No dia 12 de outubro de 1717 (200 anos antes da Aparição de Nossa Senhora de Fátima), alguns pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul. Essa imagem ficou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas, antes de falar sobre a história da aparição e quebrar alguns mitos sobre ela, nós precisamos entender a história dessa imagem.
Crédito: Sidney de Almeida / GettyImages
A ORIGEM DA IMAGEM
A imagem original de Nossa Senhora Aparecida tem 36 cm, feita de barro cozido no estilo Barroco do século XVII. Ou seja, a imagem achada tem, pelo menos, 80 anos a mais da data de seu achamento. A imagem original é oca, pesando 2,5 Kg. A aparição de Nossa Senhora Aparecida chama nossa atenção por alguns fatores, pois, diferente de outras aparições, ela não falou nenhuma palavra. Porém, Nossa Senhora Aparecida nos fala através de sua imagem.
Detalhes e informações da imagem:
– Túnica de escrava;
– Manto de rainha;
– Cinto representando estar grávida, como os judeus antigos faziam;
– A imagem está grávida e sorrindo;
– Tem apenas um anjo: representando ser o Anjo da Guardo do Brasil
A Imagem de Nossa Senhora Aparecida faz referência ao título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, tanto é que o nome completo é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas como podemos ter uma imagem de Nossa Senhora da Conceição em 1717, se o dogma da Imaculada Conceição só foi decretado em 1854? A questão é que, mesmo antes do Papa decretar o dogma, em Portugal já havia uma grande devoção ao imaculado coração de Nossa Senhora.
A primeira congregação fundada sobre a proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi fundada em Portugal por Santa Beatriz de Portugal, a mesma que educou a Rainha Isabel, católica quando criança. Em 1640, Dom João IV, ao conquistar a independência de Portugal da Espanha, que estavam unidos desde Felipe II na União Ibérica, consagrou Portugal e todas as suas terras ao Imaculado Coração de Nossa Senhora.
Diante da Imagem de Nossa Senhora, Dom João IV declarou: "Será vós que governará Portugal, e não mais nós". Dom João IV, através desse sinal, mostrou que a Rainha de Portugal era Nossa Senhora, e os reis eram seus vassalos. Inclusive, a partir de Dom João IV, a cerimônia de coroação dos reis foi substituída por uma cerimônia de aclamação onde o rei colocava a coroa somente naquele momento de sua vida, pois quem governara Portugal era Nossa Senhora.
Ao lado dos tronos dos reis de Portugal havia uma imagem de Nossa Senhora do Imaculado Coração, na qual, ali, eram colocados o cedro e a coroa, simbolizando que Nossa Senhora era quem estava no comando daquele país e de seus territórios. Ou seja, Nossa Senhora da Conceição já era a Rainha do Brasil desde 1640. Dom João IV mandou representar Nossa Senhora da Conceição com um vestido longo branco e um manto azul por cima; aos seus pés, três imagens de anjos. Às vezes, a imagem de Nossa Senhora era representada com as mãos postas, como a de Nossa Senhora Aparecida ou com o Menino Jesus no colo.
Em 1717, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no Rio Paraíba do Sul. Interessante destacar que a imagem era de barro, o que simboliza a redenção da humanidade, pois Nossa Senhora partilha da mesma natureza que nós, porém ela é Santíssima.
A APARIÇÃO
Foi em 1717 que Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, Governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, subiu a cavalo até São Paulo para tomar posse do governo. O Conde de Assumar era considerado pelo rei de Portugal como um homem justo, pacífico, bom pagador e piedoso, um homem de missas diárias e de grande oração, que tinha consigo um capelão para celebrar, diariamente, a Santa Missa.
Sua piedade fica manifestada na história da aparição: os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia foram pescar a pedido do Conde de Assumar, pois, como bom católico, não comia carne na sexta-feira. Então, ele pediu para que se fizesse peixe naquele dia. E foi durante essa passagem que Nossa Senhora decidiu se apresentar aos três pescadores, homens também muito piedosos.
Os três pescadores saem para pescar da fronteira com o atual munícipio de Roseira, em três canoas. Depois de uma noite inteira tentando pescar, a centenas de metros do seu local de partida, no atual Porto do Itaguaçu, João Alves encontra o corpo da imagem de Nossa Senhora. João Alves guarda a imagem, e eles continuam pescando dois quilômetros a diante, próximo ao atual Porto de Correia Leite. Eles jogam a rede juntos e encontram a cabeça da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Isso chamou muito a atenção dos pescadores: como a cabeça da imagem, tão pequena, ficou presa na rede? Os pescadores, só pelo fato de terem encontrado a imagem, já consideraram isso um milagre. Depois, jogaram as redes novamente e pescaram tantos peixes, a ponto de quase romperem as redes. Nesse momento, eles tiveram certeza que essa imagem era um grande sinal de Deus.
Quando voltaram da pesca, fizeram um pequeno oratório para Nossa Senhora na casa de Felipe Pedroso. A imagem ficou com ele, pois ele era o mais velho entre os três pescadores. Felipe, por seu um caboclo simples, colocou a imagem dentro de uma caixa para protegê-la, porém, ouviam-se ruídos e barulhos dentro da caixa. A partir disso, ele percebeu que a imagem era para todos, e não apenas para ele.
Ele entregou a imagem ao seu filho Athanásio Pedroso, que construiu um Oratório Maior próximo à trilha dos tropeiros; desse modo, muitas pessoas começaram a ter contato com a imagem.
Num sábado à noite, as pessoas estavam reunidas para rezar o terço e cantar o Ofício diante da imagem. De maneira milagrosa, as velas que estavam acesas se apagaram sem nenhum toque do vento; quando os devotos foram tentar acendê-la novamente, não conseguiram, até que, de maneira milagrosa, elas se acenderam sozinhas. Esse ficou conhecido como o milagre das velas.
Durante anos, a imagem ficou no Oratório construído por Athanásio Pedroso. O padre de Guaratinguetá, percebendo a devoção dos fiéis e os milagres que ocorriam, resolveu construir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em 1745.
Interessante notar que muitos escravos pediram a liberdade para seus senhores para ajudar na construção da capela de maneira voluntária, e seus senhores aceitavam libertá-los. Os escravos encontravam, na imagem, um sinal de amor e redenção, pois ela, através de sua cor, mostrava que também era escrava, a escrava do Senhor. Em 1868, a Princesa Isabel visitou Aparecida pedindo a sua intercessão, pois ela não conseguia ter filhos. Nossa Senhora atendeu seu pedido, e a Princesa teve três filhos.
Em 1884, a Princesa Isabel voltou para rezar à imagem e pagar a sua promessa. Mas, em 30 de maio de 1888, a Princesa Isabel entregou a coroa e o manto de Nossa Senhora como um sinal de que ela é a Rainha do Brasil. Em 1904, o Papa São Pio X mandou coroar a imagem com a coroa da Princesa Isabel. E, em 1911, o Papa Pio XI elevou Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil, ratificando aquilo que já estava no coração dos brasileiros.
No dia 31 de 1931, o Cardeal Leme, junto do episcopado do país, levou a imagem para o Rio de Janeiro (capital do Brasil na época) e consagrou o Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em um evento que uniu mais de um milhão de pessoas. Cardeal Leme declarou: "Nossa Senhora Aparecida, o Brasil é vosso. Cuidai do Brasil". Mostrando que, por mais que estejamos vivendo uma república, o Brasil nunca deixou de ter uma rainha: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a rainha dos nossos corações.
Prof. Mestre em História Edmilson Cruz
Youtube: Edmilson Cruz
Instagram: @edmilsoncruzp
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nossa-senhora-aparecida-luz-da-historia-brasil/