com Deus. Incansável! Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para o chamar à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa. Jesus, depois da sua ressurreição, disse aos discípulos «ide», envolvendo-os na sua própria missão (cf. Lc 10, 3; Mc 16, 15).

Por isso, a Igreja continuará a ultrapassar todo e qualquer limite, sair incessantemente sem se cansar nem desanimar perante dificuldades e obstáculos, a fim de cumprir fielmente a missão recebida do Senhor.missão ad gentes que Jesus confiou aos seus discípulos: «Ide e fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19).

E você  é chamado a tomar parte nesta missão universal com o seu testemunho evangélico em cada ambiente, para que toda a Igreja saia continuamente com o seu Senhor e Mestre rumo às «saídas dos caminhos» do mundo atual Respondendo áquela pergunta inicial, o importante é sair de si mesmo, ir ao encontro do outro com um olhar, um sorriso, uma palavra de esperança, uma ajuda financeira se possível, um abraço ….. isso também é ser missionário!

Edvânia Duarte Eleutério– Missionária da Comunidade Canção Nova desde 1997, é formadora de namorados e casais, entre outras funções. Possui especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética. Autora do livro 'Por que (não) eu?


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/alegria-do-evangelho-vivendo-a-missao-no-dia-a-dia/

23 de outubro de 2024

Qual é a importância da jaculatória na nossa vida de oração?

A Igreja católica, por muitos séculos, sofreu duríssimas perseguições. Desde os primórdios, os cristãos não tinham totalmente a liberdade de rezar em qualquer lugar ou mesmo ficar à vontade para fazer as orações cotidianas; muitos reis e imperadores perseguiram os seguidores de Cristo e sua Igreja. Os cristãos, para conseguir rezar, inventaram as jaculatórias, orações curtas de repetições, não precisando recitar grandes orações durante o dia a dia. Eles rezavam as jaculatórias para ter os seus momentos de oração com Deus. Temos que ter o cuidado de não as confundirmos com mantras, que são repetições de frases costumeiras em outras religiões como no islamismo no hinduísmo, jainismo, budismo e espiritismo.

Qual é a importância da jaculatória na nossa vida de oração?

Crédito: Zanuck / GettyImages

Jaculatórias × mantras: entendendo a diferença

A diferença entre mantra e jaculatória está no seu uso e na sua finalidade. Mantras são frases curtas, geralmente repetidas várias vezes, cuja origem são as tradições orientais usadas para meditação e concentração, ou para serem utilizadas para alcançar determinados estados de consciência. Um exemplo é a Ioga, prática esta que não condiz com a Doutrina Católica.

As jaculatórias têm origem na tradição cristã, são pequenas invocações ou orações breves que buscam nos aproximar de Deus através de pequenas repetições de orações. Elas podem ser utilizadas no dia a dia como forma de agradecimento e louvor a Ele.

Pequenas frases, grande poder

Vivemos numa sociedade em que tudo gira em torno do tempo, e como o próprio ditado popular diz, "tempo é dinheiro". Tudo é para agora. Vivemos nesse imediatismo frenético, nessa loucura da vida. Uma correria para chegar ao serviço, para entregar os trabalhos, para levar os filhos na escola, na natação, no balé, no judô, futebol… No fim do dia, parece que fizemos tantas coisas, mas faltou tempo para resolver outras, e acaba que não dedicamos tempo nenhum a Deus, mesmo Ele sendo o Senhor do tempo. Na nossa vida, Ele não teve tempo, porque não sobrou.

Por vivermos neste tempo de correria, é que as jaculatórias se tornam tão necessárias para nós, pois são uma ótima opção para aquelas pessoas que não conseguem ter muito tempo do seu dia a dia, para parar e rezar por um tempo maior. Elas podem ser um auxílio na sua vida de intimidade com Deus. Mesmo no corre-corre do dia a dia, podemos recitar as jaculatórias. Claro que elas não substituem a oração pessoal, as práticas de piedade, o santo terço; o que estou dizendo é que elas podem nos auxiliar na vida de intimidade com Deus, pode nos levar ao louvor e também à contemplação, ao agradecimento por tudo que Deus tem feito por nós, tudo o que tem nos dado diariamente, mas, muitas vezes, esquecemos de agradecer. Vamos citar algumas jaculatórias que podemos recitar durante o nosso dia:

Santíssima Trindade, tende piedade de nós.

Jesus, Maria e José, eu vos amo. Não permitais que eu vos ofenda.

Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que Te amo!

Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque, por Vossa santa Cruz, remistes o mundo.

Chagas abertas, coração ferido, o sangue de Cristo está entre nós e o perigo.

Transformando o cotidiano em oração

Existem várias outras jaculatórias, muitas feitas com trechos de orações, de salmos. Hoje em dia, a própria pessoa vai criando pequenas jaculatórias e usando no seu dia; o que não podemos é nos acostumar a não rezar, a não buscar intimidade com Deus. Precisamos cavar tempo para estar na presença do Senhor, precisamos usar todas as ferramentas necessárias para que essa intimidade aconteça, seja rezando, seja adorando, indo à Santa Missa ou mesmo rezando um terço ou o rosário completo. O que não podemos é ficar parado vendo a vida passar.


A jaculatória é uma boa ferramenta para nos auxiliar na busca de intimidade com Deus, ao ritmo da vida. Como dizemos aqui na Canção Nova, em tudo que vamos fazer ou realizar, estamos envolvidos em oração. Se vamos arrumar um computador, porque ele parou ou travou, não perdemos tempo: já vamos arrumando o que precisa ser arrumado, e vamos criando uma atmosfera de oração, entregando a Deus as nossas decisões, as nossas escolhas, pedindo que Ele passe à frente de tudo aquilo que precisamos realizar e que, muitas vezes, não damos conta humanamente. Só damos conta por causa da graça sobrenatural. Assim aprendemos com o nosso pai fundador, Monsenhor Jonas Abib, pois tudo o que ele realizava era envolto a muita oração. Assim também tentamos fazer diariamente.

Um passo rumo à intimidade com Deus

Mas se você não tem esse tempo nem o hábito de rezar durante os seus afazeres, uma boa opção é começar com algumas jaculatórias. Você pode inserir nas suas atividades diárias como lavar louça, secar, estender uma roupa no varal, dentro do ônibus, no supermercado, ao passar roupa, ao varrer a casa, no seu trabalho. Vai sussurrando uma jaculatória que você já saiba, e isso irá auxiliá-lo na sua vida de oração, não como uma prática, mas como uma via de iniciação, sendo um suporte no começo, até que você consiga criar o hábito e a constância na vida de oração.

Não é fácil, mas é possível. O que nos leva à perfeição é a prática; de tanto fazer, vai ficando mais fácil. Daqui um tempo, já não são as jaculatória, mas sim o terço; depois, o rosário e assim por diante. Quando menos pensarmos, estaremos praticando coisas que pareciam impossíveis para nós, só por causa da constância e fidelidade. Para quem quer evoluir na sua intimidade com Deus e não tem muito tempo, as jaculatórias são bem indicadas e podem ajudar muito na sua vida espiritual.

Wesley Almeida


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/qual-e-a-importancia-da-jaculatoria-na-nossa-vida-de-oracao/

20 de outubro de 2024

Coração de paz

Cultivar um coração de paz é o caminho para um mundo melhor

O Papa Francisco convoca a Igreja Católica a viver, em outubro, o Dia de Jejum e Oração pela Paz no Mundo – convite dirigido também a cada pessoa que reconhece a própria força espiritual. Ao lançar o olhar sobre o mundo e se sensibilizar com os muitos focos de guerra, pode-se questionar sobre a eficácia de se recorrer à força espiritual na busca pela solução de problema tão grave. Muitos acreditam que a paz somente será alcançada a partir das mesas de diálogo e de negociação – várias delas sem apresentar frutos efetivos.

Coração de paz

Crédito: wildpixel / GettyImages

Enquanto isso, agravam-se tensões, vidas inocentes são perdidas, problemas sociopolíticos se acentuam. A efetiva reação para debelar os conflitos não depende de máquinas ou simplesmente de estratégias. Precisa, essencialmente, de cada ser humano fazer-se morada de um coração de paz.

O jejum e a oração são ferramentas essenciais para a paz interior

A oração e o jejum reúnem propriedades inigualáveis para tecer, na interioridade humana, um coração de paz, que, aliado à inteligência e a outras aptidões, possibilita a intuição de respostas na superação das muitas formas de violência.

Jejum e oração podem qualificar cada pessoa na promoção da paz – no ambiente doméstico, na comunidade em que se vive, com repercussões nos âmbitos políticos e nos cenários internacionais. Na contramão dessas práticas alicerçadas na fé, está o caminho fácil e tentador de se deixar conduzir pelo ódio e desejo de vingança, distanciando-se das possibilidades de diálogos e do exercício da solidariedade.

A prática educativa do jejum e o recurso diário da oração incidem no tecido de um coração de paz, com força de paixão, movendo o ser humano para trabalhar pelo bem comum. A força da paixão irradiada de um coração de paz promove a fraternidade e efetiva a solidariedade. Compreende-se, pois, que investir para conquistar um coração de paz é alavanca indispensável para consolidar, no mundo, realidades mais pacíficas. Por isso, trata-se de importante investimento e ensinamento da Igreja, em sintonia e cooperação com outras instituições e segmentos da civilização contemporânea.

Coração em paz: antídoto para o ódio e a vingança

Aqueles que cultivam um coração de paz tornam-se agentes corajosos e proféticos no enfrentamento das muitas formas de violência – atentados a dignidades invioláveis. Comove pensar a situação de tantas crianças e outros indefesos, vítimas de guerras fratricidas, de escaladas do ódio e da vingança.

Para que a humanidade possa reagir, é preciso um passo primeiro: cada pessoa se conscientizar de que precisa ser coração de paz – a paz é dom e missão. Essa consciência torna-se clara quando o ser humano reconhece a sua referência insubstituível: Deus, de quem é imagem e semelhança. No vínculo com o Criador se inscreve a missão de cada pessoa – cultivar um coração de paz, sustentado pelo Deus da paz. O ser humano é chamado, assim, a participar da criação divina e da ação redentora de Deus.

Um coração de paz é reserva de força moral indispensável para fazer frente a irracionalidades e recompor a frequente perda de sentido da vida, em uma sociedade marcada pela pluralidade, mudanças muito bruscas e velozes. Existe uma gramática no coração, a gramática da paz, que não pode ser abolida, nem mesmo desprezada. Essa gramática contempla a observância e o respeito ao direito natural, sob pena das ameaças promovidas pelo subjetivismo. Do subjetivismo brotam razões que se contrapõem ao bem comum e à fraternidade, pois são prisioneiras das estreitezas e das simpatias particulares.


A paz como bem comum

Desrespeitar o direito natural é inviabilizar diálogos, intuições solidárias, perpetuando exclusões e discriminações. Núcleo central do coração de paz é o reconhecimento da igualdade de natureza de todas as pessoas. Desconsiderar esse princípio é promover desigualdades mundo afora. Toda pessoa precisa ser formada para ter e cultivar um coração de paz, o que contempla engajar-se na promoção da igualdade entre as pessoas, configurando um funcionamento social inclusivo.

O ensinamento social na Igreja Católica compreende a importância de se revestir corações com a gramática da paz. Um empreendimento hercúleo, mas que não pode ser descartado em momento algum. Um processo educativo em que todos são aprendizes e mestres. Negligenciar esse processo é oferecer possibilidades para que sejam acentuadas diferentes formas de violência, inclusive as que são praticadas contra o planeta. Um coração de paz é ponto de partida determinante no processo de conversão ecológica.

Na verdade, a paixão que nasce do coração de paz impulsiona o convívio harmonioso do ser humano com a natureza. Há, pois, a exigência de um grande cuidado para que um coração de paz habite a interioridade humana, priorizando uma espiritualidade místico-contemplativa que leve ao encontro da grandeza de Deus. Esse encontro possibilita o iluminar do rosto de cada irmão e irmã, que é essencial à convivência e à cooperação construtoras do bem comum, sem matar as diferenças ou hierarquizar singularidades.

A paz como base para uma sociedade justa e inclusiva

A adoção de compreensões que relativizam a sacralidade da dignidade humana é um risco. Essas compreensões não podem se fundamentar na hegemonia dos critérios e das escolhas orientadas pelos interesses do mercado, do lucro e da defesa de autonomias que facilitam a destruição de semelhantes. Sem um coração de paz prevalecerão posturas autoritárias ou que expressem ressentimentos, precipitando a vida no caos.

É urgente cultivar a paz no próprio coração, tornando-o repleto de uma paixão que inspire o exercício da solidariedade fraterna e ilumine intuições na busca pela consolidação de cenários de paz. A mudança para alcançar um mundo mais pacífico começa pela interioridade humana.

Nesse essencial processo de transformação, o jejum e a oração muito contribuem, formando agentes do bem. Qualificam o ser humano para adequadamente exercer as suas responsabilidades. Revestem o agir de cada pessoa com uma paixão que nasce do coração de paz.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/coracao-de-paz/

Discípulos servidores

Servos uns dos outros à imagem de Maria: vivendo o Evangelho no coração do Círio de Nazaré

Vivemos, com alegria, dias maravilhosos no coração do Círio de Nazaré, um evento genuinamente católico e de responsabilidade exclusiva da Arquidiocese de Belém, ao mesmo tempo acolhedor a todas as pessoas, sem exceção, de perto ou de longe, que se sentem atraídos pelo Mistério de Morte e Ressurreição de Cristo, Mistério Pascal! E sabemos que, aos pés da Cruz de Jesus, estava de pé Sua Mãe Santíssima, entregue a João, e este, em nosso nome, fez com que a Igreja levasse permanentemente, entre aquilo que lhe pertence, a Mãe de Deus e sua Mãe. Tanto é verdade que, nos séculos afora, todas as gerações a chamam feliz, bem-aventurada, bendita, encontrando centenas de nomes para se referirem a Maria. Para os paraenses e belenenses, é chamada Nossa Senhora de Nazaré, e sabemos como seu título, sua Imagem Peregrina e sua mensagem se espalham por todos os quadrantes do Brasil e do mundo. Desejamos declarar-nos "Servos de Maria de Nazaré", colocando-nos a sua disposição para espalhar sua devoção, cada um de nós em sua vocação e estado de vida.

Servos de Maria de Nazaré: um chamado à entrega

Se existem várias fórmulas de Consagração a Nossa Senhora, desejamos fazer essa proposta dentro do clima do Círio de Nazaré: dedicar-nos a divulgar a devoção Nossa Senhora de Nazaré; rezar do jeito que Maria rezou com os Apóstolos no Cenáculo, suplicando a vinda do Espírito Santo, especialmente pela paz, um dos frutos de sua ação no mundo; abraçar como própria a vocação missionária da Igreja, neste mês de outubro; rezar, durante a Quadra Nazarena, a oração própria do Círio: "Senhor nosso Pai, estamos unidos em nome de Jesus, vosso Filho, conduzidos pelo Espírito Santo de Amor. Nós vos agradecemos pelo dom da fé cristã que nos reúne, e pela Igreja que nos conduz pelos caminhos da vida feliz nesta terra e para a eternidade! Pai eterno, vós nos destes de presente a Virgem de Nazaré, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Unidos a Maria, pedimos com confiança: envolvei-nos com laços de amizade e cordas de amor, trazei-nos para perto de vós, de Jesus Cristo e do Espírito Santo! Acendei, ó Pai, em nossos corações, o Círio da Fé, da Esperança e da Caridade. Que o povo de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha e Padroeira da Amazônia, seja testemunha fiel do Evangelho de Jesus Cristo, para o crescimento do vosso Reino de paz e justiça, reino de vida e verdade, reino do amor e da graça. Amém!"

O Evangelho do Serviço: aprendendo com Jesus e Maria

Maria se proclamou serva e escrava do Senhor, tornando-se modelo e intercessora para todos os que desejam servir e amar. O Evangelho do vigésimo nono domingo comum, que celebramos neste final de semana (Mc 10,35-45), conta que Tiago e João, justamente o João que esteve de pé perto da Cruz e ao lado de Maria, os dois manifestando a Jesus o desejo de posições de destaque. Certamente ainda existia, em seus corações, muito a aprender a respeito do Messias pobre, sofredor, morto e ressuscitado. Pelo visto, João entendeu tudo, pois, no seu Evangelho, narrou o lava-pés e as palavras de Jesus sobre o mandamento novo. E nas belíssimas cartas que escreveu, indicou maravilhosamente o mandamento do amor.

Com Maria, com João e mais ainda com Jesus desejamos reaprender o que o Senhor diz no Evangelho: "Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos" (Mc 10,43-45). Trata-se de uma proposta que vai contra a correnteza de todos as pretensões de poder, em todas as épocas. E agora, com simplicidade, perguntemos o que significa ser servos ou servidores!

Crédito: J Brarymi / GettyImages

A alegria de servir: um coração disponível

Quem vive para servir toma a iniciativa, dá o primeiro passo, descobrindo sempre o que se pode fazer para ajudar no crescimento do Reino de Deus e para amar a todos. Não são poucas as pessoas que, logo ao chegar numa festa, uma casa, um encontro pastoral, encontram algo para fazer, num espírito admirável de disponibilidade. Há poucos dias, vimos a quadra de uma Escola transformada num lindo ambiente para a instalação da Área Missionária Nossa Senhora da Esperança. Dava para identificar as pessoas que trabalharam muito e com dedicação para preparar tudo. E que dizer das dezenas de milhares de voluntários dedicados ao Círio de Nazaré?

Perguntados sobre o surgimento de Comunidades, Áreas Missionárias ou Paróquias, tivemos a alegria de mostrar como, entre nós, tudo começa com uma ou mais famílias que trazem apenas algumas armas tão simples quanto poderosas: a Bíblia, o Rosário de Nossa Senhora e a busca da Eucaristia, muitas vezes em igrejas bem distantes da própria residência. De repente, um pequeno salão, uma capela, que vira igreja, que gera Comunidade, Paróquia, Vocações e daí por diante. Tudo isso fruto de pessoas que descobriram a alegria de servir.

Servir com humildade: grandeza nas pequenas coisas

Quem vive para servir aceita fazer as coisas simples e pequenas com um coração grande, pois maior valor tem o coração que se compromete do que o tamanho ou a visibilidade do serviço prestado. Com toda a certeza, nossa chegada ao Paraíso vai possibilitar-nos o encontro com tantos santos e santas anônimos, independente de raça, cor, posição social ou cargos. Com Maria, a serva humilde e obediente, passam na frente!

Servir com amor: construindo o Reino de Deus

Quem vive para servir sabe fazer o que ajuda mais no crescimento do Reino de Deus. Prefere o diálogo, o testemunho de vida, comunhão e anúncio explícito de Jesus Cristo. Essas são pessoas que não cedem à tentação da revolta e da indignação, ainda que as estruturas da sociedade tão injusta e desigual levem à tendência do grito pelo grito. 

Servir em comunidade: superando individualismo e competição

Quem vive para servir aprende e efetivamente trabalha e age em comunhão com os outros, sabe partilhar, não se enche de inveja ou ciúme quando outros assumem tarefas semelhantes ou mesmo a atividade que lhes era própria. Ao viver e atuar com os outros, sabe buscar os verdadeiros fios que tecem a comunhão, superando antipatias e competições.

Servir com liderança humilde: guiando pelo exemplo

Quem vive para servir torna-se líder, mas sem autoritarismo ou domínio tirânico sobre os outros, descobre a valoriza outras lideranças, contribui para a sua formação, caminha com elas e sabe deixar. Na hora certa, as posições antes assumidas. E assim a Igreja cresce, olhando para aquele que veio para servir e não para ser servido!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/discipulos-servidores/

A importância da Missa aos domingos

A participação da Santa Missa aos domingos é um compromisso de particular importância em nossa experiência de fé. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a celebração da Eucaristia dominical, do Dia do Senhor, está no coração da vida da Igreja. "O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de preceito"1.

No entanto, antes de ser uma obrigação para nós católicos, a participação da Santa Missa aos domingos é uma exigência que está inscrita na essência da vida cristã. Por isso, na Igreja nascente, não havia o preceito dominical, já que os fiéis tinham a assembleia dominical como o ponto mais alto e importante da vida espiritual.

A importância da missa aos domingos

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

A Santa Missa nos primórdios da Igreja Católica

A celebração da Santa Missa aos domingo remonta aos princípios da era apostólica da Igreja (cf. At 2,42-46; 1 Cor 11,17). Nesse sentido, a Carta aos Hebreus nos ajuda a compreender a importância da Eucaristia dominical já naquele tempo: "Sem abandonarmos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas nos exortando mutuamente" (Hb 10,25).

A Tradição da Igreja nos ajuda a guardar a memória de uma exortação que permanece sempre atual: "Vir cedo à igreja, aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na oração […], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes da despedida […]. Muitas vezes, o temos dito: este dia é vos dado para a oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de alegria"2.

São Justino, mártir do século II, na sua primeira Apologia, dirigida ao imperador Antonino e ao Senado, descreveu com ufania o costume dos primeiros cristãos de reunir-se na assembleia dominical, que congregava, no mesmo lugar, os cristãos das cidades e das aldeias. "Quando, durante a perseguição de Diocleciano, viram as suas assembleias interditas com a máxima severidade, foram muitos os corajosos que desafiaram o édito imperial, preferindo a morte a faltar à Eucaristia dominical"3.

Isso aconteceu com os mártires de Abitinas, na África proconsular, que assim responderam aos seus acusadores: "Foi sem qualquer temor que celebramos a ceia do Senhor, porque não se pode deixá-la, é a nossa lei"; "não podemos viver sem a ceia do Senhor". Com coragem extraordinária, uma das mártires confessou: "Sim, fui à assembleia e celebrei a ceia do Senhor com os meus irmãos, porque sou cristã"4.

A assembleia reunida

Segundo São João Crisóstomo, há algo a mais que a assembleia reunida nos proporciona: "Podes também rezar em tua casa, mas não podes rezar aí como na igreja, onde muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. […] Há lá qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a harmonia das almas, o laço da caridade, as orações dos sacerdotes"5.

Essa obrigação de consciência, que tem sua razão de ser na necessidade interior que os cristãos dos primeiros séculos sentiam tão intensamente, a Igreja Católica nunca deixou de afirmar, embora, no início, não julgou ser necessário prescrevê-la.

Mas, com o tempo, devido à tibieza ou à negligência de alguns, a Igreja teve que explicitar aos fiéis o dever da participação na Missa aos domingos. Na maior parte das vezes, fez isso sob a forma de exortação, mas, às vezes, também recorreu a disposições canônicas concretas.


A obrigação da participação da Santa Missa aos domingos

O primeiro e o mais importante mandamento da Igreja determina que somos obrigados a participar da Santa Missa aos domingos e nas solenidades de preceito: "No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis têm obrigação de participar na Missa"6. Cumprimos esse preceito se participarmos da Santa Missa celebrada em rito católico, no próprio dia festivo ou na tarde do dia anterior.

A Santa Missa, aos domingos, fundamenta e confirma toda a prática cristã. Por isso temos a obrigação de participar da Santa Missa nos dias de preceito, especialmente no domingo, a menos que estejamos justificados por algum motivo sério como, por exemplo, doença, obrigação de cuidar de crianças de peito ou sejamos dispensados pelo nosso pároco ou responsável. Se deliberadamente faltamos a essa obrigação, cometemos um pecado grave.

"A participação na celebração comum da Eucaristia dominical é um testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja"7. Ao participarmos da Missa dominical, atestamos a nossa comunhão na fé e na caridade; damos testemunho da santidade de Deus e da nossa esperança na salvação; e reconfortamo-nos mutuamente sob a ação do Espírito Santo.

A paróquia é o lugar onde nós, que somos católicos, podemos nos reunir para a Santa Missa, principalmente para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia nos inicia na expressão ordinária da vida litúrgica e nos reúne nessa santa celebração. Além disso, a paróquia nos ensina a doutrina salvífica de Cristo e pratica a caridade do Senhor em obras boas e fraternas.

A Eucaristia dominical como exigência da vida cristã

Caso não seja possível a participação da Santa Missa aos domingos, o Código de Direito Canônico faz algumas recomendações:

"Se for impossível a participação, na Celebração Eucarística, por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se muito que os fiéis tomem parte na liturgia da Palavra, se a houver na igreja paroquial ou noutro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do bispo diocesano, ou consagrem um tempo conveniente à oração pessoal ou em família ou em grupos de famílias, conforme a oportunidade"8.

Verdadeiramente, grande é a riqueza espiritual e pastoral do domingo, tal como a Sagrada Tradição nos confiou. Vista na totalidade dos seus significados e implicações, o domingo constitui, de certo modo, uma síntese da vida cristã e uma condição necessária para bem vivê-la.

Por isso, compreendemos por que razão a Igreja tem como particularmente importante a observância do Dia do Senhor, tanto que a tornou uma obrigação no âmbito da disciplina eclesiástica. No entanto, essa observância, antes de ser um preceito, deve ser vista como uma exigência inscrita profundamente em nossas almas.

É de importância verdadeiramente capital que nos convençamos de que não podemos viver a nossa fé, a plena participação da vida da comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia eucarística dominical.

A plenitude da Missa aos domingos

Na Eucaristia, realiza-se a plenitude de culto que os homens devem a Deus, incomparável com qualquer outra experiência religiosa.

Uma expressão particularmente eficaz dessa plenitude verifica-se precisamente quando, no domingo, toda a comunidade congrega-se, em obediência à voz do Ressuscitado.

Ele a convoca para lhe dar a luz da sua Palavra e o alimento do seu Corpo, como fonte sacramental perene de redenção. A graça, que dimana dessa fonte, renova a nossa vida, a nossa história.

O Espírito Santo está presente, ininterruptamente, em cada dia da Igreja, irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus dons. Entretanto, na assembleia dominical reunida para a celebração semanal da Páscoa, a Igreja Católica coloca-se especialmente à escuta d'Ele e com Ele tende para nosso Senhor Jesus Cristo, no desejo ardente do Seu regresso glorioso: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem!'" (Ap 22,17).

Referências:
1 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2177.
2 Idem, § 2178.
3 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini, 46.
4 Idem, ibidem.
5 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2179.
6 Idem, § 2180.
7 Idem, § 2182.
8 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Código de Direito Canônico, cânon 1248, § 2.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-importancia-da-missa-aos-domingos/

18 de outubro de 2024

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

O jejum como ponte entre o corpo e a alma

Quando se fala na busca por uma vida virtuosa e no crescimento na santidade, é inevitável tratar da necessidade de uma vida ascética e a necessidade da mortificação. Nesse sentido, muito se fala da importância do jejum, mas precisamos aprofundar, cada vez mais, o valor, a necessidade, os efeitos e os impactos que ele tem não apenas no âmbito espiritual, mas também no aspecto físico do ser humano.

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

Crédito: erdikocak / GettyImages

A busca por uma vida mais saudável

Atualmente, tem aumentado a busca e o interesse por bons hábitos que favoreçam a saúde, estabelecendo maiores parâmetros de qualidade de vida. Ter uma boa alimentação, estabelecer uma rotina de atividade física, buscar uma maior qualidade do sono. Tudo isso faz parte desse conjunto que favorece, estimula e promove essa qualidade de vida. Como o assunto é cada vez mais discutido, avançam-se também as descobertas. Com relação a isso, uma das práticas que tem crescido é a do jejum em vista dos seus efeitos na saúde física.

(ATENÇÃO: com relação à saúde física, é preciso recorrer sempre à indicação médica)

Os efeitos do jejum são variados e dependem de um conjunto de fatores como a idade, o estilo de vida, os hábitos alimentares e a prática de exercício físico, assim como o próprio histórico de saúde. Mas, de um modo geral, essa prática favorece o sistema imunológico, reduzindo o processo inflamatório, acelerando o metabolismo e, consequentemente, melhorando a resposta do organismo tanto a nível cerebral quanto físico.

Os impactos do jejum no organismo

Algumas áreas da medicina têm se ocupado em estudar ainda os efeitos da abstinência para aqueles que sofrem de enfermidades cardíacas, além do diabetes e do colesterol alto. Associado à prática da atividade física, estuda-se os efeitos do jejum no processo de emagrecimento.

Por outro lado, quem recorre ao jejum em vista do benefício físico tem que lidar com algumas dificuldades como o processo de adaptação ao novo estilo de vida, o cansaço físico, o desconforto abdominal e a dor de cabeça, além da mudança nos hábitos alimentares, prevenindo um processo de má digestão.

Acompanhado por um profissional da área e sabendo viver o processo adaptativo, a abstenção de alimento por determinado período de tempo pode se tornar um excelente meio para obter benefícios na saúde física. Mas, além do fator físico, isso também tem uma grande importância para a vida espiritual.

A ascese e o jejum na busca pela santidade

Viver um processo de conversão em vista da santidade é exigente, mas não é impossível. Ao longo desse caminho, é preciso deixar alguns hábitos, tomar decisões, estabelecer uma sólida e profunda relação com Deus. Ao mesmo tempo, decidir-se pela santidade exige um longo e profundo autoconhecimento, e é nessa etapa que nos deparamos com as nossas maiores fraquezas e más inclinações, as más tendências, os maus hábitos, os vícios que nos prendem aos "pecados de estimação". Viver a conversão exige a firme e determinada decisão, e é preciso assumir um caminho ascético em vista de vencer as fraquezas ainda existentes.


A ascese corresponde às práticas e aos comportamentos assumidos em vista de uma austeridade, passando pelas renúncias, refreando os prazeres e mortificando os sentidos a fim de crescer na vida espiritual. A vida ascética se desenvolve pelas práticas da mortificação, interna e externamente, abstendo-se de alguma coisa para, segundo uma visão católica, fazer morrer a vida no pecado, a vida na carne, ordenando-se para uma vida no Espírito, uma vida ordenada para a vontade de Deus.

Jejum e oração: uma aliança poderosa para a santificação

É assim que se percebe a importância do jejum: a pessoa se abstém de um alimento, de uma bebida, buscando o equilíbrio das paixões, e, unido à oração, nos preenche de Deus, levando-nos a uma vida não conduzida pelos prazeres do corpo, mas pela ação do Espírito. Sem essa abstenção, a ascese e as mortificações, o processo de conversão, marcado pela libertação dos vícios e do domínio das más inclinações, perdem um grande fator de eficácia.

Padre Jonas Abib, no seu livro "Práticas de Jejum", explica de forma clara e fácil o que é o jejum, os seus efeitos e os tipos, como e o que é recomendado pela Igreja, o jejum de pão e água, o jejum à base de líquidos e a abstenção total de alimentos. Com o auxílio de um diretor espiritual, cada pessoa precisa identificar o tipo de jejum que lhe é eficaz para o seu processo de conversão.

Tendo visto os efeitos do jejum, percebe-se quantos benefícios são obtidos por meio de sua prática, tanto no aspecto físico, quanto espiritual. Para quem deseja obter ambos os benefícios, é preciso recorrer ao profissional da área – no sentido de um aspecto físico – e um bom diretor espiritual para colher os frutos do jejum.

Emanuel França Silva
Tem 27 anos, natural de Gurinhatã – MG, é membro da Comunidade Canção Nova desde 2020. Candidato às Ordens Sacras, está cursando Filosofia na Faculdade Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/os-efeitos-jejum-na-saude-fisica-e-espiritual/