25 de agosto de 2023

Guardar o dia do Senhor é dever do cristão


A santificação do sábado, sinal de que Deus é o Senhor da vida humana, não dependendo apenas do trabalho das pessoas, é uma preciosidade na prática religiosa e foi mantida com extremo cuidado pelo povo escolhido por Ele. O dia do Senhor aponta também para a confiança absoluta na Providência Divina, que não nos abandona. Mesmo sem o trabalho das mãos, no dia de sábado, as pessoas permanecem vivas! E esse dia se torna, no correr dos séculos, síntese e símbolo de todos os bens experimentados por Israel. Ele é fiel expressão e fruto eficaz da espiritualidade hebraica.

Por meio de vários ritos, como o acender das velas, uma bênção pronunciada pela mãe de família e bênçãos recitadas pelo pai, o dia de sábado mostra sua luminosidade e, "como lâmpada para seus passos" (Sl 118,105), clareia o caminho de Israel, revelando e fortificando sua identidade. O sábado foi sinal de alegria e gratidão pelos dons de Deus e a abertura para a plenitude da mesma alegria prometida por Ele. No decorrer da história desse povo, o sábado passou também por decadência em sua observância e, por outro lado, grupos religiosos fizeram com que o dia da liberdade e da consciência da presença de Deus viesse a ser tratado com pesado rigorismo.

Guardar o dia do Senhor é dever do cristão

Foto Ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Jesus também esteve, muitas vezes, presente na Sinagoga, como judeu fiel. Ela foi espaço para dirigir palavras reveladoras aos presentes, assim como lugar de curas e atenções às pessoas. Entretanto, em várias ocasiões se estabelece um conflito entre Jesus e as autoridades religiosas judaicas a respeito da observância do sábado. Jesus tem grande liberdade para fazer o bem nas curas que realiza, priorizando o bem dos mais frágeis, mostrando-se senhor do sábado, o que faz parte da revelação daquilo que ele é, Deus e homem verdadeiro. Nele acontece a superação da visão limitada sobre o dia do Senhor, até porque o dia definitivo chega quando Ele vem e mostra toda Sua força e luz na Ressurreição dentre os mortos.

Domingo, o dia do Senhor

Os primeiros tempos da vida da Igreja assistiram às dificuldades com relação à antiga tradição do sábado, pois os cristãos se voltaram para o primeiro dia da semana, chamado Dia do Senhor, por causa da Ressurreição, justamente a inauguração daquele dia definitivo! O dia da Ressurreição veio a ser a celebração semanal mais importante para nós, e assim o celebramos na Igreja.

"Instituído para amparo da vida cristã, o domingo adquire, naturalmente, também um valor de testemunho e anúncio. Dia de oração, de comunhão e alegria, ele repercute sobre a sociedade, irradiando sobre ela energias de vida e motivos de esperança. O domingo é o anúncio de que o tempo, habitado por Aquele que é o Ressuscitado e o Senhor da história, não é o túmulo das nossas ilusões, mas o berço de um futuro sempre novo, a oportunidade que nos é dada de transformar os momentos fugazes desta vida em sementes de eternidade. O domingo é convite a olhar para diante, é o dia em que a comunidade cristã eleva para Cristo o seu grito: 'Maranatha: Vinde, Senhor!' (1 Cor 16,22). Com esse grito de esperança e expectativa, ela se faz companheira e sustentáculo da esperança dos homens. E domingo a domingo, iluminada por Cristo, caminha para o domingo sem fim da Jerusalém celeste, quando estiver completa em todas as suas feições a mística Cidade de Deus, que 'não necessita de Sol nem de Lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus, e a sua luz é o Cordeiro'" (Ap 21,23) (São João Paulo II, Dies Domini, número 84).


Se algumas línguas o chamam "dia do sol", para nós o domingo é justamente a festa da presença d'Aquele que é a luz do mundo. No entanto, é importante verificar o que temos feito do domingo, pois sua prática pode se degradar e comprometer a própria dignidade da pessoa humana, nele valorizada de modo eminente. De fato, repousar das próprias fadigas corresponde ao ritmo humano e também nos remete à criação do mundo, quando a narrativa bíblica projeta em Deus o descanso e a alegria pela obra realizada. O repouso semanal é importante e deve ser garantido pela legislação civil, e sabemos que ocorrem formas de moderna escravidão em que as pessoas são submetidas ao trabalho de forma iníqua. Como cristão, reivindicamos para todas as pessoas o repouso semanal provado pela história da humanidade como digno e adequado para a vida humana na terra.

Domingo é dia de Missa!

O dia de domingo há de ser preenchido, em primeiro lugar, com a participação na Eucaristia, com a qual se faz presente a Morte e Ressurreição de Jesus. Na escuta da Palavra e na mesa eucarística, os cristãos têm o direito de estar diante do centro da própria fé. Antes de ser uma obrigação, trata-se de um direito! Daí o nosso apelo a que se redescubra o domingo como dia de Missa, e de preferência as famílias encontrem seu modo de participarem como corpo unido do Mistério de Cristo. E vem também a ajudar-nos o esmero com que as Equipes de Liturgia e de Celebração nas Paróquias e Comunidades devem preparar o ato central da vida de Igreja. Quando não é possível a celebração da Missa, multipliquem-se nas Comunidades a santificação do Dia do Senhor com a Celebração da Palavra de Deus, enriquecida ainda em muitas Comunidades com a Sagrada Comunhão, com a reserva eucarística presente em nossos Tabernáculos.

Corremos, entretanto, o risco de transformar o domingo, ou com ele todo o fim de semana, apenas em tempo de ociosidade ou, pior ainda, tempo de todos os vícios nos quais jovens e adultos mergulham de forma arriscada e indigna. O resultado é um esvaziamento terrível, com gosto de ressaca! Sabe-se bem o que significa para muitos a segunda-feira, e porque, popularmente, alguns a chamam de dia de preguiça. Esvaziar-se de valores, entregar-se ao que de menos digno existe só pode trazer frustração às pessoas! O domingo venha a ser recuperado na dimensão do justo repouso e na altura maior, que é a celebração da Ressurreição do Senhor, para que seja, também ele, sinal da vida nova com a qual se comprometem os cristãos.



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/guardar-o-dia-do-senhor-e-dever-do-cristao/


23 de agosto de 2023

Segundo a Bíblia, a missão masculina é uma missão sacrificial


Não obstante suas fraquezas, limites e humanidade, o homem é chamado por Deus à nobreza do sacrifício, tornando-se um verdadeiro dom para aqueles que com ele dividem a vida. Na carta aos Efésios 5,25, o texto sagrado nos diz: "Homens, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela". E a subsequente pergunta é a seguinte: como Cristo amou a Igreja? Resposta: Sacrificando-se e entregando-se por ela, ou seja, dando integralmente sua vida para que ela fosse fecunda e encontrasse redenção.

O amor de Cristo foi um amor de sacrifício, de uma doação concreta de vida por uma nobre finalidade, e a missão do homem (sobretudo em relação a sua família) passará inevitavelmente por este viés.

Como disse o Beato Pier Giorgio Frassati: "Viver sem fé e sem um nobre patrimônio para defender, sem uma luta constante pela verdade, isto não é viver, é apenas existir". Estaremos você e eu apenas existindo ou realmente vivendo? Estamos vivendo nossa fé e missão como homens cheios de vida? Lembrem-se das famosas palavras do Papa Emérito Bento XVI: "Não fostes criados para a comodidade, mas para a grandeza". Qualquer grandeza como homens depende deste sacrifício de si e desta luta por ser melhor (pela santidade). O que precisamos é coragem, segurança e humilde confiança nos recursos infinitos de Deus.

O homem deve deixar o egoísmo

Segundo a Sagrada Escritura, o homem é chamado ao sacrifício de um amor generoso, e não a um egocentrismo que o torne refém da busca de um prazer hedonista (e egoísta). Ele é vocacionado por Deus ao sacrifício do renunciar a si mesmo e as suas más tendências todos os dias, para então honrar seus compromissos e cumprir sua missão, cuidando efetivamente das pessoas e realidades que na vida Deus lhe confiou.

Segundo a Bíblia, a missão masculina é uma missão sacrificial

Créditos: Duncan_Andison by GettyImages/cancaonova.com

Ele é chamado à disciplina com relação a si mesmo e ao sacrifício corajoso de si pelo bem dos seus. Ele é vocacionado em toda a Escritura a sacrificar-se para realizar integralmente sua missão. Contudo, a Bíblia o convida ao sacrifício sensato de si, mas não (é claro) ao masoquismo. Masoquismo é um sofrimento sem sentido nem nobreza (pelas causas e motivos errados), já o autossacrifício consciente é a feliz atitude de se entregar pelo bem de uma realidade que realmente nos foi confiada (e que é digna), pela qual nos responsabilizamos e ofertamos nossa vida para cuidar. O ato de se sacrificar conscientemente por uma missão e ideal dá sentido à razão de ser do homem e lhe confere uma alegria muito singular.

O homem não deve ter medo de viver o sacrifício necessário pelo bem dos seus e daquilo que ele acredita (sobretudo por sua família e sua fé): ele precisa cultivar a viril disposição para sacrificar-se cotidianamente no cuidado, no amor, na paciência, no trabalho, na perseverança, na oração, muitas vezes no silêncio e na espera em favor de sua missão e pelo bem de sua família.

O maior exemplo é Cristo

Homem de verdade, segundo a Bíblia, é aquele que tem visão espiritual e sabe que sua entrega de cada dia (no trabalho, no autodomínio, na paciência, no cuidado para com os seus) está gerando frutos de vida e redenção para sua família, e que, impulsionado por um viril amor, se entrega para ser para os seus aquilo que a Bíblia o vocaciona a ser: um outro Cristo. Alguém que se doa inteiramente no sacrifício de cada dia sem "se economizar", a fim de gerar frutos de vida e fecundidade para os seus.

Homem maduro, segundo a Sagrada Escritura, é aquele que não é narcisista nem fica pensando apenas em seus próprios interesses, mas é aquele que se oferta e se entrega por uma causa que lhe é superior. É aquele que, quando só tem uma vaga no carro, vai de ônibus, para que sua mulher e sua filha possam ir de carro. É aquele que, quando necessário, levanta-se de madrugada para levar o filho ou outro familiar para o hospital. É aquele que fica sem dormir ou comer, se necessário, para cuidar e alimentar os seus.

É aquele que cuida da esposa doente, que ajuda nas tarefas de casa (na louça, na limpeza etc.), que se envolve na educação dos filhos, que sabe "segurar a onda" e consegue ficar sem sexo durante (e após) a gravidez da esposa e nos períodos do seu resguardo, que trabalha em dois (ou mais) trabalhos, se necessário; enfim, que se sacrifica pelos seus sem medo e não fica olhando apenas para as próprias necessidades.


À semelhança do sacrifício de Jesus, o realmente viril, segundo a Escritura, é aquele que entrega sua vida gradativamente (no sacrifício e na renúncia de cada dia) para que outros tenham vida, saúde e se salvem (cf. Mc 9,35). Não faz parte da masculinidade bíblica uma fragilidade excessiva e egocêntrica, ou um narcisismo preguiçoso que faça com que o homem olhe apenas para o próprio umbigo. Ser homem, segundo a Escritura Sagrada, é ter uma constante disposição ao sacrifício do próprio tempo, habilidades, do prazer pessoal e até da própria vida (se necessário), entrega essa que é sempre valorosa e inteligente, pois é feita com amor realmente másculo e com um sentido de fé.

É claro que este sacrifício precisa ser sábio e sensato, e não camicase e irrefletido. Sacrificar-se não significa ser imprudente, colocando em risco a própria saúde, segurança e a própria vida, o que deixaria a família (em virtude de uma morte ou invalidez) ausente do cuidado e da proteção deste homem em questão. Não é apenas um autonegar-se de maneira insensata, ao contrário, significa possuir-se e ser inteiro (sabendo cuidar de si e investir nos próprios talentos) para, exatamente por isso, tornar-se capaz de direcionar tudo para um sacrifício sincero de autodoação e cuidado para com os seus e no exercício da missão que lhe foi confiada.

É claro que o homem pode ter momentos de fragilidade e fraqueza (como já afirmei), isso é humano e natural. Todavia, não faz parte de sua constituição e chamado escolher morar na fragilidade e no coitadismo, fazendo-se sempre de vítima e fraco diante dos infortúnios da vida. O homem precisa ser um constante lutador, que não desiste diante dos problemas nem foge diante dos sacrifícios que lhe são requeridos por sua missão.

Homem, Deus está contigo

Não diz da natureza masculina uma fragilidade e autoproteção excessivas, e tal realidade contradiz o chamado de todo homem a partir do ensinamento da Sagrada Escritura, pois todo homem deve assumir para si o que disse Deus a Josué no capítulo 1, versículo 9, de seu livro: "Isto é uma ordem: sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde fores!".

Ali, Josué estava para assumir uma grande e desafiante missão: a de substituir o grande Moisés e introduzir o povo de Deus na Terra Prometida, e, diante do medo e da insegurança que aquela situação poderia evocar, Deus dá a Ele essa ordem, direcionando-o para a bravura e com compromisso com sua missão. É claro que Deus lhe assegurou que estaria sempre com Ele; contudo, ordenou para que Ele não olhasse para trás nem se comparasse com os outros, ao contrário, disse a Ele: "Ordeno-te que seja forte e corajoso, e que enfrente sua missão como um homem disposto ao sacrifício de si".

É evidente que será sempre desafiante viver esse tipo de entrega sacrificial, que doa integralmente a própria vida para salvar e cuidar do outro (sobretudo da própria família), mas a ideia e noção psicológica deste tipo de entrega estão associadas ao masculino em toda a Escritura. Além de que, como já apresentamos, essas virtudes e este tipo de postura estarem, historicamente, ligados à identidade masculina.

Sempre cuidar e defender

Deus enxerga cada homem como um "valente guerreiro" (Jz 6,12) vocacionado à bravura do sacrifício, e, como Ele mesmo ordenou a Gideão, também determina hoje a você, querido irmão: "Vai com essa força que tens e livra Israel (os seus) dos medianitas (dos inimigos). Porventura, não sou eu que te envio?" (Jz 6,14). E, ainda: "Eu estou contigo, valente guerreiro!" (Jz 6,12).

Há algum tempo aconteceu, em um pequeno país ocidental, uma manifestação pública na qual os homens exigiam o direito de serem sempre frágeis e de serem constantemente cuidados por suas esposas, e alguns deles exigiam até mesmo o "direito" de, por exemplo, colocar a esposa ou a namorada na frente do ladrão quando este fosse atirar, ao invés de defendê-la e protegê-la, sacrificando-se por ela. Achei curioso este tipo de manifesto por parte de tais homens, e afirmo que isso não tem nada a ver com a missão e vocação do homem segundo a Bíblia, pois, mesmo não tendo que ser um macho glutão e rude, o homem é, sem sombra de dúvida, chamado ao amor-sacrifício em toda a Escritura Sagrada, e a sua real virilidade consistirá no entregar-se até as últimas consequências para cuidar e defender os seus.

A fragilidade faz parte, mas não é a vocação do homem

Este tipo de responsabilidade e missão não devem tornar o homem amargo e sobrecarregado, ao contrário, pois ele não está sozinho para cumprir sua vocação visto que tem sua família ao seu lado e, sobretudo, o próprio Cristo (que é o homem que Se autossacrifica por excelência) para fortalecê-Lo e guiá-lo em tudo na concretização de seu propósito de vida e em sua missão.

Mais uma vez afirmo: o homem tem, sim, o direito de ter momentos de fragilidade e deve sim ser sensível (do jeito masculino, é claro), contudo, ele precisa sempre cultivar a resiliência e a disposição de alguém que se percebe vocacionado ao sacrifício de amor, e que por isso necessita sempre estar pronto a entregar a própria vida pelos seus e por aquilo que ele crê.

Trecho extraído do livro "Curar e Restaurar O Masculino : Uma Jornada pela Cura da Masculinidade" do padre Adriano Zandoná.



Padre Adriano Zandoná

Padre Adriano Zandoná é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em Filosofia e Teologia, tem seis livros publicados: Construindo a Felicidade, Curar-se para ser Feliz, Conquistando a Liberdade Interior, 7 Passos para Restaurar sua Família, A Cura da Alma Feminina e Como Controlar e Vencer a Ansiedade. Dois quais 2 foram traduzidos para o inglês. Gravou quatro CDs pela Gravadora Canção Nova. Apresenta o programa Para ser Feliz ao vivo pela TV Canção Nova (em rede nacional), todas as terças às 20h. É membro da Direção Artística da TV Canção Nova, em Cachoeira Paulista.

Twitter: @peadrianozcn
Facebook: PadreAdrianoZandonaOficial
Instagram: @padreadrianozandona


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/segundo-a-biblia-a-missao-masculina-e-uma-missao-sacrificial/


21 de agosto de 2023

Por que viver uma experiência religiosa?


Como pesquisador na área das Ciências da Religião, comecei a me interessar pela seguinte questão: por que fazer uma experiência religiosa?

Começo do princípio de que há, basicamente, dois tipos de pessoas no mundo: de um lado, aquelas que regem a vida guiadas pelas suas experiências religiosas; de outro, aquelas que ignoram a religião ou não a consideram como parte da vida delas.

Mircea Eliade, importante historiador das religiões, acredita que existam essas duas modalidades de ser no mundo. Ele classifica essas duas realidades como sagrado e profano respectivamente. Nesse caso, sagrado diz respeito àquela pessoa que conduz sua vida a partir das hierofanias, ou seja, de realidades sagradas que se revelam. Já o termo profano está relacionado à pessoa que se propõe a viver num mundo dessacralizado, privando-se, por opção, das experiências religiosas.

Por que viver uma experiência religiosa

Foto Ilustrativa: Maria Marganingsih by GettyImages / cancaonova.com

A humanidade busca Deus

Respeito, profundamente, as pessoas que escolhem essa segunda opção, mas não posso deixar de dizer que acho essa escolha um tanto quanto difícil e, por que não dizer, meio deslocada. É difícil porque é da natureza humana essa busca pelo transcendente. Desde os primórdios, o homem vem procurando entender mais sobre a origem e o sentido da vida, assim como sobre o da morte, relacionando-se com as divindades e poderes sobrenaturais.


Reflexo artístico de religiosidade

Peguemos, por exemplo, as manifestações artísticas: várias delas apresentam representações da religiosidade. Exemplos são os mais variados: na pintura, o holandês Rembrandt com o seu belíssimo quadro "O retorno do filho pródigo"; na escultura, o artista do barroco mineiro Aleijadinho com "Os doze profetas"; na literatura, o russo ortodoxo Fiódor Dostoievski com "Crime e Castigo", que relata a vida de um jovem e seu encontro com a Bíblia; no teatro, Ariano Suassuna com "O Alto da Compadecida", obra baseada na literatura de cordel e na piedade do nordestino… E por aí vai. Artistas conhecidos mundialmente refletiram a religiosidade em suas obras. Isso sem contar a presença desse reflexo nas outras áreas de conhecimento.

Assim sendo, se, desde os primórdios até hoje, o homem busca respostas para as questões relacionadas ao sentido da existência humana; se as pessoas buscam, mesmo que inconscientemente, Deus e todas as religiões testemunham essa procura; se a nossa cultura está permeada pela influência religiosa das mais variadas formas, termino o texto invertendo a pergunta inicial: diante dessas constatações, por que deixar de fazer uma experiência religiosa, por que não me tornar uma pessoa religiosa, ou seja, que passa a enxergar o mundo, as outras pessoas, a si mesmo e a vida de uma maneira diferente, de uma maneira mais sagrada?

Que Deus nos abençoe!



Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
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Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/por-que-viver-uma-experiencia-religiosa/


16 de agosto de 2023

Viva o tempo de estar solteiro em plenitude com Cristo


"Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento" (Mt 22, 37). O maior e mais precioso dom é o amor! E é esse dom que devemos oferecer, diariamente, a Deus. Iniciei citando esse versículo da Bíblia para que nós, como solteiros, possamos mergulhar nesta aventura: o estar solteiro nos dias atuais.

Sou membro da Comunidade Canção Nova há 5 anos e, muitas vezes, já me questionei e questionei a Deus sobre a concretização do meu estado de vida.

Aproveitar o momento de estar solteiro

É fato que temos a nossa vida projetada e planejada dentro de nós, mas você já parou para pensar na preciosidade deste tempo que é estar solteiro? Mas, dentro de você, também existe o questionamento: então, fazer projetos e planejar a minha vida não é normal?

Créditos: aldomurillo by GettyImages /cancaonova.com

Portanto, te pergunto: "Quais são as coisas, os meios pelos quais você está realizando projetos e planos para sua vida?". Retomo ao versículo que iniciei o texto e, dentro de mim, as palavras vêm à minha mente: amar a Deus de todo o meu coração, com toda a minha alma e com todo o meu entendimento.

Quando estamos em Deus, as coisas se tornam mais leves, como disse o filho de um irmão de comunidade: "suave". O espaço que pensamos estar vazio em nós é preenchido por Sua presença. O "estar" solteiro(a) não quer dizer que estamos sós.

Dedicar-se primeiramente a Deus

Já parou para pensar na preciosidade que é este tempo? Olhando para a minha vida, vejo o quanto exerço plenamente a minha vocação; o quanto consigo me colocar com inteireza nos fatos cotidianos da vida. E essa plenitude e inteireza também fazem parte da minha vida interior, da minha vida em Deus.


Uma outra passagem da Bíblia que fala muito ao meu coração neste tempo é: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mt 6, 33). Observe a riqueza deste versículo! Meu coração é consolado e transformado quando me deparo com esse versículo, pois o ser solteira não pode ser visto como em primeiro lugar na minha vida, e sim o Reino de Deus estar na primazia da minha vida. É aí que eu me encontro realizada! Na busca pelo Reino de Deus, na busca pela santidade da minha vida.

Acredite nas promessas do Senhor

Neste versículo, o Senhor nos faz uma promessa: se eu busco o Reino de Deus em primeiro lugar, o Senhor me promete o acréscimo. E sabemos que: o que Deus promete, Ele cumpre!

Então, fica a dica: o Senhor tem um plano de felicidade para você! Estar dentro dos planos, dos sonhos, da vontade de Deus supera todas as suas expectativas. Confie!

Concluo te perguntando: e aí, o que você está oferecendo a Deus?

Rezo por você, pedindo que o Senhor te visite através desta leitura.

Unidos em Cristo.

Aline Taciana da Silva | Membro da Comunidade Canção Nova 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/viva-o-tempo-de-estar-solteiro-em-plenitude-com-cristo/


14 de agosto de 2023

O amor paterno à luz e inspiração dos dez Mandamentos


Quando um jovem pergunta a Jesus sobre a vida eterna, a resposta é: "Se queres entrar na vida, observa os mandamentos" [1]. Jesus também nos ensina que o maior mandamento de todos é o amor: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua mente e amarás teu próximo como a ti mesmo" [2]. E de todos os amores, a paternidade é o que nos aproxima de forma mais profunda do amor que é ensinado por Jesus Cristo, compreendendo a posição de pai, valorizando a vida, intensificando a empatia e vivenciando a pureza de uma criança. Por isso, tomemos a paternidade como verdadeiro comprometimento com o caminho da santidade.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (2070), os Dez Mandamentos fazem parte da revelação de Deus e, ao mesmo tempo, ensinam-nos a verdadeira humanidade do homem. Põem em relevo os deveres essenciais e, por conseguinte, indiretamente, os direitos fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana. Como deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, ninguém pode ignorá-los. A reflexão sobre os Mandamentos é um exercício importante para a vida cristã. Neste Dia dos Pais, essa reflexão está diretamente ligada à paternidade.

Ao tornar-se pai, o homem passa a se identificar melhor com Deus-Pai e essa relação com o Filho. Compreende-se a grandiosidade da misericórdia de Deus que "tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito" [3]. Assim, preenchido pelo amor verdadeiro de pai, cumpre-se com retidão o Primeiro Mandamento, amando a Deus como o exemplo de Pai que buscamos em nós, caminhando para ser "perfeito como vosso Pai celeste é perfeito" [4]. E uma vez consciente do amor paterno, ele transborda em nós para o próximo, reconhecendo em todos os filhos que precisam sentir-se amados. O mandamento do amor, aquele que Jesus nos apresenta como o mais importante, surge espontaneamente no coração do pai que vive a paternidade com sinceridade.

O amor paterno à luz e inspiração dos dez Mandamentos

Crédito: Arquivo pessoal

O verdadeiro significado de pai

A partir do nascimento do filho, demora ainda algum tempo para que se possa ouvir o chamado de "pai" e saber que é você que está sendo chamado. A palavra "pai" toma um significado ainda mais especial, de amor, de alegria, de paz, de paciência, de delicadeza, de bondade, de fidelidade [5], de tantas virtudes cristãs, invocadas pelo chamado simples da criança. Da mesma forma, o nome de Deus toma nova forma, daquele que clama quem primeiro é clamado. Não haverá mais desvio do segundo mandamento que impõe não invocar o santo nome de Deus em vão.

Na vivência da paternidade, o tempo de qualidade com o filho, desde as atividades mais extraordinárias, como ir ao circo, ao cinema, ao parque, em uma viajem; até as pequenas coisas, como dar banho, escovar os dentes ou contar uma história, passam a ter um significado maior, superando tudo o mais da vida comum. Daí que os momentos dedicados especialmente à presença de Deus, os domingos e Festas de Guarda, assumem a qualidade desses momentos de pai e filho, impulsionando uma entrega mais sincera e com o coração aberto a receber o mesmo amor que se entrega ao filho. Cumpre-se, assim, com profundidade, o terceiro mandamento.

Honrar pai e mãe

Chegamos ao mandamento diretamente ligado à paternidade, o de honrar pai e mãe, o único com uma recompensa imediata, de "que se prolonguem teus dias sobre a terra que Javé, teu Deus, te dá" [6]. O Catecismo da Igreja Católica (2197) ensina que Deus quis que, depois de Si, honrássemos os nossos pais, a quem devemos a vida e que nos transmitiram o conhecimento de Deus. Temos obrigação de honrar e respeitar todos aqueles que Deus, para nosso bem, revestiu da sua autoridade. Ao tornar-se pai, o homem se reveste dessa autoridade, direcionando-o para fazer-se digno, enquanto exemplo a ser seguido pelos filhos.


Persuadidos pelo amor paterno, agora também na qualidade daquele que ama como pai, cumprem-se o quinto mandamento como consequência lógica do amor. A vida, gerada e da qual nos é confiado o cuidado, revela-se especialmente sagrada e afasta definitivamente do coração do pai qualquer forma de morte (homicídio, aborto, suicídio), compreendendo e cumprindo com caridade e misericórdia o quinto mandamento. Sobre o sexto mandamento, não cometer adultério, o Catecismo da Igreja Católica (2366) faz referência direta ao filho, que não vem de fora juntar-se ao amor mútuo dos esposos, mas surge no próprio coração deste dom, do qual é fruto e complemento. A proteção da família, para que seja um lar saudável e amoroso, recai especialmente ao pai que se coloca como protetor e alicerce familiar.

Respeito pelo próximo

A expressão "dar leite aos filhos" é comumente usada para dar importância ao dinheiro, seja a remuneração pelo serviço ou o preço em uma venda. Com efeito, o sétimo mandamento proíbe tomar ou reter injustamente o bem do próximo e prejudicá-lo nos seus bens, seja como for. Exige, em vista do bem comum, o respeito pelo destino universal dos bens e pelo direito à propriedade privada, como esclarece o Catecismo da Igreja Católica (2401). Esse valor dos bens materiais, que assume maior relevância no sustento dos filhos, é o que também orienta o pai ao respeito pelos bens do próximo.

Há uma reflexão que com frequência me vêm em mente: "Quando seu filho fizer algo errado, ele correrá para você ou de você?". Talvez as primeiras oportunidades de mentira para uma criança sejam com a intenção de evitar a repreensão paterna. É preciso, então, encontrar o equilíbrio entre a autoridade (digna da honra da qual já falei mais acima) e a misericórdia (que sustenta a confiança). O Catecismo da Igreja Católica (2468) apresenta a verdade como a virtude que consiste em mostrar-se correto nos atos e em dizer a verdade nas palavras, evitando a duplicidade, a simulação e a hipocrisia. A transmissão desses valores aos filhos ocorre, principalmente, pelo exemplo, ou seja, pelo cumprimento fiel do oitavo mandamento.

O coração puro de uma criança

O coração é o instrumento da moral do homem, pois é de onde vêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios e outras coisas imorais como furtos, falsos testemunhos e blasfêmias, tudo o que torna o homem impuro [7]. É o que torna valioso o nono mandamento, de guardar castidade nos pensamentos e nos desejos, de manter-se puro e íntegro, vencendo o combate entre a carne e o espírito. Aos pais é reservado um desafio maior, pois as crianças são verdadeiramente puras de coração, enquanto a nós cabe o exemplo de pureza para elas.

Cabe a nós, então, nos aproximarmos ao máximo desse espírito inocente de criança, que nos acolhem como conhecedores do que é certo e errado. Já o décimo mandamento, como ensina o Catecismo da Igreja Católica (2534) é um desdobramento que completa o nono, proibindo cobiçar o bem de outrem, raiz de onde procede o roubo, proibido pelo sétimo mandamento.

A paternidade é uma transformação intensa que nos redireciona na busca da santidade para construir com os filhos uma relação de amor sincera e verdadeira. Esse amor, então, transborda ao próximo, à exemplo e pedido do Nosso Senhor. Assim, é preciso que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade e que este corpo mortal se revista de imortalidade [8]. Assumir o papel de pai é comprometer-se com o constante enriquecimento do coração, é reconhecer a presença de Deus na vocação familiar, para tornar-nos santos. Que a paternidade seja assim para todos nós: vivência constante do amor do Pai, da comunhão com o Filho e da luz do Espírito Santo. Que assim seja!

Citações do texto bíblico

[1] (Mt 19, 17); [2] (Mt 22, 37); [3] (Jo 3, 16); [4] (Mt 5, 48); [5] (Gl 5, 22); [6] Ex 20, 12); [7] (Mt 15, 19); [8] (1Cor 15, 53).

Referências

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. In textos fundamentais. Arquivo do Vaticano.



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos; palestrante focado na doutrina cristã; advogado, tecnólogo e professor. Dúvidas, sugestões e agendamento de formações: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/paternidade/o-amor-paterno-a-luz-e-inspiracao-dos-dez-mandamentos/


11 de agosto de 2023

Ninguém é capaz de resistir à força do amor de Deus


Não há uma pessoa igual a outra, não há um dom como os outros; tudo em Deus é igual e diferente ao mesmo tempo.

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O povo de Deus é a família de Deus, e nenhuma família e nenhum povo pode ser composto de uma única pessoa. Não devemos maravilhar-nos de que no povo de Deus tenha pessoas que são fiéis e pessoas que, pela dureza de coração, preferem renegar a Deus e buscar a si mesmo como centro da felicidade e da vida. Muitas vezes diante das dificuldades da Igreja, da família ou da Comunidade, nos escandalizamos; isto acontece por causa da nossa fragilidade e da nossa pouca fé no Deus da vida, que ama e conduz o seu povo por meio dos desertos e noites.

Não devemos ser bons porque os outros são bons, mas porque cremos que o bem deve ser feito, porque tudo o que é bom nasce de Deus. Se nós refletirmos com atenção, iremos nos convencer de uma simples verdade que não se pode contestar: ninguém pode viver sozinho. Eu necessito de você para ser eu e você necessita de mim para ser você". O que importa é encontrar pessoas certas para o nosso caminho.

Precisamos, como diria Teresa de Ávila, de "amigos fortes de Deus" e amigos fortes, com amizades que não se deixam corromper pelo jogo do dinheiro, do poder e de outras coisas humanas. Os nossos olhos devem estar sempre fixos no Cristo Jesus e nas coisas do alto. A comunidade nasce da vivência das três virtudes teologais, da fé, da esperança e do amor.

O olhar para Deus nos ajuda a compreender que a Comunidade não é só o resultado de um esforço humano, mas um dom do amor e da gratuidade de Deus, que guia o seu povo e o reúne ao seu redor, para que, vivendo o amor possa acolher a todos os que buscam a paz e a verdade.

Não ficareis em silêncio

Já estamos acostumados a escutar o nosso amigo Isaías, que nas leituras litúrgicas é o mais premente, porque a sua palavra chega ao âmago do nosso ser, e cura as nossas feridas, mas sabe também colocar o dedo nas feridas e recobrar a cada um de nós qual é a nossa missão.

O povo desanima com facilidade e tem necessidade de escutar a voz forte dos pastores que corrigem os defeitos e os animam para retomar o caminho. Hoje em dia, às vezes, buscamos uma linguagem "doce, refinada como açúcar" quando seria necessário que a verdade nunca fosse manipulada e 'doceficada'. Há na nossa língua brasileira um ditado que é bem significativo e tem sabor bíblico: "pão, pão, queijo, queijo". Mas na bíblia poderíamos buscar as palavras de Jesus: "Seja, porém, o teu sim, sim! E o teu não, não!"

Deus chama Sua amada, o povo, para deixar todos os ídolos que a destroem e voltar ao seu único Deus e Senhor. Deus resgata não com a força e nem a violência os que ele ama, mas com a misericórdia que seduz. Ninguém é capaz de resistir à força do amor de Deus e nem do amor humano quando é sincero e verdadeiro. A noiva resgatada e amada é a alegria do povo. Esta noiva hoje é a Igreja que deve ser purificada para ser vestida para a festa.

Os carismas são vestidos novos

Deus não é uma máquina de xerox, que faz todas as coisas iguais. Ele é pura criatividade, porque é amor e amor não pode ser repetitivo. Quando o amor se repete perdeu a sua força de inovação e se torna estrutura que mata o espírito. Hoje nós devemos ser muito atentos
ao vento do Espírito, que sopra onde quer, como quer e quando quer, e nos socorre em todos os momentos de nossa vida.

A Igreja está mudando continuamente, porque é animada pela força do Espírito, mas os "homens e mulheres de igrejas" que são mais animados pelas estruturas do que pelo Espírito não querem mudar, querem ficar no mesmo caminho. No texto de hoje, temos a chave para compreender como devemos mudar. Os "carismas" são uma força do Espírito Santo, que é infundida em cada batizado, mas deve ser liberada de tantas coisas para agir. Antes de mais nada, devemos ter olhos puros e purificados para ver ao nosso redor que Deus age de maneira maravilhosa em todas as pessoas.

Não há uma pessoa igual a outra, não há um dom como os outros; tudo em Deus é igual e diferente ao mesmo tempo. E você, que dom acha que possui? Perceba esses dons com discernimento de pessoas sábias e coloque-os não ao seu serviço, mas ao da Comunidade. Todos recebem dons de Deus. Não se pode e nem se deve tê-los para uso pessoal.

Transformar a água em vinho

Por que na Igreja os carismas não acabam? Creio que as bodas de Caná da Galileia nos dão uma resposta que eu nunca tinha pensado. Nenhum de nós é vinho puro, é o vinho dos carismas. Às vezes ele parece acabar, mas quando menos esperamos, a intercessão de Maria pela pobreza da humanidade, da Igreja intercede para que este vinho puro do carisma, do amor e da presença de Jesus nunca acabe. É ele, Jesus, quem nos manda encher as nossas "ânforas" vazias com a água da nossa humanidade, da nossa fragilidade, e aí acontece o milagre.

Os carismas do vinho bom, da profecia da solidariedade, do amor, da partilha voltam a existir, a Igreja de hoje se torna melhor que a Igreja de ontem, a vida religiosa de hoje é mais autêntica que a de ontem, mais visível. O vinho da novas Comunidades de hoje
surpreende pelo seu sabor e pela sua força. Quando o vinho acaba, não devemos ter medo, mas devemos ir até Jesus, e aí haverá novo vinho, que vai fortalecendo a cada um de nós.

Tentemos ler as bodas de Caná como a festa dos novos carismas, que são vinho bom que inunda a Igreja e as comunidades. O vinho velho e o novo não são contrários. Cada um tem o seu valor e sua importância. Não se eliminam, mas se completam.

Oração

Virgem Maria, nossa Mãe, como nas bodas de Caná viste que faltava o vinho, vê com amor o vinho que falta hoje, e faz que Jesus transforme a nossa água no vinho bom dos novos carismas, que dê sabor, vida à Igreja de hoje.

Amém.



Fonte: https://comshalom.org/frei-patricio-ninguem-e-capaz-de-resistir-a-forca-do-amor-de-deus/

9 de agosto de 2023

Maria, promotora da unidade


Maria contempla em si e diante de si o dinamismo da perfeita unidade.

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Como templo da Santíssima Trindade, Maria, em sua humanidade puríssima, experimentou, como mulher, os efeitos do mistério eterno da unidade trinitária em seu seio, em sua alma, em todo o seu ser.

São Luís de Montfort afirma que "Maria é o Santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente presente que em qualquer outro lugar do universo". Como tabernáculo vivo da Trindade, segundo a Liturgia Oriental, suas entranhas foram feitas maiores do que o céu, porque nelas coube o próprio Deus, e com Ele o céu inteiro.

Guardadas as proporções, foi esta a grande experiência espiritual de Elisabeth da Trindade, que exclama: "Fixai-me em vós imóvel e tranquila, como se minha alma estivesse já na eternidade. Fazei de minha alma vosso céu, vossa morada preferida". Se Elisabeth da Trindade fez esta oração, qual não seria a oração de Nossa Senhora? Seria este o segredo, a alegria expressa no Magnificat?

Nossa Senhora foi criada para ser a morada preferida de Deus e pôde unir-se como ninguém à dinâmica de amor das três pessoas da Trindade, que, também nela, na terra como no céu, viveram e vivem sua dinâmica de dar-se e receber um ao outro absoluta e totalmente, sendo perfeitamente um só Deus. Maria foi e é, assim, templo da Unidade mais perfeita do qual jorra a fonte de toda unidade: a Santíssima Trindade, as três pessoas distintas na perfeita unicidade: um só Deus.

Maria contempla em si e diante de si o dinamismo da perfeita unidade. Que efeitos terá gerado esta vivência única em Nossa Senhora? A perfeita união com Deus; a unidade consigo mesma; e a promoção da unidade no coração do homem e na humanidade inteira.

Dom Adélio comentou rapidamente que deveríamos ver Nossa Senhora não somente como alvo de uma devoção ou um degrau para chegar a Jesus, mas como alguém efetivamente atuante na nossa Salvação.

Dom Aloísio explica como Maria foi e é efetivamente atuante no Antigo e Novo Testamento e na Igreja nascente. Ela é efetivamente atuante ainda hoje. E hoje, mais do que nunca, ela é promotora da unidade e da paz, na Igreja de seu Filho e na humanidade inteira.

Católicos, Ortodoxos, e mesmo Muçulmanos, reconhecem Maria, veneram-na e a honram, quer como a Mãe de Deus, quer como, no caso dos Muçulmanos, a única criatura além do seu Filho que não foi educada por Satanás. Ela é o "lugar teológico" por excelência da religião.

O que os Santos dizem

No pontificado de João Paulo II, como ele mesmo não se cansa de declarar, "a Mãe da Salvação" tem atuado de forma maravilhosa na acepção mesma do termo. Queira Deus que nós tenhamos a mesma fé e a mesma intimidade com Maria que tem o nosso Papa!

Infelizmente, de um modo geral, não temos intimidade espiritual com Maria. Ou ela é um "Modelo Moral" cujas virtudes devemos imitar, ou é alguém de quem somos devotos, a quem oferecemos rosários e novenas para que consiga de Deus as coisas para nós. Nosso coração, no entanto, deve inclinar-se para ela "pelo amor e a oração" (ECCSh), "pois o verdadeiro devoto não ama a Maria porque ela lhe faz ou espera dela algum bem, mas porque ela é amável" (São Luís Montfort).

Nossa Senhora está viva de corpo e alma no céu. Podemos e devemos alimentar nosso amor, trato de amizade e intimidade com ela. Ela levou, como Jesus ressuscitado, nossa humanidade para o céu. Como disse D. Aloísio, a Rainha do céu está muito acima, infinitamente acima, de todos os anjos e santos, à direita do Pai, na humanidade de Jesus e na sua própria humanidade.

A Mãe de todos os homens está no céu em sua humanidade gloriosa como mulher. É como mulher que ela faz a mediação da unidade e a promove.

Jesus disse: o meu Pai até agora está trabalhando, e eu também estou trabalhando (Jo 5,17). Pelo Espírito Santo, que o Pai enviou, a Igreja trabalha e sofre, continuando a Obra de Cristo. Pelo Espírito Santo, Maria trabalha e sofre até agora, como sempre Virgem e Mãe de Deus, e como Mãe da Igreja e Mãe de Deus.

Seu maior trabalho, unido ao Espírito Santo e impulsionada por Ele, cuja atividade de amor ela contempla e abriga em si: que os homens se amem uns aos outros, que sejam um como o Filho e o Pai são um: na dinâmica troca gratuita e total de amor, sem impedimentos e barreiras. São Luís de Montfort afirma que "a mais forte inclinação de Maria é unir-nos ao seu Divino Filho".

Maria trabalha pela unidade como Virgem e Mãe de Deus

Como Virgem (antes, durante e depois do nascimento de Jesus), Maria é unificada em si mesma e é toda de Deus. Seu coração não se divide com nenhuma criatura e, de coração indiviso, une-se inteiramente a Deus, de corpo e alma. Como Virgem e Mãe de Deus sua união a Ele leva a permanecer em contínua oração e adoração da Trindade, em si, e na Trindade mesma que contempla. A Virgem e Mãe de Deus viveu perfeitamente o "Assim na terra como no céu". Como Virgem e Mãe de Deus está na Trindade inteiramente e a Trindade inteiramente nela, sem divisões.

Maria Virgem e Mãe de Deus promove em nós, com sua mediação eficaz, sendo nossa humanidade no céu: 1- a unidade com Deus, por ser inteiramente dele; 2- a unidade consigo própria, pois esta acontece somente naquele para quem Deus é tudo e que, portanto, é todo de Deus; 3- a unidade com o irmão, pois todos os homens se tornam filhos de quem é casto. Quem é virgem, quem é casto, é também pobre de si e rico de Deus. Quem é pobre de si não tem medo de amar o outro, para ele o outro não é ameaça. Não põe barreiras ao amor de Deus, nem do irmão. Porque é todo de Deus e nada tem de si mesmo, é também todo do irmão. Em sua virgindade e castidade, Maria é toda nossa.

Maria promove a unidade como Esposa e Mãe de Deus

A esponsalidade de Maria com o Pai (pela paternidade), com o Filho (pelo desponsório espiritual) e com o Espírito Santo (pela geração de Jesus) a faz, como vimos, íntima e para sempre, espiritual e humanamente, unida a cada pessoa da Trindade. Maria não se une a estas pessoas pelo que fazem nela, mas pelo que São nela. Nela Deus é Pai; nela Deus é Filho; nela Deus é Esposo; nela Deus é Uno e Trino.

Sem Maria, Deus não seria Pai, nem Filho, nem Esposo. No Antigo Testamento Deus agiu como Pai e algumas poucas vezes foi reconhecido como tal. Deus revelou-se em Israel, que o traía e adulterava. Deus prometeu o Messias. Mas somente em Maria e com Maria, Deus foi, pela união íntima com sua criatura, Pai, Filho e Esposo.

Por outro lado, sem Jesus, nem Maria nem nós seríamos filhos no Filho, e chamados à união esponsal mística com Deus, Uno e Trino.
Maria, Esposa e Mãe de Deus, possibilitou assim a unidade da humanidade com cada pessoa do Santíssima Trindade. E hoje, no céu, com sua mediação, promove a unidade da humanidade e de cada homem com Deus.

Maria ministra a unidade como Mãe de Deus e Mãe da Igreja

A maternidade está intrinsecamente ligada à vida e à alegria. No entanto, está também intrinsecamente ligada à dor e à morte para si mesmo.
Maria tornou-se Mãe da Igreja no auge da dor, e, portanto, no cume do amor, pois a cruz foi o auge de sua renúncia a Jesus e a si mesma.

A Jesus, ela deu a luz sem dor, mas à Igreja ela deu a luz no ápice da dor. A maternidade de Jesus foi fruto da ação do Espírito Santo em suas entranhas humanas, e, no entanto, Ele veio à luz sem dor e sem o rompimento natural do parto; a maternidade da Igreja foi fruto da ação do Espírito Santo nas entranhas do seu Espírito e, no entanto, a Igreja veio à luz em meio a maior das dores.

Maria gestou a Igreja junto com Jesus, pois nunca haverá a menor sombra de separação entre eles, seja em pensamento, sentimento, vontade ou história. Maria sempre foi profundamente unida a Jesus e gestou com seu Filho, Fundador e Cabeça da Igreja, cada discípulo, sendo presença de Mãe. Talvez não compreendesse totalmente que a maternação da Igreja supusesse a dor da morte de Jesus, que a consola entregando-a ao mais querido dos discípulos.

Maria ministrou a unidade e a paz na Igreja pelo sofrimento do amor, pela renúncia do sacrifício. Jesus foi o preço desta maternidade.
Hoje, Maria promove a unidade na Igreja, a unidade entre os irmãos, seus filhos, pelo nosso amor e sacrifício unidos àquele seu lancinante sacrifício de renúncia e oferta do próprio Filho. Foi ela a primeira a completar na própria carne o que faltou ao sofrimento de Cristo em favor da sua Igreja.

Não é possível haver unidade entre nós sem grande sacrifício de sim unido ao sacrifício de Jesus e de Maria. O sacrifício de sim separado de Jesus e de Maria é estéril. Mas, unido ao sacrifício deles dois e à virgindade, esponsalidade e maternidade de Maria, é fecundo, promotor da unidade e da paz. Mergulha-nos nos abismos do silêncio de Deus, da obediência que tanto Jesus como Maria (como nós) aprenderam pelo sofrimento (cf. Hb 5). Mergulha-nos na unidade de quem se esquece de si mesmo para perder-se em Deus, fonte de todo bem, de toda unidade, de toda paz.

Maria promove a unidade como mulher

Não há como separar a maternidade da mulher, nem a mulher da maternidade.
Na nossa caminhada para a intimidade e a amizade com Maria, devemos ter em conta que ela é mulher e que, como mulher, está ressuscitada no céu com seu corpo glorioso, mas feminino, no seu modo de ser, de pensar e de agir. Maria agiu, age e agirá sempre, no céu e na terra, segundo a mente e os sentimentos de Cristo, mas como mulher, em sua "gratuidade irradiante de mãe, na sua reciprocidade e antecipação de esposa, na sua acolhida fecunda de virgem", como diz Bruno Fort. É, portanto, também como mulher que ela promove a unidade.

Foi como mulher que Maria reagiu ao anúncio da gravidez de Isabel indo ajudá-la imediatamente. Podemos imaginá-la feliz por vivenciar a maternidade da prima e por poder servi-la como fazem as mulheres de Deus, como fazem as mães em sua "gratuidade irradiante".

Foi sua "lógica de mulher" que se manifestou em Caná, não só ao notar que faltava vinho, mas especialmente no modo como agiu com relação a Jesus e aos serventes. Maria foi aí "antecipação e reciprocidade", como a esposa descrita por Bruno Fort.

Foi como mulher e Mãe de Deus que Maria foi formada pelo seu Filho no reencontro no templo e à porta da casa de Pedro. No primeiro caso, Ele lhe obedeceu e respeitou sua afeição de mãe, voltando para casa. No segundo, ela o compreendeu, em "acolhida profunda" de virgem…

Foi sua personalidade feminina e, portanto, materna que a fez ficar de pé diante da cruz, não somente pela extraordinária graça de fidelidade e fortaleza, mas pelo esforço em ficar o mais próximo possível, o mais visível possível ao Filho, a quem consolava e cuja agonia acompanhava.

Foi ainda como mulher que ela abrigou-se na casa de João que, sendo discípulo amado de Jesus, era certamente também dela. Jesus sabia bem que o que faz uma mulher sentir-se segura é o amor e não a força.

Foi a mulher e Mãe que manteve os discípulos unidos e reunidos à esposa do Paráclito. Ela era a mulher do Ressuscitado, a mãe do Filho de Deus, "um pedaço dele".

Foi a mulher, Mãe de Deus, que foi assunta ao céu e colocada acima de todos, abaixo somente da Trindade. É como mulher e Mãe que ela, a intercessora onipotente, trabalha até agora para promover a unidade.

Eis por que é tão grande nossa responsabilidade com relação à mulher e à mãe. Dirijo-me aos homens e às mulheres. Nós – homens e mulheres – perdemos a noção do papel da mulher com relação a Deus e à humanidade. A causa é que nos colocamos diante de nós mesmos e dos nossos anseios, e não diante de Deus e dos seus planos para nós, como homens, como mulheres, como famílias, sejam famílias religiosas ou institucionais.

Um dos principais papéis da mulher, em qualquer época da história, é, sem dúvida, ser disponível a Maria para a instauração da unidade e da paz através da sua maternidade e feminilidade. Onde a mulher não cumpre este papel, a instauração do Reino de Deus não se cumpre plenamente.

Maria "trabalha ainda hoje" pelo amor e poder de Deus que a escolheu e lhe deu uma missão que durará até a segunda vinda de Jesus. Ela, como a Esposa de Deus, no Espírito Santo, trabalha em nós, pela intimidade, amor e amizade conosco, e através de nós, que queremos responder positivamente a esta amizade.

 



Fonte: https://comshalom.org/maria-promotora-da-unidade/