2 de outubro de 2023

Quem são os mensageiros, protetores e guias de Deus?

Os arcanjos são mensageiros de Deus, protetores e guias espirituais

Dia 29 de setembro é festa litúrgica em honra aos Príncipes dos anjos do céu. Na tradição católica, os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael desempenham papéis significativos como mensageiros e protetores divinos de Deus. Cada um deles possui características distintas e é venerado por diferentes motivos.

Neste artigo, exploraremos quem são esses arcanjos. O que a Igreja diz sobre eles, destacando seus papéis e influências na fé católica.

Arcanjo Miguel: O Defensor do Povo de Deus

O Arcanjo Miguel é frequentemente associado à coragem e à proteção divina. Seu nome, em hebraico, significa "Quem é como Deus?". Ele é considerado o líder dos exércitos celestiais e é o defensor dos fiéis contra as forças do mal. Miguel é frequentemente representado como um guerreiro celestial, empunhando uma espada flamejante para derrotar Satanás e suas hostes demoníacas.

A devoção a este Arcanjo nasce do coração da Igreja agradecida pelos favores que, ao longo dos séculos, foi favorecida por intermédio da intercessão deste irmão poderoso e íntimo do Senhor.

Créditos: umbertoleporini by GettyImages.

São Miguel, ao longo da história, tornou-se modelo de adoração, dedicação e amor a Deus e a cada um de nós, justamente por ter lutado contra a serpente enganadora, que, vomitando seu rio de morte, tenta ainda destruir cada fiel ( Ap 12,17).

A presença de São Miguel em nossa vida é concreta. Este Arcanjo se caracteriza como um irmão mais velho, que, conhecendo as artimanhas do inimigo, nos defende e luta em nosso favor, para que a promessa de Deus se cumpra em nossa vida. Neste sentido, São Gregório Magno nos escreveu a respeito da importância de quem é o Príncipe dos anjos e porque ele vem em nosso auxílio:

"Todas as vezes que se trata de fazer coisas maravilhosas, o enviado é Miguel, para dar a entender por suas ações e por seu nome que ninguém pode fazer aquilo em que só Deus é eficiente"1.

Entre os príncipes dos anjos, é o primeiro a se posicionar no céu para vir em socorro dos seus irmãos aqui na Terra. São Miguel nos ama tanto, que Deus concedeu a Ele ser o guardião das almas e do Paraíso. Uma das pessoas que, com certeza, você encontrará no céu será Ele, e descobrirás o quanto este irmão intercedeu por sua vida! Na Igreja Católica, São Miguel é venerado como o padroeiro dos soldados e protetor da Igreja. A oração a São Miguel é recitada por muitos católicos como uma súplica pela proteção divina em tempos de adversidade e tentação.

Arcanjo Gabriel: O Embaixador de Deus

O Arcanjo Gabriel é amplamente conhecido por sua função como mensageiro divino. Seu nome significa "Deus é minha força". Gabriel é lembrado por anunciar o nascimento de Jesus a Maria, a Virgem Mãe, no episódio conhecido como a Anunciação. Foi Gabriel quem trouxe a Boa Nova de que Maria conceberia o Filho de Deus pelo Espírito Santo.

São Gabriel, na cultura judaica, é considerado o Anjo da justiça de Deus. Ora, quando o Altíssimo precisa fazer justiça à Terra, ele envia o seu Arcanjo. Foi por isso que Gabriel foi enviado por Deus a Zacarias, que pedia a Deus justiça pela sua condição de humilhação de não ter gerado filhos e de ser estéril junto com sua esposa. A sua missão junto ao pai de João Batista é a prova concreta de que Deus não é indiferente aos nossos sofrimentos.

O Arcanjo Gabriel também é o arcanjo do mistério da encarnação do Verbo. Por isso, nas iconografias antigas, temos sempre São Gabriel associado a Virgem Maria.

Por fim, Gabriel é considerado o arcanjo da esperança, da revelação e da comunicação. Sua influência é frequentemente invocada por aqueles que buscam orientação espiritual e inspiração.

Arcanjo Rafael: O Médico do céu e guerreiro de Deus

O Arcanjo Rafael é conhecido por sua missão como um curador divino. Seu nome significa "Deus curou". Na Bíblia, especificamente no Livro de Tobias, Rafael desempenha um papel crucial ao curar Tobit da cegueira e auxiliá-lo em sua jornada.

Infelizmente, ao longo do tempo, São Rafael foi reduzido a sua função curativa. Mas poucos sabem que, afinal, o Arcanjo em questão é também um anjo poderosíssimo contra o maligno. Ele liberta Sara do espírito maligno Asmodeu, e o acorrenta sozinho no deserto.

Ele também é o protetor dos noivos, das famílias e dos peregrinos. O que isso significa? Que São Rafael é o arcanjo da cura e da libertação. Sobre este assunto, nos escreveu Bento XVI:

"São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os Seus discípulos em missão, com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada à de curar. O bom Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada, torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho já em si é curar, porque o homem precisa, sobretudo, da verdade e do amor.

Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta os demónios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre."2


Os arcanjos são seres angelicais que agem como mensageiros de Deus

Como vemos, a veneração dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael é uma parte importante da tradição católica. Eles são considerados seres angelicais que agem como mensageiros de Deus, protetores e guias espirituais para os fiéis. A Igreja Católica ensina que a devoção a esses arcanjos não é adoração, mas sim forma de buscar a intercessão e proteção divina por meio de suas poderosas influências.

Os católicos são encorajados a recorrer a esses arcanjos em momentos de necessidade, seja para pedir proteção contra o mal, orientação espiritual ou cura. As orações a São Miguel, São Gabriel e São Rafael são comuns na liturgia católica e nas práticas de devoção pessoal.

A intercessão celestial e na proteção divina na nossa jornada da fé!

Resumindo: Miguel, Gabriel e Rafael desempenham papéis essenciais na tradição católica, representando diferentes aspectos da fé e da devoção. Miguel é o protetor contra as forças do mal, Gabriel é o mensageiro divino que anunciou o nascimento de Jesus, e Rafael é o curador divino que oferece auxílio em momentos de necessidade. A devoção a esses arcanjos continua a ser uma parte significativa da espiritualidade católica. Demonstram a crença na intercessão celestial e na proteção divina na jornada da fé.

Que nesta festa aos santos Arcanjos, possamos mais uma vez descobrir o amor e auxílio que estes três campeões de Deus exercem em nossas vidas!

Santos Arcanjos Rogai por nós.

Referências:

1 Gregorio Magno, Homilia 34.
Bento XVI, Homilia Por Ocasião Da Ordenação Episcopal A Seis Novos Bispos Na Festa Dos Arcanjos Miguel, Gabriel E Rafael, 29 de setembro 2007.



Rafael Brito

Rafael F. de Brito é missionário do Movimento Aliança de Misericórdia. Professor e pregador, ele é mestre e doutorando em Teologia Dogmática pela Universidade Gregoriana de Roma, e mestre e doutorando em filosofia pela Universidad Pontificia de SALAMANCA. Casado, Brito é, atualmente, residente em Roma, Itália.

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Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/os-mensageiros-e-protetores-divinos/

29 de setembro de 2023

A Sopa de Pedra


Essa é mais uma história da Carochinha, um conto tradicional brasileiro. Na versão mais conhecida é mais uma aventura do nosso conhecido personagem folclórico, Pedro Malasartes, mas como todo conto antigo, pode ser encontrado com muitos pontos diferentes.

Eu mesma montei esse conto sob encomenda, para um evento sobre alimentação saudável no dia das bruxas, então eu troquei a velha por uma bruxa para fazer esta versão…

….Tralalalalá, a História Vai Começar….

A SOPA DE PEDRA

Pedro Pedroca Nariz de Pipoca era um menino muito esperto e sapeca. Adorava brincar com os amigos, jogar bola, brincar de pique-esconde e pega-pega. Mas o que ele gostava mesmo de fazer era comer. Comia de tudo. Frutas, verduras e cereais ele não recusava jamais.

Por isso mesmo ficou feliz da vida quando sua mãe anunciou que nessas férias ele iria passar um mês inteiro na casa da tia Clotilda. É que a tia Clotilda mora num sítio. Dá pra colher fruta no pé, comer verduras e legumes da horta, colhidos na hora, sem um veneninho sequer. Catar ovos no galinheiro, pescar no ribeirão um peixe fresco. Sem contar as delícias que a tia Clotilda fazia: doces de frutas e compotas, tortas de maçã ou de amora e tirava leite da vaca Mimosa pra beber ainda quentinho ou bater com jeitinho pra fazer manteiga, requeijão, iogurte e queijo fresco… ahhh! Pedrinho ficava com água na boca só de pensar, mal podia esperar.

Mas pra alegria de Pedro as férias não tardaram a chegar e logo ele foi viajar.

Na primeira semana ele comeu de se empanturrar e brincou até se acabar. Mas um dia estava brincando sozinho quando lembrou do filme da Chapeuzinho em que ela colhia amoras silvestres na floresta. Pensou que delícia seria uma torta de amora feita pela sua tia Clotilda. Resolveu ir colher amoras naquela mesma hora. E não é que o Pedrinho, apesar de ser esperto como ele era, foi procurar amoras sozinho na floresta.

Sabem o que ele descobriu? Que não é tão fácil achar frutas no meio do mato. Procurou, procurou e não achou nada. E o pior, também não conseguiu encontrar o caminho de volta para casa. Andou e andou o dia inteirinho e ainda uma boa parte da tarde procurando o caminho.

Já estava cansado e verde de fome, com o estômago encostando nas costas, quando viu uma cabana no alto de uma colina. Ficou tão feliz que nem se lembrou da história do João e da Maria.

-Viva, estou salvo. Além de conseguir descobrir o caminho de volta pra casa da minha tia, ainda posso conseguir um rango e acabar com o ronco da minha barriga.

E lá se foi o Pedro para o alto da colina bater na casa para pedir ajuda e comida. O que ele não sabia é que naquela casa morava uma Bruxa mão de vaca, pão dura, mão fechada, lazarenta…

Quando ele bateu a bruxa gritou lá de dentro que era pra não gastar a sola do sapato indo até a porta:

-Se for vendedor é melhor dar o fora daqui, antes que eu te transforme em um sagui! E se for pedinte é melhor sair correndo, antes que eu te transforme em um sapo fedorento.

Mas como o Pedrinho era esperto e afiado como uma navalha, bolou um plano e respondeu na lata:

-Não vim pedir nada não, apenas permissão. É que sou viajante e sabe como é, não posso ficar gastando com comida, por isso como sopa de pedra todos os dias. E recebi a informação de que as melhores pedras para sopa encontram-se nessa região. Se a senhora me permitir algumas pedras recolher em troca eu lhe ensino essa deliciosa sopa a fazer.

E a velha pensou consigo:

-Ora! Se eu ainda gasto o meu rico dinheirinho é para comprar comida, se aprender a fazer a tal sopa de pedras certamente ficarei muito rica…

Resolveu gastar a sola do sapato e foi abrir a porta:

-Entre, entre, por favor, só não vá se sentar para não gastar a cadeira, ela ainda está novinha, tem só setenta anos, não vai durar mais cem se você ficar gastando… É que eu economizo muito sabe, esta minha roupa já tem duzentos e trinta e cinco anos, o segredo é não lavar, para não gastar o pano. Mas vamos lá, o que é que você precisa para fazer a sopa de pedras?

-Uma panela com água, fogo e pedras.

-Ora, ora, mas isso é mesmo uma coisa maravilhosa pode esperar que eu já vou providenciar.

Quando a velha colocou a panela de água para ferver no fogo o menino fingiu selecionar as pedras:

-Essa serve,  essa pode jogar fora, essa aqui tá muito boa, pode por na panela, ihh, essa daqui não presta.

Depois das pedras separadas Pedro tentou a primeira cartada:

-Por acaso a senhora não teria aí uma salsinha e uma cebolinha?

-Mas não era só água e pedra? Agora precisa de salsinha e cebolinha?

-Precisar não precisa, mas é que se tiver dá um cheirinho mais gostoso sabe.

-Bom nesse caso eu vou buscar, afinal tenho na horta, não preciso comprar…

Quando a velha trouxe o cheiro verde o menino continuou:

-E por acaso não teria aí uma cenoura?

-Quê? Agora precisa de cenoura?

-Precisar não precisa, mas sabe como é né, a cenoura dá uma corzinha pra sopa.

-Bom, se é assim eu tenho sim. Espera aí que eu vou buscar.

Enquanto cortava a cebola Pedrinho recomeçou:

-E uma batata, será que a senhora tem?

-Ora! Era só o que faltava, agora também precisa de batata?

-Precisar não precisa, mas veja bem, a senhora vai comer sopa de pedra pela primeira vez, é uma ocasião especial, vale a pena dar uma caprichada, e a batata serve pra dar uma engrossada…

-Bem, nesse caso eu vou pegar a batata.

Enquanto descascava a batata o menino ainda tentou mais uma cartada:

-E um pedaço de carne? Tem?

-O queeeeeê? Carne tá os olhos da cara! A sopa não era de pedra? Agora precisa de  carne?

-Precisar não precisa não, mas pensando na ocasião, a carne não ia nada mal e é bom pra dar um sabor especial.

-Tem um pedaço de carne na geladeira sim. Acontece que eu compro carne uma vez por ano, que é pra economizar, mas pensando bem, fazendo sopa de pedra eu nunca mais vou precisar comprar comida… Está bem, pode colocar a minha carninha.

Quando a sopa ficou pronta um cheiro delicioso se espalhou pelo ar. Pedrinho comeu logo cinco pratadas, mas a velha bruxa comeu uma só, pra economizar pro jantar.

Depois de comer a bruxa explicou pro Pedro o caminho de volta até a casa da tia Clotilda. O menino já estava de saída quando a velha falou:

-Espera, deixa eu anotar a receita: seleciono as pedras, ponho pra cozinhar. Daí vai cebolinha e salsinha pra dar um cheiro, cenoura pra dar cor, batata pra engrossar, carne pra dar sabor… mas espera aí! Pedro, ô Pedrinho! Pra que é que serve a pedra?

E o Pedro lá debaixo da colina gritou dando risada:

-A pedra é pra enganar a bruxa mão de vaca! Há, há, há, há!

A bruxa ficou vermelha de raiva e até pensou em ir atrás do menino pra transformá-lo em um sapo fedido, mas pensando bem, pra voar até lá, ia gastar a vassoura… além do que na poção pra transformar menino em sapo vai olho de dragão, e o olho de dragão tá muito caro.

FIM


Fonte: https://jardimdehistorias.com/a-sopa-de-pedra/


27 de setembro de 2023

3 santos que mudaram a história através da Palavra de Deus


Os santos tiveram suas vidas transformadas pela Palavra de Deus, já que uma condição fundamental para a santidade é a vivência radical do Evangelho.

comshalom São Jerônimo que escreve. Óleo sobre tela. Caravaggio

São Jerônimo

O primeiro santo é o que dá razão para celebrarmos a bíblia neste dia. Hoje, 30 de setembro, a Igreja vive a Memória de São Jerônimo, doutor nas Sagradas Escrituras. Ele recebeu a missão de traduzir pela primeira vez a Bíblia do hebraico (antigo testamento) e grego (Novo Testamento) para o latim, cuja versão ficou conhecida como vulgata. Se hoje eu e você temos acesso às Sagradas Escrituras facilmente em nosso próprio idioma, devemos em grande parte ao seu árduo trabalho de tradução que levou mais de 40 anos! A maior parte da vida de São Jerônimo foi dedicada a esse objetivo.

São Jerônimo nasceu na Dalmácia, hoje Croácia, no ano de 340. Foi batizado aos 25 anos e ao sentir o chamado para a vida monástica, foi morar na França, com monges que se dedicavam à oração, ao recolhimento e ao estudo. Depois optou por morar no deserto e lá encontrou-se com São Gregório, com quem aprendeu o caminho do amor pelo estudo das Sagradas Escrituras. São Jerônimo morreu com quase 80 anos no dia 30 de setembro do ano 420.

Um fato interessante é que o primeiro livro a ser impresso na história, foi a bíblia de Gutenberg. E para esta primeira edição foi escolhida justamente a vulgata de São Jerônimo. 

Santa Teresinha do Menino Jesus

Santa Teresinha do Menino Jesus é uma das santas mais populares da história da Igreja. Nasceu em Alençon (França) em 1873, filha de Louis Martin e Zélie Guérin. Cultivou desde criança o desejo de consagrar-se a Deus, tanto que, por permissão da Igreja, entrou no Carmelo aos 15 anos. Aos 24 anos, antes de morrer, disse que "que passaria o seu céu fazendo o bem nesta terra".

Em seu manuscrito autobiográfico "História de uma alma", percebe-se o seu grande amor à palavra de Deus. A "pequena via", doutrina mais importante ensinada pela carmelita, foi embasada em experiências profundas com a Sagrada Escritura: 

"Por mim, gostaria de encontrar um elevador para me erguer até Jesus, porque sou pequenina demais para subir a dura escada da perfeição. Busquei então nas Sagradas Escrituras uma indicação do elevador, objeto de meus desejos e li essas palavras: 'Se alguém é PEQUENINO venha a mim' (Prov. 94). Fui então com o pressentimento de ter achado o que procurava e com a vontade de saber, ó meu Deus, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso chamado. Continuando minhas reflexões encontrei: 'Como uma mãe acaricia o filhinho, assim vos consolarei e vos acalentarei em meu regaço' ( Is 66,9)". (História de uma Alma)

Daí a célebre frase: "o elevador que me fará subir até o céu, são vossos braços, ó Jesus, por isso não preciso ficar grande".  

A pequena via de Teresinha seria trilhada não apenas por ela, mas por todo aquele que deseja buscar a santidade no cotidiano e encontrar Deus de forma mais acessível. É uma via segura para o céu, tanto que por seus ensinamentos, foi proclamada Doutora da Igreja. 

Não podemos deixar de citar outra experiência marcante da vida de Teresinha, que marca também a Igreja e a torna padroeira das missões. Ainda em História de uma alma a santa cita que sente o desejo de abraçar todas as missões, e gostaria de vivê-las de alguma forma, então ao ler os capítulos 12 e 13 da primeira carta aos Coríntios, em que Paulo fala "aspirai os dons mais elevados e mostrar-vos ei um caminho mais perfeito ainda" e que os maiores dons não são nada sem o amor, Teresinha exclama com toda alegria: "No coração da Igreja, minha mãe serei o Amor, serei tudo".

santa_teresinhafotografia de Santa Teresinha do Menino Jesus

São Francisco de Assis

São Francisco de Assis também é um dos santos mais populares da Igreja Católica, cuja devoção é difundida pelo mundo inteiro. Nasceu entre 1181 e 1182 em Assis, na Itália, filho de Pedro e Pica Bernardone. Era um jovem de muitas posses e decidiu deixar tudo por amor a Deus.

Os momentos mais marcantes de sua vida que vieram ao nosso conhecimento foram um eco do que encontramos nos Evangelhos. Diante do seu chamado à Pobreza, o Pai de Francisco se indignava cada vez mais e resolveu exigir que seu filho lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco, abraçando a palavra: "Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim" (Mt 19,29), sem vacilar um momento, se despojou de tudo até ficar nu, jogou os trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: "Até agora chamei de pai a Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste". O Bispo, então, o acolheu.

A sua experiência mais conhecida foi quando estava na Capela de São Damião e ouviu o crucifixo bizantino lhe dizendo "Vai e reconstrói a minha Igreja". Francisco então iniciou sua nova vida como pedreiro, ajudando a reconstruir diversas igrejas nos arredores de Assis – esta de São Damião, a de São Pedro e a da Porciúncula, que segundo São Boaventura era a que ele mais amava. Nela descobriu, em 1208 ou 1209, na leitura de uma passagem do evangelho de Mateus, as linhas gerais que orientaram sua vocação, que a reconstrução que Deus pedia era muito mais profunda:

"Ide, disse o Salvador, e proclamai em todas as partes que o Reino do Céu está aberto. Vós recebestes gratuitamente; dai sem receber pagamento. Não leveis nem ouro, nem prata nem cobre em vossos cintos, nem um alforje, nem uma segunda túnica, nem sandálias, nem o cajado de viajante, pois o trabalhador merece ser sustentado. Em qualquer vila em que entrardes procurai alguma pessoa digna, e hospedai-vos com ela até partirdes. E quando entrardes em uma casa, saudai-a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz." 

Quando fundou a ordem dos frades menores, a sua regra principal era: "Observar o Santo Evangelho, viver da obediência, da castidade e não possuir absolutamente nada, e só dividir a pobreza". Francisco morreu no dia três de outubro de 1226, com menos de 45 anos, depois de escutar a leitura da Paixão do Senhor.

São Francisco meditando a palavra. Óleo sobre tela. Caravaggio

Ainda podemos citar Santa Teresa D'Avila, que é doutora da Igreja e desenvolveu um de seus escritos "Caminho de Perfeição" baseados na oração do Pai-nosso, que está no Evangelho, e também Santa Faustina, cuja missão foi aproximar e proclamar ao mundo a verdade revelada na Sagrada Escritura sobre o amor misericordioso de Deus a cada pessoa, e tantos outros santos que também mudaram o curso da história através de seu testemunho e configuração a Cristo através das Sagradas Escrituras. E você, que experiência com a palavra de Deus mudou a sua vida?


Fonte: https://comshalom.org/3-santos-que-mudaram-a-historia-atraves-da-palavra-de-deus/


25 de setembro de 2023

Padre Pio: o Narrador da Divina Misericórdia


Parece um atributo estranho, mas São Pio de Pietrelcina, o frade Capuchinho, não foi simplesmente um "narrador" daquilo que o Deus da Misericórdia operava na vida de tantas pessoas que a ele se apresentavam no Sacramento da Reconciliação, ou seja, de outra forma.

Para compreender bem como o Padre Pio foi narrador e mediador da Misericórdia Divina, não podemos ignorar duas bases teológicas e espirituais sumamente decisivas: Jesus Cristo e a Igreja. Padre Pio está intimamente ligado a Cristo, o Crucificado, o Ressuscitado, fiel e amorosamente unido à Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus.

As bases teológicas e espirituais de Padre Pio

Se não se entra nesta circularidade cognitiva fundada no amor, não é possível captar nas autênticas testemunhas de Cristo a passagem de Deus, ou seja, aquele "quid" que torna a sua diaconia relevante para enfrentar os problemas do presente. Estamos claramente na presença de um tipo de operação teológica, isto é, um elemento fundamental da experiência de Fé na qual os acontecimentos histórico-biográficos se tornam o lugar da manifestação desta fenomenologia do Espírito.

Créditos: Arquivo CN

No humilde frade, que após presidir a Celebração Eucarística pela manhã, ao romper da aurora, passa muitas horas do dia escutando confissões e depois rezando, e que, mesmo à noite, quando a saúde lhe permite, escreve longas cartas para a orientação espiritual das almas que lhe foram confiadas, não podemos deixar de vislumbrar uma participação na Obra da Redenção Divina.

Há, de fato, uma Misericórdia celestial que, por meio do depoimento de autênticas testemunhas de Cristo, espera vir como um bálsamo sobre a humanidade ferida. Mas ela sempre surge neles quando se percebem como objeto de grande amor e predileção divinos.

Ele perdoa e é capaz de perdoar aqueles que, por sua vez, se sentiram amados e perdoados. Aquele que tocou a Misericórdia de Deus com sua própria mão e passou pelo tempo do sofrimento, daquela santa tribulação que, como um cadinho, purifica o homem e a mulher de fé. Nessa perspectiva, como lembrou o teólogo Von Balthasar, "os santos são contemporâneos do Evangelho".

O pecado é a causa da verdadeira morte do homem

A diaconia do Padre Pio, vivida entre o Altar e o Confessionário, é para nós uma mensagem de grande importância, e que precisa ser considerada com urgência. Para ele, a reconstrução do homem passa pela cura de suas feridas, e para isso devemos partir do interior, da sua alma, de seu coração, removendo aquilo que pode causar sua verdadeira morte: o pecado. Lembremos que Jesus, quando Lhe trouxeram um paralítico em uma maca, antes de curá-lo, para grande surpresa do povo, perdoou-lhe os pecados, dizendo: "Os teus pecados te são perdoados" (Mc 2,1-11). Isso significa que o verdadeiro mal que pode destruir o homem é o pecado, e este, uma vez removido, abre o caminho para a cura. Quando isso acontece, manifesta-se com um sinal que antecipa os efeitos da ressurreição de Cristo.

E na época do Padre Pio, nos anos de sua chegada ao pequeno mosteiro capuchinho, havia uma humanidade ferida e perturbada pela Primeira Guerra Mundial. Carente de referências espirituais, órfã de tantos pais. E, portanto, fraca, propensa a se submeter ao fascínio da sedução mística e delirante encarnada na loucura das ditaduras do século XX. É significativo que, diante de tanta raiva, a época da ira, haja uma resposta divina toda centrada na misericórdia da Irmã Faustina Kowalska ao Padre Pio. O humilde frade, tomando Jesus como modelo, gostava de escrever e repetir: "A ira é vencida pela mansidão".

A conversão verdadeira e sincera

Essas primeiras coordenadas nos sugerem que há uma luta, uma batalha a ser travada, mas não nas trincheiras espalhadas pela terra, mas no coração do homem. Essa perspectiva de combate espiritual nos ajuda a ler a severidade do confessor Padre Pio. Em vez de ser um obstáculo ao fluxo da providência divina, ela favoreceu a conversão verdadeira e sincera. Naquele confessionário, o diálogo entre o próprio Deus e seu povo marca a história da salvação.

A escuta amorosa e misericordiosa de Deus

Papa Francisco escreveu admiravelmente, na Evangelii Gaudium, que o "sacerdote, na homilia, continua o diálogo entre Deus e seu povo". Sob essa luz, parece-nos que o sacerdote, no confessionário, também retoma o mesmo diálogo, mas à maneira dos profetas, ou seja, apresentando, no encontro com o penitente, a escuta amorosa e misericordiosa de Deus, entrelaçada com a pedagogia do julgamento e da consolação. Uma práxis que lembra o modo como a Escritura nos apresenta a ação de Deus, que parece quase entrar em "litígio" com seu povo.

Os estudiosos descreveram essa tendência com o gênero literário "rîb", ou seja, Deus inicial e aparentemente parece recusar o perdão dos pecados de Seu povo, abrindo-se para a riqueza do perdão após um determinado tempo. Essa experiência, narrada pelos profetas, parece ser comum à maneira como São Pio acolhia e, às vezes, rejeitava o pecador.

Acolher o pecador e mostrá-lo a verdade sobre si mesmo

Jesus, em várias páginas dos Evangelhos, acolhe os pecadores, mas os confronta com a verdade sobre si mesmos e, justamente porque a misericórdia não significa cumplicidade, mas convida o homem a reler a própria existência com os olhos de uma fé renovada n'Ele, o único capaz de fazer surgir a novidade da vida. O horizonte final nunca é o abandono, mas o perdão.

São Francisco também disse que "onde há misericórdia e discrição não há supérfluo nem dureza" (Escritos de São Francisco, FF 177). Portanto, mesmo quando o Padre Pio afastou os penitentes de seu confessionário, isso serviu para completar a ação da graça divina que havia inspirado neles o desejo de Deus. Porém, ainda faltava aquela conversão que sempre se experimenta quando se depara com a própria pobreza e limitação. Pois Deus, por meio de humilhações e fracassos, completa no crente a obra de esvaziamento de si mesmo para dar espaço à sua graça.


Um legado para os Grupos de Oração

Juntamente com o perdão sacramental, Padre Pio desejava ao seus filhos a perseverança na oração. Sem dúvidas, Padre Pio era sumamente convicto dessa estrutura antropológica, da qual era urgente restaurar. Para isso, precisava "reconstruir" o homem e a humanidade, era necessário recomeçar a partir da oração, portanto, da dimensão espiritual. Outra pista que nos permite entender como a verdadeira luta ocorre novamente no coração do homem.

Aqui a oração de tantos, a oração dos "Grupos de Oração", desejada pelo Padre Pio, torna-se como uma aliança que prepara o campo no qual a Misericórdia Divina pode ser aceita e dar frutos. Isso é particularmente evidente na oração de intercessão, que é típica de nossos Grupos até hoje.

É importante dizer que, no Mistério da Graça, a oração tem sempre dimensão coletiva e não isolada ou individualista e egocentrada. Portanto, quando Padre Pio insiste nos "Grupos de Oração", ele está propondo a "restauração do homem" que só pode se dar por completo quando vive plenamente em relacionamentos saudáveis nos seus respectivos níveis. Não existe e não existirá Fé sem Oração, e não existirá Oração sem vida comunitária.

A oração à Misericórdia Divina

De fato, com suas orações, eles fortalecem a Obra da Graça, que, por si só, continua a fortalecer os corações, provocando as consciências para uma decisão por Deus à conversão. As orações de Santa Mônica desempenharam um papel semelhante na conversão de Santo Agostinho. Assim, também hoje, as muitas orações acompanham a recepção da misericórdia divina.

A Misericórdia Divina, combinada com a oração fervorosa dos grupos espalhados pelo mundo, também se expressa no cuidado amoroso e no alívio do sofrimento humano praticados naquela cidade que o santo estigmatizado queria. Uma misericórdia compassiva para um povo hospitalizado em que a patologia vivida pelo corpo nunca é separada do sofrimento vivido pela alma.

A Casa do Alívio, uma obra a serviço da misericórdia

Ao entrar na "Casa do Alívio", a partir da "Viale Capuchinos", depois de subir os muitos degraus do lado de fora do hospital e, em seguida, entrar pela porta principal, no primeiro lance de escada nos deparamos com uma estátua do Padre Pio confessando um penitente. Um sinal de cura da alma e uma luta contra o mal, que deve acompanhar a cura do corpo. Uma antropologia integral para um modelo de saúde que engloba o homem inteiro, e não é por acaso que se chama "alívio do sofrimento".

A Casa do Alívio, portanto, como uma Obra a serviço da Misericórdia Divina, no pensamento do Padre Pio, é um ponto de encontro entre ciência e sabedoria, caridade e serviço ao próximo. É a evidência de que o homem se completa e se realiza por inteiro, no corpo e na alma.
Ao celebrarmos hoje a memória litúrgica de São Pio, somos solicitados a visitar nossa história e fazê-la não sozinhos, mas acompanhados daquele que é a Misericórdia do Pai, Jesus.

Ser como Padre Pio!

Quantos de nós ainda estamos estacionados em pontos de nossas histórias pessoais e não percebemos. Mas estes "estacionamentos" de nossas histórias, produzem os piores sentimentos de angústia. Se não forem sanados, se manifestarão em tantas formas de doenças e até muito pior, podem se tornar um estilo de vida doentia. Por isso é importante ter coragem de ir em cada "estacionamento" de nossas vidas e permitir que, nosso companheiro de viagem – Jesus – possa pronunciar sua Palavra Libertadora: "Teus pecados estão perdoados".

Assim podemos ser como Padre Pio: "Narradores da Misericórdia"! Narramos em primeira pessoa, uma história nova escrita com a caneta da Reconciliação e do Perdão. Permitimos e testemunhamos que Ele mesmo operou sua Misericórdia em nós a partir de nossas almas.

Que Padre Pio nos ajude a ser como ele, "Narradores da Misericórdia".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/padre-pio-o-narrador-da-divina-misericordia/


22 de setembro de 2023

O Evangelho de São Mateus


No coração do Novo Testamento, entre os quatro Evangelhos que narram a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo, está o Evangelho de Mateus. Este evangelho é uma janela para o coração e a mente de um dos doze apóstolos escolhidos por Jesus e de sua comunidade. Mateus desempenhou um papel único na divulgação da mensagem cristã e deixou um legado duradouro que continua a inspirar e guiar os cristãos em todo o mundo.

Também conhecido como Levi, originalmente ele era um cobrador de impostos para o governo romano, uma profissão vista com desdém pelos judeus da época. No entanto, viveu um encontro transformador com Jesus, que o chamou para segui-Lo.

Ele prontamente atendeu ao chamado e se tornou um discípulo de Jesus. Como apóstolo, Mateus desempenhou um papel importante no ministério de Jesus, testemunhando seus ensinamentos, milagres e interações com outros discípulos. Após a ressurreição de Jesus, Mateus continuou a propagar o cristianismo.

O legado do Evangelho de São Mateus

O principal legado é o Evangelho que enfatiza a conexão entre o Antigo Testamento e o ministério de Cristo. É uma das principais fontes para a compreensão da ética cristã. A relação com o Reino de Deus e os ensinamentos-chave de Jesus, como o Sermão da Montanha e as Bem-Aventuranças.

Parece ter sido escrito por volta do ano 70 d.C. e por muito tempo foi considerado o primeiro Evangelho escrito e, por isso, o primeiro na sequência bíblica, contudo, após os avanços científicos, percebeu-se que foi um Evangelho que usou os esquemas de São Marcos e da Fonte "Quelle".

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Seu texto dá destaque ao termo "Emanuel" que é mencionado em duas passagens específicas no Evangelho. A palavra "Emanuel" é uma transliteração do termo hebraico "עִמָּנוּאֵל" (Immanu'el), que significa "Deus está conosco". Mateus 1, 23: este versículo ocorre no contexto do nascimento de Jesus e afirma: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco".

O Antigo Testamento

Mateus cita essa profecia do Antigo Testamento como cumprimento em Jesus, destacando a natureza especial de Seu nascimento virginal e a presença de Deus na vida das pessoas por meio de Jesus.

Mateus 28, 20: neste versículo, que faz parte da Grande Comissão dada por Jesus aos Seus discípulos após Sua ressurreição, Jesus diz: "E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos." Embora não use explicitamente a palavra "Emanuel", a promessa de que Jesus estaria com Seus seguidores todos os dias é uma expressão da ideia subjacente a "Deus está conosco", enfatizando a presença contínua de Jesus na vida de Seus discípulos.


Deus está presente e se comunica com todos

O texto enfatiza a história de Jesus, sua linhagem familiar e herança judaica. Por isso, dialoga com o Antigo Testamento sempre demonstrando e ligando passagens das Escrituras. Tudo isso para demonstrar que Deus se ocupa daquele povo. Ele está presente e se comunica com eles, através de Jesus encarnado, o Emanuel, um Deus presente.  Um texto que preenche e completa as suas duas fontes (Marcos e Quelle), tendo o objetivo de atingir a comunidade, a mateana, para ser evangelizada.

Portanto, Mateus destaca a importância do nome "Emanuel" como uma expressão da presença divina em Jesus. Uma confirmação de que Deus está com Seu povo por meio de Jesus Cristo. Essa ênfase está em sintonia com a mensagem geral do Evangelho de Mateus sobre a identidade e a missão de Jesus como o cumprimento das promessas messiânicas e a encarnação de Deus entre os seres humanos.



Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-evangelho-de-sao-mateus/


20 de setembro de 2023

7 dicas práticas para pregações querigmáticas


Um bom pregador não nasce pronto. Por isso, é muito importante que haja a dedicação ao estudo e às boas práticas espirituais de comunhão com Deus para que o pregador cresça em sabedoria no trabalho da obra do Senhor.

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A pregação querigmática é essencial para que um apostolado de evangelização se torne frutuoso. Mas, antes de falarmos sobre aspectos técnicos da pregação querigmática em si, vamos refletir um pouco sobre o significado da palavra  querigma.  

Essa expressão está relacionada com alguns personagens antigos, chamados arautos reais. Esses homens estavam a serviço dos reis e percorriam as localidades comunicando notícias relacionadas com a vida no palácio real e com os decretos dos monarcas. Na tradição cristã, a palavra querigma se tornou sinônimo do primeiro anúncio das verdades da fé. Tornou-se a comunicação dos projetos salvíficos e da vontade do verdadeiro Rei do Universo, Jesus Cristo. 

"Vinde e vede" 

No Evangelho segundo São João, há uma cena muito significativa que revela a alma do que vem a ser uma pregação querigmática. Leia atentamente

"Naquele tempo, João estava de novo com dois de seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: "Eis o Cordeiro de Deus!" Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: "O que estais procurando?" Eles disseram: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?" Jesus respondeu: "Vinde ver" (Jo 1,35-39).

Essa narrativa do Evangelho, assim como a resposta de Jesus, expressa muito bem o que deve ser uma pregação querigmática. O sentido e a razão desse serviço é a promoção da experiência com Jesus. Assim, o pregador querigmático deve explorar a imaginação e os traços comportamentais da assembleia. Tais indicativos revelam, por assim dizer, um pouco dos horizontes de sentido do público-alvo, suas dúvidas, medos, anseios e esperanças. Resumindo, essa modalidade de pregação explora e estimula  nos ouvintes o desejo de ver o Mestre e ser mergulhados em Sua Paz.

Nas mãos, o pregador deve levar a Bíblia e o Catecismo da Igreja e estar atento ao tipo de público que irá receber o anúncio, para fazer como o próprio Jesus fazia: utilizar os recursos ordinários da vida humana para expressar o extraordinário da vida divina que não está longe, mas muito perto de cada um de nós. 

O pregador querigmático, portanto deve conhecer bem o seu público. Deve estar atento, por exemplo, à sua faixa etária e ao nível de escolaridade dos ouvintes. Deve ficar atento ao comportamento da assembleia no momento da pregação, se as pessoas se encontram agitadas, dispersas, sonolentas, atentas etc. Se resolver contar uma piada, fazer uma brincadeira ou uma dinâmica, será ótimo, porém esses recursos devem sempre estar a serviço de um propósito mais elevado, ou seja, promover uma experiência com Deus e com a Salvação, que é Jesus. 

Faz-se necessário ainda um apurado senso prático, contudo, sem empobrecer o conteúdo doutrinário básico da pregação. Além das Sagradas Escrituras e do Catecismo da Igreja, é bom que o pregador se situe em relação ao bairro ou cidade em que vai pregar. O noticiário jornalístico da cidade, por exemplo, pode conter elementos atualíssimos para utilizar como exemplos práticos do conteúdo que está pregando. 


Didática da pregação querigmática

Há ainda outros elementos que podem parecer irrelevantes, mas que auxiliarão para transmitir segurança e familiaridade ao público, desde a escolha da roupa que o pregador vai usar, seus comportamentos, como chegar um pouco mais cedo para conversar com alguns participantes e demonstrar simpatia, até o cuidado com as dinâmicas que serão utilizadas durante a pregação. 

Outra curiosidade é que uma assembleia de primeiro anuncio pode ser composta por um público heterogêneo. Há os que não sabem nada da Igreja ou de Deus, os que vão à Igreja por ser uma tradição familiar mas que ainda não tiveram uma experiência pessoal com Jesus, outros um pouco mais avançados na doutrina e há ainda outros fatores relevantes como a classe social, o nível de instrução e de cultura dos participantes. 

Assim, as ideias e propostas de uma pregação podem ser maravilhosas, mas se não forem adequadas àquele público, não serão efetivas. Isso pode ser frustrante tanto para o pregador quanto para as pessoas que lhe ouvirão. Uma dica essencial é sempre rezar pelo povo antes de ir pregar e perguntar ao próprio Deus o que aquelas pessoas precisarão ouvir especificamente. Mesmo que sejam pregações costumeiras, como as do Seminário de Vida no Espírito Santo, Deus sempre deseja dizer algo novo para cada público em particular, mesmo que os tópicos da pregação sigam o mesmo itinerário, pode haver uma palavra de sabedoria, uma passagem bíblica ou uma palavra de ciência específicas para aquele povo e lugar. É surpreendente o que o Senhor revela quando nos colocamos em oração e intercessão por quem receberá a nossa pregação. 

Outra dica importante é que a pregação querigmática é focada na experiência pessoal com a pessoa de Jesus Cristo. Então, é preciso explorar a sensibilidade dos participantes, de modo a tocá-los inicialmente através de seus sentidos e emoções. Depois, ao longo da caminhada, o aprofundamento na vida de oração mostrará outras vias que ultrapassam os sentimentos, mas a porta inicial da experiência com Deus costuma ser os sentidos e as emoções. Sobretudo, que todas as ações de uma pregação querigmática sejam iluminadas pelo Espírito Santo e conduzidas por Seus dons. É o Espírito quem concede a experiência do modo como cada um necessita em particular.  

Outro fato é que, nesse tipo de pregação, alguns participantes costumam ficar envergonhados. Assim, é necessário um cuidado particular para não constranger a nenhum deles com brincadeiras ou até mesmo com dinâmicas que possam expô-los em demasia. O objetivo é envolver o público sem invadir os seus limites. Conquistar e atrair, sem constranger ou impor. 


Como terminar a pregação

Termine sua pregação querigmática com um tom de esperança, otimismo e alegria. Se possível, com um canto e uma oração que ajudem os participantes a mergulharem na mística do que foi comunicado. Se houver tempo hábil e mais pessoas servindo durante a pregação, estes podem rezar brevemente pelos participantes. Por fim, nada melhor que encerrar a pregação invocando a intercessão e o cuidado materno da Virgem Maria.

Desejo que essa matéria possa ter te ajudado a desempenhar com mais frutos o serviço da pregação, em vista do primeiro anuncio da Paz real, que é Jesus. 


Fonte: https://comshalom.org/dicas-para-pregacoes-querigmaticas/


18 de setembro de 2023

A cruz de Cristo e seu mistério se unem à cruz do cristão


Queridos filhos e filhas, a Igreja celebra, hoje, a Exaltação da Santa Cruz. Agora, em mais um ano, somos chamados a fitar o nosso olhar na Cruz de Jesus e viver, com afinco, tudo o que ela tem a nos ensinar.

O cristão, diante da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, deve ouvir com o coração a mais doce resposta que ela traz consigo: o amor. E não se trata de qualquer amor, mas de um DEUS que nos ama profundamente.

A ânsia em amar e salvar a humanidade levou Cristo a dar-se a si mesmo até o fim. Até a última gota de sangue. Graças a essa ação salvífica, o ser humano recebe a vida e encontra abrigo e consolo quando acometido pela experiência dolorosa de cruz. Aí está a grandiosidade de vivenciar o sacrifício de Cristo perpetuado na liturgia da Igreja.

O amor pela humanidade que o pregava à Cruz

Como batizados, somos convidados a unir nossas dores e momentos de cruz à Cruz redentora de Cristo Jesus. Somos integrados na Paixão de Jesus e em Sua morte. Assim o Filho nos salvou, retirando a sentença de morte que jazia. A entrega de Jesus em expiação pela humanidade revela o Seu amor aos homens e ao Pai, pois era o Seu amor pela humanidade que o pregava à Cruz, muito mais que os pregos cravados pelos soldados.

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Quando se fala sobre o sofrimento e o espaço que ele ocupa na vida do cristão, tem-se em mente, como paradigma, o sofrimento do próprio Cristo Jesus que se deu na Cruz; na verdade, Sua vida inteira foi uma constante oferta de sacrifício ao Pai, e, com isso, Ele ensina aos Seus seguidores que a vitória vem pela Cruz. Destarte, a cruz de cada dia se torna mais branda, pois, ao olhar para Jesus, os cristãos conseguem dar sentido aos seus sofrimentos.

Cristo, tendo redimido todo o ser humano em seu ato salvífico na Cruz, mostra ao homem Sua solidariedade para com ele. Dessa maneira, o homem, ocasionado pelo sofrimento, não está mais só, pois agora pode unir sua dor ao sofrimento redentor de Jesus Cristo.

O ensinamento de Cristo aos discípulos

A oferta da própria vida é a redenção, e muitos – como os discípulos, santos mártires entre outros – entenderam esse percurso como ensinado pelo próprio Cristo. Tem-se a tônica nos discípulos, em especial na vida de Paulo, como também os mártires que enriqueceram a Igreja ofertando todo o seu sofrimento por algo maior em que acreditavam, unindo-se ao Cristo sofredor.

O apóstolo Paulo, em sua missão profética, consagra todas as realidades existenciais ao seu ministério apostólico. Trabalho, liberdade e até mesmo o cativeiro que por vezes experimentou. Nada lhe parecia ser em vão, pelo contrário, ele prossegue confiante em sua missão, mesmo quebrantado pelos sofrimentos, agravados pela saúde e tantos outros males que o podiam afligir. Longe de o abater, para ele tudo isso é fonte de veemente alegria. "Agora, regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo o que falta às tribulações de Cristo." (Cl 1,24).

Por isso, Paulo torna-se exemplo para o cristão que sofre, mas que não para no sofrimento, pois é capaz de enxergar através dele, enxergar a salvação. E a alegria do apóstolo brota dessa união esponsal com o sacrifício oblativo da doação de Cristo na Cruz. Quando um cristão sofre em espírito cristão, isto é, como Corpo Místico, já não sofre só, mas é o Cristo que nele sofre para estender a ele a obra da Redenção. "E, se vivo, não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim." (cf. Gl 2,19s).


Encontrar a cruz é encontrar Cristo

Não há vida sem cruz, mas, no mistério da cruz, há uma alegria vitoriosa. Para um cristão, a dor e o sofrimento humanos só se compreendem e se aceitam quando se descobre o seu sentido último. A cruz de Cristo e seu mistério se unem à cruz do cristão, e isso dá uma inversão do significado da dor na existência humana. Pois o que era algo trágico e lúgubre se transforma em bênção. Encontrar a cruz é encontrar Cristo, fonte da ressurreição e horizonte aberto a uma alegria sem fim.

No Cristo, sofrimento e glória se unem (Rm 8,17-18; 2Cor 4,17-18; 1Pd 4,13). E o homem, ao entrar nessa dinâmica, experimenta grandes frutos, e o maior deles é o amadurecimento espiritual, pois, assim como a ressurreição de Cristo, revela a glória que está contida no próprio sofrimento de Cristo.

O homem completa, em sua carne, aquilo que faltou ao sofrimento de Cristo, não porque o sacrifício de Cristo foi incompleto, mas porque Ele abriu as portas para que o homem pudesse fazer a experiência redentora do sofrimento, que gera louvor de Deus. O sofrimento humano, quando unido ao sofrimento de Jesus, no amor, completa esse mesmo sacrifício.

O amor d'Ele nos redimiu

O sofrimento de Cristo na Cruz tornou-se redentor pelo fato de que Ele muito amou, e por muito amar, ofereceu-se ao Pai. Um amor autêntico e verdadeiro, que gera no coração uma eterna ação de graças pelos feitos e maravilhas do Senhor, mesmo quando o coração do homem é acometido por experiências dolorosas de sofrimento, pois sabe que Deus é capaz de realizar o que está no Salmo: "Transformastes o meu pranto em uma festa; meus farrapos em adornos de alegria, para minh'alma vos louvar ao som da arpa e ao invés de se calar, agradecer-vos: Senhor, meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!" (Sl 29,12-13).

Ou ainda na firme esperança de outro Salmo que reza: "Os que lançam as sementes entre lágrimas, colherão com alegria" (Sl 125). O amor é o ápice do louvor para a glória de Deus. Só o amor-doação é capaz de transformar o sofrimento em louvor.

Por fim, é preciso viver com intensidade essa Festa da Exaltação da Santa Cruz. Por amor, Jesus entregou-se na Cruz; por amor, Ele nos redimiu. Por amor, Ele fez esse caminho por primeiro, para que o ser humano, quando acometido por experiência de cruz, possa unir-se a Ele de forma esponsal, pois quem se decide por permanecer unido à Cruz de Jesus experimentará com Ele a vitória e a glória de Deus, afinal, a cruz entoa o louvor dos fortes, dos que amam até o fim.

Padre Gabriel Soares, sjs


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/encontrar-a-cruz-e-encontrar-a-cristo/