28 de agosto de 2024

A história da Psicologia: da filosofia à ciência da mente

Muitos filósofos especularam sobre a natureza da mente humana por séculos. Levando em consideração toda a singularidade admirável que o ser humano apresenta e os desdobramentos de seus sentimentos, compreende-se que necessitamos de uma caminhada extensa na busca de autoconhecimento para que alcancemos um melhor entendimento de nossas capacidades e limitações. Reflexões que nasceram com os filósofos na antiguidade, tornou-se ciência e permanece com muitas observações filosóficas no que se refere às nossas emoções.

Temos a existência da psicologia como ciência a menos de 200 anos, buscando entender nossos sentimentos e comportamentos. Nós psicólogos atuamos em diferentes áreas de interesse da sociedade, tais como saúde, educação e políticas públicas. A Psicologia se divide em subáreas que possuem um determinado foco de atenção, produzindo conhecimento que pode ser útil para outros campos de estudos. Com isso, cada subárea pode contribuir para um maior entendimento que possuímos sobre o ser humano e a aplicar esse conhecimento à resolução de problemas específicos.

A história da Psicologia: da filosofia à ciência da mente

Crédito: Polinmr / GettyImages

Entenda as diferentes áreas de atuação da Psicologia

Dentre as várias atribuições profissionais do psicólogo, podemos destacar que desempenhamos tarefas relacionadas a problemas de pessoal, como processos de recrutamento, seleção, orientação profissional/vocacional e outros similares, à problemática educacional e a estudos clínicos individuais e coletivos. Realizamos pesquisas, diagnósticos, acompanhamentos psicológicos, e intervenções psicoterápicas individuais ou em grupo, através de diferentes abordagens teóricas. O psicólogo está sempre na missão de ajudar as pessoas, para que, munidas de autoconhecimento, consigam superar as dificuldades da vida da melhor forma possível. Facilitando as relações humanas e zelando pelo bem-estar psíquico.

Ele pode ajudar as pessoas a lidar com problemas do passado que possam interferir no longo de sua vida, a enfrentar os problemas cotidianos com mais firmeza e segurança, e a melhorar o seu comportamento humano. A nossa atuação profissional, sempre objetiva o bom relacionamento do "mundo interior" e exterior de nossos pacientes. Iluminando e apoiando a caminhada para que todos possam alcançar um melhor equilíbrio emocional e comportamental, melhorando assim sua qualidade de vida.

O papel do psicólogo é promover saúde mental e bem-estar

Ao logo dos anos, temos conseguido avançar no que diz respeito a uma melhor comunicação da missão do psicólogo, mostrando que buscar tal profissional não significa estar com dificuldade ou estar doente. E sim, com a clareza de que pessoas que conhecem melhor a si mesmas, são menos conduzidas pelos traços de sua história de vida e familiar.


Existem diversas nomenclaturas para tentar classificar e nortear tratamentos para desordens psíquicas enfrentadas por muitas pessoas. Porém, o psicólogo vai além dessas classificações e busca entender o ser humano que se apresenta diante dele. Pois a Psicologia não é uma ciência exata, ela é uma ciência da área humana, onde a singularidade sempre se destacará aos nossos olhos.

Para qualquer boa atuação profissional, demanda-se uma identificação com a área, uma vocação a ser entendida e um respeito ético a ser vivenciado. Na Psicologia, não é diferente, pois o psicólogo precisa gostar de escutar respeitosamente diferentes histórias; precisa saber enxergar a singularidade de cada pessoa que se apresenta à sua frente; precisa, acima de tudo, conduzir seu tratamento à luz da ciência com conduta técnica e sigilosa. Trata-se de uma área de constante formação e crescente conhecimento, pois os estudos na busca do entendimento da mente humana não param. Sempre encontramos algo novo, algo que possui a preocupação no favorecer nossa existência.

Psicóloga Karina Maria da Luz
CRP: 06/109600
@psi_karinaluz


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-historia-da-psicologia-da-filosofia-a-ciencia-da-mente/

26 de agosto de 2024

Contra escravizações

Em defesa da liberdade: desafios e compromissos no combate às escravizações contemporâneas

É para a liberdade que o ser humano foi criado, lembra o apóstolo Paulo em seus escritos. Compreende-se, pois, o inegociável princípio de defender a liberdade, nos âmbitos social e político, e também buscá-la, incansavelmente, para revestir, de modo qualificado, a interioridade humana. A busca da liberdade contracena com as dinâmicas contemporâneas de construção da autonomia e da individualidade, delineando desafios permanentes: o respeito à dignidade de toda pessoa e o compromisso de promover a igualdade entre todos, com a sabedoria de não permitir que as diferenças se tornem alavancas de injustiças, de exclusões ou discriminações. Esses desafios, para serem vencidos, dependem de cidadãos e cidadãs com adequada competência humanística e espiritual para a regência de laços relacionais. As estreitezas humanas constituem grave impedimento para se promover e se viver a liberdade, pois alimentam diferentes tipos de escravização. Alimentam, particularmente, a escravização gerada pelo vazio interior provocado pela ausência de adequados valores, por assimilações indevidas na constituição de subjetividades, tornando-as incapazes de promover e de conquistar a autêntica liberdade humana. 

A subjetividade humana e a luta contra a escravidão interior

A dimensão movediça que caracteriza a constituição da subjetividade, com suas multíplices emergências, exige, para seu equilíbrio, um qualificado processo de humanização, para alavancar a liberdade, sem se deixar iludir por inadequadas ideologizações ou patologias psicoafetivas – obstáculos para o florescer da individualidade capaz de contribuir para a superação de escravizações na sociedade. É compromisso cidadão e de fé dedicar-se à compreensão sobre processos de escravização, para enfrentá-los. A sujeição de uma pessoa a outra é fenômeno antigo e contemporâneo, requerendo permanente atenção, tratamento terapêutico e respostas emolduradas pelo mais nobre sentido da liberdade humana, que é, ao mesmo tempo, um dom e uma missão. Pode já não mais existir escravaturas oficializadas, regulamentadas, mas ainda existem as escravizações contemporâneas, expressas na vida de tantos oprimidos. A humanidade evoluiu e distanciou-se do equivocado entendimento que legitimava o domínio do semelhante. No entanto, ainda não consegue assegurar, a todos, o direito à liberdade – base de igualdade social e política. 

Desafios contemporâneos no combate à escravidão

Em busca de ampliar o alcance da liberdade, os países efetivam acordos importantes, mas ainda há carência de estratégias para, eficazmente, combater diferentes formas de escravização, garantindo mais qualidade à convivência humana. Há de ser alcançada, por exemplo, adequada compreensão social sobre o que ainda ocorre no mundo do trabalho, em diversos setores, incluindo o trabalho doméstico, agrícola, na mineração, na indústria. A ampliação e qualificação de mecanismos legais ainda não conseguem dissipar quadros discriminatórios e de escravizações. Urge-se um constante desenvolvimento da sensibilidade social para conhecer, intervir e modificar situações onde as escravizações se revelam e perpetuam a fome, a privação de liberdades fundamentais, as penúrias e tantas carências que precisam ser superadas para garantir a dignidade humana. 

As múltiplas faces da escravidão moderna

No mundo contemporâneo, há grande variedade de escravizações, que se revelam nas migrações forçadas, na prostituição, com agressões ao direito sagrado à liberdade, corrompido também pelas estreitezas humanas. Essas estreitezas são particularmente fecundadas pela desarvorada dinâmica da iconoclastia que abre passagem a todo tipo de absurdo, com o cultivo de sentimentos e de posturas que buscam simplesmente instalar o caos, inviabilizando funcionamentos institucionais por manipulações interesseiras. É importante e urgente sensibilizar-se diante das muitas formas de escravização, que incluem tráfico de pessoas e o comércio de órgãos. O ser humano não pode ser tratado como objeto, a partir de interesses econômicos, políticos ou de qualquer outro tipo. Na raiz das muitas formas de escravização está a deterioração do coração humano, desfigurado pelo pecado. Por isso, há de se investir, a partir do próprio coração, para superar diferentes tipos de escravização. Um compromisso a ser partilhado por todos, como ideal humanitário, para transformar cenários, criar condições para um desenvolvimento integral. 

Um chamado à ação: o combate à escravidão como dever de todos

O Papa Francisco assinala que o combate às escravizações requer coragem e perseverança, em um horizonte humanístico-espiritual de qualidade e com força de convencimento e congregação de muitas pessoas. Ele indica ainda um tríplice empenho a ser partilhado pelas instituições: prevenção, proteção das vítimas e ação judicial contra os responsáveis pelas agressões à liberdade humana. O enfrentamento às escravizações precisa se fortalecer a partir de cooperação transnacional, e de um adequado sentido de cidadania, em cada sociedade, inspirado pelo compromisso pessoal de se viver um profundo exame de consciência individual. A promoção da liberdade precisa ser também impulsionada pelas organizações da sociedade civil, muito importantes para mudar o flagelo das escravizações. 

Todos possam acolher a convocação do Papa Francisco para promover a globalização da fraternidade – e não da escravização, nem da indiferença. Trata-se do caminho para respeitar a dignidade humana e alcançar a verdadeira liberdade, um sonho e compromisso cristão. A humanidade precisa de operários no combate às escravizações, promotores da fraternidade, por uma nova civilização marcada pela solidariedade. 

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/combate-a-escravidao-moderna/

A importância da Missa aos domingos

A participação da Santa Missa aos domingos é um compromisso de particular importância em nossa experiência de fé. O Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que a celebração da Eucaristia dominical, do Dia do Senhor, está no coração da vida da Igreja. "O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de preceito"1.

No entanto, antes de ser uma obrigação para nós católicos, a participação da Santa Missa aos domingos  é uma exigência que está inscrita na essência da vida cristã. Por isso, na Igreja nascente, não havia o preceito dominical, já que os fiéis tinham a assembleia dominical como o ponto mais alto e importante da vida espiritual.

A importância da missa aos domingos

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

A Santa Missa nos primórdios da Igreja Católica

A celebração da Santa Missa aos domingo remonta aos princípios da era apostólica da Igreja (cf. At 2,42-46; 1 Cor 11,17). Nesse sentido, a Carta aos Hebreus nos ajuda a compreender a importância da Eucaristia dominical já naquele tempo: "Sem abandonarmos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas nos exortando mutuamente" (Hb 10,25).

A Tradição da Igreja nos ajuda a guardar a memória de uma exortação que permanece sempre atual: "Vir cedo à igreja, aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na oração […], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes da despedida […]. Muitas vezes, o temos dito: este dia é vos dado para a oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de alegria"2.

São Justino, mártir do século II, na sua primeira Apologia, dirigida ao imperador Antonino e ao Senado, descreveu com ufania o costume dos primeiros cristãos de reunir-se na assembleia dominical, que congregava, no mesmo lugar, os cristãos das cidades e das aldeias. "Quando, durante a perseguição de Diocleciano, viram as suas assembleias interditas com a máxima severidade, foram muitos os corajosos que desafiaram o édito imperial, preferindo a morte a faltar à Eucaristia dominical"3.

Isso aconteceu com os mártires de Abitinas, na África proconsular, que assim responderam aos seus acusadores: "Foi sem qualquer temor que celebramos a ceia do Senhor, porque não se pode deixá-la, é a nossa lei"; "não podemos viver sem a ceia do Senhor". Com coragem extraordinária, uma das mártires confessou: "Sim, fui à assembleia e celebrei a ceia do Senhor com os meus irmãos, porque sou cristã"4.

A assembleia reunida

Segundo São João Crisóstomo, há algo a mais que a assembleia reunida nos proporciona: "Podes também rezar em tua casa, mas não podes rezar aí como na igreja, onde muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. […] Há lá qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a harmonia das almas, o laço da caridade, as orações dos sacerdotes"5.

Essa obrigação de consciência, que tem sua razão der ser na necessidade interior que os cristãos dos primeiros séculos sentiam tão intensamente, a Igreja Católica nunca deixou de afirmar, embora, no início, não julgou ser necessário prescrevê-la.

Mas, com o tempo, devido à tibieza ou à negligência de alguns, a Igreja teve de explicitar aos fiéis o dever da participação na Missa aos domingos. Na maior parte das vezes, fez isso sob a forma de exortação, mas, às vezes, também recorreu a disposições canônicas concretas.


A obrigação da participação da Santa Missa aos domingos

O primeiro e o mais importante mandamento da Igreja determina que somos obrigados a participar da Santa Missa aos domingos e nas solenidades de preceito: "No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis têm obrigação de participar na Missa"6. Cumprimos esse preceito se participarmos da Santa Missa celebrada em rito católico, no próprio dia festivo ou na tarde do dia anterior.

A Santa Missa, aos domingos, fundamenta e confirma toda a prática cristã. Por isso, temos a obrigação de participar da Santa Missa nos dias de preceito, especialmente no domingo, a menos que estejamos justificados por algum motivo sério como, por exemplo, doença, obrigação de cuidar de crianças de peito ou sejamos dispensados pelo nosso pároco ou responsável. Se deliberadamente faltamos a essa obrigação, cometemos um pecado grave.

"A participação na celebração comum da Eucaristia dominical é um testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja"7. Ao participarmos da Missa dominical, atestamos a nossa comunhão na fé e na caridade; damos testemunho da santidade de Deus e da nossa esperança na salvação; e reconfortamo-nos mutuamente, sob a ação do Espírito Santo.

A paróquia é o lugar onde nós, que somos católicos, podemos nos reunir para a Santa Missa, principalmente para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia nos inicia na expressão ordinária da vida litúrgica e nos reúne nessa santa celebração. Além disso, a paróquia nos ensina a doutrina salvífica de Cristo e pratica a caridade do Senhor em obras boas e fraternas.

A Eucaristia dominical como exigência da vida cristã

Caso não seja possível a participação da Santa Missa aos domingos, o Código de Direito Canônico faz algumas recomendações:

"Se for impossível a participação, na Celebração Eucarística, por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se muito que os fiéis tomem parte na liturgia da Palavra, se a houver na igreja paroquial ou noutro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do bispo diocesano, ou consagrem um tempo conveniente à oração pessoal ou em família ou em grupos de famílias, conforme a oportunidade"8.

Verdadeiramente, grande é a riqueza espiritual e pastoral do domingo, tal como a Sagrada Tradição nos confiou. Vista na totalidade dos seus significados e implicações, o domingo constitui, de certo modo, uma síntese da vida cristã e uma condição necessária para bem vivê-la.

Por isso, compreendemos por que razão a Igreja tem como particularmente importante a observância do Dia do Senhor, tanto que a tornou uma obrigação no âmbito da disciplina eclesiástica. No entanto, essa observância, antes de ser um preceito, deve ser vista como uma exigência inscrita profundamente em nossas almas.

É de importância verdadeiramente capital que nos convençamos de que não podemos viver a nossa fé, a plena participação da vida da comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia eucarística dominical.

A plenitude da Missa aos domingos

Na Eucaristia, realiza-se a plenitude de culto que os homens devem a Deus, incomparável com qualquer outra experiência religiosa.

Uma expressão particularmente eficaz dessa plenitude verifica-se precisamente quando, no domingo, toda a comunidade congrega-se, em obediência à voz do Ressuscitado.

Ele a convoca para lhe dar a luz da sua Palavra e o alimento do seu Corpo, como fonte sacramental perene de redenção. A graça, que dimana dessa fonte, renova a nossa vida, a nossa história.

O Espírito Santo está presente, ininterruptamente, em cada dia da Igreja, irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus dons. Entretanto, na assembleia dominical reunida para a celebração semanal da Páscoa, a Igreja Católica coloca-se especialmente à escuta d'Ele e com Ele tende para nosso Senhor Jesus Cristo, no desejo ardente do Seu regresso glorioso: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem!'" (Ap 22,17).

Referências:
1 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2177.
2 Idem, § 2178.
3 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini, 46.
4 Idem, ibidem.
5 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2179.
6 Idem, § 2180.
7 Idem, § 2182.
8 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Código de Direito Canônico, cânon 1248, § 2.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-importancia-da-missa-aos-domingos/

21 de agosto de 2024

Semana nacional da criança excepcional

Abraçando as diferenças: uma jornada pessoal de superação

Hoje é o Dia da Pessoa com Deficiência, um dia sobre o qual eu posso falar com propriedade, porque, desde que me conheço por gente, já tinha sido afetada pela paralisia cerebral, que me tornou deficiente física; e, para completar, mais tarde, fui também diagnosticada como autista.

Por causa desse último, eu não sou muito boa com metáforas, e não conseguia entender o que me conectava com alguns dos personagens de filmes de herói que eu costumava assistir quando era mais nova.

Crédito: FG Trade / GettyImages

Mas hoje, um pouco mais velha, sempre me lembro de uma heroína em específico, que tomou a decisão de se "curar" dos poderes, os quais, por mais que fossem uma parte única dela e tivessem seu lado positivo, também lhe traziam uma série de empecilhos que nem ao menos existiriam se ela não tivesse a má sorte de ser escolhida pelo completo acaso para ser aquela uma entre um milhão.

Questionamentos e aprendizados

E se eu disser que eu não me senti assim no meio da minha adolescência, quando fui obrigada a passar por um desgastante processo cirúrgico, em que, praticamente, tive que aprender a andar de novo, só porque Deus, que pelo que eu ingenuamente entendia, poderia me curar como em um passe de mágica, eu estaria mentindo.

Apesar disso, depois de um monte de idas e vindas, que, honestamente, ainda continuam acontecendo, eu entendi que, sim, talvez Deus pudesse mesmo ter me curado com um pequeno pensamento da parte d'Ele, o que, com certeza, diminuiria minha raiva no processo e um monte de pecados do meu exame de consciência.

Mas só porque isso parece um plano melhor ou mais pacífico não significa que o seja de fato. Afinal, Deus entende as coisas de uma forma diferente de nós, e usa nossos momentos mais cheios de dúvidas como caminho para buscarmos as respostas que, em outras circunstâncias, não nos moveríamos para encontrar.

Encontrando conforto em meio aos desafios

E nos momentos em que nem essa certeza for capaz de acalmar seu coração, procure se abraçar a Jesus da melhor forma que der, porque, embora passemos por coisas ruins aqui, esses sofrimentos são como pequenos lembretes do que houve na cruz, quando Jesus assumiu todos os nossos sofrimentos por amor, para que não precisássemos mais passar pelo verdadeiro sofrimento eterno de não O ter por perto.

 

Maria Teresa Gomes Teixeira
Estudante de licenciatura em Biologia. Teve paralisia cerebral ao nascer e aos 15 anos teve o diagnóstico de Autismo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/semana-nacional-da-crianca-excepcional/

20 de agosto de 2024

Mudança de vida e intercessão pelos pecadores

A vida nos convoca diariamente, e por que não dizer o tempo todo, a tomarmos uma atitude positiva diante das situações que nos acontecem. Ademais, não dá para vivermos passivos a tudo, precisamos tomar decisões, viver o presente dando o melhor de nós mesmos para construirmos um mundo melhor e trilhar um caminho de santidade.

É intrínseco a nós a liberdade de ser e de agir, e é, portanto, necessário que a vivamos de forma coerente; e aí vem a responsabilidade. Falo assim, pois, para vivermos uma eternidade com Deus, precisamos nos lançar nos projetos do Pai, sabendo que eles serão exigentes.

Mudança de vida e intercessão pelos pecadores

Crédito: freedom007 / GettyImages

Libertar-se do comodismo e buscar a santidade

Nós temos o hoje, pois o passado está guardado e não muda mais, já existiu, e o futuro ainda não começou e é incerto, portanto, o que podemos fazer melhor hoje? Uma coisa é certa, os santos sempre meditavam sobre a morte, pois essa é a nossa única certeza, e, dentro deles, havia o profundo desejo de encontrar-se com o Criador e contemplá-Lo face a face.

É nessa óptica que precisamos viver em estado de vigilância, em servir a Deus desde as pequenas situações para que, diante dos grandes deveres, sejamos firmes até o fim. A correspondência a Deus se dá no hoje. E por que esperar? Procuremos sair do comodismo e voltemos a ter uma vida de oração, se possível com horário marcado e dentro de um quadro de prioridades.

A nossa vida é cheia de retomadas, pois então, retome sempre, mas não fique como poça de água parada que, no fim, fica suja, com mosquitos em volta. Continuemos sempre.

O pecado original e a natureza humana ferida

Diante disso, desejo que você pense, pois, a cada dia, a graça de Deus nos alcança e menos um dia temos nesta existência; assim, mais próximos estaremos diante de Deus. E como não sabemos o dia da nossa morte, recorramos a Virgem Maria, para que ilumine o nosso caminho, a fim de vivermos uma vida coerente com o nosso chamado de filhos de Deus.


No Catecismo da Igreja Católica (CIC), parágrafo 407, consta esse grande ensinamento: "A doutrina sobre o pecado original – ligada à da redenção por Cristo – proporciona uma visão de lúcido discernimento sobre a situação do homem e da sua ação neste mundo. Pelo pecado dos primeiros pais, o Diabo adquiriu um certo domínio sobre o homem, embora este permanecesse livre. O pecado original traz consigo «a escravidão, sob o poder daquele que possuía o império da morte, isto é, do Diabo» (299). Ignorar que o homem tem uma natureza ferida, inclinada para o mal, dá lugar a graves erros no domínio da educação, da política, da ação social (300) e dos costumes."

A Virgem Maria nos ilumina para uma vida de intercessão

Sabendo Nossa Senhora da nossa situação, alertou aos pastorinhos assim: "Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, porque muitas almas vão para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas". Sim, esse convocação da Virgem de Fátima nos leva a entender como a comunhão entre nós cristãos, nesta existência, é real, e precisamos dar-lhe o devido valor, pois há almas ao nosso redor que podem estar próximas da sentença da condenação eterna por não se converterem, e é necessário, é urgente que peçamos, incessantemente, ao Pai das Misericórdias que nos conceda a graça de que essas pessoas encontrem o caminho.

Podemos fazer essa intercessão por meio de orações e sacrifícios voluntários para que possamos merecer, diante do Nosso Senhor, a conversão dos pecadores.

Nosso Senhor nos redimiu na cruz, diante da nossa situação de pecado, e é por meio do Seu filho que Deus realiza uma obra nova em nós. Que os méritos do nosso Batismo possam dar frutos em nós e cheguem a todos por meio da nossa intercessão.  Quando oramos, falamos com Deus, e quando oramos pelos outros, entramos em combate contra os espíritos que vagam nos ares. (cf. Ef 6). Somos todos necessitados da graça da salvação para uma eternidade com Deus.

Esse e mais assuntos relacionados estarão sendo abordados no mês de outubro na TV Canção Nova e CN Plus no documentário 'Purgatório: uma porta para o céu'. Aguarde!

Micheline Teixeira – Missionária da Comunidade Canção Nova, Graduada em Administração com complemento dos estudos em Marketing. Atualmente, cursa pós-graduação em Logoterapia. É diretora, produtora e jornalista no Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/mudanca-de-vida-e-intercessao-pelos-pecadores/

19 de agosto de 2024

Lembranças do pai

A missão essencial da paternidade: celebrando o alicerce da sociedade

A celebração do Dia dos Pais ilumina, no horizonte da sociedade, a marca indispensável que está na força e na missão da paternidade. Não é demais repetir que a paternidade inadequadamente exercida é um desastre com consequências altamente prejudiciais às relações e ao viver humano. Sem referência adequada à figura paterna, pela ausência de um pai, ou por seu distanciamento no cuidado dos filhos, paga-se caro, com prejuízos que abrangem desde o aumento das delinquências até o enfraquecimento de instituições. 

Lembranças do pai

Crédito: Halfpoint / GettyImages

Pode causar ainda um vazio sacrificante ao coração de muitos filhos, privados de uma força essencial que poderia auxiliá-los a viver com mais altruísmo e sabedores de suas responsabilidades cidadãs. Ser pai, sabe-se, vai muito além de fatores biológicos vinculantes. Trata-se de engenhosa construção, densa de significado, de inteireza moral. A paternidade constitui substrato afetivo e espiritual indispensável para se viver com qualidade, não apenas a própria vida, mas também dedicando-se à construção de uma sociedade fraterna e solidária. 

Compreendendo a paternidade: da psicologia à parábola do filho pródigo

O horizonte rico, complexo e interpelante da missão de ser pai pode ser melhor compreendido a partir de diferentes ciências, particularmente da psicologia e da psicopedagogia, incluindo também as especificidades da neurociência. Igualmente valioso é buscar compreender a importância da paternidade a partir da narrativa do evangelista Lucas, no 15º capítulo de seu Evangelho – a rica metáfora teológica chamada "Parábola do Filho Pródigo". A narrativa inclui referências às figuras do filho mais novo e do filho mais velho. Ambos retratam, por suas atitudes, o efeito estruturante da figura paterna, que incide, de modo diferente, no íntimo de cada um dos irmãos. 

Lições da parábola: compaixão, misericórdia e a força da paternidade

Na parábola, o pai retratado é figura exemplar, particularmente por sua compaixão e misericórdia, que não podem ser confundidas com fraqueza. O filho mais novo, insolente, é respeitado na sua liberdade de escolher distanciar-se de seu pai, recebendo a herança que lhe cabia. Uma herança que foi esbanjada e dissipada pela força terrível da falta de unidade interior, levando à perda de tudo – material e afetivamente. A salvação desse filho ocorre pela força da paternidade. Depois de alcançar uma situação extrema de miséria afetiva e material – sem conseguir até mesmo a comida que era oferecida aos porcos -, foi resgatado pela referência já construída em seu coração sobre o seu pai.

Desse modo, recobrou as forças para se levantar e fazer o caminho de volta. Buscou reencontrar seu pai, que já o esperava para cobrir-lhe de beijos, restaurando a sua dignidade. Deu ao filho vestimentas novas, sandálias, anel no dedo, dedicando-lhe ainda uma festa, com a presença de todos. Por sua vez, o irmão mais velho, pelo ressentimento que destrói até a estima pelo próprio pai, se perde no ódio. Contaminado por esse sentimento, não consegue experimentar alegria em seu coração. Distancia-se da fraternidade. 

Celebrar a paternidade: reconhecendo a importância da missão paterna

Na celebração do Dia dos Pais, é oportuno retomar a narrativa do Evangelista Lucas para apreender o alcance da missão de ser pai, com sua força essencial para salvar a sociedade de delinquências que comprometem radicalmente a solidariedade fraterna. Da Palavra de Deus se pode reconhecer muitas importantes indicações sobre a força da paternidade qualificadamente exercida – essencial às diferentes etapas da vida, à garantia de novos rumos para a sociedade. Da rica lista de aprendizados que podem se consolidar graças à missão dos pais, sublinhe-se o reconhecimento de que todos são irmãos, inspirando o cultivo dos sentimentos de igualdade e equidade, tão importantes para superar diferentes formas de escravidão no mundo atual. 

 

 

Paternidade: alicerce para uma sociedade justa e fraterna

Cada pai, ao exercer adequadamente a paternidade, constitui alicerce para que os filhos estabeleçam relações inspirados na justiça, na caridade, respeitando a autonomia e a dignidade de cada semelhante, que é irmão e irmã. A direção oposta – de fragilidades no exercício da paternidade, ou da falta de respeito em relação aos pais – sedimenta a exploração do semelhante, principalmente dos pobres e vulneráveis. Celebrar a paternidade é muito mais que oportunidade para adocicadas exaltações, ou ocasião propícia para a compra de presentes. Trata-se de momento importante para alimentar a convicção da importância de cada pai, com suas lições para a vida de seus filhos e, consequentemente, para toda a sociedade. 

Jesus Cristo: modelo de filiação e fraternidade

Jesus Cristo é o filho de Deus-Pai que revela o caminho de toda a humanidade, fazendo-a se compreender como um só povo, de irmãos e irmãs. Na fidelidade ao Pai, Jesus se oferece como vítima de expiação por seus irmãos e irmãs. Esta é a sua boa-nova que deve revestir o coração humano, tornando-o repleto de fraternidade. Neste mesmo sentido, a humanidade precisa recorrer às preciosas referências que emanam da missão dos pais. Assim, a civilização contemporânea pode cair em si, a exemplo do que ocorreu com o filho mais novo, na "Parábola do Filho Pródigo". A paternidade possa ser lembrada, promovida e celebrada como um caminho importante para fortalecer a solidariedade fraterna, contribuindo para edificar um mundo de mais justiça e paz. Parabéns aos pais, com votos de que possam exercer a sua missão de modo fecundo. Um tempo novo surja, ancorado e fecundado pela nobre missão da paternidade.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/missao-essencial-da-paternidade-sociedade-justa-fraterna/

17 de agosto de 2024

A filosofia: uma necessidade primária do espírito humano

Alguém poderia perguntar: por que o homem tem a necessidade de filosofar? Desde priscas eras, a resposta mais plausível é a seguinte: essa necessidade encontra-se enraizada na estrutura da própria natureza humana. Como assinalou Aristóteles, há muito tempo, em sua Metafísica, por natureza, todos os homens aspiram ao saber (Aristóteles, 2012).

A filosofia uma necessidade primária do espírito humano

Crédito: Panagiotis Maravelis / GettyImages

E os homens tendem ao saber porque ficam admirados com tantas questões profundas e fundamentais que rondam a natureza em geral e, em especial, a natureza humana, inclusive, aquelas que levam à investigação sobre a origem de todas as coisas. Sim, os homens sentiram e sentem a necessidade de filosofar, tanto agora como nas origens, por causa dessa indeclinável admiração. O nutriente do filosofar é, pois, a chama da admiração, aquela que provoca espanto e maravilhamento com a totalidades das coisas.

A necessidade da filosofia e a exploração da condição humana

Filósofos não são seres especiais com capacidades extraordinárias. São apenas humanos com alguma importância para a humanidade de ontem e de hoje. Seus esforços são voltados para preservação da razão objetiva, o máximo possível, ainda que ela tenha algumas limitações próprias, sobretudo quando multifacetárias irracionalidades pretendem se assenhorar de todas as coisas. Eles não são só importantes pelo que dizem sobre todas as coisas, mas também pelo que tentam evitar que se diga a respeito delas, sem quaisquer princípios e fundamentos. Pensam muito mais do que dizem. Dizem muito menos do que pensam. E, quando dizem, são rigorosos em suas ideias, em seus conceitos, porque nutrem enorme respeito pela inteligência alheia.

Jamais deixam de cultivar a crítica e a reflexão, tão indispensáveis, em qualquer tempo e espaço, mormente, quando a vida humana parece emparedada por alienações desastrosas e manipulações banalizadoras de toda sorte, que invertem e pervertem a ordem das coisas, tornando-as caóticas. Não é por outro motivo que o símbolo da filosofia é uma coruja. É só um símbolo, mas ele tem muito significado. Quando cai a noite, ela está acordada, de olhos bem abertos, para ver aquilo que os que dormem não veem: a complexa realidade que cerca a vida humana. Bem entendida, complexa é uma ordem de coisas tecidas juntas umas com as outras.

A filosofia como antídoto contra a superficialidade e a ignorância

Os néscios verborrágicos disparam suas opiniões falaciosas sobre todas essas coisas. Não raras vezes, querem se valer de argumentos de autoridade, e não da autoridade dos argumentos. Esses incautos atraem e formam legiões de seguidores, sempre apresentando suas soluções imediatas e fácies para questões complexas, como se fora um passe de mágica.

Os filósofos sempre tiveram sérias dificuldades com essas ilusões todas, que depreciam a verdade das coisas e tripudiam na ignorância alheia. A verdade das coisas merece destaque. Ela pode e deve ser perseguida por todos que leem, com cuidadosa atenção, uma frase de Tomás de Aquino, quando escreveu seus comentários à obra De caelo et mundo, de Aristóteles, que o estudo da filosofia não é para saber o que os homens compreendem, mas de que modo se encontra a verdade das coisas (Aquino, 2024).


A filosofia socrática e a busca desinteressada pelo saber 

Mas nada de desespero. O menoscabo pela verdade das coisas não é de hoje. Há mais de dois milênios, Sócrates procurou mostrar como confrontá-los com sua sábia e corajosa presença. É bem verdade ele que podia permanecer recolhido no recesso de seu lar, sem maiores problemas. Pagou com sua própria vida por sua atitude de filosofar com os outros, procurando dialogar com todos, até com os mais hostis a ele. Aliás, um de seus atentos ouvintes, Arístocles, mais conhecido por Platão, em sua Carta VII, registrou que filosofar não é uma atividade que enclausure o indivíduo em si mesmo; ao contrário, é abertura aos outros para partilha solidária, e não solitária, do conhecer e do reconhecer o que há de verdadeiro e falso em todas as coisas (Platão, 2008).

A escolha de Sócrates foi livre e consciente. Ele procurou o diálogo aberto e franco. E foi assim que ele decidiu viver e morrer: saiu ao encontro dos outros para realizar aquilo que tinha em sua alma como uma missão inarredável: levar alguma claridade, centelhas refinadas de luminosidade ao ébano da ignorância arrogante que grassava em sua terra. É isso mesmo: a filosofia não é para acomodados, mas para incomodados.

Então, lá foi o ateniense filosofar na ágora, na praça pública, deixando aos seus compatriotas de todas as idades um ensinamento que ecoa, de Atenas mundo afora, por incontáveis gerações: uma vida sem busca não é digna de ser vivida. Mas que busca é essa ensinada pelo velho e feio Sócrates? Muito simples. É a seguinte: uma busca amorosa e desinteressada pelo saber que ajude a preencher a alma humana. A vida seria completamente esvaziada sem essa aspiração noética, que é intelectual e espiritual ao mesmo tempo.

Virtude e felicidade: as lições atemporais da filosofia clássica

Essa memorável lição socrática pode ser assim entendida: um ser humano virtuoso não pode sofrer nenhum mal, nem na vida, nem na morte. Nem na vida, porque, ainda que os outros possam danificar seu corpo e seus bens, jamais serão capazes de arruinar- lhe a harmonia da alma. Nem na morte, porque, na possibilidade de existência de um além, o virtuoso desfrutará nele de um banquete inigualável, não obstante já tenha colhido alguns de seus melhores frutos no aqui e agora, nesse aquém pelo qual essa mesma alma virtuosa passa e deixa rastros inextinguíveis de sua sublime presença.

Marcius Tadeu Maciel Nahur

Referências
AQUINO, Tomás de. De caelo et mundo expositio. Disponível em: http://www.corpusthomisticum.org/ccm0.html. Acesso em: 15 jul. 2024.
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Edson Bini. 2. ed. São Paulo: Edipro, 2012. 368 p.
PLATÃO. Carta VII. Tradução de José Trindade Santos. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2008. 116 p.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-filosofia-uma-necessidade-primaria-do-espirito-humano/