10 de novembro de 2022

Como conviver com os defeitos do outro no casamento?


Para responder a pergunta do nosso título, é necessário entender bem o sentido profundo do casamento. A união do homem com a mulher, no matrimônio, tem dupla finalidade: o bem do casal e a geração e educação dos filhos. Deus mandou ao casal: "Crescei e multiplicai" (Gen 1,26).

Essa dupla atividade exige muito esforço, luta e graça de Deus. A beleza do matrimônio está justamente em "fazer o outro crescer", gerar e educar os filhos de Deus, os quais, um dia, vão habitar o Céu. No Céu, não haverá mais casamento nem nascerão mais crianças. Essa bela missão Deus confiou aos homens e mulheres nesta vida. Portanto, a grandeza sublime dessa dupla missão é que deve levar o casal a compreender sua imensa responsabilidade, tanto um em relação ao outro quanto em relação aos filhos. É isso que deve estar subjacente a todo sacrifício que a vida conjugal exige. É uma missão que exige disposição, maturidade, amor e dedicação sem fim.

O casamento não é uma curtição a dois, é uma missão. Não é uma vida só de prazeres e alegrias, mas também de luta, abnegação, renúncias e sacrifícios.

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A base do matrimônio é dar e receber amor

A base do matrimônio é o amor, o dar a vida pelos outros, o esquecer-se de si mesmo para fazer o cônjuge e os filhos crescerem em tudo que é bom. São Paulo compara o amor do casal ao amor de Cristo pela Igreja, que por amor se imolou por ela.

"Maridos, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela" (Ef 5,25).

O que o apóstolo diz para os maridos vale também para as esposas. O amor de um pelo outro deve ser o mesmo amor de Cristo, que O levou a dar a vida até o fim pela Igreja. São João diz: "Tendo amado os seus, amou-os até o fim" (João 13,1).

Jesus disse que ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelo outro. Dar a vida significa gastar-se pelo bem do outro, aceitar-se consumir como uma vela que queima para iluminar e aquecer.


Compreendendo um ao outro

Todos os maridos e esposas têm seus defeitos e pecados, por isso todos têm a necessidade e o direito de serem amados e perdoados. Antes de tudo, para conviver com os defeitos do cônjuge, é necessário aceitá-lo na sua realidade. Nós não fabricamos uma pessoa, nós nos casamos com ela como ela é, com suas qualidades e defeitos; virtudes e pecados.

A primeira grande missão do casal é um fazer o outro crescer com a sua dedicação. São Paulo ensina o verdadeiro amor: "O amor é paciente, o amor é bondoso, não tem inveja nem é orgulhoso. Não é arrogante nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará" (1 Cor 13,4-8).

Para suportar os defeitos do outro, acima de tudo, é preciso a paciência que tudo vence. Isso não quer dizer que se aceite ser maltratado nem tolerar agressões físicas ou permitir que nos tratem como objetos, mas saber aceitar o outro quando age de um modo diferente de mim. Não podemos nos colocar no centro, nem querer que se faça somente a nossa vontade. É isso que faz as pessoas impacientes, a reagirem com agressividade, reclamação, lamúrias etc.

A sabedoria no relacionamento

Santo Agostinho ensinava que para alcançarmos Deus temos de suportar aquele com quem vivemos. Ele dizia que "não há lugar para a sabedoria onde não há paciência".

Papa Francisco disse que "amar é ser amável. O amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato. Seus modos, suas palavras e seus gestos são agradáveis; não são ásperos nem rígidos. O amor detesta fazer sofrer os outros".

Os terapeutas conjugais recomendam nunca gritar um com o outro; não jogar no rosto do outro os erros do passado; nunca dormir brigados; não ser displicente, sem atenção com o outro; trocar as discussões por bons diálogos e, quando tiver de chamar a atenção do outro, fazer com amor, na hora certa, na privacidade, e sempre lembrar de elogiá-lo.

Temos de ter compreensão com os defeitos do outro, porque nós também temos os nossos; e quem quer ser compreendido deve também saber compreender e tolerar os erros dele. Jesus manda que tiremos, antes, o cisco do nosso próprio olho, antes de tirar do olho do outro. Se tivermos de lutar contra o erro do outro, então, é preciso fazer com sabedoria e amor, sem violência. São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que "o que não puder ser mudado por amor não deve ser tentado de outro jeito, porque não vai dar certo".

Aprenda a perdoar

Lembre-se de que se perde a caridade quando se perde a paciência. Deus disse a Santa Catarina de Sena: "A virtude da paciência é o sinal externo de que Eu estou numa alma e ela em Mim".

Para conviver com os defeitos do outro, é preciso também não deixar que o ressentimento se aninhe no coração, mas saber perdoar com uma atitude positiva, buscando compreender a fraqueza alheia.

Não há dúvida de que a boa convivência só pode ser conservada e aperfeiçoada com grande espírito de sacrifício. Isso exige de cada um generosa disponibilidade à compreensão, à tolerância, ao perdão e a reconciliação. É claro que para podermos agir assim precisamos da graça de Deus. Jesus disse: "Sem Mim nada podeis fazer!" (João 15,5). É preciso lembrar sempre disso, e sempre buscar o auxílio da graça de Deus na oração, na meditação da Palavra de Deus, na Eucaristia etc.

São Paulo disse que o "amor tudo desculpa". Isso exige não fazer um juízo apressado sobre o outro e conter a tendência de condenar de maneira dura e implacável: "Não condeneis e não sereis condenados" (Lc 6,37).

São Paulo também diz que "o amor tudo suporta". Isso significa uma resistência dinâmica e constante, capaz de superar qualquer desafio. Evidentemente, para isso é preciso o dom precioso da fortaleza, dada pelo Espírito Santo. Muitas vezes, um cônjuge, para salvar outro, precisa dessa força sobrenatural; para muitos, é uma cruz que se carrega pela salvação do outro. E a graça do sacramento do matrimônio supre essa necessidade.

A arte do silêncio

Muitas vezes, é o silêncio de um que acalma o coração do outro. Outras vezes, será por um abraço carinhoso ou por uma palavra amiga.

Todos nós temos a necessidade de um "bode expiatório" quando algo adverso nos ocorre. Quase, inconscientemente, queremos "pegar alguém para Cristo", a fim de desabafar nossas mágoas e tensões. Isso é um mecanismo de compensação psicológica que age em todos nós nas horas amargas, mas é um grande perigo na vida conjugal. Quantas e quantas vezes acabam "pagando o pato" as pessoas que nada têm a ver com o problema que nos afetou! Algumas vezes, são os filhos que apanham do pai, que chega em casa nervoso e cansado; outras vezes, é a esposa ou o marido que recebe do outro uma enxurrada de lamentações, reclamações e ofensas, sem quase nada ter a ver com o problema em si.

Temos de nos vigiar e policiar nessas horas, para não permitirmos que o sangue quente nas veias gere uma série de injustiças com os outros. Temos de tomar redobrada atenção com o cônjuge, para que ele não sofra as consequências de nossos desatinos.

No serviço e fora de casa, respeitamos as pessoas, o chefe, a secretária etc., mas, em casa, onde somos "familiares", o desrespeito acaba acontecendo. Exatamente onde estão os nossos entes mais queridos, no lar, é ali que, injustamente, descarregamos as paixões e o nervosismo. É preciso toda a atenção e vigilância para que isso não aconteça.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/como-conviver-com-os-defeitos-outro-no-casamento/


8 de novembro de 2022

Há santos no Antigo Testamento?



"Pelo que entendi, não existem santos do Antigo Testamento, mas acho que preciso pesquisar mais e me catequizar. Alguém poderia me orientar sobre esta dúvida, por favor?" (pergunta de um leitor no Facebook)

Há santos declarados no Antigo Testamento? Sim, eles existem, e poderiam ser mencionados como "São…". Não existem muitos, mas são personagens muito significativos em sua maioria. Mencionarei, de maneira resumida, os critérios seguidos para chegar a esta conclusão, extraídos fundamentalmente da própria Bíblia.

Em primeiro lugar, os mais incontestáveis são os que aparecem na glória. É o que acontece com Moisés e Elias – representantes da Lei e dos profetas, respectivamente –, que acompanham Jesus de maneira gloriosa na transfiguração, no Monte Tabor. Sem dúvida, não há garantia melhor da sua santidade.

Semelhante ao anterior é o caso de João Batista, que podemos considerar como o último profeta do Antigo Testamento. Já constatamos sua confirmação em graça desde o ventre materno, além de termos as palavras de Jesus sobre ele e o seu martírio. Tampouco há dúvidas a seu respeito.

Em segundo lugar, temos os mártires. Surgem aqui, primeiramente, os sete irmãos Macabeus com sua mãe. É útil, neste capítulo, complementar os dados bíblicos com a tradição judaica. Esta diz – de maneira muito verossímil – que o profeta Isaías foi assassinado pelo rei Manassés, porque a mensagem do profeta não o agradava.

A Bíblia também fala de Jeremias, ainda que, neste caso, seria suficiente considerá-lo como confessor (no sentido técnico do termo), pois ele passou a vida inteira sofrendo devido à sua fidelidade a Deus.

Depois, temos o capítulo 11 da Carta aos Hebreus, que menciona vários personagens do Antigo Testamento colocados como exemplos pela sua vida de fé. Isso não é exatamente uma declaração de santidade, mas se aproxima bastante dela, sobretudo com a frase que encerra o capítulo: "… de maneira que não chegaram à perfeição sem nós" (o sentido é que sua santidade foi possível graças aos méritos de Cristo, ou seja, que o Novo Testamento torna possível que exista santidade no Antigo Testamento). Antes, o texto já menciona que eles alcançaram as promessas.

Há outro caso no qual o que se narra no Antigo Testamento é suficiente para permitir concluir que a pessoa levou uma vida santa: Eliseu, perfeito continuador do espírito e da missão de Elias.

Se voltarmos ao mencionado capítulo da Carta aos Hebreus, comprovaremos que alguns dos mencionados nem sempre tiveram uma conduta exemplar. Mas não podemos nos esquecer de que o santo não é aquele que nunca pecou, mas aquele que morre amando a Deus, depois de ter se arrependido sincera e profundamente dos seus pecados. O melhor exemplo é o rei Davi, a quem o próprio Deus coloca como exemplo e que, no Salmo 50, nos mostra seu arrependimento sincero, de maneira maravilhosa e poética.

Em diversos casos, acontece de não se poder concluir a santidade de um personagem por contar com poucos dados da sua vida.

Finalmente, convém deixar claro que a santidade é obra, em primeiro lugar, da graça divina (e também da colaboração humana, claro). E a graça foi obtida por Jesus Cristo, com seu sacrifício na cruz.

Portanto, são os méritos de Cristo que também tornam possível a santidade antes da sua Encarnação. Deus podia fazer isso (pois está fora do tempo) e o fez, assim como também adiantou o sacrifício eucarístico na Quinta-Feira Santa.


Fonte: https://pt.aleteia.org/2014/05/23/ha-santos-no-antigo-testamento/


5 de novembro de 2022

Maria e a vida carismática

A devoção verdadeira à Virgem Santíssima inserida na vida carismática nos orienta que devemos conversar com Maria, orar com ela utilizando também nossas próprias palavras e expressando a Ela, que é Mãe, tudo que se passa conosco, o que sentimos e pensamos

comshalom

Ela esteve presente quando a Unção do Pai, o Espírito Santo, veio sobre os apóstolos e as mulheres reunidos em oração . Esteve também presente diante do Cristo Crucificado, marcado e humilhado por nossas dores. Se fez presente no primeiro milagre público de Jesus, nas bodas de Caná. Foi a protagonista da anunciação da Encarnação do Verbo. Seu nome é Maria. A Mulher que esteve presente em acontecimentos marcantes da Nova Aliança, anunciada pelo Pai no Gênesis como Mãe da geração que vencerá o maligno.

Leia mais | Virgem Maria, a toda pequena

Todos sabemos que Ela foi uma mulher de profunda oração e contemplação, marcada pela força e sutileza do Espírito Santo. Sendo alguém que vivia profundamente o silêncio, porém nunca deixando de tomar atitudes e ações. Maria pôs-se a caminho, para servir, diversas vezes, como quando foi ajudar sua prima Isabel, a estéril que engravidara do profeta João Batista, por obra e graça do Espírito Santo.

Reflitamos juntos sobre a Virgem Santíssima e a vida carismática. Em diversas pregações e partilhas contam-nos que Maria foi um "para-raio" para atrair o Espírito Santo à Igreja reunida ali no Cenáculo, clamando por Aquele que fecundou seu seio e renovara seu ser, mas que a partir daquele momento seria derramado sobre todos aqueles que aderissem ao Evangelho de Cristo e à Igreja, sendo os apóstolos e as mulheres mais próximas deles os primeiros a receberem. Há, então, uma grande explosão de dons do Espírito Santo, que eram manifestados quando os apóstolos e discípulos pregavam a Palavra de Jesus e oravam junto ao novo povo de Deus.

A devoção a Maria 

Desejamos e incentivamos que rezemos todos os dias o santo terço, contemplando os mistérios da vida de Cristo através da vida de Maria. Porém uma verdadeira devoção à Nossa Senhora não é vivida apenas com o terço rezado e meditado diariamente, nem somente imitando as características dela. A devoção verdadeira à Virgem Santíssima inserida na vida carismática nos orienta que devemos conversar com Maria, orar com ela utilizando também nossas próprias palavras e expressando a Ela, que é Mãe, tudo que se passa conosco, o que sentimos e pensamos, o que agradecemos a Deus, o que pedimos e precisamos. Ao exercitar essa oração espontânea mais livre com Maria, percebemos que dentro de poucos minutos já estaremos orando com Jesus. Sutilmente Maria (o caminho mais rápido, fácil e curto) nos encaminha a Ele, que é o Caminho.  

São João Bosco nos afirma que Maria jamais abandona quem lhe pede auxílio. E mais ainda não negará o Espírito Santo se pedirmos através dela, a Esposa do Espírito. Peçamos a graça do Espírito Santo e seus dons pelas mãos da Virgem Maria. Quando Ele encontra Maria numa alma, Ele não resiste.

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Íntima do Espírito Santo

Não houve nesta terra quem tivesse mais intimidade com o Espírito Santo. Maria Santíssima é plena em dons e graças diante do Espírito, assim como o Anjo Gabriel afirmou na anunciação. Nenhuma outra pessoa na história da Bíblia de "a cheia de graça". Os dons que precisamos para nossa vida de oração e para ajudar os irmãos e à Igreja virão a nós através de Maria.

Quando nos dispomos espiritualmente a nos esvaziar de nós mesmos e damos liberdade ao Espírito Santo e a Maria, eles realizam em nós o que desejam, ou seja, o melhor para nós. Os grandes sinais e prodígios se farão presentes quando forem necessários para nossa salvação, mas a graça que nos conduz a Cristo sempre virá do Espírito Santo e Maria juntos. Rezemos com um coração aberto como de uma criança que confia na sua mãe e se entrega livremente em seus braços, confiando que ela cuidará de mim, de você, de nós.

Há pessoas entre nós que afirmam não ter dons, mas isto não é verdade. No Batismo e na Crisma recebemos os dons do Espírito, e vivenciamos a prática desses dons através da nossa vida de oração pessoal e comunitária. Que as pessoas que se consideram sem dons, peçam hoje a graça de experimentarem a potência do Espírito Santo através da Virgem Maria e se ponham a caminho. Peçam a Deus a coragem de serem ousados e corajosos espiritualmente, pois o mundo de hoje padece pelo fato dos cristãos  não agirem como filhos da Luz. Nosso problema é espiritual e de falta de informação.

Que as pessoas tentadas pelo inimigo saibam hoje que têm uma Mãe por eles no Céu. Clamem pela proteção da Virgem Maria, aquela que esmagou a cabeça de Satanás através do seu fiat. Peçam à Virgem Maria a graça de lembrar todos os seus pecados para realizarem uma boa confissão. O sacramento da confissão é indispensável para a nossa cura espiritual e para nos livrarmos da opressão do inimigo.

Um coração confiante jamais temerá a Noite Escura, pois sua Mãe estará para sempre caminhando ao seu lado.

Rodrigo César Neves


Fonte: https://comshalom.org/maria-e-vida-carismatica/

31 de outubro de 2022

O que fazer quando perdemos a vontade de rezar?

Há horas em que não sinto a menor vontade de dialogar com algumas pessoas, mas, porque preciso, acabo deixando minha vontade de lado e vou ao encontro delas, converso, trabalho, convivo e sigo em frente. Com Deus não é diferente. Às vezes, envolvo-me tanto com as coisas, que não sinto vontade de falar com Ele, ou seja, de rezar, mas porque sei que preciso e, até mais, dependo da Sua graça, vou ao Seu encontro por meio da oração.

É claro que isso exige empenho e perseverança, porque, na verdade, a vida de oração é um conquista diária; e como nenhuma conquista é isenta de lutas, é preciso lutar para ser orante. Aliás, Santa Teresa de Jesus afirma, em sua autobiografia, que oração e vida cômoda não combinam em nada; ela lembra ainda que uma das maiores vitórias do demônio é convencer alguém de que não é preciso rezar. Ou seja, quando o assunto é vida de oração, é preciso ter consciência de que se trata de um luta espiritual, e para vencer o único caminho é rezar com ou sem vontade. Até porque, como diz o ditado popular, "vontade dá e passa". Se eu escolho deixar-me guiar apenas pelo meu querer, corro o risco de ser vazia, sem sentido.

Eu sei que, com o passar do tempo e o acúmulo de atividades, corremos o sério risco de, aos poucos, irmos deixando a oração de lado ou rezarmos de qualquer jeito, até chegarmos a um "deserto espiritual" e termos uma certa apatia quando o assunto é oração. Mas é justamente nesta hora que precisamos ir além dos sentimentos e considerarmos que o "deserto também é fecundo" quando vivido em Deus, e pela sua misericórdia em nossa vida tudo é graça!

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Deserto espiritual

Consolações e desolações, alegria e tristeza, perdas e ganhos, tudo é fruto do amor de Deus, o qual permite vivermos as provas enquanto nos chama a crescermos e frutificarmos em toda e qualquer situação. Portanto, no ponto em que você está agora, volte a fixar sua alma em Deus e permita que Ele lhe devolva a si mesmo, pela força da oração.

Ao absorvermos tanta agitação e estímulos em nossos dias, acabamos perdendo o contato com nossa verdadeira essência, e ficamos tão distraídos e preocupados com tudo o que está acontecendo a nossa volta, que acabamos fragmentados, confusos e inseguros, sem nos lembrarmos de onde viemos, onde estamos e menos ainda para onde vamos. Só Deus pode nos reorientar.

Jesus tinha consciência disso quando disse a Seus discípulos: "Vigiai e orai, para não cairdes em tentação" (Mateus 26,41); eu diria, principalmente, a tentação de esquecer quem é você e qual é o seu papel neste mundo.


Então, vamos rezar?

Deixo aqui algumas pistas que podem servir para abrir caminho no seu relacionamento com Deus. Quando encontrar sua própria trilha, caminhará livremente, e cada vez mais experimentará a alegria, que está na presença d'Ele por meio da oração.

1- Escolha o horário e o tempo que quer dedicar à sua oração e procure ser fiel a esse propósito. Assim como nos alimentamos diariamente, a oração deve ser o alimento diário da alma, aconteça o que acontecer.

2- Fundamente sua oração na Palavra de Deus e na Sua verdade. Fale com Ele com confiança e sem reservas, como quem fala com um amigo. Agindo assim, encontrará a paz e a harmonia interior que tanto procura, pois, como ensina São João da Cruz, "o conhecimento de si mesmo é fruto da intimidade com Deus, e é o meio essencial para a liberdade interior".

Mais pistas

3- Reze com humildade, detendo-se sempre na palavra: "Seja feita a vossa vontade". Lembre-se de que sua oração não pode ser movida simplesmente por gosto ou exigência, mas, acima de tudo, por gratuidade e confiança na misericórdia de Deus.

4- Pratique o que você rezou e não desvincule suas obras da oração, pois uma coisa tem tudo a ver com a outra. Caridade, perdão, alegria, confiança, fraternidade e paciência são características de quem reza.

5- Tenha seu próprio ritmo de oração. A imitação e a comparação não ajudam em nada. A vida dos santos, por exemplo, são setas que apontam para o céu, mas é você quem deve dar seus próprios passos para chegar até lá. Desejo que, em cada amanhecer e também nas "noites escuras", você experimente, pela oração, o amor e a verdadeira felicidade, uma vez que esta consiste em amar e sentir-se amado. E ninguém nos ama tanto quanto Deus. Se alguma vez você perder a vontade de rezar, já sabe o que deve fazer: reze assim mesmo e seja feliz!



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN.  De segunda a sexta-feira (exceto quinta-feira), está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 14h40 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/perdi-vontade-de-rezar-o-que-fazer/

24 de outubro de 2022

Como trabalhar as carências?

A palavra "carência" é por nós conhecida desde muito cedo, quando começamos a aprender a lidar com nossos sentimentos e emoções.

Por que muitas mulheres chegam ao apogeu da vida sem nunca terem conseguido lidar, de forma eficaz, com suas carências? Será que essas são os reflexos da falta de amor dos pais na infância? Seriam elas fruto de algum trauma vivido ou consequência de algum tipo de abandono sofrido? Muitas respostas poderiam serem dadas aqui.

Por que, na vida de muitas mulheres, a palavra "carência" as acompanha durante toda a vida adulta e, muitas vezes, até na velhice?

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Muitas mulheres são carentes de amor

Temos diversas fontes de afeto que não são reconhecidas, pois nossa cultura quase sempre nos cobra que estejamos namorando ou casados; apesar de essa não ser uma garantia para a plenitude afetiva. Por conta dessa crença, ficamos menos seletivas e acabamos entrando em relacionamentos que, algumas vezes, são transformados em sofrimentos quando acabam os encantos.

Percebemos que muitas mulheres são carentes de carinho, de atenção, envolvimento e reconhecimento; enfim, são carentes de amor. Mas um fato que nos chama à atenção é que, em algumas mulheres, a carência pode ultrapassar um limite saudável.

Mulheres que exigem atenção o tempo todo, que nunca estão satisfeitas, sempre se queixando e cobrando demais, mulheres que são ciumentas e possessivas podem realmente conseguir afastar muitas pessoas de perto delas e atrair para si aquilo que menos desejam: a indiferença e a frieza. A impressão que passam é que nada do que se faça é o bastante para que se sintam amadas e satisfeitas, vivem envolvidas em carência total, reclamando manifestações carinhosas. Mulheres assim podem acabar sendo tidas por chatas, enfadonhas e inconvenientes.

Para aprendermos a lidar com nossas carências de uma forma equilibrada e saudável, precisamos, antes de tudo, aprender a lidar com nosso psiquismo e amar a nós mesmas com equilíbrio.

Aqui vão algumas dicas que podem nos ajudar:

1) Coloque sua vida diante de Deus, peça a ajuda e a presença d'Ele neste caminho de autoconhecimento. Conte sua história para si mesma e para o Senhor, peça que o Espírito Santo lhe revele as raízes de suas carências.

2) Espere menos das pessoas. Lembre-se de que ninguém é responsável por preencher todas as suas necessidades de afeto e atenção. Portanto, não deposite uma expectativa exagerada sobre os outros, porque eles não podem corresponder. Faça por você mesma o que gostaria que os outros lhe fizessem, em vez de esperar isso delas. Dê-se atenção, presenteie-se, gaste um tempo só para si mesma.

3) Cultive a sua autoestima. Faça coisas boas para si mesma, procure envolver-se em atividades nas quais você se sinta bem. Valorize esses momentos. Procure ter uma vida saudável e equilibrada. Cuide bem de sua mente com boas leituras, cuide de seu corpo com atividades físicas, alimentação saudável e boas horas de sono.

4) Cultive amizades saudáveis e procure estar perto daqueles que ama, de sua família e de pessoas que você sabe que lhe querem bem. Se você sente que deposita muito sua necessidade de afeto em uma única pessoa, procure alimentar e cultivar outros relacionamentos. Existem muitas outras relações que podem suprir nossas carências além do namoro ou do casamento.

5) Veja os demais setores da sua vida, valorize suas conquistas e suas vitórias, não deixe que sua psique se comprima em apenas um aspecto da realidade, naquilo que lhe falta ou nas perdas vividas. Dê valor às coisas boas que você faz, sobretudo às suas qualidades.

Autodomínio, equilíbrio e espiritualidade

6) Viva o momento presente, viva o aqui e o agora. Você alimenta carências quando fica presa a um passado que não volta mais ou projeta um futuro que ainda é incerto. Lembre-se de que a maior dádiva que você tem é o momento presente, portanto, procure se envolver com aquilo que está fazendo e vivendo hoje.


7) Cultive a esperança, tenha sempre novos projetos em mente, seja na área profissional, no lazer, num novo curso ou num passatempo. Não deixe de sonhar e acreditar, mas tenha sempre os pés fincados no chão.

8) Busque ajuda profissional se julgar necessário, antes que a carência possa levá-la à depressão ou à falta de sentido na vida. Aprenda a identificar os vazios e as angústias, falar sobre situações e sentimentos difíceis com a ajuda de um profissional capacitado para ajudá-lo a traçar caminhos para sua recuperação emocional.

9)Não tenha medo da solidão. Aprenda a fazer coisas boas e agradáveis em sua própria companhia, descubra a alegria de estar com si mesma e a solidão deixará de ser tão temida e desagradável. E nunca se esqueça de que Jesus caminha com você em todos os momentos, especialmente naqueles onde se sente mais só.

10) Por fim, alimente e cultive sua vida espiritual, eduque sua vontade, busque o equilíbrio e o autodomínio sobre suas emoções e seus sentimentos. Não permita que suas carências e seus desafetos o dominem. Saiba que sentimentos nem sempre você pode escolher, mas o que vai fazer com eles é você quem decide; experimentar isso é poder experimentar a liberdade de viver guiada pelo Espírito.



Judith Dipp

Formada em Psicologia, Judith foi cofundadora da Comunidade de Aliança Mãe da Ternura e voluntária num Centro de Atendimento e Aconselhamento para Mulheres ( Montgomery County Counselling and Carreer Center), em Washington, nos Estados Unidos.

Atualmente, é psicóloga da Escola Internacional Everest, do Lar Antônia e da Congregação dos Seminaristas Redentoristas, todos com sede em Curitiba (PR), cidade onde reside.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/como-trabalhar-as-carencias/

21 de outubro de 2022

Existem soluções fáceis para problemas difíceis?

É fácil dar uma solução cômoda, rápida e inócua para os problemas difíceis. Muitos erros e sofrimentos de nossos dias acontecem por querermos dar soluções fáceis para problemas difíceis, agravando ainda mais os problemas em vez de solucioná-los. Quanto mais difícil é um problema, tanto mais difícil será a sua solução, pois não há solução fácil quando o problema é difícil.

Duas maneiras de solucionar os problemas difíceis:

A primeira será fácil: improvisada, rápida, cômoda, egoísta e sem sacrifícios; a segunda, será difícil: demorada, planejada, árdua e dispendiosa. A segunda será eficaz e duradoura; a primeira, inócua e falsa. Fazendo-se uma análise dos problemas difíceis que o homem de hoje enfrenta, é fácil observar como ele tem optado pela primeira maneira, por isso, sofre.

Precisamos agir !

É fácil, por exemplo, retirar o pobre da rua; contudo, é difícil retirar a miséria do pobre; promovê-lo, essa é a medida difícil e correta.
É fácil, por exemplo, diminuir o número de comensais em uma mesa; contudo, é difícil aumentar a quantidade de alimentos e reparti-los com amor; porém, esta é a solução certa e eficaz.
É fácil limitar o número de nascimentos, é fácil esterilizar homens e mulheres em massa, é fácil distribuir pílulas e camisinhas; contudo, é difícil implantar uma eficaz e digna paternidade responsável.
É fácil praticar um aborto e eliminar uma vida, mas é difícil aceitar, respeitar, amar e educar um ser humano.
É fácil condenar um criminoso à pena de morte, é difícil reeducá-lo e salvá-lo.
É fácil matar um assassino, linchá-lo até a morte; é difícil matar o crime e salvar o criminoso.

Créditos: by Getty Images / akiyoko/cancaonova.com

É fácil !

É fácil fazer a guerra, é difícil manter a paz.
É fácil distribuir preservativos e seringas para evitar a AIDS; é difícil ensinar as pessoas sobre o emprego moral do sexo e o valor da castidade.
É fácil propor o divórcio para um casal em crise, mas é difícil reconciliá-lo no perdão e no amor; essa, no entanto, é a verdadeira solução.
É fácil eliminar as crianças delinquentes das ruas, sob o pretexto de coibir o crime, mas é difícil educá-las e indicar-lhes o sentido da vida.
É fácil e rápido apressar a morte de um paciente terminal, com a eutanásia, mas é difícil respeitar a vida e seu Autor até o último instante.


É fácil… mas é difícil

É fácil fazer discursos políticos, mas é difícil eliminar o déficit público, o empreguismo, o nepotismo, a corrupção e o desperdício que atolam a nação.
É fácil liberar os baixos instintos e paixões, mas é difícil dominá-los para que eles não nos escravizem.
É fácil fazer justiça com as próprias mãos, mas o justo e ético é esperar que ela seja feita pela lei e pelo direito, sob pena de sepultarmos a civilização.
É fácil invadir terras e prédios, sob o pretexto de que há má distribuição de rendas etc., mas o difícil e correto é promover a reforma agrária, necessária, dentro da lei e da ordem, para que não haja ainda mais violência, luta de classes e injustiça.

Enfim, é fácil dar uma solução cômoda, rápida, inócua para os problemas difíceis, mas é difícil, árduo e demorado, dar uma solução eficaz para o mal.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/solucoes-faceis-para-problemas-dificeis/

19 de outubro de 2022

A doença do corpo e da alma pode ser curada com a oração?

Quando a doença aparece, o certo é procurarmos um médico. Conforme a doença, ele nos receitará um tratamento adequado. Cada doença requer um tratamento específico. Por isso mesmo, não se deve partir para a automedicação. O diagnóstico médico, os exames complementares e o cauteloso acompanhamento serão decisivos no prognóstico do tratamento, o qual poderá ser uma intervenção cirúrgica, um tratamento à base de antibióticos, analgésicos entre outros.

O mesmo deve ocorrer com a Cura Interior. Nesse caso, chamo de "automedicação" a busca desenfreada por conta própria de terapias e a mistura de teses e correntes pseudo-espirituais. Hoje em dia, fala-se muito em terapias de autoajuda. Todos os mestres dessa corrente falam, constantemente, da necessidade de nos conhecermos melhor, de saber quem somos. Eu diria que, na Cura Interior, mais importante que saber quem eu sou é saber a quem eu pertenço.

A Bíblia nos revela que somos de Deus e que somente n'Ele e, a partir d'Ele, podemos descobrir os caminhos para a nossa felicidade e realização. Por isso, num processo de Cura Interior, é muito importante invocar, insistentemente, o Espírito Santo. Abrir-se ao Espírito é o primeiro passo para descobrir o infinito amor de Deus em nossa vida. Essa abertura acontece com a oração. Por essa razão, é importante achar um lugar apropriado para rezar, a fim de evitar as distrações e perturbações. Um ambiente que seja propício à cura interior. Todo resultado do processo depende totalmente dessas ações.

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Peça o batismo no Espírito Santo

A Bíblia fala do Espírito Santo como força, dínamo, energia, luz. Entusiasmo é exatamente isso! A palavra "entusiasmo" vem do grego enthousiasmós, ter Deus (Theós) dentro de nós. Perdemos a alegria de viver quando deixamos viver em nós o ódio, o desamor, a mentira, o pecado, enfim, tudo o que nos afasta da presença e da graça de Deus. Na Antiguidade, entusiasmo era a exaltação ou arrebatamento extraordinário daqueles que estavam sob a inspiração divina. O Novo Dicionário Aurélio ainda elenca outros significados da palavra "entusiasmo": vigor no falar e no escrever, exaltação criadora, inspiração, flama, admiração, alegria, júbilo, dedicação ardente, ardor e paixão. E não são exatamente esses os sentimentos que desejamos em nossa vida?


Se abra para Deus

O primeiro sinal de depressão é exatamente o contrário de tudo isso: falta de alegria, medo, ansiedade, sentimento de impotência, desanimo etc. Por isso, para que a cura interior aconteça, é imprescindível a abertura à ação do Espírito e o clima de oração: colocar-se na presença de Deus.

Uma das grandes causas de corações feridos e machucados, hoje em dia, é exatamente a ausência de Deus na vida das pessoas. Vivemos num mundo que parece não ter espaço para Deus. Enchemos o coração com as coisas do mundo, com os apegos materiais, com forças negativas do pecado. A consequência só poderá ser a falta de entusiasmo.

Abra o seu coração para Deus e reserve um lugar especial para Ele em sua vida.

(Artigo extraído do livro "Seja feliz todos os dias")

Padre Léo, scj


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/a-doenca-do-corpo-e-da-alma-pode-ser-curada-com-a-oracao/