3 de fevereiro de 2023

Você acha que de boas intenções o inferno está cheio?


Muito provavelmente você já ouviu que "de boas intenções o inferno está cheio". Essa afirmação traz uma primeira conclusão de que é possível atribuir valor à intenção: boa ou má. Então, surge uma reflexão sobre a dissociação entre a ação e o que se pretende com ela. Mas se as intenções são boas, não deveriam nos levar diretamente à salvação? Será mesmo que de boas intenções o inferno está cheio?

A intenção é aquilo que se pretende, o que se deseja, que se quer. É possível até mesmo celebrar missas em intenções particulares, como permite o Código de Direito Canônico (Cân. 945). O comentarista das missas geralmente anuncia esse momento com a frase "intenções para essa Santa Missa". As intenções também são previstas no Código de Direito Canônico para a vida consagrada (Cân. 597) e para os sacramentos do batismo (Cân. 861) e da ordem (Cân. 1029). Nesses casos, o texto atribuiu o valor de "reta intenção". Claro que se espera de todo cristão que suas ações sejam sempre movidas por boas intenções. São Josemaria Escrivá ensina que "a retidão de intenção está em procurar 'somente e em tudo' a glória de Deus". Entendemos, até aqui, que a boa intenção está intimamente relacionada a vida cristã.

Quais são as suas intenções?

Na obra "O Capital", Karl Marx escreveu que "o caminho do inferno está calçado de boas intenções" logo após dar o exemplo de alguém que apresentava uma razão justa para sua ação, mas que essa ação tinha, na verdade, um propósito negativo. Talvez seja essa obra que popularizou a ideia de que de boas intenções o inferno está cheio, mas Marx não é denominado o autor desse pensamento. Podemos encontrar nas cartas de São Paulo sobre pessoas que "pregam Cristo por inveja", os quais é "por espírito de intriga que anunciam o Cristo; suas intenções não são puras" [1]. Assim, avançamos em um passo mais profundo no entendimento das intenções: é possível, até mesmo, anunciar Jesus Cristo com má intenção, ou seja, qualquer ação pode ser imbuída de um objetivo injusto e malicioso. Como então reconhecer as boas intenções?

Na parábola do joio e do trigo [2], Jesus conta sobre um homem que semeou boa semente (de trigo) e sobre o inimigo que semeou joio (uma erva daninha) no meio do trigo. Quando os empregados perceberam que crescia joio entre o trigo, correram para avisar o patrão, eufóricos, querendo logo arrancar o joio. Mas o patrão lhes pede paciência e orienta que esperem o momento da colheita, quando o joio será jogado na fogueira e o trigo guardado no celeiro do patrão. Nem sempre é fácil reconhecer o que é joio e o que é trigo, como nem sempre é fácil reconhecer quais são boas e más intenções. É preciso esperar o momento da colheita, é preciso ter sincera confiança na vinda do Senhor.

Vigiai a si mesmo


São Paulo ensinou também que a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que uma espada de dois gumes; ela penetra até dividir alma e espírito, juntas e medulas. Ela sonda as intenções e os pensamentos do coração. Nenhuma criatura é capaz de esconder-se de seus olhos, mas todas as coisas são como que nuas e descobertas aos olhos daquele a quem devemos prestar contas [5]. Então, é possível esconder as más intenções dos homens, mas não se pode escondê-las de Deus.

Deus muda a má para a boa intenção

Por fim, a resposta é não! Não há boas intenções no inferno. Há mentirosos, manipuladores e hipócritas. Há aqueles que fingiam boas obras, mas seus objetivos verdadeiros eram egoístas. Essa miséria de caráter se revelará diante de Deus, que conhece todos os corações. A nós, humildes pecadores, cabe vigiar e orar pela retidão de nossas próprias intenções, sempre seguindo o caminho da salvação. Que Maria, Santa Mãe de Deus, rogue por nós para que sejamos, em nossas obras e intenções, dignos das promessas de Cristo. Que assim seja!

Citações do texto Bíblico

[1] (Fl 1, 12-20); [2] (Mt 13, 24-30); [3] (1Cor 4, 5); [4] (Mt 7, 1); [5] (Hb 4, 12-
13); [6] (Gn 37, 12-36); [7] (Gn 50, 20); [8] (Rm 8, 31); [9] (Is 32, 8).

Referências

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
ESCRIVÁ DE BALAGUER, Josemaría. Forja, Quadrante, São Paulo, 1987.
FRANCISCO. Audiência Geral. Vaticano, 10 jan. 2018.
FRANCISCO. Angelus. Vaticano, 19 jul. 2020.

MARX, Karl. O Capital – Parte III – Capítulo 7: Processo de Trabalho e Processo
de Produção de Mais-Valia. [ma] Marxists Internet Archive:
dominiopublico.gov.br
SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de
Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.



Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos; palestrante focado na doutrina cristã; advogado, tecnólogo e professor. Dúvidas e sugestões, fale comigo nas redes sociais: @luisguconde (Facebook, Twitter e Instagram). Agendamento de palestras e cursos: luisguconde@gmail.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/voce-acha-que-de-boas-intencoes-o-inferno-esta-cheio/


1 de fevereiro de 2023

Exercer nossa vocação é habitar no projeto de Deus


"Sei muito bem do projeto que tenho em relação a vós, oráculo do Senhor! É um projeto de felicidade, não de sofrimento: dar-vos um futuro, uma esperança!" (Jr 29,11) Existe um projeto divino a nosso respeito: um projeto de felicidade! Reconhecer a vocação para a qual Deus nos chama é habitar esse projeto. Deus, quando nos cria, cria-nos com uma identidade que diz das características específicas, dons e talentos que Ele nos dá, tornando-nos capazes de responder à vocação, ao chamado que Ele nos faz. Às vezes, passamos a vida toda voltados para fora, para o que é material, intelectual, mas não olhamos para o nosso ser, e, portanto, não nos encontramos com a nossa vocação. Vocação é um chamado de Deus, não se resume em uma atuação profissional, não acontece no que fazemos somente, diz de quem nós somos. É um dado de criação, está na nossa identidade.

Só aquele que nos cria pode nos vocacionar. E se quem chama é o Senhor, é só a partir de uma relação com Ele que podemos reconhecer nossa vocação. Somente diante de Deus o homem pode conhecer a si mesmo. Não se descobre nem se vive uma vocação fora da oração, da relação com Deus. Toda vocação nasce da relação com Ele, onde tomamos consciência de quem nós somos e de quem Deus é. É na caminhada com Deus que vai se revelando o Seu projeto a nosso respeito.

Créditos: PeopleImages by GettyImages / cancaonova.com

Você conhece o projeto de Deus para sua vida?

O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1878, ensina-nos que "todos os homens são chamados ao mesmo fim: o próprio Deus". Essa é a essência da vocação de todos nós: somos chamados a existir n'Ele, e todo o nosso viver precisa ser para estar com Ele, até que um dia estejamos unidos na eternidade que nos espera. Contudo, temos um caminho a percorrer até lá, e a esse caminho chamamos de santidade, nossa primeira vocação.

Papa Francisco, na exortação Gaudette Exultate, relata que "todos somos chamados à santidade". Existe um caminho onde Deus deseja nos encontrar e nos santificar, esse caminho diz do projeto de Deus em relação a nós. Na nossa liberdade para escolher, acabamos por conquistar muitas coisas, fazemos os nossos próprios projetos e não nos abrimos a conhecer o projeto de Deus para nós.


Inspirados pelo Espírito Santo

O projeto d'Ele será sempre uma proposta, nunca uma imposição. Ele não nos faz marionetes. Deus se revela de maneira concreta na nossa vida. Faz-nos capazes de compreender os Seus desígnios a partir da ação do Espírito Santo em nossa inteligência e, em seguida, por meio do mesmo Espírito, convida nossa vontade a responder ao Seu chamado.

Porém, a escolha, a adesão, é sempre nossa. Não seremos punidos se não acolhermos esse chamado, mas, como Pai insistente, Ele continuará nos convidando a todo tempo a sermos aquilo que Ele sonhou a nosso respeito. Somente quando nos sabemos amados, somos capazes de responder ao chamado. Viver a vocação é uma aventura que exige: confiar, esvaziar e deixar. Só deixa algo aquele que encontrou "o Amor". É preciso passar pelo olhar amoroso de Deus. Ele nos criou, amou-nos e, por este amor, deseja-nos uma vida de felicidade. Como diz São Paulo: "O amor lança fora todo temor". Só por amor somos capazes de responder Àquele que nos amou primeiro, pois em Seu amor somos convencidos de que Seus projetos em relação a nós são projetos de felicidade, e sempre serão melhores que os nossos.



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/exercer-nossa-vocacao-e-habitar-no-projeto-de-deus/


28 de janeiro de 2023

Você tem nutrido sentido à sua vida?


Em 1913, nascia um filósofo fruto de seu tempo, Albert Camus, chamado de "O absurdista". Esse homem cresceu em meio ao contexto caótico de guerras, decepções com as maldades humanas e questionamentos contra o domínio da técnica ou da estrutura política. Realmente um ambiente instável, situado em sua vida adulta de 2º Guerra Mundial e pós-guerra. Por isso, sua filosofia e seus pensamentos ocupam a sua historicidade.

Ele caracterizou-se por uma filosofia humanista libertária, ou seja, tendo a centralidade no homem e em sua liberdade. Traz consigo o ceticismo e marca a história pelo auge da desesperança. Assim, sua pergunta fundamental é "se a vida vale ou não a pena ser vivida". Para ele, nada mais importa, nem a metafísica, nem ontologia, crença ou ciência, o que vale é responder esse questionamento. Com a ironia própria da filosofia, ele faz refletir os motivos do suicídio, faz refletir a necessidade de continuar vivendo. (CAMUS, O mito de Sísifo. 1942).

Dessa maneira, afirma categoricamente que a vida não vale a pena ser vivida. Para ele, a vida é infrutífera, sem sentido, e isso é uma verdade incontestável, truísta. Obviamente, por detrás dessas afirmações está o problema filosófico milenar do mal e do sofrimento. Diante dessa questão, que em sua época, e em tantas outras como atualmente, vigorada de modo fatídico pelas guerras e hoje evidenciada pela pandemia. Responder ao mal é perguntar-se por Deus, pelo homem, pelo bem, pela transcendência.

Créditos: by Getty Images / DjelicS/cancaonova.com

Consequências do absurdo

O autor acredita que o absurdo apresenta-se na vida humana e questiona a todo tempo, com um ciclo de vai e vem, tendo duas respostas em cima do truísmo: ou o suicídio ou continuar vivendo. A grande tomada de consciência não é descobrir o absurdo, isso todos percebemos, mas é o que ele gera em cada um. Por muitos, o absurdo é descoberto e ignorado, descoberto e respondido com uma ilusão que seria científica, religiosa etc. O raciocinar gera a descoberta do absurdo.

Na proposta de Albert Camus, percebe-se que está envolta de um teor poético e até místico quando se coloca essa vivência estritamente gratuita, sem nada esperar, sem nada iludir-se, uma vida totalmente dedicada à aceitação do absurdo e, ainda por cima, uma felicidade nesse ambiente. No mínimo, é uma realidade desumana na qual se anula as potencialidades humanas e seu desenvolvimento, sua liberdade levada ao extremo sem necessidade de nada, sem dependência alguma a não ser de si mesmo e de sua aceitação da vida absurda. Se não uma proposta desumana, então estritamente pessoal e sem alcance universal e comunitário. Quem seria capaz de conviver e viver sem esperança? Sem sonhos? Sem redenção? Sem sentido?

Sua vivência seria realmente uma abnegação da essência humana, uma renúncia maior do que o homem é capaz de assumir. Cabe recordar a experiência de João da Cruz, no livro "A subida do Monte Carmelo", que propõe um desapego semelhante na busca do nada em prol do tudo. Realmente, uma experiência mística e nem sempre acessível ao complexo da universalidade humana, entretanto João ainda esperava algo em troca, ainda tinha algo que o fazia lutar e renunciar: A esperança em Deus. Ao anular essa esperança maior, no caso de Camus, não se encontraria forças para suportar as renúncias e os sofrimentos humanos, seria uma verdadeira afronta psicológica.

A esperança é o sentido da vida

Também cabe comentar a perspectiva do suicídio, no qual é aceito e justificado pelo autor mesmo não sendo a melhor resposta. Essa atitude reflete alguém que perdeu as esperanças e por isso os sentidos de viver, talvez seria a conclusão de muitos que procurassem aderir a obra absurdista. Viver é realmente ter esperança em algo, e por isso nutrir sentido. Dentro desse viés, para o catolicismo, o suicídio é sempre uma realidade que choca, que incomoda e espanta. Obviamente, não é a fonte final do julgamento, mas cria um ambiente de preocupação e comprometimento com tal realidade.

O questionamento fundamental de sua filosofia já nasce sanado, não há o que perguntar-se sobre o valor da vida que é o mais relevante diante da perspectiva cristã. Mas é uma questão compreensível diante do ambiente de Guerras mundiais e de pessoas que depositaram suas raízes mais profundas em esperanças insólitas. Em meio às decepções e frustrações do tempo e do contexto vivido, é compreensível esse tipo de proposta e de solução filosófica, demonstra um viés de alguém que tem medo de sofrer porque não tem esperança, alguém que tem medo de ser enganado e frustrar-se porque ainda não fez a experiência com o fundador do Universo e seu amor redentor. Em Deus nasce a esperança sólida e firme, que se estabelece no hoje projetada para a eternidade.



Rafael Vitto

Rafael Vitto, natural da cidade de Cuiabá (MT), é membro da Comunidade Canção Nova desde 2015. Hoje, ele é seminarista e estudante da curso de Filosofia na Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/voce-tem-nutrido-sentido-a-sua-vida/


26 de janeiro de 2023

Como ter expectativa e esperança de um amanhã melhor?


Os tempos atuais parecem ofuscar as nossas vistas e apavorar o coração. Por todo lado, inúmeras mortes, fome, guerras, corrupções, descasos de governantes etc. Em meio a esse cenário, há como manter a esperança? A resposta é sem titubear: sim!

Primeiramente, podemos fazer uma breve análise histórica ("breve" porque não se trata aqui de um artigo acadêmico), ou melhor, de como a história é cíclica. Apenas trago alguns exemplos:

Se fôssemos analisar jornais da virada do século XIX para o XX (como fiz muito durante a faculdade nas disciplinas sobre história do Jornalismo), eles eram muito sensacionalistas e falavam sobre como as pessoas estariam com medo e receosas em relação aos acontecimentos da época: mudanças no modo de produção e de trabalho depois da Revolução Industrial; substituição de pessoas por máquinas em alguns setores econômicos; urbanização das cidades; mudanças de paradigmas sociais entre outras transformações. 

Créditos: Warchi by GettyImages / cancaonova.com

Fé e esperança num mundo melhor

Há cerca de 100 anos, os Santos Pastorinhos, São Francisco e Santa Jacinta Marto, morreram de gripe pneumônica ou gripe espanhola. A doença provocou a morte de 50 a 100 milhões de pessoas nos anos de 1918 e 1919, um número maior do que as mortes por Peste Negra, ocorrida ao longo de vários séculos, ou em consequência da I Guerra Mundial, ou seja, sempre será possível constatar os males de cada época. Não minimizamos, de forma alguma, que os tempos atuais são desafiadores e que requerem total atenção e preocupação; cada um deve fazer a sua parte para proteger a si e aos outros, devemos lutar por justiça social, realizar tudo o que é humanamente possível. Contudo, não são os únicos momentos difíceis da história.

A própria Sagrada Escritura também nos atesta: quantos sofrimentos, conflitos, escassez foram vividos pelo povo de Deus! Porém, sempre o Senhor se manifestou com o Seu amor, sua misericórdia e presença! Sempre! Deus sempre se mostrou fiel com Seus filhos de todas as gerações e, assim, mantém viva a nossa fé e esperança num futuro melhor. Aliás, Ele é a própria fidelidade!


O Senhor nos ouve

Vejamos o seguinte relato ocorrido com Samuel, enquanto os filisteus tentavam combater contra Israel:

"Samuel tomou um cordeiro de leite e ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor; depois, clamou ao Senhor por Israel e o Senhor o ouviu. Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus começaram o combate contra Israel. O Senhor, porém, trovejou com a sua voz fortíssima sobre os filisteus naquele momento e eles se dispersaram, sendo batidos pelos israelitas. Os vencedores, saindo de Masfa, perseguiram os filisteus e feriram-nos até o lugar que está por baixo de Bet-Car. Tomou Samuel uma pedra e pô-la entre Masfa e Sen, dando-lhe o nome de Eben-Ezer, pois disse: 'Até aqui nos socorreu o Senhor'. Humilhados dessa forma, os filisteus não tentaram mais voltar ao território de Israel. A mão do Senhor pesou sobre os filisteus durante toda a vida de Samuel. Foram devolvidas a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Acaron até Gat. Israel livrou sua terra das mãos dos filisteus e havia paz entre Israel e os amorreus. Samuel foi juiz em Israel durante toda a sua vida" (1 Sam 7, 9-15).

Apesar das ameaças e iminentes ataques, Samuel permaneceu no seu papel de profeta: "Tomou um cordeiro de leite e ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor; depois, clamou ao Senhor por Israel e o Senhor o ouviu". Em seguida, o Senhor dispersou os filisteus e cidades foram restituídas a Israel. Como forma de agradecimento, Samuel deixou um marco numa pedra: "Até aqui nos socorreu o Senhor".

Deus sempre nos socorre

Essa palavra deve nos inspirar e nortear nossa sociedade e cada vida. Em cada momento da história humana ou individual, a mão de Deus esteve presente: "Até aqui nos socorreu o Senhor". Se olharmos para a nossa história e com os olhos da fé, constataremos isso: nunca o Pai, o Filho e Espírito Santo nos abandonam.

Isso também nos projeta para o futuro: se foi e é assim ao longo das gerações, não será diferente no futuro. Em todo tempo, o Senhor nos socorre!

E sabe também o que não pode mudar? A centralidade de nossa existência em Jesus Cristo! Independentemente de circunstâncias particulares ou gerais, que o Senhor nos encontre fazendo a nossa parte no aqui e agora. Que o nosso foco seja o modo de vida do Evangelho e do que nos ensina toda a Palavra de Deus

O presente é o que temos, a vida de agora, que precisa ser encarada tal como ela é ou está. Doente ou saudável, pobre ou rico, na escassez ou na abundância… O que importa é ser de Deus e buscá-Lo de todo coração, com os olhos fitos na eternidade. O restante são aspectos temporais. Tudo passa, menos o Senhor!


 


Gracielle Reis

Gracielle Reis é missionária da Comunidade Canção Nova, sendo segundo elo, na missão de Portugal.

Carioca, jornalista pela Universidade Federal Fluminense (UFF): Bacharel e Licenciada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): e pós-graduação em Logoterapia, pela Associação de Logoterapia Viktor Emil Frankl (ALVEF).

Atualmente, jornalista na TV Canção Nova, em Portugal.

Em trabalhos com mulheres e famílias, também é instrutora do Método de Ovulação Billings e Consultora de Imagem, Estilo e Coloração Pessoal.

E-mail: graciellereis@gmail.com

Instagram: @gracielledasilvareis [https://www.instagram.com/gracielledasilvareis/]

Facebook: Gracielle Reis


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/como-ter-expectativa-e-esperanca-de-um-amanha-melhor/


23 de janeiro de 2023

E quando a última palavra de Deus é a eternidade?


Sem medo de errar, posso afirmar, sem dúvidas, que 2022 foi o ano mais difícil da minha vida. Nunca havia enfrentado tantas provações, tantas dores e tantas lutas. Eu sou o Gabriel, mas você também pode me conhecer como o "irmão do Samuel". Meu irmão é meu exemplo de santidade, de fé e confiança em Deus, mesmo quando tudo parece sem rumo.

No final de 2021, "Samu" começou a sentir desconfortos na barriga e não conseguia se alimentar direito. Após ir ao médico e ter uma piora, ele foi internado na Santa Casa de Cruzeiro, então, entre diagnósticos errados e demoras, fizeram um exame de ultrassom no qual constaram uma grande massa. Fizeram outros exames e afirmaram ser um tumor. Com a notícia, minha mãe olhou nos olhos dele e disse: "Confie, porque a última palavra é de Deus". Samuel foi transferido para Taubaté para exames mais específicos.

Em Taubaté, em meio aos pacientes de Covid e sem leito disponível, fizeram a tomografia e identificaram, além do grande tumor na região do duodeno, tumores na medula, coluna, ossos e baço. Quando finalmente conseguimos um quarto, minha mãe falou para ele, olhando a vegetação pela janela: "Olha, Samuel, estamos no Céu", ele virou e falou: "Claro que não, mãe! O Céu é muito mais bonito!". Após uma semana de pioras e emagrecendo muito, conseguimos uma transferência para o hospital especializado em câncer infantil, em São José dos Campos.

E quando a última palavra de Deus é a eternidade

Créditos: Arquivo pessoal

A resposta de Deus

Enfim, não dá para contar tudo neste texto, mas foram, ao total, sete transferências para a UTI, seis meses direto sem ir para casa, confusão mental, Covid dentro da UTI, hemorragias, muitas dores e nenhuma reclamação. Em todos os sete meses, meu irmão deu testemunho de confiança e fé em Deus. Ele movimentou inúmeras pessoas a orarem por ele, seu testemunho no hospital tocou os profissionais. Em junho, ele retornou para casa, como qualidade de vida dada pelos médicos. E, como um milagre, ele ficou bem; se alimentou por quase 20 dias e, no dia 25 de julho, após seu aniversário de 17 anos (03/07), ele retornou para a Casa do Pai.

A batalha do luto

A eternidade do meu irmão veio como um soco no estômago repetidas vezes. Lembro-me de estar fazendo o roteiro de uma entrevista da Maria Renata (missionária da Canção Nova) em que ela partilhava sobre a sua experiência de luto, e eu achava tão essencial aquelas palavras, mas falava que não viveria aquilo com o meu irmão. Na hora em que, junto com os meus pais, recebi a notícia do médico, desmaiei. Mas, depois, sob a luz do Espírito Santo, nos acalmamos e fomos nos despedir. Como ele estava sereno, com a face de quem encontrou o Cristo e não teve medo da morte.

Naquele momento, a única coisa que conseguimos fazer foi louvar a Deus e agradecer por termos o privilégio de termos vivido 17 anos com ele. Não houve velório, pois ele testou positivo novamente para Covid, mesmo sem nenhum sintoma. Porém, ele reuniu uma multidão na porta do hospital e no cortejo, testemunhando uma vida doada a Deus, um reencontro à Casa do Pai, e que a vida é breve para não amarmos o Nosso Senhor.

As primeiras semanas após a perda são bem movimentadas, somos gratos porque estivemos sempre amparados de amigos e familiares que deram suporte à dor que ainda estamos sentindo. Com o passar das semanas e com o retorno à rotina, o vazio começa a aumentar. A falta de um toque, do carinho e da voz são como flechas que, silenciosamente, atravessam o nosso coração, no entanto, também me faz querer poder fazer mais pelos meus pais, aliviar a dor que sei que nunca mais vai passar.

Recomece até atingir a eternidade

Porém, ao mesmo tempo, vivenciamos a graça de Deus que nos alcança, porque não deixamos de ver, em nenhum momento, seu amor que nos acompanha. Confesso que a aceitação é uma palavra bem forte para o que vivemos, mas aprendemos a respeitar a vontade de Deus e acolhê-la. Além disso, vivemos, hoje, com a certeza de que precisamos nos esforçar e lutar para que seja possível encontrá-lo um dia no Céu. Sei que de lá, por sinais claros, ele intercede por nós, meu amado irmão Samuel Tobias.

A cada acordar, é um novo recomeço, uma nova decisão de lutar por mim, por ele e pela minha família. Pode ser que recomeçar não seja a palavra mais adequada, porém, posso utilizá-la como sendo todo dia o recomeçar da minha decisão de seguir caminhando até a morada celeste. E, um dia, espero ser digno de adentrá-la.

Gabriel Jorge (irmão do Samuel Tobias) – Colaborador da Criação Multimídia – Sistema Canção Nova de Comunicação


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/e-quando-a-ultima-palavra-de-deus-e-a-eternidade/


20 de janeiro de 2023

Como recomeçar diante a uma frustação?


Atualmente, estou cursando o segundo ano de fisioterapia, porém, esse nem sempre foi o meu desejo. Eu venho de uma família predominantemente formada por militares — tios e primos no exército e uma prima na aeronáutica.

O maior exemplo e incentivador do meu sonho de seguir carreira militar sempre foi o meu pai que, por alguns anos, atuou como policial militar na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais. E, mesmo após a sua saída da corporação, sempre o tive como guia. As suas histórias faziam os meus olhos brilharem; e aprendi que ser policial é fazer o bem ao desconhecido, salvar vidas, ajudar ao próximo sem esperar nada em troca. Então, era esse o meu sonho.

O primeiro passo

Aos 18 anos, fiz a primeira prova do concurso e foi um desastre! Acertei apenas 15 questões de um total de 60. Após algumas tentativas sem êxito e sem entender o porquê, decidi então cursar algum nível superior. Então, matriculei-me em administração, mas sempre visando a carreira militar, pois, com a faculdade, poderia realizar o concurso da Polícia Mineira, por isso, nunca parei de estudar  e continuei me dedicando ao curso preparatório para concursos. Entretanto, o resultado era sempre negativo e não entendia o motivo de não conseguir.

Como recomeçar diante a uma frustação

Créditos: Cecilie_Arcurs by GettyImages / cancaonova.com

No entanto, em 2017, aconteceu algo que destruiu o meu mundo: meu pai, não mais policial, quando atuava como supervisor de segurança em uma empresa da região, foi alvejado durante uma troca de tiros e veio a falecer. Nesse momento, eu perdi tudo, fiquei desesperado; e perguntava a Deus o porquê de tudo isso, meu maior apoiador, meu herói e eu o tinha perdido.

A resposta de Deus

Essa perda despertou em mim um sentimento ruim, de maldade e de vingança. Eu pedi a Deus que me aprovasse no concurso da polícia, mas não mais para fazer o bem. O resultado? Não fui aprovado e abandonei a faculdade. Com o passar do tempo, entendi que somente a Deus cabe a justiça e que a vingança não me levaria a lugar nenhum.

Com essa reflexão, o desejo de fazer o bem voltou e continuei a tentar ingressar na polícia. E, no decorrer do tempo, eu conheci a fisioterapia e me encantei, afinal, era tudo o que sempre quis: ajudar as pessoas por meio das minhas mãos, que são as minhas ferramentas de trabalho capazes de mudar vidas.

Esse faculdade me trouxe o ponto de partida para o meu recomeço, pois, em setembro de 2002, fui chamado para ser voluntário na tenda dos peregrinos em Aparecida e fui. E, mesmo com medo, acolhi pessoas do Brasil todo, algumas conhecidas e a maioria, talvez, eu nunca mais as veria. Foram cinco dias de trabalho intenso, madrugada adentro, porém, ao final, em silêncio, eu me sentei ao chão e consegui sorrir porque sabia que Deus me dava a Sua resposta diante a minha frustração. E meu coração estava onde deveria estar: me doando pelo outro e, por isso, entendi que a fisioterapia é o meu futuro.

Gustavo Moretti, 26 anos, Lorena – SP


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/profissao/como-recomecar-diante-uma-frustacao/


18 de janeiro de 2023

Recomeçar diante de um beco sem saída


Quando um dos maiores medos do brasileiro "bate em nossa porta", fica difícil não desabar. A pergunta que fica é: "E agora?". Com o desespero agindo, a "luz no fim do túnel" parece não surgir. No meu caso, a melhor solução foi recomeçar e construir uma nova porta.

Falo do desemprego. Afinal, estar desempregado pode trazer o mais complicado dos cenários para nossa vida. Os sentimentos de rejeição e incapacidade podem gritar alto dentro de nós. E confesso que comigo foi assim.

Ser desligada de uma empresa onde dei "meu sangue" durante o período mais crítico da pandemia e da minha vida pessoal, me machucou e me derrubou. A sensação era de que, mesmo oferecendo tudo que tinha, não era suficiente.

O beco sem saída

Porém, preciso admitir que também fui tomada por uma sensação de alívio, já que estava liberta de um serviço do qual já me fazia sentir incapaz. Só que esse sentimento acabava engolido pelos medos do desemprego e o desgosto de sentir-se rejeitada.

Créditos: by Getty Images / Marjan_Apostolovic/cancaonova.com

Na minha vida pessoal, eu passava pela maior perda, a morte de meu avô, que era muito especial para mim. Meu namorado também havia sofrido um grave acidente de trabalho e exigia muito da minha capacidade física e psicológica. Com o profissional também abalado, eu me vi em um "beco sem saída".

Sempre fui muito religiosa, e parte de mim queria acreditar que a salvação seria me apegar a Deus novamente, porém, a minha metade derrotada por tantas perdas e desafios via-se um pouco descrente. Entretanto, aprendemos do jeito mais difícil que poucas são as pessoas que podem jogar uma corda para nos salvar do poço escuro.


O consolo de Deus

Perdida e sem forças, não encontrei outro alento senão minha fé. Eu precisava e queria acreditar novamente. Deus não poderia ter me abandonado, eu tinha que crer que Ele me carregava no colo durante a tempestade, mesmo que não parecesse. Se não fosse Ele, ninguém mais estaria comigo, e eu não queria estar sozinha. Aquela gota d'água do desemprego não poderia me enterrar.

Precisei ser forte, pelos que amava e principalmente por mim. E quando a oportunidade não surge, a gente cria. Focar no profissional me ajudaria na fase ruim do pessoal, e foi isso que fiz. Jornalista formada, era preciso acreditar em meu potencial. A internet estava aí para me ajudar a recomeçar.

Em março de 2020, eu estava no início do meu sucesso com um programa de rádio chamado "Conexão". Resolvi transformá-lo em uma empresa por meio do MEI (Microempreendedor individual). Voltei a prestar serviço, graças a minha empresa, para a Rádio onde fui estagiária.

O recomeço em busca dos sonhos

Comecei também um programa de rádio novamente. Foquei em meu sonho de viajar o mundo e levar cultura e conhecimento para as pessoas por meio do Youtube com o quadro "Por Francisco", uma homenagem para meu avô. E outros projetos vieram por meio do "Conexão".

Pode até parecer pouco, já que o sucesso ainda está meio longe. Mas, hoje, posso dizer, de coração, que esse foi o meu recomeço, e que me salvei do fundo do poço. Talvez, o desemprego tenha sido, afinal, uma coisa boa, pois impulsou-me rumo aos meus sonhos. Nós tropeçamos aqui e ali, mas seguimos. E sei, dentro de mim, que um dia poderei dizer que o que começou como um programa de Rádio tornou-se uma empresa de comunicação inovadora. Pode demorar, mas um dia chego em meus sonhos, mesmo que construindo tijolo por tijolo.

Isabele Campos –  Jornalista e criadora do @Jornalismo_Conexao


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/recomecar-diante-de-um-beco-sem-saida/