Vamos mergulhar na seguinte declaração do Credo: "Creio na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos".
Na matéria anterior, refletimos sobre a profissão de fé no Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Vamos, então, dar prosseguimento ao nosso estudo, mergulhando agora na seguinte declaração do Credo: "Creio na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos".
Os grandes teólogos e os pastores da Igreja, mergulhando nas Escrituras e na Tradição, foram se dando conta de que existe uma união indissolúvel entre Cristo e Sua Igreja. O próprio Salvador confirmaria essa compreensão, tanto que Ele mesmo declarou, ao enviar Seus apóstolos, líderes e pastores da Igreja na sua fase inicial: "Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou" (Lc 10,16). O Catecismo da Igreja aprofunda com belas exposições essa comunhão dos fiéis batizados com Salvador:
"'Sendo Cristo a Luz dos Povos, este sacrossanto Sínodo, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente anunciar o Evangelho a toda criatura e iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja'. É com essas palavras que começa a 'Constituição dogmática sobre a Igreja', do Concílio Vaticano II. Com isso, o Concílio mostra que o artigo de fé sobre a Igreja depende inteiramente dos artigos concernentes a Cristo Jesus. A Igreja não tem outra luz senão a de Cristo; segundo uma imagem cara aos Padres da Igreja, ela é comparável à lua, cuja luz toda é reflexo do sol" (CIC 748).
A Igreja não possui luz própria. Ela não é autossuficiente. Sua vida, seu brilho e seu poder de atuação no mundo, são ecos, transbordamentos de sua íntima união com seu Divino Esposo. O autor e consumador dessa bendita união é o Espírito Santo (cf. CIC 749).
Continua o Documento: "Crer que a Igreja é 'santa' e 'católica' e que ela é 'una' e 'apostólica' (como acrescenta o Símbolo niceno-constantinopolitano) é inseparável da fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. No Símbolo dos Apóstolos, fazemos profissão de crer em uma Igreja Santa ('Credo… Ecclesiam'), e não na Igreja, para não confundir Deus com suas obras e para atribuir claramente à bondade de Deus todos os dons que ele pôs em sua Igreja" (CIC 750).
Um Cristão maduro precisa ter um olhar de fé, que o faça transcender o imperfeito, o aparente e contemplar o absoluto, o perfeito, enfim, o céu. A Igreja é construção de Deus, obra essa cujo os operários são todos os batizados e a base são os apóstolos. Alguns se perguntam: "A Igreja foi pensada, planejada ou foi um acidente de percurso?" O Catecismo responde: "'O mundo foi criado em vista da Igreja', diziam os cristãos dos primeiros tempos. Deus criou o mundo em vista da comunhão com sua vida divina, comunhão esta que se realiza pela 'convocação' dos homens em Cristo, e esta 'convocação' é a Igreja. A Igreja é a finalidade de todas as coisas, e as próprias vicissitudes dolorosas, como a queda dos anjos e o pecado do homem, só foram permitidas por Deus como ocasião e meio para desdobrar toda a força de seu braço, toda a medida de amor que Ele queria dar ao mundo: Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens e se chama Igreja" (CIC 760).
A Igreja foi planejada, pensada, desejada e efetivada por Deus. Assim, cada batizado, fruto maduro desse plano de Deus, torna-se resposta para as interrogações existenciais do mundo de cada época, até a volta definitiva de Cristo. O Espírito Santo, esteve sempre presente e atuante. "Para realizar sua missão, o Espírito Santo 'dota e dirige a Igreja mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos. 'Por isso a Igreja, enriquecida com os dons de seu Fundador e empenhando-se em observar fielmente seus preceitos de caridade, humildade e abnegação, recebeu a missão de anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de estabelecê-lo em todos os povos; deste Reino ela constitui na terra o germe e o início" (CIC 768).
Embora tanto as narrativas do Evangelho, bem como as cartas apostólicas e a tradição deem indicativos da identidade da Igreja, haverá sempre espaços de mistérios. "A Igreja está na história, mas ao mesmo tempo a transcende. É unicamente 'com os olhos da fé' que se pode enxergar em sua realidade visível, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual, portadora de vida divina" (CIC 770).
Quando vemos os diversos desafios que a Igreja enfrentou e superou ao longo dos séculos, podemos olhar com fé e dizer: De fato, só pode ser uma obra de Deus, caso contrário teria se acabado. Ela é sustentada por Cristo, seu Divino esposo. "O Mediador único, Cristo, constituiu e incessantemente sustenta aqui na terra sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e caridade, como um 'todo' visível pelo qual difunde a verdade e a graça a todos. A Igreja é ao mesmo tempo: 'sociedade provida de órgãos hierárquicos e Corpo Místico de Cristo'; Essas dimensões constituem 'uma só realidade complexa em que se funde o elemento divino e humano'" (CIC 771).
Nesse sentido, jamais podemos perder nossa esperança na Igreja, pois seria o mesmo que perder a esperança em Cristo. Ele é o Divino Esposo da Igreja, Sua união com ela, diferente de um esponsal natural, transcende os limites do tempo, do espaço e da vida neste mundo:
"Na Igreja, esta comunhão dos homens com Deus pela 'caridade que nunca passará'" (1Cor 13,8) é a finalidade que comanda tudo o que nela é meio sacramental ligado ao mundo presente que passa. Sua estrutura se ordena integralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo. E a santidade é medida segundo o 'grande mistério', em que a Esposa responde com o dom do amor ao dom do Esposo. Maria nos precede a todos na santidade que é o mistério da Igreja como 'a Esposa sem mancha nem ruga'. Por isso, 'a dimensão mariana da Igreja antecede sua dimensão petrina" (CIC 773).
Deve-se então ver com suspeita todo conceito de fé cristã que desvincula Cristo de Sua Igreja. Infelizmente, essa heresia se difundiu nas ideias pregadas por Martinho Lutero e tantos outros setores protestantes. Talvez por isso também, como constataram pesquisas sérias, onde mais se proliferou o protestantismo, foi também onde mais cresceu o relativismo cultural e a indiferença fé.
"A Igreja é, em Cristo, como que 'o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano'. Ser o sacramento da união íntima dos homens com Deus é o primeiro objetivo da Igreja. Visto que a comunhão entre os homens está enraizada na união com Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade do gênero humano. Nela, esta unidade já começou, pois ela congrega homens 'de toda nação, raça, povo e língua' (Ap 7,9); ao mesmo tempo, a Igreja é 'sinal e instrumento' da plena realização desta unidade que ainda deve vir" (CIC 775).
Que esse seja um constante projeto pessoal e comunitário dos seguidores do caminho de discipulado a Cristo. De modo que os não crentes possam olhar para nós e declararem: "Vejam como eles se amam".
Fonte: https://comshalom.org/por-que-devemos-crer-na-igreja-catolica/