17 de fevereiro de 2023

Conheça os aspectos litúrgicos da Quaresma


Neste artigo, iremos tratar do tema Quaresma — de modo básico e explicativo —, dando enfoque ao aspecto celebrativo litúrgico. Para isso, será usado o livro "Entrarei no altar de Deus", de Michel Pagiossi, na terceira parte. O objetivo é explicar um pouco como iniciou a Quaresma e o que ela significa, assim como cada dia do tríduo pascal. O desejo é de que você seja preparado para tal tempo litúrgico de tamanha importância. 

Desde o início do cristianismo, a solenidade da Páscoa era precedida por uma preparação, essa atitude foi ganhando peso e forma até o que vivemos hoje em dia. Santo Atanásio conta que o período quaresmal já existia no século IV, prova disso são os documentos da peregrina Egéria e as obras de Santo Agostinho. A última instrução e reforma  deu-se no Concílio Vaticano II. 

Início do tempo quaresmal

O tempo quaresmal se inicia na Quarta-feira de Cinzas e se encerra antes da Quinta-feira Santa. Somando cinco semanas e mais o Domingo de Ramos são 40 dias, por isso, chamamos de Quaresma, lembrando que a Quaresma se diferencia da Semana Santa ou Maior. O número quarenta representa os dias de Nosso Senhor no deserto, assim como os anos em que o povo Hebreu viveu no deserto e do dilúvio, por exemplo. 

Foto Ilustrativa: Coompia77 by Getty Images / cancaonova.com

Nos resultados do Vaticano II ficou estabelecido que o sentido quaresmal seria de modo duplo como seguimento da Sagrada Tradição: a lembrança do Batismo com a preparação dos catecúmenos e um tempo de penitência somado às orações. O documento que comenta o tema é a  Sacrosanctum Concilium. A Paschalis Sollemnitatis orienta que o ambiente da Igreja seja preparado para o culto com ornamentações mais sóbrias, da mesma maneira os cantos, não se canta "Aleluia". As homilias estarão voltadas para conversão, purificação, batismo e misericórdia/confissão. No V domingo se indica cobrir as imagens de santo e crucifixo até o início da Vigília Pascal.   


Quaresma é tempo de penitência e purificação

No I Domingo, aparece as tentações do Senhor; e, no II, a Sua transfiguração, seguidos de outros temas, conforme o Ano litúrgico (A,B e C). Em relação às missas votivas, ou seja, de recordação dos santos, pede-se que priorize o tempo quaresmal. A cor litúrgica referente ao tempo será o roxo, que representa a penitência e purificação. Somente no IV Domingo pode-se usar o róseo ou rosáceo referente ao chamado "Domingo Laetare" (Domingo da Alegria), o que seria o roxo com um tom de branco recordando o pré-anúncio da Páscoa. 

Também recorda-se que todas as sextas-feiras do ano, exceto solenidades, é indicado a abstinência de carne ou outra mortificação. O jejum é indicado na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta da Paixão. Deve ser escolhido por parte do fiel uma penitência e dedicado momentos mais profundos de oração, principalmente a "Via-Sacra" às sextas-feiras, assim como exames de consciência somados à confissão dos pecados. 

Tempo de encontro com Deus

Dessa maneira, atento às celebrações litúrgicas e ao que indica a Igreja, é possível viver profundos momentos de encontro com Deus e conversão por meio da prática quaresmal. Entender a liturgia e os motivos de sua execução fazem-nos celebrar, de modo mais consciente e ativo, o tom e sabor da vida cristã, assim como também os da alma.

Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos!



Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/conheca-os-aspectos-liturgicos-da-quaresma/


13 de fevereiro de 2023

Será que você tem alguns pecados de estimação?


Como superar os pecados de estimação? Como vencê-los? Então, a primeira coisa importante é não os termos mais como pecados de estimação. Se temos animais de estimação e os domesticamos, cuidamos, damos comida, alimentamos, fazemos eles crescerem, damos remédio, é ótimo! Só que, com os pecados, não podemos fazer isso, pois os pecados nós temos de matar mesmo, ter "ódio" deles.

E, por outro lado, precisamos de paciência. Porque, normalmente, esses pecados — que chamamos de veniais, menores, pecados que estão costumeiramente na nossa vida, às vezes, de anos, a vida inteira —, são diferentes daqueles pecados grandes, dos pecados graves que cometemos conscientemente contra os mandamentos. Esses pecados (pecados graves) nós temos de abandoná-los de uma vez, realmente tirá-los da nossa vida. Os pecados assim (nos zangarmos muito e facilmente ou, às vezes, acostumados numa vaidade, numa "mentirinha", aquelas coisas que acontece no dia a dia, a impaciência) são profundamente enraizados.

O que determina a personalidade de uma pessoa

Foto Ilustrativa: AegeanBlue by Getty Images / cancaonova.com

Pecados de estimação são aqueles do dia a dia

Diferente da grama que você puxa e a raiz sai, porque ela é curta, uma árvore que tem uma raiz profunda, por exemplo, a raiz de um coqueiro ou de um bambuzal, você precisa ir cavando ao redor com muito cuidado, então, você tira.


Menos um pecado, mais uma virtude

E você vai ter duas surpresas quando começar a fazer isso: a primeira é que não vai conseguir logo de primeira, e pode ser que dure meses, mas pode ser que sejam anos lutando para vencer aquele "bendito pecado". Mas se você lutar, pedir a Deus, rezar, confessar, receber eucaristia… Você vai ver que, um dia, aquele pecado será vencido. Agora, a segunda surpresa é que quando perceber que venceu aquele pecado específico, você vai ver que outras atitudes virtuosas cresceram junto com essa luta.

E isso se compara aos dedos da mão, apesar de um ser maior do que o outro, eles crescem de forma uniforme. E quando vencemos um pecado depois de lutarmos contra ele, alguma virtude cresce em nós, e você irá perceber. Digamos que você lutou para vencer a impaciência, então, você vai percebe que ficará mais paciente. Fica a dica!

Deus nos abençoe; e vamos à luta.

Autor: Padre Alexsandro Freitas – Comunidade Canção Nova

Transcrição e Adaptação – Bianca Vargas


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/sera-que-voce-tem-alguns-pecados-de-estimacao/


8 de fevereiro de 2023

Nossa Senhora nos acompanha desde muito cedo


Eu, Gilberto, nasci em uma família de fé. Minha mãe sempre foi mariana e nos ensinou a amar Nossa Senhora. Ao nascer, é habitual os médicos fazerem os procedimentos necessários e, depois, colocarem o filho no colo na mãe. No meu caso, fui retirado rapidamente da sala de parto. Minha mãe, sem saber o que estava acontecendo, imediatamente clamou por Nossa Senhora e me consagrou a Ela.

Eu não tinha sinais vitais, não chorava, não reagia… Somente depois de um tempo é que a equipe médica foi falar com minha mãe. Eles lhe disseram que me davam palmadas e eu não chorava, e chegaram a pensar que eu havia morrido, mas Nossa Senhora ouviu a angústia e a oração de minha mãe e a atendeu.

A intervenção de Nossa Senhora por meio da minha família

Na minha juventude, frequentava baladas com muita bebida. Chegava em casa nas madrugadas, alcoolizado, e mal conseguia colocar o carro na garagem. Ao entrar em casa, via a porta do quarto dos meus pais entreaberta, e minha mãe lá dentro com o terço nas mãos, rezando por mim e aguardando meu retorno. Ela só ia se deitar depois que eu chegava.

Nossa Senhora nos acompanha desde muito cedo

Crédito: melitas by GettyImages / cancaonova.com

Não tenho dúvidas de que a minha conversão se deu por meio da intercessão de minha mãe unida a Nossa Senhora. Foram muitos terços rezados por uma mãe de coração aflito, que, unida a Nossa Senhora, só queria ter o seu filho no caminho do Senhor. A sua oração foi ouvida, e hoje sou missionário de dedicação integral na Comunidade Canção Nova. Desde o meu nascimento, sou pertença de Maria e a Ela consagrado.


A cada passo que eu dou, Maria é quem me orienta

A presença discreta de Maria foi me conduzindo dia a dia a Jesus. Tenho especial amor por Ela, conto-lhe as coisas que vivo, pois sei que ela é atenta, está comigo, me escuta e atende.

Como missionário na Comunidade Canção Nova, fui transferido para Fátima, em Portugal. Lá, adentrei a Escola de Maria. Foi vontade de Deus que eu vivesse nesse lugar santo que é Fátima, terra dos Santos Jacinta e Francisco Marto, lugar bendito que Deus escolheu e para onde enviou a Mãe do Céu para nos comunicar a Sua mensagem de fé, de esperança e caridade, resposta para a nossa humanidade tão sofrida.

Foi por meio de Maria que Deus quis me fazer um homem novo, no vigor, na austeridade e mais sóbrio. Em Fátima, a terna e querida Mãe foi me conduzindo a entrar na dinâmica da espiritualidade da Mensagem de Fátima. A cada trabalho realizado na TV Canção Nova, compreendia que a Mensagem por ela trazida do Céu precisava chegar ao maior número de pessoas e me esmerava por isso. Tornei-me devoto de Nossa Senhora de Fátima e do seu Imaculado Coração.

(Texto retirado de "Rezar com a Mãe" – Gilberto e Nilza Maia)



Nilza e Gilberto Maia

Nilza e Gilberto Maia são casados, jornalistas e missionários de dedicação integral na Comunidade Canção Nova.

Nilza é membro da comunidade desde 1999; e Gilberto, desde 2000. Nilza é graduada em Comunicação Social pela UFMT e pós-graduada em counseling pelo IATES/Curitiba. Gilberto também é counselor pelo IATES/Curitiba e graduado em Gestão Comercial.

Ambos atuaram em suas próprias paróquias nas pastorais, movimentos e ações sociais. O casal viveu em Portugal por sete anos, onde realizaram a missão diretamente no Santuário de Fátima, através de transmissões diárias, para a TV, da Eucaristia e da Oração do Rosário da Capelinha das Aparições.

O casal é autor dos livros publicados pela Editora Canção Nova. Atua também no apostolado como anunciadores da Palavra de Deus, e na formação e acompanhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/nossa-senhora-nos-acompanha-desde-muito-cedo/


6 de fevereiro de 2023

5 dicas para cultivar uma vida intelectual segundo Santo Tomás de Aquino


Que legado vamos deixar no mundo para que as gerações futuras herdem os tesouros que foram apresentados a nós?

comshalom Foto: Pexels

Silêncio, recolhimento e cultivo interior. Santo Tomás foi aquele que buscou a verdade de forma incessante e deixou um grande legado que ultrapassou séculos e chegou até nós. Diante da grandiosidade da sua vida, podemos lançar uma reflexão: é possível ter uma vida intelectual constante mesmo com tantos atrativos que a modernidade nos oferece?

Parece contraditório acreditar que um homem de coração tão simples foi uma das figuras mais ilustres da história da humanidade. Nascido no ano de 1225 no sul da Itália em uma família nobre, Tomás sentiu forte chamado ao seguimento de Cristo pela via da pobreza ainda em sua juventude.

Uma vida simples e desapegada tornou-se um dos grandes anseios do seu coração, mesmo com toda a herança que poderia vir a ter caso escolhesse herdar os tesouros da sua família. O escondimento por meio da vida intelectual foi a sua marca registrada.

O desafio da permanência

Depois da grande decisão em dedicar a vida por aqueles que têm sede da verdade, ele precisaria de constância em sua nova e desafiadora missão de enriquecer a Igreja com os seus dons. Tudo isso sem olhar para trás, para o que havia deixado de precioso em sua casa, com a sua família.

Uma vocação: a vida intelectual

Santo Tomás queria entender o sentido das coisas de forma profunda e compreendeu, desde cedo, que uma trajetória entregue ao serviço de forma abnegada consistia na verdadeira felicidade. Por que reter uma vida que pode ser útil às gerações futuras?

Foi a partir dessa compreensão e por orientação do seu diretor espiritual, São Alberto Magno, que ele se decidiu pela vida intelectual em vista de orientar a Igreja na verdade do Evangelho.  

E assim ele começou a estudar Teologia e Filosofia, com o objetivo de combater as heresias que ameaçavam a herança da fé católica na época. Com essa motivação ele escreveu muitas obras, dentre as mais importantes, a ilustre "Suma Teológica" e a "Suma contra os gentios", documentos que estão entre os mais importantes na tradição da Igreja até hoje.

Uma constância em vista de um legado

Sem os seus estudos e sem uma dedicação contínua à produção intelectual, certamente hoje teríamos compreensões mais rasas sobre assuntos relacionados à nossa fé.

Santo Tomás entendeu que o seu olhar de profundidade e o seu anseio pela verdade poderiam ser fonte de esclarecimento para que gerações futuras resguardassem o tesouro deixado por Cristo para a salvação da humanidade.

Qual marca você deseja deixar no mundo?

Santo Tomás pode nos levar às seguintes reflexões: que legado vamos deixar no mundo para que as gerações futuras herdem os tesouros que foram apresentados a nós? Será que buscamos entender aquilo que vivemos e desejamos transmitir aos outros?

O cultivo da constância em um mundo de distrações

É verdade que as distrações deste século são muitas. Vivemos na sociedade na informação, em uma era de incentivo a estímulos constantes por meio das tecnologias.

Mas ao mesmo tempo em que estudar e cultivar a vida intelectual tornou-se um desafio, esses ofícios também ganharam ricos recursos que permitem um "leque" de formas novas de adquirir conhecimento: hoje as fontes de pesquisa são muitas e aqueles que optam por levar à sério os seus projetos no campo intelectual podem deixar uma grande contribuição para a humanidade.

Você sente o chamado a contribuir na formação da humanidade por meio dos estudos? Precisa criar certa rotina intelectual em vista dos seus atuais objetivos? Tem dificuldade em cultivar o hábito de estudar?

O comshalom.org separou cinco dicas concretas para que você cultive uma vida intelectual, assim como Santo Tomás, sem desistir facilmente.

1 – Reserve um lugar belo, que eleve a sua alma

A experiência com a beleza pode nos aproximar de Deus, que é o Criador de tudo o que é belo, harmônico e inspirador. Lugares que tem acesso à paisagens belas, por exemplo, podem dar uma experiência mais profunda com a reflexão, que é tão essencial para quem trabalha com o intelecto.

2 – Silêncio é fundamental

É claro que cada pessoa tem uma forma diferente de lidar com o barulho e a dispersão: alguns têm mais facilidade, outros mais dificuldade de voltar ao foco. No entanto, o silêncio é indispensável para quem deseja desenvolver um pensamento lógico. É no silêncio que o pensamento ganha forma, concretude. Em um mundo barulhento, nem sempre conseguimos lidar com o silêncio por muito tempo, mas uma dica é começar aos poucos, se você tem mais dificuldade. Se você deseja estudar durante duas horas e precisa de silêncio, experimente começar com trinta minutos.

3 – Tenha um objetivo definido

A vida intelectual toma um curso mais fluido quando existe um objetivo claro de contribuição para a humanidade. Faça perguntas a si mesmo como: 1. O que produzo pode transformar a vida de alguém? 2. Como este conhecimento que eu desejo transmitir pode ser aplicado na vida das pessoas, no cotidiano "bruto"? 3. Essa produção vai deixar uma herança na sociedade?; todas essas motivações podem ser um impulso quando o desânimo bater.

4 – Crie uma rotina

O hábito é valoroso quando o assunto é a vida intelectual. Santo Tomás de Aquino viveu a luta pela constância. Nem sempre estudar é prazeroso, mas o dever ordinário esconde algo de belo: o sentido de missão. O intelectual à serviço do outro é, antes de tudo um missionário, um mensageiro que optou por compartilhar generosamente o conhecimento que adquiriu. Tratar os estudos como um trabalho pode ajudar muito no desafio da constância.

5 – Conte com a graça de Deus

Não esqueça que, antes de tudo, Ele é o perfeito exemplo de constância. A perseverança só é possível com um olhar sobrenatural sobre aquilo que nos é confiado. As Sagradas Escrituras contém preciosos textos que podem nos encher de esperança. Separar um tempo para rezar e meditar com a Palavra de Deus é essencial para conseguir ter bom êxito em uma rotina de estudos.

Que Santo Tomás lhe dê a graça de não desistir em meio aos desafios, e lhe dê a certeza de que o cristão veio ao mundo para deixar uma marca! Não desista quando o dever parecer difícil: é ele que eleva a sua alma e pode te levar ao Céu.



Fonte: https://comshalom.org/5-dicas-para-cultivar-uma-vida-intelectual-segundo-santo-tomas-de-aquino/

3 de fevereiro de 2023

Você acha que de boas intenções o inferno está cheio?


Muito provavelmente você já ouviu que "de boas intenções o inferno está cheio". Essa afirmação traz uma primeira conclusão de que é possível atribuir valor à intenção: boa ou má. Então, surge uma reflexão sobre a dissociação entre a ação e o que se pretende com ela. Mas se as intenções são boas, não deveriam nos levar diretamente à salvação? Será mesmo que de boas intenções o inferno está cheio?

A intenção é aquilo que se pretende, o que se deseja, que se quer. É possível até mesmo celebrar missas em intenções particulares, como permite o Código de Direito Canônico (Cân. 945). O comentarista das missas geralmente anuncia esse momento com a frase "intenções para essa Santa Missa". As intenções também são previstas no Código de Direito Canônico para a vida consagrada (Cân. 597) e para os sacramentos do batismo (Cân. 861) e da ordem (Cân. 1029). Nesses casos, o texto atribuiu o valor de "reta intenção". Claro que se espera de todo cristão que suas ações sejam sempre movidas por boas intenções. São Josemaria Escrivá ensina que "a retidão de intenção está em procurar 'somente e em tudo' a glória de Deus". Entendemos, até aqui, que a boa intenção está intimamente relacionada a vida cristã.

Quais são as suas intenções?

Na obra "O Capital", Karl Marx escreveu que "o caminho do inferno está calçado de boas intenções" logo após dar o exemplo de alguém que apresentava uma razão justa para sua ação, mas que essa ação tinha, na verdade, um propósito negativo. Talvez seja essa obra que popularizou a ideia de que de boas intenções o inferno está cheio, mas Marx não é denominado o autor desse pensamento. Podemos encontrar nas cartas de São Paulo sobre pessoas que "pregam Cristo por inveja", os quais é "por espírito de intriga que anunciam o Cristo; suas intenções não são puras" [1]. Assim, avançamos em um passo mais profundo no entendimento das intenções: é possível, até mesmo, anunciar Jesus Cristo com má intenção, ou seja, qualquer ação pode ser imbuída de um objetivo injusto e malicioso. Como então reconhecer as boas intenções?

Na parábola do joio e do trigo [2], Jesus conta sobre um homem que semeou boa semente (de trigo) e sobre o inimigo que semeou joio (uma erva daninha) no meio do trigo. Quando os empregados perceberam que crescia joio entre o trigo, correram para avisar o patrão, eufóricos, querendo logo arrancar o joio. Mas o patrão lhes pede paciência e orienta que esperem o momento da colheita, quando o joio será jogado na fogueira e o trigo guardado no celeiro do patrão. Nem sempre é fácil reconhecer o que é joio e o que é trigo, como nem sempre é fácil reconhecer quais são boas e más intenções. É preciso esperar o momento da colheita, é preciso ter sincera confiança na vinda do Senhor.

Vigiai a si mesmo


São Paulo ensinou também que a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que uma espada de dois gumes; ela penetra até dividir alma e espírito, juntas e medulas. Ela sonda as intenções e os pensamentos do coração. Nenhuma criatura é capaz de esconder-se de seus olhos, mas todas as coisas são como que nuas e descobertas aos olhos daquele a quem devemos prestar contas [5]. Então, é possível esconder as más intenções dos homens, mas não se pode escondê-las de Deus.

Deus muda a má para a boa intenção

Por fim, a resposta é não! Não há boas intenções no inferno. Há mentirosos, manipuladores e hipócritas. Há aqueles que fingiam boas obras, mas seus objetivos verdadeiros eram egoístas. Essa miséria de caráter se revelará diante de Deus, que conhece todos os corações. A nós, humildes pecadores, cabe vigiar e orar pela retidão de nossas próprias intenções, sempre seguindo o caminho da salvação. Que Maria, Santa Mãe de Deus, rogue por nós para que sejamos, em nossas obras e intenções, dignos das promessas de Cristo. Que assim seja!

Citações do texto Bíblico

[1] (Fl 1, 12-20); [2] (Mt 13, 24-30); [3] (1Cor 4, 5); [4] (Mt 7, 1); [5] (Hb 4, 12-
13); [6] (Gn 37, 12-36); [7] (Gn 50, 20); [8] (Rm 8, 31); [9] (Is 32, 8).

Referências

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
ESCRIVÁ DE BALAGUER, Josemaría. Forja, Quadrante, São Paulo, 1987.
FRANCISCO. Audiência Geral. Vaticano, 10 jan. 2018.
FRANCISCO. Angelus. Vaticano, 19 jul. 2020.

MARX, Karl. O Capital – Parte III – Capítulo 7: Processo de Trabalho e Processo
de Produção de Mais-Valia. [ma] Marxists Internet Archive:
dominiopublico.gov.br
SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de
Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos; palestrante focado na doutrina cristã; advogado, tecnólogo e professor. Dúvidas e sugestões, fale comigo nas redes sociais: @luisguconde (Facebook, Twitter e Instagram). Agendamento de palestras e cursos: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/voce-acha-que-de-boas-intencoes-o-inferno-esta-cheio/


1 de fevereiro de 2023

Exercer nossa vocação é habitar no projeto de Deus


"Sei muito bem do projeto que tenho em relação a vós, oráculo do Senhor! É um projeto de felicidade, não de sofrimento: dar-vos um futuro, uma esperança!" (Jr 29,11) Existe um projeto divino a nosso respeito: um projeto de felicidade! Reconhecer a vocação para a qual Deus nos chama é habitar esse projeto. Deus, quando nos cria, cria-nos com uma identidade que diz das características específicas, dons e talentos que Ele nos dá, tornando-nos capazes de responder à vocação, ao chamado que Ele nos faz. Às vezes, passamos a vida toda voltados para fora, para o que é material, intelectual, mas não olhamos para o nosso ser, e, portanto, não nos encontramos com a nossa vocação. Vocação é um chamado de Deus, não se resume em uma atuação profissional, não acontece no que fazemos somente, diz de quem nós somos. É um dado de criação, está na nossa identidade.

Só aquele que nos cria pode nos vocacionar. E se quem chama é o Senhor, é só a partir de uma relação com Ele que podemos reconhecer nossa vocação. Somente diante de Deus o homem pode conhecer a si mesmo. Não se descobre nem se vive uma vocação fora da oração, da relação com Deus. Toda vocação nasce da relação com Ele, onde tomamos consciência de quem nós somos e de quem Deus é. É na caminhada com Deus que vai se revelando o Seu projeto a nosso respeito.

Créditos: PeopleImages by GettyImages / cancaonova.com

Você conhece o projeto de Deus para sua vida?

O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1878, ensina-nos que "todos os homens são chamados ao mesmo fim: o próprio Deus". Essa é a essência da vocação de todos nós: somos chamados a existir n'Ele, e todo o nosso viver precisa ser para estar com Ele, até que um dia estejamos unidos na eternidade que nos espera. Contudo, temos um caminho a percorrer até lá, e a esse caminho chamamos de santidade, nossa primeira vocação.

Papa Francisco, na exortação Gaudette Exultate, relata que "todos somos chamados à santidade". Existe um caminho onde Deus deseja nos encontrar e nos santificar, esse caminho diz do projeto de Deus em relação a nós. Na nossa liberdade para escolher, acabamos por conquistar muitas coisas, fazemos os nossos próprios projetos e não nos abrimos a conhecer o projeto de Deus para nós.


Inspirados pelo Espírito Santo

O projeto d'Ele será sempre uma proposta, nunca uma imposição. Ele não nos faz marionetes. Deus se revela de maneira concreta na nossa vida. Faz-nos capazes de compreender os Seus desígnios a partir da ação do Espírito Santo em nossa inteligência e, em seguida, por meio do mesmo Espírito, convida nossa vontade a responder ao Seu chamado.

Porém, a escolha, a adesão, é sempre nossa. Não seremos punidos se não acolhermos esse chamado, mas, como Pai insistente, Ele continuará nos convidando a todo tempo a sermos aquilo que Ele sonhou a nosso respeito. Somente quando nos sabemos amados, somos capazes de responder ao chamado. Viver a vocação é uma aventura que exige: confiar, esvaziar e deixar. Só deixa algo aquele que encontrou "o Amor". É preciso passar pelo olhar amoroso de Deus. Ele nos criou, amou-nos e, por este amor, deseja-nos uma vida de felicidade. Como diz São Paulo: "O amor lança fora todo temor". Só por amor somos capazes de responder Àquele que nos amou primeiro, pois em Seu amor somos convencidos de que Seus projetos em relação a nós são projetos de felicidade, e sempre serão melhores que os nossos.



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/exercer-nossa-vocacao-e-habitar-no-projeto-de-deus/


28 de janeiro de 2023

Você tem nutrido sentido à sua vida?


Em 1913, nascia um filósofo fruto de seu tempo, Albert Camus, chamado de "O absurdista". Esse homem cresceu em meio ao contexto caótico de guerras, decepções com as maldades humanas e questionamentos contra o domínio da técnica ou da estrutura política. Realmente um ambiente instável, situado em sua vida adulta de 2º Guerra Mundial e pós-guerra. Por isso, sua filosofia e seus pensamentos ocupam a sua historicidade.

Ele caracterizou-se por uma filosofia humanista libertária, ou seja, tendo a centralidade no homem e em sua liberdade. Traz consigo o ceticismo e marca a história pelo auge da desesperança. Assim, sua pergunta fundamental é "se a vida vale ou não a pena ser vivida". Para ele, nada mais importa, nem a metafísica, nem ontologia, crença ou ciência, o que vale é responder esse questionamento. Com a ironia própria da filosofia, ele faz refletir os motivos do suicídio, faz refletir a necessidade de continuar vivendo. (CAMUS, O mito de Sísifo. 1942).

Dessa maneira, afirma categoricamente que a vida não vale a pena ser vivida. Para ele, a vida é infrutífera, sem sentido, e isso é uma verdade incontestável, truísta. Obviamente, por detrás dessas afirmações está o problema filosófico milenar do mal e do sofrimento. Diante dessa questão, que em sua época, e em tantas outras como atualmente, vigorada de modo fatídico pelas guerras e hoje evidenciada pela pandemia. Responder ao mal é perguntar-se por Deus, pelo homem, pelo bem, pela transcendência.

Créditos: by Getty Images / DjelicS/cancaonova.com

Consequências do absurdo

O autor acredita que o absurdo apresenta-se na vida humana e questiona a todo tempo, com um ciclo de vai e vem, tendo duas respostas em cima do truísmo: ou o suicídio ou continuar vivendo. A grande tomada de consciência não é descobrir o absurdo, isso todos percebemos, mas é o que ele gera em cada um. Por muitos, o absurdo é descoberto e ignorado, descoberto e respondido com uma ilusão que seria científica, religiosa etc. O raciocinar gera a descoberta do absurdo.

Na proposta de Albert Camus, percebe-se que está envolta de um teor poético e até místico quando se coloca essa vivência estritamente gratuita, sem nada esperar, sem nada iludir-se, uma vida totalmente dedicada à aceitação do absurdo e, ainda por cima, uma felicidade nesse ambiente. No mínimo, é uma realidade desumana na qual se anula as potencialidades humanas e seu desenvolvimento, sua liberdade levada ao extremo sem necessidade de nada, sem dependência alguma a não ser de si mesmo e de sua aceitação da vida absurda. Se não uma proposta desumana, então estritamente pessoal e sem alcance universal e comunitário. Quem seria capaz de conviver e viver sem esperança? Sem sonhos? Sem redenção? Sem sentido?

Sua vivência seria realmente uma abnegação da essência humana, uma renúncia maior do que o homem é capaz de assumir. Cabe recordar a experiência de João da Cruz, no livro "A subida do Monte Carmelo", que propõe um desapego semelhante na busca do nada em prol do tudo. Realmente, uma experiência mística e nem sempre acessível ao complexo da universalidade humana, entretanto João ainda esperava algo em troca, ainda tinha algo que o fazia lutar e renunciar: A esperança em Deus. Ao anular essa esperança maior, no caso de Camus, não se encontraria forças para suportar as renúncias e os sofrimentos humanos, seria uma verdadeira afronta psicológica.

A esperança é o sentido da vida

Também cabe comentar a perspectiva do suicídio, no qual é aceito e justificado pelo autor mesmo não sendo a melhor resposta. Essa atitude reflete alguém que perdeu as esperanças e por isso os sentidos de viver, talvez seria a conclusão de muitos que procurassem aderir a obra absurdista. Viver é realmente ter esperança em algo, e por isso nutrir sentido. Dentro desse viés, para o catolicismo, o suicídio é sempre uma realidade que choca, que incomoda e espanta. Obviamente, não é a fonte final do julgamento, mas cria um ambiente de preocupação e comprometimento com tal realidade.

O questionamento fundamental de sua filosofia já nasce sanado, não há o que perguntar-se sobre o valor da vida que é o mais relevante diante da perspectiva cristã. Mas é uma questão compreensível diante do ambiente de Guerras mundiais e de pessoas que depositaram suas raízes mais profundas em esperanças insólitas. Em meio às decepções e frustrações do tempo e do contexto vivido, é compreensível esse tipo de proposta e de solução filosófica, demonstra um viés de alguém que tem medo de sofrer porque não tem esperança, alguém que tem medo de ser enganado e frustrar-se porque ainda não fez a experiência com o fundador do Universo e seu amor redentor. Em Deus nasce a esperança sólida e firme, que se estabelece no hoje projetada para a eternidade.



Rafael Vitto

Rafael Vitto, natural da cidade de Cuiabá (MT), é membro da Comunidade Canção Nova desde 2015. Hoje, ele é seminarista e estudante da curso de Filosofia na Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/voce-tem-nutrido-sentido-a-sua-vida/