26 de maio de 2023

Oração mística ou contemplação: uma ação de Deus que atinge a alma


No artigo anterior, tratamos da essencialidade da oração para que a alma adquira vida verdadeira. Agora, iremos aprofundar um pouco sobre sua divisão interna. Isso mesmo, os santos da Igreja sempre perceberam que a oração possuía diversos estágios. E, por ela ser um dos fundamentos da vida interior, sempre se compreendeu e divulgou que existiam diversos graus também na vida espiritual e, portanto, na oração.

A divisão clássica e simplificada expõe sempre 3 graus na vida de oração: aquele dos principiantes, a dos experientes e a dos chamados "perfeitos".

Essa "perfeição" refere-se ao determinado momento da vida espiritual onde a oração se altera tão profundamente e se torna coisa tão distinta que acaba até recebendo outro nome: contemplação. Ela pode ser chamada de oração contemplativa ou oração mística e também possui diversos estágios ou camadas em seu interior.

Preciso acrescentar que este amor ou abrasamento do coração é o próprio Espírito Santo em ação?

Enquanto a definição de oração de São Tomás de Aquino diz que ela é todo um trabalho humano, isto é, uma elevação da mente a Deus, a contemplação, também segundo o doutor angélico é uma "simples intuição da verdade que termina em um movimento afetivo" (ST II-II Q180A3). Ou seja, a própria Verdade se apresenta e, se é normal que a verdade toque o intelecto, ela não para por aí, mas provoca a vontade gerando amor em quem entra em contato com ela. Portanto, a oração contemplativa é uma ação de Deus que atinge a alma, toca a razão e reverbera na vontade, criando amor.

Créditos: microgen by GettyImages/cancaonova.com

O modo mais resumido de uma descrição de contemplação, que encontramos na Bíblia, está na passagem dos discípulos de Emaús: "Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" (Lc 24,32).

Durante a nossa oração (enquanto estamos pelo caminho), ocorre um movimento divino (o Senhor começa a andar conosco), Ele toca nossa inteligência (explica-nos as escrituras) e movimenta nossa vontade, alimentando-a com o amor (nos abrasando o coração).

Assim, se na oração buscamos a Deus, na contemplação essa busca se torna encontro, pois é causada por Ele mesmo. Em teologia, usamos o termo "infusa", ou seja, infundida por Deus diretamente em nós.

Então, o que é e como ela acontece? De uma maneira direta, a contemplação infusa é a suspensão do intelecto diante de uma verdade sobrenatural. Incapaz de abarcá-la, a inteligência permanece admirada e travada e. por não conseguir agir por si mesma, torna-se passiva desta mesma ação, sendo movida e, este mesmo movimento, também provoca a vontade pelo amor.

Complicado? Ajudará se buscarmos mais algumas definições…

São Francisco de Salles, no seu Tratado sobre o Amor de Deus, atesta: "A contemplação é uma visão simples, livre, penetrante e certa de Deus ou das coisas divinas que procede do amor e tende ao amor".

Salienta aqui que é sobre Deus ou sobre as coisas divinas e que tem o Amor como ponto principal, pois provoca o amor. Mas também lembra que, embora intelectual em sua essência, se é provocada por Deus, também é provocada pelo próprio Amor em pessoa.

São João da Cruz, no segundo livro de A Subida do Monte Carmelo, também chama a contemplação de comunicação (do latim "notitia"), geral e amorosa.

Trata-se, evidentemente, de um contato feito por Deus (comunicação), mas de forma que não é temática, ou específica, ou direta, mas geral. E, se é claro que a causa é Deus, embora seu modo seja confuso (comunicação geral), seu efeito é claríssimo, causando um aumento no Amor e, por isso, amorosa.


Cuidados na oração contemplativa

Nem tudo são flores nestes altos graus de contemplação. É necessário um acompanhamento estreito e previdente de um experiente diretor espiritual, para que haja o discernimento correto sobre o que é oração contemplativa e o que é pura ilusão sentimental.

Tanto Santa Teresa D´Ávila quanto São João da Cruz, dois dos mais admiráveis doutores da Igreja, preocuparam-se em diferenciar com precisão (até exaustiva) cada grau de contemplação e cada detalhe da vida mística.

São unânimes em dizer duas coisas: primeiro, diretores espirituais competentes sobre essas realidades eram raros no século XVII quando eles viveram, e, no século XXI, sinto muito em te dizer que não encontramos uma realidade diferente. Existe muito interesse sobre as ciências modernas, como a psicologia, e pouco conhecimento sobre a enorme tradição da teologia espiritual católica.

Segundo, facilmente cai-se em armadilhas de auto sugestão sobre falsas experiências místicas, quando não se é enganado pelo próprio demônio que, sendo mestre da soberba, quer que pensemos sermos muito mais elevados na oração do que realmente o somos na prática.

Mas a contemplação ou oração mística é um assunto denso e fascinante senão fundamental. Por isso, se você gostaria de entender melhor o que são esses graus de oração, a oração mística e suas divisões, bem como todo o trajeto da conversão inicial a Deus até uma vida de plena união e santidade, eu recomendo a leitura do livro "Santidade para todos: descobrindo as moradas interiores".

Mais do que explicar cada coisa, ele tem como objetivo te ajudar a viver inteiramente e intensamente essa amizade com Deus que desemboca na verdadeira união.

Se você prestou bem atenção no texto, lembrará que eu escrevi que este "abrasamento do coração" é ação do Espírito Santo em pessoa. Trataremos sobre isso no próximo artigo, sobre a oração carismática.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/oracao-mistica-ou-contemplacao-uma-acao-de-deus-que-atinge-a-alma/


A oração é a base da vida espiritual


Embora a vida espiritual seja dom de Deus e os sacramentos sejam os verdadeiros motores que a criam e sustentam, a oração, ou o ato de rezar, é o combustível que alimenta o crescimento da espiritualidade. Dito de outra forma bem explícita: não existe vida espiritual sem oração.

Ela é a maneira como cada um se coloca, conscientemente, sob os cuidados de Deus, procurando conhecê-Lo e se tornar conhecido por Ele, procurando entender e fazer a vontade d'Ele.

Não é um erro menor se esquecer de rezar e não procurar conhecer como a oração aumenta nossa intimidade com Deus. Se, no céu, estaremos em plena união com o Altíssimo, o que seria mais importante no mundo do que conhecer, treinar e aprofundar-se nesta intimidade?

Santa Teresa D'Ávila define a oração como um trato de amizade com Deus. Isso porque, com os nossos grandes amigos, trocamos confidências, falamos dos nossos pensamentos mais íntimos, nossas angústias e sonhos. Somos livres para nos expor sem medo de sermos julgados.

Créditos: Kamonwan Wankaew por GettyImages/cancaonova.com

A oração, vida da alma

Esse é um detalhe valioso da oração: ela nos ajuda a ordenar nosso interior, nossa inteligência e vontade a partir de uma perspectiva do alto e da eternidade.

Exponho-me e, enquanto me exponho, também me analiso e percebo as mentiras que conto para mim mesmo, os erros e desvios do caminho, a minha falta de atenção com as coisas mais importantes da vida.

Rezar nos ajuda a construir em nós esse caminho de aperfeiçoamento que não é para mostrar para os outros, não é para se gabar, mas para que estejamos mais próximos do Criador e de Sua vontade.

Orações vocais

E se não existem pré-requisitos para a oração , por que não iniciar logo?

As chamadas orações vocais são acessíveis a todos. Este é o formato mais simples de oração. Ela se dá quando falamos com Deus, daí o nome vocal. E podemos falar com Deus usando nossas próprias palavras ou repetindo uma oração tradicional como a Ave-Maria ou o Pai-Nosso.

Não é necessário mover os lábios. Se conversamos com Deus ou usamos uma oração decorada dentro de nossa cabeça, sem que ninguém ouça nada, isso já é uma oração vocal, pois se usam palavras.


Cuidados na oração vocal

Mas cuidado: o problema de repetir orações decoradas é o automatismo. E não existe verdadeira oração ou verdadeiro cristianismo no piloto automático, como ir à missa por puro hábito, rezar porque "é hora" ou "está acostumado", sem uma verdadeira corrente interior, prejudicando a vida espiritual.

Sem querer, começamos a viver o que vivíamos, o farisaísmo, tão combatido por Jesus nos Evangelhos: por fora, sepulcros bonitos e pintados, gente que reza sem parar; por dentro, somente podridão, pois a oração não está conectada com o coração (Mt 23,27).

Então, se nos dispomos a rezar, é necessário fazermos com verdadeira atenção: com sentido, sabendo o que se está falando, sabendo com Quem está falando. Atenção e piedade são, portanto, fundamentais.

Santa Teresa Ávila e São Tomás de Aquino

A mesma Santa Teresa, doutora da Igreja, deixa bem claro que, quando falamos ou repetimos fórmulas prontas sem prestar atenção com quem falamos, do que falamos e sem estarmos com nosso coração e mente envolvidos no que fazemos, não estamos rezando.

Esse repetir palavras sem consciência não é oração para a Santa de Ávila. A oração verdadeira só se dá quando nossa inteligência e vontade estão unidas com atenção, com reverência e amor em um relacionamento com Deus. O resto é mover os lábios, não é ministro falar com Deus. 

Mas que fique bem claro para todos: não há problema em repetir Pai-Nossos e Ave-Marias , ou quaisquer outras orações, desde que se esteja atento ao que se está fazendo, ou seja, sua mente e seu coração esteja envolvido no processo. A verdadeira oração é diálogo, não enxurrada de palavras perdidas e desatentas (Mt 6,6).

São Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, fez um exame detalhado de todas as características da oração e do ato de rezar com verdadeiros frutos, cumprindo os conselhos evangélicos.

Afinal, rezar sem cessar, interceder por nossos inimigos e, inclusive, realizar súplicas e pedidos a Deus, é interceder para nossa própria salvação e bem.

Para aqueles que desejam crescer em oração e se aprofundar nesse conhecimento, recomendo o livro "A Oração segundo os doutores da Igreja". Com certeza, a vida de oração vai adquirir um novo significado aos seus olhos.

No próximo artigo, trataremos sobre a oração mística ou contemplação, um passo além na vida de oração.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/a-oracao-e-a-base-da-vida-espiritual/


24 de maio de 2023

A Pregação no Grupo de Oração

Autor: Dercides Pires da Silva

Hoje, gostaria de pedir licença aos integrantes da Renovação Carismática Católica, especialmente aos que integram seus ministérios, para falar direta e abertamente com os irmãos e as irmãs pregadores e pregadoras, assim como com aqueles e aquelas que estão em formação ou que ainda virão servir ao Senhor conosco, "porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue?" (Rm 10,13-14).

1. ENTÃO, COMEÇANDO...
É certo que a dinâmica do grupo de oração é um culto a Deus que se desenvolve em torno da Palavra dele. Isso leva diretamente à pregação. Tudo o que se faz do início até a pregação, prepara o povo para ela, a pregação. Tudo o que se faz depois da pregação é uma resposta a ela. Por isso a dinâmica do grupo de oração, quando feita adequadamente, chama-se ciclo carismático.
Por outro lado, não se pode olvidar que o grupo é de oração e não de pregação, principalmente porque se a pregação não for adequadamente preparada e apresentada em ambiente de oração e utilizando o tempo certo e a comunicação convenientemente, pode pôr-se a perder o ciclo carismático e o culto que se deve prestar a Deus no encontro semanal de oração do grupo.
Aqui, é oportuno ressaltar que o zelo pelo grupo de oração é dever sagrado de todos que aceitam nele exercer algum ministério, especialmente quando integram os ministérios de música, coordenação, pregação e formação.
Neste zelo se inclui não transformar o grupo de oração em grupo de pregação, de formação ou de música. Quem zela pelo grupo de oração não diminui a quantidade ou a qualidade da oração para dar mais espaço à pregação, à música ou a qualquer outra atividade. Quem cuida bem do grupo de oração não o transforma em grupo de formação.
É certo que quando se prega ou canta, transmite-se também um pouco de formação. Isso integra a dinâmica do grupo de oração, mas não é o grupo de oração.
Quem de fato entende a missão do grupo de oração zela por ele, nele integra todos os serviços e ministérios, sem se esquecer de que a prioridade do grupo é a oração, pois ele é um culto a Deus no qual se ora a ele, adora-o, louva-o e se usa a pregação para pôr os participantes em contato com ele, porém tendo em mente que tudo que ali se faz, juntamente com a pregação, é para possibilitar que as pessoas se ponham em contato com Deus, principalmente a oração comunitária, a oração intercessória e a música.

2. QUALIDADE DA PREGAÇÃO NO GRUPO DE ORAÇÃO
"1Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloquência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. 2Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. 3Eu me apresentei em vosso meio num estado de fraqueza, de desassossego e de temor. 4A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloquência persuasiva da sabedoria; eram, antes, uma demonstração do Espírito e do poder divino, 5para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. 6Entretanto, o que pregamos entre os perfeitos é uma sabedoria, porém não a sabedoria deste mundo nem a dos grandes deste mundo, que são, aos olhos daquela, desqualificados. 7Pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória" (1Cor 2,1-7).
Se há uma parcela da Igreja que exige pregação boa é o grupo de oração. Pregação boa é  ungida, dependente do Espírito Santo, ministrada por quem "não sabe" [não prega] outro conteúdo que não seja Cristo crucificado, morto e ressuscitado; que não se vale da sabedoria humana, mas da sabedoria divina; que demonstre o poder de Deus nos sinais e prodígios. Em resumo, a boa pregação é como a de Paulo, descrita em 1Cor 2,1-7.
Quem era Paulo? Ele mesmo responde, e também outros do seu tempo:
"4No entanto, eu poderia confiar também na carne. Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: 5circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. Quanto à lei, fariseu; 6quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível" (Fil 3,4-6). "Havia então na Igreja de Antioquia profetas e doutores, entre eles Barnabé, Simão, apelidado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo" (At 13,1). "Continuou ele: Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a observância da lei de nossos pais, partidário entusiasta da causa de Deus como todos vós também o sois no dia de hoje" (At 22,3).
Antes mesmo de pertencer ao número dos discípulos e dos apóstolos de Jesus, Paulo era um doutor da lei, posto que fora formado por Gamaliel, também um doutor da lei; mestre, especializado em formar outros. Também antes de ser discípulo e apóstolo do Senhor, Paulo experimentou o poder de Deus em seu próprio corpo durante a marcha que fazia para Damasco, a fim de prender muitos cristãos.
Com base nas palavras que o Senhor disse a Ananias – "Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel" (At 9,15) –  podemos dizer que Paulo, ao estudar com Gamaliel, estava sendo formado para ser pregador, pastor, formador, doutor. O mesmo se diga de seu encontro com o Senhor no caminho de Damasco e do seu batismo ministrado pelo discípulo Ananias. A formação de Paulo continuou por mais algum tempo, silenciosamente, em Tarso; não mais perante Gamaliel, mas aos pés do Mestre dos mestres, pelo Espírito Santo.
O Senhor disse a Ananias que Paulo era um instrumento escolhido. Em verdade, Paulo estava sendo formado desde os tempos de Gamaliel, isto é, estava sendo afinado para executar a música evangelizadora do Espírito Santo.
Também nós, se quisermos pregar como Paulo, devemos nos sujeitar aos afinamentos do Espírito Santo que se serve de "Gamaliéis" e Ananias para formar arautos do Senhor Jesus até nos dias de hoje. Isso exige alguns passos de oração, humildade, oração, compreensão, oração, estudo, oração, treinamento, oração... Assim, afinados pelo Espírito Santo, poderemos ser seus instrumentos para pregar com sabedoria divina nos grupos de oração e noutros lugares, e com demonstrações do poder de Deus, a fim de que as pessoas creiam que nosso Deus não está morto, mas ressuscitou e vive entre nós.
Para que haja em nossos dias pregações como as dos primeiros discípulos do Senhor, o Ministério de Pregação, com oração e discernindo a visão de Jesus para nossos grupos de oração, tem ministrado a formação de pregadores e pregadoras seguindo uma proposta que tem evoluído ao longo dos anos, conforme o Espírito Santo nos tem inspirado. Esta proposta é apresentada nos tópicos seguintes, de forma resumida. Leiamo-la!

3. DESAFIOS
Gostaria de iniciar nossa conversa com uma indagação: Qual seria mais desafiadora, uma pregação que dure uma hora, ministrada num encontro de avivamento, ou uma pregação que não ultrapasse dez minutos, ministrada a um grupo de oração? Em geral, todos se preocupam muito mais com a pregação de uma hora. Alguns se angustiam e até se apavoram antes das primeiras pregações que duram uma hora. Devem ter seus motivos. Entretanto, se considerarmos a pregação do ponto de vista dos frutos que deve produzir, uma pregação de dez minutos ministrada ao grupo de oração é, de longe, muito mais desafiadora, posto que se desejam desta pregação os mesmos frutos que se esperam de uma pregação de uma hora. E há mais: durante uma hora dá para consertar alguns erros cometidos durante a pregação, dá também para mudar de rumo, de metodologia, de técnica, quando se descobre que se fez alguma opção inadequada. O mesmo não se consegue fazer durante uma pregação de dez minutos, sem risco de se perder alguma coisa boa que reste.
É certo que Deus quer salvar as pessoas que vão aos encontros de avivamento (rebanhões, louvores, retiros, acampamentos etc.), nos quais os participantes ouvem várias pregações de meia hora, quarenta minutos, uma hora; mas é certo também que ele deseja salvar os que vão aos grupos de oração, uma só vez na vida, para ouvir uma pregação de dez minutos, apenas. Logo, é enorme o desafio de se pregar aos participantes dos grupos de oração.
Comparando a pregação que se faz a um grupo de oração com a que se prega num encontro maior, com a visão que esboçamos nos parágrafos anteriores, nota-se que os desafios a serem vencidos numa pregação ministrada a grupo de oração são imensamente grandes, pois durante uma pregação de dez minutos, o doente precisa abrir o coração para receber a cura, o pecador precisa se arrepender dos seus pecados e se converter; o cego precisa acreditar que poderá ver; o surdo, que poderá ouvir; o aleijado, que poderá ser restaurado; o pecador, que será perdoado; o ateu, que poderá crer. Essas ideias nos ajudam a compreender o quanto devemos nos preparar para pregar no grupo de oração, assim como devemos preparar a pregação.

4. PREPARAÇÃO DA PREGAÇÃO
A melhor forma, e também a mais simples, de se preparar uma pregação é organizá-la em roteiro, pelas seguintes vantagens:
"Os roteiros poderão ser escritos e não escritos. Os não escritos possuem as vantagens das pregações e dos ensinos não escritos, citadas acima. Entretanto, em se tratando de desvantagens, o roteiro não escrito não é tão perigoso quanto a pregação e o ensino não escritos, pois quem seguir um roteiro, ainda que de memória, dificilmente se perderá.
Entre as duas formas de roteiro, inegavelmente a melhor, a ideal, é o roteiro escrito , tanto para o ensino, quanto para a pregação. É que ele oferece boa flexibilidade, boa abertura para as inspirações, moções e toques do Espírito Santo, possibilita-nos ter sempre à mão as principais ideias, libera o evangelizador do medo de não ter o que pregar ou ensinar, permite a inserção de histórias, parábolas, técnicas pedagógicas e recursos variados, entre outros benefícios.
Modernamente bons professores de oratória ensinam o uso de vários recursos pedagógicos. Indubitavelmente um dos recursos é o roteiro. Existem professores que chegam a indicar recurso mais moderno do que roteiro, como é o caso de transparências e uso de imagens eletrônicas. Mas não ficam somente na indicação, também incentivam seu emprego, dizendo que são fatores de sucesso dos bons oradores.  O roteiro materializa a preparação do evangelizador. Andréa Monteiro de Barros MACHADO, in Falando Muito bem em Público, p. 64, arrola a falta de preparação do discurso entre os pecados capitais do apresentador, e dedica, como os demais escritores, capítulos próprios para ensinar a planejar discursos."
Outra coisa importante que precisamos dizer, é que o roteiro deve ser somente um roteiro, nada mais do que um roteiro. Ele não é o ensino e nem tampouco a pregação. Frise-se que ele é somente a organização das principais ideias que o pregador e o formador seguirão para pregar e ensinar (Dercides Pires da SILVA, Formação de Pregadores e Formadores, Oratória Sacra, Roteirização, pp. 18 e 19."

5. FORMA DOS ROTEIROS
Os roteiros de pregação devem ter três partes: Introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, a pregadora e o pregador, a um só tempo, apresentam a pregação e motivam os discípulos de Jesus, ou vice-versa. É na introdução que os discípulos de Jesus avaliam se vale a pena ouvir quem vai pregar, ou se será mais divertido pensarem noutras coisas enquanto deveriam acolher a pregação.
Apresentar a pregação, na introdução, é informar aos discípulos de Jesus o tema e as ideias principais que se desenvolverão durante a pregação, porém tal apresentação precisa ser feita em tom proclamativo, porque, efetivamente, já se prega desde a introdução.
Algo muito importante que se deve fazer na introdução, é motivar os discípulos a ouvirem atentamente a pregação. Isso se faz demonstrando a importância da pregação e apresentando pelo menos um ganho prático aos discípulos. Também motiva-se com uma boa história, uma parábola, um texto bíblico, entre outras possiblidades.
Aproveitando a oportunidade, gostaria de informar que é na introdução que mais se capta o interesse dos discípulos, além de ganhar a simpatia e a atenção deles. Enfim, na introdução o pregador e a pregadora têm a primeira e melhor oportunidade para conseguir o acolhimento dos discípulos.
O desenvolvimento é a pregação propriamente dita.
Na conclusão, resume-se a pregação, relembrando as ideias principais que foram desenvolvidas; porém, sempre em tom proclamativo.

6. DURAÇÃO DA PREGAÇÃO
Alguns irmãos têm indagado sobre o tempo de duração da pregação no grupo de oração. Aconselha-se que a pregação seja ministrada durante dez minutos,  principalmente quando for ministrada por alguém do próprio grupo. Entretanto, quando o tema contiver alguma complexidade, poderá ser estendido um pouco mais. O tempo também poderá ser aumentado – um pouco somente – quando o pregador for de outro grupo.
Em qualquer caso, é bom a pregação não exceder quinze minutos.
A pregação no grupo de oração, por ser essencialmente querigmática, não exige muito tempo para produzir bons frutos. Em vez de mais tempo, necessitamos mais de unção e de confiança na ação de Deus por nosso intermédio. Ungidos e confiantemente, eles se tornam ferramentas adequadas e instrumentos afinados nas mãos de Deus para produzirem frutos cem por um, ainda que preguem durante um minuto apenas.
Não é o muito falar − ainda que pareça revestido de pregação − que convence as pessoas. As pessoas são convencidas pela unção do Espírito Santo que "ensina todas as coisas" (1Jo 2,27).
Nós que pregamos, não podemos cair na tentação de transformar o grupo de oração em "grupo de pregação" e as coordenadoras e coordenadores não podem permitir isso. É sempre bom lembrar que o grupo é de oração e não de pregação, e que neste grupo há lugar para muitas manifestações de fé e amor que evangelizam, entre elas podemos citar ilustrativamente a música, a oração, a pregação, o acolhimento, o pastoreio, a intercessão, a oração por cura e libertação, o clamor por milagres.

7. PREPARAÇÃO DO PREGADOR
Assim como nossa pregação, também nós devemos nos preparar adequadamente, a fim de semearmos de modo a produzir bons frutos — discípulos e discípulas — para Jesus, pois uma mensagem poderá ser acolhida ou rejeitada, dependendo da forma de sua transmissão. Noutro dia li uma história sobre o poeta Olavo Bilac que bem ilustra a necessidade da preparação para se comunicar. Ei-la, a seguir:
"Um dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:
— Sr. Bilac, estou precisando vender meu sítio, que o senhor tão bem conhece. Poderia redigir um anúncio para o jornal? Olavo Bilac apanhou um papel e escreveu: 'Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes na varanda'.
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
— Nem pense mais nisso, senhor Bilac! — disse o homem e continuou a falar: Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que eu tinha."
Essa história me fez lembrar que além de ter uma boa inspiração, para pregar precisamos saber nos comunicar; falamos de comunicar com unção. A forma de falar, a postura, a entonação de sua voz, os gestos, enfim, tudo que compõe a imagem de quem prega influencia o ânimo de quem ouve. E essa influência vai predispor os discípulos do Senhor a aceitarem ou a rejeitarem a mensagem transmitida na pregação. É por isso que devemos ser incansáveis quando se trata de formação; precisamos ser santamente insaciáveis na busca de novos métodos para pregar. É neste contexto que entra a formação, para colaborar.
De mais a mais, precisamos aprender com aqueles que vieram antes de nós, como João Batista, cuja missão foi preparar um povo bem disposto para o Senhor, como se lê em Lucas 1,13-17. A Bíblia não diz com quem João aprendeu a pregar, mas é inegável que ele sabia. A propósito, no tempo de João, há séculos que a arte da oratória já era difundida pelo mundo por meio das grandes culturas, sendo Demóstenes, um grego, um dos seus expoentes.
Na Bíblia encontramos exemplos de como a forma de se expressar influencia os discípulos de Jesus. Certa vez, após Jesus terminar uma pregação, "a multidão ficou impressionada com a sua doutrina" (Mt 7,28) e o evangelista segue explicando que "ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas" (Mt 7, 29).
A pregação utiliza a oratória como instrumento de trabalho. A oratória, como a música, é uma arte; a arte de discursar eloquentemente. Em se tratando de pregação, é o dom de pregar com eloquência e unção.
Ninguém nasce pregador ou pregadora, assim como ninguém vem ao mundo já sendo cantor ou cantora. Como se aprende a cantar, se aprende a pregar; entretanto, sabe-se que pregar é muito mais fácil, em se tratando de técnica, do que cantar. Para aprender a pregar adequadamente, basta um pouco de formação e treinamento que podem ser obtidos nas oficinas de oratória. Mas, lamentavelmente, alguns resistem à formação e ainda tentam fundamentar suas teimosias, preguiças e desobediências na Santa Palavra, dizendo que Pedro era um homem rude e despreparado, mas mesmo assim Jesus o chamou para pregar e ainda lhe confiou os destinos da Igreja. De fato, Pedro era rude e analfabeto, e também despreparado para a missão de pregador e de pastor da Igreja quando Jesus o conheceu. Mas ninguém poderá dizer que após mais de três anos convivendo com Jesus, ele continuava o mesmo homem. Dos traços antigos de Pedro, ele conservou o analfabetismo, tanto que ditou sua carta a Silvano. Mas, por outro lado, Jesus não o chamou para ensinar aramaico, hebraico, grego ou latim. Ele foi escolhido para pastorear a Igreja e para pregar o Evangelho com palavras, sinais e prodígios. E para isso ele estava muito bem preparado, uma vez que fora formado pelo Mestre, pessoalmente.
Para atender às nossas necessidades de formação, a RCCBRASIL organiza e oferece vários cursos. Neste ponto é necessário ressaltar que há duas formações que devem anteceder a formação para pregadoras e pregadores, que são a formação bíblico-doutrinário e o conjunto de conhecimentos que compõe o Módulo Básico. Tais formações são elaboradas pela Comissão Nacional de Formação e são aplicadas pelo Ministério de Formação.
No Módulo Básico, adquirem-se conhecimentos sobre a identidade da Renovação Carismática Católica, carismas, grupos de oração, santidade, oração, liderança, a Igreja e Doutrina Social da Igreja.
Ressalte-se também que as pregadoras e os pregadores deveriam vir — ou devem vir — para o Ministério de Pregação já tendo recebido a formação inerente ao Módulo Básico e à Bíblia. Quanto à esta, pelo menos já deveriam ser seus leitores diligentes e assíduos. Por outro lado, constatando a necessidade desta formação, principalmente onde o Ministério de Formação ainda não esteja funcionando adequadamente, pode ser necessário que o Ministério de Pregação assuma as formações acima, com a finalidade de colaborar e suprir as necessidades mais urgentes.
Por fim, ainda se deve ressaltar que tal formação bíblico-doutrinária e fundamental (Módulo Básico) contém os conhecimentos gerais e essenciais que precisam ser ministrados a todas as pessoas da Renovação, principalmente às que aceitam servir ao Senhor em algum dos nossos ministérios.
Vencida esta fase "pré-formativa" — bíblico doutrinária e do Módulo Básico —, os pregadores e as pregadoras recebem a formação para a pregação e o ensino, propriamente dita.
A formação para Ministério de Pregação, propriamente dita, começa com a comunicação; isto é, começa com um conteúdo que pode ser classificado como fundamental, pois ele visa formar pregadoras e pregadores que consigam se comunicar adequadamente com os discípulos e discípulas de Jesus. Nela, os que acolhem a formação, são formados para serem oradores sacros, os quais são denominados, entre nós, de pregadoras e pregadoras. Para isso recebem conhecimentos e treinamentos sobre a oratória clássica que os capacitem a discursar na modalidade oratória sacra, além de ministrarem ensinos usando técnicas didáticas que os capacitem a ensinar com boa oratória didática.
Esta formação é fundamental porque a comunicação, em forma de oração clássica e oratória didática, é a principal ferramenta utilizada por nós. Dificilmente alguém seria pregador ou pregadora sem boa comunicação. Temos um forte exemplo bíblico que nos alerta para isso: Moisés. Ele tinha dificuldade para falar, como bem reconhece perante Deus, em Êxodo 4,10. Os exegetas estão de acordo quando interpretam essa passagem, deduzindo que ele era gago. E foi por isso que Deus mandou com ele seu irmão Aarão, como se lê em Êxodo 4,14-16.
Para ministrar a formação que capacite os pregadores e as pregadoras a se comunicarem adequadamente, no exercício do ministério da pregação, foram elaborados cursos rápidos, com oficinas de oratória, com os nomes de Roteirização (elaboração para pregações e ensinos) e Verbalização (como falar ao público).
Este ciclo — Roteirização e Verbalização — constitui o núcleo da formação para pregadores e pregadoras, pois assim como ninguém seria cantor sem saber cantar ou bom coordenador sem saber gerir (administrar), ninguém será bom pregador ou pregadora sem saber discursar segundo os princípios da oratória.
A pregadora e o pregador, recebendo a formação deste ciclo — Roteirização e Verbalização —, obterão o mínimo de conhecimento metodológico no campo da didática e da retórica que são necessários para exercerem seu ministério. Contudo, para se desenvolverem com rapidez e pregarem eficientemente e com eficácia, a fim de obterem efetividade, deverão receber a formação completa, que inclui, além do que já foi apresentado acima, os treinamentos em oficinas e os aprofundamentos.
Há formações que facilitam o acolhimento de unção do Espírito Santo, além de fortalecer a espiritualidade. Eis algumas delas: Ardor Missionário (como pregar e ensinar com ardor e como reavivar o ardor e o vigor na pregação e no ensino)" e Pregação Inspirada (como acolher inspirações divinas para pregar e ensinar).
Com tais formações poderemos conseguir aplicar nossos carismas com mais eficácia a serviço da Nova Evangelização, como Nosso Senhor Jesus Cristo nos pede pela voz da Igreja.  
Essas formações servirão para eliminar barreiras à unção do Espírito Santo, tais como: dúvidas, incredulidades, apego ao pecado, pouco amor à santidade, pouca intimidade divina.
Serão úteis também para propiciar formação espiritual suficiente para ajudá-los a amadurecerem, humana e espiritualmente, a fim de que assumam com desassombro e coragem a fé que receberam no batismo.
Enfim, do ponto de vista da unção e da espiritualidade, com tal formação estaremos mais bem preparados para sermos veículos do poder de Deus, no exercício missionário.
Entretanto, nada é tão bom que não possa ser melhorado e nada é tão perfeito que não possa ser aperfeiçoado. O bom viver e a humildade nos ensinam isso. Assim, já tendo recebido as formações sobre comunicação — oratória — e sobre unção e espiritualidade, seria ótimo acolhermos a formação contínua que nos é oferecida; dentre estas, destacaremos algumas, começando por aumentar nossos conhecimentos bíblicos-doutrinários, nossos conhecimentos e experiências com a unção do Espírito Santo e nossa capacidade comunicativa.
Penso que até aqui, a necessidade de boa formação continua já está muito explícita e clara como o sol do meio dia nas secas do Planalto Central, pois quem é chamado por Deus ao ministério da Palavra, é alguém que se forma sempre, mas gostaria de incentivar os irmãos e as irmãs um pouco mais, dizendo que o pregador e a pregadora não poderão ser discípulos de "um livro só"; não poderão satisfazer-se somente com os encontros ministrados especificamente para pregadores; não poderão se dar por formados sem o estudo do Catecismo e de outros documentos da Igreja, como, pelo menos, a Constituição Dogmática Dei Verbum, Apostolicam Actuositatem, Christifideles Laici, sobre vocação e missão dos leigos na igreja e no mundo, Compêndio de Doutrina Social da Igreja e Documento 62 da CNBB sobre a missão e ministérios dos cristãos leigos leigas.
O ministério da pregação é um serviço de amor e doação exigentes. Seu integrante necessita adquirir conhecimentos gerais sobre a Igreja, sobre nosso Movimento Eclesial e sobre o mundo, pelos menos. Quanto à Igreja, sugerimos que os pregadores e as pregadoras participem de encontros eclesiais e, quem puder, que participe também de encontros, seminários e cursos teológicos. Quanto ao nosso Movimento, recomendamos que participem dos encontros promovidos pelos demais ministérios.
Especificamente para atender a necessidade de acolhimento de unção, além de mais bem compreender a missão, há um curso rápido designado pelo título de Anuncia-me. Nele aprendem-se modos de anunciar a palavra de Deus com testemunho, com sinais, com amor e com coragem, pois um dos requisitos fundamentais para receber unção do Espírito Santo para o exercício de uma missão é precisamente acolher e praticar uma atividade missionária, no caso da pregadora e do pregador, anunciar o Evangelho é esta missão.
Além desta formação cujo título é Anuncia-me, há outro bastante sugestiva, a partir do seu título: Ver ou Crer para pregar.
Já para a área da comunicação — metodologia — que é a parte da formação que  mais nos tem desafiado, mas aos seus desafios temos respondido com maior quantidade de ofertas para a formação, as seguintes possibilidades de formação:
– Voz e Unção: como ter e preservar uma boa voz e como utilizá-la corretamente;
– Didática: utilização de técnicas e recursos pedagógicos na pregação e no ensino;
– Artes cênicas na pregação: aplicação de técnicas de encenação em histórias e maior domínio dos recursos vocálicos e gestuais;
– Comunicação interpessoal: eliminação de traumas que impedem a boa comunicação em público e aplicação de técnicas e recursos de interação grupal;
– Organização do pensamento: organização de ideias para exposição verbal e escrita de opiniões e pensamentos aplicados aos ensinos e às pregações;
– Aprofundamento do conteúdo da pregação: contextualização de textos bíblicos, entrelinhas da Palavra, noções de exegese e hermenêutica.
É necessário passar POR TODA ESSA FORMAÇÃO para ser pregador? NÃO, para nos formar, o Ministério de Pregação segue o método de Jesus: teoria, prática, avaliação; tudo simultaneamente. Isso significa que todos, a convite de coordenações de grupo, de diocese, de Estado, poderão pregar, ao mesmo tempo em que buscam a formação junto aos ministérios de pregação locais. O que não seria aconselhável, é que alguém repudiasse a formação e insistisse em ser pregador ou pregadora.
Por outro lado, é inegável para pregar eficazmente (com frutos), a formação é útil, se não for necessária.

8. ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DE PREGADORES
A estratégia será a prática simultânea da oração, da formação e da missão.
A oração dever ser pessoal e comunitária.
A formação unirá teoria e prática. A prática se dará em oficinas de oratória.
Por fim, a missão será praticada nos grupos de oração, nas salas de formações, nos eventos promovidos pela Renovação, por outros movimentos eclesiais, pela Igreja institucional (diocese, paróquia), pelas famílias, entre outros lugares.
Para facilitar seu desenvolvimento, esta estratégia desenvolver-se-á como se resume nas alíneas a seguir.
a) Visão geral
A formação consiste, inicialmente, num evento introdutório no qual será apresentada a metodologia que seguimos – METODOLOGIA COM PODER DO ESPÍRITO SANTO. Neste encontro serão apresentadas as ideias fundamentais que ajudarão na formação de pregadores e pregadoras. Nele o pregador e a pregadora em formação já terão os primeiros contatos com as técnicas de falar com os discípulos e as discípulas de Jesus.
 A partir deste evento, serão aplicados os demais, conforme planejamento dos ministérios de pregação locais.
Para que a formação seja eficiente (executada adequadamente), eficaz (cumpra seu objetivo) e efetiva (frutífera e provocadora de boas mudanças) propõem-se os treinamentos dos formandos em oficinas de pregação, como já foi dito antes, e agora se ressalta. Nas oficinas, todos terão oportunidade de treinarem as técnicas de pregação o quanto for necessário. Com as oficinas, em pouco tempo um grande número de discípulos e discípulas se tornam excelentes pregadoras e pregadores; sem elas, os frutos são muito demorados, quando surgem.
Toda a formação poderá ser mais bem entendida com a realização de oficinas. Mesmo os conteúdos das áreas do conhecimento bíblico-doutrinário e da unção poderão produzir melhores frutos se forem estudados em pequenos grupos, utilizando técnicas e recursos pedagógicos apropriados. Para este caso, estes pequenos grupos seriam as oficinas.
Se as oficinas são úteis às áreas do conhecimento bíblico-doutrinário e da unção, à área da comunicação são  mais que necessárias; são necessariamente fundamentais. A formação para a comunicação é composta fundamentalmente de metodologias que exigem a utilização de várias técnicas e muitos recursos de comunicação. Tudo isso exige treinamentos que só poderão ser realizados em oficinas, sob pena de prejudicar sobremaneira o resultado da formação.
Os frutos das oficinas, para a nossa formação, são incalculáveis. Nelas se aprende a dialogar com o público usando um bom discurso. Aceitando nelas serem treinados, os pregadores e as pregadoras trocam um falar sem rumo, às vezes flácido, sem vida, sem vigor por uma verdadeira pregação. Enfim, em pouco tempo conseguem pregar bem; isto é, conseguem pregar com boa comunicação, com metodologia adequada e transmitindo um bom conteúdo com unção do Espírito Santo.
Cada grupo de cinco pessoas acima (ou até com menos) poderá fazer uma oficina de pregação. Ela se resume em exercitar o que foi ministrado nas salas de formações ou nos eventos formativos, aliando aos exercícios boas avaliações, para crescer mais.
b) Flexibilidade do ciclo de formação
Um item importante em nossa formação é a flexibilidade do ciclo formativo. Com efeito, não se deseja construir uma formação fechada. Ela deverá ser flexível para possibilitar o constante progresso do saber, bem como para descobrir e incorporar novas técnicas que sejam apresentadas pelos vários meios possíveis, incluindo, necessariamente, as sugestões de quantos colaboram na formação de pregadores e pregadoras.
Sua flexibilidade será percebida sempre que se fizerem necessárias modificações, aperfeiçoamentos, readequações.
Mas outra espécie de flexibilidade deve ser considerada. Trata-se da adequação do tempo e da oportunidade de aplicação a todos os formandos, a fim de atender a situações familiares, estudantis e profissionais de cada um. Assim estaremos valorizando a pessoa e não somente o trabalho que se lhes presta.
c) Procedimentos fundamentais para a formação
Para que os ciclos de formação atinjam seus objetivos, fazem-se necessários alguns procedimentos básicos. Entre eles, citam-se: criar várias alternativas para a aplicação dos encontros, produzir e oferecer material didático adequado e de preço acessível, possibilitar nas salas de formação um ambiente fraterno por meio da oração e da partilha, combinar a formação com as orações que se fazem em todos os encontros da Renovação; isto é, jamais ministrar formação dissociada da oração.
d) Duração do ciclo de formação
A duração do ciclo de nossa formação, devido à flexibilização de tempo e oportunidade, não poderá ser determinada pelo fator tempo. Assim, estabeleceremos dois critérios para marcar o ciclo de formação. O primeiro será composto de um conteúdo mínimo, que abrangerá as áreas do conhecimento, da unção e da comunicação, que acima denominamos de ciclo essencial.
O segundo critério de marcação do ciclo de formação será bastante flexível. Ele será composto por oficinas de treinamento e por cursos de aprofundamento, à medida que as necessidades forem surgindo.
Terminamos aqui, irmãos, nossa conversa sobre a pregação no grupo de oração, com dois pensamentos do Pe. Antônio Vieira:
"Jonas durante 40 dias pregou um só assunto, e nós queremos pregar quarenta assuntos em uma hora" (Pe. Antônio Vieira, Sermões, tomo 1, p. 41).
"O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que aprender nele os que sabem (Pe. Antônio Vieira, Sermões, tomo 1, p. 40)."
Muito obrigado. Deus os abençoe.
Dercides Pires da Silva.
Coordenador Nacional do Ministério de Pregação de 2001 a 2005.

ANEXOS

ANEXO 1
MODELO DE ROTEIRO DE PREGAÇÃO
I – INTRODUÇÃO
Jesus é a fonte da Água Viva. A água mantém a vida sobre a terra. Ela é capaz de fazer um vegetal semimorto reviver. A Água que Jesus nos traz é a Força de Deus que nos dá vida nova, é a Graça que nos faz encontrar motivo para viver neste mundo, para ser feliz e para esperar o Paraíso Eterno. Caso você esteja triste, angustiado, enfermo, ou simplesmente percebendo que sua vida está perdendo o sabor, então você deve estar necessitando da Água Viva que Jesus nos traz hoje, neste grupo de oração. Prepare-se para recebê-la. Agora vou apresentar a vocês, Jesus, nosso Senhor, como sendo aquilo que realmente ele é, FONTE DA ÁGUA VIVA.
II - DESENVOLVIMENTO
1. JESUS REVELA-SE COMO FONTE DA ÁGUA VIVA
Ele é a fonte da Água de Viva.
a) Jo 4 (A samaritana no poço de Jacó)
b) A Samaritana aceitou a revelação de Jesus e ganhou:
✓ Sentido para viver
✓ Vontade para viver de forma diferente
c) A samaritana ganhou vida nova
✓ E buscou outras pessoas para beberem da Verdadeira Fonte, a fim de terem também vida nova
2. JESUS CONVIDA-NOS PARA BEBERMOS DA FONTE
a) Jo 7,37-38 (A Água Viva é o Espírito Santo).
b) Os soldados beberam da Água Viva que Jesus oferecia (Jo 7,32-47):
✓ Desistiram de prender Jesus
✓ Tiveram coragem de voltar aos chefes de mãos vazias
✓ Podem ter conseguido começar vida nova (viver diferente).
c) Testemunho
Eu mesmo, quando bebi da Água Viva, foi no dia....
III – PERORAÇÃO
✓ Jesus, durante o tempo que foi ouvido pela samaritana e pelos soldados, pessoas de vida difícil e sofrida, cujos corações estavam empedernidos, provou que é realmente a fonte da Água Viva, pois deu-lhes novo ânimo, nova coragem, novo sentido na vida.
✓ Agora é chegada a nossa vez de experimentar o que a samaritana e os soldados experimentaram. Agora também nós somos convidados para bebermos da Água Viva que Jesus nos oferece.
✓ Bebendo da Água Viva que o Senhor nos dá, que é o Espírito Santo, teremos vida nova. Como a água da chuva faz a semente brotar, dá novo viço à laranjeira e colore de vermelho as rosas, o Espírito Santo nos dará entusiasmo para viver e esperança de vencer, e vencer com Jesus, em qualquer circunstância desta vida. Isso é VIDA NOVA, isso é beber na FONTE DE ÁGUA VIVA.
✓ Fiquemos de pé para beber da Água Viva, para receber o Espírito Santo, a Água Viva, a fim de termos vida nova.
2. ORAÇÃO FINAL
✓ Orar pedindo um novo Batismo no Espírito Santo (Lc 11,13).
Obs.: A introdução e a peroração não precisam conter texto. Basta que tenham as ideias chaves que servirão de guia para o pregador e a pregadora. Em nosso modelo inserimos os textos para facilitar o entendimento do leitor. Outra coisa, a apresentação do pregador é feita por quem coordena o evento (encontro), por isso o roteiro de pregação não contempla os itens de tal apresentação. Nisso a pregação é diferente do ensino.
Muito obrigado. Deus os abençoe.

ANEXO 2
ROTEIRO PARA O CICLO CARISMÁTICO NO GRUPO DE ORAÇÃO
(A PREGAÇÃO SE INSERE NO CICLO CARISMÁTICO)
✓ Acolhimento (cânticos iniciais, animação, momento mariano): 15 minutos;
✓ Invocação do Espírito Santo (para se preparar para o perdão): 10 minutos;
✓ Penitência (oração de perdão): 10 minutos;
✓ Pequenos louvores em forma de ações de graça (agradecimentos): 10 minutos (OPCIONAL);
✓ Pregação: 10 minutos;
✓ RESPOSTA À PALAVRA PROCLAMADA (em forma de pedido de perdão, aceitação da vontade de Deus que foi proclamada na pregação, orações espontâneas, Batismo no Espírito Santo, grandes louvores, orações de cura, escuta profética etc.): 60 minutos;
✓ Avisos: 5 minutos;
✓ Encerramento.




O lugar das Sagradas Escrituras na Doutrina da Igreja, segundo o Catecismo


Com efeito, por muito diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus, de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa.

comshalom

Como comentamos nas matérias anteriores, o Catecismo, entre os parágrafos 81 a 83, já começa a explicar a relação entre a Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras. Porém, a importância dada à Palavra de Deus é tão notória, que o Catecismo, em seus parágrafos 101 e 102, continua evidenciando o valor dos textos bíblicos.

Leia: "Na condescendência de sua bondade Deus, para se revelar aos homens, fala-lhes em palavras humanas: 'As palavras de Deus, com efeito, expressas por línguas humanas, tornaram-se semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens assumindo a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos homens. Por meio de todas as palavras das Sagradas Escrituras, Deus pronuncia uma só Palavra, seu verbo único, no qual se expressa por inteiro".

Essas convicções expressas pelo documento, fazem lembrar um belo princípio que alguns atribuem a São Francisco de Assis: "Às vezes é difícil para um pobre vir até nós. Então precisamos ir ao encontro do pobre". Deus, como um Pai atento e rico de glória e poder, vem ao nosso encontro e fala conosco, seus pobres filhos, numa linguagem simples e compreensível no âmbito da fé e da própria razão. 

As Escrituras Sagradas, como professa a fé da Igreja, tiveram como autor o próprio Deus. Sobre esse ponto, leia o que o Catecismo diz no parágrafo 104: "Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra continuamente o seu alimento e a sua força, porque nela não recebe apenas uma palavra humana, mas o que ela é na realidade: a Palavra de Deus. 'Nos livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos Céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos, a conversar com eles'".

Deus conversa, ou melhor, entra em relação com o homem, usando como instrumentos os componentes próprios da condição humana, tais como sensibilidade, afeto e, principalmente, a razão. A faculdade da razão é essencial para se ter fé, pois a razão é a instância relacional que induz o homem a se questionar sobre a essência e sentido último de tudo o que existe. Foi apoiado nessa convicção que o Papa João Paulo II fez essa belíssima declaração: "A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio" (Fides et Ratio, 1998). 

 A graça de Deus, por meio da fé, ilumina a razão e as duas juntas contribuem para esse mergulho relacional do homem em Deus, por meio das Escrituras Sagradas. 

O Espírito Santo, grande intérprete dos textos bíblicos

Outra verdade que o Catecismo evidencia de forma bela é que a interpretação correta e profunda da Palavra de Deus só pode ser feita por meio do mesmo Espírito que a inspirou: "Nas Sagradas Escrituras, Deus fala aos homens à maneira dos homens. Para interpretar a Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles" (CIC 109).   

Para mergulhar nos ensinamentos bíblicos, então, faz-se necessário levar em conta os fatores históricos, religiosos e culturais nos quais seus autores viveram. Não espere que um autor bíblico fale sobre celular, televisão, rádio, aviões, fogão a gás etc.. Eles não dispunham desses recursos modernos, logo, Deus não falaria com eles usando isso como tema de exortação e consolação. No entanto, eram tão essenciais e antropológicos os conflitos e dúvidas que eles traziam, que as respostas que encontraram na relação com Deus podem iluminar os homens de todos os tempos e lugares. A Palavra, dessa forma, se faz viva e mais que atual.

Depois, atento aos constantes perigos de equívocos e mau uso dos textos bíblicos, o Concílio Vaticano II indicou três critérios para uma interpretação correta dos mesmos, como vemos nos parágrafos 112 a 114 do Catecismo:

Parágrafo 112: "Prestar muita atenção ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira"; 

Parágrafo 113: "Ler a Escritura dentro da Tradição viva da Igreja inteira, os ensinamentos dos grandes nomes da Patrística etc.";  

Parágrafo 117: "Estar atento ao sentido espiritual, literal, alegórico, moral e analógico da fé. Por 'analogia da fé' entendemos a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação".

Além dessas orientações doutrinais para a interpretação dos textos bíblicos, o Catecismo também chama a atenção para um olhar particular que se deve ter para o Antigo e o Novo Testamentos, de modo que a experiência com Cristo e sua Boa Nova seja a "lente de contato" para a leitura frutuosa dos textos da antiga Aliança:  "Os cristãos leem, pois, o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Mas não deve fazer-nos esquecer de que ele mantém o seu valor próprio de Revelação, reafirmado pelo próprio Jesus, nosso Senhor. Aliás, também o Novo Testamento requer ser lido à luz do Antigo. A catequese cristã primitiva recorreu constantemente a este método. Segundo um velho adágio, o Novo Testamento está oculto no Antigo, enquanto o Antigo é desvendado no Novo" (CIC 129).

Tamanha é a importância da Palavra de Deus na vida da Igreja, que o Catecismo termina esse capítulo dizendo: "É tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual. É necessário que 'os fiéis tenham largo acesso à Sagrada Escritura'".  

Que o nosso estudo das Sagradas Escrituras seja, portanto, como a alma da Sagrada Teologia e do anúncio de Jesus. 

 



Fonte: https://comshalom.org/o-lugar-das-sagradas-escrituras-na-doutrina-da-igreja-segundo-o-catecismo/

22 de maio de 2023

Quantos abraços são necessários para sobreviver?


O abraço reduz o estresse, aumenta a proteção, dá a segurança, envolve a dor, consola o choro, acolhe a felicidade, direciona no medo, acalma o desespero, aquece o frio, libera o perdão e restaura a confiança. O abraço tem os mesmos braços que podem consolar um luto de uma partida, como podem segurar uma vida que acabou de nascer.

Dessa forma, as feições físicas ajudam a manter em harmonia as nossas emoções, e o abraço pode reduzir o estresse, pois, estimula a liberação de dopamina — "hormônio do prazer" —, bem como a serotonina — "hormônio do bem estar"—, e a ocitocina —"hormônio do amor".

"Precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver. Precisamos de 8 abraços por dia para nos manter. Precisamos de 12 abraços por dia para crescer" (Psicoterapeuta norte-americana Virginia Satir). Ao abraçar, promovemos benefícios para a saúde física e mental, tanto para si quanto para o outro que é abraçado.

Créditos: PeopleImages by GettyImages/cancaonova.com

Os abraços salvam vidas

Diversos estudos evidenciam que o abraço pode reduzir batimentos cardíacos, pressão sanguínea, tudo isso devido ao contato da pele que possui uma rede de centros de pressão que estão em contato com o cérebro, por meio de nervos que estão em conexão com vários órgãos, dentre eles o coração.

Dentro do abraço temos o contato que ativa os receptores de pressão da pele, os corpúsculos de Pacini, que respondem, principalmente, à pressão profunda, emitindo sinais para o nervo vago imediatamente. Há uma estimulação do nervo vago que desempenha um papel importante no sistema parassimpático, o que seria uma espécie de freio quando estamos com muito estresse.


O afastamento causado pela pandemia de Covid-19

E ainda após a pandemia, muitos se encontram com receio de abraçar e de se aproximar, mas com toda essa explicação podemos perceber que o abraço nos causa mais benefícios do que malefícios.

Quantos abraços não dados, quantas vidas não tocadas, quantos corações não consolados; mas basta um olhar atento e um pouco mais demorado ao redor para perceber quem precisa desse abraço, e quem ainda pode ser abraçado.

Quando foi a última vez que você abraçou quem você ama? Os seus pais? Os seus filhos? O seu marido? A sua esposa? Os seus irmãos? Ou ainda aquele amigo que você tanto ama? Ou parabenizou alguém com um abraço bem dado? Ou consolou alguém?

Abrace agora!

No ano passado, após um acidente, eu precisei de uma cirurgia para conservar o movimento do meu braço, e também respeitar o tempo de repouso, sendo assim, eu tive de economizar nos abraços. E quanto isso me fez falta! A nossa vida é um brevíssimo segundo.

Se você pode abraçar, abrace agora! Se você pode amar, ame agora! Que sejamos lembrados pelo que fomos e agimos! Que possamos construir o nosso legado agora, começando pelas nossas atitudes a serem eternizadas aqui, nesta terra.

Rafaela Rodrigues – Missionária, Psicóloga, Pós Graduanda em Análise Existencial e Logoterapia Frankliana.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/quantos-abracos-sao-necessarios-para-sobreviver/


19 de maio de 2023

A Ascensão de Jesus Cristo: entronização à direita de Deus


A Ascensão de Jesus Cristo é um evento que marca a partida física de Jesus Cristo da Terra. Após a ressurreição, Jesus apareceu aos Seus discípulos várias vezes durante um período de quarenta dias, ensinando-os e preparando-os para a missão que teriam pela frente.

No quadragésimo dia, Jesus levou Seus discípulos para o Monte das Oliveiras. Abençoou-os e, em seguida, subiu ao céu diante de seus olhos. A Ascensão de Jesus é celebrada como um evento importante na tradição cristã. É considerada como a conclusão do ministério terreno de Jesus Cristo e a Sua entronização à direita de Deus Pai.

Dogmas da fé

A Ascensão é celebrada, geralmente, ocorrendo 40 dias após o domingo de Páscoa, um dos dogmas da fé cristã. Dogmas são verdades de fé fundamentais que são consideradas inquestionáveis e essenciais para a doutrina cristã. A proclamação do dogma da Ascensão de Jesus Cristo não ocorreu em um único evento ou concílio específico, mas foi gradualmente aceita e desenvolvida pela tradição cristã ao longo dos séculos, pautada na revelação contida nas Sagradas Escrituras.

Créditos: sedmak by GettyImages/cancaonova.com

A crença na Ascensão de Jesus Cristo

A crença na Ascensão de Jesus Cristo é claramente afirmada em vários livros do Novo Testamento, incluindo os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos. Além disso, os primeiros cristãos acreditavam na Ascensão e celebravam-na como um evento importante, evidenciado por algumas obras dos primeiros séculos da era cristã. No século VI, foi incluído no Credo de Santo Atanásio. A crença na Ascensão de Jesus tem sido uma parte integral da doutrina e tem sido defendida pelos concílios ecumênicos, como o Concílio de Trento no século XVI.


Passagens de celebração

As bases contidas nas Sagradas Escrituras podem ser vistas a seguir:

"Então, o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus." (Marcos 16,19)
"E, levantando as mãos, os abençoou. E aconteceu que, enquanto os abençoava, se apartou deles e foi elevado ao céu." (Lucas 24,50-51)
"Enquanto os abençoava, ele se afastou deles e foi elevado ao céu." (Atos dos Apóstolos 1,9)
"Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir". (Atos dos Apóstolos 1,11)
"Porque não foi a um santuário feito por mãos que Cristo entrou, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora aparecer diante da face de Deus por nós."  (Hebreus 9,24)

Essas passagens descrevem a Ascensão de Jesus Cristo ao céu, onde Ele se sentou à direita de Deus. São frequentemente lidas e refletidas durante a celebração da Ascensão, que é um feriado litúrgico importante para muitas denominações cristãs.

Assim diz o prefácio da Ascensão I: "Vencendo o pecado e a morte, vosso Filho, Jesus, rei da glória, subiu (hoje) ante os anjos maravilhados ao mais alto dos céus. E tornou-se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade redimida, juiz do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus não para se afastar de nossa humildade, mas para nos dar a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade…



Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-ascensao-de-jesus-cristo-entronizacao-a-direita-de-deus/


17 de maio de 2023

Matrimônio, sinal do amor


No sacramento do matrimônio, os noivos vão aceitar essa missão. Vão dizer ao Senhor: "Sim, aceito que meu amor se transforme em reflexo do Seu". Quero amar meu cônjuge não segundo meus desejos, mas tratar de os amar como o Senhor ama a Igreja, como Ele ama a humanidade inteira, como ama cada ser humano.

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Na primeira Carta de S. João podemos ler não somente quem é Deus, mas também qual a razão de tudo o que somos e temos: "Deus é Amor". Deus ama porque é o Amor, e nós amamos porque Deus nos amou primeiro. No Catecismo da Igreja Católica explica do mistério do casamento e da família justamente transmitindo isto:

"Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação inata e fundamental de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Tendo-os criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom aos olhos do Criador."

E este amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e realizar-se na obra comum de preservação da criação: "Deus os abençoou e lhes disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" (Gn 1,28)".

Leia também| Curiosidades sobre o sacramento do Matrimônio

Cada ser humano criado no mundo é chamado a ser fecundo, a multiplicar-se, encher a terra e submetê-la. E de modo muito especial, os casais estão no mundo para realizar isto e encontrar através deste chamado a felicidade nesta vida e na vida definitiva.

Como encontrar meios?

Mas onde vamos encontrar os meios e a capacidade, de sermos, como família no mundo, a imagem e semelhança do amor absoluto e sem defeito de Deus por nós? Podemos começar conhecendo, digamos assim, o "código genético" do nosso ser mais profundo: à imagem e semelhança da Santíssima Trindade.

"A Santíssima Trindade é compreendida como família ou comunhão originária que realiza e goza eternamente o Mistério do Amor. Nesta Família existe um só coração e uma só alma como se dizia dos primeiros cristãos: cada Pessoa dá aos outros tudo o que possui. Desta forma, em mistério de unidade, as três Pessoas da Santíssima Trindade realizam o encontro de amor originário". Cada membro da Santíssima Trindade dá, acolhe e compartilha gratuitamente tudo o que é, tem e faz. Cada Pessoa não é individualista, nem se fecha sobre si mesma se opondo às outras, mas ao contrário cada um é comunicação e entrega incessante de si mesma.

Vivemos à imagem deste Amor Divino. Por isto, quando uma pessoa humana decide viver em isolamento, possuindo e desfrutando a só de si mesma, vai destruindo a si mesma e aos outros. Mas quando uma pessoa, tomando como fonte o modelo trinitário, dá tudo e se dá toda como o Pai, acolhe tudo como o Filho e compartilha tudo como o Espírito Santo, ela tem vida e gera muitas vidas.

Façamos aqui, três hipóteses para ilustrar a necessidade que cada membro da família humana tem de viver a imagem dos membros da Santíssima Trindade: Se Deus Pai, resolvesse deixar de dar-se inteiramente, para se resguardar de sofrer, estaria deixando de viver como Pai, destruindo a si mesmo. Da mesma forma aconteceria se Deus Filho, por falta de confiança, resolvesse recusar o dom do pai, inclusive o dom da Sua vontade, que é sempre amor, perderia a vida de Ressuscitado, a glória que encontra hoje ao lado do Pai. Assim também com o Espírito, se recusasse ser eternamente esse dom de amor, esse laço que une o Pai e o Filho em eterna doação mútua, perderia a razão de existir. E nós nem existiríamos.

Da mesma forma, cada membro da família humana, criada à imagem e semelhança da família divina, quando deixa de dar, acolher e ser laço que une, deixa de ser amor, e esta família não existe, não tem razão de ser. Essa terceira Pessoa da Família divina só pode se revelar a nós, em nós e através de nós quando damos a vida e acolhemos a vida.

Chegamos assim ao fundo do mistério do amor da família humana, onde cada membro precisa dar, acolher e unir, conforme cada situação concreta que vive a cada instante. Cada membro da família tem imenso valor, não pelo que é, faz ou tem, mas pelo seu ser criado á imagem e semelhança de Deus. Às vezes supomos que Deus é simplesmente amor que dá, e por isso parece-nos que receber é inferior, indigno de pessoas responsáveis. Outras vezes nos colocamos apenas numa posição receptiva, cobrando tudo do outro, sem nos abrirmos para perceber em Deus, o que estamos recusando a dar. Outras vezes estamos em situação de sermos ponto de discórdia entre os outros membros da família, esperando que outros nos unam.

Mas na família divina, a imagem da qual nasce toda família humana, não é mais quem dá, nem é menos quem recebe, nem quem à todo custo, deixa de resguardar a própria individualidade, e esquece de si mesmo para ser laço de união, compartilhando tudo o que é, tem e faz com os outros.

Assim vivia o primeiro casal humano antes do pecado. Do mesmo modo, Jesus nos dá a Graça de viver, porque Ele deu a vida para que voltemos a sermos um, como Ele e o Pai são um, no Espírito Santo, porque assim é o fruto comum do amor. Nossa família precisa ser cheia do Espírito de Deus, para ser expressão criada da perfeita comunidade de Amor divino.

Diante disso, nossa primeira atitude diante de Deus, é o agradecimento, pelo valor que temos diante de Deus, que criou cada um de nós em Cristo, para amar indistintamente, e como famílias, nos chamou a ser imagem do seu Amor. E a segunda atitude, é abrir o coração, a fim de deixar que seu Espírito de Amor penetre em nossa casa e  realize esse processo de amor em nossa vida.


Fonte: https://comshalom.org/matrimonio-sinal-do-amor/