20 de setembro de 2023

7 dicas práticas para pregações querigmáticas


Um bom pregador não nasce pronto. Por isso, é muito importante que haja a dedicação ao estudo e às boas práticas espirituais de comunhão com Deus para que o pregador cresça em sabedoria no trabalho da obra do Senhor.

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A pregação querigmática é essencial para que um apostolado de evangelização se torne frutuoso. Mas, antes de falarmos sobre aspectos técnicos da pregação querigmática em si, vamos refletir um pouco sobre o significado da palavra  querigma.  

Essa expressão está relacionada com alguns personagens antigos, chamados arautos reais. Esses homens estavam a serviço dos reis e percorriam as localidades comunicando notícias relacionadas com a vida no palácio real e com os decretos dos monarcas. Na tradição cristã, a palavra querigma se tornou sinônimo do primeiro anúncio das verdades da fé. Tornou-se a comunicação dos projetos salvíficos e da vontade do verdadeiro Rei do Universo, Jesus Cristo. 

"Vinde e vede" 

No Evangelho segundo São João, há uma cena muito significativa que revela a alma do que vem a ser uma pregação querigmática. Leia atentamente

"Naquele tempo, João estava de novo com dois de seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: "Eis o Cordeiro de Deus!" Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: "O que estais procurando?" Eles disseram: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?" Jesus respondeu: "Vinde ver" (Jo 1,35-39).

Essa narrativa do Evangelho, assim como a resposta de Jesus, expressa muito bem o que deve ser uma pregação querigmática. O sentido e a razão desse serviço é a promoção da experiência com Jesus. Assim, o pregador querigmático deve explorar a imaginação e os traços comportamentais da assembleia. Tais indicativos revelam, por assim dizer, um pouco dos horizontes de sentido do público-alvo, suas dúvidas, medos, anseios e esperanças. Resumindo, essa modalidade de pregação explora e estimula  nos ouvintes o desejo de ver o Mestre e ser mergulhados em Sua Paz.

Nas mãos, o pregador deve levar a Bíblia e o Catecismo da Igreja e estar atento ao tipo de público que irá receber o anúncio, para fazer como o próprio Jesus fazia: utilizar os recursos ordinários da vida humana para expressar o extraordinário da vida divina que não está longe, mas muito perto de cada um de nós. 

O pregador querigmático, portanto deve conhecer bem o seu público. Deve estar atento, por exemplo, à sua faixa etária e ao nível de escolaridade dos ouvintes. Deve ficar atento ao comportamento da assembleia no momento da pregação, se as pessoas se encontram agitadas, dispersas, sonolentas, atentas etc. Se resolver contar uma piada, fazer uma brincadeira ou uma dinâmica, será ótimo, porém esses recursos devem sempre estar a serviço de um propósito mais elevado, ou seja, promover uma experiência com Deus e com a Salvação, que é Jesus. 

Faz-se necessário ainda um apurado senso prático, contudo, sem empobrecer o conteúdo doutrinário básico da pregação. Além das Sagradas Escrituras e do Catecismo da Igreja, é bom que o pregador se situe em relação ao bairro ou cidade em que vai pregar. O noticiário jornalístico da cidade, por exemplo, pode conter elementos atualíssimos para utilizar como exemplos práticos do conteúdo que está pregando. 


Didática da pregação querigmática

Há ainda outros elementos que podem parecer irrelevantes, mas que auxiliarão para transmitir segurança e familiaridade ao público, desde a escolha da roupa que o pregador vai usar, seus comportamentos, como chegar um pouco mais cedo para conversar com alguns participantes e demonstrar simpatia, até o cuidado com as dinâmicas que serão utilizadas durante a pregação. 

Outra curiosidade é que uma assembleia de primeiro anuncio pode ser composta por um público heterogêneo. Há os que não sabem nada da Igreja ou de Deus, os que vão à Igreja por ser uma tradição familiar mas que ainda não tiveram uma experiência pessoal com Jesus, outros um pouco mais avançados na doutrina e há ainda outros fatores relevantes como a classe social, o nível de instrução e de cultura dos participantes. 

Assim, as ideias e propostas de uma pregação podem ser maravilhosas, mas se não forem adequadas àquele público, não serão efetivas. Isso pode ser frustrante tanto para o pregador quanto para as pessoas que lhe ouvirão. Uma dica essencial é sempre rezar pelo povo antes de ir pregar e perguntar ao próprio Deus o que aquelas pessoas precisarão ouvir especificamente. Mesmo que sejam pregações costumeiras, como as do Seminário de Vida no Espírito Santo, Deus sempre deseja dizer algo novo para cada público em particular, mesmo que os tópicos da pregação sigam o mesmo itinerário, pode haver uma palavra de sabedoria, uma passagem bíblica ou uma palavra de ciência específicas para aquele povo e lugar. É surpreendente o que o Senhor revela quando nos colocamos em oração e intercessão por quem receberá a nossa pregação. 

Outra dica importante é que a pregação querigmática é focada na experiência pessoal com a pessoa de Jesus Cristo. Então, é preciso explorar a sensibilidade dos participantes, de modo a tocá-los inicialmente através de seus sentidos e emoções. Depois, ao longo da caminhada, o aprofundamento na vida de oração mostrará outras vias que ultrapassam os sentimentos, mas a porta inicial da experiência com Deus costuma ser os sentidos e as emoções. Sobretudo, que todas as ações de uma pregação querigmática sejam iluminadas pelo Espírito Santo e conduzidas por Seus dons. É o Espírito quem concede a experiência do modo como cada um necessita em particular.  

Outro fato é que, nesse tipo de pregação, alguns participantes costumam ficar envergonhados. Assim, é necessário um cuidado particular para não constranger a nenhum deles com brincadeiras ou até mesmo com dinâmicas que possam expô-los em demasia. O objetivo é envolver o público sem invadir os seus limites. Conquistar e atrair, sem constranger ou impor. 


Como terminar a pregação

Termine sua pregação querigmática com um tom de esperança, otimismo e alegria. Se possível, com um canto e uma oração que ajudem os participantes a mergulharem na mística do que foi comunicado. Se houver tempo hábil e mais pessoas servindo durante a pregação, estes podem rezar brevemente pelos participantes. Por fim, nada melhor que encerrar a pregação invocando a intercessão e o cuidado materno da Virgem Maria.

Desejo que essa matéria possa ter te ajudado a desempenhar com mais frutos o serviço da pregação, em vista do primeiro anuncio da Paz real, que é Jesus. 


Fonte: https://comshalom.org/dicas-para-pregacoes-querigmaticas/


18 de setembro de 2023

A cruz de Cristo e seu mistério se unem à cruz do cristão


Queridos filhos e filhas, a Igreja celebra, hoje, a Exaltação da Santa Cruz. Agora, em mais um ano, somos chamados a fitar o nosso olhar na Cruz de Jesus e viver, com afinco, tudo o que ela tem a nos ensinar.

O cristão, diante da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, deve ouvir com o coração a mais doce resposta que ela traz consigo: o amor. E não se trata de qualquer amor, mas de um DEUS que nos ama profundamente.

A ânsia em amar e salvar a humanidade levou Cristo a dar-se a si mesmo até o fim. Até a última gota de sangue. Graças a essa ação salvífica, o ser humano recebe a vida e encontra abrigo e consolo quando acometido pela experiência dolorosa de cruz. Aí está a grandiosidade de vivenciar o sacrifício de Cristo perpetuado na liturgia da Igreja.

O amor pela humanidade que o pregava à Cruz

Como batizados, somos convidados a unir nossas dores e momentos de cruz à Cruz redentora de Cristo Jesus. Somos integrados na Paixão de Jesus e em Sua morte. Assim o Filho nos salvou, retirando a sentença de morte que jazia. A entrega de Jesus em expiação pela humanidade revela o Seu amor aos homens e ao Pai, pois era o Seu amor pela humanidade que o pregava à Cruz, muito mais que os pregos cravados pelos soldados.

Créditos: artisteer by GettyImages.

Quando se fala sobre o sofrimento e o espaço que ele ocupa na vida do cristão, tem-se em mente, como paradigma, o sofrimento do próprio Cristo Jesus que se deu na Cruz; na verdade, Sua vida inteira foi uma constante oferta de sacrifício ao Pai, e, com isso, Ele ensina aos Seus seguidores que a vitória vem pela Cruz. Destarte, a cruz de cada dia se torna mais branda, pois, ao olhar para Jesus, os cristãos conseguem dar sentido aos seus sofrimentos.

Cristo, tendo redimido todo o ser humano em seu ato salvífico na Cruz, mostra ao homem Sua solidariedade para com ele. Dessa maneira, o homem, ocasionado pelo sofrimento, não está mais só, pois agora pode unir sua dor ao sofrimento redentor de Jesus Cristo.

O ensinamento de Cristo aos discípulos

A oferta da própria vida é a redenção, e muitos – como os discípulos, santos mártires entre outros – entenderam esse percurso como ensinado pelo próprio Cristo. Tem-se a tônica nos discípulos, em especial na vida de Paulo, como também os mártires que enriqueceram a Igreja ofertando todo o seu sofrimento por algo maior em que acreditavam, unindo-se ao Cristo sofredor.

O apóstolo Paulo, em sua missão profética, consagra todas as realidades existenciais ao seu ministério apostólico. Trabalho, liberdade e até mesmo o cativeiro que por vezes experimentou. Nada lhe parecia ser em vão, pelo contrário, ele prossegue confiante em sua missão, mesmo quebrantado pelos sofrimentos, agravados pela saúde e tantos outros males que o podiam afligir. Longe de o abater, para ele tudo isso é fonte de veemente alegria. "Agora, regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo o que falta às tribulações de Cristo." (Cl 1,24).

Por isso, Paulo torna-se exemplo para o cristão que sofre, mas que não para no sofrimento, pois é capaz de enxergar através dele, enxergar a salvação. E a alegria do apóstolo brota dessa união esponsal com o sacrifício oblativo da doação de Cristo na Cruz. Quando um cristão sofre em espírito cristão, isto é, como Corpo Místico, já não sofre só, mas é o Cristo que nele sofre para estender a ele a obra da Redenção. "E, se vivo, não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim." (cf. Gl 2,19s).


Encontrar a cruz é encontrar Cristo

Não há vida sem cruz, mas, no mistério da cruz, há uma alegria vitoriosa. Para um cristão, a dor e o sofrimento humanos só se compreendem e se aceitam quando se descobre o seu sentido último. A cruz de Cristo e seu mistério se unem à cruz do cristão, e isso dá uma inversão do significado da dor na existência humana. Pois o que era algo trágico e lúgubre se transforma em bênção. Encontrar a cruz é encontrar Cristo, fonte da ressurreição e horizonte aberto a uma alegria sem fim.

No Cristo, sofrimento e glória se unem (Rm 8,17-18; 2Cor 4,17-18; 1Pd 4,13). E o homem, ao entrar nessa dinâmica, experimenta grandes frutos, e o maior deles é o amadurecimento espiritual, pois, assim como a ressurreição de Cristo, revela a glória que está contida no próprio sofrimento de Cristo.

O homem completa, em sua carne, aquilo que faltou ao sofrimento de Cristo, não porque o sacrifício de Cristo foi incompleto, mas porque Ele abriu as portas para que o homem pudesse fazer a experiência redentora do sofrimento, que gera louvor de Deus. O sofrimento humano, quando unido ao sofrimento de Jesus, no amor, completa esse mesmo sacrifício.

O amor d'Ele nos redimiu

O sofrimento de Cristo na Cruz tornou-se redentor pelo fato de que Ele muito amou, e por muito amar, ofereceu-se ao Pai. Um amor autêntico e verdadeiro, que gera no coração uma eterna ação de graças pelos feitos e maravilhas do Senhor, mesmo quando o coração do homem é acometido por experiências dolorosas de sofrimento, pois sabe que Deus é capaz de realizar o que está no Salmo: "Transformastes o meu pranto em uma festa; meus farrapos em adornos de alegria, para minh'alma vos louvar ao som da arpa e ao invés de se calar, agradecer-vos: Senhor, meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!" (Sl 29,12-13).

Ou ainda na firme esperança de outro Salmo que reza: "Os que lançam as sementes entre lágrimas, colherão com alegria" (Sl 125). O amor é o ápice do louvor para a glória de Deus. Só o amor-doação é capaz de transformar o sofrimento em louvor.

Por fim, é preciso viver com intensidade essa Festa da Exaltação da Santa Cruz. Por amor, Jesus entregou-se na Cruz; por amor, Ele nos redimiu. Por amor, Ele fez esse caminho por primeiro, para que o ser humano, quando acometido por experiência de cruz, possa unir-se a Ele de forma esponsal, pois quem se decide por permanecer unido à Cruz de Jesus experimentará com Ele a vitória e a glória de Deus, afinal, a cruz entoa o louvor dos fortes, dos que amam até o fim.

Padre Gabriel Soares, sjs


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/encontrar-a-cruz-e-encontrar-a-cristo/


14 de setembro de 2023

Como fazer a Lectio Divina?


Lectio Divina é um exercício de escuta pessoal da Palavra de Deus. Funciona como uma escada de quatro degraus espirituais.

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A Bíblia é a Palavra de Deus viva, é a comunicação do Senhor que se releva ao Seu povo, relatando a história do povo de Deus, as Suas promessas e a Sua vitória sobre a morte. Dentro da Comunidade Católica Shalom, a vivência com a Palavra é fundamental e essencial para cultivar e crescer na amizade com Deus. O método utilizado para o estudo bíblico é a Lectio Divina.

Lectio Divina é um exercício de escuta pessoal da Palavra de Deus. Funciona como uma escada de quatro degraus espirituais: Leitura, Meditação, Oração, Contemplação. Sendo que os degraus são mais para a compreensão, pois o Senhor, na liberdade do seu Espírito, pode elevar à oração e à contemplação no momento que lhe aprouver. É preciso, portanto, estar aberto à ação do Espírito Santo: "Buscai na leitura e encontrareis na meditação; batei pela oração e encontrareis pela contemplação" (Monge Guido II, Idade média).

Para compreendermos melhor e crescermos na intimidade com Deus, vejamos os passos a seguir:

Comecemos invocando o Espírito Santo.

| Aprenda a fazer a Lectio Divina em nosso canal no Youtube – Estudo Bíblico diário

Lectio divina:

1 – Leitura

O que fala o texto? É necessário está atento aos detalhes: o ambiente, o desenrolar dos acontecimentos, os personagens do texto, quais são os diálogos, a reação das pessoas; procurando perceber os seus sentimentos, as questões mais interessantes, as palavras e trechos que chamam mais atenção. Esse passo é o que exige maior esforço da nossa parte.

2 – Meditação

O que diz o texto de forma pessoal para mim? Este é o momento de se colocar diante da Palavra. É hora de "ruminar", saborear a Palavra de Deus. Na meditação vamos questionando, confrontando a passagem com a nossa vida, por meio do Espírito Santo.

3 – Oração

O que o texto me faz responder ao Senhor? A oração nasce como fruto da meditação. Os sentimentos nos levam a dar uma resposta a Deus. Através do Espírito Santo, nos é suscitado o louvor, a súplica, a oração penitencial, a oferta.

4 – Contemplação

O que a Palavra faz em mim? É o próprio Deus que age em nossas vidas. É permitir a ação de Deus que recebe a nossa oração e nos leva ao Seu coração. Na contemplação nós somos impelidos a ser como Cristo.

Que o próprio Deus nos conceda a graça de a cada novo dia crescermos na intimidade com a Sua palavra.


Fonte: https://comshalom.org/como-fazer-a-lectio-divina/


11 de setembro de 2023

Como a bíblia está organizada?


Devemos conhecer a Bíblia! Quando nos aproximamos dela, vemos rapidamente que a Sagrada Escritura é acessível a todos.

comshalom Foto: Karen Favacho

A Bíblia é um dos livros mais importantes e conhecidos da história da humanidade. De nenhum outro livro foram feitos mais exemplares (em 2011, se contabilizaram mais de seis bilhões, fazendo da Bíblia o livro mais vendido do mundo) e nenhum outro foi traduzido a tantos idiomas (quase 2,500 línguas). Tudo isto faz com que a Bíblia seja, indiscutivelmente, conhecido por um grande número de pessoas. Contudo, nem todo mundo a conhece bem e nem todo mundo a manuseia com facilidade imediatamente. Mas afinal, como a bíblia está organizada?

Uma das maiores dificuldades com as quais uma pessoa se depara quando tem a sua primeira aproximação à Sagrada Escritura é o seu grande tamanho: a Bíblia possui uma grande extensão! É um composto de vários livros juntos! De fato, o termo grego βιβλία (biblía) é um substantivo plural que traduz livros. Outra é a sua complexidade: embora a Bíblia seja uma obra unificada que tem como objetivo a comunicação de uma única grande mensagem, que é a revelação de Deus, ela não é obra feita por um único autor, numa época e lugar determinados, antes consta de uma quantidade considerável de textos escritos por pessoas diferentes e em lugares e épocas diversas. Isto faz também com que a Bíblia não possua uma narrativa linear, como seria uma novela ou um livro de história, mas contém em si vários gêneros literários e estilos. Inclusive, foi escrita em mais de uma língua! Enfim, por isso, entre outras coisas, o leitor pode sentir dificuldade ao ter uma primeira aproximação à Bíblia.

Conhecer para amar

A solução ao problema é simples: devemos conhecer a Bíblia e como está organizada! Quando nos aproximamos dela, vemos rapidamente que a Sagrada Escritura é acessível a todos. Basta apenas uma pequena ajuda que nos mostre o caminho e que responda algumas perguntas básicas para que possamos nos relacionar bem com ela. Posto isto, podemos nos perguntar: como a Bíblia está organizada?

A Bíblia tem duas partes: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Cada um é um conjunto de livros de características particulares. Saibamos que a palavra "testamento" significa "aliança" ou "pacto", e este título indica um elemento central da mensagem dos textos: a aliança que Deus estabelece com o homem.

Antigo Testamento

No Antigo Testamento é estabelecida a primeira aliança através de Abraão e perpetuada em toda a sua descendência, formando assim um povo eleito. Ele é composto por 46 livros organizados comumente em quatro grupos:

1 – Pentateuco: 

Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio;

2 – Livros históricos: 

Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crónicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus;

3 – Livros sapienciais:

Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coelet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou Eclesiástico);

4 – Livros proféticos:

Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Novo Testamento

No Novo Testamento, é estabelecida uma nova e eterna aliança na Pessoa de Jesus Cristo. É composto por 27 livros que podem ser agrupados em quatro coleções:

1 – Evangelhos sinóticos

(Mateus, Marcos e Lucas) e Atos dos Apóstolos

2 – Literatura joanina

Evangelho de São João, as três cartas atribuídas ao apóstolo e o Apocalipse.

3 – As cartas ou epístolas paulinas:

Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filêmon. A autoria da Carta aos Hebreus foi atribuída a Paulo pela tradição, de modo que também é considerada como parte do conjunto das epístolas paulinas, contudo os trabalhos da exegese moderna propõem que provavelmente não foi escrita por ele, mas por outro autor conhecedor da doutrina do apóstolo.

4- As cartas católicas:

Carta de São Tiago, 1 e 2 de São Pedro, São Judas. Chamam-se católicas (universais) por não estarem dirigidas apenas a uma igreja ou pessoa (como as de Paulo), visto que o remetente não ficou explícito nos escritos.

Embora ambos os conjuntos sejam distintos, desde cedo o cristianismo defendeu a complementaridade entre um e outro: o Antigo Testamento recebe sua plena significação no Novo Testamento, e este, por sua vez, é anunciado e se encontra latente no Antigo.

Certamente, poderíamos falar sobre cada um dos grupos que mencionamos aqui, como também de cada um dos livros que os compõem, porém, por hoje ficamos por aqui. Agora já sabemos quais são as partes que compõem a Bíblia. Na próxima vez que estivermos diante da Sagrada Escritura, já não teremos uma sensação ruim de "estar perdidos" num imenso mar de livros, mas saberemos onde estamos e saberemos como chegar onde queremos ir.


Fonte: https://comshalom.org/como-a-biblia-esta-organizada/


6 de setembro de 2023

O consumo de tecnologia de forma consciente e a vivência das virtudes cardeais


Sem perceber gastamos nosso precioso tempo dando mais atenção as realidades exteriores do que para nossa vida interior, e nossa vontade de nos aproximar de Deus acaba sendo minada por diversas mensagens e notificações. 

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O mundo em que vivemos hoje é cercado de tecnologia. Você acorda pela manhã pelo despertador do celular, prepara seu café da manhã enquanto lê as notícias nele e já responde as inúmeras mensagens no whatsapp. Na TV conectada à internet, assiste aquela vídeo aula ou aquele clipe legal enquanto o relógio avisa que é hora de se movimentar.

Não é incomum muitas pessoas terem essa rotina diária, e cada vez mais produtos e serviços nos lembram que a vida será sempre mais difícil se não tivermos o monitor mais moderno ou uma smart tv com todos os nossos streamings favoritos. O consumo desenfreado de tecnologia pode causar diversos males em nós, desde uma enxaqueca indesejada até o burnout.

Sem perceber gastamos nosso precioso tempo dando mais atenção as realidades exteriores do que para nossa vida interior, e nossa vontade de nos aproximar de Deus acaba sendo minada por diversas mensagens e notificações. 


Essa é a dura realidade que muitos de nós vivemos e que infelizmente também reproduzimos quando atingidos pelo consumismo. Consumir tecnologia ou mesmo produtos e serviços que usam tecnologia de ponta tornou-se um ponto de reflexão para quem está inserido no mundo moderno, com todas as vantagens, benefícios mas também contradições que ele apresenta.

O consumismo se edifica sobre o pressuposto de que a felicidade é proporcional ao consumo de bens. O padrão de consumo vai sendo definido pelo mercado através de ousado investimento em marketing, criando falsas necessidades que acabam se transformando em "sonhos de consumo", expressão comumente empregada pelas pessoas sem pensar no seu real significado. São João Paulo II, na Encíclica Centesimus Annus, chama a isso de "fenômeno do consumismo", que vai criando uma sociedade do supérfluo e do descartável (CA 36) e alimenta a ideologia do consumismo, onde o "ter" é mais valorizado que o "ser".

Diante dessa realidade, uma pergunta pertinente tomou conta de consumidores em geral: Como consumir tecnologia de forma consciente? E para nós cristãos, como podemos utilizar a tecnologia sem que ela nos torne pessoas consumistas? O Papa Francisco diagnosticou o consumismo como uma doença séria nos dias de hoje, que nos faz gastar mais do que precisamos e que nos tira a austeridade da vida. Um verdadeiro inimigo da generosidade. 

"É preciso pedir ao Senhor para que nos liberte daquele mal tão perigoso que é o consumismo, que nos torna escravos, uma dependência do ato de gastar. É uma doença psiquiátrica. Peçamos esta graça ao Senhor: a generosidade, que expande o nosso coração e nos leva à magnanimidade" (Homilia de Advento, 26 de novembro de 2018).

A prática das virtudes podem nos ajudar a combater o consumismo e outras correntes do mundanismo, pois além de nos fazer tender para o bem, procurando-o e vivenciando ele no dia a dia, nos ajudam pelo uso constante da vontade e da inteligência a regular nossos atos, ordenar nossas paixões e guiar nossa vida segundo a fé e a razão (CIC 1804).

Aprender mais sobre custo-benefício e viver a virtude da justiça

O custo benefício é o que define as melhores escolhas de um produto ou serviço. É a partir dele que podemos saber se aquilo que estamos pagando realmente vale o investimento ou não. Estamos em um momento onde o mundo inteiro está avaliando os impactos econômicos e sociais do consumo, sobretudo em busca de um mundo mais sustentável.

Avaliar melhor as nossas compras, a real necessidade de se ter um produto mais caro ou pagar por um serviço de streaming deve ser levado em consideração na hora de adquirir qualquer coisa. Vale a pena aprender mais sobre planejamento financeiro e conversar com as pessoas sobre suas experiências com os produtos que utilizam.

A virtude da justiça é essencial para fazer um bom discernimento sobre as nossas reais necessidades. É a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhe é devido. Para com os homens ela nos dispõe a respeitar os direitos de cada um e estabelecer nas relações humanas a harmonia que promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum (CIC 1807). Ela nos ajuda portanto, a viver com sobriedade e nos prepara pela gratidão para receber os acréscimos de Deus. 

"O que vivemos e o que queremos nos é dado pelo Senhor e, sendo dado por Ele, é o que precisamos e o que nos basta" (Escritos Shalom 12, Pobreza).

Pesquisar os produtos de acordo com o seu perfil e necessidades com prudência 

Outra coisa que ajuda bastante na hora de adquirir um produto é saber, de acordo com seu perfil profissional e uso pessoal se o que você está comprando atende suas reais necessidades. Por exemplo: uma pessoa que trabalha na área jurídica talvez não necessite de um notebook gamer com placa de vídeo dedicada e 1tb de memória. Ou um celular de última geração com gravação de vídeos em 8k, sendo que nem existem muitos monitores e aparelhos capazes de reproduzir tais vídeos.

Muitas pessoas hoje assinam canais de streaming mas não consomem nem 20% de seu conteúdo, o que mostra que é preciso reavaliar gastos desnecessários. Compre aquilo que realmente esteja na sua lista de prioridades e dê preferência aos produtos que oferecem boas garantias e maiores benefícios a longo prazo.

A prudência será a virtude que guiará nossa consciência em vista de discernir corretamente nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo (CIC 1806). Ela nos ajudará a tirar melhor proveito de cada coisa e nos auxiliará em nossa santificação pessoal fazendo-nos viver de forma responsável.

Informe-se sobre cada detalhe de seu produto ou serviço e exercite o dom da fortaleza

A ausência de informações é uma das grandes responsáveis pelo desperdício de recursos. Conhecer os próprios hábitos e o que eles representam em valores podem nos transformar de simples consumidores a consumidores conscientes. Novas soluções em tecnologia hoje possibilitam que você conheça seu real consumo de energia, água e internet e viabilize a cobrança uma justa e acertada, a partir de soluções de gestão racional dos seus recursos, produtos e serviços.

Procure dados sobre consumo de energia, possíveis trocas, garantia, ofertas na aquisição de um combo, veja vídeos demonstrativos, análises, reviews de produtos, unboxings, testes reais para avaliar a sua possível compra. Após essa maratona necessária, você já tem uma noção do que vai adquirir e como vai usar o que comprar, seja pela internet ou loja física. Fique atento também a cobrança de frete, formas de pagamento e prazo de entrega.

A constância na procura do bem e a graça de se manter seguro nas dificuldades são características do dom da fortaleza. Ela firma a resolução de resistir as tentações na hora de comprar qualquer coisa por impulso e nos torna capazes de vencer o medo, as decepções, as provações e se manter firme diante dos sacrifícios que realizamos em vista de um bem maior. (CIC 1808)

Fique de olho no tempo de uso e manutenção: o dom da temperança

Muitos produtos hoje em dia vem com aquilo que os especialistas chamam de obsolescência programada. Ou seja, muitos produtos ligados a ciência e tecnologia hoje são programados para durar pouco, para serem substituídos após um curto prazo de utilização. Notebooks, monitores, celulares e relógios são alvos preferenciais das empresas por serem produtos de uso pessoal. São aparelhos que necessitam de cuidado e manutenção constantes, e a cada ano eles são substituídos rapidamente por outros mais rápidos, maiores e mais potentes. 

Então fica a pergunta? Será mesmo que preciso de um celular de última geração, ou posso aguardar alguns meses até que eu possa encontrar um modelo com um valor razoável no mercado? Em média, a bateria de um celular leva dois anos até começar a apresentar quedas em seu ciclo de recargas. Isso se você for um heavy user, um usuário pesado de seu aparelho. A dica então é estar atento ao consumo de energia e fazer uma limpeza constante na memória e no seu armazenamento.

A virtude da temperança irá nos ajudar a equilibrar o uso dos bens criados e moderar nossa atração pelos prazeres criados para suprir nossas inúmeras necessidades. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade (CIC 1809).

Verifique se a empresa realiza vantagens na troca por um novo na hora do descarte e como ela lida com a reciclagem e reutilização dos produtos, pois o reaproveitamento de matérias primas hoje é prioridade nas grandes companhias.

Dê um feedback sobre o uso do que você comprou, faça uma avaliação justa e mostre as pessoas de que forma seu equipamento ou seus aparelhos tem lhe ajudado na sua rotina. É preciso também comentar e cobrar das empresas sobre os valores ofertados e como podemos garantir que mais pessoas tenham acesso a esses recursos. Colabore com as empresas e seja coerente com os seus valores. É preciso agir de forma coletiva para que não seja reproduzida a lógica de uma produção e consumo que nos escravizem.

"Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo coração, de toda alma e em toda forma de agir. Dedicar-lhe um amor integral (pela temperança) que nenhum infortúnio poderá abalar (o que depende da fortaleza), que obedece exclusivamente a Ele (e nisso consiste a justiça), que vela para discernir todas as coisas com receio de deixar-se surpreender pelo ardil e pela mentira (e isto é a prudência) – Santo Agostinho.



Fonte: https://comshalom.org/o-consumo-de-tecnologia-de-forma-consciente-e-a-vivencia-das-virtudes-cardeais/

4 de setembro de 2023

Como os casais podem convidar Deus para entrar em suas casas?


"Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder: são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro que não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder" (Tb. 6,16-17).

Essa resposta de São Rafael a Tobias — quando esse temia tomar Sara por esposa devido a um demônio que dificultava a sua vida —, deixa bem claro para nós o quanto a oração do casal é, na verdade, uma oração de libertação.

A alicerce do casamento deve ser a oração

Aliás, todo o livro de Tobias nos ensina o caminho para viver um Matrimônio em Deus: a oração. De fato, não existe outro caminho para colocar o Senhor em nosso casamento. O fato de termos "casado na Igreja" não é garantia total de que problemas não existirão e que tudo será fácil.

O caminho de santidade no matrimônio

Foto Ilustrativa: nortonrsx by GettyImages / cancaonova.com

Os esposos sabem que o casamento é exigente e que sem uma graça sobrenatural. Muitos casais, inclusive cristãos, teriam grandes dificuldades para levar a relação até o fim. Por isso, o Senhor, que ama a família, é o primeiro interessado no sucesso do matrimônio, logo, Ele precisa estar presente, ensinando como agir em cada situação e dando luzes para aquilo que não sabemos resolver, principalmente nos impasses onde um acha que deve ser de um jeito e o outro tem uma ideia bem diferente. É Deus quem nos forma para ser esposo e esposa. Mas a Sua presença, no casamento, acontece quando desejamos e agimos concretamente neste sentido.


Orando em casal

A principal atitude para colocar Deus no Matrimonio é ser inteiramente d'Ele, antes de tudo. Cada cônjuge precisa manter a sua relação íntima com o Senhor, deve conhecê-lo de fato, a fim de agir no Espírito frente ao outro e aos filhos, contagiando-os com o desejo de serem de Deus também. Muitas vezes, na vida conjugal, um precisa animar o outro que pode estar esmorecendo na caminhada cristã. Depois, o casal precisa ter momentos juntos de oração profunda, de escuta ao Senhor para receberem d'Ele as instruções e a formação de que necessitam, ou seja, além das orações em família para bênção dos alimentos, durante uma viagem, ao acordar ou antes de dormir, precisa haver um momento especial onde os casais possam colocar ali seus medos, anseios, questões… E deixar que Ele faça a sua obra.

Essa oração deve ser frequente, ter dia e horário programado na agenda e não ser substituída por outros compromissos, afinal, o seu Matrimônio é o grande projeto de Deus para a sua vida, como o foi o de Sara e Tobias.
E como tudo parte da oração, é dela que cada um vai organizando a vida de trabalho e social na vontade de Deus. Colocá-lo na relação é também pautar a existência nos valores do Evangelho, de modo que o casamento seja um testemunho de vida para quem for capaz de ver porque não basta apenas rezar, toda a vida precisa ser transformada pela relação com Deus.

Educando com valores

Valores como honestidade, solidariedade e fidelidade são frutos dessa busca. Não poderíamos deixar de falar também sobre a educação dos filhos. O casal precisa colocar o Senhor à frente dessa educação, a fim de que os filhos se encontrem dentro do projeto que são chamados a ser, segundo os planos do Senhor. Uma família, que vive dessa forma, mesmo que não seja perfeita, está tentando colocar Deus dentro do casamento. Sobre esta casa o inimigo não pode vencer.



Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/como-os-casais-podem-convidar-deus-para-entrar-em-suas-casas/


1 de setembro de 2023

Vida consagrada, amor de Deus ao mundo


A vida religiosa será tanto mais apostólica quanto mais íntima for a sua dedicação ao Senhor Jesus

comshalom

À imagem de Jesus, dileto Filho « a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo » (Jo 10,36), também aqueles que Deus chama a seguir Cristo são consagrados e enviados ao mundo para imitar o seu exemplo e continuar a sua missão. Valendo fundamentalmente para todo o discípulo, isto aplica-se de modo especial àqueles que são chamados, na característica forma da vida consagrada, a seguir Cristo « mais de perto » e a fazer d'Ele o « tudo » da sua existência.

Na sua vocação, portanto, está incluído o dever de se dedicarem totalmente à missão; mais, a própria vida consagrada, sob a ação do Espírito Santo que está na origem de toda a vocação e carisma, torna-se missão, tal como o foi toda a vida de Jesus. A profissão dos conselhos evangélicos, que torna a pessoa totalmente livre para a causa do Evangelho, revela a sua importância também desde este ponto de vista. Assim há que afirmar que a missão é essencial para cada Instituto, não só nos de vida apostólica ativa, mas também de vida contemplativa.

A pessoa consagrada está sempre em missão

Na realidade, a missão, antes de ser caracterizada pelas obras externas, define-se pelo tornar presente o próprio Cristo no mundo, através do testemunho pessoal. Este é o desafio, a tarefa primária da vida consagrada! Quanto mais se deixa conformar com Cristo, tanto mais O torna presente no mundo e operante para a salvação dos homens.

Assim, pode-se afirmar que a pessoa consagrada está « em missão » por força da sua própria consagração, testemunhada segundo o projeto do respectivo Instituto. Quando o carisma de fundação prevê atividades pastorais, é óbvio que o testemunho de vida e as obras de apostolado e promoção humana são igualmente necessários: ambos representam Cristo, que é simultaneamente o consagrado à glória do Pai e o enviado ao mundo para a salvação dos irmãos e irmãs (174).

Além disso, a vida religiosa participa na missão de Cristo por outro elemento peculiar que lhe é próprio: a vida fraterna em comunidade para a missão. Por isso, a vida religiosa será tanto mais apostólica quanto mais íntima for a sua dedicação ao Senhor Jesus, quanto mais fraterna for a sua forma comunitária de existência, quanto mais ardoroso for o seu empenhamento na missão específica do Instituto.

Ao serviço de Deus e do homem

A vida consagrada tem a função profética de recordar e ser1vir o desígnio de Deus sobre os homens, tal como esse desígnio é anunciado pela Escritura e resulta também da leitura atenta dos sinais da ação providente de Deus na história. É projeto de uma humanidade salva e reconciliada (cf. Col 2,20-22).

Para cumprirem convenientemente tal serviço, as pessoas consagradas devem ter uma profunda experiência de Deus e tomar consciência dos desafios do seu tempo, identificando o sentido teológico profundo deles por meio do discernimento realizado com a ajuda do Espírito. É que, nos acontecimentos históricos, encerra-se frequentemente o apelo de Deus para trabalharmos segundo os seus planos com uma inserção ativa e fecunda nos acontecimentos do nosso tempo (175).

O discernimento dos sinais dos tempos, como afirma o Concílio, deve ser feito à luz do Evangelho, para que se « possa responder (…) às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas » (176). É necessário, portanto, abrir o coração às sugestões interiores do Espírito, que convida a ler em profundidade os desígnios da Providência.

Procurar em tudo a vontade de Deus

Ele chama a vida consagrada a elaborar novas respostas para os problemas novos do mundo atual. São solicitações divinas, que só almas habituadas a procurar em tudo a vontade de Deus conseguem captar fielmente e, depois, traduzi-las corajosamente em opções coerentes seja com o carisma originário, seja com as exigências da situação histórica concreta.

Perante os numerosos problemas e urgências que parecem às vezes comprometer e até mesmo transtornar a vida consagrada, os chamados não podem deixar de sentir o compromisso de conservarem no coração e levarem à oração as inúmeras necessidades do mundo inteiro, ao mesmo tempo que trabalham vigorosamente nos campos ligados ao carisma de fundação. A sua dedicação deverá, obviamente, ser guiada pelo discernimento sobrenatural, que sabe distinguir o que vem do Espírito daquilo que Lhe é contrário (cf. Gal 5,16-17.22; 1 Jo 4,6). Mediante a fidelidade à Regra e às Constituições, tal discernimento conserva a plena comunhão com a Igreja (177).

Assim, a vida consagrada não se limitará a ler os sinais dos tempos, mas há de contribuir também para elaborar e atuar novos projetos de evangelização para as situações atuais. E tudo isto, na certeza derivada da fé de que o Espírito sabe dar as respostas apropriadas mesmo às questões mais difíceis. A este respeito, será bom redescobrir aquilo que sempre ensinaram os grandes protagonistas da ação apostólica: é preciso confiar em Deus como se tudo dependesse d'Ele e, ao mesmo tempo, empenhar-se generosamente como se tudo dependesse de nós.

Colaboração eclesial e espiritualidade apostólica

Tudo deve ser feito em comunhão e diálogo com as outras componentes eclesiais. Os desafios da missão são tais que não podem ser eficazmente enfrentados, tanto no discernimento como na ação, sem a colaboração de todos os membros da Igreja. Dificilmente o indivíduo isoladamente possui a resposta decisiva: esta, ao contrário, pode brotar da confrontação e do diálogo. De modo particular, a comunhão de ação entre os vários carismas não deixará de garantir, para além do enriquecimento recíproco, uma eficácia mais incisiva na missão.

A experiência destes anos confirma largamente que « o diálogo é o novo nome da caridade » (178), especialmente da caridade eclesial; aquele ajuda a ver os problemas nas suas reais dimensões, e permite enfrentá-los com melhores esperanças de sucesso. A vida consagrada, pelo facto mesmo de cultivar o valor da vida fraterna, apresenta-se como uma experiência privilegiada de diálogo. Deste modo, ela pode contribuir para criar um clima de aceitação recíproca, no qual os vários sujeitos eclesiais, sentindo-se valorizados por aquilo que são, concorrem de maneira mais convicta para a comunhão eclesial, orientada para a grande missão universal.

União íntima entre a contemplação e a ação

Os Institutos empenhados nas várias formas de serviço apostólico devem, enfim, cultivar uma sólida espiritualidade da ação, vendo Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus. De facto, « é preciso saber que como uma vida bem ordenada tende a passar da vida ativa à contemplativa, também a maior parte das vezes o espírito regressa com proveito da vida contemplativa à ativa, para conservar mais perfeitamente a vida ativa para aquilo que a vida contemplativa lhe acendeu na mente.

Portanto a vida ativa deve transferir-nos à vida contemplativa, e algumas vezes a contemplação, por aquilo que vimos interiormente, há de chamar-nos a uma melhor ação » (179). O próprio Jesus nos deu o exemplo perfeito de como é possível unir a comunhão com o Pai e uma vida intensamente ativa. Sem a tensão constante para tal unidade, o perigo de colapso interior, desorientação e desânimo está continuamente à espreita. A união íntima entre a contemplação e a ação permitirá, hoje como ontem, enfrentar as missões mais difíceis.


Fonte: Formação Comshalom