25 de maio de 2024

Filha testemunha a alegria da adoção

Não nasci do útero de minha mãe, mas nasci do coração dela!

A prática da adoção ainda é um desafio a ser vencido no Brasil, no entanto, muitas famílias têm superado as barreiras do preconceito e da dúvida e colhido os frutos da bela decisão. Como é o caso da fisioterapeuta Maria Isabel Ferminio, que contou ao formacao.cancaonova.com como foi sua história de adoção.

Redação: Com quantos anos você foi adotada? E como aconteceu todo o processo?

Fui adotada com quatro meses de gestação. Minha mãe biológica não tinha condições de me criar e o meu pai biológico não queria assumir um relacionamento com ela, nem me assumir por julgar que ele não era realmente o meu pai. Minha avó biológica, após a tentativa de aborto frustrada da minha mãe, quis, de imediato, procurar um família que pudesse me adotar. Então, ela partilhou a história com a minha mãe adotiva, que trabalhava na mesma escola que ela. Em conversa com meu pai e com meus irmãos adotivos, eles me disseram que, desde então, me adotaram no coração. No dia seguinte ao meu nascimento, fui diretamente para a casa da minha família adotiva.

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Redação: Você foi adotada ainda no período de gestação. Como sua família se preparou para receber você?

Quando foi acertada a minha adoção, não sabiam o meu sexo ainda, e a expectativa era se seria menino ou menina. Assim que souberam que eu era uma menina, pouco a pouco meus pais foram comprando o enxoval. Minha mãe disse que compraram apenas o básico, pois eles ganharam muitas roupinhas e coisinhas de bebê. E sempre combinaram em me dizer a verdade sobre a minha origem.

Redação: Como seus irmãos a acolheram?

Muito bem! Meus irmãos sempre foram maravilhosos. Minha irmã, por ser vinte anos mais velha que eu, se organizava no trabalho para sair mais cedo, e meu pai poder trabalhar no período da tarde. Meu irmão, 10 anos mais velho, hoje falecido, também cuidava de mim. Recordo-me, até hoje, que, muitas vezes, ele deixou de sair para brincar com os amigos, para poder cuidar de mim. Nunca houve nenhum tipo de diferença entre nós, penso até que fui paparicada demais.

Redação: Como foi o relacionamento com sua mãe?

Sempre me relacionei muito bem com ela. Eu a admiro muito pela coragem de ter me adotado e a forma como ela e meu pai me criaram. O cuidado que sempre teve comigo é digno de toda admiração que tenho por ela! Não nasci do útero dela, mas nasci do coração!


Redação: Em que sua mãe contribuiu na sua formação, para você se tornar uma mulher e uma profissional tão cheia de valores?

Em tudo. Percebo o quanto a minha mãe me ensinou a fazer as escolhas certas, a liberdade na dose exata para cada momento, os incentivos nos momentos em que tive vontade de desistir, as broncas quando estas foram necessárias. Foi o amor dela que me impulsionou a dar passos e a ter a ousadia que, muitas vezes, julguei não ter. Aos poucos foi me moldando em tudo que sou hoje, e sou grata a ela por tudo isso, não sei como medir isso em palavras.

Redação: Como foi descobrir que seus pais a adotaram? Como você reagiu?

Eu percebia que eu era muito diferente das pessoas em casa. Sou negra e todos eles são brancos; meu irmão é um pouco mais moreno, mas bem parecido com minha mãe. Então, certo dia, perguntei se, quando ela estava grávida de mim, havia tomado muita Coca-cola e café, porque eu era mais escura que todos eles, ou se era porque eu havia sido adotada. E ela disse que havia me adotado. No início, eu fiquei sem entender, e perguntei por que meus pais biológicos não haviam ficado comigo, e minha mãe me explicou que eles não tinham dinheiro para me criar. E conforme eu fui crescendo, ela foi me contando o restante da história e nunca me escondeu nada.

Redação: Você conheceu a sua mãe biológica? Como foi o contato com ela?

Não sabia como iniciar a conversa com ela ao conhecê-la, pedia que ela contasse a minha história e, depois, lhe fiz algumas perguntas. Ela chorou muito durante a partilha e me pediu perdão. Eu a agradeci por ter me dado a meus pais em vez de tentar novamente me abortar.

Redação: Qual foi sua expectativa ao conhecê-la?

Eu queria saber se eu era parecida fisicamente com ela, mas não vi tanta semelhança. De certa forma, gostei. Fiquei muito feliz em saber que, ao longo de minha vida, meus pais adotivos nunca omitiram nada da minha vida. A mesma história que eles me relataram foi a mesma que minha mãe biológica me contou.

Deixe uma mensagem para essas mulheres.

A generosidade materna é capaz de gestar, no coração, a vida de alguém que Deus lhe confiou por amor. Deus proverá todas as coisas.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/filha-testemunha-a-alegria-da-adocao/

19 de maio de 2024

Junte-se a nós em Oração neste Dia de Pentecostes


Sem vida de oração, é impossível um Pentecostes constante e atual em nossa vida. Neste dia, nesse dia tão especial de oração ao Espírito Santo, nesse dia de Pentecostes, nós somos convidados pelo próprio Espírito a uma experiência profunda e íntima com a sua pessoa.

O Espírito que é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito que é a vida da nossa vida, a alma da nossa alma. Sem ele, nada o homem pode. Somos dependentes do Espírito Santo.

Por isso quero convidar você, meu irmão, minha irmã, a neste dia, neste domingo de Pentecostes, quero convidar você a abrir o seu coração para uma experiência com o Espírito Santo. Uma experiência de amor, uma experiência de abandono.


Convido você a rezar nesta hora, no silêncio do seu coração, ou com as suas palavras, a rezar pedindo a presença e o auxílio do Espírito Santo. Vinde Espírito Santo sobre nós. Vinde Espírito Santo sobre o nosso coração. Vinde Espírito Santo e encha-nos da sua presença, encha-nos da sua unção, encha-nos da sua alegria.

Dai-nos Senhor Jesus, a graça de sermos neste dia batizados no teu Espírito Santo.

Guilherme Costa seminarista da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/junte-se-nos-em-oracao-neste-dia-de-pentecostes/


15 de maio de 2024

Pentecostes e o início do Tempo da Igreja


Após a vinda do Espírito Santo no Pentecostes, a Igreja pode ser chamada: "povo congregado na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo".

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A origem da Igreja é discutida, porém, mais do que "discutida" deve ser "reconhecida". O mistério da Igreja (assembleia) que permanece em unidade com Cristo é tão profundo que não pode ser estabelecido um único ponto histórico de origem, mas deve ser reconhecido como um processo que se desenvolve ao longo do Novo Testamento. É no decorrer da Sagrada Escritura que o rosto da esposa de Cristo vai sendo desenhado por Deus.

Não existe um só ponto de origem da Igreja, pensar assim seria olhar de forma linear, e puramente histórica. Existe uma dimensão teológica a respeito desta questão que não nos permite olhar desta forma, antes nos convida a fazê-lo a partir de diversas perspectivas. Sendo assim, podemos dizer que cada uma das perícopes mencionadas acima fala da origem da Igreja em alguma dimensão particular (histórica, pastoral, sacramental, esponsal, missionária, etc.).

O batismo do Espírito

Os Apóstolos não iniciam a evangelização imediatamente depois de que Jesus ascende aos Céus. Ora, eles já conheciam a sua missão: pregar o Evangelho e batizar. Eles não estavam prontos? Os quarenta dias de convívio com o Ressuscitado não seriam suficiente para começar a pregação do Evangelho?

Vejamos bem, a Igreja, esposa de Cristo, unida a Cristo pelo vínculo indissolúvel da Cruz, procura em tudo imitar o seu Esposo. Se a missão de Jesus começou com o batismo, no qual o Senhor recebeu o Espírito Santo (cf. Mc 1,9-11; Mt 3,13-17; Lc 3,21-22), da mesma forma, a Igreja deve receber o batismo do Espírito, que a levará a realizar a sua missão: o Pentecostes. Efetivamente, antes da sua Ascensão, Jesus deixou à sua Igreja duas missões, pregar o Evangelho (cf. Mc 16,15; Mc 3,14) e batizar (Mt 28,19), no entanto, foi só depois da vinda do Espírito Santo que os Apóstolos iniciaram a missão.

Ensina o Concílio Vaticano II: "Consumada a obra que o pai confiara ao Filho para que ele realizasse na terra (cf. Jo 17,4), no dia de Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja, e assim dar aos crentes acesso ao Pai, por Cristo num só Espírito (cf. Ef 2,18)" E ainda: "Sem dúvida o Espírito Santo já agia no mundo, antes ainda de que Cristo fosse glorificado. Contudo, foi no dia de Pentecostes que ele desceu sobre os discípulos, para permanecer com eles eternamente (cf. Jo 14,16), e a Igreja apareceu publicamente diante da multidão e teve o seu início a difusão do Evangelho".

O envio no Espírito

"Todos os evangelistas, ao narrarem o encontro de Cristo Ressuscitado com os Apóstolos, concluem com o mandato missionário (cf. Mt 28, 18-20; cf. Mc 16, 15-18; Lc 24, 46-49; Jo 20, 21-23). Esta missão é envio no Espírito, como se vê claramente no texto de S. João: Cristo envia os Seus, ao mundo, como o Pai O enviou a Ele; e, para isso, concede-lhes o Espírito. Lucas põe em estreita relação o testemunho que os Apóstolos deverão prestar de Cristo com a ação do Espírito, que os capacitará para cumprir o mandato recebido".

Após a vinda do Espírito Santo no Pentecostes, a Igreja pode ser chamada: "povo congregado na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Ora, se na economia da salvação o Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade a se revelar, somente após a sua descida dos céus sobre a Igreja, é que a Igreja tem acesso pleno a Deus para realizar a sua missão. Se bem Cristo é o fim da revelação e a ponte que dirige ao Pai, somente o Espírito faz com que o homem a atravesse. Por isso, São João Paulo II afirma que este fato deu início ao "tempo da Igreja".


Fonte: https://comshalom.org/pentecostes-e-o-inicio-do-tempo-da-igreja/


13 de maio de 2024

Não temas! Olhai para os lírios do campo e as aves do céu

Muitas vezes, há uma enorme distância entre o que professamos com nossos lábios e o que vivemos, especialmente na rotina, nos hábitos que se repetem exaustivamente ao longo dos anos. Creio que a maioria dos católicos não se levanta nem vai dormir sem rezar ao menos uma vez o Pai-Nosso, no qual suplica que seja feita a vontade de Deus e que Seu Reino venha até nós. Muitos desses mesmos católicos, contudo, levam suas vidas conduzidos por outras "orações", a exemplo de duas frases presentes em duas canções bastante populares: A primeira diz que "o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído" e a segunda diz "deixa a vida me levar, vida leva eu".

Elas refletem um modo bem comum de viver a vida, como uma sucessão de fatos, um atrás do outro, sem sentido aparente, sem um mistério que a envolva, sem, enfim, a eternidade a lhe fazer sombra. É justamente o contrário daquilo que rezamos no Pai-Nosso. Traduzindo em palavras mais claras, é viver como se Deus não existisse, ainda que se reze, ainda que se professe a fé.

A vigília de Deus

Não é o acaso que nos protege, mas o Senhor, que não dorme nem cochila, o guarda de Israel, que está sempre ao nosso lado para nos proteger. Mas essa não é apenas uma frase pronta para consolar corações aflitos. É uma realidade que traz consequências. O Senhor vela por nós porque nos ama, e por esse motivo não quer que nos percamos, e perder-se é afastar-se de Deus.

Não temas! Olhai para os lírios do campo e as aves do céu

Foto Ilustrativa: ipopba by Getty Images / cancaonova.com

Cristo, no sermão da montanha, nos disse para não nos preocuparmos com o que vestir ou com o que comer, porque se os lírios do campo vestem-se com esplendor e às aves do céu não falta alimento, quanto mais nós seremos cuidados pelo Pai do céu. Não se confunda, entretanto, achando que Nosso Senhor está nos aconselhando a "deixar a vida nos levar", porque Ele conclui seu raciocínio com uma frase fundamental: "Buscai antes de tudo o Reino de Deus e a sua justiça, e o resto vos darão por acréscimo".

Viva conforme a vontade de Deus

Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça não é sentar-se e esperar o maná cair do céu. É colocar a mão na massa, trabalhar sem cessar, mas sem buscar segurança que não seja em Deus, sem tirar os olhos do porto seguro aonde queremos chegar. A continuação da admoestação enviada por Deus por meio do profeta Isaías é clara: "continuarei a tratar esse povo de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá".


O Reino dos Céus não é conquistado por um belo palavreado, nem por eloquentes discursos, mas é "tomado à força e são os violentos que o conquistam". Precisamos ser violentos contra as nossas paixões, nossas hipocrisias, nosso pecado. Precisamos abandonar as máscaras, arregaçar as mangas, reconhecer nossa indignidade e seguir o Senhor até onde ele nos levar, num caminho que invariavelmente passará pela Cruz.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/nao-temas-olhai-para-os-lirios-do-campo-e-as-aves-do-ceu/

10 de maio de 2024

Você sabe a diferença entre querer filhos e querer ser mãe?


A primeira pergunta, na verdade, podemos dizer que é fruto de um desejo bem egoísta, uma satisfação do próprio ego. Muitas mães têm seus filhos como troféus, pois elas os expõem constantemente, exibindo o filho como aquele que "salvou" o casamento dela depois do nascimento dele. Exibem as belas roupas caras que são capazes de dar para esse filho, expõem o seu desenvolvimento e talento, afinal de contas, o filho é especial. E isso é perigoso, porque colocam neles um peso que ainda não são capazes de suportar, mesmo que lhes pareça interessante ou divertido, não é próprio de sua idade.

As mães expõem seus filhos como forma de mostrar que sua família é perfeita. Será que é? Ou será que criou um conto de fadas para essa criança viver? Quando o filho descobrir que não é o príncipe (ou a princesa), qual será a reação dele (a)?

Toda criança passa naturalmente pela fase do narcisismo, egoísmo e egocentrismo. Porém, se essas fases forem estimuladas, pode ser que a criança não dê conta de superá-las e continue presa a elas por toda vida. Pense como é chato e desgastante uma relação com adultos narcísicos, que só pensam no quanto eles podem ser bons, belos e ostentam tudo o que têm! Ou um adulto que possui um grande sentimento de posse, que quer tudo, não se satisfaz com nada e fica envolvido em "ter coisas e pessoas", usa tudo como "objetos" de pertença. Quem sabe ainda, um adulto egocêntrico, que se diz o dono da verdade, que sua palavra e seus pensamentos são sempre os melhores. Tenho certeza de que não será fácil conviver com essas pessoas.

Créditos: by Getty Images / Drazen Zigic/cancaonova.com

Ser mãe é doar amor

Ter filhos é uma resposta à sociedade! Isso revela que sou capaz e viril! Porém, a via do amor passa um pouquinho distante dessa relação social. Não é que aqueles que desejam, a todo custo, ter um filho, não os amem, mas é uma manifestação de amor diferente.


Qual a sua resposta?

Uma vez, ouvi uma mãe dizer a Deus que precisava encontrar seus filhos porque ela sofria a falta deles, e sabia que eles também sentiam a falta do amor de mãe. Deus a ouviu e lhe deu uma filha do coração. Esse é o verdadeiro sentido de ser mãe! Saber que possui um amor tão grande que sente a ausência desse filho, o qual, muitas vezes, vem de forma surpreendente.

Adotar uma criança pode ser um risco para aqueles que não sabem amar. Você quer ser mãe ou quer ter filhos?

Equipe Formação Canção Nova 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/maternidade/voce-sabe-a-diferenca-entre-querer-filhos-e-querer-ser-mae/


8 de maio de 2024

A paz que você procura está no silêncio que você não faz


Em Feira de Santana (BA), minha cidade natal, vi, uma vez, em um quadro negro daqueles bem antigos de escola, a seguinte frase: "A paz que você procura está no silêncio que você não faz".

De fato, essa sentença permaneceu por toda uma vida em minha memória e marcou-me tanto, que, ainda hoje, busco o caminho de como bem vivê-la. Embora eu tenha tido contato com a biografia da vida de santos, com o Catecismo e a Bíblia, confesso que adentrar nessa experiência tem me exigido muito esforço e dedicação.

Certa vez, li que "o silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus" (VD 21). E mesmo parecendo um paradoxo de que no silêncio haja comunicação, pude compreender, a partir disso, que o nosso Deus sempre está presente, seja nas orações permeadas em palavras ou naquelas em que nem sabemos expressar o que estamos sentindo.

"Nas vossas orações, não sejais como os gentios que multiplicam as palavras porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque vosso Pai celeste sabe de que tendes necessidade, antes que vós o peçais" (Mt 6,7-8).

Créditos: Ridofranz / GettyImagens / cancaonova.com

Vamos imitar o silêncio de Jesus

Ademais, Jesus bem sabia o quanto precisaríamos nos calar para nos ouvir e podermos ouvi-Lo, pois Ele mesmo o fazia, retirando-se para o deserto para orar ao Pai do Céu, para fazer jejum e oração e até mesmo para vencer a tentação do demônio.

Jesus é o Verbo encarnado e, no cumprimento de Sua missão na cruz a morrer por nossa salvação, Ele se calou, não abriu a boca e, nessa atitude, nos comunicou a Sua Paixão. O próprio Deus se cala. E nesses momentos sombrios e assustadores em que parece que estamos sós, não tenhamos medo, pois mesmo aí Ele se manifesta no Seu abismo de amor, Ele que é o próprio Amor.


No silêncio, Deus fala conosco

Note que é no silêncio que ouvimos Deus, e no silêncio Ele age em nós. Claro que não vamos parar de falar! O ser humano, afinal de contas, nasceu com capacidade para a comunicação, e isso é lindo e tem o seu valor. Mas se você me permite ainda um pouco mais, aconselho que fuja do barulho na medida do possível, diminua as telas, planeje a sua vida de oração e faça exercício físico, para que toda a ansiedade acumulada no dia a dia possa ser liberada, deixando-nos abertos à vida interior.

Que a Virgem Santíssima nos acompanhe nessa jornada em busca do silêncio fecundo.

Micheline Teixeira
Comunidade Canção Nova  


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/a-paz-que-voce-procura-esta-no-silencio-que-voce-nao-faz/


6 de maio de 2024

Onde encontrar Deus numa sociedade que O nega?


Estamos vivendo na sociedade da pós-modernidade marcada pelo crescente individualismo, materialismo, consumismo, hedonismo, pela intolerância e violência. A ordem social é legitimada não mais pela religião e ética, mas pelo mito do progresso científico. Tudo é justificado em nome do progresso e da felicidade. A ética dá lugar à técnica, e esta se torna a resposta e a solução para todas as coisas, incluindo a busca de sentido para a existência humana. Surge o mito do progresso, e, com isso, a tradição, a religião são vistas como algo profundamente negativas e obsoletas.

Enquanto nas sociedades tradicionais, a esperança na Vida Eterna orientava as pessoas e fundamentava os seus valores, agora, busca-se o paraíso terrestre, cuja construção se dará pelas mãos humanas conduzidas pela razão, pelas ciências em busca da felicidade aqui e agora. Todos os desejos individuais se realizarão através do progresso técnico-científico, e não mais por meio da graça divina. Para muitos, Deus se tornou até mesmo desnecessário ou está "morto".

No entanto, morte, miséria, violência, corrupção, frustrações pessoais, dúvidas existenciais, aumento da ansiedade, no índice de suicídios, desastres ecológicos etc., continuam existindo. Como diz Dráuzio Varella: "A depressão foi considerada pela Organização Mundial da Saúde como o 'mal do século XXI'. Doença silenciosa, ela ainda é incompreendida inclusive por quem sofre do problema. Já fala-se sobre uma epidemia de depressão, pois ela atinge 10% da população mundial, e esse índice aumenta a cada ano".

Descristianização da sociedade

Papa Bento XVI descreve esta realidade com clareza: "Se hoje existe um problema de moralidade, se hoje existe o problema da decomposição moral na sociedade, é resultado, sem dúvida, da ausência de Deus em nosso pensamento, em nossa vida". Ainda o Papa Bento XVI, viver sem Deus provoca "a decomposição moral", manifestada no individualismo, hedonismo, consumismo, exploração do outro e utilitarismo.

Créditos: AzmanJaka / GettyImagens / cancaonova.com

Alguns afirmam que está acontecendo um rápido estado de descristianização da nossa sociedade, da "morte de Deus" e isso tem se mostrado pelo aumento no número de pessoas que se declaram ateus ou dizem acreditar em uma divindade, mas vivem como se não existisse, que também é uma forma de ateísmo.

As perguntas que faço aqui são estas: "Onde podemos encontrar Deus numa sociedade que O nega e até mesmo O expulsa?" Posso afirmar que: "uma vida 'habitada' por Deus é bem diferente de uma vida deserta, sem Deus, encerrada nos estreitos limites humanos"? "Em que consiste esta diferença?"

A sociedade pós-moderna tem mostrado muitos caminhos, porém, são caminhos que ignoram a presença de Deus e dos seus valores na vida das pessoas. Deus se tornou alguém cada vez mais distante, desnecessário ou sem importância. O Papa Bento XVI afirma: "Não temos mais coragem de acreditar que o homem é tão importante aos olhos de Deus e que Ele sempre cuida de nós e se preocupa conosco". Muitas pessoas vivem como se Deus não existisse, construindo suas vidas sem contar com Ele.

O sentido da vida

Tudo isso é uma tentativa de levar o homem a negar a sua própria essência, o mais profundo do seu ser, que é a presença de Deus em nós. Esta presença que dá sentido à nossa existência, que nos sacia e realiza. Podemos afirmar que só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.

A sede de Deus é condição da existência humana como afirma Santo Agostinho: "Criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Vós". O homem se realiza somente em Deus. Negar esta verdade é negar a si mesmo. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e por isso não temos como fugir dessa realidade. O sentido da vida não está no acúmulo de riquezas, na busca desenfreada do poder e do prazer, porque não são capazes de nos livrar da morte, mas em buscar as coisas do alto, porque o sentido do viver está em Cristo e, n'Ele, nos tornamos ricos para Deus.

O homem procura Deus

Todos nós somos pessoas a quem Deus inquieta: há um "algo" na natureza do homem que o abre e projeta para o transcendente, que o leva a interrogar-se continuamente sobre Deus e a tentar encontrar o seu rosto. Portanto, Deus não é totalmente evidente: "Agora, nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face. Agora, conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido" (1Cor 13,12). Se confiarmos apenas nos nossos sentidos, Deus não existe: não conseguimos vê-Lo com os nossos olhos, sentir o seu cheiro ou tocá-Lo com as nossas mãos.

É extremamente existencial o que reza o salmista e expressa muito bem o grande desejo do homem:

"Assim como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh'alma por vós, ó meu Deus! Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? O meu pranto é o meu alimento de dia e de noite, enquanto insistentes repetem: 'Onde está o teu Deus?' Recordo saudoso o tempo em que ia com o povo. Peregrino e feliz caminhando para a casa de Deus, entre gritos, louvor e alegria da multidão jubilosa. Por que te entristeces, minh'alma, a gemer no meu peito? Espera em Deus! Louvarei novamente o meu Deus Salvador! Minh'alma está agora abatida, e então penso em vós, do Jordão e das terras do Hermon e do monte Misar" (Salmo 41 (42), 2-7)

Carência e solidão

Nosso ser continuamente clama pela presença de Deus, e tentar fugir de Deus é querer fugir de si mesmo, e isso é impossível e insuportável.


Antropologicamente, o ser humano é carente do outro e do grande Outro. Existe em nós uma abertura natural para o outro e para o transcendente. Essa abertura do ser humano, que dá sentido à existência, coloca-nos em busca por Deus, a fim de que a vida possa ser preenchida e totalmente realizada. Este desejo é a procura pelo Amor e pelo Amado. Deus continuamente quer saciar nossa sede: "Quem tem sede, venha a mim, e quem quiser, receba, de graça, a água da vida" (Ap 22,17).

A presença de Deus é vital

No Salmo 42, o salmista afirma que tem sede de Deus e que O deseja: "(…) a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo". O salmista nos recorda que Deus é desejado pelo ser humano, que Ele é buscado pela existência. A presença de Deus é vital para a realização do ser humano, tal como a água para o animal sedento. A existência humana, muitas vezes não compreendida, anseia por Deus, pelo Deus vivo, a fim de que a sede de sentido da vida seja saciada.

A crise existencial da humanidade é, sem dúvidas, provocada pela "ausência" de Deus no coração do homem. À medida que nos fechamos para Deus, viramos as costas para Deus, perdemos em nossa essência, e por isso dizemos que o problema mais profundo em nossa vida é a ausência de Deus, ou seja, a falta de consciência de que Deus e o Seu Reino já estão no meio de nós.

Rezemos com o Salmo 62(63) 2-9:

"Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro. A minha alma tem sede de Vós. Por Vós suspiro, como terra árida, sequiosa, sem água. Quero contemplar-Vos no santuário, para ver o vosso poder e a vossa glória. A vossa graça vale mais que a vida: por isso os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores. Assim Vos bendirei toda a minha vida e em vosso louvor levantarei as mãos. Serei saciado com saborosos manjares e com vozes de júbilo Vos louvarei. Quando no leito Vos recordo, passo a noite a pensar em Vós. Porque Vos tornastes o meu refúgio, exulto à sombra das vossas asas. Unido a Vós estou, Senhor, a vossa mão me serve de amparo."

Lemos no Evangelho de Mateus 14,22-33 que, depois da multiplicação dos pães e tendo despedido as multidões, Jesus obriga os discípulos a entrarem na barca e, depois, Ele sobe ao monte para rezar. Os discípulos foram surpreendidos pelo mar revolto, a barca agitada pelo vento, Jesus aparece caminhando sobre as águas do lago, "mar" de Tiberíades ou Genesaré. Jesus salva Pedro ao tentar caminhar sobre as águas "Senhor, salva-me!" e depois acalma a tempestade, isto é, a vitória de Jesus: "Assim que subiram no barco, o vento se acalmou".

A cena acontece à "noite", representa as trevas, a escuridão, a confusão, a insegurança, o medo em que tantas vezes "navegam" na vida dos discípulos de Jesus, sem saber precisamente que caminhos percorrer nem para onde ir; a barca agitada pelo mar revolto, as "ondas" que agitam a barca representam a hostilidade do mundo, que bate continuamente contra homens e mulheres que viajam. Os "ventos contrários" representam a oposição, a resistência do mundo ao projeto de Jesus e na vida dos seus discípulos e discípulas.

Coragem! Não tenhais medo!

Quantas vezes, em nossa viagem pela história, nos sentimos perdidos, sozinhos, abandonados, desanimados, desiludidos, incapazes de enfrentar as tempestades que as forças da morte e da opressão lançam contra nós. É exatamente neste momento que Jesus manifesta a Sua presença. Ele vem ao nosso encontro caminhando sobre o mar, manifestando assim que Ele é o Senhor que tem poder e domínio sobre todas as forças ameaçadoras da vida dos seus discípulos e discípulas.

Jesus é, portanto, o Deus que cuida do seu Povo e que não deixa que as forças da morte o destrua. A expressão "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!" transmite aos discípulos e a cada um de nós a certeza de que nada temos a temer, porque Jesus, o Deus que vence as forças da morte, caminha conosco e nos dá força para vencermos a adversidade, a solidão e a hostilidade do mundo.

A falta de sentido existencial de tantas pessoas, muitas delas jovens, em grande parte se deve à falta de fé, ao vazio interior que promove a crise espiritual. Ter uma vida habitada por Deus é caminhar em Sua presença, e, ao mesmo tempo, ter a certeza de que nossa vida não se tornará um deserto quando preenchida pela presença amorosa de Deus.

Equipe Formação Canção Nova 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/onde-encontrar-deus-numa-sociedade-que-o-nega/