20 de outubro de 2024

Discípulos servidores

Servos uns dos outros à imagem de Maria: vivendo o Evangelho no coração do Círio de Nazaré

Vivemos, com alegria, dias maravilhosos no coração do Círio de Nazaré, um evento genuinamente católico e de responsabilidade exclusiva da Arquidiocese de Belém, ao mesmo tempo acolhedor a todas as pessoas, sem exceção, de perto ou de longe, que se sentem atraídos pelo Mistério de Morte e Ressurreição de Cristo, Mistério Pascal! E sabemos que, aos pés da Cruz de Jesus, estava de pé Sua Mãe Santíssima, entregue a João, e este, em nosso nome, fez com que a Igreja levasse permanentemente, entre aquilo que lhe pertence, a Mãe de Deus e sua Mãe. Tanto é verdade que, nos séculos afora, todas as gerações a chamam feliz, bem-aventurada, bendita, encontrando centenas de nomes para se referirem a Maria. Para os paraenses e belenenses, é chamada Nossa Senhora de Nazaré, e sabemos como seu título, sua Imagem Peregrina e sua mensagem se espalham por todos os quadrantes do Brasil e do mundo. Desejamos declarar-nos "Servos de Maria de Nazaré", colocando-nos a sua disposição para espalhar sua devoção, cada um de nós em sua vocação e estado de vida.

Servos de Maria de Nazaré: um chamado à entrega

Se existem várias fórmulas de Consagração a Nossa Senhora, desejamos fazer essa proposta dentro do clima do Círio de Nazaré: dedicar-nos a divulgar a devoção Nossa Senhora de Nazaré; rezar do jeito que Maria rezou com os Apóstolos no Cenáculo, suplicando a vinda do Espírito Santo, especialmente pela paz, um dos frutos de sua ação no mundo; abraçar como própria a vocação missionária da Igreja, neste mês de outubro; rezar, durante a Quadra Nazarena, a oração própria do Círio: "Senhor nosso Pai, estamos unidos em nome de Jesus, vosso Filho, conduzidos pelo Espírito Santo de Amor. Nós vos agradecemos pelo dom da fé cristã que nos reúne, e pela Igreja que nos conduz pelos caminhos da vida feliz nesta terra e para a eternidade! Pai eterno, vós nos destes de presente a Virgem de Nazaré, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Unidos a Maria, pedimos com confiança: envolvei-nos com laços de amizade e cordas de amor, trazei-nos para perto de vós, de Jesus Cristo e do Espírito Santo! Acendei, ó Pai, em nossos corações, o Círio da Fé, da Esperança e da Caridade. Que o povo de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha e Padroeira da Amazônia, seja testemunha fiel do Evangelho de Jesus Cristo, para o crescimento do vosso Reino de paz e justiça, reino de vida e verdade, reino do amor e da graça. Amém!"

O Evangelho do Serviço: aprendendo com Jesus e Maria

Maria se proclamou serva e escrava do Senhor, tornando-se modelo e intercessora para todos os que desejam servir e amar. O Evangelho do vigésimo nono domingo comum, que celebramos neste final de semana (Mc 10,35-45), conta que Tiago e João, justamente o João que esteve de pé perto da Cruz e ao lado de Maria, os dois manifestando a Jesus o desejo de posições de destaque. Certamente ainda existia, em seus corações, muito a aprender a respeito do Messias pobre, sofredor, morto e ressuscitado. Pelo visto, João entendeu tudo, pois, no seu Evangelho, narrou o lava-pés e as palavras de Jesus sobre o mandamento novo. E nas belíssimas cartas que escreveu, indicou maravilhosamente o mandamento do amor.

Com Maria, com João e mais ainda com Jesus desejamos reaprender o que o Senhor diz no Evangelho: "Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos" (Mc 10,43-45). Trata-se de uma proposta que vai contra a correnteza de todos as pretensões de poder, em todas as épocas. E agora, com simplicidade, perguntemos o que significa ser servos ou servidores!

Crédito: J Brarymi / GettyImages

A alegria de servir: um coração disponível

Quem vive para servir toma a iniciativa, dá o primeiro passo, descobrindo sempre o que se pode fazer para ajudar no crescimento do Reino de Deus e para amar a todos. Não são poucas as pessoas que, logo ao chegar numa festa, uma casa, um encontro pastoral, encontram algo para fazer, num espírito admirável de disponibilidade. Há poucos dias, vimos a quadra de uma Escola transformada num lindo ambiente para a instalação da Área Missionária Nossa Senhora da Esperança. Dava para identificar as pessoas que trabalharam muito e com dedicação para preparar tudo. E que dizer das dezenas de milhares de voluntários dedicados ao Círio de Nazaré?

Perguntados sobre o surgimento de Comunidades, Áreas Missionárias ou Paróquias, tivemos a alegria de mostrar como, entre nós, tudo começa com uma ou mais famílias que trazem apenas algumas armas tão simples quanto poderosas: a Bíblia, o Rosário de Nossa Senhora e a busca da Eucaristia, muitas vezes em igrejas bem distantes da própria residência. De repente, um pequeno salão, uma capela, que vira igreja, que gera Comunidade, Paróquia, Vocações e daí por diante. Tudo isso fruto de pessoas que descobriram a alegria de servir.

Servir com humildade: grandeza nas pequenas coisas

Quem vive para servir aceita fazer as coisas simples e pequenas com um coração grande, pois maior valor tem o coração que se compromete do que o tamanho ou a visibilidade do serviço prestado. Com toda a certeza, nossa chegada ao Paraíso vai possibilitar-nos o encontro com tantos santos e santas anônimos, independente de raça, cor, posição social ou cargos. Com Maria, a serva humilde e obediente, passam na frente!

Servir com amor: construindo o Reino de Deus

Quem vive para servir sabe fazer o que ajuda mais no crescimento do Reino de Deus. Prefere o diálogo, o testemunho de vida, comunhão e anúncio explícito de Jesus Cristo. Essas são pessoas que não cedem à tentação da revolta e da indignação, ainda que as estruturas da sociedade tão injusta e desigual levem à tendência do grito pelo grito. 

Servir em comunidade: superando individualismo e competição

Quem vive para servir aprende e efetivamente trabalha e age em comunhão com os outros, sabe partilhar, não se enche de inveja ou ciúme quando outros assumem tarefas semelhantes ou mesmo a atividade que lhes era própria. Ao viver e atuar com os outros, sabe buscar os verdadeiros fios que tecem a comunhão, superando antipatias e competições.

Servir com liderança humilde: guiando pelo exemplo

Quem vive para servir torna-se líder, mas sem autoritarismo ou domínio tirânico sobre os outros, descobre a valoriza outras lideranças, contribui para a sua formação, caminha com elas e sabe deixar. Na hora certa, as posições antes assumidas. E assim a Igreja cresce, olhando para aquele que veio para servir e não para ser servido!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/discipulos-servidores/

A importância da Missa aos domingos

A participação da Santa Missa aos domingos é um compromisso de particular importância em nossa experiência de fé. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a celebração da Eucaristia dominical, do Dia do Senhor, está no coração da vida da Igreja. "O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de preceito"1.

No entanto, antes de ser uma obrigação para nós católicos, a participação da Santa Missa aos domingos é uma exigência que está inscrita na essência da vida cristã. Por isso, na Igreja nascente, não havia o preceito dominical, já que os fiéis tinham a assembleia dominical como o ponto mais alto e importante da vida espiritual.

A importância da missa aos domingos

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

A Santa Missa nos primórdios da Igreja Católica

A celebração da Santa Missa aos domingo remonta aos princípios da era apostólica da Igreja (cf. At 2,42-46; 1 Cor 11,17). Nesse sentido, a Carta aos Hebreus nos ajuda a compreender a importância da Eucaristia dominical já naquele tempo: "Sem abandonarmos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas nos exortando mutuamente" (Hb 10,25).

A Tradição da Igreja nos ajuda a guardar a memória de uma exortação que permanece sempre atual: "Vir cedo à igreja, aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na oração […], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes da despedida […]. Muitas vezes, o temos dito: este dia é vos dado para a oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de alegria"2.

São Justino, mártir do século II, na sua primeira Apologia, dirigida ao imperador Antonino e ao Senado, descreveu com ufania o costume dos primeiros cristãos de reunir-se na assembleia dominical, que congregava, no mesmo lugar, os cristãos das cidades e das aldeias. "Quando, durante a perseguição de Diocleciano, viram as suas assembleias interditas com a máxima severidade, foram muitos os corajosos que desafiaram o édito imperial, preferindo a morte a faltar à Eucaristia dominical"3.

Isso aconteceu com os mártires de Abitinas, na África proconsular, que assim responderam aos seus acusadores: "Foi sem qualquer temor que celebramos a ceia do Senhor, porque não se pode deixá-la, é a nossa lei"; "não podemos viver sem a ceia do Senhor". Com coragem extraordinária, uma das mártires confessou: "Sim, fui à assembleia e celebrei a ceia do Senhor com os meus irmãos, porque sou cristã"4.

A assembleia reunida

Segundo São João Crisóstomo, há algo a mais que a assembleia reunida nos proporciona: "Podes também rezar em tua casa, mas não podes rezar aí como na igreja, onde muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. […] Há lá qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a harmonia das almas, o laço da caridade, as orações dos sacerdotes"5.

Essa obrigação de consciência, que tem sua razão de ser na necessidade interior que os cristãos dos primeiros séculos sentiam tão intensamente, a Igreja Católica nunca deixou de afirmar, embora, no início, não julgou ser necessário prescrevê-la.

Mas, com o tempo, devido à tibieza ou à negligência de alguns, a Igreja teve que explicitar aos fiéis o dever da participação na Missa aos domingos. Na maior parte das vezes, fez isso sob a forma de exortação, mas, às vezes, também recorreu a disposições canônicas concretas.


A obrigação da participação da Santa Missa aos domingos

O primeiro e o mais importante mandamento da Igreja determina que somos obrigados a participar da Santa Missa aos domingos e nas solenidades de preceito: "No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis têm obrigação de participar na Missa"6. Cumprimos esse preceito se participarmos da Santa Missa celebrada em rito católico, no próprio dia festivo ou na tarde do dia anterior.

A Santa Missa, aos domingos, fundamenta e confirma toda a prática cristã. Por isso temos a obrigação de participar da Santa Missa nos dias de preceito, especialmente no domingo, a menos que estejamos justificados por algum motivo sério como, por exemplo, doença, obrigação de cuidar de crianças de peito ou sejamos dispensados pelo nosso pároco ou responsável. Se deliberadamente faltamos a essa obrigação, cometemos um pecado grave.

"A participação na celebração comum da Eucaristia dominical é um testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja"7. Ao participarmos da Missa dominical, atestamos a nossa comunhão na fé e na caridade; damos testemunho da santidade de Deus e da nossa esperança na salvação; e reconfortamo-nos mutuamente sob a ação do Espírito Santo.

A paróquia é o lugar onde nós, que somos católicos, podemos nos reunir para a Santa Missa, principalmente para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia nos inicia na expressão ordinária da vida litúrgica e nos reúne nessa santa celebração. Além disso, a paróquia nos ensina a doutrina salvífica de Cristo e pratica a caridade do Senhor em obras boas e fraternas.

A Eucaristia dominical como exigência da vida cristã

Caso não seja possível a participação da Santa Missa aos domingos, o Código de Direito Canônico faz algumas recomendações:

"Se for impossível a participação, na Celebração Eucarística, por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se muito que os fiéis tomem parte na liturgia da Palavra, se a houver na igreja paroquial ou noutro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do bispo diocesano, ou consagrem um tempo conveniente à oração pessoal ou em família ou em grupos de famílias, conforme a oportunidade"8.

Verdadeiramente, grande é a riqueza espiritual e pastoral do domingo, tal como a Sagrada Tradição nos confiou. Vista na totalidade dos seus significados e implicações, o domingo constitui, de certo modo, uma síntese da vida cristã e uma condição necessária para bem vivê-la.

Por isso, compreendemos por que razão a Igreja tem como particularmente importante a observância do Dia do Senhor, tanto que a tornou uma obrigação no âmbito da disciplina eclesiástica. No entanto, essa observância, antes de ser um preceito, deve ser vista como uma exigência inscrita profundamente em nossas almas.

É de importância verdadeiramente capital que nos convençamos de que não podemos viver a nossa fé, a plena participação da vida da comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia eucarística dominical.

A plenitude da Missa aos domingos

Na Eucaristia, realiza-se a plenitude de culto que os homens devem a Deus, incomparável com qualquer outra experiência religiosa.

Uma expressão particularmente eficaz dessa plenitude verifica-se precisamente quando, no domingo, toda a comunidade congrega-se, em obediência à voz do Ressuscitado.

Ele a convoca para lhe dar a luz da sua Palavra e o alimento do seu Corpo, como fonte sacramental perene de redenção. A graça, que dimana dessa fonte, renova a nossa vida, a nossa história.

O Espírito Santo está presente, ininterruptamente, em cada dia da Igreja, irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus dons. Entretanto, na assembleia dominical reunida para a celebração semanal da Páscoa, a Igreja Católica coloca-se especialmente à escuta d'Ele e com Ele tende para nosso Senhor Jesus Cristo, no desejo ardente do Seu regresso glorioso: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem!'" (Ap 22,17).

Referências:
1 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2177.
2 Idem, § 2178.
3 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini, 46.
4 Idem, ibidem.
5 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2179.
6 Idem, § 2180.
7 Idem, § 2182.
8 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Código de Direito Canônico, cânon 1248, § 2.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-importancia-da-missa-aos-domingos/

18 de outubro de 2024

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

O jejum como ponte entre o corpo e a alma

Quando se fala na busca por uma vida virtuosa e no crescimento na santidade, é inevitável tratar da necessidade de uma vida ascética e a necessidade da mortificação. Nesse sentido, muito se fala da importância do jejum, mas precisamos aprofundar, cada vez mais, o valor, a necessidade, os efeitos e os impactos que ele tem não apenas no âmbito espiritual, mas também no aspecto físico do ser humano.

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

Crédito: erdikocak / GettyImages

A busca por uma vida mais saudável

Atualmente, tem aumentado a busca e o interesse por bons hábitos que favoreçam a saúde, estabelecendo maiores parâmetros de qualidade de vida. Ter uma boa alimentação, estabelecer uma rotina de atividade física, buscar uma maior qualidade do sono. Tudo isso faz parte desse conjunto que favorece, estimula e promove essa qualidade de vida. Como o assunto é cada vez mais discutido, avançam-se também as descobertas. Com relação a isso, uma das práticas que tem crescido é a do jejum em vista dos seus efeitos na saúde física.

(ATENÇÃO: com relação à saúde física, é preciso recorrer sempre à indicação médica)

Os efeitos do jejum são variados e dependem de um conjunto de fatores como a idade, o estilo de vida, os hábitos alimentares e a prática de exercício físico, assim como o próprio histórico de saúde. Mas, de um modo geral, essa prática favorece o sistema imunológico, reduzindo o processo inflamatório, acelerando o metabolismo e, consequentemente, melhorando a resposta do organismo tanto a nível cerebral quanto físico.

Os impactos do jejum no organismo

Algumas áreas da medicina têm se ocupado em estudar ainda os efeitos da abstinência para aqueles que sofrem de enfermidades cardíacas, além do diabetes e do colesterol alto. Associado à prática da atividade física, estuda-se os efeitos do jejum no processo de emagrecimento.

Por outro lado, quem recorre ao jejum em vista do benefício físico tem que lidar com algumas dificuldades como o processo de adaptação ao novo estilo de vida, o cansaço físico, o desconforto abdominal e a dor de cabeça, além da mudança nos hábitos alimentares, prevenindo um processo de má digestão.

Acompanhado por um profissional da área e sabendo viver o processo adaptativo, a abstenção de alimento por determinado período de tempo pode se tornar um excelente meio para obter benefícios na saúde física. Mas, além do fator físico, isso também tem uma grande importância para a vida espiritual.

A ascese e o jejum na busca pela santidade

Viver um processo de conversão em vista da santidade é exigente, mas não é impossível. Ao longo desse caminho, é preciso deixar alguns hábitos, tomar decisões, estabelecer uma sólida e profunda relação com Deus. Ao mesmo tempo, decidir-se pela santidade exige um longo e profundo autoconhecimento, e é nessa etapa que nos deparamos com as nossas maiores fraquezas e más inclinações, as más tendências, os maus hábitos, os vícios que nos prendem aos "pecados de estimação". Viver a conversão exige a firme e determinada decisão, e é preciso assumir um caminho ascético em vista de vencer as fraquezas ainda existentes.


A ascese corresponde às práticas e aos comportamentos assumidos em vista de uma austeridade, passando pelas renúncias, refreando os prazeres e mortificando os sentidos a fim de crescer na vida espiritual. A vida ascética se desenvolve pelas práticas da mortificação, interna e externamente, abstendo-se de alguma coisa para, segundo uma visão católica, fazer morrer a vida no pecado, a vida na carne, ordenando-se para uma vida no Espírito, uma vida ordenada para a vontade de Deus.

Jejum e oração: uma aliança poderosa para a santificação

É assim que se percebe a importância do jejum: a pessoa se abstém de um alimento, de uma bebida, buscando o equilíbrio das paixões, e, unido à oração, nos preenche de Deus, levando-nos a uma vida não conduzida pelos prazeres do corpo, mas pela ação do Espírito. Sem essa abstenção, a ascese e as mortificações, o processo de conversão, marcado pela libertação dos vícios e do domínio das más inclinações, perdem um grande fator de eficácia.

Padre Jonas Abib, no seu livro "Práticas de Jejum", explica de forma clara e fácil o que é o jejum, os seus efeitos e os tipos, como e o que é recomendado pela Igreja, o jejum de pão e água, o jejum à base de líquidos e a abstenção total de alimentos. Com o auxílio de um diretor espiritual, cada pessoa precisa identificar o tipo de jejum que lhe é eficaz para o seu processo de conversão.

Tendo visto os efeitos do jejum, percebe-se quantos benefícios são obtidos por meio de sua prática, tanto no aspecto físico, quanto espiritual. Para quem deseja obter ambos os benefícios, é preciso recorrer ao profissional da área – no sentido de um aspecto físico – e um bom diretor espiritual para colher os frutos do jejum.

Emanuel França Silva
Tem 27 anos, natural de Gurinhatã – MG, é membro da Comunidade Canção Nova desde 2020. Candidato às Ordens Sacras, está cursando Filosofia na Faculdade Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/os-efeitos-jejum-na-saude-fisica-e-espiritual/

16 de outubro de 2024

Luto gestacional e neonatal: a importância de reconhecer e acolher

O luto gestacional e neonatal é uma experiência profundamente dolorosa e, muitas vezes, incompreendida. Quando um bebê morre durante a gestação ou logo após o nascimento, as famílias enfrentam não apenas a perda física de um filho, mas também o rompimento de sonhos, expectativas e planos que foram construídos desde o início da gravidez. Com essa perda, surge um vazio imenso, como se o caminho planejado para o futuro deixasse de existir, exigindo a difícil tarefa de reconstruir novos sentidos e trajetórias.

Luto gestacional e neonatal a importância de reconhecer e acolher

Crédito: fizkes / GettyImages

Esse tipo de luto carrega consigo um tabu, pois não esperamos lidar com a morte no início da vida. A sociedade, muitas vezes, não reconhece ou valida essa perda, como se o bebê, por não ter sido conhecido fisicamente, não tivesse existido. No entanto, o vínculo entre pais e bebê já estava presente, e o rompimento desse laço traz o luto como uma resposta natural. Esse processo é único para cada pessoa e vivido no seu próprio tempo.

O tabu do luto perinatal e a invalidação da dor de perder um filho

Um dos maiores desafios no luto gestacional e neonatal é a ausência de memórias tangíveis, o que torna a dor ainda mais aguda. A perda é marcada pelo que não foi vivido, pelos momentos que não serão compartilhados. Enquanto em outras perdas temos lembranças e histórias para nos manter conectados aos entes queridos, nesse luto, falta justamente essa base de memórias concretas. Isso pode gerar um sentimento profundo de solidão e incompreensão.


A falta de reconhecimento social intensifica esse isolamento. Frases como "logo você terá outro" ou "foi melhor assim" ferem mais do que ajudam. Oferecer apoio sincero, ouvir com empatia e acolher com sensibilidade pode ser profundamente significativo. Permitir que a família compartilhe suas lembranças, ainda que breves, ajuda a validar a dor e reconhecer a vida que existiu e o vínculo que sempre permanecerá.

Vivendo a dor e encontrando novos sentidos

É importante desmistificar a ideia de que o luto é algo a ser superado. O luto não desaparece com o tempo; ele é vivido e sentido, e é nesse processo que a pessoa se adapta à vida sem a presença física daquele que partiu. Não existe um prazo para o luto, e para os pais, a lembrança de um filho, mesmo que sua vida tenha sido breve, jamais será esquecida. Ao longo do tempo, essa dor pode se transformar, permitindo que as famílias encontrem novos sentidos e caminhos, mas o amor e o vínculo permanecem.

Para as famílias que enfrentam essa dor e não encontram validação ou acolhimento, buscar grupos de apoio e suporte psicológico especializado pode ser essencial. Esses espaços não só reconhecem a dor, mas também oferecem a companhia de pessoas que compreendem essa experiência. Assim, as famílias podem se sentir menos sozinhas e encontrar suporte para atravessar o luto de forma mais saudável, ressignificando a perda e descobrindo novos significados em suas trajetórias.

Psicóloga Júlia Gomes
CRP 06/125621


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/bioetica/gravidez/luto-gestacional-e-neonatal-importancia-de-reconhecer-e-acolher/

15 de outubro de 2024

A imagem do professor em crise

Os desafios do papel do professor frente à realidade tecnológica

Discutir sobre a crise na imagem do professor torna-se um grande desafio, principalmente porque ela é somente uma das consequências de uma crise ainda maior, que é a da educação nos dias de hoje.

A crise na educação

Entendendo que o problema na imagem do professor faz parte de algo mais amplo – a crise na educação –, o segundo passo é compreender que seria preciso discutir inúmeros fatores que causam o problema relacionado aos docentes, o que não é possível apenas num artigo.

Dessa forma, a proposta é refletir sobre apenas um ponto, mas que tem grande relevância quando o discutirmos, seja a crise na imagem do professor, seja a crise na educação: o professor como mestre.

Crédito: Alexey Emelyanov / GettyImages

A democratização da informação

Com a presença da tecnologia, a informação está explícita. É possível ter dados sobre qualquer assunto na palma da mão e a qualquer instante. Nunca na história da humanidade o conhecimento esteve tão manifesto como na atualidade.

Daí surge uma pergunta: estando o conhecimento explícito, o professor se torna dispensável? A resposta é não! Pois, sobretudo diante de tanta informação disponível, faz-se necessário o conhecimento tácito. Ou seja, aquele conhecimento que, diante de tantas possibilidades, conduz os alunos por um caminho seguro.

O excesso de informação e o risco da superficialidade

Um aluno diante de tanta informação corre vários riscos como: não saber por qual direção seguir ou ir por caminhos falsos e perigosos (pois nem toda informação é verdadeira), ou ainda, provar um pouquinho de cada assunto e não se aprofundar em nada.


O papel do mestre

Daí a importância do professor, que trará a luz do conhecimento tácito em meio a tanta informação explícita. Irá, com sua experiência, apresentar aquilo que está escondido nas entrelinhas do conteúdo, e, assim, conduzir seus alunos por vias seguras e que produzam frutos verdadeiros.

Esse é o verdadeiro mestre: aquele que, possuindo domínio de uma determinada área, é capaz de ensinar, apontando, em meio a tantas possibilidades, um caminho seguro, pois lança luz ao que está escondido, tendo sempre como meta o encontro com a verdade.

Cristo: o Caminho, a Verdade e a Vida

E o que é o encontro com a verdade senão o encontro com o próprio Cristo? Afinal, a verdade para os cristãos é uma pessoa. Foi Jesus mesmo quem disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6).


Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
Facebook: facebook/aprofundamento


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-imagem-do-professor-em-crise/

14 de outubro de 2024

Caminhos da esperança

Esperança: a virtude essencial para a dignidade humana

"A esperança é a última que morre", eis um ditado popular muito repetido em diferentes circunstâncias. Mas a esperança não pode morrer nunca. Ela é uma virtude, luz luzente em horizontes tomados por obscuridades e variados desafios. A esperança possibilita ao ser humano encontrar as respostas de que necessita para viver com mais dignidade. Assim, a esperança deve ser sempre fortalecida, pois, sem ela, a família humana sofre com o caos, na contramão da razão, inviabilizando o alcance do sentido que sustenta o viver.

Cultivar a esperança exige abrir-se, sempre mais, à reconciliação e ao exercício da paciência – para que oportunidades de edificação da paz não sejam perdidas. É preciso saber esperar, e não desistir da busca por essas oportunidades, encontrando uma força que está além dos próprios recursos, enraizada na espiritualidade e na fé.

Caminhos da esperança

Crédito: FG Trade Latin / GettyImages

O caminho para a paz

A paz, para ser alcançada, precisa ser esperançada – alimentada na certeza de que o semelhante também tem necessidade e está na busca pela paz. Sem essa convicção, o ser humano torna-se, facilmente, contaminado pelo ódio e pelo anseio por vingança. Passa a agir, assim, na contramão do caminho para a paz. De fato, sem o amor, o amor maior que vem de Deus, a paz torna-se meta inalcançável, pois trata-se de componente essencial aos diálogos e à iluminação que vem da inteligência humana.

O amor é capaz de vencer o medo que paralisa e que desencadeia conflitos complexos, promovendo a escalada da violência que dizima vidas, nações, culturas. O temor e a mágoa no coração humano precisam ser tratados com o amor de Deus, de incidência radicalmente restauradora.

A partir do amor, o ser humano se qualifica para fraternalmente se aproximar de seu semelhante. E lembra o Papa Francisco, em preciosa indicação: a cultura do encontro tem o poder de romper com o tom destrutivo da cultura da ameaça. Ameaças são capazes de amedrontar e inspirar respostas odiosas, sangrentas, que negam o sentido da fraternidade universal.

Abrindo caminhos para o bem

Em direção oposta, a cultura do encontro possibilita diálogos e entendimentos pela indispensável experiência de colocar-se no lugar do outro, particularmente daquele que é pobre, vulnerável, inocente e indefeso. A dinâmica de colocar-se no lugar do semelhante alarga horizontes. É investimento humanístico indispensável e inigualável para encontrar caminhos de esperança.

Fechar-se nos horizontes estreitados por ideologias, por sentimentos mesquinhos e egoístas, impossibilita trilhar o caminho da paz, pois é atitude que distancia o ser humano da esperança. Inscreve-se, pois, como estação importante investir nos gestos de reconciliação, para debelar o ódio, acabar com distanciamentos ou com a disponibilidade para estabelecer inimizades.

Um compromisso com a paz e a fraternidade universal

Esperançar a paz é, pois, um compromisso cidadão e de fé muito relevante. Esse compromisso exige a revisão do próprio comportamento. O comportamento humano há de ser balizado por uma qualidade espiritual e humanística que se expressa a partir da competência para dialogar e bem exercer a solidariedade, fecundando de paz as páginas do cotidiano de cada pessoa – consequentemente, da sociedade.

Trata-se de uma urgência, especialmente quando são considerados os muitos cenários de guerra no mundo contemporâneo, gerando perdas irreversíveis – de vidas humanas e de dons da Criação, com mapas dolorosos marcados pela fome e pela exclusão social. A sensibilidade para dialogar e bem exercer a solidariedade alimenta sabedorias essenciais ao equilíbrio sociopolítico.


Cultivar a esperança, sabendo se colocar no lugar do outro, exige o compromisso de lutar para que sejam mudados os cenários que desrespeitam a dignidade humana, privando muitos homens e mulheres, crianças e idosos do direito à autonomia social e política. Ferindo ainda o direito à liberdade religiosa, em razão de conflitos civis, internacionais, com gente desalmada regendo processos e tomando decisões. As guerras, frequentemente, são consequências da falta de respeito em relação às diferenças do semelhante.

Os caminhos de esperança são percorridos quando se procura exercer a fraternidade, alimentando diálogos, construindo relações de confiança. Diálogos que não são, simplesmente, exercício de diplomacia. Constituem investimento daqueles que se inserem no mundo para atuar como artesãos da paz.

Conversão ecológica: um caminho de esperança para a preservação do planeta

A partir da celebração da memória de São Francisco de Assis, tenhamos presente que a conversão ecológica, uma urgência, é também caminho de esperança. O modo abusivo que caracteriza a relação da humanidade com a natureza já traz sintomas amargos, como a escassez de chuvas ou, ao contrário, as graves enchentes. O ser humano tem sido muito despótico no tratamento da Criação, agindo de modo infiel a Deus, sem respeitar a tarefa de bem exercer a regência de toda a obra do Criador.

Falta à humanidade uma sabedoria engolida pela ambição desmedida e pelos estilos de vida esbanjadores. Verifica-se que a hostilidade presente na relação com o semelhante também se repete no tratamento com o planeta. É preciso reconciliar-se com o próximo e com a Criação, pela escuta e contemplação do mundo. Assim, reaprender a fazer da Terra uma casa comum, onde todos podem habitar harmoniosa e dignamente.

A preservação da vida de todos precisa de uma conversão integral, transformando relações, tendo o Criador como referência – fonte única e inesgotável do amor que tudo modifica na ótica do bem. Eis o convite para se trilhar em caminhos de esperança.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/caminhos-da-esperanca/

12 de outubro de 2024

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

No dia 12 de outubro de 1717 (200 anos antes da Aparição de Nossa Senhora de Fátima), alguns pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul. Essa imagem ficou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas, antes de falar sobre a história da aparição e quebrar alguns mitos sobre ela, nós precisamos entender a história dessa imagem.

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

Crédito: Sidney de Almeida / GettyImages

 

A ORIGEM DA IMAGEM 

A imagem original de Nossa Senhora Aparecida tem 36 cm, feita de barro cozido no estilo Barroco do século XVII. Ou seja, a imagem achada tem, pelo menos, 80 anos a mais da data de seu achamento. A imagem original é oca, pesando 2,5 Kg. A aparição de Nossa Senhora Aparecida chama nossa atenção por alguns fatores, pois, diferente de outras aparições, ela não falou nenhuma palavra. Porém, Nossa Senhora Aparecida nos fala através de sua imagem.

Detalhes e informações da imagem: 

– Túnica de escrava;

– Manto de rainha;

– Cinto representando estar grávida, como os judeus antigos faziam;

– A imagem está grávida e sorrindo;

– Tem apenas um anjo: representando ser o Anjo da Guardo do Brasil

A Imagem de Nossa Senhora Aparecida faz referência ao título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, tanto é que o nome completo é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas como podemos ter uma imagem de Nossa Senhora da Conceição em 1717, se o dogma da Imaculada Conceição só foi decretado em 1854? A questão é que, mesmo antes do Papa decretar o dogma, em Portugal já havia uma grande devoção ao imaculado coração de Nossa Senhora. 

A primeira congregação fundada sobre a proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi fundada em Portugal por Santa Beatriz de Portugal, a mesma que educou a Rainha Isabel, católica quando criança. Em 1640, Dom João IV, ao conquistar a independência de Portugal da Espanha, que estavam unidos desde Felipe II na União Ibérica, consagrou Portugal e todas as suas terras ao Imaculado Coração de Nossa Senhora.

Diante da Imagem de Nossa Senhora, Dom João IV declarou: "Será vós que governará Portugal, e não mais nós". Dom João IV, através desse sinal, mostrou que a Rainha de Portugal era Nossa Senhora, e os reis eram seus vassalos. Inclusive, a partir de Dom João IV, a cerimônia de coroação dos reis foi substituída por uma cerimônia de aclamação onde o rei colocava a coroa somente naquele momento de sua vida, pois quem governara Portugal era Nossa Senhora. 

Ao lado dos tronos dos reis de Portugal havia uma imagem de Nossa Senhora do Imaculado Coração, na qual, ali, eram colocados o cedro e a coroa, simbolizando que Nossa Senhora era quem estava no comando daquele país e de seus territórios. Ou seja, Nossa Senhora da Conceição já era a Rainha do Brasil desde 1640. Dom João IV mandou representar Nossa Senhora da Conceição com um vestido longo branco e um manto azul por cima; aos seus pés, três imagens de anjos. Às vezes, a imagem de Nossa Senhora era representada com as mãos postas, como a de Nossa Senhora Aparecida ou com o Menino Jesus no colo.

Em 1717, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no Rio Paraíba do Sul. Interessante destacar que a imagem era de barro, o que simboliza a redenção da humanidade, pois Nossa Senhora partilha da mesma natureza que nós, porém ela é Santíssima.

A APARIÇÃO

Foi em 1717 que Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, Governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, subiu a cavalo até São Paulo para tomar posse do governo. O Conde de Assumar era considerado pelo rei de Portugal como um homem justo, pacífico, bom pagador e piedoso, um homem de missas diárias e de grande oração, que tinha consigo um capelão para celebrar, diariamente, a Santa Missa.

Sua piedade fica manifestada na história da aparição: os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia foram pescar a pedido do Conde de Assumar, pois, como bom católico, não comia carne na sexta-feira. Então, ele pediu para que se fizesse peixe naquele dia. E foi durante essa passagem que Nossa Senhora decidiu se apresentar aos três pescadores, homens também muito piedosos.

Os três pescadores saem para pescar da fronteira com o atual munícipio de Roseira, em três canoas. Depois de uma noite inteira tentando pescar, a centenas de metros do seu local de partida, no atual Porto do Itaguaçu, João Alves encontra o corpo da imagem de Nossa Senhora. João Alves guarda a imagem, e eles continuam pescando dois quilômetros a diante, próximo ao atual Porto de Correia Leite. Eles jogam a rede juntos e encontram a cabeça da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Isso chamou muito a atenção dos pescadores: como a cabeça da imagem, tão pequena, ficou presa na rede? Os pescadores, só pelo fato de terem encontrado a imagem, já consideraram isso um milagre. Depois, jogaram as redes novamente e pescaram tantos peixes, a ponto de quase romperem as redes. Nesse momento, eles tiveram certeza que essa imagem era um grande sinal de Deus.


Quando voltaram da pesca, fizeram um pequeno oratório para Nossa Senhora na casa de Felipe Pedroso. A imagem ficou com ele, pois ele era o mais velho entre os três pescadores. Felipe, por seu um caboclo simples, colocou a imagem dentro de uma caixa para protegê-la, porém, ouviam-se ruídos e barulhos dentro da caixa. A partir disso, ele percebeu que a imagem era para todos, e não apenas para ele.

Ele entregou a imagem ao seu filho Athanásio Pedroso, que construiu um Oratório Maior próximo à trilha dos tropeiros; desse modo, muitas pessoas começaram a ter contato com a imagem.

Num sábado à noite, as pessoas estavam reunidas para rezar o terço e cantar o Ofício diante da imagem. De maneira milagrosa, as velas que estavam acesas se apagaram sem nenhum toque do vento; quando os devotos foram tentar acendê-la novamente, não conseguiram, até que, de maneira milagrosa, elas se acenderam sozinhas. Esse ficou conhecido como o milagre das velas.

Durante anos, a imagem ficou no Oratório construído por Athanásio Pedroso. O padre de Guaratinguetá, percebendo a devoção dos fiéis e os milagres que ocorriam, resolveu construir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em 1745.

Interessante notar que muitos escravos pediram a liberdade para seus senhores para ajudar na construção da capela de maneira voluntária, e seus senhores aceitavam libertá-los. Os escravos encontravam, na imagem, um sinal de amor e redenção, pois ela, através de sua cor, mostrava que também era escrava, a escrava do Senhor. Em 1868, a Princesa Isabel visitou Aparecida pedindo a sua intercessão, pois ela não conseguia ter filhos. Nossa Senhora atendeu seu pedido, e a Princesa teve três filhos.

Em 1884, a Princesa Isabel voltou para rezar à imagem e pagar a sua promessa. Mas, em 30 de maio de 1888, a Princesa Isabel entregou a coroa e o manto de Nossa Senhora como um sinal de que ela é a Rainha do Brasil. Em 1904, o Papa São Pio X mandou coroar a imagem com a coroa da Princesa Isabel. E, em 1911, o Papa Pio XI elevou Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil, ratificando aquilo que já estava no coração dos brasileiros. 

No dia 31 de 1931, o Cardeal Leme, junto do episcopado do país, levou a imagem para o Rio de Janeiro (capital do Brasil na época) e consagrou o Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em um evento que uniu mais de um milhão de pessoas. Cardeal Leme declarou: "Nossa Senhora Aparecida, o Brasil é vosso. Cuidai do Brasil". Mostrando que, por mais que estejamos vivendo uma república, o Brasil nunca deixou de ter uma rainha: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a rainha dos nossos corações.

Prof. Mestre em História Edmilson Cruz

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Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nossa-senhora-aparecida-luz-da-historia-brasil/