10 de junho de 2022

Edith Stein, tradutora de Newman


Em 1923, Edith conhece o padre jesuíta Erich Przywara, editor e responsável pela divulgação da obra do Cardeal Newman – bispo anglicano, que se converteu ao catolicismo. Przywara convidou Edith para traduzir algumas obras do cardeal Newman, e ela ficou muito feliz, pois lhe possibilitou penetrar mais profundamente no pensamento de Newman, assim como na doutrina católica.

Edith foi aprofundando a fé dela e se assegurando cada vez mais de sua decisão de se fazer batizar na Igreja católica, vista pelos protestantes como dogmática e distante da liberdade intelectual. A tradução das obras de Newman – A Ideia de Universidade e Cartas e escritos anteriores à conversão dele – ajudou a Edith, que nesse período estava provavelmente buscando operar uma síntese entre a sua formação intelectual fenomenológica e a sua vivência da fé cristã católica.

Edith Stein, tradutora de Newman

Edith escreve ao seu amigo Roman Ingarden, em 19 de junho de 1924, sobre a alegria dela em traduzir e ficar mais próxima "de um espírito como Newman", pois a vida inteira dele "consistiu numa busca da verdade religiosa, e o conduziu inevitavelmente à Igreja católica". Logo em seguida, nesta mesma carta, Edith chama a atenção de seu amigo Ingarden, pois, em uma carta anterior, ele lhe havia escrito que não entendia a conversão de Edith ao catolicismo, pois esse lhe parecia um "aparato dogmático inventado para domínio das massas".

Quais eram os questionamentos de Edith Stein

Argumentando com muita liberdade, Edith lhe questiona a atitude ambígua dele: como fenomenólogo, Ingarden reivindica uma objetividade rigorosa, não emite nenhum juízo sobre qualquer questão filosófica sem uma cuidadosa investigação, mas quando se refere à religião católica, a critica e a condena sem nunca ter se empenhado em estudar, ao menos nas aulas de religião na escola, sobre os seus dogmas, fundamentos teológicos e desenvolvimento histórico. Edith acrescenta que essa crítica não se dirige apenas a Ingarden, pois é uma atitude típica de um intelectual que não foi educado na vida eclesial, visto que ela mesma pensava desse modo antes de se converter.

Nesta mesma carta, Edith segue citando homens como Agostinho, Anselmo, Boaventura e Tomás, grandes teólogos da Igreja, que viram nos dogmas "algo maior do que o espírito humano consegue atingir, é o único pelo qual vale a pena oferecer a vida". Coloca-se à disposição do amigo para responder e argumentar quaisquer questões que possam lhe interessar e que sejam apresentadas por ele, de modo imparcial, sobre o tema. Edith finaliza com uma frase que resume a conversão dela, mostrando que não estava fundamentando-se apenas em belas teorias, mas em uma experiência real e verdadeira de vida: "Eu aprendi a amar a vida desde que sei para que vivo" (Carta de 19 de junho de 1924).

Penetrando no pensamento de Santo Tomás de Aquino

O Padre Przywara também era estudioso da obra de Santo Tomás, que despertava muito interesse à época – final do século XIX e início do século XX. O esforço era de tentar compreender o pensamento tomasiano valendo-se dos textos do próprio Tomás e não de manuais empregados para sintetizar e ensinar aos alunos, especialmente religiosos, a filosofia e teologia de Santo Tomás. Essa corrente considerava muito mais proveitoso colocar Tomás e a filosofia tradicional católica em diálogo com a filosofia moderna, buscando nas obras dele argumentos válidos para responder aos problemas filosóficos que estavam surgindo naquele tempo, do que tentar voltar a um passado e a uma visão de mundo que o próprio Tomás não mais reconheceria como sua, caso vivesse no tempo presente.

Przywara exorta Edith Stein a não abandonar os estudos de filosofia, apesar de suas aulas nas dominicanas, e a ocupar-se de um estudo sistemático da obra de Santo Tomás de Aquino, lendo no original em latim – língua que ela dominava perfeitamente. Ele a orienta pessoalmente e sugere que faça a tradução das Quaestiones Disputatae de Veritate (Questões disputadas da verdade). Para conseguir realizar o que lhe havia sido pedido, no semestre de 1925-1926, Edith pede às irmãs dominicanas para reduzir as suas lições a apenas 10 horas por semana, com o intuito de se dedicar mais ao estudo de Santo Tomás. Elas compreendem e prontamente aceitam.

Além de seus estudos sobre Tomás e suas aulas na escola das dominicanas, Edith não deixa de se dedicar à questão da educação, especialmente das moças, e não recusa os inúmeros convites que lhe serão feitos para dar conferências sobre o tema da formação e da educação, na Alemanha e em outros países próximos, tais como Áustria e Suíça.

Beuron – antessala do céu

Em setembro de 1927, faleceu o Padre Joseph Schwind, grande amigo e diretor espiritual de Edith. Ela sofre muito com essa perda, mas a vida de fé de Edith, permite a ela olhar mais além e a ter a certeza de que Deus lhe ajudará a superar tal sofrimento. Edith é convidada a escrever sobre o seu diretor e amigo, então, descreve o modo como ele conduzia a sua direção espiritual: "Sua direção era calma, acertada e refletida, fundada sobre um grande conhecimento dos seres humanos e a longa experiência na direção das almas e, ao mesmo tempo, acompanhada de um santo respeito pela ação de Deus na alma".

Em janeiro de 1928, ao encontrar-se com o Padre Przywara, ele lhe aconselha a conhecer o jovem abade polonês da abadia beneditina de Beuron, Dom Raphaël Walzer (1888-1966). Na Semana Santa do mesmo ano, ela consegue se hospedar em uma casa próxima da abadia e é apresentada a Dom Walzer, que a acompanhará em seu percurso espiritual até a sua entrada no Carmelo. Edith Stein o chama de "meu abade" e sempre recorre a ele em todas as decisões importantes que pensa em tomar.


Muito bonito ver a humildade dessa grande intelectual, que não deseja dar passos falsos na sua vida de fé, apesar de seus grandes conhecimentos, não apenas de filosofia, educação, literatura, mas também de teologia e da doutrina católica. A direção espiritual era algo imprescindível para ela, pois seguia o que havia aprendido de sua Madre, Santa Teresa, que mantinha essa postura com seus confessores e diretores, mesmo quando se sentia incompreendida por eles. O Livro da Vida de Teresa de Jesus está repleto desse tipo de relato.

A partir de 1928 até a sua entrada no Carmelo, em 1933, Edith vai, ao menos uma vez por ano, a Beuron, durante o período de férias escolares da Semana Santa. Ela descreve a abadia beneditina como uma "antessala do céu". Lá ela recebe a direção espiritual e goza de longos tempos de oração e de silêncio, especialmente durante as orações das horas. Aproveita também para trabalhar na tradução do Quaestiones Disputatae de Veritate de Santo Tomás de Aquino.

Diálogo entre Tomás e Husserl – reflexões sobre a fé e a razão

Em 1929, Edith Stein publica um artigo no livro organizado por Heidegger, para a comemoração dos 70 anos de Husserl, intitulado: A fenomenologia de Husserl e a filosofia de Santo Tomás de Aquino – Ensaio de um cotejo. A versão original do texto, em forma de diálogo-peça de teatro, não foi aceita por Heidegger. Edith Stein, com muita liberdade, mas sem perder o rigor científico, achou que seria interessante aplicar seus dons e conhecimentos de poesia e literatura, que cultivava desde a juventude, para imaginar um diálogo fictício entre o seu Mestre de fenomenologia e o grande Mestre da escolástica, Tomás de Aquino. A fenomenologia lhe havia ensinado a olhar sem preconceitos para todos os tipos de conhecimentos, desde que contribuíssem para uma maior aproximação da verdade sobre as coisas, de sua essência, do modo como elas realmente são. Mas seu primeiro texto não foi aceito, então, Heidegger lhe pede para transformar o seu diálogo em um "texto científico".

A obra original, escrita no formato de uma peça de teatro, trata de um diálogo entre Husserl e Santo Tomás. O encontro dos dois acontece na noite do aniversário de 70 anos de Husserl, após a celebração com a família e amigos. Tarde da noite, Husserl deixa a sala de sua casa e se retira para seu escritório, pois se encontra cansado dos eventos sociais do dia. Husserl afirma estar desejoso de "uma verdadeira conversa filosófica", a fim de que seus pensamentos possam "retomar o caminho certo" em sua mente. Neste momento, alguém bate à porta de seu escritório: um frei de hábito branco e capa preta pede perdão por importuná-lo e diz que gostaria muito de falar com ele a sós. Apresenta-se como sendo Tomás de Aquino.

Esse texto de Edith Stein, apesar de não ter sido reconhecido como científico e não ter sido publicado durante a sua vida, ilustra perfeitamente o objetivo que ela passou a percorrer após a sua conversão: colocar a tradição católica em diálogo com a filosofia moderna, de modo que ambas pudessem aprofundar e enriquecer os seus próprios pontos de vista. Esse objetivo será realizado em sua forma mais completa na obra magna de Edith Stein, escrita quando já estava no Carmelo: Ser finito e ser eterno.

Edith buscou aquele tipo de conhecimento que o Papa João Paulo II descreve na introdução de sua encíclica Fides et Ratio, de 1998:

A Fé e a Razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.

Na sequência, veremos Edith nessa sua busca da verdade, amadurecendo cada vez mais o desejo de conhecer e amar a Deus, sentido e fim último de sua existência.

Referências bibliográfica:
1. GOLAY, Didier-Marie, o.c.d. Edith Stein – Devant Dieu pour tous. Paris: Cerf, 2009, p. 127.
2. Esse primeiro texto, em forma de diálogo, é publicado postumamente na Edith Stein Werke, Erkenntnis und Glaube (vol. XV), Freiburg, Basel, Wien: Herder, 1993, p. 19-48. Essas duas versões encontram-se no segundo volume da versão crítica traduzida para o português das Obras completas de Edith Stein. Textos sobre Husserl e Tomás de Aquino. Trad. Enio Paulo Giachini et. al. Revisão da tradução e revisão técnica Juvenal Savian Filho. São Paulo: Paulus, 2019.
3.STEIN, Edith. O que é filosofia? Uma conversa entre Edmund Husserl e Tomás de Aquino. Op. cit., p. 55.
4. Carta Encíclica do Sumo Pontífice João Paulo II, de 14/9/1998.



Maria Cecilia Isatto Parise

Maria Cecilia Isatto Parise. Casada há 30 anos e mãe de dois filhos. Mestra, pesquisadora, professora e conferencista em Edith Stein.
Site: edithstein.com.br
Instagram: Maria Cecilia Isatto Parise
Facebook: Chouette – Filosofia Comentada


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/edith-stein-tradutora-de-newman/


8 de junho de 2022

Onde está a vontade de Deus?

Muitas vezes, o que mais desejamos na vida é saber saber qual é a vontade de Deus a nosso respeito. Rezamos, ouvimos opiniões, lemos a Bíblia, mas parece que ainda falta alguma coisa para nos dar a certeza do que o Senhor quer para nós. Nestes dias, tive um sonho que me ajudou neste sentido, por isso, o partilho com você: sonhei com um barco em alto-mar, nele estavam dois homens, um remando com grande dificuldade e o outro contemplando-o, serenamente, sentado ao seu lado. Era um cenário bonito, o mar azul, iluminado pelos primeiros raios de sol naquela manhã de primavera, inspirava serenidade e paz. Porém, fiquei incomodada ao ver que um homem fazia tanto esforço ao remar sozinho, e o outro continuava tão descansado ao seu lado. Foi quando Deus me fez compreender que o mesmo nos acontece às vezes.

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Foto Ilustrativa: by Getty Images / fizkes

Compreender é buscar a vontade de Deus

O mar é a liberdade que o Senhor nos concede por amor; o barco é a nossa vida; o homem tentando remar sozinho somos nós que queremos conduzir nossa história com as próprias mãos e outro homem sentado ao lado, a contemplar o esforço do companheiro, é o Senhor que permanece conosco, no entanto, respeita nossa liberdade e espera o momento em que Lhe pedimos ajuda para intervir. Ainda no sonho, em certo momento, aquele homem já cansado, entregava os remos ao companheiro e este, com muita destreza, conduzia a embarcação na rota certa, sem demora. Era como ouvir Deus falar: "Dijanira, é isso que você precisa fazer hoje: entregue o barco da sua vida em minhas mãos, pois Eu sei remar. Estou aqui ao seu lado pronto para ajudá-la. Se continuar insistindo em remar sozinha, vai se cansar e não chegará aonde deseja. Deixe que Eu conduza seu barco, deixe que Eu reme por você. Confie em mim!"

Compreendi que, na busca de discernir a vontade Deus, Ele nos propõe docilidade, confiança e atitude. Pois não podemos dizer que temos fé, se não confiamos; e confiar exige a atitude de deixar Deus "remar" por nós.

Talvez, você me diga: "Já fui tão decepcionado (a). Como posso confiar de novo?". Isso é possível com a graça de Deus! As pessoas nos decepcionam, e é natural que seja assim. Ninguém é perfeito neste mundo e, um dia ou outro, mesmo quem amamos acaba agindo da maneira que não esperávamos, ou seja, nos decepciona. Mas é a atitude de confiar na graça divina que pode agir por intermédio daquela pessoa, que nos impulsiona a continuar acreditando. E com Deus não é diferente, Ele é perfeito, mas, muitas vezes, esperamos d'Ele o que por amor a nós Ele não realiza e isso pode nos decepcionar. Neste caso, precisamos acreditar no amor do Senhor e recomeçar um relacionamento de confiança total n'Ele para chegarmos à meta, que é sempre a felicidade.

Deus sempre intervém quando pedimos

Certamente, essa não é uma tarefa fácil, principalmente por vivermos em uma época como a nossa, na qual se fala tanto sobre segurança e se busca todos os meios para planejar um futuro seguro, então, a proposta de confiar em Deus e deixar que Ele nos conduza parece contraditória. Porém, ouso testemunhar que minha vida é bem mais feliz desde que comecei a viver essa experiência. Claro que é um desafio diário, por vezes, também me sinto fraca na fé e impaciente, mas recomeço com a graça de Deus e tento dar um passo de cada vez no dia a dia e em cada situação.

Lembro-me de um período difícil, no qual eu queria que a minha vontade prevalecesse em um relacionamento, mas mesmo assim, rezava: "Senhor, que seja feita a Tua vontade". E realmente Deus Pai fez a vontade d'Ele porque nada foi como eu desejava. Sofri com a decepção e a perda, mas nunca duvidei da intervenção divina. Hoje, quando me recordo do fato, tenho ainda mais certeza de que o Senhor agiu, e continuo pedindo com confiança: "Senhor, que em tudo seja feita a Tua vontade. Toma o remo e conduz o meu 'barco' no imenso mar do Teu amor. Tu sabes o que é melhor para mim".


Dê o primeiro passo

Talvez, hoje, Deus esteja lhe pedindo a mesma atitude, se for o caso, não tenha medo de dar os passos. Acredito que o primeiro deles é fazer uma revisão de vida e ter a coragem de perguntar: "Isso que tanto busco, insisto e sonho é vontade de Deus ou é apenas a minha vontade?". Um dos sinais para discernir a resposta é perceber os frutos da espera. O que é de Deus traz paz e edifica, mesmo que passe pela cruz. Ao passo que o que é apego humano não produz bons frutos, torna a pessoa amarga, sem brilho, sem vida e sem alegria, além de ansiosa.

Madre Teresa de Calcutá, quando via alguém triste, logo pensava: "O que será que esta pessoa está negando a Deus?". Pois, para ela, a tristeza da alma estava muito ligada ao apego à vontade própria, uma vez que, se estivermos de acordo com Deus, já não haverá motivos para ficarmos contrariados, preocupados ou angustiados, e em tudo o que vier nos acontecer saberemos que existe a permissão divina, portanto, acolheremos com alegria, mesmo que seja difícil.

Não dá mais pra voltar

As pessoas que nos conhecem e nos amam são grandes instrumentos do Senhor para nos ajudar a discernir onde está a vontade d'Ele. Experimente pedir a opinião de quem você confia e sabe que o ama e tenha a coragem de ouvir a resposta. Se for preciso entregar o "barco de sua vida" nas mãos do "Grande Navegador", faça isso ainda hoje. E se prepare para desbravar o alto-mar da vida nova que Deus tem para você.

Estou unida a você!



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN.  De segunda a sexta-feira (exceto quinta-feira), está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 14h40 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/onde-esta-a-vontade-de-deus/

6 de junho de 2022

Deixar-se transformar por Jesus


De tempos em tempos, precisamos atualizar o sistema operacional do nosso smartphone ou notebook. Este procedimento é importante para que nossos aparelhos não fiquem ultrapassados; assim, conseguimos obter melhores recursos para usá-los. Tudo que fica desatualizado, mais cedo ou mais tarde, precisa ser revisto e melhorado.

Em nossa vida espiritual, também acontece o mesmo processo: é preciso atualizarmos espiritualmente nossa alma para que possamos viver melhor a nossa fé. Essa atualização espiritual é um procedimento constante e ininterrupto. Encontramos, na Eucaristia, a plena atualização de amor que nosso coração necessita para viver com intensidade cada momento da vida.

Deixar-se transformar por Jesus

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Quais são os meios necessários para eu me deixar transformar por Jesus?

A Eucaristia atualiza a Paixão, a Morte e a Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso é um privilégio para nós fazermos parte do banquete do Senhor, onde o pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho do homem, tornam-se o Corpo e Sangue do Senhor, mistério da nossa fé, onde anunciamos a Morte do Senhor e proclamamos a Sua Ressurreição.

Celebrar a Eucaristia é celebrar o Cristo vivo, presente no meio de nós, que manifesta Sua presença amorosa na comunidade reunida, na Palavra meditada, refletida e partilhada; no pão e no vinho, que se tornam Seu Corpo e Sangue, alimento para nossa vida e cura para nossa alma.

Ao aproximarmo-nos da Eucaristia, aproximamo-nos do próprio Cristo, que se doa, entrega e nos faz pessoas novas em Seu Amor Misericordioso. Ao comungarmos o Corpo e Sangue do Senhor, o próprio Cristo, comprometemo-nos com a construção de um mundo novo, pautado nos princípios evangélicos de um Reino de paz, de justiça e fraternidade.

Todos em Cristo

A Eucaristia transforma o nosso coração para sermos, no mundo, sinais do próprio Cristo. É Cristo em nós para que sejamos Cristo no mundo. Na comunhão eucarística, não comungamos sozinhos, de modo individualista, mas em comunidade. O Jesus que eu recebo é o mesmo que meus irmãos e irmãs também recebem. Cristo em todos, e todos em Cristo. Por isso, a Eucaristia é comunitária, sinal de unidade, amor e participação ativa e consciente no mistério celebrado.


Ser sinal da Eucaristia!

A cada comunhão eucarística, devemos ser, no mundo, pessoas novas em Cristo Jesus. Comungar não é simplesmente uma aventura espiritual isolada, mas sim comunitária. Com toda a assembleia, formamos um único corpo, que tem no Cristo o seu coração.

Diante de tão grande privilégio, sejamos no mundo sinais de Eucaristia: amemos, partilhemos, doemos, levemos uma palavra de esperança, anunciemos o Evangelho com a vida e com palavras.

Comungar o Corpo e o Sangue do Senhor é construir, no hoje da nossa história, céus novos e terras novas, pelos quais esperamos confiantes. Atualizemos em nós o Amor de Cristo.

Para ser Feliz

Permita que Jesus ocupe todos os espaços de sua vida e deixe-se transformar por Seu Amor Misericordioso.

Trecho extraído do livro "Felicidades sem segredos", do padre Flávio Sobreiro



Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/deixar-se-transformar-por-jesus/


1 de junho de 2022

Os filhos são dons de Deus


"O amor sempre dá a vida. Por isso, o amor conjugal 'não se esgota no interior do próprio casal (…). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe'" (Papa Francisco, Exortação Apostólica Amoris laetitia, no 165). Homens e mulheres possuem, portanto, uma missão sublime: participam da criação de Deus, são instrumentos do amor divino e recebem a responsabilidade de perpetuarem as gerações dos filhos de Deus.

Como é imprescindível ter tal consciência quando se quer formar uma família! Numa sociedade atual, marcada pelo egoísmo e por projetos pessoais não confiados em Deus, um filho é visto, tantas vezes, como um projeto de realização pessoal. Não! De forma alguma! Os filhos são dons, dádivas de Deus!

Os filhos são dons de Deus

Foto ilustrativa: Larissa Ferreira/cancaonova.com

Os filhos não podem ser projetos de realização pessoal, eles são dons de Deus

É Ele quem escolhe e dá a vida. Com isso, segundo as orientações da Doutrina da Igreja, não é lícito lançar mão de técnicas artificiais para ter os filhos ou, ao contrário, impedir a abertura à vida por meio de métodos contraceptivos. São Paulo XVI, em sua Encíclica Humanae Vitae, muito bem orientou sobre isso e quanto ao uso dos métodos naturais de planejamento familiar:

Na missão de transmitir a vida, eles não são, portanto, livres para procederem a seu próprio bel-prazer, como se pudessem determinar, de maneira absolutamente autônoma, as vias honestas a seguir, mas devem, sim, conformar o seu agir com a intenção criadora de Deus, expressa na própria natureza do matrimônio e dos seus atos e manifestada pelo ensino constante da Igreja (Encíclica Humanae Vitae, n. 10). 

A Igreja é coerente consigo própria, quando assim considera lícito o recurso aos períodos infecundos, ao mesmo tempo que condena sempre como ilícito o uso dos meios diretamente contrários à fecundação, mesmo que tal uso seja inspirado em razões que podem parecer honestas e sérias. Na realidade, entre os dois casos, existe uma diferença essencial: no primeiro, os cônjuges usufruem legitimamente de uma disposição natural; enquanto que, no segundo, eles impedem o desenvolvimento dos processos naturais. É verdade que em ambos os casos os cônjuges estão de acordo na vontade positiva de evitar a prole, por razões plausíveis, procurando ter a segurança de que ela não virá; mas é verdade também que, somente no primeiro caso, eles sabem renunciar ao uso do matrimônio nos períodos fecundos, quando, por motivos justos, a procriação não é desejável, dele usando depois nos períodos agenésicos, como manifestação de afeto e como salvaguarda da fidelidade mútua (Encíclica Humanae Vitae, no 17).

O caráter unitivo e procriativo do ato conjugal

O ato conjugal tem em si as características unitiva e procriativa. A primeira diz respeito ao amor dos cônjuges expressado na relação sexual, e o caráter procriativo se relaciona à abertura à vida. O casal, portanto, é convidado a ser reflexo do amor da Santíssima Trindade: uma comunhão plena do Pai, Filho e Espírito Santo que não se esgota em si, mas transborda de amor ao criar cada pessoa e concede a vida nova dada por Cristo em Sua Ressurreição. Da mesma forma, o amor fecundo dos esposos não fecha em si mesmo e está sempre aberto para que esse amor se renove e novas vidas sejam geradas.


Maternidade e paternidade responsáveis

Como ainda destaca o documento de Paulo VI, tal missão requer dos homens e mulheres uma consciência de sua missão expressa na "maternidade e paternidade responsáveis":

Em relação com os processos biológicos, paternidade responsável significa conhecimento e respeito pelas suas funções: a inteligência descobre, no poder de dar a vida, leis biológicas que fazem parte da pessoa humana. Em relação às tendências do instinto e das paixões, a paternidade responsável significa o necessário domínio que a razão e a vontade devem exercer sobre elas. Em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, a paternidade responsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento.

Paternidade responsável comporta ainda, e principalmente, uma relação mais profunda com a ordem moral objetiva, estabelecida por Deus, de que a consciência reta é intérprete fiel. O exercício responsável da paternidade implica, portanto, que os cônjuges reconheçam plenamente os próprios deveres para com Deus, para consigo próprios, para com a família e para com a sociedade, numa justa hierarquia de valores (Encíclica Humanae Vitae, no 10).

A bela e exigente missão de doar a vida

Missão exigente, mas, talvez, a mais bela de todas, pois se trata de doação de vida! Desse modo, requer sacrifícios e maturidade na compreensão de que um filho é dádiva de Deus. Como também ressaltou o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Amoris laetitia, muito tem se espalhado a mentalidade da geração de vida como uma satisfação pessoal:

[Uma criança] não é um complemento ou uma solução para uma aspiração pessoal, mas um ser humano, com um valor imenso, e não pode ser usada para benefício próprio. Por conseguinte, não é importante se esta nova vida lhe será útil ou não, se possui características que te agradam ou não, se corresponde ou não aos teus projetos e sonhos, porque "os filhos são uma dádiva!

Cada um é único e irrepetível (…). Um filho é amado porque é filho: não porque é bonito ou porque é deste modo ou daquele, mas porque é filho! Não porque pensa como eu, nem porque encarna as minhas aspirações. Um filho é um filho". O amor dos pais é instrumento do amor de Deus Pai, que espera com ternura o nascimento de cada criança, aceita-a incondicionalmente e acolhe-a gratuitamente (Exortação Apostólica Amoris laetitia, n° 170).

É nadar contra a maré de uma sociedade consumista e utilitarista! Somente com a graça do Espírito Santo é possível transformar o olhar sobre a beleza e a integridade de cada vida humana. Pais e mães são convidados a serem formadores e geradores de vidas, mas não donos absolutos delas. Os filhos não são concebidos para atender aos anseios dos pais. Esta não é a identidade da natureza humana criada por Deus.

Entregue sua família à Providência Divina

Voltando ao conceito de "paternidade responsável", isso não quer dizer que os casais não devam procurar as condições econômicas, emocionais e sociais para conceber um filho. Entretanto, tais condições e o desejo de gerar uma criança não podem ser um fim em si mesmo, mas sim um meio de realizar o projeto de Deus para a humanidade.

Se entregarmos os projetos familiares à Providência Divina, o amor se transbordará mais e mais! É libertador e traz paz ao coração compreender isso, até mesmo quando não se consegue alcançar uma gravidez. Obviamente, a parte humana deve ser feita: observância dos períodos férteis da mulher; busca de tratamentos adequados, quando forem necessários; uma vida saudável no corpo e na alma, inclusive uma sadia relação entre marido e mulher; não entrega à ansiedade e, sobretudo, confiança no poder de Deus e na intercessão da Virgem Maria.

Contudo, se, devido às circunstâncias da vida, uma gravidez não for possível, o conceito de fecundidade deve ser alargado. Ela pode se dar ainda por meio da adoção e da contribuição que os casais podem oferecer à sociedade: em atos de solidariedade; assistência aos abandonados; suporte espiritual e emocional aos que sofrem; luta por justiça social nos diversos serviços pastorais das paróquias, comunidades e dioceses; enfim, são inúmeras as formas!

A adoção é um ato de alargar o coração ao amor

Sobre a adoção, o Papa Francisco apoia firmemente:

A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar aqueles que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receberem quem está privado de um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos. Adotar é o ato de amor que oferece uma família a quem não a tem. É importante insistir para que a legislação possa facilitar o processo de adoção, sobretudo nos casos de filhos não desejados, evitando, assim, o aborto ou o abandono. Aqueles que assumem o desafio de adotar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita, tornam-se mediação do amor de Deus, que diz: "Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria" (cf. Is 49,15) (Exortação Apostólica Amoris laetitia, no 179).

Palavras encorajadoras e que ajudam a mudar o olhar. Se há a angústia porque não se consegue engravidar, adotar uma criança ou exercer a paternidade/maternidade de tantos outros modos é dar sentido ao sofrimento. O amor de Deus pode, assim, com tão grande contribuição, ser derramado mais e mais na sociedade e transformar vidas que nunca se pensou atingir!

A comunhão da Trindade é transbordada e a vida nova acontece em tantas pessoas por diversos meios.

Trecho extraído do livro "Nossa Senhora do Ó", de Gracielle Reis



Gracielle Reis

Gracielle Reis é missionária da Comunidade Canção Nova, sendo segundo elo, na missão de Portugal.

Carioca, jornalista pela Universidade Federal Fluminense (UFF): Bacharel e Licenciada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): e pós-graduação em Logoterapia, pela Associação de Logoterapia Viktor Emil Frankl (ALVEF).

Atualmente, jornalista na TV Canção Nova, em Portugal.

Em trabalhos com mulheres e famílias, também é instrutora do Método de Ovulação Billings e Consultora de Imagem, Estilo e Coloração Pessoal.

E-mail: graciellereis@gmail.com

Instagram: @gracielledasilvareis [https://www.instagram.com/gracielledasilvareis/]

Facebook: Gracielle Reis


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/os-filhos-sao-dons-de-deus/


30 de maio de 2022

Você tem uma vida equilibrada?


Você já sonhou com aquele dia… Dia não, melhor, com aquela vida que você tem tudo equilibrado, consegue viver e fazer todas as coisas bem? Consegue comer bem – nem muito, nem pouco –, ter tempo para os amigos, para a família e para si mesmo, trabalhar, fazer as orações que gostaria, divertir-se e descansar?

Seria maravilhoso, né? Mas não vou mentir, ter uma vida equilibrada é muito difícil, pois tendemos sempre a dar mais atenção a uma coisa do que a outra. Ora trabalhamos demais e descansamos pouco, ora nos divertimos demais e rezamos pouco, ora damos mais atenção para as pessoas do que para nós mesmos. Enfim, a vida é sempre uma balança que pende para um lado. Quando, na verdade, nós precisaríamos colocar os pesos adequados para cada coisa e deixar a balança da nossa vida sempre equilibrada.

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Foto Ilustrativa: Antonio_Diaz by GettyImages

Por que é tão complicado manter uma vida equilibrada?

Se sabemos que ter uma vida equilibrada é tão bom, por que é tão difícil? Por que, na maioria das vezes, não conseguimos? Ter uma vida equilibrada é muito difícil, porque nós temos um corpo insaciável. Na verdade, não é o nosso corpo em si, mas sim nossa alma, pois como ela não foi feita para as coisas desta terra, nunca se satisfaz. Mas como somos corpo, alma e espírito, e muitas vezes não sabemos que a "fome" da nossa alma é Deus, acabamos cedendo aos apelos da nossa carne.

Coitadinhos de nós! Queremos buscar o prazer, queremos nos divertir a todo custo, ser livres o tempo todo, e acabamos escravizados. Sim, confundimos prazer com liberdade. Muitos acreditam que se derem aquilo que o corpo pede – comida, prazeres, descanso –, sem ter que seguir nem um direcionamento, está sendo livre. Acham que estão sendo livres porque não estão se prendendo à "regra" de nenhuma "instituição" ou pessoa. Leve engano… Depois que aquele prazer ocasionado, seja pelo sexo, pelo jogo, pela comida e bebida, pelas drogas, a companhia de pessoas ou uma promoção no trabalho, acaba, o corpo pede de novo e depois de novo.

E aquilo que falam pra gente: "Você pode fazer o que quiser, porque você é livre", isso é uma mentira e das grandes! Porque, se depois daquele prazer, o seu corpo, o seu cérebro vão querer novamente, então já não se trata mais de uma escolha racional, mas sim apenas a sua carne querendo. Você já não é mais livre. Agora, você é um escravo da falsa liberdade que lhe venderam. Tornou-se escravo do seu corpo, da sociedade que diz para você fazer o que quiser, quando, na verdade, o que você quer mesmo é uma alegria verdadeira, uma alegria que não dura apenas algum tempo.


Quais são suas alegrias?

E essa alegria verdadeira – ouso lhe dizer – vem de uma vida equilibrada, e não entregue aos prazeres a todo custo. Quando você entende o quanto você ganha mesmo querendo dormir muito, mas não dormindo tanto; mesmo querendo comer mais, mas comendo o suficiente e não mais do que você precisa, e assim em todas as áreas da sua vida, você experimenta que pode se divertir, descansar, trabalhar, cuidar dos outros, cuidar de si mesmo, rezar e ser feliz não apenas por algumas horas, mas por todo o seu dia.

Jesus nos disse: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena" (Jo 15,10-11).

Nessa passagem, Jesus nos diz o segredo para uma alegria plena e uma vida feliz. Viver os mandamentos do Senhor, que longe de ser um monte de regras que ninguém é capaz de viver, é uma receita de felicidade. Os mandamentos são um verdadeiro código de conduta para uma vida de paz e tranquilidade.

Experimente ter uma vida equilibrada. Tenho certeza que você vai amar.



Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). Membro da Comunidade Canção Nova, desde o ano de 2009, a missionária é graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido. Instagram: @regianecn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/voce-tem-uma-vida-equilibrada/


27 de maio de 2022

Quais as mudanças essenciais para uma maternidade feliz?


Quando fiquei grávida pela primeira vez, ouvi várias vezes o seguinte: "Quando nasce um filho, nasce uma mãe". Na verdade, como se sabe, desde a gravidez – ou até quando estamos planejando ter um bebê –, passamos por uma série de fases de formação da maternidade. Além das que são comuns a todas, acredito que cada mulher tem suas fases próprias e, para todas, a maternidade é um processo de maturidade, desde que se busque isso. Quem galga os degraus dessa maturidade é feliz, porque sabe lidar melhor com a própria vida e leva com inteireza a missão que lhe é confiada. Porém, para tanto, não basta ter um filho, é preciso extrair dessa experiência o máximo do que necessitamos para crescer. A maternidade pode ser uma porta aberta para a nossa plenitude no dom de ser mulher se entendermos o nosso papel e o vivermos com grandeza de alma.

Mas como fazer isso?

Quais as mudanças essenciais para uma maternidade feliz?

Foto: Larissa Ferreira/cancaonova.com

Existe maternidade perfeita?

Apesar de ser uma experiência plena de sentido, quem é mãe sabe que essa não é uma tarefa fácil, ainda que nós – tendo filhos biológicos ou não – carreguemos no íntimo o potencial para ser mãe. Isso parece óbvio, mas precisa ser dito, porque muitas mulheres, movidas talvez por uma idealização, acham que, quando forem mães, tudo será perfeito, quando de fato não o é. Ou pelo menos não terá a nossa perfeição imaginada. As coisas precisarão ser construídas com paciência e, embora na gestação muitas mudanças já aconteçam, com os filhos nos braços, a mãe também vai ser formada, nutrida para crescer e se tornar aquela árvore frondosa que dará frutos e onde os filhos poderão se apoiar. Sendo assim, uma grande transformação que precisará acontecer é a da nossa ideia da mãe perfeita. Isso não quer dizer que devemos levar nossa missão com desleixo. Não! Isso apenas nos tira os pesos, as culpas e as estruturas engessadas que podem impedir que o Senhor nos forme nessa experiência, ou evitar um pedido de ajuda e busca de formação, ou ainda atrapalhar os aprendizados do dia a dia com os acontecimentos, erros e acertos. Põe-nos abertas a conhecer mais e aceitar nossos limites.

Outra grande transformação é a que chamo de mudança na vida prática. É importante aceitar que ela não será do mesmo jeito que antes e, a cada filho que nasce, novas alterações no ritmo de vida serão necessárias. Isso precisa ser visto e assumido com tranquilidade, mesmo que, no começo, haja dificuldades. Aqui é necessário um tempo de adaptação. O que deve ficar claro é que não há como fugir destas mudanças e, se as encaramos e se buscarmos com sabedoria esse ajuste, é possível viver a maternidade com mais tranquilidade e ser mais feliz do que antes, porque agora você realiza o grande dom que lhe foi dado.

Ser mãe é uma missão

Mais uma transformação importante é contar com a ajuda de Deus em tudo. Isso também parece óbvio, mas estou me referindo a coisas muito concretas, do cotidiano, sobre as quais, às vezes, não queremos " incomodar o Senhor". Se acreditamos que ser mãe é uma missão, não podemos encará-la, longe de quem a confiou a nós, d'Aquele que nos inspira, nos corrige e auxilia nas ações. É preciso encarar a realidade de que não sabemos tudo e não temos o controle total da vida de nossos filhos, nem quando muito pequenos. Eles pertencem a Deus, e é Ele quem tem a melhor resposta para o que lhes acontece. A mãe que conta com a ajuda do Alto será feliz se escutar o Senhor e agir segundo Suas direções, já que há um plano de Deus na vida de cada um dos nossos filhos, o qual precisamos conhecer a fim de colaborar para que eles aconteçam.


No mais, podemos nos empenhar em estar bem conosco em todos os sentidos, conhecendo-nos com profundidade, trabalhando o que em nós precisa ser mudado, para que, livres em Deus, saibamos dar aos nossos filhos o melhor de nós. Assim, plenas, encaramos os desafios que a maternidade proporciona, ao mesmo tempo em que vamos preenchendo nossa alma. Desse modo, encontramos a felicidade na vocação de ser mãe, mesmo na cruz que carregamos ao longo da vida. Que a Virgem Maria nos ajude nesta caminhada!



Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/maternidade/quais-mudancas-essenciais-para-uma-maternidade-feliz/


25 de maio de 2022

Felicidade e desilusão caminham juntas?


Felicidade: palavra aparentemente simples, mas que reúne significados dos mais variados e altera o curso de nossa vida. "O importante é ser feliz; faça mais daquilo que te faz feliz". Essas e outras frases são cotidianamente atribuídas à busca incessante pela tal felicidade.

O incentivo para uma urgência em viver, impulsiona também o consumo, o lazer e o bem-estar quase que em forma massiva. Nesta mesma massa, coloca-se também a necessidade do "ser feliz" a qualquer custo e sempre de forma imediata que, muitas vezes, está ligada a uma necessidade de ter mais: mais dinheiro para comprar coisas, para dar segurança, para ter mais. Neste meio, a felicidade pelo ser alguém ou fazer por alguém se dilui.

Felicidade e desilusão caminham juntas

Foto Ilustrativa: picture by GettyImages

Teríamos vários conceitos filosóficos sobre felicidade, mas é importante perceber quando existe um paradoxo da felicidade, onde o bem-estar necessário é intensificado, que necessariamente passa por momentos de adaptação, de perda, de não-conquista. Busca-se incessantemente, mas há dificuldade efetiva em compreender que a felicidade não é um estado constante, mas momentos e situações que a propicia.

Afinal, o que é felicidade?

Aquele que nunca passou por uma desilusão em qualquer área da vida que levante sua mão. Todos nós, em maior ou menor grau, passamos por isso; e nós já vivenciamos que conquistar coisas, fazer algo, ou simplesmente viver, passa por etapas e fracassos, por mais difícil que seja acreditar.

Não há um estado seguro de felicidade e as gerações podem facilmente perceber isto. Felicidade é um período, um momento, uma situação. Por isso, é tão importante entender que a vida não pode ser uma de entretenimento, prazer, alegria e bem-estar contínuos. Ilude-se quem acredita que a vida é feita de apenas momentos bons.

Para conquistar um diploma escolar, fazemos provas difíceis, somos testados, nem sempre gostamos do professor ou estamos cansados. Mesmo assim, o resultado disso e objetivo que desejo em minha vida deve ser meu maior motivador.

Quando me formei psicóloga, muita gente olhava aquilo com desdém, dizendo que eu não conseguiria nada com aquilo, que ser psicóloga é coisa de gente maluca etc. Hoje, em 2022, é uma das profissões que mais cresceu. Mesmo assim, ela exige de mim, diariamente, uma dedicação intensa: estudo, preparo pessoal, leituras, paciência. Nem tudo é um mar de rosas, mas, ao ver pacientes melhorando, agradecidos, isto me traz uma satisfação e uma alegria imensas.


Decepção X felicidade

Decepções e felicidades andam juntas; por vezes, algumas maiores que as outras, mas se faz necessário treinar nosso olhar para o como lidamos com elas e o que vai acontecendo conosco quando nos frustramos. Impulsionar sofrimentos e apegar-se apenas a eles é caminho certo para o adoecimento e para uma vida que parece não ter sentido. Isto não significa que estou aqui desvalorizando as nossas dores e desilusões, mas a vida não é apenas isto.

Para alguns de nós, o empenho em dar um novo olhar para as situações é essencial: não se deixe levar unicamente pelo seu pessimismo e negativismo, porque este é o caminho que nos conduz a um questionamento eterno e pouca valorização do que vivemos de bom.

Vivemos de tentativas, planos, começos e recomeços… E aí está a beleza da vida, sem romantizar ou fantasiar nada. Vivemos e nos expomos a algumas situações das quais não temos controle porque dependem de terceiros, mas naquilo que está ao nosso alcance podemos dar um novo olhar.

Eu faço um esforço de, a cada final de dia, agradecer aquilo que de bom aconteceu e rever aquilo que não foi bom e preciso e está ao meu alcance. Nem sempre é simples, mas não é impossível. Treinar o olhar em ver a felicidade em pequenas situações que convivem com as desilusões nos dará outras percepções sobre a vida.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.