18 de outubro de 2024

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

O jejum como ponte entre o corpo e a alma

Quando se fala na busca por uma vida virtuosa e no crescimento na santidade, é inevitável tratar da necessidade de uma vida ascética e a necessidade da mortificação. Nesse sentido, muito se fala da importância do jejum, mas precisamos aprofundar, cada vez mais, o valor, a necessidade, os efeitos e os impactos que ele tem não apenas no âmbito espiritual, mas também no aspecto físico do ser humano.

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

Crédito: erdikocak / GettyImages

A busca por uma vida mais saudável

Atualmente, tem aumentado a busca e o interesse por bons hábitos que favoreçam a saúde, estabelecendo maiores parâmetros de qualidade de vida. Ter uma boa alimentação, estabelecer uma rotina de atividade física, buscar uma maior qualidade do sono. Tudo isso faz parte desse conjunto que favorece, estimula e promove essa qualidade de vida. Como o assunto é cada vez mais discutido, avançam-se também as descobertas. Com relação a isso, uma das práticas que tem crescido é a do jejum em vista dos seus efeitos na saúde física.

(ATENÇÃO: com relação à saúde física, é preciso recorrer sempre à indicação médica)

Os efeitos do jejum são variados e dependem de um conjunto de fatores como a idade, o estilo de vida, os hábitos alimentares e a prática de exercício físico, assim como o próprio histórico de saúde. Mas, de um modo geral, essa prática favorece o sistema imunológico, reduzindo o processo inflamatório, acelerando o metabolismo e, consequentemente, melhorando a resposta do organismo tanto a nível cerebral quanto físico.

Os impactos do jejum no organismo

Algumas áreas da medicina têm se ocupado em estudar ainda os efeitos da abstinência para aqueles que sofrem de enfermidades cardíacas, além do diabetes e do colesterol alto. Associado à prática da atividade física, estuda-se os efeitos do jejum no processo de emagrecimento.

Por outro lado, quem recorre ao jejum em vista do benefício físico tem que lidar com algumas dificuldades como o processo de adaptação ao novo estilo de vida, o cansaço físico, o desconforto abdominal e a dor de cabeça, além da mudança nos hábitos alimentares, prevenindo um processo de má digestão.

Acompanhado por um profissional da área e sabendo viver o processo adaptativo, a abstenção de alimento por determinado período de tempo pode se tornar um excelente meio para obter benefícios na saúde física. Mas, além do fator físico, isso também tem uma grande importância para a vida espiritual.

A ascese e o jejum na busca pela santidade

Viver um processo de conversão em vista da santidade é exigente, mas não é impossível. Ao longo desse caminho, é preciso deixar alguns hábitos, tomar decisões, estabelecer uma sólida e profunda relação com Deus. Ao mesmo tempo, decidir-se pela santidade exige um longo e profundo autoconhecimento, e é nessa etapa que nos deparamos com as nossas maiores fraquezas e más inclinações, as más tendências, os maus hábitos, os vícios que nos prendem aos "pecados de estimação". Viver a conversão exige a firme e determinada decisão, e é preciso assumir um caminho ascético em vista de vencer as fraquezas ainda existentes.


A ascese corresponde às práticas e aos comportamentos assumidos em vista de uma austeridade, passando pelas renúncias, refreando os prazeres e mortificando os sentidos a fim de crescer na vida espiritual. A vida ascética se desenvolve pelas práticas da mortificação, interna e externamente, abstendo-se de alguma coisa para, segundo uma visão católica, fazer morrer a vida no pecado, a vida na carne, ordenando-se para uma vida no Espírito, uma vida ordenada para a vontade de Deus.

Jejum e oração: uma aliança poderosa para a santificação

É assim que se percebe a importância do jejum: a pessoa se abstém de um alimento, de uma bebida, buscando o equilíbrio das paixões, e, unido à oração, nos preenche de Deus, levando-nos a uma vida não conduzida pelos prazeres do corpo, mas pela ação do Espírito. Sem essa abstenção, a ascese e as mortificações, o processo de conversão, marcado pela libertação dos vícios e do domínio das más inclinações, perdem um grande fator de eficácia.

Padre Jonas Abib, no seu livro "Práticas de Jejum", explica de forma clara e fácil o que é o jejum, os seus efeitos e os tipos, como e o que é recomendado pela Igreja, o jejum de pão e água, o jejum à base de líquidos e a abstenção total de alimentos. Com o auxílio de um diretor espiritual, cada pessoa precisa identificar o tipo de jejum que lhe é eficaz para o seu processo de conversão.

Tendo visto os efeitos do jejum, percebe-se quantos benefícios são obtidos por meio de sua prática, tanto no aspecto físico, quanto espiritual. Para quem deseja obter ambos os benefícios, é preciso recorrer ao profissional da área – no sentido de um aspecto físico – e um bom diretor espiritual para colher os frutos do jejum.

Emanuel França Silva
Tem 27 anos, natural de Gurinhatã – MG, é membro da Comunidade Canção Nova desde 2020. Candidato às Ordens Sacras, está cursando Filosofia na Faculdade Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/os-efeitos-jejum-na-saude-fisica-e-espiritual/

16 de outubro de 2024

Luto gestacional e neonatal: a importância de reconhecer e acolher

O luto gestacional e neonatal é uma experiência profundamente dolorosa e, muitas vezes, incompreendida. Quando um bebê morre durante a gestação ou logo após o nascimento, as famílias enfrentam não apenas a perda física de um filho, mas também o rompimento de sonhos, expectativas e planos que foram construídos desde o início da gravidez. Com essa perda, surge um vazio imenso, como se o caminho planejado para o futuro deixasse de existir, exigindo a difícil tarefa de reconstruir novos sentidos e trajetórias.

Luto gestacional e neonatal a importância de reconhecer e acolher

Crédito: fizkes / GettyImages

Esse tipo de luto carrega consigo um tabu, pois não esperamos lidar com a morte no início da vida. A sociedade, muitas vezes, não reconhece ou valida essa perda, como se o bebê, por não ter sido conhecido fisicamente, não tivesse existido. No entanto, o vínculo entre pais e bebê já estava presente, e o rompimento desse laço traz o luto como uma resposta natural. Esse processo é único para cada pessoa e vivido no seu próprio tempo.

O tabu do luto perinatal e a invalidação da dor de perder um filho

Um dos maiores desafios no luto gestacional e neonatal é a ausência de memórias tangíveis, o que torna a dor ainda mais aguda. A perda é marcada pelo que não foi vivido, pelos momentos que não serão compartilhados. Enquanto em outras perdas temos lembranças e histórias para nos manter conectados aos entes queridos, nesse luto, falta justamente essa base de memórias concretas. Isso pode gerar um sentimento profundo de solidão e incompreensão.


A falta de reconhecimento social intensifica esse isolamento. Frases como "logo você terá outro" ou "foi melhor assim" ferem mais do que ajudam. Oferecer apoio sincero, ouvir com empatia e acolher com sensibilidade pode ser profundamente significativo. Permitir que a família compartilhe suas lembranças, ainda que breves, ajuda a validar a dor e reconhecer a vida que existiu e o vínculo que sempre permanecerá.

Vivendo a dor e encontrando novos sentidos

É importante desmistificar a ideia de que o luto é algo a ser superado. O luto não desaparece com o tempo; ele é vivido e sentido, e é nesse processo que a pessoa se adapta à vida sem a presença física daquele que partiu. Não existe um prazo para o luto, e para os pais, a lembrança de um filho, mesmo que sua vida tenha sido breve, jamais será esquecida. Ao longo do tempo, essa dor pode se transformar, permitindo que as famílias encontrem novos sentidos e caminhos, mas o amor e o vínculo permanecem.

Para as famílias que enfrentam essa dor e não encontram validação ou acolhimento, buscar grupos de apoio e suporte psicológico especializado pode ser essencial. Esses espaços não só reconhecem a dor, mas também oferecem a companhia de pessoas que compreendem essa experiência. Assim, as famílias podem se sentir menos sozinhas e encontrar suporte para atravessar o luto de forma mais saudável, ressignificando a perda e descobrindo novos significados em suas trajetórias.

Psicóloga Júlia Gomes
CRP 06/125621


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/bioetica/gravidez/luto-gestacional-e-neonatal-importancia-de-reconhecer-e-acolher/

15 de outubro de 2024

A imagem do professor em crise

Os desafios do papel do professor frente à realidade tecnológica

Discutir sobre a crise na imagem do professor torna-se um grande desafio, principalmente porque ela é somente uma das consequências de uma crise ainda maior, que é a da educação nos dias de hoje.

A crise na educação

Entendendo que o problema na imagem do professor faz parte de algo mais amplo – a crise na educação –, o segundo passo é compreender que seria preciso discutir inúmeros fatores que causam o problema relacionado aos docentes, o que não é possível apenas num artigo.

Dessa forma, a proposta é refletir sobre apenas um ponto, mas que tem grande relevância quando o discutirmos, seja a crise na imagem do professor, seja a crise na educação: o professor como mestre.

Crédito: Alexey Emelyanov / GettyImages

A democratização da informação

Com a presença da tecnologia, a informação está explícita. É possível ter dados sobre qualquer assunto na palma da mão e a qualquer instante. Nunca na história da humanidade o conhecimento esteve tão manifesto como na atualidade.

Daí surge uma pergunta: estando o conhecimento explícito, o professor se torna dispensável? A resposta é não! Pois, sobretudo diante de tanta informação disponível, faz-se necessário o conhecimento tácito. Ou seja, aquele conhecimento que, diante de tantas possibilidades, conduz os alunos por um caminho seguro.

O excesso de informação e o risco da superficialidade

Um aluno diante de tanta informação corre vários riscos como: não saber por qual direção seguir ou ir por caminhos falsos e perigosos (pois nem toda informação é verdadeira), ou ainda, provar um pouquinho de cada assunto e não se aprofundar em nada.


O papel do mestre

Daí a importância do professor, que trará a luz do conhecimento tácito em meio a tanta informação explícita. Irá, com sua experiência, apresentar aquilo que está escondido nas entrelinhas do conteúdo, e, assim, conduzir seus alunos por vias seguras e que produzam frutos verdadeiros.

Esse é o verdadeiro mestre: aquele que, possuindo domínio de uma determinada área, é capaz de ensinar, apontando, em meio a tantas possibilidades, um caminho seguro, pois lança luz ao que está escondido, tendo sempre como meta o encontro com a verdade.

Cristo: o Caminho, a Verdade e a Vida

E o que é o encontro com a verdade senão o encontro com o próprio Cristo? Afinal, a verdade para os cristãos é uma pessoa. Foi Jesus mesmo quem disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6).


Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
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Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-imagem-do-professor-em-crise/

14 de outubro de 2024

Caminhos da esperança

Esperança: a virtude essencial para a dignidade humana

"A esperança é a última que morre", eis um ditado popular muito repetido em diferentes circunstâncias. Mas a esperança não pode morrer nunca. Ela é uma virtude, luz luzente em horizontes tomados por obscuridades e variados desafios. A esperança possibilita ao ser humano encontrar as respostas de que necessita para viver com mais dignidade. Assim, a esperança deve ser sempre fortalecida, pois, sem ela, a família humana sofre com o caos, na contramão da razão, inviabilizando o alcance do sentido que sustenta o viver.

Cultivar a esperança exige abrir-se, sempre mais, à reconciliação e ao exercício da paciência – para que oportunidades de edificação da paz não sejam perdidas. É preciso saber esperar, e não desistir da busca por essas oportunidades, encontrando uma força que está além dos próprios recursos, enraizada na espiritualidade e na fé.

Caminhos da esperança

Crédito: FG Trade Latin / GettyImages

O caminho para a paz

A paz, para ser alcançada, precisa ser esperançada – alimentada na certeza de que o semelhante também tem necessidade e está na busca pela paz. Sem essa convicção, o ser humano torna-se, facilmente, contaminado pelo ódio e pelo anseio por vingança. Passa a agir, assim, na contramão do caminho para a paz. De fato, sem o amor, o amor maior que vem de Deus, a paz torna-se meta inalcançável, pois trata-se de componente essencial aos diálogos e à iluminação que vem da inteligência humana.

O amor é capaz de vencer o medo que paralisa e que desencadeia conflitos complexos, promovendo a escalada da violência que dizima vidas, nações, culturas. O temor e a mágoa no coração humano precisam ser tratados com o amor de Deus, de incidência radicalmente restauradora.

A partir do amor, o ser humano se qualifica para fraternalmente se aproximar de seu semelhante. E lembra o Papa Francisco, em preciosa indicação: a cultura do encontro tem o poder de romper com o tom destrutivo da cultura da ameaça. Ameaças são capazes de amedrontar e inspirar respostas odiosas, sangrentas, que negam o sentido da fraternidade universal.

Abrindo caminhos para o bem

Em direção oposta, a cultura do encontro possibilita diálogos e entendimentos pela indispensável experiência de colocar-se no lugar do outro, particularmente daquele que é pobre, vulnerável, inocente e indefeso. A dinâmica de colocar-se no lugar do semelhante alarga horizontes. É investimento humanístico indispensável e inigualável para encontrar caminhos de esperança.

Fechar-se nos horizontes estreitados por ideologias, por sentimentos mesquinhos e egoístas, impossibilita trilhar o caminho da paz, pois é atitude que distancia o ser humano da esperança. Inscreve-se, pois, como estação importante investir nos gestos de reconciliação, para debelar o ódio, acabar com distanciamentos ou com a disponibilidade para estabelecer inimizades.

Um compromisso com a paz e a fraternidade universal

Esperançar a paz é, pois, um compromisso cidadão e de fé muito relevante. Esse compromisso exige a revisão do próprio comportamento. O comportamento humano há de ser balizado por uma qualidade espiritual e humanística que se expressa a partir da competência para dialogar e bem exercer a solidariedade, fecundando de paz as páginas do cotidiano de cada pessoa – consequentemente, da sociedade.

Trata-se de uma urgência, especialmente quando são considerados os muitos cenários de guerra no mundo contemporâneo, gerando perdas irreversíveis – de vidas humanas e de dons da Criação, com mapas dolorosos marcados pela fome e pela exclusão social. A sensibilidade para dialogar e bem exercer a solidariedade alimenta sabedorias essenciais ao equilíbrio sociopolítico.


Cultivar a esperança, sabendo se colocar no lugar do outro, exige o compromisso de lutar para que sejam mudados os cenários que desrespeitam a dignidade humana, privando muitos homens e mulheres, crianças e idosos do direito à autonomia social e política. Ferindo ainda o direito à liberdade religiosa, em razão de conflitos civis, internacionais, com gente desalmada regendo processos e tomando decisões. As guerras, frequentemente, são consequências da falta de respeito em relação às diferenças do semelhante.

Os caminhos de esperança são percorridos quando se procura exercer a fraternidade, alimentando diálogos, construindo relações de confiança. Diálogos que não são, simplesmente, exercício de diplomacia. Constituem investimento daqueles que se inserem no mundo para atuar como artesãos da paz.

Conversão ecológica: um caminho de esperança para a preservação do planeta

A partir da celebração da memória de São Francisco de Assis, tenhamos presente que a conversão ecológica, uma urgência, é também caminho de esperança. O modo abusivo que caracteriza a relação da humanidade com a natureza já traz sintomas amargos, como a escassez de chuvas ou, ao contrário, as graves enchentes. O ser humano tem sido muito despótico no tratamento da Criação, agindo de modo infiel a Deus, sem respeitar a tarefa de bem exercer a regência de toda a obra do Criador.

Falta à humanidade uma sabedoria engolida pela ambição desmedida e pelos estilos de vida esbanjadores. Verifica-se que a hostilidade presente na relação com o semelhante também se repete no tratamento com o planeta. É preciso reconciliar-se com o próximo e com a Criação, pela escuta e contemplação do mundo. Assim, reaprender a fazer da Terra uma casa comum, onde todos podem habitar harmoniosa e dignamente.

A preservação da vida de todos precisa de uma conversão integral, transformando relações, tendo o Criador como referência – fonte única e inesgotável do amor que tudo modifica na ótica do bem. Eis o convite para se trilhar em caminhos de esperança.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/caminhos-da-esperanca/

12 de outubro de 2024

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

No dia 12 de outubro de 1717 (200 anos antes da Aparição de Nossa Senhora de Fátima), alguns pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul. Essa imagem ficou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas, antes de falar sobre a história da aparição e quebrar alguns mitos sobre ela, nós precisamos entender a história dessa imagem.

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

Crédito: Sidney de Almeida / GettyImages

 

A ORIGEM DA IMAGEM 

A imagem original de Nossa Senhora Aparecida tem 36 cm, feita de barro cozido no estilo Barroco do século XVII. Ou seja, a imagem achada tem, pelo menos, 80 anos a mais da data de seu achamento. A imagem original é oca, pesando 2,5 Kg. A aparição de Nossa Senhora Aparecida chama nossa atenção por alguns fatores, pois, diferente de outras aparições, ela não falou nenhuma palavra. Porém, Nossa Senhora Aparecida nos fala através de sua imagem.

Detalhes e informações da imagem: 

– Túnica de escrava;

– Manto de rainha;

– Cinto representando estar grávida, como os judeus antigos faziam;

– A imagem está grávida e sorrindo;

– Tem apenas um anjo: representando ser o Anjo da Guardo do Brasil

A Imagem de Nossa Senhora Aparecida faz referência ao título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, tanto é que o nome completo é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas como podemos ter uma imagem de Nossa Senhora da Conceição em 1717, se o dogma da Imaculada Conceição só foi decretado em 1854? A questão é que, mesmo antes do Papa decretar o dogma, em Portugal já havia uma grande devoção ao imaculado coração de Nossa Senhora. 

A primeira congregação fundada sobre a proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi fundada em Portugal por Santa Beatriz de Portugal, a mesma que educou a Rainha Isabel, católica quando criança. Em 1640, Dom João IV, ao conquistar a independência de Portugal da Espanha, que estavam unidos desde Felipe II na União Ibérica, consagrou Portugal e todas as suas terras ao Imaculado Coração de Nossa Senhora.

Diante da Imagem de Nossa Senhora, Dom João IV declarou: "Será vós que governará Portugal, e não mais nós". Dom João IV, através desse sinal, mostrou que a Rainha de Portugal era Nossa Senhora, e os reis eram seus vassalos. Inclusive, a partir de Dom João IV, a cerimônia de coroação dos reis foi substituída por uma cerimônia de aclamação onde o rei colocava a coroa somente naquele momento de sua vida, pois quem governara Portugal era Nossa Senhora. 

Ao lado dos tronos dos reis de Portugal havia uma imagem de Nossa Senhora do Imaculado Coração, na qual, ali, eram colocados o cedro e a coroa, simbolizando que Nossa Senhora era quem estava no comando daquele país e de seus territórios. Ou seja, Nossa Senhora da Conceição já era a Rainha do Brasil desde 1640. Dom João IV mandou representar Nossa Senhora da Conceição com um vestido longo branco e um manto azul por cima; aos seus pés, três imagens de anjos. Às vezes, a imagem de Nossa Senhora era representada com as mãos postas, como a de Nossa Senhora Aparecida ou com o Menino Jesus no colo.

Em 1717, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no Rio Paraíba do Sul. Interessante destacar que a imagem era de barro, o que simboliza a redenção da humanidade, pois Nossa Senhora partilha da mesma natureza que nós, porém ela é Santíssima.

A APARIÇÃO

Foi em 1717 que Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, Governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, subiu a cavalo até São Paulo para tomar posse do governo. O Conde de Assumar era considerado pelo rei de Portugal como um homem justo, pacífico, bom pagador e piedoso, um homem de missas diárias e de grande oração, que tinha consigo um capelão para celebrar, diariamente, a Santa Missa.

Sua piedade fica manifestada na história da aparição: os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia foram pescar a pedido do Conde de Assumar, pois, como bom católico, não comia carne na sexta-feira. Então, ele pediu para que se fizesse peixe naquele dia. E foi durante essa passagem que Nossa Senhora decidiu se apresentar aos três pescadores, homens também muito piedosos.

Os três pescadores saem para pescar da fronteira com o atual munícipio de Roseira, em três canoas. Depois de uma noite inteira tentando pescar, a centenas de metros do seu local de partida, no atual Porto do Itaguaçu, João Alves encontra o corpo da imagem de Nossa Senhora. João Alves guarda a imagem, e eles continuam pescando dois quilômetros a diante, próximo ao atual Porto de Correia Leite. Eles jogam a rede juntos e encontram a cabeça da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Isso chamou muito a atenção dos pescadores: como a cabeça da imagem, tão pequena, ficou presa na rede? Os pescadores, só pelo fato de terem encontrado a imagem, já consideraram isso um milagre. Depois, jogaram as redes novamente e pescaram tantos peixes, a ponto de quase romperem as redes. Nesse momento, eles tiveram certeza que essa imagem era um grande sinal de Deus.


Quando voltaram da pesca, fizeram um pequeno oratório para Nossa Senhora na casa de Felipe Pedroso. A imagem ficou com ele, pois ele era o mais velho entre os três pescadores. Felipe, por seu um caboclo simples, colocou a imagem dentro de uma caixa para protegê-la, porém, ouviam-se ruídos e barulhos dentro da caixa. A partir disso, ele percebeu que a imagem era para todos, e não apenas para ele.

Ele entregou a imagem ao seu filho Athanásio Pedroso, que construiu um Oratório Maior próximo à trilha dos tropeiros; desse modo, muitas pessoas começaram a ter contato com a imagem.

Num sábado à noite, as pessoas estavam reunidas para rezar o terço e cantar o Ofício diante da imagem. De maneira milagrosa, as velas que estavam acesas se apagaram sem nenhum toque do vento; quando os devotos foram tentar acendê-la novamente, não conseguiram, até que, de maneira milagrosa, elas se acenderam sozinhas. Esse ficou conhecido como o milagre das velas.

Durante anos, a imagem ficou no Oratório construído por Athanásio Pedroso. O padre de Guaratinguetá, percebendo a devoção dos fiéis e os milagres que ocorriam, resolveu construir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em 1745.

Interessante notar que muitos escravos pediram a liberdade para seus senhores para ajudar na construção da capela de maneira voluntária, e seus senhores aceitavam libertá-los. Os escravos encontravam, na imagem, um sinal de amor e redenção, pois ela, através de sua cor, mostrava que também era escrava, a escrava do Senhor. Em 1868, a Princesa Isabel visitou Aparecida pedindo a sua intercessão, pois ela não conseguia ter filhos. Nossa Senhora atendeu seu pedido, e a Princesa teve três filhos.

Em 1884, a Princesa Isabel voltou para rezar à imagem e pagar a sua promessa. Mas, em 30 de maio de 1888, a Princesa Isabel entregou a coroa e o manto de Nossa Senhora como um sinal de que ela é a Rainha do Brasil. Em 1904, o Papa São Pio X mandou coroar a imagem com a coroa da Princesa Isabel. E, em 1911, o Papa Pio XI elevou Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil, ratificando aquilo que já estava no coração dos brasileiros. 

No dia 31 de 1931, o Cardeal Leme, junto do episcopado do país, levou a imagem para o Rio de Janeiro (capital do Brasil na época) e consagrou o Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em um evento que uniu mais de um milhão de pessoas. Cardeal Leme declarou: "Nossa Senhora Aparecida, o Brasil é vosso. Cuidai do Brasil". Mostrando que, por mais que estejamos vivendo uma república, o Brasil nunca deixou de ter uma rainha: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a rainha dos nossos corações.

Prof. Mestre em História Edmilson Cruz

Youtube: Edmilson Cruz
Instagram: @edmilsoncruzp


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nossa-senhora-aparecida-luz-da-historia-brasil/

10 de outubro de 2024

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

Atualmente, a internet é considerada algo que, junto com tantas outras coisas, divide opiniões, principalmente quando relacionada ao tema espiritualidade, uma vez que o alto uso das redes pode levar ao vício, ser veículo de difamação ou até porta de entrada para realidades mais pesadas, como a pornografia e tantos outros pecados complicados de serem vencidos.

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

O beato Carlo Acutis / Foto: Nicola Gori – CNA

Contudo, são nesses momentos que precisamos também olhar as coisas por outros olhos e optarmos por nos lembrarmos de bons exemplos como o Beato Carlo Acutis, aquele adolescente de 15 anos que morreu de câncer, em 2006, e já está até sendo apontado como o padroeiro da internet, sabe?

Um pequeno apaixonado por Jesus

Caso você ainda não o conheça muito bem, até a sua morte ele era considerado o filho único de Antonia Salzano e Andrea Acutis, um casal abastado que voltou de Londres para Milão após Carlo ter nascido algumas semanas mais cedo do que deveria, durante uma viagem dos pais, que, inclusive, nem eram católicos praticantes na época.

Isso só mudou por conta de uma jovem polonesa chamada Beata, que era funcionária na casa da família Acutis. Foi ela a grande responsável por iniciar Carlo na , sempre lhe contando sobre o valor da Sagrada Eucaristia.

Ainda aos sete anos de idade, o pequeno teve a alegria de fazer a sua primeira comunhão, porque o seu desejo de viver este momento com Jesus era tão grande, que, apesar de muito novo, o padre de sua paróquia pôde constatar que Carlo não estava querendo comungar apenas por mero capricho, mas porque estava pronto e compreendia verdadeiramente o sentido da Sagrada Eucaristia.

A missão de Carlo Acutis

Da mesma forma que gostamos de compartilhar aquilo que amamos, o amor de Carlo por Jesus Eucarístico e por Maria não se limitou à rotina de oração e devoção ou apenas ao seu circulo familiar, mas transbordou para além dos limites da sua convivência ordinária. Por conseguinte, a sua grande missão de evangelização foi sendo definida antes mesmo de ele completar 11 anos.

Isso porque, assim que ganhou o seu primeiro computador, aprendeu sozinho a criar um blog, e começou a catalogar uma série de milagres eucarísticos, porque o jovem compreendia que a Eucaristia era uma via para o céu a ser compartilhada.


Pensando nisso, Carlo conseguiu convencer seus pais a viajarem para diversos lugares onde teriam ocorridos os milagres eucarísticos ou onde estavam suas relíquias, para serem registrados e catalogados em seu blog. Todo o projeto, porém, só foi descoberto tempos depois de seus falecimento, quando Antônia (sua mãe), vendo a quantidade de pessoas presentes no velório do seu filho e recebendo mensagens e relatos de pessoas que o haviam conhecido, após um sonho, decidiu mexer no computador de Carlo.

Neste momento, além de seu testamento, foi descoberto que o adolescente não mantinha diários ou qualquer escrito sobre si próprio, mas esse catálogo impressionante, que a família fez questão de preservar na internet até os dias de hoje. Na época, não havia nada assim dentro da própria Igreja, e, hoje, o site já foi traduzido em diversas línguas.

E que lição podemos tirar disso em pleno mês missionário?

Que a verdadeira missão só nasce a partir de um relacionamento íntimo com o Senhor, que é capaz de transbordar em nós o desejo de levar Seu amor a todos os lugares para transformá-los, inclusive àqueles considerados menos propícios, como o Carlo Acutis fez com a internet.

Por causa da sua contemporaneidade, a história de vida do jovem beato tem viralizado na internet de tal forma nesses últimos tempos, que até ultrapassou a barreira do catolicismo, encantando pessoas das mais diversas religiões através do seu testemunho poderoso de santidade e juventude.

Maria Teresa Gomes Teixeira
Tem 21 anos , é uma jovem autista, católica e, atualmente, faz licenciatura em Biologia


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/carlo-acutis-a-missao-que-nasce-do-amor-a-jesus/

7 de outubro de 2024

Qual a importância de rezar o terço?

Padre Pio, tão querido e conhecido santo, diz que a oração do terço ou rosário é a "arma mais poderosa contra todas as batalhas". Não me surpreende que, nesses tempos tão exigentes que vivemos, testemunhamos também um significativo desabrochar dessa devoção até mesmo através das mídias sociais. Quantos de nós têm um conhecido ou parente que passou a acordar de madrugada para rezar o terço! O que tem atraído tanta gente a essa prática? Posso dizer, por experiência própria, que quem começa a oração do terço com devoção tem o seu interior e a própria vida transformados.

Crédito: BrianAJackson/GettyImages

A origem e difusão do terço

A origem dessa oração, segundo a tradição, vem de um antigo costume dos monges de rezar contando com pedrinhas; na idade média, a prática foi adotada pelos fiéis e se regulamentando aos poucos até o formato atual. Mas sua grande divulgação, de acordo com uma forte tradição, ocorreu depois que são Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, foi enviado pelo Papa Gregório IX para converter os hereges cátaros na França (1227-1241) e recebeu a visita de Nossa Senhora, que lhe apresentou o Rosário como a arma para a conversão dos hereges e o instruiu a espalhar a devoção.

Desde então, São Domingos e os dominicanos difundiram a devoção por toda Europa e pelo mundo. Foi, inclusive, um papa dominicano, São Pio V, quem instituiu a Festa de Nossa Senhora da Vitória em 1571 (mais tarde rebatizada de Festa de Nossa Senhora do Rosário pelo Papa Gregório XIII). Foi esse pontífice, Pio V, que também determinou o teor dos mistérios que acompanham cada dezena. A contemplação dos mistérios torna o terço extremamente catequético, pois nos faz percorrer toda a caminhada de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Foi também São Pio V que atribuiu a eficácia do terço na vitória naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571, salvando os cristãos do Ocidente da invasão dos turcos otomanos mulçumanos que queriam dominar a Europa e acabar com o cristianismo. Por isso, o Papa Pio V instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário para o dia 7 de outubro. E a vitória de Lepanto foi apenas um dos relatos das intervenções sobrenaturais através do terço em diversas nações e regiões. Relatos mais recentes podem ser conferidos em, por exemplo, inúmeros testemunhos de sobreviventes do massacre de Ruanda, em 1994, que escaparam da morte certa através da oração do terço.

 O terço na vida familiar e na história

Outro elemento muito evidente, a meu ver, pode ser notado na vida familiar de santos e sacerdotes. Há muitos relatos de que suas famílias tinham o piedoso costume de rezar o terço, e atribuem a isso o florescimento de vocações e santidade no seio familiar.

Poderíamos ficar relatando, em todo o texto, inúmeras graças, conversões, curas, salvamentos, milagres através dessa poderosa oração. Mas optamos por deixar o testemunho irrefutável de Papas e santos. Primeiramente, destacamos o Papa Leão XIII, que determinou o mês de outubro como dedicado, em todas as paróquias, à reza do Rosário. Praticamente, todos os Papas valorizam e recomendam, vivamente, a oração do terço, especialmente os últimos papas, sobretudo a partir das aparições de Lourdes (1858) e Fátima (1917). Em Fátima, Nossa Senhora disse aos pastorinhos que "não há problema de ordem pessoal, familiar e nacional que a oração do Terço não possa ajudar a resolver". Muitos papas também dedicaram a essa devoção muitos documentos e encíclicas.

Em 10 outubro 2010, o Papa Bento XVI disse que o Rosário é "a oração mais querida pela Mãe de Deus, e que conduz, diretamente, a Cristo". Agora, veja esse lindo relato de São João Paulo II: "Desde a minha juventude, essa oração teve um lugar importante na minha vida espiritual. A ele confiei tantas preocupações; nele, encontrei sempre conforto. Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: «O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade."

O Papa Paulo VI também foi um dos muitos que deixou sua contribuição a respeito da devoção: "Por sua natureza, a recitação do Rosário requer um ritmo tranquilo e uma certa demora a pensar, que favoreçam, naquele que ora, a meditação dos mistérios da vida do Senhor, vistos através do coração daquela que mais de perto esteve em contato com o mesmo Senhor, e que abram o acesso às suas insondáveis riquezas".

Parece-me que foram essas insondáveis riquezas que os santos souberam encontrar na contemplação dos mistérios do terço, vejamos alguns relatos:

São Pio X:
"Se quiserdes que a paz reine em vossas famílias e em vossa Pátria, rezai todos os dias, em família, o Santo Rosário."

São João Bosco
"Todas as minhas obras e trabalhos têm como base duas coisas: A Missa e o Rosário".

São João Paulo II
"O Rosário acompanhou-me nos momentos de alegria e nas provações. A ele confiei tantas preocupações; nele encontrei sempre conforto".

São Pio de Pietrelcina
"Amai Nossa Senhora e tornai-a amada. Rezai sempre o seu Rosário e divulgai-o."

Santa Teresa de Calcutá:
"Apegue-se ao Rosário como as folhas de hera se agarram na árvore, porque sem Nossa Senhora não podemos permanecer."

Façamos como esses tão queridos santos e papas que encontraram, na oração do terço, força e luz para caminharem nesse mundo. Quem faz a experiência não deixará nunca mais de empunhar tão poderosa arma.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/qual-importancia-de-rezar-o-terco/