1 de dezembro de 2022

Invoca a minha misericórdia, pois desejo a salvação do pecador


As nossas orações ao Pai das Misericórdias devem ser precedidas pelo conhecimento do coração do Pai. São Paulo disse:
"Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação. Ele nos consola em todas as nossas aflições para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer aflição. Pois à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo" (2Cor 1,3-5).

Para mostrar a nós a imensidão da Sua misericórdia para com os pecadores, Jesus contou aos fariseus a parábola do filho pródigo. Um pai nunca quer perder um filho, e Deus, principalmente, Pai de todos nós, não quer perder nenhum deles.
Aquele filho ingrato gastou os bens do Pai com uma vida dissoluta, e depois passou fome; então, lembrou-se do seu pai, criou coragem e voltou a ele, querendo apenas ser recebido como um empregado e não como filho. E sabemos como ele foi recebido: com festa, churrasco, roupa nova e anel nos dedos. É assim que Jesus nos ensina a misericórdia do Pai.

Jesus disse que o Pai não quer que Ele perca nenhum daqueles que lhe deu. Assim, Jesus, que é a "imagem do Deus invisível' (Col 1,14) e o "esplendor da glória de Deus" (Hb 1,3), revelou-nos a profunda misericórdia do Pai ao contar a parábola do bom pastor, que é capaz de deixar 99 ovelhas seguras no aprisco e ir em busca da ovelha perdida. E que alegria quando a encontra!

 

A cruz permanece firme enquanto o mundo gira

Terá mais alegria no céu por um pecador que se converter

"E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento."


Assim, o Pai está de braços abertos a acolher qualquer um que venha a Ele de coração arrependido. Independente dos seus pecados, o Pai abraça todo aquele que vem a Ele confiante, pois Jesus já pagou na Cruz o preço do nosso perdão. Confiar na misericórdia do Pai é confiar no mistério da Redenção pela qual Jesus nos salvou. Agora, basta confiar, arrepender-se dos pecados e cair nos braços do Pai das misericórdias. São Paulo nos lembra:

Deus é pura Misericórdia

"Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos!"(Ef 2,4-5).

O Salmo 50,19, diz: "Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, não haveis de desprezar". A decisão é de cada um: São Pedro negou Jesus, arrependeu-se e continuou sendo o escolhido de Jesus para chefe da Igreja; Judas se desesperou, não confiou, e se matou. Às vezes, um orgulho refinado nos impede de nos lançarmos nos braços do Pai.

Vale a pena aprender com os santos doutores da Igreja o que eles nos ensinaram sobre a misericórdia do Pai. Santo Agostinho disse: "Não há maior miséria que a de um miserável que não tem misericórdia de si mesmo. Minha única esperança, minha única confiança, minha única firmeza é a misericórdia de Deus". Santo Afonso de

Ligório, doutor, disse: "Agrada sumamente a Deus a nossa confiança em sua misericórdia, porque assim honramos e exaltamos aquela sua infinita bondade que Ele quis manifestar ao mundo nos criando".

Devemos confiar na Misericórdia de Deus

São Francisco de Sales nos ensina algo consolador: "Quanto mais nos sentimos miseráveis, tanto mais devemos confiar na misericórdia de Deus. Porque entre a misericórdia e a miséria há uma ligação tão grande que uma não pode se exercer sem a outra".

E Santo Tomás nos ensina que nunca devemos desanimar da salvação eterna, confiados no poder e na misericórdia divina.
Jesus insiste para que os homens se acheguem a Seu coração misericordioso, que espelha o coração do Pai.

Ele pediu a Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII, que difundisse, no mundo, toda a devoção a seu Sagrado Coração misericordioso. Em nosso tempo, pediu a Santa Faustina Kowalska que difundisse a devoção à Divina Misericórdia, pedindo ao Papa que instituísse a sua festa, o que foi feito pelo Papa São João Paulo II. Em seus diálogos com Deus, Ele insiste com ela na necessidade de nos atirarmos no oceano infinito de Sua misericórdia, que é a do Pai.

O pecado me afasta de Deus

"Que o pecador não tenha medo de se aproximar de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas" (Diário n.50). "Antes de vir como justo Juiz, venho como Rei da misericórdia" (n. 83).

"Invoca a minha misericórdia para com os pecadores, pois desejo a salvação deles" (n. 186). "Oh como me fere a incredulidade da alma! Essa alma confessa que sou Santo e Justo e não crê que sou misericórdia, não acredita na minha bondade. Até os demônios respeitam a minha justiça, mas não creem na minha bondade" (n. 300).

"E ainda que os pecados das almas fossem negros como a noite, quando o pecador recorre a minha Misericórdia, presta-me a maior glória e é a honra da minha paixão. Quando a alma glorifica a minha bondade, então o demônio treme diante dela e foge até o fundo do inferno" (n. 378). "As almas que recorrerem a minha Misericórdia e aquelas que a glorificarem e anunciarem aos outros, na hora da morte Eu as tratarei de acordo com a minha infinita Misericórdia" (n. 379).

Jesus sofre por causa dos nossos pecados

"O meu coração sofre porque até as almas eleitas não compreendem como é grande a minha Misericórdia" (379).  É tão importante a devoção à misericórdia do Pai que Jesus mandou que ela difundisse o Terço da Misericórdia, que deve ser rezado sempre, e sobretudo diante dos moribundos para que alcancem a sua salvação. Toda esta reflexão deve se transformar em orações ao Pai da Misericórdia.

Leve, com toda confiança, ao Coração desse Pai, todas as suas angústias, aflições, tribulações, medos, traumas, dores, enfermidades e humilhações que a vida lhe proporciona e descanse nos braços d'Ele.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/invoca-a-minha-misericordia-pois-desejo-a-salvacao-do-pecador/


24 de novembro de 2022

A Igreja Doméstica e os primeiros templos cristãos


Domus Ecclesiae Romana (Ilustração/Reprodução

O Cristão é a morada de Deus, a sua pessoa é o templo em que, pela graça do Batismo, a Santíssima Trindade habita. Nos primeiros 300 anos de sua existência, a Igreja foi perseguida e não pôde erigir templos. A Eucaristia era celebrada nas casas dos cristãos, que se tornavam verdadeiras Domus Ecclesiae – a Igreja Doméstica. Todos tinham consciência de que eram pedras vivas da Igreja.

De fato, São Pedro comentou: "Do mesmo modo vocês também, como pedras vivas, vão entrando na construção do templo espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo" (1Pd 2,5) e São Paulo Acrescentou: "Aquele que se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito (…) ou vocês não sabem que o seu corpo é templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado por Deus?" (1Cor 6,17-19).

Domus Ecclesiae de S. Pedro – Cafarnaum (séc. IV)

Leia também| Por que existem espaços sagrados?

Outros locais comumente escolhidos para a celebração eucarística dos primeiros cristãos foram as catacumbas. E foi sob a terra que surgiram as primeiras expressões artísticas dos cristãos. A imagem mais antiga de Nossa Senhora de que se tem notícia foi pintada na catacumba de Priscila. Os cristãos tinham tanta fé na Ressurreição que, segundo o padre Marko Rupnik: "começaram lá mesmo onde o mundo desmoronou: no fracasso, na fraqueza, na morte", "pois se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé" (1Cor 15,13).

Catacumba de Priscila

As primeiras Basílicas

Após três décadas de perseguições, com o Edito de Milão, em 313, o Imperador Constantino concedeu tolerância religiosa a todos os cristãos. Por sua ordem, foram construídas as Basílicas do Santo Sepulcro, do Santo Calvário e a de Belém, onde Jesus nasceu. 

Em Roma, o imperador ornamentou a Basílica de Latrão e construiu a primeira Basílica de São Pedro, sobre o túmulo do príncipe dos Apóstolos, na colina do Vaticano. Em suas gêneses, as basílicas romanas eram edifícios multifuncionais, que poderiam albergar áreas públicas, políticas, comerciais e sociais. Eram espaços de reunião destinados a assembleias cívicas, funcionando muitas vezes como tribunais ou espaços comerciais (para leilões). Elas eram os edifícios centrais e indispensáveis em qualquer cidade importante. Nelas, o Imperador se manifestava ao povo, ensinava e julgava. O atrium era o lugar da recepção. Esses edifícios, desse modo, se tornaram a construção romana mais adequada ao culto cristão.

Catedral de Monreale, Sicília – Itália

O estilo Romântico

Esse gênero é chamado assim porque teológica e plasticamente expressa bem o sentido católico. É a arte da unidade europeia. Na arquitetura, é uma continuidade das basílicas e, como nelas, não há janelas; se existem, estão fechadas com pedras de alabastro, deixando entrar somente a luz humilde que não fere a retina, símbolo do Espírito Santo. Há pequenas seteiras para ventilação. 

A construção em estilo Romântico é reforçada por sua solidez em pedra e muitas formas redondas e quadradas, com ou sem campanários (torres), significando a Jerusalém Celeste que se visualiza sobretudo no seu interior ou a fortaleza, o próprio Senhor que protege o seu povo. Essas igrejas estão sempre com o pórtico voltado para o oriente, pois "a salvação vem do oriente" (cf. Ez 43,1-5). É um estilo plenamente simbólico. Seus pórticos e capitéis são bíblias de pedra com esculturas sacras em que apenas um simples detalhe poderia originar uma tese de mestrado.

A Catedral de Pisa com o seu Batistério circular e sua torre inclinada foi concluída em 1092.

O Gótico

"Godo" é uma palavra nórdica que quer dizer "pinheiro". Não quer só dizer elevação, mas uma floresta de pinheiros, lugar do obscuro, do Sagrado. As igrejas góticas são, assim, imensas e altíssimas Basílicas onde se desenvolvem os arcos ogivais. 

Com suas torres esguias e pontiagudas, suas paredes mais finas e leves dão lugar a imensos vitrais de temas religiosos. A luz do sol filtrada pela Palavra Divina nas figuras dos vitrais refletirá sobre os fiéis como símbolo da graça. Charles Péguy, escritor e poeta francês do início do século XX, converteu-se na Catedral de Chartres. A Bíblia Pauperum se manifesta nas muitas estátuas em pedra, sendo algumas mais humanizadas. Em algumas das Catedrais góticas, cabiam a toda a população da cidade, tal como está dito na obra "A Cidade de Deus" de Santo Agostinho.

Catedral de Chartres – França



Fonte: https://comshalom.org/a-igreja-domestica-e-os-primeiros-templos-cristaos/ 


21 de novembro de 2022

O Ano litúrgico da Igreja é dividido em tempos litúrgicos


Antes de falar do Ano Litúrgico, precisamos conhecer um pouco melhor a importância da Liturgia.
O Catecismo da Igreja ensina que: "pela liturgia, Cristo, nosso Redentor e sumo Sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa Redenção" (n.1069).

Isto significa que, por meio da Liturgia, Jesus continua a nos salvar; de modo especial em cada Missa, onde se atualiza a Sua santa Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céu; para que nela "torne-se presente a nossa Redenção".  Afirma a Constituição do Vaticano II Sacrosantum Concilium:

"Com razão, portanto, a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem, e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja, é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja" (SC,7).

Tempos litúrgicos são divididos em 3 ciclos

O Ano litúrgico da Igreja, de doze meses, é dividido em tempos litúrgicos, onde se celebram os mistérios da vida de Cristo, assim como os Santos. O Ano Litúrgico tem três ciclos, anos A, B e C, que se repetem. Cada ano tem uma sequência de leituras próprias. Em 2022 foi o ciclo C. Em 2023 será o ciclo A.

A Igreja estabeleceu, para o Rito Romano, uma sequência de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos, nos Domingos e nas Solenidades. No ano A, leem-se as leituras do Evangelho de São Mateus; no ano B, o de São Marcos; e no ano C, o de São Lucas. Já o Evangelho de São João é reservado para as ocasiões especiais, principalmente as grandes Festas e Solenidades.


Jesus Cristo ressuscitou no domingo. Daí a importância deste dia primordial em todo o Ano Litúrgico da Igreja. Um dia litúrgico começa à meia-noite e termina na meia-noite do dia seguinte, exceto nos domingos e Solenidades, que começam na tarde anterior. No Ano Litúrgico, temos também Solenidades, Festas, Memórias e Férias.

A celebração litúrgica mais solene é a Solenidade, por exemplo: Imaculada Conceição de Nossa Senhora (8 de dezembro), Natal (25 de dezembro), Festa da Sagrada Família (26 de dezembro), Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro), Epifania do Senhor (2 de janeiro), São José (19 de março). Corpus Christi, Santíssima Trindade, Sagrado Coração de Jesus, Cristo Rei, Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto), São Pedro e São Paulo (29 de junho). Algumas datas são móveis, e algumas a Igreja no Brasil celebra no domingo seguinte.

Festas: é a segunda categoria litúrgica: Apresentação do Senhor, a Transfiguração, a Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), a Visitação de Nossa Senhora (31 de maio), os Santos Arcanjos (29 de setembro). Nesses dias de alegria, rezamos o Glória, mas não o Credo; são lidas apenas duas leituras.
Memórias: são algumas celebrações da Santíssima Virgem Maria e dos demais Santos, os Anjos da Guarda (2 de outubro), os fiéis defuntos (2 de novembro). Algumas memórias são obrigatórias, outras são livres. Não se reza o Glória nem o Credo.
Férias: são os dias durante a semana, de segunda-feira a sábado; elas, têm apenas duas leituras e o salmo responsorial, nelas não se diz o Glória nem o Credo. Já Santo Agostinho (+ 430) nos dá testemunho que na África já existiam as missas diárias.

Você sabia que temos 15 Solenidades e 25 Festas litúrgicas?

São 15 Solenidades e 25 Festas, com leituras obrigatórias; 64 memórias obrigatórias e 96 memórias facultativas, com leituras opcionais. O Calendário apresenta também 44 leituras referentes à Ressurreição de Jesus Cristo, além de diversas leituras para os Santos, Doutores da Igreja, Mártires, Virgens, Pastores e Nossa Senhora.

A organização das leituras próprias para cada ano dá ao católico a possibilidade de estudar toda a Bíblia, em suas partes mais importantes, tanto do Antigo como do Novo Testamento, desde que participe de todas as Missas diárias ou estude a Liturgia Diária nesse período de três anos.

Mesmo quem só participa das Missas nos domingos, ao longo dos três anos do Ciclo Litúrgico, pode meditar os principais textos bíblicos que alimentam a fé e renovam no coração a certeza da Salvação.
Cada Ano Litúrgico começa com o tempo do Advento, quatros semanas antes do Natal, e termina com a Solenidade de Cristo Rei, no último domingo do Ano Litúrgico, no mês civil de novembro.

São  três anos Litúrgicos A, B e C

A Igreja quer que as leituras bíblicas da liturgia dominical voltem a ser lidas novamente após três anos. Seguindo este Ciclo dos três anos Litúrgicos A, B e C, consegue-se ter uma grande visão de toda a Bíblia. Assim, nas celebrações dominicais são proclamados textos que falam do anúncio do Messias, da Encarnação do Verbo, da Sua vida pública (missão), do anúncio do Reino, dos sinais que Jesus realizou, do chamado dos discípulos, etc., até culminar com sua morte e Ressurreição e assim se chegar à esperança da construção do Reino de Deus: a Parusia, com a solenidade de Cristo Rei do Universo.

O Ano Civil começa em 1º de Janeiro e termina em 31 de Dezembro. Já o Ano Litúrgico começa no 1º Domingo do Advento (cerca de quatro semanas antes do Natal) e termina no sábado anterior a ele. O Ano Litúrgico da Igreja tem também leituras bíblicas apropriadas para as celebrações de cada Santo em particular. O Ano Litúrgico de 2023, Ciclo A, vai apresentar nas Missas diárias o Evangelho de São Mateus. Então, é importante saber alguma coisa sobre São Mateus e sobre o Evangelho que ele escreveu.

Créditos: Arquivo CN

É o primeiro Evangelho que foi escrito, em Israel, e em aramaico, por volta do ano 50. Serviu de modelo para os Evangelhos de São Marcos e São Lucas. O texto de Mateus foi traduzido para o grego, tendo em vista que o mundo romano da época falava o grego. O texto aramaico de Mateus se perdeu. Já no ano 130, o Bispo Pápias, de Hierápolis, na Frígia, fala deste texto: "Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pode" (Eusébio, História da Igreja III, 39,16).

Também Santo Irineu (†200), que foi discípulo de S. Policarpo, que por sua vez foi discípulo de S. João evangelista, fala do Evangelho de Mateus, no século II: "Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja" (Adversus Haereses II, 1,1).

São Mateus era o único dos Apóstolos habituado à arte de escrever

São Mateus era o único dos Apóstolos habituado à arte de escrever, a calcular e a narrar os fatos, pois era publicano, cobrador de impostos para os romanos, então, tinha certa cultura. Compreende-se que os próprios Apóstolos o tenham escolhido para esta tarefa. O objetivo da narração foi mostrar aos judeus que Jesus era o Messias anunciado pelos profetas, desde Moisés (1200 a.C.), por isso, cita muitas vezes o Antigo Testamento e as profecias sobre o Messias. Como disse Ernest Renan, o Evangelho de Mateus tornou-se "o livro mais importante da história universal".

O Evangelho de São Mateus tem seis grandes partes: 1 – A Infância de Jesus (caps. 1 e 2); 2 – Começo da missão de Jesus (3-4); 3 – o Sermão da Montanha; 4 – Ministério de Jesus na Galileia (8 a 18), no cap. 13 Mateus narra sete Parábolas do Reino de Deus; 5 – Ministério de Jesus na Judeia (19 a 25); 6 – Paixão e Ressurreição de Jesus (26 a 28). É o Evangelho mais longo de todos, bem escrito e detalhado.
Portanto, o Ano A é uma oportunidade de se conhecer e meditar bem este Evangelho, escrito por alguém que conviveu com Jesus e que mostra detalhes muito importantes de Sua vida e de Seu ensinamento. É um convite para que participemos assiduamente da Santa Missa neste ano.

Vivendo bem a Liturgia, temos a oportunidade de crescer na fé, na espiritualidade, no amor à Igreja e aos irmãos.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/o-ano-liturgico-da-igreja-e-dividido-em-tempos-liturgicos/


18 de novembro de 2022

Conheça os santos, beatos e veneráveis que viveram no Brasil


Para ser considerado um santo é preciso passar por três etapas: confirmação das "virtudes heroicas", beatificação e canonização. As últimas duas exigem a comprovação de um milagre.

comshalom Relicario Menina Benigna (Imagem/Reprodução)

Atualmente, em números, temos um baixo número de santos no Brasil se comparado com a quantidade de fiéis brasileiros. Por qual razão um dos países que "muito reza" teria poucos santos nacionais? Ou será que poucos homens e mulheres canonizados viveram no Brasil?

Afinal, quantos santos deveria ter um país, cuja grande maioria da população é católica?

O fato é que, quando se fala em números, tudo acaba se tornando relativo. E a resposta, neste caso, nunca seria precisa. Se notarmos os últimos beatificados pela Santa Sé, os jovens, Carlo Acutis e Sandra Sabattini, foram beatificados após a comprovação de milagres ocorridos no Brasil por brasileiros, além deles, muitos foram os milagres ocorridos aqui. Assim como aconteceu com o milagre que canonizou os Santos Pastorinhos.

"O Brasil precisa de santos"

Durante a canonização de Madre Paulina – uma religiosa italiana, que passou parte da vida no Brasil – o Papa João Paulo II foi efusivo ao afirmar: 

"O Brasil precisa de santos; o Brasil precisa de muitos santos"

O professor Felipe Aquino explica que, na ocasião, João Paulo II não estava se referindo aos santos oficiais, aqueles dos altares, mas a uma Igreja "chamada à semelhança com Deus, que é santo, numa 'santidade fundamental da Igreja, também na vida dos leigos', capaz de gerar frutos de justiça e paz".

E conclui o pensamento:  "É inegável a importância para a comunidade cristã, especialmente para os mais novos, de modelos, de pessoas que viveram a nossa realidade, pisaram o nosso chão e venceram. A Igreja, então, com muito cuidado e zelo, analisa a vida de seus fiéis com fama de santidade, sendo a canonização a sentença definitiva pela qual o Papa insere no 'Catálogo dos Santos' alguém já proclamado Bem-aventurado, podendo lhe ser prestada veneração."

Santos que viveram no Brasil

De acordo com o site Santos do Brasil, a Igreja já canonizou 37 santos que nasceram ou viveram no Brasil.

  • Santo André de Soreval e companheiros: Mártires de Cunhaú e Uruaçu (25 homens e 5 mulheres mártires do Rio Grande do Norte)
  • Santo Antônio de Sant'Ana Galvão (nascido em Guaratinguetá, São Paulo)
  • Santa Dulce dos Pobres (nascida em Salvador, Bahia)
  • São José de Anchieta, SJ (nascido na Espanha)
  • Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus (nascida na Itália)
  • São Roque Gonzales, e companheiros Santo Afonso Rodrigues e São João de Castilho (mártires do Rio Grande do Sul)

Beatos

A lista feita pelo referido site também mostra 54 beatos que tiveram suas vidas e seus trabalhos religiosos ligados ao Brasil. São homens e mulheres que estão avançando no processo de canonização. A relação inclui dois casos em que a beatificação já foi aprovada pelo Vaticano, mas ainda não aconteceu. Confira alguns:

  • Beata Albertina Berkenbrock, mártir;
  • Beata Benigna Cardoso da Silva, mártir (beatificação aprovada com data a ser definida);
  • Beato Donizetti Tavares de Lima;
  • Beata Francisca de Paula de Jesus (conhecida como Nhá Chica);
  • Beato Inácio de Azevedo e 39 companheiros mártires (40 Mártires do Brasil);
  • Beata Isabel Cristina Mrad Campos, mártir (Beatificação aprovada com data a ser definida);
  • Beato João Schiavo;
  • Beata Lindalva Justo de Oliveira, mártir
  • Beata Benigna

Servo de Deus e Veneráveis

Primeiramente, é reconhecido como "Servo de Deus", quando o Vaticano aceita abrir o processo de beatificação encaminhado por alguma diocese. Assim que for reconhecido que o candidato cumpriu de forma heroica as 11 virtudes exigidas ou sofreu martírio em defesa da fé, ele passa à condição de "Venerável".

Veneráveis são aqueles que já tiveram as virtudes heroicas reconhecidas no processo de canonização. Aguardam o reconhecimento de um milagre, que é requisito para a beatificação. Assim, 18 homens e mulheres que viveram no Brasil estão nesta fase do processo. São alguns deles:

Santos ao pé da porta

Os santos, beatos e servos de Deus e Veneráveis brasileiros nos precedem no cumprimento do plano de Deus, mas com o Papa Francisco queremos dar espaço também para aqueles santos do dia a dia: "Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados. O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus" (Exortação Apostólica Alegrai-vos e Exultai, n. 6). Na comunhão dos santos está cada membro da Igreja, consagrado pelo batismo, vocacionado à santidade.

Como Comunidade Católica Shalom, lembramo-nos sempre com gratidão dos "santos ao pé da porta", "daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus" (AE, 7), especialmente os jovens, que preferem nadar contra a corrente e abraçar o feliz desafio da santidade. Com o olhar erguido ao céu, agradecemos a Deus por aqueles que já partiram e que cremos que nos precedem na casa do Pai, passaram pela nossa Comunidade como missionários e deixaram o seu legado de vida santa, como não lembrar de irmãos das primeiras horas como Ronaldo Pereira que coordenou o Projeto Juventude; Reinaudi, missionário na Argélia, e tanto outros.

Mesmo sem que nenhum destes membros tenham iniciado processo algum de canonização, queremos nos deixar "estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo" (AE, 8).

 

 



Fonte: https://comshalom.org/santos-beatos-e-veneraveis-que-viveram-no-brasil/

16 de novembro de 2022

A força de uma gentileza


Em um mundo onde se coloca em evidência aquilo que não é bom, ser gentil pode parecer fraqueza, mas, na verdade, é bem ao contrário. Quem nunca mudou de ideia depois de um sorriso verdadeiro, um aperto de mão ou até mesmo uma palavra animadora? Atitudes de carinho, respeito e atenção fazem toda a diferença onde quer que seja e têm força para abrir portas e nos levar para as grandes realizações. É que o coração humano, criado para amar e ser amado, tem sede de ternura; e quando a encontra, deixa-se guiar por ela. Já a rispidez é exatamente contrária aos nossos anseios, por isso, nos fere tanto quando a recebemos.

Dizem que a falta de gentileza machuca nossa sensibilidade tanto quanto uma geada caindo sobre as flores. Retarda o crescimento de tudo o que é amável e nos impede de desabrochar com a beleza e a simplicidade que trazemos na alma. Por outro lado, a gentileza é comparada a um verão maravilhoso, cujo calor estimula e influência o crescimento das belas virtudes que somos capazes de externar. A gentileza é resultado de um coração forte, curado e unido a Deus pela força de seu amor original e, além  disso, jamais pode ser confundida com a fraqueza, pois essa faz barulho e tenta impressionar; já a gentileza é discreta e faz questão de não aparecer.

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Foto Ilustrativa: fzant by Getty Images

A falta de gentileza machuca nossa sensibilidade

Existe uma fábula atribuída a Esopo que ilustra bem este contraste:
"Conta-se que o sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte.
Então, o vento disse:
– Provarei que sou o mais forte.
Vê aquela mulher que vem caminhando com um lenço azul no pescoço?
Aposto como posso fazer com que ela tire o lenço mais depressa do que você.
O sol aceitou a aposta e recolheu-se atrás de uma nuvem.
O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas quanto mais ele soprava com força,
mais a mulher segurava o lenço junto ao pescoço.
Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar.
Então, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher.
Com esse gesto, ela, imediatamente, esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço, respirando aliviada.
O sol disse, então, ao vento:
– Lembre-se disso, meu amigo: 'A gentileza e a bondade são sempre mais fortes do que a fúria e a força'".

Gentileza e tempo

Talvez, seja por isso que as pessoas que agem com gentileza, respeito e consideração são sempre tão admiradas e, dependendo do caso, até mesmo temidas. São Francisco de Sales, grande doutor da Igreja, certa vez escreveu: "Quando encontrar dificuldades e contradições, não as tente derrubar com sua força; aceite-as com gentileza e tempo". E ele continua explicando que, assim, se alcançará a vitória. Até porque, muitas vezes, por trás de uma palavra grosseira ou até mesmo um gesto humilhante, está um coração ferido, pedindo para ser amado; e a gentileza, expressa com sinceridade, pode ser o canal para a cura acontecer.


Diante dessa fábula, recordo-me também da passagem de I Reis 19,11-12, que narra a história do profeta Elias, no monte Horeb, desejoso de encontrar a Deus. "Um grande e forte vento rasgou os montes e despedaçou rochas, mas o Senhor não estava no vento. Depois da tempestade, veio um furacão com resultados amedrontadores, mas o Senhor não estava no terremoto. Veio, então, um fogo, mas o Senhor não se encontrava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se um doce sussurro no ar, uma voz mansa e cheia de amabilidade, e ali estava Deus". Um Deus gentil e amoroso que, mesmo tendo poder para criar o universo e manter o mundo, escolhe revelar-Se com gentileza e amor.

Fiquemos atentos às oportunidades que Ele nos dá, sendo canais da ternura neste mundo tão sedento de amor!



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN.  De segunda a sexta-feira (exceto quinta-feira), está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 14h40 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/a-forca-de-uma-gentileza/


12 de novembro de 2022

Buscar ajuda ou enfrentar os problemas sozinho?


Vivemos um tempo de desconfiança e autossuficiência, em que o ser humano se isola, cada vez mais, em seu universo, principalmente no que diz respeito aos conceitos e à vida interior. O fato de estarmos imersos neste mundo da superficialidade nos impede e cega de enxergar, muitas vezes, aquilo que é óbvio.

O problema é que nossa cegueira vem sempre com justificativas de ideais e ideias, os quais assumem o lugar da verdade e, no fundo, impedem-nos de ver a Verdade. Imagine você preso em um quarto em chamas, que se encontra com todas as janelas trancadas, e a única porta de saída emperrada. Você está inalando aquela fumaça tóxica e não suportará muito tempo neste lugar, até que perca a consciência e venha a desmaiar e, com muita sorte, não morra. Neste momento, você acha que precisa de ajuda ou não? Creio que você irá concordar que uma ajuda externa, neste momento, é extremamente necessária.

Bom, assim somos nós quando estamos imersos em nossos pensamentos catastróficos, disfuncionais, irrealistas; quando estamos inseridos em um problema que nos tira de "órbita" e ficamos reféns de nossas emoções. Esses problemas acontecem em nossa vida com mais frequência do que imaginamos, e um olhar de quem está de fora pode ser essencial para sair deste quadro trágico. Ter humildade para buscar ajuda é algo que precisamos aprender a fazer, pois, como disse, neste tempo de autossuficiência e orgulho, pedir ajuda tem um tom de humilhação. Mas nos enganamos quando pensamos assim, pois, muitas vezes, quem está fora deste quarto cheio de fumaça enxerga e respira melhor que aquele que já não sabe se irá sobreviver.

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Não é qualquer ajuda que pode socorrê-lo

No entanto, é extremamente importante saber que não é qualquer ajuda que pode nos socorrer diante desses dias difíceis. É preciso ser uma pessoa qualificada, seja ela no campo da saúde, como um psicólogo ou psiquiatra, ou na dimensão espiritual, sendo um diretor espiritual. Para cada dor existe um especialista. Avalie apenas se essa pessoa com quem você buscou ajuda está a sua frente, de algum modo, na linha de amadurecimento. Pois só quem está a nossa frente é capaz de nos auxiliar neste caminho de saída.


Façamos o que nos for proposto, mesmo que doa, pois para sair desse quarto vamos precisar nos violentar e ter forças que já pensávamos não ter mais. Sempre que iniciamos um tratamento, os primeiros dias são caóticos, parece que tudo piorou, pois toda a fumaça está diante dos olhos e não se vê a saída. Até que tudo se assenta e a porta de saída fica aberta diante dos nossos olhos, aguardando apenas que nos levantemos e atravessemos aquela que parecia intransponível.

Cuidado com as escolhas

Então, não tenhamos medo nem vergonha de pedir socorro, pois é necessário. Apenas tenhamos cuidado com nossas escolhas, pois elas podem também vir disfarçada, e podemos nem perceber que estamos sendo conduzidos para um outro quarto fechado, escuro e cheio de fumaça. Sejamos criteriosos e observemos se aquele que nos auxilia vive a verdade e a bondade de que o ser humano tanto necessita. Ao enxergarmos isso na vida dele, a esperança brotará em nós e o socorro virá.

 



Aline Rodrigues

Aline Rodrigues é missionária da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo. É psicóloga desde 2005, com especializações na área clínica e empresarial e pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental. Possui experiência profissional tanto em atendimento clínico, quanto empresarial e docência. Autora do livro "Conversando sobre ansiedade: aprenda a vencer os seus limites", pela Editora Canção Nova. Instagram: @alinerodrigues.ss


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/buscar-ajuda-ou-enfrentar-os-problemas-sozinho/


10 de novembro de 2022

Como conviver com os defeitos do outro no casamento?


Para responder a pergunta do nosso título, é necessário entender bem o sentido profundo do casamento. A união do homem com a mulher, no matrimônio, tem dupla finalidade: o bem do casal e a geração e educação dos filhos. Deus mandou ao casal: "Crescei e multiplicai" (Gen 1,26).

Essa dupla atividade exige muito esforço, luta e graça de Deus. A beleza do matrimônio está justamente em "fazer o outro crescer", gerar e educar os filhos de Deus, os quais, um dia, vão habitar o Céu. No Céu, não haverá mais casamento nem nascerão mais crianças. Essa bela missão Deus confiou aos homens e mulheres nesta vida. Portanto, a grandeza sublime dessa dupla missão é que deve levar o casal a compreender sua imensa responsabilidade, tanto um em relação ao outro quanto em relação aos filhos. É isso que deve estar subjacente a todo sacrifício que a vida conjugal exige. É uma missão que exige disposição, maturidade, amor e dedicação sem fim.

O casamento não é uma curtição a dois, é uma missão. Não é uma vida só de prazeres e alegrias, mas também de luta, abnegação, renúncias e sacrifícios.

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A base do matrimônio é dar e receber amor

A base do matrimônio é o amor, o dar a vida pelos outros, o esquecer-se de si mesmo para fazer o cônjuge e os filhos crescerem em tudo que é bom. São Paulo compara o amor do casal ao amor de Cristo pela Igreja, que por amor se imolou por ela.

"Maridos, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela" (Ef 5,25).

O que o apóstolo diz para os maridos vale também para as esposas. O amor de um pelo outro deve ser o mesmo amor de Cristo, que O levou a dar a vida até o fim pela Igreja. São João diz: "Tendo amado os seus, amou-os até o fim" (João 13,1).

Jesus disse que ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelo outro. Dar a vida significa gastar-se pelo bem do outro, aceitar-se consumir como uma vela que queima para iluminar e aquecer.


Compreendendo um ao outro

Todos os maridos e esposas têm seus defeitos e pecados, por isso todos têm a necessidade e o direito de serem amados e perdoados. Antes de tudo, para conviver com os defeitos do cônjuge, é necessário aceitá-lo na sua realidade. Nós não fabricamos uma pessoa, nós nos casamos com ela como ela é, com suas qualidades e defeitos; virtudes e pecados.

A primeira grande missão do casal é um fazer o outro crescer com a sua dedicação. São Paulo ensina o verdadeiro amor: "O amor é paciente, o amor é bondoso, não tem inveja nem é orgulhoso. Não é arrogante nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará" (1 Cor 13,4-8).

Para suportar os defeitos do outro, acima de tudo, é preciso a paciência que tudo vence. Isso não quer dizer que se aceite ser maltratado nem tolerar agressões físicas ou permitir que nos tratem como objetos, mas saber aceitar o outro quando age de um modo diferente de mim. Não podemos nos colocar no centro, nem querer que se faça somente a nossa vontade. É isso que faz as pessoas impacientes, a reagirem com agressividade, reclamação, lamúrias etc.

A sabedoria no relacionamento

Santo Agostinho ensinava que para alcançarmos Deus temos de suportar aquele com quem vivemos. Ele dizia que "não há lugar para a sabedoria onde não há paciência".

Papa Francisco disse que "amar é ser amável. O amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato. Seus modos, suas palavras e seus gestos são agradáveis; não são ásperos nem rígidos. O amor detesta fazer sofrer os outros".

Os terapeutas conjugais recomendam nunca gritar um com o outro; não jogar no rosto do outro os erros do passado; nunca dormir brigados; não ser displicente, sem atenção com o outro; trocar as discussões por bons diálogos e, quando tiver de chamar a atenção do outro, fazer com amor, na hora certa, na privacidade, e sempre lembrar de elogiá-lo.

Temos de ter compreensão com os defeitos do outro, porque nós também temos os nossos; e quem quer ser compreendido deve também saber compreender e tolerar os erros dele. Jesus manda que tiremos, antes, o cisco do nosso próprio olho, antes de tirar do olho do outro. Se tivermos de lutar contra o erro do outro, então, é preciso fazer com sabedoria e amor, sem violência. São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que "o que não puder ser mudado por amor não deve ser tentado de outro jeito, porque não vai dar certo".

Aprenda a perdoar

Lembre-se de que se perde a caridade quando se perde a paciência. Deus disse a Santa Catarina de Sena: "A virtude da paciência é o sinal externo de que Eu estou numa alma e ela em Mim".

Para conviver com os defeitos do outro, é preciso também não deixar que o ressentimento se aninhe no coração, mas saber perdoar com uma atitude positiva, buscando compreender a fraqueza alheia.

Não há dúvida de que a boa convivência só pode ser conservada e aperfeiçoada com grande espírito de sacrifício. Isso exige de cada um generosa disponibilidade à compreensão, à tolerância, ao perdão e a reconciliação. É claro que para podermos agir assim precisamos da graça de Deus. Jesus disse: "Sem Mim nada podeis fazer!" (João 15,5). É preciso lembrar sempre disso, e sempre buscar o auxílio da graça de Deus na oração, na meditação da Palavra de Deus, na Eucaristia etc.

São Paulo disse que o "amor tudo desculpa". Isso exige não fazer um juízo apressado sobre o outro e conter a tendência de condenar de maneira dura e implacável: "Não condeneis e não sereis condenados" (Lc 6,37).

São Paulo também diz que "o amor tudo suporta". Isso significa uma resistência dinâmica e constante, capaz de superar qualquer desafio. Evidentemente, para isso é preciso o dom precioso da fortaleza, dada pelo Espírito Santo. Muitas vezes, um cônjuge, para salvar outro, precisa dessa força sobrenatural; para muitos, é uma cruz que se carrega pela salvação do outro. E a graça do sacramento do matrimônio supre essa necessidade.

A arte do silêncio

Muitas vezes, é o silêncio de um que acalma o coração do outro. Outras vezes, será por um abraço carinhoso ou por uma palavra amiga.

Todos nós temos a necessidade de um "bode expiatório" quando algo adverso nos ocorre. Quase, inconscientemente, queremos "pegar alguém para Cristo", a fim de desabafar nossas mágoas e tensões. Isso é um mecanismo de compensação psicológica que age em todos nós nas horas amargas, mas é um grande perigo na vida conjugal. Quantas e quantas vezes acabam "pagando o pato" as pessoas que nada têm a ver com o problema que nos afetou! Algumas vezes, são os filhos que apanham do pai, que chega em casa nervoso e cansado; outras vezes, é a esposa ou o marido que recebe do outro uma enxurrada de lamentações, reclamações e ofensas, sem quase nada ter a ver com o problema em si.

Temos de nos vigiar e policiar nessas horas, para não permitirmos que o sangue quente nas veias gere uma série de injustiças com os outros. Temos de tomar redobrada atenção com o cônjuge, para que ele não sofra as consequências de nossos desatinos.

No serviço e fora de casa, respeitamos as pessoas, o chefe, a secretária etc., mas, em casa, onde somos "familiares", o desrespeito acaba acontecendo. Exatamente onde estão os nossos entes mais queridos, no lar, é ali que, injustamente, descarregamos as paixões e o nervosismo. É preciso toda a atenção e vigilância para que isso não aconteça.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/como-conviver-com-os-defeitos-outro-no-casamento/