12 de agosto de 2024

A educação paterna de Deus

Compreendendo a disciplina na educação

Na carta de São Paulo aos Hebreus nós conhecemos a educação paterna de Deus [1]. O texto nos ensina a sermos firmes diante das provações desta vida, pois Deus corrige a quem ele ama e castiga-nos em sinal de acolhimento como filhos.

Já os evangelistas Mateus e Lucas ensinam o valor e a confiança na oração, dizendo que, se nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas a nossos filhos, quanto mais o Pai Celeste dará coisas boas aos que lhe pedirem [2]. E são essas medidas, entre dar coisas boas e castigar, que geram tantas dúvidas nos pais.

Se, por um lado, eu quero que meu filho seja feliz e tenha coisas boas (afetuosas e materiais), eu também não posso fazê-lo achar que o mundo está à disposição dele para tudo o que quiser. Então, qual é a medida correta da boa-educação?

O desafio do equilíbrio

Há muito eu tenho refletido sobre o assunto, especialmente depois de ouvir um episódio de podcast com o título "Dá pra educar sem castigar?". Essa conversa causou uma mudança na minha forma de ver a paternidade. E em setembro de 2023 o podcast conseguiu, novamente, causar uma mudança de direção nas minhas reflexões enquanto pai com o episódio intitulado "Educação com limites: entre autoritarismo e permissividade".

Fato é que o equilíbrio entre dar amor e alegria, mas também ensinar os limites e o respeito ao próximo, é um desafio. Para chegar à conclusão que compartilho nesse artigo foi necessário juntar um pouco de tudo que sei, muito estudo e reflexão e, claro, um pouco de prática.

Créditos: arquivo do autor

Transformando castigo em lição

Imagine que seu filho tem seis anos e já foi advertido várias vezes que ele não deve chutar a bola dentro de casa. A criança, que se diverte muito sempre que chuta a bola, ignora tantas advertências, até que o chute leva a bola à janela que se quebra.

Talvez o primeiro pensamento que venha à mente seja: "eu já conversei e expliquei, agora é hora de castigar". A reflexão é para que nossos filhos não sejam castigados excessiva e repetidamente, de modo a extrapolar o ensinamento e representar mera punição.

Aprendo com as consequências

A criança deve entender que as ações têm consequências, que ela não está sozinha no mundo e tudo o que ela faz afeta outras pessoas. Mas, para tanto, é necessário que a consequência seja proporcional e tenha relação com o comportamento da criança. Se entendermos bem o caminho de indicar as consequências e conseguirmos fazer isso de forma que uma criança de seis anos assimile completamente, converteremos o castigo em lição.

É necessário que exista uma correlação entre o mau comportamento e a consequência. Deixamos de lado aquela ideia de tirar o que criança mais gosta só porque é o que ela mais gosta. Ficar sem tela porque chutou a bola no vidro: mas, quando a bola foi chutada não tinha tela envolvida. Não receber sobremesa após o jantar porque quebrou a janela, mas o chute foi logo pela manhã.


Traçando paralelos

Vamos traçar os paralelos aqui: um chute na bola dentro de casa quebrou a janela, a consequência é que ela deverá ser consertada, o que exige tempo e dinheiro; tempo que antes era para tela, agora é para consertar a janela, dinheiro que antes era para comprar sobremesa, agora é para pagar um vidro novo. Notou a diferença? Toda uma sequência de evento se desencadeou daquele chute desobediente.

O castigo não é aleatório, não é só para "sofrer" a consequência. No horário em que criança dispunha para assistir as telas ela irá acompanhar o pai no conserto da janela e, quando pedir sobremesa, não terá, porque o dinheiro foi gasto com a compra do vidro. Claro, é importante que a criança acompanhe o pai desde a compra do vidro até o conserto da janela.

Evitar a injustiça

E o mais importante: nenhuma outra punição para aquele mesmo comportamento. Atenção, porque essa atitude injusta te afeta não só na criação dos filhos, mas na convivência em geral. Se a criança já entendeu que a consequência da quebra da janela foi o tempo e o custo, nada de cara feia, de ficar relembrando a desobediência, de rotular de "desobediente" ou "mal-educado"; não é para recusar um pedido de brincadeira, de colo, a convivência, de se mostrar chateado ou irritado.

A criança já percebeu as consequências relacionadas ao mau comportamento, nada mais justifica a constante punição. Tudo o que for além disso é castigar a criança duas (ou muitas) vezes pelo mesmo comportamento. Então, você passa da medida da educação, pois um chute que durou segundos afasta o pai por dias e isso não é justo. Atos têm consequências, mostre-as de forma clara para a criança e continue sendo o bom pai de sempre.

Pode ser que você tenha se irritado muito, mas isso tem mais a ver com você do que com a criança ou a janela quebrada. Que possamos compreender e aplicar a educação paterna de Deus, explicada por São Paulo, aquela que "produz um fruto de paz e de justiça" [3]. Que assim seja!

Luís Gustavo Conde


CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO
[1] (Hb 12, 5-13); [2] (Mt 7, 7-11; Lc 5, 5-13); [3] (Hb 12, 11).

9 de agosto de 2024

Edith Stein e a empatia

O sentir com o outro

Em tempos de relações líquidas, assimétricas e descontínuas, os seres humanos parecem estar à deriva: perdidos diante de si mesmos e do mundo. Clamam por relações que possam ser atravessadas até o fim, ou seja, vividas plenamente.

Vida e obra de Edith Stein

É a partir desse clamor que surge a concepção do termo empatia. Esse termo provém do grego empatheia, que significa não apenas compadecer-se da miséria do outro, mas, sobretudo, colocar-se na posição do outro. Trata-se de uma vivência muito particular que a filósofa e santa da Igreja Edith Stein soube analisar fortemente, embora nem sempre se utilizando de uma definição fechada ou do termo propriamente dito, mas tomando como base as investigações de seu professor Husserl e suas experiências de vida que a projetaram neste campo das relações humanas.

Para compreender a extensão de seu entendimento acerca da empatia, é preciso, antes, visualizar, ainda que panoramicamente, a vida dessa mulher.

Créditos: Jacob Wackerhausen / GettyImages

A busca pela verdade e a conversão

Edith Stein nasceu no ano de 1891, em Breslávia, antiga Alemanha (e atual Polônia), em uma numerosa família de origem judaica. Ainda jovem, perdeu o pai e foi criada pela mãe, que era uma grande exemplar na observação dos ritos do judaísmo e que zelava severamente para que todos os filhos seguissem seu exemplo. Durante a sua adolescência, Edith Stein passa por uma crise de fé, afastando-se assim das práticas judaicas, contudo ainda mantendo viva em si a busca constante pela verdade.

Em 1911, começa a cursar, na universidade de Breslávia, os cursos de Língua Alemã, Psicologia, Filosofia e História. Tendo um especial interesse pela Filosofia, optou pelos estudos na área de Fenomenologia com o grande filósofo Edmund Husserl, mudando-se temporariamente para Freiburg. Em 1915, gradua-se e, logo em seguida, com o início da Primeira Guerra, trabalha como enfermeira voluntária na Cruz Vermelha. No ano seguinte, ainda antes do fim da Guerra, retorna à sua cidade natal e trabalha como professora e, simultaneamente, escreve seu doutorado 'Sobre o problema da Empatia'.

Em 1920, passa por uma dolorosa crise interior, e, lendo a obra 'Livro da Vida de Santa Teresa d'Ávila', diz ali ter encontrado a Verdade. Com o incentivo de amigos, converte-se ao catolicismo e, 13 anos depois, decide ingressar no Carmelo. Torna-se então a irmã Teresa Benedita da Cruz, mantendo ainda a permissão de sua superiora para continuar a escrever a sua obra filosófica mais importante: 'Ser finito e Ser eterno'.

Em 1938, faz seus votos perpétuos e logo foge para a Holanda, pois, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, é perseguida por ter origem étnica judaica. Começa a escrever a sua obra espiritual mais importante: 'A Ciência da Cruz'. Em 1940, os nazistas ocupam a Holanda, e Stein é levada para o campo de concentração em Auschwitz. Em 1942, morre na câmara de gás. Três dias antes de sua morte, havia dito: "Aconteça o que acontecer, estou preparada. Jesus está aqui conosco". Por seu heroísmo e exemplo de vida cristã, em 1998, é canonizada pelo Papa João Paulo II sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz.

A experiência da empatia

Contemplando a vida de Edith Stein, percebemos que, mesmo em meio a crises e perseguições, ela desenvolveu, ao longo dos anos, uma abertura ao outro, na medida em que se pôs no lugar daqueles que, de alguma forma, sofriam, especialmente nas Guerras. Ela compreendeu que a empatia é uma vivência que deve ser atravessada. E para que isso seja possível, é necessária uma análise séria e rigorosa sobre a pessoa humana. A empatia deve ajudar com essas relações que se encontram à deriva, quando a pessoa não tem a plena posse da sua corporeidade ou da dimensão psíquica. Assim, à medida que me conheço, conheço melhor o outro; e à medida que conheço o outro, conheço melhor a mim mesmo, numa relação bilateral e simultânea.

Essas relações são vividas em um tempo e espaço precisos. Caso contrário, correríamos o risco de viver apenas a ideia da relação, de viver as relações como projeções ou como uma forma de submissão ou domínio. É por essa razão que a ideia de empatia de Edith Stein exige a plena consciência e a plena aceitação de si mesmo. Somente assim o outro deixará de ser apenas um instrumento para mim, e se tornará alguém semelhante a mim em dignidade, com qualidades e defeitos assim como eu, mesmo sendo diferente de mim.

O caminho para a empatia

Fundamentalmente, nunca chegaremos a alcançar os outros se antes não tivermos a coragem de alcançar a nós mesmos. É preciso ser capaz de sentir com o outro, e para isso Stein nos lembra que possuímos uma arma importante: a Graça. Quanto mais a pessoa se expande e se conhece sob a ação da graça divina, mais ela se humaniza, aperfeiçoando-se na configuração à pessoa de Cristo. É essa perfeição existencial suprema da pessoa humana pela qual deve se orientar o ato empático.

Inspiração para o presente

Que Edith Stein, ou melhor, Santa Teresa Benedita da Cruz, nos inspire nessa busca do conhecimento pessoal e do conhecimento do outro para podermos assim vivenciarmos as nossas relações de forma empática em nossas comunidades.

Santa Teresa Benedita da Cruz, rogai por nós!

Manuele Porto Cruz – Mestre em filosofia pela Universidade de Brasília, tendo como tema da dissertação de mestrado: "Pessoa, Comunidade e Empatia em Edith Stein".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/edith-stein-e-a-empatia/

7 de agosto de 2024

Diaconato permanente: homens casados fazem parte do clero

Os diáconos fazem parte do clero e podem ser casados

Você sabia que alguém casado pode fazer parte do clero? Se não, fique tranquilo. Há pouco tempo, nossas comunidades estão redescobrindo esse grande sinal concreto do amor de Deus na Igreja, o diaconato permanente, restaurado pelo Vaticano II. O que muitos não sabem é que os diáconos já existiam no tempo dos apóstolos e tinham uma função bem específica, diferente do sacerdote e do bispo, mas também participam do sacramento da ordem.

Diaconato, sinal do amor da Igreja primitiva

Estamos antes do ano 40 da era cristã. No meio da comunidade primitiva, surge um grave problema de ordem social: as viúvas estão abandonadas e passam fome. Os Doze, conscientes de sua missão na liturgia e na pregação, sabem que a caridade não pode ser somente pregada, mas deve ser vivida.

Diaconato permanente homens casados fazem parte do clero

Créditos: arquivo pessoal/ Diacono Nelsinho Corrêa

Por isso instituem um grupo de homens sábios e piedosos que devem ser responsáveis por servir, cuidar e ajudar (no grego, diakonéo) os que mais necessitam (At 6,1-6). Conhecemos bem a história de um desses primeiros diáconos: Santo Estevão (At 6,8–7,60), que é perseguido e mostra que sua inclinação para a caridade o leva a doar sua própria vida pelo Evangelho.

Esses homens são uma encantadora inspiração da Igreja primitiva, como sinal concreto do amor de Deus. São uma prova concreta de que a caridade corria no sangue e estava impressa na alma dos primeiros cristãos. Estão tão presentes nas primeiras comunidades, que, constantemente, aparecem nas cartas de Paulo, que chega a apresentar as qualidades e virtudes dos diáconos na Primeira carta a Timóteo (1Tm 3,8-13).

A retomada do Diaconato na Igreja

Santo Inácio de Antioquia reconhece a necessidade do diaconato no Período Apostólico, dizendo que é impensável uma Igreja particular sem bispo, presbítero e diácono (Epist. ad Philadelphenses, 4). O trabalho incansável pela caridade é uma marca da Igreja primitiva, impressa no trabalho do diácono, que é elencado junto com as outras duas funções hierárquicas. Logo, entende-se que, no sacramento da ordem, há três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconato.

Depois do séc. V, o diaconato, como trabalho permanente de caridade, vai sendo extinguido. Aos poucos, é transformado somente em um passo anterior ao sacerdócio, ou seja, antes da ordenação sacerdotal, o candidato tornava-se diácono. Porém, na renovação eclesial feita pelo Concílio Vaticano II, o Espírito inspira a Igreja a voltar a suas fontes bíblicas e patrísticas. Ao revisitar a Igreja primitiva, o Vaticano II resgata o diaconato permanente em nossas comunidades, lembrando que é parte fundamental da nossa ação comunitária!


O que faz um diácono?

Hoje, na ordenação do diácono, ele pode ser já casado ou celibatário, condição que deve manter depois de sua ordenação. Sua função é auxiliar o bispo no serviço da caridade, sendo também ele um clérigo (Código de Direito Canônico, 266). É daí que vem também sua função litúrgica, pois recebe os dons da comunidade e oferece aos que mais necessitam, trazendo as necessidades deles para a oração da assembleia. Seu ministério de caridade não é assistencialismo, por isso também evangeliza pela pregação da Palavra.

O que o Catecismo da Igreja Católica ensina sobre as funções do diácono. Veja só: "Cabe aos diáconos, entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia; distribuir a Comunhão; assistir ao matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir os funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade" (Catecismo da Igreja Católica, 1570).

Diferente do sacerdote, não podem fazer a consagração do pão e do vinho, não absolvem os pecados nem administram a unção dos enfermos.

É comum encontrar os diáconos nas comunidades bem ocupados. Fazem o serviço de caridade, estão nas ações litúrgicas da Igreja – até em Missas presididas pelo Papa, eles proclamam o Evangelho –, presidem os sacramentais. Eles, continuamente, lembram a Igreja que o Reino de Deus é formado por atitudes de amor concretas dentro das comunidades! Sem a caridade vivida, a evangelização torna-se discurso vazio.

Finalmente, se você se pergunta se tem o chamado para o diaconato, conheça um pouco mais sobre o assunto (tem dicas de leitura abaixo!). E não perca tempo: procure, em sua diocese, o responsável pelo diaconato permanente para fazer um caminho de discernimento.

Para conhecer mais
Textos bíblicos: At 6,1-6; 1Tm 3,8-13; Fl 1,1.
Catecismo da Igreja Católica: 886, 896, 1256, 1538, 1554, 1569-1574, 1588, 1596.
Código de Direito Canônico: 266, 232-264; 265-272, 273-289, 290-293, 1016, 1030-1040, 1168- 1169.
Congregação para a Educação Católica e Congregação para o clero. Normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes e Diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes
CNBB. Diretrizes para o diaconato permanente da Igreja no Brasil (Documento 96).

Fabrizio Zandonadi Catenassi
Mestre e doutorando em Teologia (PUCPR); professor de Sagrada Escritura (Católica SC); membro da diretoria da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica; assessora cursos bíblicos e retiros no Brasil e na América Latina.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/diaconato-permanente-homens-casados-fazem-parte-do-clero/

6 de agosto de 2024

Subindo o monte com Jesus: a experiência do Céu na Terra

Testemunhando a Glória Divina: A Transfiguração de Jesus

Festa da Transfiguração do Senhor é uma festa que, segundo a tradição, ocorreu 40 dias antes da Crucificação,  logo, por consequência, 40 dias depois, 14 de setembro, ocorre a festa da Exaltação da Santa Cruz.  

Conforme o evangelho lido na festa da Transfiguração(Mc 9,2-10), Jesus toma Pedro, Tiago e João consigo para  subir ao monte. Leva esses 3 apóstolos pois, conforme São Tomás de Aquino diz, essas escolhas tinham  explicação:  

  •  Pedro, era o discípulo que mais amava Jesus  
  •  João, era o discípulo que Jesus mais amava  
  •  Tiago, porque em Mt 20,22, junto com o irmão, disse que beberia do mesmo cálice que Nosso Senhor,  Jesus  

Um vislumbre da glória celestial

Jesus mostra a esses escolhidos o que é um corpo glorificado, que um dia eles terão, ao estrarem no Céu.  Aquele momento então era uma experiência do Céu. Não à toa, conforme a leitura, Pedro diz: "É bom ficarmos  aqui" (Mc 9,5). Devia estar muito bom mesmo pois, não somente Jesus estava com eles, mas também Moisés,  representando a lei, e Elias, representando os profetas.  

"A transfiguração de Cisto" – Créditos: Peter Paul Rubens/Domínio Público

Vestígios do Céu

De tal forma foi a transfiguração que até suas vestes ficaram brilhantes e brancas, a tal ponto que, diz a  Palavra, nenhuma lavadeira poderia deixar em tal brancura. Isso demonstra ainda que, no Céu, não se permite  sujeira alguma, nem nas vestes celestiais. Somente santos entram no Céu. Não basta ser salvo, precisa ser  santo.  

A presença de Jesus é suficiente

Pedro, com o ímpeto que já lhe era peculiar, diz ainda que desejava fazer 3 tendas para Jesus, Moisés e Elias.  Esqueceu-se até de tendas para ele e os outros 2 apóstolos. Importava somente estar com Jesus, Elias e  Moisés naquela experiência de Céu que viviam. Fica claro aqui que estar com Jesus já é o suficiente para nós.  Não precisamos de mais nada. Se você está valorizando outras coisas, além de Jesus, dando valor a outras  questões, que não seja Jesus, saiba que essa ordem não é a correta e precisa ser reavaliada. Jesus precisa ser  o suficiente em sua vida. Precisa ter o 1º lugar em sua vida.  

 

Um segredo divino

Chama atenção ainda que o Jesus que conheciam vivia como nós, tinha fome, sede, chorava, mas, nesse  momento, Jesus se mostra por inteiro. Mostra toda a sua Glória, e só mostra a esses 3 apóstolos. Eles viram  algo tão tremendo que, ao descerem da montanha, Jesus diz a eles que não deveriam contar a ninguém.  

A voz do Pai

Para dar maior clareza da experiência de Céu que estavam vivendo, uma nuvem desce sobre eles e uma voz diz  "Este é meu Filho amado. Escutai o que ele diz" (Mc 9,7). Sim, o Pai vem novamente, da mesma forma que no  batismo de Jesus, quando também chama Jesus de Filho Amado. Essa manifestação de Deus vem para selar  esse grande momento.  

O chamado à Transfiguração hoje

Na festa da Transfiguração de 2021, Papa Francisco disse: "A festa da Transfiguração do Senhor nos recorda  que somos chamados a experimentar o encontro com Cristo". Com isso, podemos entender que, no dia de  hoje, Jesus está chamando a mim e a você para subir o monte com Ele para rezar. Para nos afastarmos do  mundo por um tempo e ficar somente com Nosso Deus e rezar. Ter uma experiência do Céu. Lá, que é o meu e  seu lugar.  

Que tal? Pedro, Tiago e João subiram ao monte. E você? Qual será sua resposta? Vamos subir com Jesus o  monte? 

 

Junior Alves – Missionário da comunidade Canção Nova,  Graduado em Ciência da Computação(UFRJ) e Mestre em Administração de Empresas(PUC/RJ) 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/festa-da-transfiguracao-experiencia-de-fe/

5 de agosto de 2024

Sacerdote, ministro revestido de dignidade

A missão sublime do sacerdote: ponte entre o céu e a terra

O padre, com olhar carregado de compaixão e fé, abraça uma vocação que encontra seu propósito no altar, na palavra divina que busca conforto e na comunidade que serve. A verdadeira extensão do amor! 

Agosto, mês de celebrar o sacerdócio

No mês de agosto, celebramos o Dia do Padre, aquele escolhido por Deus para ser Seu ministro e, portanto, revestido de dignidade. É pelo sacerdote, que empresta a Cristo todo o seu corpo e o seu ser, que temos acesso à Misericórdia do Pai do Céu pelo sacramento da confissão, adoramos ao Senhor na Eucaristia e obtemos a unção dos enfermos. Foi Ele quem ministrou o sacramento do batismo em nós, estava lá em nosso casamento abençoando as alianças.

O chamado para a vocação sacerdotal

Créditos: Wesley Almeida/Arquivo cancaonova.com

Construindo pontes entre o Céu e a Terra

Cada Missa celebrada, cada sacramento administrado, cada palavra de consolo oferecida são tijolos que constroem uma ponte entre o Céu e a Terra, um farol de esperança para os corações e um testemunho silencioso da graça divina que o escolheu para guiar Seu rebanho.

O chamado, a entrega e a renúncia

Esse chamado veio de Deus, e quantas coisas ele passou para chegar até aqui e dar-se por inteiro em sua missão! As poucas horas para estudar e nos formar na doutrina católica, sem deixar de lado a sua vida de oração, o seu sustento nessa jornada.

Ele é pastor e tem por ofício levar suas ovelhas rumo a Deus nessa entrega total em meio a alegrias e tristezas, as quais fazem parte da arte humana de viver nessa existência.

Rumo à santidade em conformidade com Cristo

O sacerdote, por assim dizer, é convocado a uma vida de renúncia e, muitas vezes, de coisas valiosas e real grandeza, pois ele foi enviado em vista da caridade e da santidade, que não vêm em segundo plano ou de um patamar mais baixo; é uma luta constante rumo à conformidade a Cristo, correspondendo à graça divina.

A grandeza do chamado ministerial: a identidade de Cristo

É lindo saber que, nesse chamado ministerial, há uma grandeza insuperável neste mundo, pois está em sua identidade, a de Jesus Cristo. Não quero que diminua a reverência que se deve professar pelos sacerdotes, porque a reverência e o respeito que se lhes manifesta, não se dirige a eles, mas a Mim, em virtude do Sangue que lhes dei para que o administrasse. (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, cap. 116; Cfr. Ps CIV, 15).

Rezemos pelos sacerdotes, guiados por Maria

Rezemos pelos padres, peçamos a Virgem Maria que volte aos trilhos aqueles filhos prediletos que necessitam de sua ajuda maternal. Cabe a nós não fazer julgamentos, pois isso cabe ao próprio Deus que os chamou. Rezemos, rezemos por esses pastores de Deus que nos levam diariamente o Cristo Vivo para ser nosso alimento.

Maria, Mãe da Eucaristia

Quem pode, melhor do que Maria, fazer-nos saborear a grandeza do mistério eucarístico? Ninguém pode, como ela, ensinar-nos com quanto fervor devemos celebrar os santos mistérios e deter-nos em companhia do Seu Filho escondido sob as espécies eucarísticas. Por isso, a ela, recordo a todos, entrego especialmente os mais idosos, os doentes, quantos se encontram em dificuldade. Nesta Páscoa do Ano da Eucaristia, apraz-me fazer ressoar para cada um de vós a doce e reconfortante declaração de Jesus: "Eis a tua Mãe" (Jo 19, 27). (Carta do Santo Padre João Paulo II Aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de2005).

 

Micheline Teixeira – Missionária da Comunidade Canção Nova, Graduada em Administração com complemento dos estudos em Marketing. Atualmente, cursa pós-graduação em Logoterapia. É diretora, produtora e jornalista no Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/sacerdote-ministro-revestido-de-dignidade/

31 de julho de 2024

A oração é a base da vida espiritual

Embora a vida espiritual seja dom de Deus e os sacramentos sejam os verdadeiros motores que a criam e sustentam, a oração, ou o ato de rezar, é o combustível que alimenta o crescimento da espiritualidade. Dito de outra forma bem explícita: não existe vida espiritual sem oração.

Ela é a maneira como cada um se coloca, conscientemente, sob os cuidados de Deus, procurando conhecê-Lo e se tornar conhecido por Ele, procurando entender e fazer a vontade d'Ele.

Não é um erro menor se esquecer de rezar e não procurar conhecer como a oração aumenta nossa intimidade com Deus. Se, no céu, estaremos em plena união com o Altíssimo, o que seria mais importante no mundo do que conhecer, treinar e aprofundar-se nessa intimidade?

Santa Teresa D'Ávila define a oração como um trato de amizade com Deus. Isso porque, com os nossos grandes amigos, trocamos confidências, falamos dos nossos pensamentos mais íntimos, nossas angústias e sonhos. Somos livres para nos expor sem medo de sermos julgados.

Créditos: Kamonwan Wankaew por GettyImages/cancaonova.com

A oração, vida da alma

Esse é um detalhe valioso da oração: ela nos ajuda a ordenar nosso interior, nossa inteligência e vontade a partir de uma perspectiva do alto e da eternidade.

Exponho-me e, enquanto me exponho, também me analiso e percebo as mentiras que conto para mim mesmo, os erros e desvios do caminho, a minha falta de atenção com as coisas mais importantes da vida.

Rezar nos ajuda a construir em nós esse caminho de aperfeiçoamento que não é para mostrar para os outros, não é para se gabar, mas para que estejamos mais próximos do Criador e de Sua vontade.

Orações vocais

E se não existem pré-requisitos para a oração , por que não iniciar logo?

As chamadas orações vocais são acessíveis a todos. Este é o formato mais simples de oração. Ela se dá quando falamos com Deus, daí o nome vocal. E podemos falar com Deus usando nossas próprias palavras ou repetindo uma oração tradicional como a Ave-Maria ou o Pai-Nosso.

Não é necessário mover os lábios. Se conversamos com Deus ou usamos uma oração decorada dentro de nossa cabeça, sem que ninguém ouça nada, isso já é uma oração vocal, pois se usam palavras.


Cuidados na oração vocal

Mas cuidado: o problema de repetir orações decoradas é o automatismo. E não existe verdadeira oração ou verdadeiro cristianismo no piloto automático, como ir à missa por puro hábito, rezar porque "é hora" ou "está acostumado", sem uma verdadeira corrente interior, prejudicando a vida espiritual.

Sem querer, começamos a viver o que vivíamos, o farisaísmo, tão combatido por Jesus nos Evangelhos: por fora, sepulcros bonitos e pintados, gente que reza sem parar; por dentro, somente podridão, pois a oração não está conectada com o coração (Mt 23,27).

Então, se nos dispomos a rezar, é necessário fazermos com verdadeira atenção: com sentido, sabendo o que se está falando, sabendo com Quem está falando. Atenção e piedade são, portanto, fundamentais.

Santa Teresa Ávila e São Tomás de Aquino

A mesma Santa Teresa, doutora da Igreja, deixa bem claro que, quando falamos ou repetimos fórmulas prontas sem prestar atenção com quem falamos, do que falamos e sem estarmos com nosso coração e mente envolvidos no que fazemos, não estamos rezando.

Esse repetir palavras sem consciência não é oração para a Santa de Ávila. A oração verdadeira só se dá quando nossa inteligência e vontade estão unidas com atenção, com reverência e amor em um relacionamento com Deus. O resto é mover os lábios, não é ministro falar com Deus. 

Mas que fique bem claro para todos: não há problema em repetir Pais-Nossos, Ave-Marias ou quaisquer outras orações, desde que se esteja atento ao que se está fazendo, ou seja, sua mente e seu coração estejam envolvidos no processo. A verdadeira oração é diálogo, não enxurrada de palavras perdidas e desatentas (Mt 6,6).

São Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, fez um exame detalhado de todas as características da oração e do ato de rezar com verdadeiros frutos, cumprindo os conselhos evangélicos.

Afinal, rezar sem cessar, interceder por nossos inimigos e, inclusive, realizar súplicas e pedidos a Deus, é interceder para nossa própria salvação e bem.

Para aqueles que desejam crescer em oração e se aprofundar nesse conhecimento, recomendo o livro "A Oração segundo os doutores da Igreja". Com certeza, a vida de oração vai adquirir um novo significado aos seus olhos.

No próximo artigo, trataremos sobre a oração mística ou contemplação, um passo além na vida de oração.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/a-oracao-e-a-base-da-vida-espiritual/

30 de julho de 2024

A importância da virtude da esperança em tempos difíceis

A esperança em tempos difíceis

O Catecismo da Igreja Católica inicia as reflexões sob as virtudes teologais afirmando: "As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão, informam e vivificam todas as virtudes morais" (CIC 1813).

Nunca se fez tão necessário conhecer, desejar e pedir a Deus as virtudes da fé, esperança e caridade como nos tempos atuais, onde muitos são os acontecimentos que nos desanimam e nos fazem duvidar se Deus ainda olha pela humanidade. Confesso que, entre as virtudes teologais, a que sempre se destaca em minha busca nos estudos é a virtude da esperança, sem dúvida nenhuma, graças à influência de São João Paulo II, que, em todo o seu pontificado, foi um entusiasta de tal virtude, e é o meu santo de devoção.

A virtude da esperança

O que é a virtude da esperança?

CIC 1817. A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. "Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que fez a promessa é fiel" (Hb 10, 23). "O Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornemos, em esperança, herdeiros da vida eterna" (Tt 3,6-7).

Se você deseja ser santo e viver a sua vida cultivando a fé e o amor por onde passar, até chegar no céu, é preciso, antes de tudo, desejar e pedir a Deus a virtude da esperança, que caminha junto com o desejo pelo reino dos céus.

Pare e pense, agora, antes de continuar essa leitura: como anda, em seu interior, a esperança e o desejo pela eternidade?

Se for possível, peça a Deus, agora mesmo: "Desperta, Senhor, em meu coração, a esperança que não decepciona, como nos ensina São Paulo em Romanos 5,5".


A esperança em ação segundo Bento XVI

Bento XVI dedica toda uma encíclica à esperança, a Spe Salvi. Descreve-a como uma virtude performativa, capaz de "produzir fatos e mudar a vida". Na sua encíclica escreve: "A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho" (Spe Salvi).

Esperança frente ao medo

Em seu discurso na sede da ONU, em 1995, o Papa João Paulo II nos deixou essa herança espiritual no combate ao medo que, muitas vezes, aprisiona e paralisa:

A esperança não é um otimismo, ditado pela confiança ingênua de que o futuro é necessariamente melhor que o passado. Esperança e confiança são a premissa de uma atuação responsável e têm o seu apoio no íntimo santuário da consciência, onde o ser humano está a sós com Deus, e por isso mesmo intui que não está só entre os enigmas da existência, porque está acompanhado pelo amor do Criador (Discurso à ONU, 5.10.1995).

Reacendendo a chama da esperança

No livro 'Liberdade interior', padre Tiago Felipe ensina que é graças à virtude da esperança que, todos os dias pela manhã, podemos recomeçar e nos decidirmos a amar.

Pela fé que transporta montanhas e o amor que tudo pode superar, recorra, hoje mesmo, a crescer pela graça de Deus na busca diária para colocar em prática o sentido da sua esperança que não está enraizada nas coisas que passam, mas na eternidade.

A esperança nunca decepciona (Romanos 5,5)

Saulo Macena – Missionário da Comunidade Canção Nova desde 2009. Morou por seis anos na missão Canção Nova na França. Saulo é natural da cidade de Fortaleza (CE). Casado, ele é pai de uma filha. Graduando Teologia no Centro Universitário Internacional (Uninter) com especialização em teologia da história e comunicação salesiana.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/a-importancia-da-virtude-da-esperanca-em-tempos-dificeis/