4 de setembro de 2023

Como os casais podem convidar Deus para entrar em suas casas?


"Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder: são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro que não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder" (Tb. 6,16-17).

Essa resposta de São Rafael a Tobias — quando esse temia tomar Sara por esposa devido a um demônio que dificultava a sua vida —, deixa bem claro para nós o quanto a oração do casal é, na verdade, uma oração de libertação.

A alicerce do casamento deve ser a oração

Aliás, todo o livro de Tobias nos ensina o caminho para viver um Matrimônio em Deus: a oração. De fato, não existe outro caminho para colocar o Senhor em nosso casamento. O fato de termos "casado na Igreja" não é garantia total de que problemas não existirão e que tudo será fácil.

O caminho de santidade no matrimônio

Foto Ilustrativa: nortonrsx by GettyImages / cancaonova.com

Os esposos sabem que o casamento é exigente e que sem uma graça sobrenatural. Muitos casais, inclusive cristãos, teriam grandes dificuldades para levar a relação até o fim. Por isso, o Senhor, que ama a família, é o primeiro interessado no sucesso do matrimônio, logo, Ele precisa estar presente, ensinando como agir em cada situação e dando luzes para aquilo que não sabemos resolver, principalmente nos impasses onde um acha que deve ser de um jeito e o outro tem uma ideia bem diferente. É Deus quem nos forma para ser esposo e esposa. Mas a Sua presença, no casamento, acontece quando desejamos e agimos concretamente neste sentido.


Orando em casal

A principal atitude para colocar Deus no Matrimonio é ser inteiramente d'Ele, antes de tudo. Cada cônjuge precisa manter a sua relação íntima com o Senhor, deve conhecê-lo de fato, a fim de agir no Espírito frente ao outro e aos filhos, contagiando-os com o desejo de serem de Deus também. Muitas vezes, na vida conjugal, um precisa animar o outro que pode estar esmorecendo na caminhada cristã. Depois, o casal precisa ter momentos juntos de oração profunda, de escuta ao Senhor para receberem d'Ele as instruções e a formação de que necessitam, ou seja, além das orações em família para bênção dos alimentos, durante uma viagem, ao acordar ou antes de dormir, precisa haver um momento especial onde os casais possam colocar ali seus medos, anseios, questões… E deixar que Ele faça a sua obra.

Essa oração deve ser frequente, ter dia e horário programado na agenda e não ser substituída por outros compromissos, afinal, o seu Matrimônio é o grande projeto de Deus para a sua vida, como o foi o de Sara e Tobias.
E como tudo parte da oração, é dela que cada um vai organizando a vida de trabalho e social na vontade de Deus. Colocá-lo na relação é também pautar a existência nos valores do Evangelho, de modo que o casamento seja um testemunho de vida para quem for capaz de ver porque não basta apenas rezar, toda a vida precisa ser transformada pela relação com Deus.

Educando com valores

Valores como honestidade, solidariedade e fidelidade são frutos dessa busca. Não poderíamos deixar de falar também sobre a educação dos filhos. O casal precisa colocar o Senhor à frente dessa educação, a fim de que os filhos se encontrem dentro do projeto que são chamados a ser, segundo os planos do Senhor. Uma família, que vive dessa forma, mesmo que não seja perfeita, está tentando colocar Deus dentro do casamento. Sobre esta casa o inimigo não pode vencer.



Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/como-os-casais-podem-convidar-deus-para-entrar-em-suas-casas/


1 de setembro de 2023

Vida consagrada, amor de Deus ao mundo


A vida religiosa será tanto mais apostólica quanto mais íntima for a sua dedicação ao Senhor Jesus

comshalom

À imagem de Jesus, dileto Filho « a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo » (Jo 10,36), também aqueles que Deus chama a seguir Cristo são consagrados e enviados ao mundo para imitar o seu exemplo e continuar a sua missão. Valendo fundamentalmente para todo o discípulo, isto aplica-se de modo especial àqueles que são chamados, na característica forma da vida consagrada, a seguir Cristo « mais de perto » e a fazer d'Ele o « tudo » da sua existência.

Na sua vocação, portanto, está incluído o dever de se dedicarem totalmente à missão; mais, a própria vida consagrada, sob a ação do Espírito Santo que está na origem de toda a vocação e carisma, torna-se missão, tal como o foi toda a vida de Jesus. A profissão dos conselhos evangélicos, que torna a pessoa totalmente livre para a causa do Evangelho, revela a sua importância também desde este ponto de vista. Assim há que afirmar que a missão é essencial para cada Instituto, não só nos de vida apostólica ativa, mas também de vida contemplativa.

A pessoa consagrada está sempre em missão

Na realidade, a missão, antes de ser caracterizada pelas obras externas, define-se pelo tornar presente o próprio Cristo no mundo, através do testemunho pessoal. Este é o desafio, a tarefa primária da vida consagrada! Quanto mais se deixa conformar com Cristo, tanto mais O torna presente no mundo e operante para a salvação dos homens.

Assim, pode-se afirmar que a pessoa consagrada está « em missão » por força da sua própria consagração, testemunhada segundo o projeto do respectivo Instituto. Quando o carisma de fundação prevê atividades pastorais, é óbvio que o testemunho de vida e as obras de apostolado e promoção humana são igualmente necessários: ambos representam Cristo, que é simultaneamente o consagrado à glória do Pai e o enviado ao mundo para a salvação dos irmãos e irmãs (174).

Além disso, a vida religiosa participa na missão de Cristo por outro elemento peculiar que lhe é próprio: a vida fraterna em comunidade para a missão. Por isso, a vida religiosa será tanto mais apostólica quanto mais íntima for a sua dedicação ao Senhor Jesus, quanto mais fraterna for a sua forma comunitária de existência, quanto mais ardoroso for o seu empenhamento na missão específica do Instituto.

Ao serviço de Deus e do homem

A vida consagrada tem a função profética de recordar e ser1vir o desígnio de Deus sobre os homens, tal como esse desígnio é anunciado pela Escritura e resulta também da leitura atenta dos sinais da ação providente de Deus na história. É projeto de uma humanidade salva e reconciliada (cf. Col 2,20-22).

Para cumprirem convenientemente tal serviço, as pessoas consagradas devem ter uma profunda experiência de Deus e tomar consciência dos desafios do seu tempo, identificando o sentido teológico profundo deles por meio do discernimento realizado com a ajuda do Espírito. É que, nos acontecimentos históricos, encerra-se frequentemente o apelo de Deus para trabalharmos segundo os seus planos com uma inserção ativa e fecunda nos acontecimentos do nosso tempo (175).

O discernimento dos sinais dos tempos, como afirma o Concílio, deve ser feito à luz do Evangelho, para que se « possa responder (…) às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas » (176). É necessário, portanto, abrir o coração às sugestões interiores do Espírito, que convida a ler em profundidade os desígnios da Providência.

Procurar em tudo a vontade de Deus

Ele chama a vida consagrada a elaborar novas respostas para os problemas novos do mundo atual. São solicitações divinas, que só almas habituadas a procurar em tudo a vontade de Deus conseguem captar fielmente e, depois, traduzi-las corajosamente em opções coerentes seja com o carisma originário, seja com as exigências da situação histórica concreta.

Perante os numerosos problemas e urgências que parecem às vezes comprometer e até mesmo transtornar a vida consagrada, os chamados não podem deixar de sentir o compromisso de conservarem no coração e levarem à oração as inúmeras necessidades do mundo inteiro, ao mesmo tempo que trabalham vigorosamente nos campos ligados ao carisma de fundação. A sua dedicação deverá, obviamente, ser guiada pelo discernimento sobrenatural, que sabe distinguir o que vem do Espírito daquilo que Lhe é contrário (cf. Gal 5,16-17.22; 1 Jo 4,6). Mediante a fidelidade à Regra e às Constituições, tal discernimento conserva a plena comunhão com a Igreja (177).

Assim, a vida consagrada não se limitará a ler os sinais dos tempos, mas há de contribuir também para elaborar e atuar novos projetos de evangelização para as situações atuais. E tudo isto, na certeza derivada da fé de que o Espírito sabe dar as respostas apropriadas mesmo às questões mais difíceis. A este respeito, será bom redescobrir aquilo que sempre ensinaram os grandes protagonistas da ação apostólica: é preciso confiar em Deus como se tudo dependesse d'Ele e, ao mesmo tempo, empenhar-se generosamente como se tudo dependesse de nós.

Colaboração eclesial e espiritualidade apostólica

Tudo deve ser feito em comunhão e diálogo com as outras componentes eclesiais. Os desafios da missão são tais que não podem ser eficazmente enfrentados, tanto no discernimento como na ação, sem a colaboração de todos os membros da Igreja. Dificilmente o indivíduo isoladamente possui a resposta decisiva: esta, ao contrário, pode brotar da confrontação e do diálogo. De modo particular, a comunhão de ação entre os vários carismas não deixará de garantir, para além do enriquecimento recíproco, uma eficácia mais incisiva na missão.

A experiência destes anos confirma largamente que « o diálogo é o novo nome da caridade » (178), especialmente da caridade eclesial; aquele ajuda a ver os problemas nas suas reais dimensões, e permite enfrentá-los com melhores esperanças de sucesso. A vida consagrada, pelo facto mesmo de cultivar o valor da vida fraterna, apresenta-se como uma experiência privilegiada de diálogo. Deste modo, ela pode contribuir para criar um clima de aceitação recíproca, no qual os vários sujeitos eclesiais, sentindo-se valorizados por aquilo que são, concorrem de maneira mais convicta para a comunhão eclesial, orientada para a grande missão universal.

União íntima entre a contemplação e a ação

Os Institutos empenhados nas várias formas de serviço apostólico devem, enfim, cultivar uma sólida espiritualidade da ação, vendo Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus. De facto, « é preciso saber que como uma vida bem ordenada tende a passar da vida ativa à contemplativa, também a maior parte das vezes o espírito regressa com proveito da vida contemplativa à ativa, para conservar mais perfeitamente a vida ativa para aquilo que a vida contemplativa lhe acendeu na mente.

Portanto a vida ativa deve transferir-nos à vida contemplativa, e algumas vezes a contemplação, por aquilo que vimos interiormente, há de chamar-nos a uma melhor ação » (179). O próprio Jesus nos deu o exemplo perfeito de como é possível unir a comunhão com o Pai e uma vida intensamente ativa. Sem a tensão constante para tal unidade, o perigo de colapso interior, desorientação e desânimo está continuamente à espreita. A união íntima entre a contemplação e a ação permitirá, hoje como ontem, enfrentar as missões mais difíceis.


Fonte: Formação Comshalom

30 de agosto de 2023

Como acalmar os pensamentos por meio da oração?

A vida de oração é composta de etapas e podemos encontrar algumas pistas, até mesmo na Palavra de Deus, para nos valer. São Gregório de Nissa (340 – 394) juntou duas passagens mostrando como a vida de oração é uma crescente, e, ao mesmo tempo, provando como a Bíblia é perfeita, uniforme e sem contradições:

"Sob as aparências de uma escada, (Gn 28, 11-19) foi ensinado ao santo patriarca, (Jacó) que não pode subir até Deus senão aquele que tenha as vistas sempre voltadas para algo mais alto, e não se contente em permanecer nas que já alcançou. A altura das bem aventuranças, umas para com as outras, faz com que aqueles que já receberam algumas delas possam se aproximar de Deus, que é verdadeiramente feliz, constituído e estabelecido acima de toda bem aventurança" (De Beatitudinibus pg. 44, 1247-9).  

É possível sim acalmar a tempestuosidade dos pensamentos por meio da oração. Porém, baseando-se de que a vida espiritual tenha uma crescente, talvez haja um caminho a percorrer para se alcançar essa felicidade.

Como acalmar os pensamentos por meio da oração?

Foto ilustrativa: Arquivo CN/cancaonova.com

É necessário acalmar o coração

Pensando um pouco sobre o início da vida espiritual, utilizando-se do Doutor Angélico, São Tomás, e Antônio Royo Marin como seu intérprete, vamos ver como é possível rezar enquanto os pensamentos nos atormentam.

Para ter oração, Royo Marin, citando São Tomás (pag. 603 – Teologia da Perfeição Cristã), diz que o modo de atenção necessária, levando em conta nossa limitação interna e externa, é a atenção virtual. Esse tipo de atenção é a que se tem no começo da oração e, muitas vezes, atrapalhada pelas distrações que nos sobrevêm, voluntárias ou
não.

Acalme seu coração! Deus não se irrita com as distrações, desde que a combatamos. Se elas nos atormentam durante a Santa Missa, oração do Santo Terço, Adoração ou oração pessoal, umas 30 vezes por minuto, devemos combatê-las todas as vezes. Segundo Royo Marin, "toda distração combatida (mesmo que não se vença totalmente), em nada compromete o fruto da oração, nem diminui o mérito da alma (pag. 604).

Meus irmãos, no entanto, não podemos ser descomprometidos com a oração dizendo: "será sempre assim". Nada de "síndrome de Gabriela!". Há o que se pode fazer para melhorar a qualidade da nossa atenção na oração.

Apesar de existirem causas de distrações que são involuntárias (temperamento, fadiga mental, pouca saúde e até o demônio), existem mil causas que podemos dizer que são voluntárias e que poderiam muito bem serem evitadas. É bom se distanciar de assuntos que nos perturbam demais ou mexem com nossas emoções (raiva, medo, dor), de tal modo que, durante a oração, possam ficar nos atazanando. Por exemplo, a política, notícias e jornais alarmistas, apostas e jogos, redes sociais etc. são ocasiões que podemos excluir, pois não têm um dever de estado. Um monte de coisas que só servem para inquietar o nosso coração e tirar a nossa paz. Essas coisas surgem na nossa mente enquanto procuramos nos concentrar para a oração e ficam como um enxame de abelhas zumbindo e nos atrapalhando.


Preparação remota e preparação próxima

Não só. Existe mais ainda que se possa fazer. Chamamos preparação remota e preparação próxima. A preparação remota é basicamente o que mencionamos acima. É o cuidado de fugir de assuntos e situações que nos roubam a paz.

A preparação próxima é a responsabilidade de criar um momento propício para a oração. É procurar um lugar longe da agitação, de barulhos, de muitas movimentações. É preciso desacelerar o coração, tanto quanto possível, para ter um mínimo de recolhimento. Por exemplo, às vezes, dispomos de um tempo muito curto para a oração. Nossos planos deram errado, algo nos atrasou ou tivemos uma conversa que nos perturbou, tirou nossa alegria, tranquilidade, ou, simplesmente, o tempo acabou, ficando curto por conta de algum contratempo e, logo em seguida, precisamos correr para terminar as obrigações.

Como parar a agitação do coração para ter o mínimo de concentração? Não dá. O mundo e as pessoas de hoje são muito agitadas e ansiosas e, às vezes, entramos nessa loucura também. A preparação próxima é criar o momento oportuno para a oração. Um momento onde o coração está tranquilo para se recolher. Por exemplo, é bom procurar um horário em que a mente está tranquila. Para muitos, levantar mais cedo é excelente. Para outros, na hora de dormir é melhor. Porém, há outros que, na hora do almoço, conseguem desligar-se totalmente!

É muito importante ter ações voltadas para evitar esse aceleramento interno e externo, caso contrário, não há mágica para, de uma hora para outra, entrar numa profunda oração desligados de todo o mais. Preparação remota e preparação próximas se entrelaçam para nos ajudar a ter um momento de oração com menos distrações.

A coisa mais importante da sua vida

Dessa forma, nos voltamos para a proposta inicial: como acalmar os pensamentos por meio da oração? Ora, com tudo o que foi dito acima, vemos um círculo, em que procuramos nos esforçar para ter um coração mais calmo para a oração e, ao mesmo tempo, com uma oração mais serena e cheia de fé, teremos os nossos pensamentos acalmados pela experiência de Deus mais concreta e profunda vividas pelos momentos de oração. Será certamente uma oração mais intensa e consoladora para a mente e o coração. Possivelmente, conseguiremos sintonizar melhor no coração de Deus, desde uma oração pública como a Santa Missa ou o terço em família, como num momento de mais intimidade
como a oração pessoal, o Estudo da Palavra ou a adoração ao Santíssimo Sacramento.

Poderemos trilhar o caminho de elevação da oração para níveis mais profundos, associados a uma busca sincera por uma vida virtuosa, fugindo dos pecados e das ocasiões de pecado, com uma vida sacramental frequente. Chegará o momento que não haverá situação que nos tire da presença do Senhor, quer seja nos momentos de parada para rezar, quer seja no cotidiano de nossa vida. Colocaremos em prática um modo de viver de uma oração ao ritmo da vida, onde não nos afastamos mais, nem um minuto sequer, a nossa mente da presença de Deus.

Deus abençoe você e não deixe de colocar a oração como sendo a coisa mais importante da sua vida!



Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-acalmar-os-pensamentos-por-meio-da-oracao/

28 de agosto de 2023

Leigos: um chamado à santidade


"Ide vós também. A chamada não diz respeito apenas aos Pastores, aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, mas se estende aos fiéis leigos: também os fiéis leigos são pessoalmente chamados pelo Senhor, de quem recebem uma missão para a Igreja e para o mundo."

É com este trecho da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici, escrita pelo Papa João Paulo II, em que ele fala especialmente da vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, que desejo começar este texto. Ela nos mostra que, como leigos, também temos um chamado de Deus e um papel importante na sociedade. Infelizmente, nem sempre essa realidade foi clara para mim, assim como ainda não é clara para muitas pessoas.

Ser leiga e santa

Pouco tempo depois de ter a minha experiência pessoal com Jesus, aos 16 anos, e repleta de um desejo ardente de santidade, passei a querer entender qual era a minha vocação e assim concretizá-la, pois sempre ouvia as pessoas comentarem que só assim eu seria feliz e santa.

O problema é que a minha compreensão sobre a santidade e as vocações era precipitada. Como via muitas imagens e histórias de santos que eram religiosos e religiosas, passei a achar que para ser santa precisava ser freira. Por um curto período, isso me satisfez. Mas conforme eu ia amadurecendo na fé, ainda havia um forte incômodo no meu coração de que esta ainda não era a resposta de Deus.

Para ter as respostas, são necessárias as perguntas. Nesse processo de discernimento vocacional, eu me permiti ter algumas questões interiores: É possível ser leiga e santa? É possível viver a santidade no matrimônio? É possível ser jovem, leiga, solteira e santa?

Créditos: Bruna Maria

Com o passar do tempo, fui conhecendo a história de diversas pessoas que alcançaram graus de santidade em diversos estados da vida laical. Como a Santa Gianna Beretta, Santa Zélia e São Luís (pais de Santa Terezinha do Menino Jesus), que foram casados; ou como a Beata Sandra Sabatini, que foi a primeira noiva a ser beatificada pela Igreja. E também temos jovens como o Beato Carlo Acutis e a Beata Chiara Badano, que eram solteiros e em tudo lutaram pela santidade.

A santidade é um chamado para todos!

Hoje, compreendo que, sem sombra de dúvidas, é possível alcançar a santidade. Independentemente do estado de vida, TODOS SOMOS CHAMADOS A SER SANTOS. Entendi que a santidade é um chamado para todos. Cada um de nós tem um papel especial dentro da Igreja. Nenhuma vocação é melhor nem pior que a outra. São apenas chamados diferentes, e com isso cada uma traz consigo os seus desafios, as suas exigências e graças específicas.

Tal qual escreve o Apóstolo Paulo na 1ª Carta à comunidade de Coríntios. "Porque, como o corpo é um todo com muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito.[…] Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros como lhe aprouve. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo."

Desta forma, como leigos, somos chamados, de modo intenso e intencional, a fazer dos lugares que frequentamos – trabalho, faculdade, escola, amizades, pastorais ou movimentos na paróquia – um ambiente de santificação para nós e para os outros. E assim, propagando a fé, a caridade e a esperança, sermos sal e luz para o mundo em que vivemos.

Existem diversos lugares na Igreja e na sociedade que apenas o leigo poderá chegar! São Gregório Magno, ao comentar a parábola dos trabalhadores da vinha em uma pregação para o povo, disse: "Considerai o vosso modo de viver, caríssimos irmãos, e vede se já sois trabalhadores do Senhor. Cada qual avalie o que faz e veja se trabalha na vinha do Senhor".

Seja luz de Cristo para o mundo!
Ester Vieira – Jovens Sarados


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vida-religiosa/leigos-um-chamado-a-santidade/


25 de agosto de 2023

Guardar o dia do Senhor é dever do cristão


A santificação do sábado, sinal de que Deus é o Senhor da vida humana, não dependendo apenas do trabalho das pessoas, é uma preciosidade na prática religiosa e foi mantida com extremo cuidado pelo povo escolhido por Ele. O dia do Senhor aponta também para a confiança absoluta na Providência Divina, que não nos abandona. Mesmo sem o trabalho das mãos, no dia de sábado, as pessoas permanecem vivas! E esse dia se torna, no correr dos séculos, síntese e símbolo de todos os bens experimentados por Israel. Ele é fiel expressão e fruto eficaz da espiritualidade hebraica.

Por meio de vários ritos, como o acender das velas, uma bênção pronunciada pela mãe de família e bênçãos recitadas pelo pai, o dia de sábado mostra sua luminosidade e, "como lâmpada para seus passos" (Sl 118,105), clareia o caminho de Israel, revelando e fortificando sua identidade. O sábado foi sinal de alegria e gratidão pelos dons de Deus e a abertura para a plenitude da mesma alegria prometida por Ele. No decorrer da história desse povo, o sábado passou também por decadência em sua observância e, por outro lado, grupos religiosos fizeram com que o dia da liberdade e da consciência da presença de Deus viesse a ser tratado com pesado rigorismo.

Guardar o dia do Senhor é dever do cristão

Foto Ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Jesus também esteve, muitas vezes, presente na Sinagoga, como judeu fiel. Ela foi espaço para dirigir palavras reveladoras aos presentes, assim como lugar de curas e atenções às pessoas. Entretanto, em várias ocasiões se estabelece um conflito entre Jesus e as autoridades religiosas judaicas a respeito da observância do sábado. Jesus tem grande liberdade para fazer o bem nas curas que realiza, priorizando o bem dos mais frágeis, mostrando-se senhor do sábado, o que faz parte da revelação daquilo que ele é, Deus e homem verdadeiro. Nele acontece a superação da visão limitada sobre o dia do Senhor, até porque o dia definitivo chega quando Ele vem e mostra toda Sua força e luz na Ressurreição dentre os mortos.

Domingo, o dia do Senhor

Os primeiros tempos da vida da Igreja assistiram às dificuldades com relação à antiga tradição do sábado, pois os cristãos se voltaram para o primeiro dia da semana, chamado Dia do Senhor, por causa da Ressurreição, justamente a inauguração daquele dia definitivo! O dia da Ressurreição veio a ser a celebração semanal mais importante para nós, e assim o celebramos na Igreja.

"Instituído para amparo da vida cristã, o domingo adquire, naturalmente, também um valor de testemunho e anúncio. Dia de oração, de comunhão e alegria, ele repercute sobre a sociedade, irradiando sobre ela energias de vida e motivos de esperança. O domingo é o anúncio de que o tempo, habitado por Aquele que é o Ressuscitado e o Senhor da história, não é o túmulo das nossas ilusões, mas o berço de um futuro sempre novo, a oportunidade que nos é dada de transformar os momentos fugazes desta vida em sementes de eternidade. O domingo é convite a olhar para diante, é o dia em que a comunidade cristã eleva para Cristo o seu grito: 'Maranatha: Vinde, Senhor!' (1 Cor 16,22). Com esse grito de esperança e expectativa, ela se faz companheira e sustentáculo da esperança dos homens. E domingo a domingo, iluminada por Cristo, caminha para o domingo sem fim da Jerusalém celeste, quando estiver completa em todas as suas feições a mística Cidade de Deus, que 'não necessita de Sol nem de Lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus, e a sua luz é o Cordeiro'" (Ap 21,23) (São João Paulo II, Dies Domini, número 84).


Se algumas línguas o chamam "dia do sol", para nós o domingo é justamente a festa da presença d'Aquele que é a luz do mundo. No entanto, é importante verificar o que temos feito do domingo, pois sua prática pode se degradar e comprometer a própria dignidade da pessoa humana, nele valorizada de modo eminente. De fato, repousar das próprias fadigas corresponde ao ritmo humano e também nos remete à criação do mundo, quando a narrativa bíblica projeta em Deus o descanso e a alegria pela obra realizada. O repouso semanal é importante e deve ser garantido pela legislação civil, e sabemos que ocorrem formas de moderna escravidão em que as pessoas são submetidas ao trabalho de forma iníqua. Como cristão, reivindicamos para todas as pessoas o repouso semanal provado pela história da humanidade como digno e adequado para a vida humana na terra.

Domingo é dia de Missa!

O dia de domingo há de ser preenchido, em primeiro lugar, com a participação na Eucaristia, com a qual se faz presente a Morte e Ressurreição de Jesus. Na escuta da Palavra e na mesa eucarística, os cristãos têm o direito de estar diante do centro da própria fé. Antes de ser uma obrigação, trata-se de um direito! Daí o nosso apelo a que se redescubra o domingo como dia de Missa, e de preferência as famílias encontrem seu modo de participarem como corpo unido do Mistério de Cristo. E vem também a ajudar-nos o esmero com que as Equipes de Liturgia e de Celebração nas Paróquias e Comunidades devem preparar o ato central da vida de Igreja. Quando não é possível a celebração da Missa, multipliquem-se nas Comunidades a santificação do Dia do Senhor com a Celebração da Palavra de Deus, enriquecida ainda em muitas Comunidades com a Sagrada Comunhão, com a reserva eucarística presente em nossos Tabernáculos.

Corremos, entretanto, o risco de transformar o domingo, ou com ele todo o fim de semana, apenas em tempo de ociosidade ou, pior ainda, tempo de todos os vícios nos quais jovens e adultos mergulham de forma arriscada e indigna. O resultado é um esvaziamento terrível, com gosto de ressaca! Sabe-se bem o que significa para muitos a segunda-feira, e porque, popularmente, alguns a chamam de dia de preguiça. Esvaziar-se de valores, entregar-se ao que de menos digno existe só pode trazer frustração às pessoas! O domingo venha a ser recuperado na dimensão do justo repouso e na altura maior, que é a celebração da Ressurreição do Senhor, para que seja, também ele, sinal da vida nova com a qual se comprometem os cristãos.



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/guardar-o-dia-do-senhor-e-dever-do-cristao/


23 de agosto de 2023

Segundo a Bíblia, a missão masculina é uma missão sacrificial


Não obstante suas fraquezas, limites e humanidade, o homem é chamado por Deus à nobreza do sacrifício, tornando-se um verdadeiro dom para aqueles que com ele dividem a vida. Na carta aos Efésios 5,25, o texto sagrado nos diz: "Homens, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela". E a subsequente pergunta é a seguinte: como Cristo amou a Igreja? Resposta: Sacrificando-se e entregando-se por ela, ou seja, dando integralmente sua vida para que ela fosse fecunda e encontrasse redenção.

O amor de Cristo foi um amor de sacrifício, de uma doação concreta de vida por uma nobre finalidade, e a missão do homem (sobretudo em relação a sua família) passará inevitavelmente por este viés.

Como disse o Beato Pier Giorgio Frassati: "Viver sem fé e sem um nobre patrimônio para defender, sem uma luta constante pela verdade, isto não é viver, é apenas existir". Estaremos você e eu apenas existindo ou realmente vivendo? Estamos vivendo nossa fé e missão como homens cheios de vida? Lembrem-se das famosas palavras do Papa Emérito Bento XVI: "Não fostes criados para a comodidade, mas para a grandeza". Qualquer grandeza como homens depende deste sacrifício de si e desta luta por ser melhor (pela santidade). O que precisamos é coragem, segurança e humilde confiança nos recursos infinitos de Deus.

O homem deve deixar o egoísmo

Segundo a Sagrada Escritura, o homem é chamado ao sacrifício de um amor generoso, e não a um egocentrismo que o torne refém da busca de um prazer hedonista (e egoísta). Ele é vocacionado por Deus ao sacrifício do renunciar a si mesmo e as suas más tendências todos os dias, para então honrar seus compromissos e cumprir sua missão, cuidando efetivamente das pessoas e realidades que na vida Deus lhe confiou.

Segundo a Bíblia, a missão masculina é uma missão sacrificial

Créditos: Duncan_Andison by GettyImages/cancaonova.com

Ele é chamado à disciplina com relação a si mesmo e ao sacrifício corajoso de si pelo bem dos seus. Ele é vocacionado em toda a Escritura a sacrificar-se para realizar integralmente sua missão. Contudo, a Bíblia o convida ao sacrifício sensato de si, mas não (é claro) ao masoquismo. Masoquismo é um sofrimento sem sentido nem nobreza (pelas causas e motivos errados), já o autossacrifício consciente é a feliz atitude de se entregar pelo bem de uma realidade que realmente nos foi confiada (e que é digna), pela qual nos responsabilizamos e ofertamos nossa vida para cuidar. O ato de se sacrificar conscientemente por uma missão e ideal dá sentido à razão de ser do homem e lhe confere uma alegria muito singular.

O homem não deve ter medo de viver o sacrifício necessário pelo bem dos seus e daquilo que ele acredita (sobretudo por sua família e sua fé): ele precisa cultivar a viril disposição para sacrificar-se cotidianamente no cuidado, no amor, na paciência, no trabalho, na perseverança, na oração, muitas vezes no silêncio e na espera em favor de sua missão e pelo bem de sua família.

O maior exemplo é Cristo

Homem de verdade, segundo a Bíblia, é aquele que tem visão espiritual e sabe que sua entrega de cada dia (no trabalho, no autodomínio, na paciência, no cuidado para com os seus) está gerando frutos de vida e redenção para sua família, e que, impulsionado por um viril amor, se entrega para ser para os seus aquilo que a Bíblia o vocaciona a ser: um outro Cristo. Alguém que se doa inteiramente no sacrifício de cada dia sem "se economizar", a fim de gerar frutos de vida e fecundidade para os seus.

Homem maduro, segundo a Sagrada Escritura, é aquele que não é narcisista nem fica pensando apenas em seus próprios interesses, mas é aquele que se oferta e se entrega por uma causa que lhe é superior. É aquele que, quando só tem uma vaga no carro, vai de ônibus, para que sua mulher e sua filha possam ir de carro. É aquele que, quando necessário, levanta-se de madrugada para levar o filho ou outro familiar para o hospital. É aquele que fica sem dormir ou comer, se necessário, para cuidar e alimentar os seus.

É aquele que cuida da esposa doente, que ajuda nas tarefas de casa (na louça, na limpeza etc.), que se envolve na educação dos filhos, que sabe "segurar a onda" e consegue ficar sem sexo durante (e após) a gravidez da esposa e nos períodos do seu resguardo, que trabalha em dois (ou mais) trabalhos, se necessário; enfim, que se sacrifica pelos seus sem medo e não fica olhando apenas para as próprias necessidades.


À semelhança do sacrifício de Jesus, o realmente viril, segundo a Escritura, é aquele que entrega sua vida gradativamente (no sacrifício e na renúncia de cada dia) para que outros tenham vida, saúde e se salvem (cf. Mc 9,35). Não faz parte da masculinidade bíblica uma fragilidade excessiva e egocêntrica, ou um narcisismo preguiçoso que faça com que o homem olhe apenas para o próprio umbigo. Ser homem, segundo a Escritura Sagrada, é ter uma constante disposição ao sacrifício do próprio tempo, habilidades, do prazer pessoal e até da própria vida (se necessário), entrega essa que é sempre valorosa e inteligente, pois é feita com amor realmente másculo e com um sentido de fé.

É claro que este sacrifício precisa ser sábio e sensato, e não camicase e irrefletido. Sacrificar-se não significa ser imprudente, colocando em risco a própria saúde, segurança e a própria vida, o que deixaria a família (em virtude de uma morte ou invalidez) ausente do cuidado e da proteção deste homem em questão. Não é apenas um autonegar-se de maneira insensata, ao contrário, significa possuir-se e ser inteiro (sabendo cuidar de si e investir nos próprios talentos) para, exatamente por isso, tornar-se capaz de direcionar tudo para um sacrifício sincero de autodoação e cuidado para com os seus e no exercício da missão que lhe foi confiada.

É claro que o homem pode ter momentos de fragilidade e fraqueza (como já afirmei), isso é humano e natural. Todavia, não faz parte de sua constituição e chamado escolher morar na fragilidade e no coitadismo, fazendo-se sempre de vítima e fraco diante dos infortúnios da vida. O homem precisa ser um constante lutador, que não desiste diante dos problemas nem foge diante dos sacrifícios que lhe são requeridos por sua missão.

Homem, Deus está contigo

Não diz da natureza masculina uma fragilidade e autoproteção excessivas, e tal realidade contradiz o chamado de todo homem a partir do ensinamento da Sagrada Escritura, pois todo homem deve assumir para si o que disse Deus a Josué no capítulo 1, versículo 9, de seu livro: "Isto é uma ordem: sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde fores!".

Ali, Josué estava para assumir uma grande e desafiante missão: a de substituir o grande Moisés e introduzir o povo de Deus na Terra Prometida, e, diante do medo e da insegurança que aquela situação poderia evocar, Deus dá a Ele essa ordem, direcionando-o para a bravura e com compromisso com sua missão. É claro que Deus lhe assegurou que estaria sempre com Ele; contudo, ordenou para que Ele não olhasse para trás nem se comparasse com os outros, ao contrário, disse a Ele: "Ordeno-te que seja forte e corajoso, e que enfrente sua missão como um homem disposto ao sacrifício de si".

É evidente que será sempre desafiante viver esse tipo de entrega sacrificial, que doa integralmente a própria vida para salvar e cuidar do outro (sobretudo da própria família), mas a ideia e noção psicológica deste tipo de entrega estão associadas ao masculino em toda a Escritura. Além de que, como já apresentamos, essas virtudes e este tipo de postura estarem, historicamente, ligados à identidade masculina.

Sempre cuidar e defender

Deus enxerga cada homem como um "valente guerreiro" (Jz 6,12) vocacionado à bravura do sacrifício, e, como Ele mesmo ordenou a Gideão, também determina hoje a você, querido irmão: "Vai com essa força que tens e livra Israel (os seus) dos medianitas (dos inimigos). Porventura, não sou eu que te envio?" (Jz 6,14). E, ainda: "Eu estou contigo, valente guerreiro!" (Jz 6,12).

Há algum tempo aconteceu, em um pequeno país ocidental, uma manifestação pública na qual os homens exigiam o direito de serem sempre frágeis e de serem constantemente cuidados por suas esposas, e alguns deles exigiam até mesmo o "direito" de, por exemplo, colocar a esposa ou a namorada na frente do ladrão quando este fosse atirar, ao invés de defendê-la e protegê-la, sacrificando-se por ela. Achei curioso este tipo de manifesto por parte de tais homens, e afirmo que isso não tem nada a ver com a missão e vocação do homem segundo a Bíblia, pois, mesmo não tendo que ser um macho glutão e rude, o homem é, sem sombra de dúvida, chamado ao amor-sacrifício em toda a Escritura Sagrada, e a sua real virilidade consistirá no entregar-se até as últimas consequências para cuidar e defender os seus.

A fragilidade faz parte, mas não é a vocação do homem

Este tipo de responsabilidade e missão não devem tornar o homem amargo e sobrecarregado, ao contrário, pois ele não está sozinho para cumprir sua vocação visto que tem sua família ao seu lado e, sobretudo, o próprio Cristo (que é o homem que Se autossacrifica por excelência) para fortalecê-Lo e guiá-lo em tudo na concretização de seu propósito de vida e em sua missão.

Mais uma vez afirmo: o homem tem, sim, o direito de ter momentos de fragilidade e deve sim ser sensível (do jeito masculino, é claro), contudo, ele precisa sempre cultivar a resiliência e a disposição de alguém que se percebe vocacionado ao sacrifício de amor, e que por isso necessita sempre estar pronto a entregar a própria vida pelos seus e por aquilo que ele crê.

Trecho extraído do livro "Curar e Restaurar O Masculino : Uma Jornada pela Cura da Masculinidade" do padre Adriano Zandoná.



Padre Adriano Zandoná

Padre Adriano Zandoná é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em Filosofia e Teologia, tem seis livros publicados: Construindo a Felicidade, Curar-se para ser Feliz, Conquistando a Liberdade Interior, 7 Passos para Restaurar sua Família, A Cura da Alma Feminina e Como Controlar e Vencer a Ansiedade. Dois quais 2 foram traduzidos para o inglês. Gravou quatro CDs pela Gravadora Canção Nova. Apresenta o programa Para ser Feliz ao vivo pela TV Canção Nova (em rede nacional), todas as terças às 20h. É membro da Direção Artística da TV Canção Nova, em Cachoeira Paulista.

Twitter: @peadrianozcn
Facebook: PadreAdrianoZandonaOficial
Instagram: @padreadrianozandona


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/segundo-a-biblia-a-missao-masculina-e-uma-missao-sacrificial/


21 de agosto de 2023

Por que viver uma experiência religiosa?


Como pesquisador na área das Ciências da Religião, comecei a me interessar pela seguinte questão: por que fazer uma experiência religiosa?

Começo do princípio de que há, basicamente, dois tipos de pessoas no mundo: de um lado, aquelas que regem a vida guiadas pelas suas experiências religiosas; de outro, aquelas que ignoram a religião ou não a consideram como parte da vida delas.

Mircea Eliade, importante historiador das religiões, acredita que existam essas duas modalidades de ser no mundo. Ele classifica essas duas realidades como sagrado e profano respectivamente. Nesse caso, sagrado diz respeito àquela pessoa que conduz sua vida a partir das hierofanias, ou seja, de realidades sagradas que se revelam. Já o termo profano está relacionado à pessoa que se propõe a viver num mundo dessacralizado, privando-se, por opção, das experiências religiosas.

Por que viver uma experiência religiosa

Foto Ilustrativa: Maria Marganingsih by GettyImages / cancaonova.com

A humanidade busca Deus

Respeito, profundamente, as pessoas que escolhem essa segunda opção, mas não posso deixar de dizer que acho essa escolha um tanto quanto difícil e, por que não dizer, meio deslocada. É difícil porque é da natureza humana essa busca pelo transcendente. Desde os primórdios, o homem vem procurando entender mais sobre a origem e o sentido da vida, assim como sobre o da morte, relacionando-se com as divindades e poderes sobrenaturais.


Reflexo artístico de religiosidade

Peguemos, por exemplo, as manifestações artísticas: várias delas apresentam representações da religiosidade. Exemplos são os mais variados: na pintura, o holandês Rembrandt com o seu belíssimo quadro "O retorno do filho pródigo"; na escultura, o artista do barroco mineiro Aleijadinho com "Os doze profetas"; na literatura, o russo ortodoxo Fiódor Dostoievski com "Crime e Castigo", que relata a vida de um jovem e seu encontro com a Bíblia; no teatro, Ariano Suassuna com "O Alto da Compadecida", obra baseada na literatura de cordel e na piedade do nordestino… E por aí vai. Artistas conhecidos mundialmente refletiram a religiosidade em suas obras. Isso sem contar a presença desse reflexo nas outras áreas de conhecimento.

Assim sendo, se, desde os primórdios até hoje, o homem busca respostas para as questões relacionadas ao sentido da existência humana; se as pessoas buscam, mesmo que inconscientemente, Deus e todas as religiões testemunham essa procura; se a nossa cultura está permeada pela influência religiosa das mais variadas formas, termino o texto invertendo a pergunta inicial: diante dessas constatações, por que deixar de fazer uma experiência religiosa, por que não me tornar uma pessoa religiosa, ou seja, que passa a enxergar o mundo, as outras pessoas, a si mesmo e a vida de uma maneira diferente, de uma maneira mais sagrada?

Que Deus nos abençoe!



Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
Facebook: facebook/aprofundamento


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/por-que-viver-uma-experiencia-religiosa/