18 de janeiro de 2023

Recomeçar diante de um beco sem saída


Quando um dos maiores medos do brasileiro "bate em nossa porta", fica difícil não desabar. A pergunta que fica é: "E agora?". Com o desespero agindo, a "luz no fim do túnel" parece não surgir. No meu caso, a melhor solução foi recomeçar e construir uma nova porta.

Falo do desemprego. Afinal, estar desempregado pode trazer o mais complicado dos cenários para nossa vida. Os sentimentos de rejeição e incapacidade podem gritar alto dentro de nós. E confesso que comigo foi assim.

Ser desligada de uma empresa onde dei "meu sangue" durante o período mais crítico da pandemia e da minha vida pessoal, me machucou e me derrubou. A sensação era de que, mesmo oferecendo tudo que tinha, não era suficiente.

O beco sem saída

Porém, preciso admitir que também fui tomada por uma sensação de alívio, já que estava liberta de um serviço do qual já me fazia sentir incapaz. Só que esse sentimento acabava engolido pelos medos do desemprego e o desgosto de sentir-se rejeitada.

Créditos: by Getty Images / Marjan_Apostolovic/cancaonova.com

Na minha vida pessoal, eu passava pela maior perda, a morte de meu avô, que era muito especial para mim. Meu namorado também havia sofrido um grave acidente de trabalho e exigia muito da minha capacidade física e psicológica. Com o profissional também abalado, eu me vi em um "beco sem saída".

Sempre fui muito religiosa, e parte de mim queria acreditar que a salvação seria me apegar a Deus novamente, porém, a minha metade derrotada por tantas perdas e desafios via-se um pouco descrente. Entretanto, aprendemos do jeito mais difícil que poucas são as pessoas que podem jogar uma corda para nos salvar do poço escuro.


O consolo de Deus

Perdida e sem forças, não encontrei outro alento senão minha fé. Eu precisava e queria acreditar novamente. Deus não poderia ter me abandonado, eu tinha que crer que Ele me carregava no colo durante a tempestade, mesmo que não parecesse. Se não fosse Ele, ninguém mais estaria comigo, e eu não queria estar sozinha. Aquela gota d'água do desemprego não poderia me enterrar.

Precisei ser forte, pelos que amava e principalmente por mim. E quando a oportunidade não surge, a gente cria. Focar no profissional me ajudaria na fase ruim do pessoal, e foi isso que fiz. Jornalista formada, era preciso acreditar em meu potencial. A internet estava aí para me ajudar a recomeçar.

Em março de 2020, eu estava no início do meu sucesso com um programa de rádio chamado "Conexão". Resolvi transformá-lo em uma empresa por meio do MEI (Microempreendedor individual). Voltei a prestar serviço, graças a minha empresa, para a Rádio onde fui estagiária.

O recomeço em busca dos sonhos

Comecei também um programa de rádio novamente. Foquei em meu sonho de viajar o mundo e levar cultura e conhecimento para as pessoas por meio do Youtube com o quadro "Por Francisco", uma homenagem para meu avô. E outros projetos vieram por meio do "Conexão".

Pode até parecer pouco, já que o sucesso ainda está meio longe. Mas, hoje, posso dizer, de coração, que esse foi o meu recomeço, e que me salvei do fundo do poço. Talvez, o desemprego tenha sido, afinal, uma coisa boa, pois impulsou-me rumo aos meus sonhos. Nós tropeçamos aqui e ali, mas seguimos. E sei, dentro de mim, que um dia poderei dizer que o que começou como um programa de Rádio tornou-se uma empresa de comunicação inovadora. Pode demorar, mas um dia chego em meus sonhos, mesmo que construindo tijolo por tijolo.

Isabele Campos –  Jornalista e criadora do @Jornalismo_Conexao


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/recomecar-diante-de-um-beco-sem-saida/


16 de janeiro de 2023

Que este seja o ano em que você recomece na fé

Veja só que interessante esta afirmação do Catecismo da Igreja Católica: "Por sua Revelação, 'o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos, e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber'"(cf. CIC, nº 142), e a resposta adequada a esse convite é a fé.

Portanto, a fé é uma resposta. Uma resposta que damos a Deus, diante do seu amoroso convite para nos unirmos a Ele.

O cheiro do Bom Pastor

Gosto muito de uma pintura que retrata Jesus como o Bom Pastor. Nesse quadro, Jesus carrega uma ovelha em seus ombros. Aprendi que o pastor faz isso com a ovelha, para que ela se acostume ao cheiro do pastor e, assim, o reconheça "logo de cara" e não saia por aí encarando perigos desnecessários. O cheiro que o pastor exala traz à ovelha uma identificação com seu pastor, uma segurança vivendo no redil com as outras ovelhas (afinal, esse redil tem dono!) e a garantia de que, diante de qualquer ameaça à ovelha, o pastor estará de olho para proteger aquilo lhe pertence.

Bom, daí você pode imaginar aquela ovelhinha, depois de um certo tempo, saindo dos ombros do pastor impregnada daquele cheiro que agora ela reconhece muito bem. Ela sai para o redil docilmente, vai "viver sua vida" com as outras ovelhas, distancia-se fisicamente do pastor, mas, por causa daquele odor, onde a ovelha for ela vai perceber que o pastor está sempre por perto. O pastor da ovelha se faz presente mesmo que ela não o veja.

Crédito: Vitalii Petrushenko by GetyImages/cancaonova.com

Essa é uma simples analogia para compreendermos a fé, segundo o que nos ensina a Sagrada Escritura: "A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem" (Hb 11,1).

Eu não vejo… Eu ainda espero… Mas tenho comigo esta certeza: o que não vejo hoje, eu verei realizar-se, o que ainda espero de bom, uma hora acontecerá. E essa certeza chama-se fé!

Quem vive com fé vive trazendo consigo esse bom odor de Cristo, aquele que é o nosso Bom Pastor.

Grude em Jesus

Neste ano que está apenas começando, recomendo a você que jamais abra mão da sua comunhão com Deus. Custe o que custar! E essa comunhão se dá por diversos meios que a Igreja nos oferece: a Eucaristia comungada e adorada, a leitura da Palavra de Deus, a oração do Santo Rosário, a vivência dos sacramentos, o jejum… Enfim, há uma riqueza espiritual na nossa Igreja que é única, e que nos proporciona a crescer como cristãos orantes para nos tornarmos cristãos santos, pois é certo que sem vida de oração ninguém chega à santidade!


"De fato, nós somos o bom odor de Cristo para Deus, entre os que são salvos e entre os que perecem" (2 Cor 2,15).

"Grudado" em Jesus por uma vida de oração e de caridade, adquirindo a cada dia o seu santo perfume, você crescerá na fé. Pode acreditar nisso!

Recomeçar na fé

Corremos o risco de achar que uma pessoa "grande na fé" é somente aquela que Deus usa para curar, libertar, pregar às multidões para que se convertam etc. Mas cresce e torna-se também grande na fé quem, a cada dia, dá a sua resposta fiel a Cristo, uma resposta de amizade, pois o homem de fé é amigo de Deus, mesmo em meio a toda e qualquer adversidade.

Meu desejo é que você cresça nesta relação de amizade com Jesus. Ele está convidando você a estar perto d'Ele. Portanto, grude no Filho de Deus! Fique bem pertinho d'Ele! Busque-o com empenho, pois Ele se deixa encontrar por quem O procura.

E acredite: quando você tomar a feliz decisão de recomeçar na fé e dar passos concretos para "grudar" em Cristo, você fará uma linda e incrível descoberta: a de que Jesus já estava há muito tempo "grudado" em você, o convidando e esperando, e, agora, sorrindo de alegria, pois, finalmente, você resolveu adquirir — por meio de uma resposta chamada fé —, o seu santo perfume.

Um forte abraço!



Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal 'Formação' do Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/que-este-seja-o-ano-em-que-voce-recomece-na-fe/

11 de janeiro de 2023

Não consigo vencer meus pecados, o que fazer?


Existe uma passagem muito significativa do Evangelho de São João que coloca cada um de nós diante de uma verdade tão crua e, ao mesmo tempo, tão libertadora, que nenhum de nós deveria ser displicente com relação a ela: Qui sine peccato est vestrum, primus in illam lapidem mittat ("Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a lançar uma pedra" (Jo 8,7)).

Oliver Clemente, um teólogo do oriente, certa vez afirmou: "Ávido de infinito, mas não menos ignorante dele, o homem se ama e se odeia infinitamente. Ele se pretende soberano e se descobre escravo". Em outras palavras, existe uma luta incessante no interior do homem que busca o infinito, o céu, a beleza. Porém, este mesmo homem percebe-se preso num cativeiro de difícil soltura. Assim, quanto mais ele se debate, tanto mais ele se machuca, sangra e, por fim, desiste, e essa é a realidade de qualquer ser humano.

Colocando a questão de maneira mais direta, todos nós precisamos travar grandes enfrentamentos contra o pecado todos os dias. Cada um tem a sua luta particular. Quem de nós nunca experimentou o cansaço depois de ter lutado tanto e, mesmo assim, perdido a batalha para o pecado? Às vezes, é penoso reconhecer esta realidade, mas aquele que deseja muito a santidade precisará também experimentar o amargor da derrota, porém, o mais importante vem agora: quem busca a santidade deve aprender a levantar-se, seja qual for o tamanho do tombo.

Créditos: ArtistGNDphotography by GettyImages

Você sabe reconhecer seus pecados?

Uma vez abatido, duas coisas são fundamentais. A primeira delas é não se comparar, em hipótese alguma, repito, em hipótese alguma, com ninguém. Nem com aqueles que julgamos mais pecadores, porque correríamos o risco de afrouxar a autorreprimenda justa da nossa consciência diante do mal cometido, nem nos comparar com aqueles que julgamos mais santos. Neste segundo caso, poderíamos anular as parcas forças que ainda possuímos. Portanto, esse não é o momento de comparações, mas de reconhecimento sincero da fraqueza e do mal cometido.

Dito isso, como vencer aqueles pecados crônicos que, de tão entranhados em nós, julgamos por vezes incorrigíveis? Por mais que possa parecer estranho o que vou dizer agora, creio que a resposta seja: "Deixe de preocupar-se com este seu pecado como se ele fosse seu baal". Atenção, não se preocupar não significa relaxar a consciência e continuar pecando indiscriminadamente, isso seria um mal ainda maior, um suicídio espiritual.

 

Tire o foco do pecado

No século VI, lá no deserto de Gaza, havia um grande e sábio ancião chamado Barsanulfo, e o seu jovem discípulo Doroteu. Este último, por sua vez, era constantemente atormentado por um grave pecado e, mesmo tendo feito tudo o que estava ao seu alcance para superá-lo, não havia logrado êxito. Certa vez, aflito e desanimado com esta situação, Doroteu procura o seu mestre para apresentar o seu caso. Barsanulfo, o mestre, disse a ele que não mais se preocupasse com isso, e pediu que ele reforçasse sua relação com Cristo pelo exercício da humildade, da caridade, da prece confiante e do humilde exercício ao próximo.

Então, o discípulo parou de gastar em vão as suas energias com a preocupação do pecado e começou a colocar em prática tudo o que seu mestre havia lhe indicado. Assim, o coração do discípulo se transformou, e com ele, pouco a pouco, toda a sua vida. Uma vida de intimidade com Deus faz reavivar, em cada pessoa, o homem interior e, naturalmente, acontece um despertar de consciência. Onde Deus entra, o pecado naturalmente se afugenta. À medida que Deus vai entrando em nossa vida e nós vamos experimentando a vida d'Ele, a morte do pecado vai se enfraquecendo. Em outras palavras, retire o foco do pecado e coloque o foco em Deus.

Busque Deus

Isto não se dá, porém, numa esfera meramente psicológica. É preciso descer para o domínio da práxis, ou seja, a primeira etapa da vida espiritual é a prática. O esforço humano, portanto, deve ser empregado neste ponto. Para ficar mais claro, o esforço humano deve ser investido no cultivo de uma vida espiritual que se alcança por meio da vivência diária de tudo o que o mestre Barsanulfo nos ensinou acima. Em matéria de vida espiritual, não existe fórmula mágica nem romantismos.

Para finalizar, deixo esse pensamento como matéria de reflexão: quem está apenas fugindo do pecado está fazendo pouco, muito pouco, quase nada. Quem está buscando verdadeiramente a Deus está fazendo muito.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/nao-consigo-vencer-meus-pecados-o-que-fazer/


9 de janeiro de 2023

O sentido da vida segundo Santa Teresinha do Menino Jesus


Neste mês, estamos tratando o tema do sentido das nossas vidas, como visto em outros textos publicados anteriormente. Esse tema é muito rico e necessário para nossa realização e santificação, no entanto, as pessoas que descobriram seu sentido e bem realizaram-no tornaram-se santas. Viver conforme o sentido pelo qual Deus o criou é santificar-se, é aperfeiçoar-se, assim como é humanizar-se. Quanto mais humanos mais santos, mais humanos mais cheios de sentido e de realizações segundo a vontade do Pai. 

Ser santo não é outra coisa senão fazer a vontade de Deus em tudo. Muitos acreditam que o caminho é a ascese, outros o escondimento ou até a vida missionária, mas o grande segredo é a vontade de Deus para você. Uns se completaram na pregação como São Paulo, outros no governo da Igreja como Pedro, ainda outros no silêncio, escondimento e serviço como o glorioso São José. Por isso é tão importante entender qual o caminho, qual o sentido Deus tem para mim, qual a sua vontade…

O sentido da vida segundo Santa Teresinha do Menino Jesus

A Santidade de Santa Teresinha do Menino Jesus

Diante desse panorama, quero recordar a figura da humilde e pequena Santa Teresa do Menino Jesus, conhecida como Teresinha. Ela faleceu aos 24 anos de idade e foi canonizada por Pio XI em 1925, com menos de 28 anos após a sua páscoa. Também muito logo proclamada Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II em 1997. Esses dados demonstram a explosão de sua santidade e devoção. Por outro lado, inacreditavelmente, as irmãs que moravam com ela dentro do convento da Ordem carmelita não imaginavam o tamanho de sua grandeza. Algumas irmãs até comentavam entre si que Teresinha havia morrido muito cedo, sempre muito doente, sem poder fazer muita coisa, tinham pena dela.


Mesmo tão nova e desacreditada, vista como frágil, ela soube buscar o essencial para sua vida e realizá-lo, soube fazer o que Deus lhe pedia. Em meio a sua busca incessante por sentido, imaginava tantas coisas sobre si mesmo, desejava tanto, mas encontrou seu lugar no coração da Igreja:

"Não obstante a minha pequenez, queria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo… Li, no cap. 12 da 1ª Carta de S. Paulo aos Coríntios, que nem todos podem ser ao mesmo tempo Apóstolos, Profetas, Doutores etc., que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me trazia a paz. Continuei a ler e encontrei esta frase que me confortou profundamente: Procurai com ardor os dons mais perfeitos; eu vou mostrar-vos um caminho mais excelente. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor, e que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha encontrado a tranquilidade.

A caridade ofereceu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia agir os membros da Igreja, e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno… Encontrei finalmente a minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor… assim serei tudo…" (Teresinha, História de uma alma. manuscrito B, p. 213).

É a hora de descobrir qual o sentido da sua vida

Fica evidente a descoberta de um sentido de vida, Teresinha descobre que sua vida está dedicada ao amor e através disso ela poderá realizar todos os desígnios de Deus, assim como preencher toda a sua sede, seus desejos e sonhos mais profundos. Através do amor ela estaria no coração da Igreja e poderia alcançar o centro do catolicismo: A caridade! Grande descoberta que a tornou santa em tão pouco tempo e por isso um grande exemplo para nós.

Agora, cabe a mim e a você descobrir o nosso sentido e esmerar-se em aplicá-lo. Seguindo os passos dos santos, como da pequena de Lisieux, poderemos realizar a nossa identidade, a nossa essência, tudo aquilo que Deus pensou para nós… 



Rafael Vitto

Rafael Vitto, natural da cidade de Cuiabá (MT), é membro da Comunidade Canção Nova desde 2015. Hoje, ele é seminarista e estudante da curso de Filosofia na Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/o-sentido-da-vida-segundo-santa-teresinha-do-menino-jesus/


6 de janeiro de 2023

Como recomeçar um caminho de santidade?

Até que a morte nos encontre, sempre temos uma segunda chance para Deus. É importante ter a consciência de que a vida é feita de retomadas e que, de fato, nem sempre somos fiéis aos projetos ou perseverantes naquilo que Ele nos pede. Como, então, recomeçar?

Créditos: Khanchit Khirisutchalual by GettyImages

Passos para recomeçar

O primeiro passo é muito simples e muito eficaz, chama-se sacramento da reconciliação! Não há como voltar para a vida sem viver o perdão e a reconciliação em suas dimensões: consigo mesmo, com a Igreja e com o próprio Deus. É preciso fazer um bom exame de consciência somado a bons propósitos de mudança de vida.

Muitas vezes, a confissão cai em descrédito e até se percebe comentários de pessoas que confessam com recorrência e não mudam. A ineficácia se dá pela falta de arrependimento dos pecados, pela falta de propósitos inteligentes para vencer as tentações. Às vezes, até pode parecer pouco uma confissão, mas vivendo uma boa preparação, ela será fundamental.

O segundo passo é pedir ajuda. Muitas pessoas têm boas intenções e querem melhorar, mas não sabem como. Tendo em vista que cada caso é muito particular e necessita de medidas singulares, essa parte se dá de forma muito real na presença prioritária de um sacerdote ou de algum leigo experiente que possa ajudar no processo de retomada.


O terceiro passo é fortalecer a sua alma para que não venha desanimar ou cair novamente. Aqui, é possível utilizar muitos meios, mas a grande prioridade está na Santa Missa, Adoração, leitura orante da Palavra e o Santo Rosário. Também podemos realizar as práticas do Ofício Divino, leituras da vida dos santos entre outros. O importante é alimentar-se com a oração, é organizar-se para rezar diariamente.

Digo-lhe mais: se você caiu, é porque estava fraco, talvez, até anêmico em sua espiritualidade. Procure, de agora em diante, alimentar-se com uma porção reforçada de oração. Evite aquilo que enfraquece sua alma, aquilo que chamamos de ocasiões de pecado, fuja e não dê brechas. Quem está, realmente, arrependido não economizará esforços para recuperar o bem mais precioso de sua vida: Deus!



Rafael Vitto

Rafael Vitto, natural da cidade de Cuiabá (MT), é membro da Comunidade Canção Nova desde 2015. Hoje, ele é seminarista e estudante da curso de Filosofia na Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/como-recomecar-um-caminho-de-santidade/

2 de janeiro de 2023

Quais razões eu tenho para recomeçar?

Certa vez, há alguns anos, minha mãe foi à procura do padre Wladys­law, falecido pároco da paróquia na qual eu cresci, porque ela andava muito preocupada com uma série de situações que estavam acontecendo naquela época. Diante dos questionamentos dela, quando ela chegou para conversar com ele, a única orientação que recebeu foi: "Recomece!". Ela, ainda agitada, quis questioná-lo, pois esperava por uma resposta mais complexa, com grandes explicações, mas, com uma voz calma e serena, o padre insistiu: "Apenas, recomece"… Essas palavras ficaram gravadas em seu coração.

Tempos depois, quando eu tinha aproximadamente 16 anos, tive a minha primeira crise de ansiedade, com a qual eu chorava compulsivamente, por uma série de motivos que mal compreendia. Talvez, a sobrecarga de problemas pessoais somados ao ano de prestar vestibulares e decidir o que eu gostaria de fazer na minha vida tenham contribuído.

A vida é feita de constantes recomeços

Então, ela me disse as mesmas palavras que o padre havia lhe recomendado: "Recomece, Ester!". Eu a questionei, assim como ela fez com o padre anos atrás, porém, a resposta não mudou: recomece. Acredito que esse foi o conselho mais precioso que recebi em toda a minha vida.

Créditos: kieferpix by Getty Images<br /cancaonova.com

Quando me mudei para Cachoeira Paulista, aos 19 anos, para estudar na Faculdade Canção Nova, precisei deixar tudo para trás: amigos, família e um curso da faculdade já quase na metade, porque entendi que ir para outro curso era algo da vontade de Deus. Esse foi um dos maiores recomeços da minha vida: uma nova cidade, novos amigos, nova rotina e tudo novo.

Mudanças e recomeços

No mês seguinte, veio a pandemia. Voltei para a minha cidade natal com apenas duas mochilas (pensávamos que seriam 15 dias de isolamento) e fiquei com minha família. As semanas se tornaram meses e, nesse tempo, precisei recomeçar algumas vezes.

No segundo semestre de 2021, tive a chance de voltar para Cachoeira para iniciar meu tempo de voluntariado pela Bolsa Canção Nova. Foi a minha primeira experiência na área de trabalho. Era tudo muito novo, estávamos vivendo as aulas remotas, mas o trabalho era presencial. Uma nova rotina e mais um recomeço.


 Um ano depois, as aulas já eram presenciais e mudei de setor no voluntariado. No mesmo dia, numa quinta-feira, recebi a notícia de que o meu pai havia tido um AVC Isquêmico. Voltei à minha cidade natal para vê-lo no final de semana, porque segunda-feira meu novo setor me esperava. E era outro recomeço.

É necessário recomeçar

Em alguns momentos podemos nos sentir cansados de tentar tantas vezes e, mesmo assim, não conseguir atingir a excelência que buscamos ou as metas que traçamos, mas é preciso entender que é assim que se aprende a caminhar. Cai; levanta; e tenta mais uma vez. Segundo a definição do dicionário, recomeçar quer dizer "começar de novo"; refazer depois de interrupção, retomar ou também o ato de começar a ser.

Precisamos, com a ajuda de Deus, recomeçar quantas vezes forem necessárias e compreender que não há mal algum nisso. Por vezes, os recomeços precisam acontecer no mesmo dia, seja porque já deu algo errado, pelo cansaço da rotina ou por um problema no trabalho, contudo, independente do motivo, apenas recomece.

A exemplo dos santos

Percebi que é esta perseverança no recomeçar que forma os santos. São João Paulo II disse uma vez : "Santo não é aquele que não cai, mas aquele que, mesmo caindo, não desiste de se levantar".

Um novo ano se inicia, cheio de metas, sonhos e desejos e, com ele, é necessário recomeçar. Não tenha medo de tentar quantas vezes forem necessárias, porque é assim que se chega ao Céu.

Seja luz de Cristo para o mundo!

Ester Vieira – Jovens Sarados


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/ano-novo/quais-razoes-eu-tenho-para-recomecar/

30 de dezembro de 2022

A oração de Maria do Natal ao Pentecostes


No Natal, a manifestação do Verbo neste mundo é uma manifestação de luz: uma claridade surge no céu, uma estrela guia os magos, os anjos cantam na terra "paz aos homens, objeto da benevolência divina" (Lc 2,14); e nessa manifestação simbólica de luz, iluminados também por ela, nós encontramos São José e a Santíssima Virgem.

A vida que a habitou não deixa a Virgem; essa vida está, daqui em diante, no Verbo encarnado que ela contempla e que as almas poderão agora contemplar como ela, sob o doce véu da carne que ela lhe deu. Nós gostamos de vê-la, a primeira a inclinar-se sobre o olhar que se abre do Menino Deus. Nós pensamos nas fontes cristalinas de São João da Cruz, nas cavernas de pedra; é a Virgem a primeira a conhecê-las.

Todas as luzes do Natal, os acontecimentos as confirmam: eis os pastores e eis os magos que tornam verídicas as palavras do anjo. Eis ainda, no dia da Apresentação, o canto de Simeão e as palavras da profetisa Ana. Tudo isso é para a Virgem um comentário do que ela sabia sem dúvida, mas jamais se sabe bastante dessas coisas.

A Virgem dá graças a Deus!

Mas outras palavras confirmam uma segunda luz: "Uma espada de dor transpassará vossa alma" (Lc 2,35). Ela conhece também o anúncio que faz do profeta Isaías o homem de dor, e ela já encontrou nos olhos de seu Filho o mistério da Redenção. Eis, pois, a confirmação.

Crédito: Keith Lance by GettyImages/cancaonova.com

Qual será essa espada? Ela não o sabe em detalhe, mas a palavra basta para fazer brilhar, em sua oração, o mistério da Redenção.

A oração de Maria do Natal até a vida pública de Jesus

A Virgem sabe que ela dá seu Filho, depois de ter dado completamente a si mesma. Ela sabe que O envia ao sofrimento e à morte, que Deus lhe dará isso. Toda a sua oração de Nazaré aí está: silenciosa, misteriosa, com luz e sofrimento, já sob o véu da Paixão, sem detalhes precisos: um conjunto de sofrimentos onde domina aquele do peso do pecado. A participação da Virgem na Paixão será, aliás, como a nossa, somente interior; é o Getsêmani.

É por esse sofrimento da Mãe do Verbo que ela gera os homens.

Virão em seguida as realizações, primeiro com o ministério público de Nosso Senhor. Maria vibra com os sucessos obtidos na Galileia, e sofre com as dificuldades na Judeia. Eis, enfim, a hora anunciada de Jerusalém. É preciso que a Virgem esteja lá, que ela cumpra sua missão de corredentora.

A oração de Maria na Paixão e na Ressurreição de Jesus

Maria sobe a Jerusalém, onde verá com seus próprios olhos os sofrimentos aos quais é preciso se unir. Notemos as disposições da Virgem nesse momento da Paixão. Mãe dos homens, é a esta segunda graça que ela sacrifica tudo; mãe de Deus, deveria defender seu Filho. Ela não o faz, pois vê os desígnios de Deus; não é somente mãe da Cabeça do Corpo místico, mas dos membros também. Maria oferece, então, seu Filho e O dá completamente, pois a segunda graça exige e comanda tudo nesse momento; poder-se-ia dizer, então, que ela nos ama mais do que a seu Filho.

A Virgem dá também a si mesma, assistindo, visivelmente e com os olhos bem abertos, à Paixão sobre o Calvário.

Quem poderá conhecer o sofrimento de Jesus? Só a Virgem o pode, pois só ela foi ao fundo da alma do Cristo, em todos os instantes, e sobretudo naquele. Maria vê em Jesus a oposição dolorosa do pecado e da pureza divina; ela ressente toda a rudeza dos golpes que caem sobre essa sensibilidade delicada e vigorosa. Entretanto, não há nela fraqueza, nem desmaio. Não. A graça da maternidade a sustenta. Ela conhece o porquê de tudo isso, e não fraqueja, nem ao grito de Nosso Senhor, nem ao seu último suspiro.

Eis teu filho!

A Virgem sabe, como o saberão os santos, que ela gera almas pelo sofrimento, e Nosso Senhor quer confirmar exteriormente essa luz interior. Ele lhe apresenta São João, em quem ela vê a humanidade regenerada: "Eis teu filho" (Jo 19,26).

Maria fica de pé após a morte do Cristo, no Calvário, e é aí que ela é a mais formosa. Parece que sua obra está destruída. Por que ficar lá? Para guardar e representar a esperança.

Tem o corpo de seu Filho entre seus braços, tem à sua disposição o sangue de Cristo, que vai poder dispensar. E porque ela é Mãe do Cristo morto, é também Mãe da Vida, Mãe do Corpo místico que vai se construir pelo mérito da morte de Nosso Senhor.

Desaparece por isso a angústia? Não. Os contrários se unem na vida espiritual. A Virgem continua firme na luta dos dois amores: a maternidade dos homens feriu a maternidade divina com um inefável sofrimento. Santa Teresa de Ávila diz que Nosso Senhor veio muito rapidamente fazer cessar essa dor da qual a Virgem teria morrido seguramente, pois pensemos que, em Maria, a oração continua sempre, todas as suas faculdades estão orientadas em Deus, para a luz, quer sejam de alegria quer sejam luzes dolorosas.

Toda a alma da Virgem vai participar também da Ressurreição.

Que alegria e que glória contemplar esta humanidade transformada, este triunfo da vida divina no corpo do Cristo, pois é também a vida que triunfa no Corpo místico; os Apóstolos lá estão. É a realização, o começo das grandes esperanças.

Sua oração sempre pacífica é, no entanto, triunfante durante os quarenta dias após a Páscoa.

Assim, toda a sua vida é de oração: receber cada coisa e as conservar em seu coração para as repassar na contemplação (cf. Lc 2, 19.51).

A oração de Maria da Ascensão ao Pentecostes

Depois é a Ascensão, a partida de Nosso Senhor. A tristeza que invade os Apóstolos teria podido invadir também a Virgem. Mas não importa que Jesus não esteja mais aqui, pois ele tem a glória nos céus; e, portanto, sua obra está lá. Os Apóstolos não o compreenderam ainda; é Maria que os prepara para receber a luz na oração e na paz, antes da chegada do Espírito Santo. Ei-lo, e ele a enche, ela, em primeiro lugar, para a ação.


Este é o natal do Corpo místico. O Espírito que cumula a Virgem a fecunda uma segunda vez até a consumação dos séculos, e sua presença nela se une à do Verbo. É aí, nesse momento, que ela se torna Mãe de Vida. Até então, a luz lhe tinha sido velada; hoje, essa luz transborda. Compreende-se então o desejo que teve Maria de se retirar na solidão e no recolhimento, para receber em plenitude o Espírito Santo e o difundir com mais abundância sobre Pedro, Paulo, João, e sentir que a vida nascia ao redor do amor.

A oração da Virgem se aproxima então da oração de Nosso Senhor para a união do Corpo místico (cf. Jo 17, 20-26).

"Que eles sejam um comigo, pode ela dizer também, como o Verbo o é comigo, e que eles tenham toda a luz que vós me tendes dado. Eu vos peço por eles, para que eles tenham a iluminação e o amor que vós tendes derramado sobre mim".

Eis, pois, a oração da Virgem

Nós gostamos de ver assim a Virgem, não somente na pura luz de sua irradiação de glória, mas também nos detalhes, nas modalidades exteriores que tomava sua oração.

A Virgem foi humana mais do que nós; sentiu mais profundamente do que nós, porque era mais sensível. Sofreu mais do que nós podemos sofrer.

A Virgem é também mais mãe do que todas as mães: ela é unicamente mãe.

Após Pentecostes, ela não é verdadeiramente senão Mãe, toda entregue à sua graça maternal pela qual deu seu Filho. Também nós devemos nos sentir envolvidos em seu amor maternal imenso. Maria nos amou a ponto de nos sacrificar seu Filho; ela nos restou depois dele, aumentando ainda sua graça: por isso, sempre para nós, suas capacidades de amor. Prestemos a esse amor uma homenagem também de confiança e de abandono. Entreguemos-lhe toda a nossa alma, todo o nosso corpo, pois nossa Mãe não faz distinção entre nossas necessidades: a maternidade espiritual envolve tudo. Abandonemos tudo a esse amor, quaisquer que sejam as circunstâncias em que nos encontremos.

Sejamos filhos, verdadeiramente, dessa Mãe de Deus: ele vem a nós por ela.



Padre Natalino Ueda

Natalino Ueda é brasileiro, católico, formado em Filosofia e Teologia.  É o autor do blog Todo de Maria, que tem como temas principais a devoção mariana e a consagração a Nossa Senhora segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/natal/oracao-de-maria-natal-ao-pentecostes/