14 de outubro de 2024

Caminhos da esperança

Esperança: a virtude essencial para a dignidade humana

"A esperança é a última que morre", eis um ditado popular muito repetido em diferentes circunstâncias. Mas a esperança não pode morrer nunca. Ela é uma virtude, luz luzente em horizontes tomados por obscuridades e variados desafios. A esperança possibilita ao ser humano encontrar as respostas de que necessita para viver com mais dignidade. Assim, a esperança deve ser sempre fortalecida, pois, sem ela, a família humana sofre com o caos, na contramão da razão, inviabilizando o alcance do sentido que sustenta o viver.

Cultivar a esperança exige abrir-se, sempre mais, à reconciliação e ao exercício da paciência – para que oportunidades de edificação da paz não sejam perdidas. É preciso saber esperar, e não desistir da busca por essas oportunidades, encontrando uma força que está além dos próprios recursos, enraizada na espiritualidade e na fé.

Caminhos da esperança

Crédito: FG Trade Latin / GettyImages

O caminho para a paz

A paz, para ser alcançada, precisa ser esperançada – alimentada na certeza de que o semelhante também tem necessidade e está na busca pela paz. Sem essa convicção, o ser humano torna-se, facilmente, contaminado pelo ódio e pelo anseio por vingança. Passa a agir, assim, na contramão do caminho para a paz. De fato, sem o amor, o amor maior que vem de Deus, a paz torna-se meta inalcançável, pois trata-se de componente essencial aos diálogos e à iluminação que vem da inteligência humana.

O amor é capaz de vencer o medo que paralisa e que desencadeia conflitos complexos, promovendo a escalada da violência que dizima vidas, nações, culturas. O temor e a mágoa no coração humano precisam ser tratados com o amor de Deus, de incidência radicalmente restauradora.

A partir do amor, o ser humano se qualifica para fraternalmente se aproximar de seu semelhante. E lembra o Papa Francisco, em preciosa indicação: a cultura do encontro tem o poder de romper com o tom destrutivo da cultura da ameaça. Ameaças são capazes de amedrontar e inspirar respostas odiosas, sangrentas, que negam o sentido da fraternidade universal.

Abrindo caminhos para o bem

Em direção oposta, a cultura do encontro possibilita diálogos e entendimentos pela indispensável experiência de colocar-se no lugar do outro, particularmente daquele que é pobre, vulnerável, inocente e indefeso. A dinâmica de colocar-se no lugar do semelhante alarga horizontes. É investimento humanístico indispensável e inigualável para encontrar caminhos de esperança.

Fechar-se nos horizontes estreitados por ideologias, por sentimentos mesquinhos e egoístas, impossibilita trilhar o caminho da paz, pois é atitude que distancia o ser humano da esperança. Inscreve-se, pois, como estação importante investir nos gestos de reconciliação, para debelar o ódio, acabar com distanciamentos ou com a disponibilidade para estabelecer inimizades.

Um compromisso com a paz e a fraternidade universal

Esperançar a paz é, pois, um compromisso cidadão e de fé muito relevante. Esse compromisso exige a revisão do próprio comportamento. O comportamento humano há de ser balizado por uma qualidade espiritual e humanística que se expressa a partir da competência para dialogar e bem exercer a solidariedade, fecundando de paz as páginas do cotidiano de cada pessoa – consequentemente, da sociedade.

Trata-se de uma urgência, especialmente quando são considerados os muitos cenários de guerra no mundo contemporâneo, gerando perdas irreversíveis – de vidas humanas e de dons da Criação, com mapas dolorosos marcados pela fome e pela exclusão social. A sensibilidade para dialogar e bem exercer a solidariedade alimenta sabedorias essenciais ao equilíbrio sociopolítico.


Cultivar a esperança, sabendo se colocar no lugar do outro, exige o compromisso de lutar para que sejam mudados os cenários que desrespeitam a dignidade humana, privando muitos homens e mulheres, crianças e idosos do direito à autonomia social e política. Ferindo ainda o direito à liberdade religiosa, em razão de conflitos civis, internacionais, com gente desalmada regendo processos e tomando decisões. As guerras, frequentemente, são consequências da falta de respeito em relação às diferenças do semelhante.

Os caminhos de esperança são percorridos quando se procura exercer a fraternidade, alimentando diálogos, construindo relações de confiança. Diálogos que não são, simplesmente, exercício de diplomacia. Constituem investimento daqueles que se inserem no mundo para atuar como artesãos da paz.

Conversão ecológica: um caminho de esperança para a preservação do planeta

A partir da celebração da memória de São Francisco de Assis, tenhamos presente que a conversão ecológica, uma urgência, é também caminho de esperança. O modo abusivo que caracteriza a relação da humanidade com a natureza já traz sintomas amargos, como a escassez de chuvas ou, ao contrário, as graves enchentes. O ser humano tem sido muito despótico no tratamento da Criação, agindo de modo infiel a Deus, sem respeitar a tarefa de bem exercer a regência de toda a obra do Criador.

Falta à humanidade uma sabedoria engolida pela ambição desmedida e pelos estilos de vida esbanjadores. Verifica-se que a hostilidade presente na relação com o semelhante também se repete no tratamento com o planeta. É preciso reconciliar-se com o próximo e com a Criação, pela escuta e contemplação do mundo. Assim, reaprender a fazer da Terra uma casa comum, onde todos podem habitar harmoniosa e dignamente.

A preservação da vida de todos precisa de uma conversão integral, transformando relações, tendo o Criador como referência – fonte única e inesgotável do amor que tudo modifica na ótica do bem. Eis o convite para se trilhar em caminhos de esperança.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/caminhos-da-esperanca/

12 de outubro de 2024

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

No dia 12 de outubro de 1717 (200 anos antes da Aparição de Nossa Senhora de Fátima), alguns pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul. Essa imagem ficou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas, antes de falar sobre a história da aparição e quebrar alguns mitos sobre ela, nós precisamos entender a história dessa imagem.

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

Crédito: Sidney de Almeida / GettyImages

 

A ORIGEM DA IMAGEM 

A imagem original de Nossa Senhora Aparecida tem 36 cm, feita de barro cozido no estilo Barroco do século XVII. Ou seja, a imagem achada tem, pelo menos, 80 anos a mais da data de seu achamento. A imagem original é oca, pesando 2,5 Kg. A aparição de Nossa Senhora Aparecida chama nossa atenção por alguns fatores, pois, diferente de outras aparições, ela não falou nenhuma palavra. Porém, Nossa Senhora Aparecida nos fala através de sua imagem.

Detalhes e informações da imagem: 

– Túnica de escrava;

– Manto de rainha;

– Cinto representando estar grávida, como os judeus antigos faziam;

– A imagem está grávida e sorrindo;

– Tem apenas um anjo: representando ser o Anjo da Guardo do Brasil

A Imagem de Nossa Senhora Aparecida faz referência ao título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, tanto é que o nome completo é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas como podemos ter uma imagem de Nossa Senhora da Conceição em 1717, se o dogma da Imaculada Conceição só foi decretado em 1854? A questão é que, mesmo antes do Papa decretar o dogma, em Portugal já havia uma grande devoção ao imaculado coração de Nossa Senhora. 

A primeira congregação fundada sobre a proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi fundada em Portugal por Santa Beatriz de Portugal, a mesma que educou a Rainha Isabel, católica quando criança. Em 1640, Dom João IV, ao conquistar a independência de Portugal da Espanha, que estavam unidos desde Felipe II na União Ibérica, consagrou Portugal e todas as suas terras ao Imaculado Coração de Nossa Senhora.

Diante da Imagem de Nossa Senhora, Dom João IV declarou: "Será vós que governará Portugal, e não mais nós". Dom João IV, através desse sinal, mostrou que a Rainha de Portugal era Nossa Senhora, e os reis eram seus vassalos. Inclusive, a partir de Dom João IV, a cerimônia de coroação dos reis foi substituída por uma cerimônia de aclamação onde o rei colocava a coroa somente naquele momento de sua vida, pois quem governara Portugal era Nossa Senhora. 

Ao lado dos tronos dos reis de Portugal havia uma imagem de Nossa Senhora do Imaculado Coração, na qual, ali, eram colocados o cedro e a coroa, simbolizando que Nossa Senhora era quem estava no comando daquele país e de seus territórios. Ou seja, Nossa Senhora da Conceição já era a Rainha do Brasil desde 1640. Dom João IV mandou representar Nossa Senhora da Conceição com um vestido longo branco e um manto azul por cima; aos seus pés, três imagens de anjos. Às vezes, a imagem de Nossa Senhora era representada com as mãos postas, como a de Nossa Senhora Aparecida ou com o Menino Jesus no colo.

Em 1717, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no Rio Paraíba do Sul. Interessante destacar que a imagem era de barro, o que simboliza a redenção da humanidade, pois Nossa Senhora partilha da mesma natureza que nós, porém ela é Santíssima.

A APARIÇÃO

Foi em 1717 que Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, Governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, subiu a cavalo até São Paulo para tomar posse do governo. O Conde de Assumar era considerado pelo rei de Portugal como um homem justo, pacífico, bom pagador e piedoso, um homem de missas diárias e de grande oração, que tinha consigo um capelão para celebrar, diariamente, a Santa Missa.

Sua piedade fica manifestada na história da aparição: os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia foram pescar a pedido do Conde de Assumar, pois, como bom católico, não comia carne na sexta-feira. Então, ele pediu para que se fizesse peixe naquele dia. E foi durante essa passagem que Nossa Senhora decidiu se apresentar aos três pescadores, homens também muito piedosos.

Os três pescadores saem para pescar da fronteira com o atual munícipio de Roseira, em três canoas. Depois de uma noite inteira tentando pescar, a centenas de metros do seu local de partida, no atual Porto do Itaguaçu, João Alves encontra o corpo da imagem de Nossa Senhora. João Alves guarda a imagem, e eles continuam pescando dois quilômetros a diante, próximo ao atual Porto de Correia Leite. Eles jogam a rede juntos e encontram a cabeça da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Isso chamou muito a atenção dos pescadores: como a cabeça da imagem, tão pequena, ficou presa na rede? Os pescadores, só pelo fato de terem encontrado a imagem, já consideraram isso um milagre. Depois, jogaram as redes novamente e pescaram tantos peixes, a ponto de quase romperem as redes. Nesse momento, eles tiveram certeza que essa imagem era um grande sinal de Deus.


Quando voltaram da pesca, fizeram um pequeno oratório para Nossa Senhora na casa de Felipe Pedroso. A imagem ficou com ele, pois ele era o mais velho entre os três pescadores. Felipe, por seu um caboclo simples, colocou a imagem dentro de uma caixa para protegê-la, porém, ouviam-se ruídos e barulhos dentro da caixa. A partir disso, ele percebeu que a imagem era para todos, e não apenas para ele.

Ele entregou a imagem ao seu filho Athanásio Pedroso, que construiu um Oratório Maior próximo à trilha dos tropeiros; desse modo, muitas pessoas começaram a ter contato com a imagem.

Num sábado à noite, as pessoas estavam reunidas para rezar o terço e cantar o Ofício diante da imagem. De maneira milagrosa, as velas que estavam acesas se apagaram sem nenhum toque do vento; quando os devotos foram tentar acendê-la novamente, não conseguiram, até que, de maneira milagrosa, elas se acenderam sozinhas. Esse ficou conhecido como o milagre das velas.

Durante anos, a imagem ficou no Oratório construído por Athanásio Pedroso. O padre de Guaratinguetá, percebendo a devoção dos fiéis e os milagres que ocorriam, resolveu construir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em 1745.

Interessante notar que muitos escravos pediram a liberdade para seus senhores para ajudar na construção da capela de maneira voluntária, e seus senhores aceitavam libertá-los. Os escravos encontravam, na imagem, um sinal de amor e redenção, pois ela, através de sua cor, mostrava que também era escrava, a escrava do Senhor. Em 1868, a Princesa Isabel visitou Aparecida pedindo a sua intercessão, pois ela não conseguia ter filhos. Nossa Senhora atendeu seu pedido, e a Princesa teve três filhos.

Em 1884, a Princesa Isabel voltou para rezar à imagem e pagar a sua promessa. Mas, em 30 de maio de 1888, a Princesa Isabel entregou a coroa e o manto de Nossa Senhora como um sinal de que ela é a Rainha do Brasil. Em 1904, o Papa São Pio X mandou coroar a imagem com a coroa da Princesa Isabel. E, em 1911, o Papa Pio XI elevou Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil, ratificando aquilo que já estava no coração dos brasileiros. 

No dia 31 de 1931, o Cardeal Leme, junto do episcopado do país, levou a imagem para o Rio de Janeiro (capital do Brasil na época) e consagrou o Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em um evento que uniu mais de um milhão de pessoas. Cardeal Leme declarou: "Nossa Senhora Aparecida, o Brasil é vosso. Cuidai do Brasil". Mostrando que, por mais que estejamos vivendo uma república, o Brasil nunca deixou de ter uma rainha: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a rainha dos nossos corações.

Prof. Mestre em História Edmilson Cruz

Youtube: Edmilson Cruz
Instagram: @edmilsoncruzp


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nossa-senhora-aparecida-luz-da-historia-brasil/

10 de outubro de 2024

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

Atualmente, a internet é considerada algo que, junto com tantas outras coisas, divide opiniões, principalmente quando relacionada ao tema espiritualidade, uma vez que o alto uso das redes pode levar ao vício, ser veículo de difamação ou até porta de entrada para realidades mais pesadas, como a pornografia e tantos outros pecados complicados de serem vencidos.

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

O beato Carlo Acutis / Foto: Nicola Gori – CNA

Contudo, são nesses momentos que precisamos também olhar as coisas por outros olhos e optarmos por nos lembrarmos de bons exemplos como o Beato Carlo Acutis, aquele adolescente de 15 anos que morreu de câncer, em 2006, e já está até sendo apontado como o padroeiro da internet, sabe?

Um pequeno apaixonado por Jesus

Caso você ainda não o conheça muito bem, até a sua morte ele era considerado o filho único de Antonia Salzano e Andrea Acutis, um casal abastado que voltou de Londres para Milão após Carlo ter nascido algumas semanas mais cedo do que deveria, durante uma viagem dos pais, que, inclusive, nem eram católicos praticantes na época.

Isso só mudou por conta de uma jovem polonesa chamada Beata, que era funcionária na casa da família Acutis. Foi ela a grande responsável por iniciar Carlo na , sempre lhe contando sobre o valor da Sagrada Eucaristia.

Ainda aos sete anos de idade, o pequeno teve a alegria de fazer a sua primeira comunhão, porque o seu desejo de viver este momento com Jesus era tão grande, que, apesar de muito novo, o padre de sua paróquia pôde constatar que Carlo não estava querendo comungar apenas por mero capricho, mas porque estava pronto e compreendia verdadeiramente o sentido da Sagrada Eucaristia.

A missão de Carlo Acutis

Da mesma forma que gostamos de compartilhar aquilo que amamos, o amor de Carlo por Jesus Eucarístico e por Maria não se limitou à rotina de oração e devoção ou apenas ao seu circulo familiar, mas transbordou para além dos limites da sua convivência ordinária. Por conseguinte, a sua grande missão de evangelização foi sendo definida antes mesmo de ele completar 11 anos.

Isso porque, assim que ganhou o seu primeiro computador, aprendeu sozinho a criar um blog, e começou a catalogar uma série de milagres eucarísticos, porque o jovem compreendia que a Eucaristia era uma via para o céu a ser compartilhada.


Pensando nisso, Carlo conseguiu convencer seus pais a viajarem para diversos lugares onde teriam ocorridos os milagres eucarísticos ou onde estavam suas relíquias, para serem registrados e catalogados em seu blog. Todo o projeto, porém, só foi descoberto tempos depois de seus falecimento, quando Antônia (sua mãe), vendo a quantidade de pessoas presentes no velório do seu filho e recebendo mensagens e relatos de pessoas que o haviam conhecido, após um sonho, decidiu mexer no computador de Carlo.

Neste momento, além de seu testamento, foi descoberto que o adolescente não mantinha diários ou qualquer escrito sobre si próprio, mas esse catálogo impressionante, que a família fez questão de preservar na internet até os dias de hoje. Na época, não havia nada assim dentro da própria Igreja, e, hoje, o site já foi traduzido em diversas línguas.

E que lição podemos tirar disso em pleno mês missionário?

Que a verdadeira missão só nasce a partir de um relacionamento íntimo com o Senhor, que é capaz de transbordar em nós o desejo de levar Seu amor a todos os lugares para transformá-los, inclusive àqueles considerados menos propícios, como o Carlo Acutis fez com a internet.

Por causa da sua contemporaneidade, a história de vida do jovem beato tem viralizado na internet de tal forma nesses últimos tempos, que até ultrapassou a barreira do catolicismo, encantando pessoas das mais diversas religiões através do seu testemunho poderoso de santidade e juventude.

Maria Teresa Gomes Teixeira
Tem 21 anos , é uma jovem autista, católica e, atualmente, faz licenciatura em Biologia


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/carlo-acutis-a-missao-que-nasce-do-amor-a-jesus/

7 de outubro de 2024

Qual a importância de rezar o terço?

Padre Pio, tão querido e conhecido santo, diz que a oração do terço ou rosário é a "arma mais poderosa contra todas as batalhas". Não me surpreende que, nesses tempos tão exigentes que vivemos, testemunhamos também um significativo desabrochar dessa devoção até mesmo através das mídias sociais. Quantos de nós têm um conhecido ou parente que passou a acordar de madrugada para rezar o terço! O que tem atraído tanta gente a essa prática? Posso dizer, por experiência própria, que quem começa a oração do terço com devoção tem o seu interior e a própria vida transformados.

Crédito: BrianAJackson/GettyImages

A origem e difusão do terço

A origem dessa oração, segundo a tradição, vem de um antigo costume dos monges de rezar contando com pedrinhas; na idade média, a prática foi adotada pelos fiéis e se regulamentando aos poucos até o formato atual. Mas sua grande divulgação, de acordo com uma forte tradição, ocorreu depois que são Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, foi enviado pelo Papa Gregório IX para converter os hereges cátaros na França (1227-1241) e recebeu a visita de Nossa Senhora, que lhe apresentou o Rosário como a arma para a conversão dos hereges e o instruiu a espalhar a devoção.

Desde então, São Domingos e os dominicanos difundiram a devoção por toda Europa e pelo mundo. Foi, inclusive, um papa dominicano, São Pio V, quem instituiu a Festa de Nossa Senhora da Vitória em 1571 (mais tarde rebatizada de Festa de Nossa Senhora do Rosário pelo Papa Gregório XIII). Foi esse pontífice, Pio V, que também determinou o teor dos mistérios que acompanham cada dezena. A contemplação dos mistérios torna o terço extremamente catequético, pois nos faz percorrer toda a caminhada de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Foi também São Pio V que atribuiu a eficácia do terço na vitória naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571, salvando os cristãos do Ocidente da invasão dos turcos otomanos mulçumanos que queriam dominar a Europa e acabar com o cristianismo. Por isso, o Papa Pio V instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário para o dia 7 de outubro. E a vitória de Lepanto foi apenas um dos relatos das intervenções sobrenaturais através do terço em diversas nações e regiões. Relatos mais recentes podem ser conferidos em, por exemplo, inúmeros testemunhos de sobreviventes do massacre de Ruanda, em 1994, que escaparam da morte certa através da oração do terço.

 O terço na vida familiar e na história

Outro elemento muito evidente, a meu ver, pode ser notado na vida familiar de santos e sacerdotes. Há muitos relatos de que suas famílias tinham o piedoso costume de rezar o terço, e atribuem a isso o florescimento de vocações e santidade no seio familiar.

Poderíamos ficar relatando, em todo o texto, inúmeras graças, conversões, curas, salvamentos, milagres através dessa poderosa oração. Mas optamos por deixar o testemunho irrefutável de Papas e santos. Primeiramente, destacamos o Papa Leão XIII, que determinou o mês de outubro como dedicado, em todas as paróquias, à reza do Rosário. Praticamente, todos os Papas valorizam e recomendam, vivamente, a oração do terço, especialmente os últimos papas, sobretudo a partir das aparições de Lourdes (1858) e Fátima (1917). Em Fátima, Nossa Senhora disse aos pastorinhos que "não há problema de ordem pessoal, familiar e nacional que a oração do Terço não possa ajudar a resolver". Muitos papas também dedicaram a essa devoção muitos documentos e encíclicas.

Em 10 outubro 2010, o Papa Bento XVI disse que o Rosário é "a oração mais querida pela Mãe de Deus, e que conduz, diretamente, a Cristo". Agora, veja esse lindo relato de São João Paulo II: "Desde a minha juventude, essa oração teve um lugar importante na minha vida espiritual. A ele confiei tantas preocupações; nele, encontrei sempre conforto. Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: «O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade."

O Papa Paulo VI também foi um dos muitos que deixou sua contribuição a respeito da devoção: "Por sua natureza, a recitação do Rosário requer um ritmo tranquilo e uma certa demora a pensar, que favoreçam, naquele que ora, a meditação dos mistérios da vida do Senhor, vistos através do coração daquela que mais de perto esteve em contato com o mesmo Senhor, e que abram o acesso às suas insondáveis riquezas".

Parece-me que foram essas insondáveis riquezas que os santos souberam encontrar na contemplação dos mistérios do terço, vejamos alguns relatos:

São Pio X:
"Se quiserdes que a paz reine em vossas famílias e em vossa Pátria, rezai todos os dias, em família, o Santo Rosário."

São João Bosco
"Todas as minhas obras e trabalhos têm como base duas coisas: A Missa e o Rosário".

São João Paulo II
"O Rosário acompanhou-me nos momentos de alegria e nas provações. A ele confiei tantas preocupações; nele encontrei sempre conforto".

São Pio de Pietrelcina
"Amai Nossa Senhora e tornai-a amada. Rezai sempre o seu Rosário e divulgai-o."

Santa Teresa de Calcutá:
"Apegue-se ao Rosário como as folhas de hera se agarram na árvore, porque sem Nossa Senhora não podemos permanecer."

Façamos como esses tão queridos santos e papas que encontraram, na oração do terço, força e luz para caminharem nesse mundo. Quem faz a experiência não deixará nunca mais de empunhar tão poderosa arma.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/qual-importancia-de-rezar-o-terco/

Cuidar: apelo permanente

Superando a indiferença, investindo no bem comum

Há uma gramática do cuidado que precisa ser, cada vez mais, aprendida, pois é essencial ao equilíbrio das relações sociopolíticas e um efetivo caminho para a paz. A cultura do cuidado constitui um conjunto de valores civilizacionais a ser reconhecido e assimilado por todos, em cada situação do cotidiano, em todas as etapas da vida. Um legado a ser transmitido, especialmente, às novas gerações, para estabelecer contraponto ao caos, provocado por muitas disputas e indiferenças – vetores destrutivos da vida que ferem a dignidade humana, alimentando a desigualdade social e a apatia diante das situações de exclusão, de discriminação.

 

Cuidar: apelo permanente

Crédito: FG Trade Latin / GettyImages

Os muitos exemplos que expressam a cultura do cuidado precisam inspirar aprendizados, iluminando o horizonte de um novo tempo. Sabe-se de muitos e luminosos testemunhos de caridade, contrastando com variadas formas de indiferença que retardam a construção de uma sociedade solidária. Sem a cultura do cuidado, ao invés de se encontrar caminhos para a paz, convive-se com dolorosos recrudescimentos da violência, com a alimentação de perversidades, adoecendo as pessoas – cada vez mais incapacitadas para reger a própria vida como um dom de Deus, na tarefa de construir uma sociedade solidária e fraterna. 

A cultura do cuidado: construindo um caminho para a paz e o bem comum

Para erradicar a cultura da indiferença e do descarte deve-se investir na cultura do cuidado, via direta e eficiente na promoção do bem comum, um compromisso cidadão inegociável. A priorização do bem comum depende, diretamente, da sensibilidade social dos cidadãos, que precisam reconhecer: todos são interdependentes. Vale lembrar a indicação do Papa Francisco quando diz que todos estão no "mesmo barco", um simbolismo que remete ao especial compromisso de cuidar uns dos outros, para que cada pessoa possa viver de maneira digna. Todos são chamados a "remar juntos", sublinha o Papa Francisco, acrescentando: "Ninguém se salva sozinho". 

Solidariedade: a nobre expressão do cuidado em ação

A solidariedade é a mais nobre expressão do cuidado, expressão de amor pelo semelhante. Não se limita, pois, a um sentimento restrito ou vago. Desdobra-se em um agir com determinação para promover o bem comum. Trata-se de caminho para efetivar projetos capazes de impulsionar o desenvolvimento integral. A luz da solidariedade ilumina um fecundo encontro com o semelhante. Uma proximidade efetivada por motivações que vão além de simples afinidades – muitas vezes alimentadoras de preconceitos, discriminações e indiferenças.

O coração solidário dedica-se às ações que respeitam o semelhante, não tratando ninguém com indiferença. A indiferença mata e provoca imensuráveis prejuízos. Por isso, também o agir solidário deve marcar a relação do ser humano com o meio ambiente, considerando a urgência de se solucionar problemas graves, a exemplo da seca e de muitas catástrofes climáticas. Cuidar da Criação de Deus é tarefa inadiável, que pede atenta e sensível escuta dos mais pobres, para que seja adotado um novo estilo de vida, em harmonia com os parâmetros da sustentabilidade. 

O dever ético de cuidar e a responsabilidade compartilhada

Cuidar do conjunto da Criação é compromisso indissociável do agir com ternura em relação ao semelhante, respeitando a sua dignidade – um dever ético. Todos são instados a buscar o bem comum, cultivando sentimentos que alimentam relacionamentos solidários. Desse modo, dedicar-se ao cuidado dos que sofrem, especialmente dos pobres.  Importante destacar que governantes e construtores da sociedade pluralista são os primeiros responsáveis na tarefa de alimentar a cultura do cuidado, combatendo privilégios e zelando pelo adequado uso do que é destinado ao bem de todos.


Os líderes devem inspirar e ser exemplo, mas todos têm o dever de ajudar na propagação da cultura do cuidado, com especial sensibilidade diante da situação de migrantes, por várias e sérias razões – políticas, climáticas e econômicas. É preciso sensibilizar-se e agir para superar o mapa da fome. Também para garantir, a todos, o direito ao trabalho e à habitação, essenciais à dignidade humana. Todas essas urgências apontam para a necessidade de um amplo processo educativo, capaz de impulsionar a cultura do cuidado. 

Educação para o cuidado: formando indivíduos e transformando a sociedade

O processo educativo dedicado a promover o cultivo do cuidado deve envolver cada família, onde são fundamentadas as habilidades essenciais para exercer o respeito e desenvolver a capacidade para partilhar. Não menos importante é o papel de escolas, universidades e meios de comunicação, capazes de ajudar na consolidação do entendimento sobre a sacralidade intocável de cada ser humano. Muito relevante no aprendizado sobre a sacralidade humana, a prática religiosa é caminho espiritual com qualificada força educativa, alimentando convicções louváveis e eficazes.

Os cristãos, pela fé, assumem o compromisso de seguir os passos de Jesus, mestre do cuidado, que ofereceu a sua vida para garantir vida plena à humanidade. Especialmente os primeiros cristãos, de maneira exemplar, praticavam a partilha, para que ninguém, em suas comunidades, padecessem com a falta de amparo. Um compromisso de fé que inspirou a Igreja a investir em obras de misericórdia. 

Obras de misericórdia: testemunho concreto da cultura do cuidado

As obras de misericórdia são selos de autenticidade para a fé, alimentando o voluntariado dedicado aos pobres, inspirando a motivação para lutar por políticas públicas inclusivas, comprometidas com a efetivação da igualdade social. A sociedade precisa ser inspirada por práticas solidárias, de diferentes modos. Isto significa que cada pessoa precisa reconhecer a sua condição de servidor, inscrevendo-se na gramática do cuidado, buscando promover a dignidade humana e o incondicional respeito ao meio ambiente.

Cuidar, apelo permanente, compromisso que, se for assumido, de modo amplo e como valor cultural, pode semear equilíbrio no atual contexto sociopolítico e ambiental, para superar descompassos que ameaçam a vida do ser humano.         

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/cuidar-apelo-permanente/

4 de outubro de 2024

10 coisas para aprender com Francisco de Assis

Nascido em 5 de julho de 1182, Giovanni di Pietro di Bernardone, foi um religioso italiano, fundador da Ordem dos Franciscanos, era filho de um rico comerciante, mas fez votos de pobreza, e por fim, se tornou um santo popular e baluarte da Vocação Shalom.

comshalom

Giovanni di Pietro di Bernardone, nasceu no dia 5 de julho de 1182, em Assis, na Itália. Popularmente conhecido como São Francisco de Assis, é um dos santos mais populares e mais amados dentro e fora da Igreja Católica. A vida dele ainda hoje inspira pessoas do mundo inteiro e sua mensagem não conhece fronteiras. 

São Francisco é nosso modelo exemplar de vida ofertada, de um despojar inteiramente em Deus, abandonando tudo com confiança de que o Pai fará o melhor. Com este baluarte, somos motivados a viver uma vida de pobreza, obediência e castidade. E tem muito mais que podemos aprender com este santo. Elencamos 10 coisas que podemos aprender com ele. Confira:

1. Viver despojado

São Francisco de Assis abriu mão de tudo o que possuía e descobriu no despojamento seu caminho para a liberdade. Trata-se de saber viver com pouco e usar bem o que se tem (inclusive o dinheiro). É buscar o essencial, despojar-se de tantas coisas supérfluas e inúteis que acabam nos sufocando.

2. Respeitar a natureza

Conhecido como protetor do meio ambiente e dos animais, Francisco nos recorda mais do que simplesmente não cortar árvores: é ser corresponsável por nossa "casa comum" e saber encantar-se com sua beleza e seu Autor.

3. Não ao desperdício

Como recorda o Papa Francisco, "o alimento que jogamos fora é como se o tivéssemos roubado da mesa de quem tem fome". O Pobre de Assis nos ensina que é preciso ter a coragem de "andar contra a corrente do provisório, da superficialidade e do descartável".

4. Consciência solidária

Viver despojado, respeitar a natureza e não desperdiçar os bens tem também esta dimensão solidária. Francisco orientava os outros frades a cuidarem uns dos outros "como uma mãe" (e como faz uma mãe, guardar o melhor para o filho!). Tudo o que lhes era doado era repartido também com os pobres.

5. Fiel ao que acredita

São Francisco viveu em um tempo turbulento da história da Igreja e soube reformá-la sem abandoná-la. Em momentos de crise, não devemos abandonar aquilo que acreditamos ou aqueles que amamos. Isso sim muda o mundo! Esta é a verdadeira revolução!

6. Perdoar sempre

Francisco dizia que Deus não havia encontrado nenhum pecador mais vil e insuficiente do que ele, e Deus então o escolheu! A consciência de ter sido largamente perdoado nos ajuda a perdoar também.

Conta-se também que um dia, ao ouvir irmãos que falavam mal de um terceiro, Francisco repreendeu-os e recomendou que, ao invés de expô-lo ao frio da impiedade e julgamento, deveriam cobri-lo com o cobertor do amor discreto e compassivo, que crê e espera sua conversão e suporta suas fraquezas. Afinal, somos todos necessitados de perdão!

7. Ter amigos

"Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro" (Eclo 6,14). Um dos tesouros de Francisco era a fraternidade. Muitos de seus amigos, como também Clara de Assis, também o seguiram na via da pobreza. Rapazes e moças queriam encontrar a alegria e a paz que estranhamente invadia aqueles pobres frades. A amizade brota quando compartilhamos o que existe de mais belo na vida.

8. Uma coisa de cada vez

Francisco dizia: "Faça poucas coisas, mas as faça bem." Isso é muito útil particularmente hoje, onde dividimos nossa atenção com tantas coisas ao mesmo tempo. Nunca tivemos tantos amigos e seguidores, e nunca sofremos tanto com a solidão. Falando em desconexão, Santa Clara de Assis (amiga de Francisco) é a padroeira dos meios de comunicação e pode nos ajudar também a usá-los bem!

9. Viver agradecido

Uma das maiores marcas de Francisco era sua alegria e gratidão. Agradecia por tudo, agradecia a todos, inclusive a quem lhe negava um farelo de pão. Ninguém tira a paz de quem tem descobriu a verdadeira felicidade!

10. Saber olhar pro céu

Francisco costumava deitar na grama e admirar o céu. Precisamos sair um pouco da vida virtual para contemplar aquilo que há de mais belo ao nosso redor. Olhando para o céu, Francisco contemplava o infinito e o seu Criador. Mesmo nas grandes cidades, há sempre uma brecha para ver o azul, então vale uma pausa todo o dia!

O apelo do Papa Francisco aos jovens no Rio de Janeiro, em 2013, assina muito bem este "estilo de vida" de São Francisco:

"Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta mudança. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não 'olhem da sacada' a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, Ele mergulhou… 'Não olhem da sacada' a vida, mergulhem nela como fez Jesus". (Discurso na Vigília de Oração, na praia de Copacabana, durante a JMJ Rio 2013)

Que São Francisco de Assis nos inspire a tornar este mundo melhor!

 

Leonardo Biondo


Fonte: https://comshalom.org/10-coisas-para-aprender-com-sao-francisco/

2 de outubro de 2024

Consagração ao Anjo da Guarda

Santo Anjo da Guarda, que me foi concedido desde o início de minha vida, para ser meu protetor e companheiro, quero eu (dizer o nome), pobre pecador, consagrar-me a vós, na presença do meu Senhor e Deus, de Maria, minha Mãe Celestial, e de todos os anjos e santos.

Quero, hoje, vincular-me a vós para de vós nunca mais me separar.

Nesta minha íntima união convosco, prometo ser sempre fiel e obediente ao meu Senhor e Deus e à Santa Igreja.

Prometo confessar sempre Maria como minha Rainha e Mãe e fazer da vida dela o modelo para a minha. Prometo confessar a minha fé em vós, meu santo protetor, e promover zelosamente a devoção aos santos anjos como sendo, de maneira especial, a proteção e o auxílio para os dias de luta espiritual pelo Reino de Deus.

Peço-vos, Santo Anjo do Senhor, toda a força do amor divino, para que eu seja por ele inflamado; peço-vos que essa minha união convosco seja, para mim, escudo protetor contra os ataques do inimigo.

Peço-vos, enfim, Santo Anjo da Guarda, a graça da humildade da Santíssima Virgem, para que eu seja preservado de todos os perigos e, por vós guiado, alcance a Pátria Celestial. Amém.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/consagracao-ao-anjo-da-guarda/