12 de agosto de 2024

Jovens do novo milênio

A santidade no século XXI: um chamado para você

"Jovens de todos os continentes, não tenhais medo de ser os santos do novo milênio!" (São João Paulo II)

Decidi começar esse texto com essa frase do meu amado São João Paulo II, porque ele sempre amou os jovens e falou com eles. Hoje, essa frase é para mim e para você, porque nós somos os jovens da atualidade e somos chamados a ser santos.

Eu não sei você, mas eu já tive a impressão de que a santidade, por mais que sempre fosse um desejo do meu coração alcançar, estava longe demais da minha realidade. Eu olhava para São Francisco de Assis, Santa Teresinha, Dom Bosco, Madre Teresa e vários outros grandes santos e pensava: "Eu nunca vou conseguir chegar nesse nível de santidade". Spoiler: ainda não consegui, mas estou tentando!

 

Crédito: FatCamera / GettyImages

Deus, no entanto, me chama a ser santa, mas, para ser santo, é preciso seguir um padrão de santidade comparando-se aos santos de antes (que podem e devem inspirá-lo). O que precisamos é seguir a Igreja e buscar assemelhar-se a Jesus cada vez mais.


Sabe por quê? Porque o mundo já teve uma Madre Teresa, um Dom Bosco, uma Santa Teresinha e um São Francisco de Assis. E ainda bem que eles foram santos e, até hoje, inspiram tanta gente a seguir a santidade. Porém, o mundo não precisa de outros iguais, porque Deus não os colocou no mundo nesse tempo. Ele colocou eu e você! Por mais inacreditável que possa parecer, o mundo precisa de um Santo (a) …… (encaixe o seu nome)

Entendeu? E eu não vou mentir para você; é difícil alcançar a santidade, mas é mais simples do que parece.

Simplicidade na santidade: pequenos atos, grandes feitos

Agora é a hora que a gente pensa: "Simples? E quando São Francisco se jogou nos espinhos para não pecar? Isso foi simples? E quando Santa Luzia teve os olhos arrancados? E quando Padre Pio recebeu as chagas de Jesus? E quando Santa Faustina VIU Jesus? Nada disso parece simples pra mim!"

E esse é um pensamento que faz sentido, porque, muitas vezes, a santidade vai exigir radicalidade da nossa parte e experiências extraordinárias da parte de Deus. Isso não impede de ser simples.


A santidade é construída nas pequenas coisas, nos pequenos "nãos" que damos ao pecado e no "sim" que damos a Deus. Você não precisa se isolar do mundo em um monte para ser santo; você não precisa ver Jesus ou Maria aparecer na sua frente para ser santo; não precisa levitar ou bilocar.

A juventude: matéria-prima para a santidade

Sabe por que Deus ama tanto os jovens? Porque nós somos cheios de vida, de sonhos, de anseios por aventuras e experiências, de vontade de lutar por algo, aprender coisas novas e dar a vida por algo que valha a pena. E tudo isso é matéria-prima para  a santidade! Por isso o mundo quer arrancar os nossos sonhos, deixar-nos preguiçosos, desinteressados e confortáveis demais!

E a radicalidade que Deus nos chama a viver na atualidade não é igual aos santos de antigamente, isso é fato! Sabe como eu sei disso?

Santos do novo milênio: exemplos a inspirar

Olhe para Carlo Acutis! O que ele fez de extraordinário? Um blog com milagres eucarísticos não é sobrenatural. E Guido Schaffer? Um surfista/médico/seminarista. Até onde eu sei, ele nunca levitou… Sandra Sabatini era uma jovem missionária com sonhos de se casar, como muitas meninas por aí. Chiara Luce era uma menina comunicativa, que amava esportes e fazia parte dos focolares, mas ela não foi perseguida por ser cristã.

Qual radicalidade eles viveram? Bom, a radicalidade de seguir o Evangelho, de dar testemunho de Cristo para os outros, de buscar, nas coisas mais simples, ser de Jesus, estar com Ele e fazer a vontade d'Ele.

Cada um deles, do seu próprio jeito, buscou a santidade e contagiou a vida de quem estava ao seu redor. É isso! Esses são os santos do novo milênio!

Deus anseia por uma juventude santa, e o mundo precisa que esses jovens se levantem agora. Esses jovens que estudam, que trabalham, que saem pra rolês, que vão à academia ou não gostam de malhar, que são artistas, que amam assistir a filmes e séries, que choram por decepções amorosas, que acordam com espinha na cara e amam comer uma pizza ou um lanche supergorduroso, que tiram fotos para postar nas redes e gravam vídeos de trend, que ainda não sabem que profissão seguir, que se sentem sozinhos, que tem dificuldades familiares, que sofreram muito, que gostam de aventuras, que estão em busca de algo para dar a vida.

Traduzindo: eu e você. Nós somos diferentes – ainda bem! –, porque somos mais santos para conta!

Um chamado à ação

Hoje, é dia da juventude, mas não é dia dos imaturos e ingênuos, porque isso não é ser jovem não! É dia daqueles que estão escritos na Carta de São João:

Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno. (1 João 3,14)

Assuma que esse é você! Deus o escolheu, e a missão que Ele lhe deu é só sua! Então, bora? Viva a sua juventude, mas viva com Deus e para Deus! Em meio aos sacrifícios, às lágrimas, risadas e vitórias, porque viver com Cristo é a maior aventura e, com certeza, vale a pena dar a vida por isso!

Até mais, futuro santo (a) …… (complete com seu nome)

Beatriz Valdez de Oliveira


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/jovens-novo-milenio/

Paz e estilo de vida

O estilo de vida como alicerce para a paz começa num caminho de não-violência e diálogo

O estilo de vida pode ser uma alavanca para promover a paz, pois diz respeito ao modo de se relacionar com o mundo – no campo familiar, no trabalho, na convivência com o semelhante. O engenho da organização social e política em cada sociedade não pode prescindir de qualificada e solidária conduta das pessoas, contracenando com os demais cidadãos em parâmetros civilizatórios que favoreçam o diálogo, a cooperação e a inegociável priorização dos pobres, vulneráveis e indefesos.

Paz e Estilo de Vida

Crédito: FatCamera / GettyImages

É preciso reconhecer que o ser humano, com seu estilo de vida, pode criar condições favoráveis para a construção de entendimentos, o alcance de intuições importantes, de êxito em projetos e escolhas, reconhecendo o que, de fato, constitui prioridades. Por isso, as instituições precisam contribuir para que diferentes segmentos da sociedade funcionem no horizonte da solidariedade e da justiça, promovendo, assim, a paz. E o progresso depende, visceralmente, da paz, sob pena de perdas irreversíveis, levando a catástrofes que inviabilizam a vida. 

O papel das instituições na promoção da paz e da justiça social

É inaceitável buscar o progresso pelas ambições nacionalistas ou por meio de repressões na ordem civil. Os estilos de vida de governantes, dirigentes ou construtores da sociedade pluralista, de todos os cidadãos, quando eivados de personalismos, distanciam-se da razão e da capacidade para o diálogo. Desconsideram os entendimentos baseados no direito, na justiça e no respeito. É o estilo de vida alicerçado no diálogo e na sábia administração das diferenças que conduz à paz. E a paz, para ser conquistada e preservada, deve se sustentar na verdade e no amor, sem manipulações ou imposições ideológicas perniciosas.

A inspiração cristã na busca por uma sociedade mais justa e fraterna

Nesse sentido, a Doutrina Social da Igreja Católica defende que a humanidade deve seguir na contramão da violência, combatendo desde as incursões bélicas homicidas até aquelas que alimentam o rancor e a vingança, distanciando o ser humano de uma convivência mais equilibrada na casa comum. 

A não-violência como pilar fundamental para a paz

Todos são chamados a se convencer a respeito do perigo destrutivo causado pela hospedagem do ódio no próprio coração, e a viver em harmonia com perspectivas divergentes. Sempre haverá, certamente, um caminho e uma saída para a solução de desavenças, a exemplo do que ocorre na narrativa bíblica envolvendo Jacó e Labão. Esses personagens bíblicos estabelecem uma divergência, mas, reconhecendo que a violência poderia levá-los a perder tudo, discernem sobre os caminhos que cada um deveria seguir, garantindo a prevalência da paz. A não-violência deve inspirar o ser humano, que precisa revestir o coração com nobres sentimentos.

No horizonte cristão, brilha o ideal de um estilo de vida alicerçado na caridade, com desdobramentos que têm propriedades incomparáveis e indispensáveis para qualificar relacionamentos e iniciativas, superando a tentação de rancores e de ressentimentos que alimentam vinganças e inspiram lutas já perdidas. 


O caminho da não-violência pavimenta-se com o diálogo e com a sabedoria de acolher indicações capazes de semear a paz. Passo importante é reconhecer a gravidade do momento atual, acolhendo o que diz o Papa Francisco em diferentes oportunidades: a humanidade vive uma guerra mundial aos pedaços, produzindo um mundo muito violento. Outros ciclos da história também conviveram com a violência, mas nenhum outro momento da humanidade contou com tantos recursos para se promover o diálogo e, consequentemente, construir a paz. Quando o Papa Francisco adverte para a disseminação da violência de modo fragmentado, "aos pedaços", aponta para a responsabilidade de todos nesse processo que leva o mundo a muitos sofrimentos -devastação ambiental, terrorismos, criminalidade, tráfico humano, abusos com migrantes, fome e miséria. 

Do diálogo à bondade

Deve-se respeitar o precioso princípio de nunca responder à violência com a violência – para que o ser humano não perca o sentido da vida, gerando morte e sofrimento, especialmente para os idosos, os jovens, os pobres e os doentes. A violência leva à morte física e espiritual. Urgente é cuidar do próprio coração, para que hospede valores relacionados à fraternidade solidária, sem espaço para ressentimentos e rancores, deixando-se curar pela misericórdia. 

Desse modo, combate-se a hostilidade, em conformidade com o que orientava São Francisco de Assis: "A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante no vosso coração". Em lugar da violência e da injustiça, prevaleça a bondade, que não pode ser confundida com permissividade. A bondade é força mais poderosa que a violência, capaz de convencer o ser humano sobre a importância de estar em harmonia com o seu semelhante. Permite reconhecer limites e investir na reconciliação, levando a resultados surpreendentes. 

A responsabilidade de cada um na promoção da paz

Todos são convocados a ser obreiros da paz pelo compromisso de defender, incondicionalmente, a vida em todas as suas etapas. Na história, são muitos os exemplos de obreiros da paz que alcançaram resultados impressionantes. Todos são convocados a contribuir para edificar uma sociedade mais pacífica. As comunidades cristãs são especialmente chamadas a ajudar também pela oração – força espiritual que é muito importante para inspirar a paz. Atenção especial e profética relaciona-se ao cuidado com os injustiçados e excluídos da sociedade.

Outro necessário cuidado diz respeito ao ambiente doméstico, que precisa ser marcado por gestos de bondade, fazendo com que cada relacionamento contribua com a aprendizagem da tolerância e do respeito. Assim as famílias ajudam a propagar o amor, com seus integrantes buscando superar perspectivas egoístas para se exercitarem na priorização do bem de seus familiares. O ser humano está convocado a buscar estilos de vida que se alicerçam na ética da fraternidade, combatendo a lógica do medo, do fechamento, pautando-se no respeito e no diálogo sincero. Um caminho singelo, da não-violência, essencial à paz. 

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/paz-e-estilo-de-vida/

A educação paterna de Deus

Compreendendo a disciplina na educação

Na carta de São Paulo aos Hebreus nós conhecemos a educação paterna de Deus [1]. O texto nos ensina a sermos firmes diante das provações desta vida, pois Deus corrige a quem ele ama e castiga-nos em sinal de acolhimento como filhos.

Já os evangelistas Mateus e Lucas ensinam o valor e a confiança na oração, dizendo que, se nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas a nossos filhos, quanto mais o Pai Celeste dará coisas boas aos que lhe pedirem [2]. E são essas medidas, entre dar coisas boas e castigar, que geram tantas dúvidas nos pais.

Se, por um lado, eu quero que meu filho seja feliz e tenha coisas boas (afetuosas e materiais), eu também não posso fazê-lo achar que o mundo está à disposição dele para tudo o que quiser. Então, qual é a medida correta da boa-educação?

O desafio do equilíbrio

Há muito eu tenho refletido sobre o assunto, especialmente depois de ouvir um episódio de podcast com o título "Dá pra educar sem castigar?". Essa conversa causou uma mudança na minha forma de ver a paternidade. E em setembro de 2023 o podcast conseguiu, novamente, causar uma mudança de direção nas minhas reflexões enquanto pai com o episódio intitulado "Educação com limites: entre autoritarismo e permissividade".

Fato é que o equilíbrio entre dar amor e alegria, mas também ensinar os limites e o respeito ao próximo, é um desafio. Para chegar à conclusão que compartilho nesse artigo foi necessário juntar um pouco de tudo que sei, muito estudo e reflexão e, claro, um pouco de prática.

Créditos: arquivo do autor

Transformando castigo em lição

Imagine que seu filho tem seis anos e já foi advertido várias vezes que ele não deve chutar a bola dentro de casa. A criança, que se diverte muito sempre que chuta a bola, ignora tantas advertências, até que o chute leva a bola à janela que se quebra.

Talvez o primeiro pensamento que venha à mente seja: "eu já conversei e expliquei, agora é hora de castigar". A reflexão é para que nossos filhos não sejam castigados excessiva e repetidamente, de modo a extrapolar o ensinamento e representar mera punição.

Aprendo com as consequências

A criança deve entender que as ações têm consequências, que ela não está sozinha no mundo e tudo o que ela faz afeta outras pessoas. Mas, para tanto, é necessário que a consequência seja proporcional e tenha relação com o comportamento da criança. Se entendermos bem o caminho de indicar as consequências e conseguirmos fazer isso de forma que uma criança de seis anos assimile completamente, converteremos o castigo em lição.

É necessário que exista uma correlação entre o mau comportamento e a consequência. Deixamos de lado aquela ideia de tirar o que criança mais gosta só porque é o que ela mais gosta. Ficar sem tela porque chutou a bola no vidro: mas, quando a bola foi chutada não tinha tela envolvida. Não receber sobremesa após o jantar porque quebrou a janela, mas o chute foi logo pela manhã.


Traçando paralelos

Vamos traçar os paralelos aqui: um chute na bola dentro de casa quebrou a janela, a consequência é que ela deverá ser consertada, o que exige tempo e dinheiro; tempo que antes era para tela, agora é para consertar a janela, dinheiro que antes era para comprar sobremesa, agora é para pagar um vidro novo. Notou a diferença? Toda uma sequência de evento se desencadeou daquele chute desobediente.

O castigo não é aleatório, não é só para "sofrer" a consequência. No horário em que criança dispunha para assistir as telas ela irá acompanhar o pai no conserto da janela e, quando pedir sobremesa, não terá, porque o dinheiro foi gasto com a compra do vidro. Claro, é importante que a criança acompanhe o pai desde a compra do vidro até o conserto da janela.

Evitar a injustiça

E o mais importante: nenhuma outra punição para aquele mesmo comportamento. Atenção, porque essa atitude injusta te afeta não só na criação dos filhos, mas na convivência em geral. Se a criança já entendeu que a consequência da quebra da janela foi o tempo e o custo, nada de cara feia, de ficar relembrando a desobediência, de rotular de "desobediente" ou "mal-educado"; não é para recusar um pedido de brincadeira, de colo, a convivência, de se mostrar chateado ou irritado.

A criança já percebeu as consequências relacionadas ao mau comportamento, nada mais justifica a constante punição. Tudo o que for além disso é castigar a criança duas (ou muitas) vezes pelo mesmo comportamento. Então, você passa da medida da educação, pois um chute que durou segundos afasta o pai por dias e isso não é justo. Atos têm consequências, mostre-as de forma clara para a criança e continue sendo o bom pai de sempre.

Pode ser que você tenha se irritado muito, mas isso tem mais a ver com você do que com a criança ou a janela quebrada. Que possamos compreender e aplicar a educação paterna de Deus, explicada por São Paulo, aquela que "produz um fruto de paz e de justiça" [3]. Que assim seja!

Luís Gustavo Conde


CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO
[1] (Hb 12, 5-13); [2] (Mt 7, 7-11; Lc 5, 5-13); [3] (Hb 12, 11).

9 de agosto de 2024

Edith Stein e a empatia

O sentir com o outro

Em tempos de relações líquidas, assimétricas e descontínuas, os seres humanos parecem estar à deriva: perdidos diante de si mesmos e do mundo. Clamam por relações que possam ser atravessadas até o fim, ou seja, vividas plenamente.

Vida e obra de Edith Stein

É a partir desse clamor que surge a concepção do termo empatia. Esse termo provém do grego empatheia, que significa não apenas compadecer-se da miséria do outro, mas, sobretudo, colocar-se na posição do outro. Trata-se de uma vivência muito particular que a filósofa e santa da Igreja Edith Stein soube analisar fortemente, embora nem sempre se utilizando de uma definição fechada ou do termo propriamente dito, mas tomando como base as investigações de seu professor Husserl e suas experiências de vida que a projetaram neste campo das relações humanas.

Para compreender a extensão de seu entendimento acerca da empatia, é preciso, antes, visualizar, ainda que panoramicamente, a vida dessa mulher.

Créditos: Jacob Wackerhausen / GettyImages

A busca pela verdade e a conversão

Edith Stein nasceu no ano de 1891, em Breslávia, antiga Alemanha (e atual Polônia), em uma numerosa família de origem judaica. Ainda jovem, perdeu o pai e foi criada pela mãe, que era uma grande exemplar na observação dos ritos do judaísmo e que zelava severamente para que todos os filhos seguissem seu exemplo. Durante a sua adolescência, Edith Stein passa por uma crise de fé, afastando-se assim das práticas judaicas, contudo ainda mantendo viva em si a busca constante pela verdade.

Em 1911, começa a cursar, na universidade de Breslávia, os cursos de Língua Alemã, Psicologia, Filosofia e História. Tendo um especial interesse pela Filosofia, optou pelos estudos na área de Fenomenologia com o grande filósofo Edmund Husserl, mudando-se temporariamente para Freiburg. Em 1915, gradua-se e, logo em seguida, com o início da Primeira Guerra, trabalha como enfermeira voluntária na Cruz Vermelha. No ano seguinte, ainda antes do fim da Guerra, retorna à sua cidade natal e trabalha como professora e, simultaneamente, escreve seu doutorado 'Sobre o problema da Empatia'.

Em 1920, passa por uma dolorosa crise interior, e, lendo a obra 'Livro da Vida de Santa Teresa d'Ávila', diz ali ter encontrado a Verdade. Com o incentivo de amigos, converte-se ao catolicismo e, 13 anos depois, decide ingressar no Carmelo. Torna-se então a irmã Teresa Benedita da Cruz, mantendo ainda a permissão de sua superiora para continuar a escrever a sua obra filosófica mais importante: 'Ser finito e Ser eterno'.

Em 1938, faz seus votos perpétuos e logo foge para a Holanda, pois, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, é perseguida por ter origem étnica judaica. Começa a escrever a sua obra espiritual mais importante: 'A Ciência da Cruz'. Em 1940, os nazistas ocupam a Holanda, e Stein é levada para o campo de concentração em Auschwitz. Em 1942, morre na câmara de gás. Três dias antes de sua morte, havia dito: "Aconteça o que acontecer, estou preparada. Jesus está aqui conosco". Por seu heroísmo e exemplo de vida cristã, em 1998, é canonizada pelo Papa João Paulo II sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz.

A experiência da empatia

Contemplando a vida de Edith Stein, percebemos que, mesmo em meio a crises e perseguições, ela desenvolveu, ao longo dos anos, uma abertura ao outro, na medida em que se pôs no lugar daqueles que, de alguma forma, sofriam, especialmente nas Guerras. Ela compreendeu que a empatia é uma vivência que deve ser atravessada. E para que isso seja possível, é necessária uma análise séria e rigorosa sobre a pessoa humana. A empatia deve ajudar com essas relações que se encontram à deriva, quando a pessoa não tem a plena posse da sua corporeidade ou da dimensão psíquica. Assim, à medida que me conheço, conheço melhor o outro; e à medida que conheço o outro, conheço melhor a mim mesmo, numa relação bilateral e simultânea.

Essas relações são vividas em um tempo e espaço precisos. Caso contrário, correríamos o risco de viver apenas a ideia da relação, de viver as relações como projeções ou como uma forma de submissão ou domínio. É por essa razão que a ideia de empatia de Edith Stein exige a plena consciência e a plena aceitação de si mesmo. Somente assim o outro deixará de ser apenas um instrumento para mim, e se tornará alguém semelhante a mim em dignidade, com qualidades e defeitos assim como eu, mesmo sendo diferente de mim.

O caminho para a empatia

Fundamentalmente, nunca chegaremos a alcançar os outros se antes não tivermos a coragem de alcançar a nós mesmos. É preciso ser capaz de sentir com o outro, e para isso Stein nos lembra que possuímos uma arma importante: a Graça. Quanto mais a pessoa se expande e se conhece sob a ação da graça divina, mais ela se humaniza, aperfeiçoando-se na configuração à pessoa de Cristo. É essa perfeição existencial suprema da pessoa humana pela qual deve se orientar o ato empático.

Inspiração para o presente

Que Edith Stein, ou melhor, Santa Teresa Benedita da Cruz, nos inspire nessa busca do conhecimento pessoal e do conhecimento do outro para podermos assim vivenciarmos as nossas relações de forma empática em nossas comunidades.

Santa Teresa Benedita da Cruz, rogai por nós!

Manuele Porto Cruz – Mestre em filosofia pela Universidade de Brasília, tendo como tema da dissertação de mestrado: "Pessoa, Comunidade e Empatia em Edith Stein".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/edith-stein-e-a-empatia/

7 de agosto de 2024

Diaconato permanente: homens casados fazem parte do clero

Os diáconos fazem parte do clero e podem ser casados

Você sabia que alguém casado pode fazer parte do clero? Se não, fique tranquilo. Há pouco tempo, nossas comunidades estão redescobrindo esse grande sinal concreto do amor de Deus na Igreja, o diaconato permanente, restaurado pelo Vaticano II. O que muitos não sabem é que os diáconos já existiam no tempo dos apóstolos e tinham uma função bem específica, diferente do sacerdote e do bispo, mas também participam do sacramento da ordem.

Diaconato, sinal do amor da Igreja primitiva

Estamos antes do ano 40 da era cristã. No meio da comunidade primitiva, surge um grave problema de ordem social: as viúvas estão abandonadas e passam fome. Os Doze, conscientes de sua missão na liturgia e na pregação, sabem que a caridade não pode ser somente pregada, mas deve ser vivida.

Diaconato permanente homens casados fazem parte do clero

Créditos: arquivo pessoal/ Diacono Nelsinho Corrêa

Por isso instituem um grupo de homens sábios e piedosos que devem ser responsáveis por servir, cuidar e ajudar (no grego, diakonéo) os que mais necessitam (At 6,1-6). Conhecemos bem a história de um desses primeiros diáconos: Santo Estevão (At 6,8–7,60), que é perseguido e mostra que sua inclinação para a caridade o leva a doar sua própria vida pelo Evangelho.

Esses homens são uma encantadora inspiração da Igreja primitiva, como sinal concreto do amor de Deus. São uma prova concreta de que a caridade corria no sangue e estava impressa na alma dos primeiros cristãos. Estão tão presentes nas primeiras comunidades, que, constantemente, aparecem nas cartas de Paulo, que chega a apresentar as qualidades e virtudes dos diáconos na Primeira carta a Timóteo (1Tm 3,8-13).

A retomada do Diaconato na Igreja

Santo Inácio de Antioquia reconhece a necessidade do diaconato no Período Apostólico, dizendo que é impensável uma Igreja particular sem bispo, presbítero e diácono (Epist. ad Philadelphenses, 4). O trabalho incansável pela caridade é uma marca da Igreja primitiva, impressa no trabalho do diácono, que é elencado junto com as outras duas funções hierárquicas. Logo, entende-se que, no sacramento da ordem, há três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconato.

Depois do séc. V, o diaconato, como trabalho permanente de caridade, vai sendo extinguido. Aos poucos, é transformado somente em um passo anterior ao sacerdócio, ou seja, antes da ordenação sacerdotal, o candidato tornava-se diácono. Porém, na renovação eclesial feita pelo Concílio Vaticano II, o Espírito inspira a Igreja a voltar a suas fontes bíblicas e patrísticas. Ao revisitar a Igreja primitiva, o Vaticano II resgata o diaconato permanente em nossas comunidades, lembrando que é parte fundamental da nossa ação comunitária!


O que faz um diácono?

Hoje, na ordenação do diácono, ele pode ser já casado ou celibatário, condição que deve manter depois de sua ordenação. Sua função é auxiliar o bispo no serviço da caridade, sendo também ele um clérigo (Código de Direito Canônico, 266). É daí que vem também sua função litúrgica, pois recebe os dons da comunidade e oferece aos que mais necessitam, trazendo as necessidades deles para a oração da assembleia. Seu ministério de caridade não é assistencialismo, por isso também evangeliza pela pregação da Palavra.

O que o Catecismo da Igreja Católica ensina sobre as funções do diácono. Veja só: "Cabe aos diáconos, entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia; distribuir a Comunhão; assistir ao matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir os funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade" (Catecismo da Igreja Católica, 1570).

Diferente do sacerdote, não podem fazer a consagração do pão e do vinho, não absolvem os pecados nem administram a unção dos enfermos.

É comum encontrar os diáconos nas comunidades bem ocupados. Fazem o serviço de caridade, estão nas ações litúrgicas da Igreja – até em Missas presididas pelo Papa, eles proclamam o Evangelho –, presidem os sacramentais. Eles, continuamente, lembram a Igreja que o Reino de Deus é formado por atitudes de amor concretas dentro das comunidades! Sem a caridade vivida, a evangelização torna-se discurso vazio.

Finalmente, se você se pergunta se tem o chamado para o diaconato, conheça um pouco mais sobre o assunto (tem dicas de leitura abaixo!). E não perca tempo: procure, em sua diocese, o responsável pelo diaconato permanente para fazer um caminho de discernimento.

Para conhecer mais
Textos bíblicos: At 6,1-6; 1Tm 3,8-13; Fl 1,1.
Catecismo da Igreja Católica: 886, 896, 1256, 1538, 1554, 1569-1574, 1588, 1596.
Código de Direito Canônico: 266, 232-264; 265-272, 273-289, 290-293, 1016, 1030-1040, 1168- 1169.
Congregação para a Educação Católica e Congregação para o clero. Normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes e Diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes
CNBB. Diretrizes para o diaconato permanente da Igreja no Brasil (Documento 96).

Fabrizio Zandonadi Catenassi
Mestre e doutorando em Teologia (PUCPR); professor de Sagrada Escritura (Católica SC); membro da diretoria da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica; assessora cursos bíblicos e retiros no Brasil e na América Latina.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/diaconato-permanente-homens-casados-fazem-parte-do-clero/

6 de agosto de 2024

Subindo o monte com Jesus: a experiência do Céu na Terra

Testemunhando a Glória Divina: A Transfiguração de Jesus

Festa da Transfiguração do Senhor é uma festa que, segundo a tradição, ocorreu 40 dias antes da Crucificação,  logo, por consequência, 40 dias depois, 14 de setembro, ocorre a festa da Exaltação da Santa Cruz.  

Conforme o evangelho lido na festa da Transfiguração(Mc 9,2-10), Jesus toma Pedro, Tiago e João consigo para  subir ao monte. Leva esses 3 apóstolos pois, conforme São Tomás de Aquino diz, essas escolhas tinham  explicação:  

  •  Pedro, era o discípulo que mais amava Jesus  
  •  João, era o discípulo que Jesus mais amava  
  •  Tiago, porque em Mt 20,22, junto com o irmão, disse que beberia do mesmo cálice que Nosso Senhor,  Jesus  

Um vislumbre da glória celestial

Jesus mostra a esses escolhidos o que é um corpo glorificado, que um dia eles terão, ao estrarem no Céu.  Aquele momento então era uma experiência do Céu. Não à toa, conforme a leitura, Pedro diz: "É bom ficarmos  aqui" (Mc 9,5). Devia estar muito bom mesmo pois, não somente Jesus estava com eles, mas também Moisés,  representando a lei, e Elias, representando os profetas.  

"A transfiguração de Cisto" – Créditos: Peter Paul Rubens/Domínio Público

Vestígios do Céu

De tal forma foi a transfiguração que até suas vestes ficaram brilhantes e brancas, a tal ponto que, diz a  Palavra, nenhuma lavadeira poderia deixar em tal brancura. Isso demonstra ainda que, no Céu, não se permite  sujeira alguma, nem nas vestes celestiais. Somente santos entram no Céu. Não basta ser salvo, precisa ser  santo.  

A presença de Jesus é suficiente

Pedro, com o ímpeto que já lhe era peculiar, diz ainda que desejava fazer 3 tendas para Jesus, Moisés e Elias.  Esqueceu-se até de tendas para ele e os outros 2 apóstolos. Importava somente estar com Jesus, Elias e  Moisés naquela experiência de Céu que viviam. Fica claro aqui que estar com Jesus já é o suficiente para nós.  Não precisamos de mais nada. Se você está valorizando outras coisas, além de Jesus, dando valor a outras  questões, que não seja Jesus, saiba que essa ordem não é a correta e precisa ser reavaliada. Jesus precisa ser  o suficiente em sua vida. Precisa ter o 1º lugar em sua vida.  

 

Um segredo divino

Chama atenção ainda que o Jesus que conheciam vivia como nós, tinha fome, sede, chorava, mas, nesse  momento, Jesus se mostra por inteiro. Mostra toda a sua Glória, e só mostra a esses 3 apóstolos. Eles viram  algo tão tremendo que, ao descerem da montanha, Jesus diz a eles que não deveriam contar a ninguém.  

A voz do Pai

Para dar maior clareza da experiência de Céu que estavam vivendo, uma nuvem desce sobre eles e uma voz diz  "Este é meu Filho amado. Escutai o que ele diz" (Mc 9,7). Sim, o Pai vem novamente, da mesma forma que no  batismo de Jesus, quando também chama Jesus de Filho Amado. Essa manifestação de Deus vem para selar  esse grande momento.  

O chamado à Transfiguração hoje

Na festa da Transfiguração de 2021, Papa Francisco disse: "A festa da Transfiguração do Senhor nos recorda  que somos chamados a experimentar o encontro com Cristo". Com isso, podemos entender que, no dia de  hoje, Jesus está chamando a mim e a você para subir o monte com Ele para rezar. Para nos afastarmos do  mundo por um tempo e ficar somente com Nosso Deus e rezar. Ter uma experiência do Céu. Lá, que é o meu e  seu lugar.  

Que tal? Pedro, Tiago e João subiram ao monte. E você? Qual será sua resposta? Vamos subir com Jesus o  monte? 

 

Junior Alves – Missionário da comunidade Canção Nova,  Graduado em Ciência da Computação(UFRJ) e Mestre em Administração de Empresas(PUC/RJ) 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/festa-da-transfiguracao-experiencia-de-fe/

5 de agosto de 2024

Sacerdote, ministro revestido de dignidade

A missão sublime do sacerdote: ponte entre o céu e a terra

O padre, com olhar carregado de compaixão e fé, abraça uma vocação que encontra seu propósito no altar, na palavra divina que busca conforto e na comunidade que serve. A verdadeira extensão do amor! 

Agosto, mês de celebrar o sacerdócio

No mês de agosto, celebramos o Dia do Padre, aquele escolhido por Deus para ser Seu ministro e, portanto, revestido de dignidade. É pelo sacerdote, que empresta a Cristo todo o seu corpo e o seu ser, que temos acesso à Misericórdia do Pai do Céu pelo sacramento da confissão, adoramos ao Senhor na Eucaristia e obtemos a unção dos enfermos. Foi Ele quem ministrou o sacramento do batismo em nós, estava lá em nosso casamento abençoando as alianças.

O chamado para a vocação sacerdotal

Créditos: Wesley Almeida/Arquivo cancaonova.com

Construindo pontes entre o Céu e a Terra

Cada Missa celebrada, cada sacramento administrado, cada palavra de consolo oferecida são tijolos que constroem uma ponte entre o Céu e a Terra, um farol de esperança para os corações e um testemunho silencioso da graça divina que o escolheu para guiar Seu rebanho.

O chamado, a entrega e a renúncia

Esse chamado veio de Deus, e quantas coisas ele passou para chegar até aqui e dar-se por inteiro em sua missão! As poucas horas para estudar e nos formar na doutrina católica, sem deixar de lado a sua vida de oração, o seu sustento nessa jornada.

Ele é pastor e tem por ofício levar suas ovelhas rumo a Deus nessa entrega total em meio a alegrias e tristezas, as quais fazem parte da arte humana de viver nessa existência.

Rumo à santidade em conformidade com Cristo

O sacerdote, por assim dizer, é convocado a uma vida de renúncia e, muitas vezes, de coisas valiosas e real grandeza, pois ele foi enviado em vista da caridade e da santidade, que não vêm em segundo plano ou de um patamar mais baixo; é uma luta constante rumo à conformidade a Cristo, correspondendo à graça divina.

A grandeza do chamado ministerial: a identidade de Cristo

É lindo saber que, nesse chamado ministerial, há uma grandeza insuperável neste mundo, pois está em sua identidade, a de Jesus Cristo. Não quero que diminua a reverência que se deve professar pelos sacerdotes, porque a reverência e o respeito que se lhes manifesta, não se dirige a eles, mas a Mim, em virtude do Sangue que lhes dei para que o administrasse. (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, cap. 116; Cfr. Ps CIV, 15).

Rezemos pelos sacerdotes, guiados por Maria

Rezemos pelos padres, peçamos a Virgem Maria que volte aos trilhos aqueles filhos prediletos que necessitam de sua ajuda maternal. Cabe a nós não fazer julgamentos, pois isso cabe ao próprio Deus que os chamou. Rezemos, rezemos por esses pastores de Deus que nos levam diariamente o Cristo Vivo para ser nosso alimento.

Maria, Mãe da Eucaristia

Quem pode, melhor do que Maria, fazer-nos saborear a grandeza do mistério eucarístico? Ninguém pode, como ela, ensinar-nos com quanto fervor devemos celebrar os santos mistérios e deter-nos em companhia do Seu Filho escondido sob as espécies eucarísticas. Por isso, a ela, recordo a todos, entrego especialmente os mais idosos, os doentes, quantos se encontram em dificuldade. Nesta Páscoa do Ano da Eucaristia, apraz-me fazer ressoar para cada um de vós a doce e reconfortante declaração de Jesus: "Eis a tua Mãe" (Jo 19, 27). (Carta do Santo Padre João Paulo II Aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de2005).

 

Micheline Teixeira – Missionária da Comunidade Canção Nova, Graduada em Administração com complemento dos estudos em Marketing. Atualmente, cursa pós-graduação em Logoterapia. É diretora, produtora e jornalista no Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/sacerdote-ministro-revestido-de-dignidade/