11 de outubro de 2023

Conheça os quatro estágios do desenvolvimento infantil


As fases do desenvolvimento infantil são marcadas por etapas chamadas de marcos do desenvolvimento, esses são acompanhados pela família e também pelo pediatra, que faz perguntas como: "Ela (a criança) responde aos estímulos? Ri quando é provocada? Gosta de carinho, sorri, fala pequenas palavras?". Daí a importância de realizar um acompanhamento periódico com seus filhos, pois a existência ou não desses sinais é um fator importante no acompanhamento e identificação de qualquer tipo de dificuldade no desenvolvimento dos pequenos.

Essa linha do tempo do crescimento das crianças traz consigo coisas pequenas, mas essenciais para um desenvolvimento típico ou atípico, que está diretamente ligado a uma característica em relação às etapas de aprendizado e desenvolvimento esperados para determinada idade.

Uma forma de perceber o desenvolvimento infantil é por meio dos estágios de desenvolvimento, que é uma forma de categorizar as etapas da vida das crianças e perceber quais são as características esperadas em cada estágio, indicado por faixas etárias.

Embora cada marco tenha uma faixa etária, é importante lembrar que as crianças são únicas e a idade real pode variar, desde que seu filho atinja esses marcos dentro da faixa prescrita, não deve haver motivo para preocupação.

Conheça os quatro estágios do desenvolvimento infantil

Créditos: Sam Edwards by GettyImages/cancaonova.com

Entenda cada estágio do desenvolvimento infantil

Uma das teorias do desenvolvimento infantil mais conhecidas foi estudada pelo biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) indicando quatro estágios cognitivos do desenvolvimento infantil.

Estágio sensório-motor — do nascimento até por volta de 2 anos: neste estágio as crianças aprendem sobre o mundo, por meio dos sentidos e da manipulação de objetos. É comum nesta etapa que a criança leve os objetos na boca e explore o mundo pelo tato, jogue as coisas no chão.

Estágio pré-operacional — 2 a 7 anos de idade: neste estágio, as crianças desenvolvem a memória e a imaginação, sendo capazes de compreender as coisas simbolicamente e entender as ideias do passado e do futuro, farão brincadeiras de imaginação e brincadeiras simbólicas, mas ainda terá dificuldade em perceber verdade e mentira, real e imaginário. A criança ainda é egocêntrica (se vê no centro de tudo e entende o mundo a partir da sua própria vivência) e não tem a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Esse é um longo processo.

Estágio operacional concreto — de 7 a 11 anos: as crianças tornam-se mais conscientes do que acontece externamente, no mundo, bem como de outros sentimentos que não os seus. Elas se tornam menos egocêntricas e começam a compreender que nem todos compartilham seus pensamentos, crenças ou sentimentos, podem ser mais empáticos e perceber a necessidade do outro, focando no presente. Tem facilidade para aprender de forma prática.

Estágio operacional formal — a partir de 11 anos: nesse estágio as crianças são capazes de usar a lógica para resolver problemas, ver o mundo ao seu redor e planejar o futuro. Formula hipóteses, faz ideias, pensa sobre os problemas, questiona…

Colabore para o crescimento do seu filho

Para ajudar os filhos neste processo de desenvolvimento, podemos apresentar ambientes que estimulem perguntas para que eles possam construir o próprio conhecimento, que sejam encorajados a testar, a aprender, a descobrir o certo e o errado. Que o ambiente também disponha de afeto e acolhimento e que incentive atividades variadas.


Pense só: como você aprendeu a mexer no controle remoto? Observando e testando! Com a criança funciona da mesma forma. Ela observa e, a cada etapa da vida, aprende novas habilidades. Quanto mais estímulos adequados ao seu tempo e idade, melhor ela aprenderá e mais se desenvolverá. Daí a importância dos pais serem seletivos e observadores naquilo que a criança vive e com quem convive, pois ajudamos efetivamente neste processo.

Veja o infográfico de cada fase cognitiva do desenvolvimento infantil

 



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/conheca-os-quatro-estagios-do-desenvolvimento-infantil/


9 de outubro de 2023

Qual a história de Nossa Senhora do Rosário?


A história da festa de Nossa Senhora do Rosário

No século XVI, o Papa Pio V estava a ter problemas com os turcos, que eram uma ameaça para destruir o cristianismo. Após meses de desentendimentos e brigas, ele conseguiu unir Espanha, Veneza e os Estados da Igreja numa expedição naval para combater os turcos.

Créditos: Sidney de Almeida da GettyImages.

As duas marinhas se encontraram no Golfo de Lepanto, na Grécia, em 7 de outubro de 1571. No mesmo dia, a Confraria do Rosário de Roma estava reunida na sede dominicana. O grupo rezou o Rosário pela intenção especial dos cristãos na batalha e, a boa notícia chegou! Os cristãos derrotaram os turcos, e o que parecia impossível tornou-se possível pelas mãos de Maria, pois ela é a combatente por excelência. Não houve sombra de dúvida que foi a Onipotência Suplicante de Nossa Senhora, seu poder intercessor, que conquistou a vitória. O Papa Pio V dedicou o dia como um dia de ação de graças a Nossa Senhora da Vitória. O Papa Gregório XIII posteriormente mudou o nome para Festa de Nossa Senhora do Rosário.

Reze o Santo Rosário!

Conclui-se então que a história da festa de Nossa Senhora do Rosário centra-se no poder intercessor de Maria e, desta forma, aprendemos que, quando estamos em perigo, podemos recorrer a Maria, que não despreza as nossas necessidades. Se você está com dor, desanimado ou tendo dificuldade em aceitar a vontade de Deus, recorra ao auxílio de Nossa Senhora por meio da oração do Santo Rosário.

Diz padre Jonas Abib, nosso Pai Fundador: "Maria está à frente do exército de todos aqueles que querem vencer". Qual a sua luta? Apresente-a para Nossa Senhora.
Ela rezará ao seu Filho por quem a invoca. Quem reza a Maria já não se sente sozinho, porque reza com eles e por eles. Rezar o rosário é um pedido de Nossa Senhora, que incentivou a oração do Rosário em suas aparições. Em Lourdes, quando apareceu a Santa Bernadete, Maria tinha um Rosário. Em Fátima, exortou em todas as aparições as três crianças a rezarem todos os dias o Rosário pela paz.


Muitos santos da Igreja Católica deixaram testemunho de amor e eficácia sobre o Rosário:

"Se quiserdes que a paz reine em vossas famílias e em vossa Pátria, rezai todos os dias, em família, o Santo Rosário." (São Pio X)

"Dai-me um exército que reze o rosário, e eu vencerei o mundo."  (Papa São Pio X)

"Felizes as pessoas que rezam bem o Santo Rosário, porque Maria Santíssima lhes obterá graças na vida, graças na hora da morte e glória no Céu." (Santo Antônio Maria Claret)

"Com esta arma, afastei muitas almas do diabo." (São João Maria Vianney – Cura d'Ars)

"O Santo Rosário é a melhor devoção do povo cristão." (São Francisco de Sales)

"O Rosário acompanhou-me nos momentos de alegria e nas provações. A ele confiei tantas preocupações; nele, encontrei sempre conforto." (São João Paulo II)

São João Vianney, padroeiro dos sacerdotes, raramente era visto sem um rosário na mão.

"O rosário é o flagelo do diabo." (Papa Adriano VI)

"O rosário é um tesouro de graças." (Papa Paulo V)

Padre Pio disse: "O Rosário é A ARMA" para vencer todas as batalhas.

São Luís Maria Grignion de Montfort escreveu: "O rosário é a arma mais poderosa para tocar o Coração de Jesus, Nosso Redentor, que tanto ama Sua Mãe".

Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!


Sônia Venâncio, missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/qual-a-historia-de-nossa-senhora-do-rosario/


4 de outubro de 2023

Você conhece quem foram os mártires do Brasil?


Os mártires que defenderam a fé católica

Creio que poucas pessoas saibam que o Brasil é berço de muitos mártires que morreram por defender a católica em solo brasileiro. Nem todos nasceram no país, mas evangelizaram aqui e, por isso, morreram pela fé católica. Mártir, para a Igreja, oficialmente, é aquela pessoa que foi beatificada pelo Papa e declarada por ele mártir, após um longo e especificamente processo. Infelizmente, tem-se usado a palavra "mártir" na Igreja indevidamente. Não podemos antecipar a decisão da Instituição criada por Cristo.

Vejo gente chamando Dom Romero de mártir, por ter lutado pela justiça na sua pátria; outros chamam padre Józimo de mártir da terra; padre Rodolfo Lukenbein, defensor dos índios contra posseiros no Mato Grosso etc. Nem mesmo um processo de beatificação existe instalado no Vaticano sobre eles, então, não podemos chamá-los de mártires, embora possam ter sido grandes cristãos, e foram assassinados. Só é considerado mártir pela Igreja quem morre explicitamente em defesa da fé, e não por causa social e política como Martin Luther King, Robert Kennedy, Tiradentes entre outros. Não se pode querer definir as coisas na Igreja sem o Sumo Pontífice.

Você conhece quem foram os Mártires do Brasil

No Brasil, no entanto, houve grandes mártires no Rio Grande do Norte na época (1630-1654), quando os holandeses protestantes calvinistas ocuparam alguns lugares no país e quiseram obrigar o povo católico a se tornar calvinista. Morreram em defesa da fé católica e, por isso, os que foram identificados foram beatificados pelo Papa. O primeiro grupo de católicos massacrados pelos calvinistas, cerca de 70 pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da Vila de Cunhaú, Rio Grande do Norte. O segundo grupo de mesmo número foi chacinado em Uruaçu. Esses mártires foram beatificados no ano 2000. Dom Estevão Bettencourt narrou bem os fatos sobre esse assunto em sua revista (PR, Nº 451, 1999, pg. 530).

A invasão dos holandeses no Nordeste do Brasil

Os holandeses invadiram o Nordeste do Brasil e dominaram uma região desde o Ceará até Sergipe de 1630 a 1654. Eram protestantes calvinistas e vieram com seus pastores para doutrinar os índios. Isso gerou uma situação difícil para os católicos da região, porque foi proibida a celebração de Santa Missa. Em Cunhaú (RN), um pastor protestante prometeu poupar a vida de todos caso negassem a fé católica, ou que a população não a aceitasse. Então, no domingo, 16 de julho de 1645, festa de Nossa Senhora do Carmo, na capela da Vila de Cunhaú, concentraram-se aproximadamente setenta pessoas para participar da Santa Missa.

Padre André de Soveral, com seus noventa anos de idade, iniciou a Santa Missa. Os soldados holandeses, armados de baionetas, chefiando um grupo de índios canibais, invadiram a capela, em grande algazarra, logo após a consagração do pão e do vinho. Fecharam-se as portas da capela e chegaram a massacrar os fiéis, impossibilitados de fugir. O sacerdote foi morto a golpes de sabre. O chefe da carnificina foi um alemão a serviço dos holandeses com o nome de Jacob Rabbi. Terminado o massacre, os algozes se retiraram, deixando os mortos estendidos no chão da capela. Um relato da época diz que os índios canibais devoraram as carnes das vítimas.

Outro grupo, mais numeroso, cerca de setenta pessoas, sem contar os escravos e as crianças, foram para um local às margens do Rio Grande (Rio Uruaçú), onde construíram um abrigo fortificado e tomaram o nome da Comunidade Potengi.

Essa comunidade foi atacada por índios armados, comandada por Jacob Rabino e um famoso chefe indígena e acompanhada por soldados holandeses. Mataram todos os habitantes da fortaleza, inclusive padre Ambrósio Ferro e muitas pessoas de Natal. Relatam os cronistas que a uns cortaram os braços e as pernas, a outros degolaram, a outros arrancaram as orelhas ou arrancaram a língua antes de os matarem. Alguns cadáveres foram esquartejados: a Mateus Moreira arrancaram o coração pelas costas; antes de morrer, ainda podia gritar em alta voz: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento!".

Essa é a versão dos fatos como se encontra no livro "O Valoroso Lucideno" de autoria de Frei Manuel Calado, publicado em Lisboa no ano de 1648. Frei Manuel escreveu na mesma época em que tudo ocorreu. Existe outra versão do episódio, idêntica à anterior e com mais detalhes. Encontra-se no livro "Os Holandeses no Brasil" de monsenhor Paulo Herôncio.


O martírio do padre Inácio Azevedo e seus companheiros

Um outro fato que merece menção é o martírio do padre Inácio Azevedo e seus companheiros. Ele foi a Portugal buscar reforços para a evangelização dos índios no Brasil. No dia 5 de junho de 1570, o sacerdote e 39 companheiros, na caravela mercante "São Tiago", partiram de volta para o solo brasileiro. A caravela foi alcançada pelo corsário francês Jacques Sourie, calvinista, que partiu de La Rochelle para capturar os jesuítas. Esses foram friamente degolados; o número de mártires foi 40. O culto desses mártires foi confirmado por Pio IX em 1854. (Sgarbosa, 1978, p. 224) e a memória litúrgica deles é dia 17 de julho.

Esses fatos formam uma triste "inquisição" desconhecida e que não é contada.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/historia-da-igreja/voce-conhece-quem-foram-os-martires-do-brasil/


2 de outubro de 2023

Quem são os mensageiros, protetores e guias de Deus?

Os arcanjos são mensageiros de Deus, protetores e guias espirituais

Dia 29 de setembro é festa litúrgica em honra aos Príncipes dos anjos do céu. Na tradição católica, os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael desempenham papéis significativos como mensageiros e protetores divinos de Deus. Cada um deles possui características distintas e é venerado por diferentes motivos.

Neste artigo, exploraremos quem são esses arcanjos. O que a Igreja diz sobre eles, destacando seus papéis e influências na fé católica.

Arcanjo Miguel: O Defensor do Povo de Deus

O Arcanjo Miguel é frequentemente associado à coragem e à proteção divina. Seu nome, em hebraico, significa "Quem é como Deus?". Ele é considerado o líder dos exércitos celestiais e é o defensor dos fiéis contra as forças do mal. Miguel é frequentemente representado como um guerreiro celestial, empunhando uma espada flamejante para derrotar Satanás e suas hostes demoníacas.

A devoção a este Arcanjo nasce do coração da Igreja agradecida pelos favores que, ao longo dos séculos, foi favorecida por intermédio da intercessão deste irmão poderoso e íntimo do Senhor.

Créditos: umbertoleporini by GettyImages.

São Miguel, ao longo da história, tornou-se modelo de adoração, dedicação e amor a Deus e a cada um de nós, justamente por ter lutado contra a serpente enganadora, que, vomitando seu rio de morte, tenta ainda destruir cada fiel ( Ap 12,17).

A presença de São Miguel em nossa vida é concreta. Este Arcanjo se caracteriza como um irmão mais velho, que, conhecendo as artimanhas do inimigo, nos defende e luta em nosso favor, para que a promessa de Deus se cumpra em nossa vida. Neste sentido, São Gregório Magno nos escreveu a respeito da importância de quem é o Príncipe dos anjos e porque ele vem em nosso auxílio:

"Todas as vezes que se trata de fazer coisas maravilhosas, o enviado é Miguel, para dar a entender por suas ações e por seu nome que ninguém pode fazer aquilo em que só Deus é eficiente"1.

Entre os príncipes dos anjos, é o primeiro a se posicionar no céu para vir em socorro dos seus irmãos aqui na Terra. São Miguel nos ama tanto, que Deus concedeu a Ele ser o guardião das almas e do Paraíso. Uma das pessoas que, com certeza, você encontrará no céu será Ele, e descobrirás o quanto este irmão intercedeu por sua vida! Na Igreja Católica, São Miguel é venerado como o padroeiro dos soldados e protetor da Igreja. A oração a São Miguel é recitada por muitos católicos como uma súplica pela proteção divina em tempos de adversidade e tentação.

Arcanjo Gabriel: O Embaixador de Deus

O Arcanjo Gabriel é amplamente conhecido por sua função como mensageiro divino. Seu nome significa "Deus é minha força". Gabriel é lembrado por anunciar o nascimento de Jesus a Maria, a Virgem Mãe, no episódio conhecido como a Anunciação. Foi Gabriel quem trouxe a Boa Nova de que Maria conceberia o Filho de Deus pelo Espírito Santo.

São Gabriel, na cultura judaica, é considerado o Anjo da justiça de Deus. Ora, quando o Altíssimo precisa fazer justiça à Terra, ele envia o seu Arcanjo. Foi por isso que Gabriel foi enviado por Deus a Zacarias, que pedia a Deus justiça pela sua condição de humilhação de não ter gerado filhos e de ser estéril junto com sua esposa. A sua missão junto ao pai de João Batista é a prova concreta de que Deus não é indiferente aos nossos sofrimentos.

O Arcanjo Gabriel também é o arcanjo do mistério da encarnação do Verbo. Por isso, nas iconografias antigas, temos sempre São Gabriel associado a Virgem Maria.

Por fim, Gabriel é considerado o arcanjo da esperança, da revelação e da comunicação. Sua influência é frequentemente invocada por aqueles que buscam orientação espiritual e inspiração.

Arcanjo Rafael: O Médico do céu e guerreiro de Deus

O Arcanjo Rafael é conhecido por sua missão como um curador divino. Seu nome significa "Deus curou". Na Bíblia, especificamente no Livro de Tobias, Rafael desempenha um papel crucial ao curar Tobit da cegueira e auxiliá-lo em sua jornada.

Infelizmente, ao longo do tempo, São Rafael foi reduzido a sua função curativa. Mas poucos sabem que, afinal, o Arcanjo em questão é também um anjo poderosíssimo contra o maligno. Ele liberta Sara do espírito maligno Asmodeu, e o acorrenta sozinho no deserto.

Ele também é o protetor dos noivos, das famílias e dos peregrinos. O que isso significa? Que São Rafael é o arcanjo da cura e da libertação. Sobre este assunto, nos escreveu Bento XVI:

"São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os Seus discípulos em missão, com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada à de curar. O bom Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada, torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho já em si é curar, porque o homem precisa, sobretudo, da verdade e do amor.

Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta os demónios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre."2


Os arcanjos são seres angelicais que agem como mensageiros de Deus

Como vemos, a veneração dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael é uma parte importante da tradição católica. Eles são considerados seres angelicais que agem como mensageiros de Deus, protetores e guias espirituais para os fiéis. A Igreja Católica ensina que a devoção a esses arcanjos não é adoração, mas sim forma de buscar a intercessão e proteção divina por meio de suas poderosas influências.

Os católicos são encorajados a recorrer a esses arcanjos em momentos de necessidade, seja para pedir proteção contra o mal, orientação espiritual ou cura. As orações a São Miguel, São Gabriel e São Rafael são comuns na liturgia católica e nas práticas de devoção pessoal.

A intercessão celestial e na proteção divina na nossa jornada da fé!

Resumindo: Miguel, Gabriel e Rafael desempenham papéis essenciais na tradição católica, representando diferentes aspectos da fé e da devoção. Miguel é o protetor contra as forças do mal, Gabriel é o mensageiro divino que anunciou o nascimento de Jesus, e Rafael é o curador divino que oferece auxílio em momentos de necessidade. A devoção a esses arcanjos continua a ser uma parte significativa da espiritualidade católica. Demonstram a crença na intercessão celestial e na proteção divina na jornada da fé.

Que nesta festa aos santos Arcanjos, possamos mais uma vez descobrir o amor e auxílio que estes três campeões de Deus exercem em nossas vidas!

Santos Arcanjos Rogai por nós.

Referências:

1 Gregorio Magno, Homilia 34.
Bento XVI, Homilia Por Ocasião Da Ordenação Episcopal A Seis Novos Bispos Na Festa Dos Arcanjos Miguel, Gabriel E Rafael, 29 de setembro 2007.



Rafael Brito

Rafael F. de Brito é missionário do Movimento Aliança de Misericórdia. Professor e pregador, ele é mestre e doutorando em Teologia Dogmática pela Universidade Gregoriana de Roma, e mestre e doutorando em filosofia pela Universidad Pontificia de SALAMANCA. Casado, Brito é, atualmente, residente em Roma, Itália.

Mídias Sociais @rafaelfdebrito ==> Instagram, YouTube, Facebook e Twitter


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/os-mensageiros-e-protetores-divinos/

29 de setembro de 2023

A Sopa de Pedra


Essa é mais uma história da Carochinha, um conto tradicional brasileiro. Na versão mais conhecida é mais uma aventura do nosso conhecido personagem folclórico, Pedro Malasartes, mas como todo conto antigo, pode ser encontrado com muitos pontos diferentes.

Eu mesma montei esse conto sob encomenda, para um evento sobre alimentação saudável no dia das bruxas, então eu troquei a velha por uma bruxa para fazer esta versão…

….Tralalalalá, a História Vai Começar….

A SOPA DE PEDRA

Pedro Pedroca Nariz de Pipoca era um menino muito esperto e sapeca. Adorava brincar com os amigos, jogar bola, brincar de pique-esconde e pega-pega. Mas o que ele gostava mesmo de fazer era comer. Comia de tudo. Frutas, verduras e cereais ele não recusava jamais.

Por isso mesmo ficou feliz da vida quando sua mãe anunciou que nessas férias ele iria passar um mês inteiro na casa da tia Clotilda. É que a tia Clotilda mora num sítio. Dá pra colher fruta no pé, comer verduras e legumes da horta, colhidos na hora, sem um veneninho sequer. Catar ovos no galinheiro, pescar no ribeirão um peixe fresco. Sem contar as delícias que a tia Clotilda fazia: doces de frutas e compotas, tortas de maçã ou de amora e tirava leite da vaca Mimosa pra beber ainda quentinho ou bater com jeitinho pra fazer manteiga, requeijão, iogurte e queijo fresco… ahhh! Pedrinho ficava com água na boca só de pensar, mal podia esperar.

Mas pra alegria de Pedro as férias não tardaram a chegar e logo ele foi viajar.

Na primeira semana ele comeu de se empanturrar e brincou até se acabar. Mas um dia estava brincando sozinho quando lembrou do filme da Chapeuzinho em que ela colhia amoras silvestres na floresta. Pensou que delícia seria uma torta de amora feita pela sua tia Clotilda. Resolveu ir colher amoras naquela mesma hora. E não é que o Pedrinho, apesar de ser esperto como ele era, foi procurar amoras sozinho na floresta.

Sabem o que ele descobriu? Que não é tão fácil achar frutas no meio do mato. Procurou, procurou e não achou nada. E o pior, também não conseguiu encontrar o caminho de volta para casa. Andou e andou o dia inteirinho e ainda uma boa parte da tarde procurando o caminho.

Já estava cansado e verde de fome, com o estômago encostando nas costas, quando viu uma cabana no alto de uma colina. Ficou tão feliz que nem se lembrou da história do João e da Maria.

-Viva, estou salvo. Além de conseguir descobrir o caminho de volta pra casa da minha tia, ainda posso conseguir um rango e acabar com o ronco da minha barriga.

E lá se foi o Pedro para o alto da colina bater na casa para pedir ajuda e comida. O que ele não sabia é que naquela casa morava uma Bruxa mão de vaca, pão dura, mão fechada, lazarenta…

Quando ele bateu a bruxa gritou lá de dentro que era pra não gastar a sola do sapato indo até a porta:

-Se for vendedor é melhor dar o fora daqui, antes que eu te transforme em um sagui! E se for pedinte é melhor sair correndo, antes que eu te transforme em um sapo fedorento.

Mas como o Pedrinho era esperto e afiado como uma navalha, bolou um plano e respondeu na lata:

-Não vim pedir nada não, apenas permissão. É que sou viajante e sabe como é, não posso ficar gastando com comida, por isso como sopa de pedra todos os dias. E recebi a informação de que as melhores pedras para sopa encontram-se nessa região. Se a senhora me permitir algumas pedras recolher em troca eu lhe ensino essa deliciosa sopa a fazer.

E a velha pensou consigo:

-Ora! Se eu ainda gasto o meu rico dinheirinho é para comprar comida, se aprender a fazer a tal sopa de pedras certamente ficarei muito rica…

Resolveu gastar a sola do sapato e foi abrir a porta:

-Entre, entre, por favor, só não vá se sentar para não gastar a cadeira, ela ainda está novinha, tem só setenta anos, não vai durar mais cem se você ficar gastando… É que eu economizo muito sabe, esta minha roupa já tem duzentos e trinta e cinco anos, o segredo é não lavar, para não gastar o pano. Mas vamos lá, o que é que você precisa para fazer a sopa de pedras?

-Uma panela com água, fogo e pedras.

-Ora, ora, mas isso é mesmo uma coisa maravilhosa pode esperar que eu já vou providenciar.

Quando a velha colocou a panela de água para ferver no fogo o menino fingiu selecionar as pedras:

-Essa serve,  essa pode jogar fora, essa aqui tá muito boa, pode por na panela, ihh, essa daqui não presta.

Depois das pedras separadas Pedro tentou a primeira cartada:

-Por acaso a senhora não teria aí uma salsinha e uma cebolinha?

-Mas não era só água e pedra? Agora precisa de salsinha e cebolinha?

-Precisar não precisa, mas é que se tiver dá um cheirinho mais gostoso sabe.

-Bom nesse caso eu vou buscar, afinal tenho na horta, não preciso comprar…

Quando a velha trouxe o cheiro verde o menino continuou:

-E por acaso não teria aí uma cenoura?

-Quê? Agora precisa de cenoura?

-Precisar não precisa, mas sabe como é né, a cenoura dá uma corzinha pra sopa.

-Bom, se é assim eu tenho sim. Espera aí que eu vou buscar.

Enquanto cortava a cebola Pedrinho recomeçou:

-E uma batata, será que a senhora tem?

-Ora! Era só o que faltava, agora também precisa de batata?

-Precisar não precisa, mas veja bem, a senhora vai comer sopa de pedra pela primeira vez, é uma ocasião especial, vale a pena dar uma caprichada, e a batata serve pra dar uma engrossada…

-Bem, nesse caso eu vou pegar a batata.

Enquanto descascava a batata o menino ainda tentou mais uma cartada:

-E um pedaço de carne? Tem?

-O queeeeeê? Carne tá os olhos da cara! A sopa não era de pedra? Agora precisa de  carne?

-Precisar não precisa não, mas pensando na ocasião, a carne não ia nada mal e é bom pra dar um sabor especial.

-Tem um pedaço de carne na geladeira sim. Acontece que eu compro carne uma vez por ano, que é pra economizar, mas pensando bem, fazendo sopa de pedra eu nunca mais vou precisar comprar comida… Está bem, pode colocar a minha carninha.

Quando a sopa ficou pronta um cheiro delicioso se espalhou pelo ar. Pedrinho comeu logo cinco pratadas, mas a velha bruxa comeu uma só, pra economizar pro jantar.

Depois de comer a bruxa explicou pro Pedro o caminho de volta até a casa da tia Clotilda. O menino já estava de saída quando a velha falou:

-Espera, deixa eu anotar a receita: seleciono as pedras, ponho pra cozinhar. Daí vai cebolinha e salsinha pra dar um cheiro, cenoura pra dar cor, batata pra engrossar, carne pra dar sabor… mas espera aí! Pedro, ô Pedrinho! Pra que é que serve a pedra?

E o Pedro lá debaixo da colina gritou dando risada:

-A pedra é pra enganar a bruxa mão de vaca! Há, há, há, há!

A bruxa ficou vermelha de raiva e até pensou em ir atrás do menino pra transformá-lo em um sapo fedido, mas pensando bem, pra voar até lá, ia gastar a vassoura… além do que na poção pra transformar menino em sapo vai olho de dragão, e o olho de dragão tá muito caro.

FIM


Fonte: https://jardimdehistorias.com/a-sopa-de-pedra/


27 de setembro de 2023

3 santos que mudaram a história através da Palavra de Deus


Os santos tiveram suas vidas transformadas pela Palavra de Deus, já que uma condição fundamental para a santidade é a vivência radical do Evangelho.

comshalom São Jerônimo que escreve. Óleo sobre tela. Caravaggio

São Jerônimo

O primeiro santo é o que dá razão para celebrarmos a bíblia neste dia. Hoje, 30 de setembro, a Igreja vive a Memória de São Jerônimo, doutor nas Sagradas Escrituras. Ele recebeu a missão de traduzir pela primeira vez a Bíblia do hebraico (antigo testamento) e grego (Novo Testamento) para o latim, cuja versão ficou conhecida como vulgata. Se hoje eu e você temos acesso às Sagradas Escrituras facilmente em nosso próprio idioma, devemos em grande parte ao seu árduo trabalho de tradução que levou mais de 40 anos! A maior parte da vida de São Jerônimo foi dedicada a esse objetivo.

São Jerônimo nasceu na Dalmácia, hoje Croácia, no ano de 340. Foi batizado aos 25 anos e ao sentir o chamado para a vida monástica, foi morar na França, com monges que se dedicavam à oração, ao recolhimento e ao estudo. Depois optou por morar no deserto e lá encontrou-se com São Gregório, com quem aprendeu o caminho do amor pelo estudo das Sagradas Escrituras. São Jerônimo morreu com quase 80 anos no dia 30 de setembro do ano 420.

Um fato interessante é que o primeiro livro a ser impresso na história, foi a bíblia de Gutenberg. E para esta primeira edição foi escolhida justamente a vulgata de São Jerônimo. 

Santa Teresinha do Menino Jesus

Santa Teresinha do Menino Jesus é uma das santas mais populares da história da Igreja. Nasceu em Alençon (França) em 1873, filha de Louis Martin e Zélie Guérin. Cultivou desde criança o desejo de consagrar-se a Deus, tanto que, por permissão da Igreja, entrou no Carmelo aos 15 anos. Aos 24 anos, antes de morrer, disse que "que passaria o seu céu fazendo o bem nesta terra".

Em seu manuscrito autobiográfico "História de uma alma", percebe-se o seu grande amor à palavra de Deus. A "pequena via", doutrina mais importante ensinada pela carmelita, foi embasada em experiências profundas com a Sagrada Escritura: 

"Por mim, gostaria de encontrar um elevador para me erguer até Jesus, porque sou pequenina demais para subir a dura escada da perfeição. Busquei então nas Sagradas Escrituras uma indicação do elevador, objeto de meus desejos e li essas palavras: 'Se alguém é PEQUENINO venha a mim' (Prov. 94). Fui então com o pressentimento de ter achado o que procurava e com a vontade de saber, ó meu Deus, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso chamado. Continuando minhas reflexões encontrei: 'Como uma mãe acaricia o filhinho, assim vos consolarei e vos acalentarei em meu regaço' ( Is 66,9)". (História de uma Alma)

Daí a célebre frase: "o elevador que me fará subir até o céu, são vossos braços, ó Jesus, por isso não preciso ficar grande".  

A pequena via de Teresinha seria trilhada não apenas por ela, mas por todo aquele que deseja buscar a santidade no cotidiano e encontrar Deus de forma mais acessível. É uma via segura para o céu, tanto que por seus ensinamentos, foi proclamada Doutora da Igreja. 

Não podemos deixar de citar outra experiência marcante da vida de Teresinha, que marca também a Igreja e a torna padroeira das missões. Ainda em História de uma alma a santa cita que sente o desejo de abraçar todas as missões, e gostaria de vivê-las de alguma forma, então ao ler os capítulos 12 e 13 da primeira carta aos Coríntios, em que Paulo fala "aspirai os dons mais elevados e mostrar-vos ei um caminho mais perfeito ainda" e que os maiores dons não são nada sem o amor, Teresinha exclama com toda alegria: "No coração da Igreja, minha mãe serei o Amor, serei tudo".

santa_teresinhafotografia de Santa Teresinha do Menino Jesus

São Francisco de Assis

São Francisco de Assis também é um dos santos mais populares da Igreja Católica, cuja devoção é difundida pelo mundo inteiro. Nasceu entre 1181 e 1182 em Assis, na Itália, filho de Pedro e Pica Bernardone. Era um jovem de muitas posses e decidiu deixar tudo por amor a Deus.

Os momentos mais marcantes de sua vida que vieram ao nosso conhecimento foram um eco do que encontramos nos Evangelhos. Diante do seu chamado à Pobreza, o Pai de Francisco se indignava cada vez mais e resolveu exigir que seu filho lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco, abraçando a palavra: "Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim" (Mt 19,29), sem vacilar um momento, se despojou de tudo até ficar nu, jogou os trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: "Até agora chamei de pai a Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste". O Bispo, então, o acolheu.

A sua experiência mais conhecida foi quando estava na Capela de São Damião e ouviu o crucifixo bizantino lhe dizendo "Vai e reconstrói a minha Igreja". Francisco então iniciou sua nova vida como pedreiro, ajudando a reconstruir diversas igrejas nos arredores de Assis – esta de São Damião, a de São Pedro e a da Porciúncula, que segundo São Boaventura era a que ele mais amava. Nela descobriu, em 1208 ou 1209, na leitura de uma passagem do evangelho de Mateus, as linhas gerais que orientaram sua vocação, que a reconstrução que Deus pedia era muito mais profunda:

"Ide, disse o Salvador, e proclamai em todas as partes que o Reino do Céu está aberto. Vós recebestes gratuitamente; dai sem receber pagamento. Não leveis nem ouro, nem prata nem cobre em vossos cintos, nem um alforje, nem uma segunda túnica, nem sandálias, nem o cajado de viajante, pois o trabalhador merece ser sustentado. Em qualquer vila em que entrardes procurai alguma pessoa digna, e hospedai-vos com ela até partirdes. E quando entrardes em uma casa, saudai-a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz." 

Quando fundou a ordem dos frades menores, a sua regra principal era: "Observar o Santo Evangelho, viver da obediência, da castidade e não possuir absolutamente nada, e só dividir a pobreza". Francisco morreu no dia três de outubro de 1226, com menos de 45 anos, depois de escutar a leitura da Paixão do Senhor.

São Francisco meditando a palavra. Óleo sobre tela. Caravaggio

Ainda podemos citar Santa Teresa D'Avila, que é doutora da Igreja e desenvolveu um de seus escritos "Caminho de Perfeição" baseados na oração do Pai-nosso, que está no Evangelho, e também Santa Faustina, cuja missão foi aproximar e proclamar ao mundo a verdade revelada na Sagrada Escritura sobre o amor misericordioso de Deus a cada pessoa, e tantos outros santos que também mudaram o curso da história através de seu testemunho e configuração a Cristo através das Sagradas Escrituras. E você, que experiência com a palavra de Deus mudou a sua vida?


Fonte: https://comshalom.org/3-santos-que-mudaram-a-historia-atraves-da-palavra-de-deus/


25 de setembro de 2023

Padre Pio: o Narrador da Divina Misericórdia


Parece um atributo estranho, mas São Pio de Pietrelcina, o frade Capuchinho, não foi simplesmente um "narrador" daquilo que o Deus da Misericórdia operava na vida de tantas pessoas que a ele se apresentavam no Sacramento da Reconciliação, ou seja, de outra forma.

Para compreender bem como o Padre Pio foi narrador e mediador da Misericórdia Divina, não podemos ignorar duas bases teológicas e espirituais sumamente decisivas: Jesus Cristo e a Igreja. Padre Pio está intimamente ligado a Cristo, o Crucificado, o Ressuscitado, fiel e amorosamente unido à Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus.

As bases teológicas e espirituais de Padre Pio

Se não se entra nesta circularidade cognitiva fundada no amor, não é possível captar nas autênticas testemunhas de Cristo a passagem de Deus, ou seja, aquele "quid" que torna a sua diaconia relevante para enfrentar os problemas do presente. Estamos claramente na presença de um tipo de operação teológica, isto é, um elemento fundamental da experiência de Fé na qual os acontecimentos histórico-biográficos se tornam o lugar da manifestação desta fenomenologia do Espírito.

Créditos: Arquivo CN

No humilde frade, que após presidir a Celebração Eucarística pela manhã, ao romper da aurora, passa muitas horas do dia escutando confissões e depois rezando, e que, mesmo à noite, quando a saúde lhe permite, escreve longas cartas para a orientação espiritual das almas que lhe foram confiadas, não podemos deixar de vislumbrar uma participação na Obra da Redenção Divina.

Há, de fato, uma Misericórdia celestial que, por meio do depoimento de autênticas testemunhas de Cristo, espera vir como um bálsamo sobre a humanidade ferida. Mas ela sempre surge neles quando se percebem como objeto de grande amor e predileção divinos.

Ele perdoa e é capaz de perdoar aqueles que, por sua vez, se sentiram amados e perdoados. Aquele que tocou a Misericórdia de Deus com sua própria mão e passou pelo tempo do sofrimento, daquela santa tribulação que, como um cadinho, purifica o homem e a mulher de fé. Nessa perspectiva, como lembrou o teólogo Von Balthasar, "os santos são contemporâneos do Evangelho".

O pecado é a causa da verdadeira morte do homem

A diaconia do Padre Pio, vivida entre o Altar e o Confessionário, é para nós uma mensagem de grande importância, e que precisa ser considerada com urgência. Para ele, a reconstrução do homem passa pela cura de suas feridas, e para isso devemos partir do interior, da sua alma, de seu coração, removendo aquilo que pode causar sua verdadeira morte: o pecado. Lembremos que Jesus, quando Lhe trouxeram um paralítico em uma maca, antes de curá-lo, para grande surpresa do povo, perdoou-lhe os pecados, dizendo: "Os teus pecados te são perdoados" (Mc 2,1-11). Isso significa que o verdadeiro mal que pode destruir o homem é o pecado, e este, uma vez removido, abre o caminho para a cura. Quando isso acontece, manifesta-se com um sinal que antecipa os efeitos da ressurreição de Cristo.

E na época do Padre Pio, nos anos de sua chegada ao pequeno mosteiro capuchinho, havia uma humanidade ferida e perturbada pela Primeira Guerra Mundial. Carente de referências espirituais, órfã de tantos pais. E, portanto, fraca, propensa a se submeter ao fascínio da sedução mística e delirante encarnada na loucura das ditaduras do século XX. É significativo que, diante de tanta raiva, a época da ira, haja uma resposta divina toda centrada na misericórdia da Irmã Faustina Kowalska ao Padre Pio. O humilde frade, tomando Jesus como modelo, gostava de escrever e repetir: "A ira é vencida pela mansidão".

A conversão verdadeira e sincera

Essas primeiras coordenadas nos sugerem que há uma luta, uma batalha a ser travada, mas não nas trincheiras espalhadas pela terra, mas no coração do homem. Essa perspectiva de combate espiritual nos ajuda a ler a severidade do confessor Padre Pio. Em vez de ser um obstáculo ao fluxo da providência divina, ela favoreceu a conversão verdadeira e sincera. Naquele confessionário, o diálogo entre o próprio Deus e seu povo marca a história da salvação.

A escuta amorosa e misericordiosa de Deus

Papa Francisco escreveu admiravelmente, na Evangelii Gaudium, que o "sacerdote, na homilia, continua o diálogo entre Deus e seu povo". Sob essa luz, parece-nos que o sacerdote, no confessionário, também retoma o mesmo diálogo, mas à maneira dos profetas, ou seja, apresentando, no encontro com o penitente, a escuta amorosa e misericordiosa de Deus, entrelaçada com a pedagogia do julgamento e da consolação. Uma práxis que lembra o modo como a Escritura nos apresenta a ação de Deus, que parece quase entrar em "litígio" com seu povo.

Os estudiosos descreveram essa tendência com o gênero literário "rîb", ou seja, Deus inicial e aparentemente parece recusar o perdão dos pecados de Seu povo, abrindo-se para a riqueza do perdão após um determinado tempo. Essa experiência, narrada pelos profetas, parece ser comum à maneira como São Pio acolhia e, às vezes, rejeitava o pecador.

Acolher o pecador e mostrá-lo a verdade sobre si mesmo

Jesus, em várias páginas dos Evangelhos, acolhe os pecadores, mas os confronta com a verdade sobre si mesmos e, justamente porque a misericórdia não significa cumplicidade, mas convida o homem a reler a própria existência com os olhos de uma fé renovada n'Ele, o único capaz de fazer surgir a novidade da vida. O horizonte final nunca é o abandono, mas o perdão.

São Francisco também disse que "onde há misericórdia e discrição não há supérfluo nem dureza" (Escritos de São Francisco, FF 177). Portanto, mesmo quando o Padre Pio afastou os penitentes de seu confessionário, isso serviu para completar a ação da graça divina que havia inspirado neles o desejo de Deus. Porém, ainda faltava aquela conversão que sempre se experimenta quando se depara com a própria pobreza e limitação. Pois Deus, por meio de humilhações e fracassos, completa no crente a obra de esvaziamento de si mesmo para dar espaço à sua graça.


Um legado para os Grupos de Oração

Juntamente com o perdão sacramental, Padre Pio desejava ao seus filhos a perseverança na oração. Sem dúvidas, Padre Pio era sumamente convicto dessa estrutura antropológica, da qual era urgente restaurar. Para isso, precisava "reconstruir" o homem e a humanidade, era necessário recomeçar a partir da oração, portanto, da dimensão espiritual. Outra pista que nos permite entender como a verdadeira luta ocorre novamente no coração do homem.

Aqui a oração de tantos, a oração dos "Grupos de Oração", desejada pelo Padre Pio, torna-se como uma aliança que prepara o campo no qual a Misericórdia Divina pode ser aceita e dar frutos. Isso é particularmente evidente na oração de intercessão, que é típica de nossos Grupos até hoje.

É importante dizer que, no Mistério da Graça, a oração tem sempre dimensão coletiva e não isolada ou individualista e egocentrada. Portanto, quando Padre Pio insiste nos "Grupos de Oração", ele está propondo a "restauração do homem" que só pode se dar por completo quando vive plenamente em relacionamentos saudáveis nos seus respectivos níveis. Não existe e não existirá Fé sem Oração, e não existirá Oração sem vida comunitária.

A oração à Misericórdia Divina

De fato, com suas orações, eles fortalecem a Obra da Graça, que, por si só, continua a fortalecer os corações, provocando as consciências para uma decisão por Deus à conversão. As orações de Santa Mônica desempenharam um papel semelhante na conversão de Santo Agostinho. Assim, também hoje, as muitas orações acompanham a recepção da misericórdia divina.

A Misericórdia Divina, combinada com a oração fervorosa dos grupos espalhados pelo mundo, também se expressa no cuidado amoroso e no alívio do sofrimento humano praticados naquela cidade que o santo estigmatizado queria. Uma misericórdia compassiva para um povo hospitalizado em que a patologia vivida pelo corpo nunca é separada do sofrimento vivido pela alma.

A Casa do Alívio, uma obra a serviço da misericórdia

Ao entrar na "Casa do Alívio", a partir da "Viale Capuchinos", depois de subir os muitos degraus do lado de fora do hospital e, em seguida, entrar pela porta principal, no primeiro lance de escada nos deparamos com uma estátua do Padre Pio confessando um penitente. Um sinal de cura da alma e uma luta contra o mal, que deve acompanhar a cura do corpo. Uma antropologia integral para um modelo de saúde que engloba o homem inteiro, e não é por acaso que se chama "alívio do sofrimento".

A Casa do Alívio, portanto, como uma Obra a serviço da Misericórdia Divina, no pensamento do Padre Pio, é um ponto de encontro entre ciência e sabedoria, caridade e serviço ao próximo. É a evidência de que o homem se completa e se realiza por inteiro, no corpo e na alma.
Ao celebrarmos hoje a memória litúrgica de São Pio, somos solicitados a visitar nossa história e fazê-la não sozinhos, mas acompanhados daquele que é a Misericórdia do Pai, Jesus.

Ser como Padre Pio!

Quantos de nós ainda estamos estacionados em pontos de nossas histórias pessoais e não percebemos. Mas estes "estacionamentos" de nossas histórias, produzem os piores sentimentos de angústia. Se não forem sanados, se manifestarão em tantas formas de doenças e até muito pior, podem se tornar um estilo de vida doentia. Por isso é importante ter coragem de ir em cada "estacionamento" de nossas vidas e permitir que, nosso companheiro de viagem – Jesus – possa pronunciar sua Palavra Libertadora: "Teus pecados estão perdoados".

Assim podemos ser como Padre Pio: "Narradores da Misericórdia"! Narramos em primeira pessoa, uma história nova escrita com a caneta da Reconciliação e do Perdão. Permitimos e testemunhamos que Ele mesmo operou sua Misericórdia em nós a partir de nossas almas.

Que Padre Pio nos ajude a ser como ele, "Narradores da Misericórdia".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/padre-pio-o-narrador-da-divina-misericordia/