6 de maio de 2024

Onde encontrar Deus numa sociedade que O nega?


Estamos vivendo na sociedade da pós-modernidade marcada pelo crescente individualismo, materialismo, consumismo, hedonismo, pela intolerância e violência. A ordem social é legitimada não mais pela religião e ética, mas pelo mito do progresso científico. Tudo é justificado em nome do progresso e da felicidade. A ética dá lugar à técnica, e esta se torna a resposta e a solução para todas as coisas, incluindo a busca de sentido para a existência humana. Surge o mito do progresso, e, com isso, a tradição, a religião são vistas como algo profundamente negativas e obsoletas.

Enquanto nas sociedades tradicionais, a esperança na Vida Eterna orientava as pessoas e fundamentava os seus valores, agora, busca-se o paraíso terrestre, cuja construção se dará pelas mãos humanas conduzidas pela razão, pelas ciências em busca da felicidade aqui e agora. Todos os desejos individuais se realizarão através do progresso técnico-científico, e não mais por meio da graça divina. Para muitos, Deus se tornou até mesmo desnecessário ou está "morto".

No entanto, morte, miséria, violência, corrupção, frustrações pessoais, dúvidas existenciais, aumento da ansiedade, no índice de suicídios, desastres ecológicos etc., continuam existindo. Como diz Dráuzio Varella: "A depressão foi considerada pela Organização Mundial da Saúde como o 'mal do século XXI'. Doença silenciosa, ela ainda é incompreendida inclusive por quem sofre do problema. Já fala-se sobre uma epidemia de depressão, pois ela atinge 10% da população mundial, e esse índice aumenta a cada ano".

Descristianização da sociedade

Papa Bento XVI descreve esta realidade com clareza: "Se hoje existe um problema de moralidade, se hoje existe o problema da decomposição moral na sociedade, é resultado, sem dúvida, da ausência de Deus em nosso pensamento, em nossa vida". Ainda o Papa Bento XVI, viver sem Deus provoca "a decomposição moral", manifestada no individualismo, hedonismo, consumismo, exploração do outro e utilitarismo.

Créditos: AzmanJaka / GettyImagens / cancaonova.com

Alguns afirmam que está acontecendo um rápido estado de descristianização da nossa sociedade, da "morte de Deus" e isso tem se mostrado pelo aumento no número de pessoas que se declaram ateus ou dizem acreditar em uma divindade, mas vivem como se não existisse, que também é uma forma de ateísmo.

As perguntas que faço aqui são estas: "Onde podemos encontrar Deus numa sociedade que O nega e até mesmo O expulsa?" Posso afirmar que: "uma vida 'habitada' por Deus é bem diferente de uma vida deserta, sem Deus, encerrada nos estreitos limites humanos"? "Em que consiste esta diferença?"

A sociedade pós-moderna tem mostrado muitos caminhos, porém, são caminhos que ignoram a presença de Deus e dos seus valores na vida das pessoas. Deus se tornou alguém cada vez mais distante, desnecessário ou sem importância. O Papa Bento XVI afirma: "Não temos mais coragem de acreditar que o homem é tão importante aos olhos de Deus e que Ele sempre cuida de nós e se preocupa conosco". Muitas pessoas vivem como se Deus não existisse, construindo suas vidas sem contar com Ele.

O sentido da vida

Tudo isso é uma tentativa de levar o homem a negar a sua própria essência, o mais profundo do seu ser, que é a presença de Deus em nós. Esta presença que dá sentido à nossa existência, que nos sacia e realiza. Podemos afirmar que só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.

A sede de Deus é condição da existência humana como afirma Santo Agostinho: "Criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Vós". O homem se realiza somente em Deus. Negar esta verdade é negar a si mesmo. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e por isso não temos como fugir dessa realidade. O sentido da vida não está no acúmulo de riquezas, na busca desenfreada do poder e do prazer, porque não são capazes de nos livrar da morte, mas em buscar as coisas do alto, porque o sentido do viver está em Cristo e, n'Ele, nos tornamos ricos para Deus.

O homem procura Deus

Todos nós somos pessoas a quem Deus inquieta: há um "algo" na natureza do homem que o abre e projeta para o transcendente, que o leva a interrogar-se continuamente sobre Deus e a tentar encontrar o seu rosto. Portanto, Deus não é totalmente evidente: "Agora, nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face. Agora, conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido" (1Cor 13,12). Se confiarmos apenas nos nossos sentidos, Deus não existe: não conseguimos vê-Lo com os nossos olhos, sentir o seu cheiro ou tocá-Lo com as nossas mãos.

É extremamente existencial o que reza o salmista e expressa muito bem o grande desejo do homem:

"Assim como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh'alma por vós, ó meu Deus! Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? O meu pranto é o meu alimento de dia e de noite, enquanto insistentes repetem: 'Onde está o teu Deus?' Recordo saudoso o tempo em que ia com o povo. Peregrino e feliz caminhando para a casa de Deus, entre gritos, louvor e alegria da multidão jubilosa. Por que te entristeces, minh'alma, a gemer no meu peito? Espera em Deus! Louvarei novamente o meu Deus Salvador! Minh'alma está agora abatida, e então penso em vós, do Jordão e das terras do Hermon e do monte Misar" (Salmo 41 (42), 2-7)

Carência e solidão

Nosso ser continuamente clama pela presença de Deus, e tentar fugir de Deus é querer fugir de si mesmo, e isso é impossível e insuportável.


Antropologicamente, o ser humano é carente do outro e do grande Outro. Existe em nós uma abertura natural para o outro e para o transcendente. Essa abertura do ser humano, que dá sentido à existência, coloca-nos em busca por Deus, a fim de que a vida possa ser preenchida e totalmente realizada. Este desejo é a procura pelo Amor e pelo Amado. Deus continuamente quer saciar nossa sede: "Quem tem sede, venha a mim, e quem quiser, receba, de graça, a água da vida" (Ap 22,17).

A presença de Deus é vital

No Salmo 42, o salmista afirma que tem sede de Deus e que O deseja: "(…) a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo". O salmista nos recorda que Deus é desejado pelo ser humano, que Ele é buscado pela existência. A presença de Deus é vital para a realização do ser humano, tal como a água para o animal sedento. A existência humana, muitas vezes não compreendida, anseia por Deus, pelo Deus vivo, a fim de que a sede de sentido da vida seja saciada.

A crise existencial da humanidade é, sem dúvidas, provocada pela "ausência" de Deus no coração do homem. À medida que nos fechamos para Deus, viramos as costas para Deus, perdemos em nossa essência, e por isso dizemos que o problema mais profundo em nossa vida é a ausência de Deus, ou seja, a falta de consciência de que Deus e o Seu Reino já estão no meio de nós.

Rezemos com o Salmo 62(63) 2-9:

"Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro. A minha alma tem sede de Vós. Por Vós suspiro, como terra árida, sequiosa, sem água. Quero contemplar-Vos no santuário, para ver o vosso poder e a vossa glória. A vossa graça vale mais que a vida: por isso os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores. Assim Vos bendirei toda a minha vida e em vosso louvor levantarei as mãos. Serei saciado com saborosos manjares e com vozes de júbilo Vos louvarei. Quando no leito Vos recordo, passo a noite a pensar em Vós. Porque Vos tornastes o meu refúgio, exulto à sombra das vossas asas. Unido a Vós estou, Senhor, a vossa mão me serve de amparo."

Lemos no Evangelho de Mateus 14,22-33 que, depois da multiplicação dos pães e tendo despedido as multidões, Jesus obriga os discípulos a entrarem na barca e, depois, Ele sobe ao monte para rezar. Os discípulos foram surpreendidos pelo mar revolto, a barca agitada pelo vento, Jesus aparece caminhando sobre as águas do lago, "mar" de Tiberíades ou Genesaré. Jesus salva Pedro ao tentar caminhar sobre as águas "Senhor, salva-me!" e depois acalma a tempestade, isto é, a vitória de Jesus: "Assim que subiram no barco, o vento se acalmou".

A cena acontece à "noite", representa as trevas, a escuridão, a confusão, a insegurança, o medo em que tantas vezes "navegam" na vida dos discípulos de Jesus, sem saber precisamente que caminhos percorrer nem para onde ir; a barca agitada pelo mar revolto, as "ondas" que agitam a barca representam a hostilidade do mundo, que bate continuamente contra homens e mulheres que viajam. Os "ventos contrários" representam a oposição, a resistência do mundo ao projeto de Jesus e na vida dos seus discípulos e discípulas.

Coragem! Não tenhais medo!

Quantas vezes, em nossa viagem pela história, nos sentimos perdidos, sozinhos, abandonados, desanimados, desiludidos, incapazes de enfrentar as tempestades que as forças da morte e da opressão lançam contra nós. É exatamente neste momento que Jesus manifesta a Sua presença. Ele vem ao nosso encontro caminhando sobre o mar, manifestando assim que Ele é o Senhor que tem poder e domínio sobre todas as forças ameaçadoras da vida dos seus discípulos e discípulas.

Jesus é, portanto, o Deus que cuida do seu Povo e que não deixa que as forças da morte o destrua. A expressão "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!" transmite aos discípulos e a cada um de nós a certeza de que nada temos a temer, porque Jesus, o Deus que vence as forças da morte, caminha conosco e nos dá força para vencermos a adversidade, a solidão e a hostilidade do mundo.

A falta de sentido existencial de tantas pessoas, muitas delas jovens, em grande parte se deve à falta de fé, ao vazio interior que promove a crise espiritual. Ter uma vida habitada por Deus é caminhar em Sua presença, e, ao mesmo tempo, ter a certeza de que nossa vida não se tornará um deserto quando preenchida pela presença amorosa de Deus.

Equipe Formação Canção Nova 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/onde-encontrar-deus-numa-sociedade-que-o-nega/


2 de maio de 2024

Você sabe trabalhar e orar ao ritmo da vida?


Conciliar trabalho e oração pode trazer mais equilíbrio para enfrentar tantos desafios em nosso dia a dia. Afinal, harmonizar rotina em casa, contas a pagar, estresse, educação de filhos, não é algo tão simples, e não é mesmo!

A sabedoria cristã ensina que é possível realizar nosso trabalho em sintonia com Deus. Tal abordagem é fundamental. Quando trabalhamos com amor e dedicação, oferecemos nossos projetos, realizações e sacrifícios, estamos sintonizados com o Senhor. Portanto, nosso trabalho torna-se santificado.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que para alcançar a santificação você não precisa mudar de profissão. Consequentemente, é necessário transformar tudo o que você enfrenta no ambiente de trabalho em matéria-prima para a oração.

Créditos: jacoblund / GettyImagens / cancaonova.com

Para qual lado você tem olhado?

Mas como orar se vivo num estresse desde a hora que me levanto? Faço tudo correndo: já acordo cansado porque situações atrapalharam meu sono; preparo café; criança chora; trânsito um caos; salário não dá para pagar as contas. Como tenho buscado levar todas essas situações a Deus? Tenho enfrentado sozinho ou lembro que tenho um Pai no Céu, e Ele prometeu o pão nosso de cada dia? Qual a parte que me cabe?

Temos algumas ferramentas a nossa disposição. A oração é como uma pauta musical onde colocamos a melodia da nossa vida. Um ensinamento de São João Crisóstomo, que viveu no quarto século, parece muito atual: "É possível, mesmo no mercado ou durante um passeio solitário, fazer oração frequente e fervorosa; sentados na vossa loja, a tratar de compras e vendas, até mesmo a cozinhar".


Trabalhar e orar em conjunto

Os desafios tentam nos mostrar o contrário, dando a impressão de que trabalho e oração são opostos, como se trabalhar fosse urgente e a oração perda de tempo. Só que essa separação acaba prejudicando nossa relação com a vida profissional, levando-nos, inclusive, a ver nosso colega não como um irmão, mas como um rival, ou pior ainda, algo descartável, sem valor.

O que temos visto em nossa sociedade são pessoas e famílias que têm se sido arrastadas por uma busca insaciável de realização profissional, porém de maneira desequilibrada. Com isso, os frutos que têm colhido são frustrantes. A boa notícia é que é possível reverter essa situação. É preciso reassumirmos as rédeas de nossa vida, colocando o trabalho em seu devido lugar, enaltecendo-o como lugar de encontro com Deus, de santificação.

Trabalho e oração ao ritmo de vida. Onde você estiver, seja um profissional de Deus, busque ser o melhor no que realiza, ame, seja responsável, dedique-se, ofereça ao Senhor tudo o que vive. Dessa maneira, seus trabalhos sobem ao Céu como um incenso agradável, elevados a um verdadeiro ministério de serviço a Deus e ao próximo.



Rodrigo Luiz dos Santos

Missionário na Canção Nova, Rodrigo Luiz formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/voce-sabe-trabalhar-e-orar-ao-ritmo-da-vida/


29 de abril de 2024

O que define a dimensão da autenticação do dom pessoal?


Em que consiste a autenticação? É como gravar, marcar de forma definitiva, indelével o que as percepções trouxeram. Existe diferença entre reconhecer e autenticar.

O reconhecimento se dará quando, após cada prática de vida, percebemos os sentimentos, efeitos e causas que se fazem em nós.

Já autenticar é detectar, nas várias experiências de reconhecimento, características que se repetem e verificar de qual característica da nossa humanidade provêm tais traços.

Os dons pessoais

Descobrindo a sua origem é que chegaremos à conclusão dos atributos que estão intrínsecos em nós; a partir daí, tomaremos como particular identidade, assumiremos de si os dons específicos que temos.

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Por exemplo: se uma pessoa gosta de manifestar seu carinho pelas pessoas às quais tem apreço sempre com um presente ou amar com gesto concreto e material, poderá identificar que seu perfil é o de ser provedora. É essa sua personalidade que o impulsiona a proceder em presentear. Por meio do gosto por presentear, que é apenas uma característica do dom, ela poderá chegar à conclusão de que tem um perfil de provedor autenticado em si.

Outro detalhe é que ninguém nunca alcançará a verdadeira autenticação de si julgando ter algo ruim em sua natureza, pois fomos criados todos no bem, tudo em nós tem uma estrutura originariamente vinda da bondade. "E viu (Deus) que tudo era muito bom" (Gn 1,31). São Tomás de Aquino diz que "o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina".

Ainda citando São Tomás de Aquino, ele diz: "O pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem". Isso significa que todas as nossas faculdades humanas, em princípio, foram criadas no bem, mas se algo em nós é inclinado ao mal, é porque estamos lidando com um traço da nossa personalidade criado para o bem, que, porém, durante a história pessoal, foi habituado na forma de pecado e não de virtude.

Facilidade em comunicação

Um exemplo disso: uma pessoa que tem uma grande habilidade de comunicar-se pode canalizar esse dom para levar a Boa Nova, e então ela desenvolve-a com técnicas de oratória, estudando conteúdos diversos, especializando-se na Sagrada Escritura, ou essa pessoa pode se estagnar, direcionar essa força para a atitude de fofoca, na maledicência e no boato.

Enquanto o indivíduo atribuir à sua natureza algo que seja ruim, ele não chegará à autenticação do dom pessoal, pois os pecados e erros, mesmo os constantes, são condições adquiridas no percurso de vida, e não traços intrínsecos no ser. Essas fragilidades até dão uma pista da grandiosa característica que a pessoa tem, mas, de modo algum, é sua mais profunda realidade.

Ato conjugal é o dom do amor

E o que está na essência do ato conjugal e, ao mesmo tempo, no âmago do ser humano? Qual característica é entranhada, primeiramente, na pessoa e manifesta a sublimação do indivíduo em suas ações e, consequentemente, também na união sexual, como expressão nobre de si? É o dom do amor. "Deus criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é amor" (CIC, 1604). Portanto, o sexo, sendo entrega do todo do indivíduo, deve estar sempre íntimo e permanentemente ligado ao dom do amor.

Como a pessoa poderá, através da vida ativa sexual com seu cônjuge, autenticar sua identidade mais profunda? Somente por meio do amor. Se o indivíduo se entrega no ato conjugal com amor e por amor, conseguirá identificar em si a capacidade do bem, e só assim alcançará uma boa impressão de si mesmo.

Pela grandiosa força que a união íntima exerce em nós, o marco da presença de amor em nossa alma e coração será de igual modo muito poderoso, confirmando e atualizando tal natureza. Além de tal efeito, a cada união íntima, promove-se o desejo de crescer no amor, numa doação cada vez maior, que se traduz nos outros momentos de romantismo, mas também no cotidiano, em ocasiões em que um necessita ser amparado pelo outro.


Vida sexual

A boa vivência conjugal, incluindo a dimensão sexual, conforme os desígnios do Senhor, dentro da graça, no sacramento do matrimônio, vai convencendo a pessoa de que ela é capaz de produzir o amor e o bem, e de que essas duas virtudes estão impregnadas em seu ser, por isso se faz natural a pessoa acreditar nela mesma em outros âmbitos de sua humanidade. Isso autentica o dom do amor na alma do indivíduo. O lar, a atmosfera que circunda o casal acabam sendo um ambiente regido pelo dom do amor.

Nisso, concluímos que só por atitudes de amor a pessoa pode se reconhecer, e pelo mesmo amor que existe em sua mais pura essência, o indivíduo pode autenticar sua impressão de si como algo real a seu respeito.

E sua dimensão sexual tem uma forte representatividade em sua estrutura humana. Numa relação sexual, quanto mais se busca o bem do cônjuge, quanto maior for a entrega em expressar o melhor de si, não em desempenho, mas em afeto, melhor será esse momento.

A consciência da vida sexual

Por isso mesmo que o sexo tende a não ser canal de tamanha virtude quando praticado por um falso amor ou por pura paixão, quando ainda não é um comprometimento de vidas em totalidade, portanto, lícito só dentro do sacramento do matrimônio.

Sem essa consciência da importância do amor e de que na vida afetiva a pessoa deve se doar por amor, este indivíduo vai se acostumando e impregnando em si outras impressões de si mesmo. Passa a acreditar que seu prazer é sua felicidade, embora, nos momentos de solidão e tristeza, não encontre sentido e busque novamente as satisfações de momento. Não acreditará que no compromisso definitivo existe preenchimento existencial e vai, aos poucos, aliciando seu coração a paixões circunstanciais. Vai esmorecendo, arrefecendo dentro de si o dom do amor.

Notemos que, em tudo que relatamos sobre o ato conjugal, se consumado com amor, edifica os cônjuges, tanto nas dimensões da pessoa para consigo mesma quanto no conhecimento do outro e, ainda, no bom êxito do relacionamento.

O afastamento da essência

Já a busca do prazer como forma de bem próprio, por si só, não eleva a pessoa à sua totalidade, mas a afasta de sua essência e a fragmenta, e como já relatamos antes, em algum momento, esse afastamento do amor será sentido na forma de falta de sentido existencial. Ou seja, na não autenticação de seus valores, a pessoa verá se repetir suas características deturpadas. E se consumado com sentimentos negativos de raiva, indignação ou qualquer tipo de violência, o ato sexual, igualmente, alimentará tais sentimentos.

Contudo, neste modelo que estamos apresentando, em que os esposos entendem a união íntima como dádiva da benevolência existente desde sempre em si mesmos e que é transmitida ao cônjuge, concluímos que a união íntima do casal, de forma alguma, deve estar destituída ou isolada de uma vivência plena e satisfatória de outras práticas de amor e cumplicidade. Veja que, na "Teologia do Corpo", São João Paulo II cita: "o homem e a mulher, unindo-se entre si (no ato conjugal)", ou seja, apesar de se tratar da união íntima dos esposos, o saudoso Papa refere-se à "união" de uma unidade que deve acontecer em tudo na vida.

Quanto mais amarmos, mais donos de nós mesmos seremos, num reconhecimento e autenticação do que em nossa natureza temos de mais elevado. Só o amor confirma e autentica a pessoa.

Trecho extraído do livro "Ato Conjugal – Beleza e transcendência"


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/vida-sexual/o-que-define-a-dimensao-da-autenticacao-do-dom-pessoal/


22 de abril de 2024

Filáucia: conheça a mãe de todas as doenças espirituais


É próprio do homem amar, como é próprio da luz iluminar. Essa verdade ressoa em nossos corações como algo evidente e, ao mesmo tempo, difícil de acreditar. Ao ouvi-la, sentimos um forte apelo para alçar voo na arriscada aventura de amar. Dentro de nós – melhor ainda, diante dos nossos olhos –, encontramos a evidência patente de nossa fragilidade: uma espécie de força que nos leva a chafurdar na lama. A grandeza de nosso chamado contrasta clamorosamente com a miséria de nossa situação.

Desde os séculos mais remotos, a humanidade perplexa percebe essas duas tendências contraditórias, mas não consegue as explicar. Nós, cristãos, no entanto, aprendemos a origem dessa contradição por meio da única realidade que poderia esclarecê-la: a Revelação.

A Revelação nos ensina: o homem é bom, mas está mal, ou seja, o homem não é uma doença, mas está doente. E seu estado de doença espiritual requer uma cura.

Qual seria então a primeira consequência deste estado doentio? Qual é a mãe de todas as nossas doenças espirituais? Segundo os Santos Padres, especialmente São Máximo o Confessor (580-662), na raiz de todos os pecados está uma doença espiritual chamada filáucia.

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Significado da palavra filáucia

De origem grega (philía + autós), a palavra filáucia designa o amor que uma pessoa tem por si mesma, o amor-próprio. A definição etimológica, no entanto, não é suficiente. Ao afirmarmos que a filáucia é sinônimo de amor-próprio, algumas pessoas poderiam ser induzidas a pensar erroneamente que se trata, necessariamente, de uma espécie de egoísmo, mas não é assim.

O significado originário da palavra filáucia é positivo e trata-se de uma virtude. O amor-próprio não é uma invenção
malévola do demônio ou do homem pecador. É isso mesmo: o amor-próprio foi criado por Deus e pertence à natureza sadia do homem, como Deus a sonhou.

Por isso, não é de se espantar que o próprio Jesus (cf. Mt 22,37-39), depois de apresentar o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas (cf. Dt 6,5), faça questão de acrescentar o preceito de amar ao próximo tendo como medida o amor por si mesmo: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19,18).

Ora, Nosso Senhor não canonizaria o egoísmo. É verdade que existe uma forma doentia de a pessoa amar a si mesma e é a respeito deste amor desordenado que trataremos neste capítulo. Antes de falarmos da doença do egoísmo, porém, precisamos reconhecer que existe uma forma sadia de o homem se amar.

Filáucia virtuosa

Como então funcionaria o coração de um homem sadio? Como é possível ter um amor-próprio adequado e belo?Antes de tudo, o que se deve constatar é que o amor de si não é o primeiro passo. Se pensarmos em nossa história pessoal, com sinceridade e profundidade, concordaremos com São João: antes de qualquer amor surgir em nosso coração, nós fomos amados (cf. 1Jo 4,10). Deus nos amou primeiro e o nosso amor será sempre uma resposta, um segundo passo. Disso se compreende por que, no coração de um homem sadio, não pode faltar essa resposta. O amor a Deus não é apenas uma das tantas qualidades do coração do homem: é a primeira e mais importante de todas as qualidades, pois é a primeira verdade que Deus revela a nosso respeito. Santo Agostinho (354-430) nos recorda que o ser do homem foi feito para responder ao amor de Deus, quando diz: "Senhor, fizestes-nos para vós e o nosso coração está inquieto, enquanto não repousar em vós".

Por isso, amar a Deus não é um luxo, um acessório dispensável, mas a realização de nosso próprio ser. Assim como é natural que uma videira dê fruto ou que uma abelha produza mel, é natural que um homem saudável ame a Deus. O primeiro mandamento – "amar a Deus sobre todas as coisas […]" – não é uma exigência de um Deus ciumento e caprichoso. É o conselho de um Pai amoroso que nos ensina o caminho da felicidade.

A consequência é lógica: se amarmos a Deus de todo o nosso coração, estaremos, de modo indireto, amando a nós mesmos, visto que não é possível uma pessoa amar a si mesma e odiar a fonte do seu próprio ser. Seria um contra-senso; uma atitude semelhante a meter a enxada nos próprios pés, ou cortar o galho sobre o qual se está sentado. Ao amar a Deus, a pessoa demonstra que ama a si mesma.

Filáucia doente

A partir desse quadro positivo, compreendemos o que há de errado conosco, uma vez que a doença é sempre a desordem de algo positivo, ou seja, uma disfunção do organismo saudável. É muito importante, ao longo de todo esse livro, nunca perdermos de vista o fato de que a doença é sempre uma perversão da saúde. Por trás do pecado sempre existe uma realidade positiva, um dom de Deus, que está sendo usado de forma prejudicial e destruidora. O mal é sempre a perversão de um bem.

O diabo não tem o poder de criar. Ele sabe apenas arremedar o Deus Criador, e, ao perverter as coisas criadas, como uma espécie de "macaco de Deus", imita grotescamente as obras de Nosso Senhor. O egoísmo, a filáucia doentia, é um arremedo da filáucia virtuosa.


O livro do Gênesis nos recorda que, por sedução da serpente, o homem começa a amar a si mesmo de forma desordenada. "Sereis como Deus" – promete o pai da mentira. E a partir do momento em que o homem se deixa enganar por esta falsa promessa, ele entra numa rivalidade invejosa com Deus, como se Ele fosse um inimigo, o obstáculo para sua felicidade. Movido por este amor-próprio equivocado, o homem se revolta contra sua própria fonte. Começa a tratar Deus como seu inimigo e dele se esconde por trás dos arbustos (cf. Gn 3,8).

São Máximo descreve a forma como a filáucia doentia afetou nossos primeiros pais. O homem volta suas costas para Deus, para sua luz, e mergulha na matéria em busca de uma felicidade sem Deus. O primeiro pai, Adão, cego por não ter dirigido o olhar para a luz divina com o olho da alma, afundando as duas mãos na lama da matéria, nas trevas de sua ignorância, voltou-se completamente para as coisas sensíveis e a elas se dedicou inteiramente.

Trecho extraído do livro "Um olhar que cura", de padre Paulo Ricardo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/filaucia-conheca-mae-de-todas-doencas-espirituais/


15 de abril de 2024

Libertação dos jovens pelo Preciosíssimo Sangue de Jesus


Nossos filhos precisam muito de libertação, nossos jovens precisam do poder do Sangue do Nosso Senhor de Jesus Cristo.

Por isso eu expulso agora:

Todo espírito maligno que ataca covardemente os nossos jovens, trazendo-lhes o desespero. Todo espírito que os faz acreditar que não vão conseguir um bom casamento, que não encontrarão companheiro. Todo espírito que lança sobre os nossos jovens a solidão, a angústia, a tristeza, o desespero e o desânimo.

Sim, em nome de Jesus, eu expulso todo espírito maligno que leva a desesperança ao coração dos nossos jovens, levando-os a se entregarem à luxúria, à devassidão e uma sexualidade desregrada.

Com autoridade de sacerdote, eu proclamo: não tende mais poder algum de atormentar estes jovens, eu os expulso e ordeno que não retorne mais.

Sim, eu proclamo que o Sangue de Jesus tem poder sobre estas regiões diabólicas, o Sangue de Jesus as repele, expulsa-as e as põe longe dos nossos jovens.

Jovem, você venceu o maligno porque acreditou em Cristo Jesus, porque entregou a sua vida ao Senhor!

Créditos: Delmaine Donson por GettyImages.

Reze comigo para a libertação dos jovens:

Eu venci o maligno no poder do Sangue de Jesus. Venci o mundo e vou vencer o pecado, porque acredito que coloquei minha confiança em Jesus. O que está em mim é maior do que aquele que está no mundo.

Eu, agora, peço ao Senhor que venha derramar o Seu Sangue sobre todos esses jovens, fortaleça-os no Seu Sangue contra todo ataque do inimigo, contra toda mentira e falsidade. Sim, Senhor! Defende-os, guarda-os, protege-os com Seu sangue precioso. Amém.

Sim! Aniquilamos todo o orgulho que se levanta contra Deus, que se levanta contra Cristo e contra Suas leis, contra o Seu reino, e reduzimos a obediência a Cristo, pois só Jesus Cristo é o Senhor. Amém!

Diga mais uma vez:

O Sangue de Jesus está sobre mim, está sobre a minha família e sobre a minha casa. O Sangue de Jesus tem o poder sobre todo o mal e sobre todo espírito maligno.

Em nome de Jesus e pelo poder do Seu Sangue, eu me coloco aos pés da Cruz de Jesus e clamo o Seu Sangue sobre a minha família.

Em nome de Jesus, sejam expulsos todos os espíritos enganosos que atingem o nosso coração, com desavenças, com desunião, com inimizades e vinganças. Em nome de Jesus, que toda essa caterva diabólica, a partir dos seus principados, permaneçam adversários e vencidos no Poder do nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Eu proclamo a vitória de Jesus sobre todo mal. Sim, a vitória é de Jesus. Amém!



Padre Alexsandro de Lima Freitas

Biografia

Padre Alexsandro de Lima Freitas é Brasileiro, nasceu no dia 20/10/1986, em Natal, RN. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 2006 no modo de compromisso do Núcleo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/libertacao-dos-jovens-pelo-preciosissimo-sangue-de-jesus/


12 de abril de 2024

Reflita: O que vale a pena ser postado nas redes sociais?


É interessante pensar que a vida, há 30 anos, acontecia normalmente sem redes sociais, internet e tantas outras realidades virtuais, não é verdade? Pois a relação de dependência ficou tão grande com esse meio, que seria impossível pensar a vida sem esses recursos. Pois então, é possível e saudável ter uma vida off-line. Não que tenhamos que nos desligar do mundo virtual, muito menos que ele seja algo ruim; pelo contrário, se você está lendo este texto, neste momento, é por causa dessa realidade tão importante dos nossos tempos.

A questão é apenas o equilíbrio das coisas. Todos já sabem o quão viciante é para o cérebro esse mundo virtual, por isso não irei falar sobre esse tema aqui, afinal de contas, você já o sabe. O que quero tratar com você, leitor, neste momento, é conduzi-lo a uma reflexão sobre a sua relação com o mundo virtual e as plataformas tecnológicas. Qual lugar as redes sociais ocupam em sua vida? Com que frequência você entra no aplicativo de relacionamento só para olhar se alguém postou algo novo ou se alguém curtiu sua postagem? Quanto tempo do seu dia você passa assistindo a pequenos ou longos vídeos, saltando de plataforma em plataforma, cada uma com um discurso diferente, seja ele para distrair e relaxar ou para estudar e aprender algo novo?

Valorize sua vida off-line

Se for parar para pensar, sempre encontraremos uma desculpa que justifique a postagem ou o tempo gasto no mundo virtual, porém, segue uma nova pergunta: Quanto tempo você tem gastado na vida de verdade? Você se lembra da última vez que saiu com os amigos, que foi a um parque, andou de bicicleta ou foi a uma cachoeira, fazenda, sentiu o ar tocando a sua pele? Qual foi a última vez que foi ao cinema, assistiu a um filme em família ou com os amigos sem ter o celular em mãos?

Créditos: Ivan Pantic / GettyImagens / cancaonova.com

Você se lembra do toque do abraço dado e recebido? Da lágrima que enxugou do amigo, namorado, noivo, esposo ou filho? Do consolo que recebeu ou deu diante de uma frustração vivida? Qual foi a última vez que fez uma refeição completa sem ter o celular na mão ou apoiado na mesa, ao lado do prato? Qual foi a última conversa que você teve e estava inteiro naquela conversa, sem dividir a atenção com o celular? Qual foi a última vez que saiu de casa sem o celular e não surtou por causa disso?

Enfim, quero convidá-lo a uma vida saudável e equilibrada. Sei que, como muitos, você deseja estar ativo na redes, mas qual seria o ponto de equilíbrio? O que postar? Quando postar? Essas duas perguntas precisam caminhar juntas de duas outras: Para quem estou postando? O que estou procurando com essa postagem? Todo tipo de postagem tem um objetivo: ser uma revista de fofoca digital que precisa ficar exibindo o que tenho ou gostaria de ter, criando um mundo de fantasias, ou tem o objetivo de ensinar, educar um público, colocando informações que irão agregar na vida de qualquer um que ler, assistir ao vídeo ou aquilo que a internet se tornou: um grande comércio.

Respeito on-line

Sendo assim, você precisa saber em qual lugar você está para saber o que postar, quando postar, qual a frequência de o fazer e o tempo que vai gastar para estar ali. Agora que encontrou o seu lugar e sabe como deve se comportar, lembre-se de uma coisa: existe uma ética que precisa ser vivida e respeitada no mundo virtual, não é porque é virtual que posso falar o que quero e mostrar o que quero. Haverá fotos de lugares em que você estará, como na casa de uma amiga, e talvez ela não se sinta confortável em você postar, afinal de contas, é a casa dela e pode querer manter a discrição daquele momento com você.


Então, não seja indelicado, mostrando algo que irá gerar desconforto. E tem o óbvio, mas que precisa ser lembrado, que são os comentários desnecessários, agressivos, cheios de mágoa, cujo único objetivo é atacar o outro. Lembre-se!

Esse problema é seu! A mágoa é sua! A chateação ou o ressentimento foi com você, e ninguém precisa saber que o seu coração está ferido ou que você não sabe lidar com aquela situação ou pessoa. A maior exposição não é para quem é atacado, mas para quem ataca com as palavras ou nos vídeos, pois revela muito mais dela. O que era dito ou visto, na vida real, muitas vezes ficou apenas na memória daqueles que estão envolvidos na situação, porém, o que fica 30 segundos na internet, por mais que seja removido, fica marcado para sempre.

Aline Rodrigues
Psicóloga e Missionária da Canção Nova


10 de abril de 2024

A Ressurreição de Jesus é o cerne da Boa Nova anunciada por Seus discípulos


O Catecismo dedica algumas boas páginas para nos fazer mergulhar nesse rico tesouro de nossa fé.  Veja o que diz a Igreja.

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Boa notícia! O efeito emocional de uma notícia costuma ser proporcional ao que é noticiado, bem como o grau de anseio que ela se propõe a suprir. A primeira grande boa nova relatada nos evangelhos, foi o anúncio do anjo de Deus a Nossa Senhora, sobre a encarnação de Jesus Cristo (cf. Lc 1,31-38). Tudo o que o Filho de Deus realizou em Sua vida pública teve como prelúdio o anúncio do anjo e o sim generoso de Sua Mãe.  Porém, como Deus nunca deixa de surpreender, o evento da Ressurreição foi outra grande manifestação de Seu poder salvador. O Catecismo dedica, então, algumas boas páginas para nos fazer mergulhar nesse rico tesouro de nossa fé.  Veja o que diz a Igreja: 

"'Nós vos anunciamos a Boa-Nova de que a promessa feita aos nossos pais, a cumpriu Deus para nós, seus filhos, ao ressuscitar Jesus' (At 13,32-33). A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal, ao mesmo tempo que a cruz: 'Cristo ressuscitou dos mortos. Pela sua morte venceu a morte, e aos mortos deu a vida'" (CIC 638).

Testemunhas da Ressurreição

Uma das grandes testemunhas dessa boa notícia foi São Paulo, o apóstolo dos gentios. Em seus discursos orais ou escritos, não se cansava de declarar que anunciava Cristo crucificado. Noticia essa que para os judeus era um escândalo, para os pagãos uma grande loucura, mas tanto um povo, quanto outro, ao realizar a experiência com o mistério da Ressurreição, poderiam constatar que esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus (cf. 1Cor 15,12-20). 

Nas narrativas em torno do evento da Ressurreição, uma imagem que está sempre presente é a do túmulo vazio: "Ali, os discípulos são alvos de uma grande e fundamental interrogação, feita por um enviado de Deus: 'Porque procuram entre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está mais aqui; ressuscitou' (Lc 24,5-6)." O Catecismo continua então dizendo:  

"A ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena, como no caso das ressurreições que Ele tinha realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e Lázaro. Esses fatos eram acontecimentos milagrosos, mas as pessoas miraculadas reencontravam, pelo poder de Jesus, uma vida terrena 'normal': em dado momento, voltariam a morrer. A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. No seu corpo ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado da sua glória, de tal modo que São Paulo pode dizer de Cristo que Ele é o 'homem celeste'" (CIC 646). 

A Ressurreição nos aponta o céu

A Ressurreição de Cristo tem apelo transcendente, nos aponta o céu. Foi algo tão extraordinário, que nenhum evangelista tentou descrevê-la em pormenores. É algo que experimentamos e que nos transforma e purifica, mesmo não conseguindo ser explicada:  

"Quanto ao Filho, Ele opera a sua própria ressurreição em virtude do seu poder divino. Jesus anuncia que o Filho do Homem deverá sofrer muito, e depois ressuscitar (no sentido ativo da palavra). Aliás, é d'Ele esta afirmação explícita: 'Eu dou a minha vida para retomá-la […] Tenho o poder de a dar e o poder de a retomar' (Jo 10,17-18). 'Nós cremos que Jesus morreu e depois ressuscitou' (1Ts 4,14)" (CIC 649). 

Essa compreensão madura da Igreja foi resultante da experiência dos primeiros discípulos, entre eles, o grande apóstolo Paulo: "'Se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é vã e também é vã a vossa fé' (1Cor 15,14). A ressurreição constitui, antes de mais, a confirmação de tudo quanto Cristo em pessoa fez e ensinou. Todas as verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito humano, encontram a sua justificação se, ressuscitando, Cristo deu a prova definitiva, que tinha prometido, da sua autoridade divina" (CIC 651).  

Que essa bendita notícia esteja sempre em nossos lábios e coração. De modo que sejamos testemunhas da Ressurreição para os homens de nosso tempo!


Fonte: https://comshalom.org/a-ressurreicao-de-jesus-e-o-cerne-da-boa-nova-anunciada-por-seus-discipulos/