25 de maio de 2022

Felicidade e desilusão caminham juntas?


Felicidade: palavra aparentemente simples, mas que reúne significados dos mais variados e altera o curso de nossa vida. "O importante é ser feliz; faça mais daquilo que te faz feliz". Essas e outras frases são cotidianamente atribuídas à busca incessante pela tal felicidade.

O incentivo para uma urgência em viver, impulsiona também o consumo, o lazer e o bem-estar quase que em forma massiva. Nesta mesma massa, coloca-se também a necessidade do "ser feliz" a qualquer custo e sempre de forma imediata que, muitas vezes, está ligada a uma necessidade de ter mais: mais dinheiro para comprar coisas, para dar segurança, para ter mais. Neste meio, a felicidade pelo ser alguém ou fazer por alguém se dilui.

Felicidade e desilusão caminham juntas

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Teríamos vários conceitos filosóficos sobre felicidade, mas é importante perceber quando existe um paradoxo da felicidade, onde o bem-estar necessário é intensificado, que necessariamente passa por momentos de adaptação, de perda, de não-conquista. Busca-se incessantemente, mas há dificuldade efetiva em compreender que a felicidade não é um estado constante, mas momentos e situações que a propicia.

Afinal, o que é felicidade?

Aquele que nunca passou por uma desilusão em qualquer área da vida que levante sua mão. Todos nós, em maior ou menor grau, passamos por isso; e nós já vivenciamos que conquistar coisas, fazer algo, ou simplesmente viver, passa por etapas e fracassos, por mais difícil que seja acreditar.

Não há um estado seguro de felicidade e as gerações podem facilmente perceber isto. Felicidade é um período, um momento, uma situação. Por isso, é tão importante entender que a vida não pode ser uma de entretenimento, prazer, alegria e bem-estar contínuos. Ilude-se quem acredita que a vida é feita de apenas momentos bons.

Para conquistar um diploma escolar, fazemos provas difíceis, somos testados, nem sempre gostamos do professor ou estamos cansados. Mesmo assim, o resultado disso e objetivo que desejo em minha vida deve ser meu maior motivador.

Quando me formei psicóloga, muita gente olhava aquilo com desdém, dizendo que eu não conseguiria nada com aquilo, que ser psicóloga é coisa de gente maluca etc. Hoje, em 2022, é uma das profissões que mais cresceu. Mesmo assim, ela exige de mim, diariamente, uma dedicação intensa: estudo, preparo pessoal, leituras, paciência. Nem tudo é um mar de rosas, mas, ao ver pacientes melhorando, agradecidos, isto me traz uma satisfação e uma alegria imensas.


Decepção X felicidade

Decepções e felicidades andam juntas; por vezes, algumas maiores que as outras, mas se faz necessário treinar nosso olhar para o como lidamos com elas e o que vai acontecendo conosco quando nos frustramos. Impulsionar sofrimentos e apegar-se apenas a eles é caminho certo para o adoecimento e para uma vida que parece não ter sentido. Isto não significa que estou aqui desvalorizando as nossas dores e desilusões, mas a vida não é apenas isto.

Para alguns de nós, o empenho em dar um novo olhar para as situações é essencial: não se deixe levar unicamente pelo seu pessimismo e negativismo, porque este é o caminho que nos conduz a um questionamento eterno e pouca valorização do que vivemos de bom.

Vivemos de tentativas, planos, começos e recomeços… E aí está a beleza da vida, sem romantizar ou fantasiar nada. Vivemos e nos expomos a algumas situações das quais não temos controle porque dependem de terceiros, mas naquilo que está ao nosso alcance podemos dar um novo olhar.

Eu faço um esforço de, a cada final de dia, agradecer aquilo que de bom aconteceu e rever aquilo que não foi bom e preciso e está ao meu alcance. Nem sempre é simples, mas não é impossível. Treinar o olhar em ver a felicidade em pequenas situações que convivem com as desilusões nos dará outras percepções sobre a vida.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.



23 de maio de 2022

O que fazer quando Deus demora para atender nossas preces?


É muito mais fácil, para qualquer pessoa, agitar-se e correr do que se aquietar e esperar. São poucos os que esperam sem se indignar contra as "demoras de Deus", e é muito fácil descobrir os limites da própria paciência, mesmo entre os que confiam, porque esses limites são muito curtos.

Conhecer a promessa: "Pois que se uniu a mim, eu o livrarei; e o protegerei" (Sl 90,14), faz bem ao coração. É confortável saber e sentir que estamos revestidos da proteção de Deus.

Sob a proteção de Deus

Aqueles que se uniram assim ao Senhor colocaram-se debaixo de Sua guarda. Essa união é uma aliança; rompê-la é colocar-se novamente vulnerável. A questão é que muitas pessoas encontram dificuldade em entender e aceitar que estar sob a proteção do Senhor significa viver em completa obediência a Ele. Então, começam a imaginar se já não poderão satisfazer todos os seus desejos e seguir os próprios impulsos.

O que fazer quando Deus demora para atender nossas preces

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Essas pessoas correm um sério risco de se sentirem sufocadas, mas Deus sabe o porquê de colocar limites aos seus filhos. Ninguém melhor que um pai poderia dizer o motivo de, naquele momento, manter o seu pequenino seguro pela mão. É assim que ele garante a sua segurança, ajuda-o a manter o ritmo, sustenta-o quando tropeça, detém-no em situações de risco e o leva até que tenha firmeza no andar.

O pior que se pode fazer é abrir uma brecha e romper essa proteção em nome da satisfação dos apetites e prazeres. Tentar escapar da vontade de Deus não é esperteza, é desperdício de tempo e força. E a nossa força é tão grande quanto a nossa capacidade de esperar em Deus. Se você tiver paciência para aguardar que o Senhor o oriente em todas as situações da sua vida, irá experimentar uma força, um ânimo, uma disposição que o manterá firme, seguro, sereno.

Permita-se ser dirigido por Deus

"Deus nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança" (Albert Einstein). Deus escolheu você desde o momento em que o pôs neste mundo e lhe conferiu poder sobre todas as coisas que estão sob a responsabilidade d'Ele. Ficar firme à espera de que Ele manifeste a Sua vontade e nos mostre por qual caminho seguir é mais difícil do que agir. Mas os que assim permanecem, em confiante esperança, comovem o coração de Deus e experimentam o Seu poder. E, experimentando-o, atuam com poder.


Como é feliz o homem que se deixa dirigir por Deus e enfrenta, corajosamente, os problemas que encontra no caminho! É assim que se aproxima da meta dos seus desejos mais profundos. Quem escolhe essa trilha já é feliz a caminho.

"Meu filho, sofre as demoras de Deus, espera com paciência, a fim de que, no tempo exato sua vida se enriqueça na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Põe tua confiança em Deus e Ele te salvará" (Selecionado do livro do Eclesiástico, cap. 2).

Mantenha a esperança diante a espera

A espera causa um sofrimento e, talvez, você já tenha chorado muito; mas está escrito — a respeito de todos aqueles que passam por grandes tribulações —, que é o próprio Senhor quem os espera para "enxugar deles todas as lágrimas dos olhos" (cf. Ap 7,14;21,4).

É importante fazer dessa verdade uma experiência viva e respirar fundo, enchendo o coração de esperança, porque, sem esperança, nada se faz. Quando vemos alguém se levantar, sorrir de novo, acreditar a ponto de parecer que renasceu, é que ele provou o calor e a doçura da esperança.

Há mais pessoas desesperadas do que problemas sem solução. Existem certos venenos em animais peçonhentos que não matam, mas mantêm a vítima em total paralisia. Assim, não podem escapar, nem mesmo se defender. Também é assim quando se perde a esperança: tudo para, fica-se impotente diante das dificuldades da vida, mesmo das mais simples.



Márcio Mendes

Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo, é autor de vários livros publicados pela Editora Canção Nova, dentre eles '30 minutos para mudar o seu dia', um poderoso instrumento de Deus na vida de centenas de milhares de pessoas.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/o-que-fazer-quando-deus-demora-para-atender-nossas-preces/


19 de maio de 2022

O que é e quais os sintomas da síndrome do pânico?


Maria tem 52 anos de idade e trabalha como secretária do lar em uma casa de família há mais de dez anos. Ela sempre toma o mesmo ônibus, no mesmo local e no mesmo horário. Um dia, após uma contrariedade em casa, ao se dirigir para o ponto de ônibus, começou a sentir um medo intenso, começou a tremer, a suar, a ter dores no peito e dificuldade para respirar. Na primeira vez em que teve esse quadro, ficou desesperada, a ponto de ir correndo a um Pronto Socorro perto da sua casa, pois achava que estava morrendo. Como teve vários ataques semelhantes nos últimos seis meses, esperou um pouco e, em dez minutos, foi melhorando, até que o ataque passou.

Às vezes, os ataques ocorrem em situações estressantes, como foi o caso da Maria, mas, muitas vezes, eles começam sem nenhum motivo aparente – a pessoa pode até mesmo acordar à noite com um ataque de pânico. Maria começou a ficar com medo de ter outro ataque e, assim, passou a evitar situações que podiam dispará-los, ou mesmo evitar locais onde, na eventualidade de um ataque, não pudesse ser socorrida. Maria, como outras pessoas com síndrome do pânico, começou a evitar lugares fechados, com muita gente, e sempre que tem que estar nesses locais, traça mentalmente rotas de fuga.

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Foto Ilustrativa: by Getty Images / PeopleImages

O termo "pânico" vem do grego panikon, que deriva do deus mitológico Pã. Segundo a crença dos antigos gregos, esse deus era habitante de bosques e campos e protetor de rebanhos e pastores contra todos os males. Era um ser horrível: da cintura para baixo, era um bode peludo e, da cintura para cima, humano, com enormes chifres. Quando aparecia para os camponeses, sempre de uma forma repentina, ocasionava enorme pavor, surgindo daí o nome pânico, como um terror repentino.

Pã teve um templo erguido na cidade de Atenas, em uma praça denominada Ágora, local do mercado onde se reuniam muitas pessoas. Essa é a origem da palavra agorafobia, inicialmente relacionada ao medo de locais amplos e com muita gente.

Foi somente a partir de 1980 que o transtorno do pânico foi reconhecido como um problema específico de ansiedade. Até aquela época, os ataques de pânico eram considerados, principalmente, como uma forma de ansiedade, que tinha nomes como: neurastenia cardiocirculatória; PiTi ou HY, codinome das crises histéricas reconhecidas nos serviços de emergência.

Atualmente, a patologia é bem definida e o Transtorno do Pânico (TP) caracteriza-se pela ocorrência espontânea e inexplicável de ataques de pânico concomitantes com, pelo menos, quatro dos seguintes sintomas:

• palpitações, taquicardia ou ritmo cardíaco acelerado;
• sudorese;
• tremores ou abalos;
• sensação de falta de ar ou sufocamento;
• sensação de asfixia;
• dor ou desconforto no peito;
• náuseas ou desconforto abdominal;
• sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio;
• desrealização ou despersonalização;
• medo de perder o controle e enlouquecer;
• medo de morrer;
• parestesias, formigamentos, anestesias;
• calafrios ou ondas de calor.

Despersonalização e desrealização

A despersonalização é uma sensação comum nos estados ansiosos que pode surgir mesmo fora dos ataques de pânico. Caracteriza-se por dar à pessoa uma sensação de não ser ela mesma, como se estivesse saindo de dentro do próprio corpo e observando a si mesma. A desrealização é a sensação de que o mundo ou o ambiente em volta estão diferentes, como se fosse um sonho ou houvesse uma nuvem encobrindo a realidade.

Cerca de um terço das pessoas com transtorno do pânico desenvolvem agorafobia, uma forma extrema de evitação fóbica, o que, na verdade, é o medo de ter medo. Muitas pessoas, por conta da agorafobia, evitam sair de casa, isolando-se socialmente, criando espaço para a ocorrência da depressão, situação muito associada à síndrome do pânico.

E como ocorre?

A ocorrência de um ataque de pânico é insuficiente para se fazer o diagnóstico da doença. Dez a doze por cento da população geral relatam que, nos últimos doze meses, já sofreram pelo menos um ataque de pânico inesperado, mas somente dois a seis por cento da população geral preenchem todos os quesitos necessários para o diagnóstico do Transtorno do Pânico.

Alguns sintomas do TP são também achados frequentes em doenças do coração, como dor torácica, palpitação, sudorese, sensação de asfixia, sufocação e ondas de calor. Essa sintomatologia quase sempre é responsável pelos pacientes procurarem serviços de emergência em cardiologia durante as suas crises. Daí vem a grande familiaridade dos cardiologistas com essa doença.

Os portadores de pânico costumam ter tendência à preocupação excessiva com problemas do cotidiano, bom nível de criatividade, excessiva necessidade de estar no controle da situação, expectativas altas e pensamento rígido, além de ser competentes e confiáveis.


Esses pacientes têm tendência a subestimar suas necessidades físicas

Frequentemente, esses pacientes têm tendência a subestimar suas necessidades físicas, envolvendo-se demais com suas atividades profissionais, o que ocasiona estresse acentuado. Eles costumam reprimir pensamentos negativos, sendo os mais comuns o orgulho, a irritação e seus conflitos íntimos. Sua maneira de ser os predispõe a situações de grande estresse, levando a um aumento da atividade de determinadas áreas cerebrais e desencadeando um desequilíbrio bioquímico local, com consequente ocorrência de um ataque de pânico.

O transtorno do pânico é marcado por ataques de pânico frequentes e que se repetem sem aviso. Além disso, eles são seguidos por intensa ansiedade antecipatória sobre ter outro ataque ou sobre as consequências de um ataque (por exemplo, perder o controle ou ter um ataque cardíaco).

Causa

O transtorno do pânico tem causas biológicas e psicológicas, conhecendo-se vários genes que podem estar envolvidos na sua gênese, de modo que existe um caráter hereditário dessa doença.

Quem está em risco?

As mulheres são duas vezes mais propensas que os homens a sofrer de transtorno do pânico. O distúrbio, geralmente, começa durante a adolescência tardia ou início da idade adulta. Ter um parente próximo com transtorno do pânico aumenta o risco de desenvolvê-lo em dez a vinte por cento; ter um gêmeo idêntico com transtorno do pânico aumenta o risco em trinta por cento.

Sintomas da Síndrome do Pânico

• Preocupação persistente em ter outro ataque de pânico ou alterações de comportamento para evitar ter mais ataques;
• Ataques de pânico não ligados a situações particulares e que podem ocorrer inesperadamente;
• Medo súbito ou terror e sensação de catástrofes iminentes;
• Dificuldade de respiração, sudorese, palpitações, mãos frias, sensação de morte iminente;
• Sensação de que vai enlouquecer ou perder o controle de si mesmo.

Trecho extraído do livro "Livre para viver", de Dr. Roque Savioli.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/o-que-e-e-quais-os-sintomas-da-sindrome-panico/


16 de maio de 2022

Somente a consciência do amor incondicional nos torna capazes de amar


"Se alguém guardar minha palavra, jamais provará a morte" (Jo 8,51). Jesus, com sua vida, honra o Pai. Busca a glória do Pai e não a sua, por isso Ele "honra o Pai", guarda a palavra do Pai" e "está em comunhão com o Pai". A verdade que nos faz livres é a verdade de nossa condição de filhos e filhas vivida no amor. A relação filial com Deus, único Absoluto, nos desliga do domínio do prazer e do dever, tornando-nos capazes de agir de acordo com o Amor que conhecemos e que nos conhece pessoalmente. O princípio da liberdade é o amor, que nos torna aquilo que somos: semelhantes a Deus. A liberdade cristã consiste em amar como e porque somos amados, colocando-nos a serviço dos irmãos e irmãs (Gl 5,13).

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Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

A verdade que nos liberta para o amor: o conhecimento do amor do Pai

Somos filhos e filhas amados, muito amados – tanto que Deus enviou o Seu Filho e este deu Sua vida por nós! Isto é amor. Nós somos chamados a entrar neste amor. Entrar nele é viver e ir melhorando nossa vida. O que não podemos fazer é condenar um dos filhos de Deus, por quem Cristo deu sua vida na cruz, quando este erra e peca. Há o perdão. Nada de excluir alguém por ter errado. É a hora de amar. Por isso, Jesus disse: "Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra" (Jo 8,7).

O ser humano precisa ser aceito para poder viver. Vivemos ou morremos à medida que somos aceitos ou não pelo outro. Até não conhecer um amor incondicionado, vamos à cata nem que seja de migalhas. A moldura do amor, a imagem perfeita dele nós encontramos no Filho. Aqui ele é total, livre e gratuito. Nós não amamos na intensidade de Deus. Amamos na nossa intensidade, que pode ser total. Nosso total é menor que o total de Deus. Mas Deus nos pede o nosso total. Podemos nos entregar e amar com nosso modo, capacidade e quantidade. Aqui não podemos economizar.


Só quem sabe ser amado incondicionalmente é capaz de amar

Só quem tem consciência de ser amado sem condições é capaz de amar a si próprio e aos outros. O amor dá consciência de valor, autoestima, e essa nos torna capazes de reconhecer o valor dos outros e do Outro. O princípio da nossa liberdade é a verdade de Jesus, o Filho amado, que, amando-nos, nos revela nossa identidade de filhos e filhas amados pelo Pai.

Esta é a verdade que nos liberta para o amor: o conhecimento do amor do Pai, prático, vivido, que não é uma ideia, mas uma pessoa, Jesus! Olhemos sempre de novo para Jesus! "Felipe, quem me vê vê o Pai" (Jo 14,9).



Dom João Inácio Müller

Dom João Inácio Müller é Bispo da Arquidiocese de Campinas (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/somente-consciencia-amor-incondicional-nos-torna-capazes-de-amar/


13 de maio de 2022

Como preparar seu filho para lidar com a frustração


Num mundo de opções tão variadas, é possível prepararmos os nossos filhos para conviverem com essa diversidade? É possível dizer "não"  para aquilo que não é bom para eles e ensiná-los a conviver com a frustrações? Para respondermos a essas perguntas, precisamos, primeiro, entender o que é frustração. É um estado que vivenciamos quando algo nos impede de realizar nosso objeto de prazer. Na vida, sabemos que existem várias barreiras limitadoras – sejam elas sociais, psicológicas, físicas ou espirituais – e é bom que assim seja, pois elas nos impedem de termos comportamentos nocivos para nós e para os outros. A forma de lidar com isso gera satisfação ou insatisfação?

Durante toda a nossa vida, vivemos realidades permeadas de expectativas não atendidas, tais como a falta de pessoas e de sentimentos, os quais gostaríamos que elas tivessem ou não para conosco. Esses sentimentos podem despertar em nós emoções de raiva ou tristezas, que acabam se transformando em ira ou depressão, levando nossos filhos a pequenos ou grandes sofrimentos.

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Foto Ilustrativa: Pollyana Ventura by Getty Images

A  vida é uma academia para treinar e lidar com a frustração

A frustração pode atacar principalmente a autoestima dos nossos filhos e levá-los a fazerem escolhas erradas, tais como drogas ou relacionamentos complicados.

Como fazer para que as crianças aprendam a conviver e trabalhar essas frustrações inevitáveis? Esse é um grande dilema vivenciado diariamente por muitos pais.

A escola da vida é uma excelente academia para treinarmos desde pequenos, e colocarmos limites nos possibilita criar condicionamentos mentais, que vão nos propiciando amadurecimento e condições para lidarmos com frustrações maiores. Poder trabalhar preventivamente é um ponto importante para quem tem filhos pequenos.

Nesse ponto, temos vivido uma realidade preocupante. Como a vida profissional dos pais exige que estes fiquem muito tempo fora de casa, eles acabam atendendo aos desejos dos filhos (não deveriam) para acalmar o sentimento de culpa que sentem por causa da ausência.

Superar a frustração

A grande maioria dos pais, quando perguntados sobre o que mais querem para seus filhos, provavelmente responderão: que sejam felizes. Para isso, esforçam-se para oferecer às crianças as melhores condições, mas, muitas vezes, perdem a oportunidade de ensinar a simplicidade da felicidade. Temos de entender que dentro de cada um de nós existe uma pessoa fraca e uma forte. A pergunta que temos de nos fazer é: qual estamos alimentando mais em nossos filhos? Ensiná-los a lidar com as emoções e os sentimentos fazem parte do nosso papel de educador, a fim de que possam superar as frustrações que enfrentarão por toda a vida.

O primeiro aprendizado que focamos muito como sucesso é o que o mundo nos ensina, ou seja, criarmos condições, principalmente, no desenvolvimento do quociente intelectual, mas nos esquecemos do quociente emocional e espiritual, que é a nossa capacidade de lidar com as emoções diante dos desafios diários da vida. A capacidade de transcender, abrir mãos de necessidades atendidas no presente para uma vida futura melhor.


A vocação dos pais é serem os primeiros educadores

O nosso papel é trabalhar as competências de nossos filhos, seus conhecimentos, suas habilidades e, principalmente, suas atitudes aos valores e às crenças que introjetamos neles a partir da forma como vemos o mundo. A escola pode ser parceira, mas os pais não podem terceirizar uma função que é inerente à sua vocação. E a vocação dos pais católicos é serem os primeiros educadores e catequistas de seus filhos.

O que podemos, então, fazer como pais para ajudar os filhos desde pequenos? Primeiro, buscar o autoconhecimento, pois quem se conhece tem mais possibilidade de se aceitar com foco na construção da autoconfiança. Pessoas que reconhecem suas qualidades e defeitos têm mais facilidade para trabalhar comportamentos inadequados sem se sentirem pessoas inadequadas. Isso permite que ela tenha coragem de mudar quando for preciso e aceitar aquilo que ela não pode mudar.

Caminho para ajudar a lidar com a frustração

Trabalhar a paciência para que eles aprendam a esperar, fazendo com que a frustração seja menos dolorida. O diálogo é fundamental para a criança aprender a partilhar seus sentimentos, e, quando falados, possam ser melhor trabalhados. Aprender a ser persistente, pois pouca coisa nós conseguimos sem que tenhamos de batalhar por elas.

A vida não é o que a televisão vende, mas algo conquistado passo a passo. Como diz São Paulo, precisamos combater o bom combate, sermos resilientes, ou seja, ter a capacidade de mudar de estado de acordo com algumas situações, controlar impulsos e aceitar as adversidades e as alegrias como parte da vida, porque o mundo não se restringe ao nosso umbigo, mas a uma coletividade.

Nada disso, porém, é possível sem que os pais se lembrem de que o comportamento dos filhos é modelado por seus exemplos, portanto, precisam ser os primeiros a reconhecer seus próprios sentimentos e lidar com suas frustrações diante da realidade da vida.

Lembrem-se: nossos filhos são como folhas em branco, nas quais podemos escrever nossas frustrações, nossos medos ou contribuir para o aprendizado de como lidar com as decepções e superá-las. Assim como em uma academia, temos de começar com exercícios leves até chegar aos mais exigentes, ou seja, ajudá-los a serem adultos maduros e felizes.



Angela Abdo

Mestre em Ciências Contábeis pela Fucape, pós-graduada em Gestão de Pessoas pela FGV, Gestão de Pessoas pela Faesa, graduada em Serviço Social pela Ufes e psicanalista. Consultora e Executiva na área de RH e empresa hospitalar. Foi coordenadora do grupo fundador do Movimento Mães que Oram pelos Filhos da Paróquia São Camilo de Lellis, em Vitória (ES) e do grupo de Amigos da Canção Nova de Vitória. Atualmente, é coordenadora nacional e internacional do Movimento Mães que Oram pelos Filhos. Escritora dos livros "La Salette, o grito de uma Mãe!" (2018), "Superação x Rejeição: Aprendendo a ser livre" (2017), "Ser Mulher À Luz da Bíblia: Porque Deus Pode Tudo!" (2016) e "Mães que Oram pelos Filhos" (2016). Participa do programa "Papo de Mãe que Ora", no canal Mães que Oram pelos Filhos Oficial, e do "Mães que Oram pelos Filhos", na Rádio América.  Autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/como-preparar-seu-filho-para-lidar-com-frustracao/


11 de maio de 2022

A formação da mulher: Edith Stein


Em 1926, quando ainda era professora na escola das dominicanas em Espira, Edith Stein inicia uma nova e inesperada carreira de conferencista ao ser convidada a dar palestras nessa cidade e em Kaiserlauten sobre o tema: "Verdade e clareza no ensinamento e na educação". Em maio de 1927, ela entra para a "Associação de Professoras Católicas da Baviera", dedicando-se ao estudo da formação dos pedagogos, especialmente das mulheres.

Entre 1926 e 1933, Edith Stein dá uma longa série de palestras sobre a educação e sobre a questão feminina em várias cidades da Alemanha e países vizinhos: Espira, Bendorf, Heidelberg, Nuremberg, Salzburg, entre outros. Ela já havia se tornado uma intelectual católica de renome, tanto pelo seu conhecimento aprofundado da fenomenologia de Husserl e da filosofia tomista quanto pelo seu engajamento na luta pela igualdade de condições de formação e dos direitos das mulheres.

A formação da mulher Edith Stein

A obra "Olav Audunssön", de Sigrid Undset.

Edith Stein e as questões femininas

Como havíamos falado no final do artigo anterior, Edith Stein aborda em suas conferências principalmente o tema da constituição do ser humano. Para ela, não se pode falar de educação e formação sem levar em consideração o sujeito a ser formado, ou seja, sem analisar de modo profundo o que é o ser humano.

Em nossa cultura ocidental, até muito pouco tempo atrás, o ser humano masculino era tido como aquele que representa o ser humano em geral – isso se nota inclusive na linguagem, pois geralmente fala-se "homem" quando se refere aos homens e às mulheres no plural. Faltava, então, uma análise aprofundada da mulher, de suas especificidades e se ela precisaria, ou não, de um tipo específico de formação. Homens e mulheres são capazes de realizar as mesmas tarefas? A entrada das mulheres no mercado de trabalho, especialmente no período da industrialização e da Primeira Guerra Mundial, tornava a questão sobre a formação feminina um tema prioritário a ser abordado.

A alma feminina na literatura

Em 18, 20, 25 e 27 de janeiro de 1932, Edith Stein ministra quatro conferências na "Associação Feminina Católica" de Zurique sobre o tema: "A vida cristã da mulher" 1 . Ao falar para um público leigo, não formado em filosofia, fenomenologia ou psicologia, ela trata o tema da formação feminina apresentando a que entende por "essência" ou
"alma" feminina, recorrendo às obras literárias. Não se pode, contudo, esquecer que, apesar do recurso à literatura, ela o faz como filósofa e fenomenóloga, fundamentando-se sempre ao método fenomenológico de Husserl, mesmo quando não o cita de modo explícito.

Ao apresentar o objeto a ser analisado, a "alma feminina", ela coloca uma questão: como falar desse objeto de um modo genérico? Sabemos que não existe uma "coisa" que podemos identificar como sendo a "alma feminina", mas existe apenas uma enorme variedade de mulheres, distintas umas das outras. Partindo dessa imensa variedade, o
máximo que se poderia fazer é identificar alguns "tipos gerais" de mulher e descrevê-los, tal como faz a psicologia. Mas isso não é suficiente. É preciso buscar, por meio desses tipos, um "denominador comum" e diferenciá-lo de outro denominador, o que entendemos por "essência" ou "alma" masculina.

Para Edith Stein, a literatura, mais do que a análise psicológica, revela esse denominador comum encontrado em vários tipos diferentes de mulheres, especialmente nas obras que apresentam uma "interpretação e descrição da alma", que manifestam "um valor simbólico especial" (STEIN, 1999, p. 107). Esse valor simbólico não se encontra em qualquer tipo de literatura. Edith Stein, formada em germanística, no estudo da língua e da literatura alemã, escolhe três autores reconhecidos pela capacidade de apresentar o íntimo da alma humana de um modo profundo: Goethe (Alemanha, 1749-1832), Henrik Ibsen (Noruega, 1828-1906) e Sigrid Undset (Noruega, 1882-1949). Para ela, a análise da "alma humana" apresentada nas obras desses três autores é profunda e abrangente, desenvolvendo-se no âmbito das essências, dos arquétipos.

Edith Stein escolhe três obras diversas entre si, cuja narrativa se dá em épocas bem distintas: a obra "Olav Audunssön", de Sigrid Undset; a peça teatral "A casa das bonecas" (Nora oder ein Puppenheim) de Henrik Ibsen; e a peça dramática de Goethe, "Ifigênia", inspirada em uma peça clássica grega.

Ingunn, a personagem feminina da obra de Sigrid Undset, e Olav, seu irmão de criação, vivem no campo, na Noruega da Idade Média. São criados soltos no campos e agem como "forças da natureza", presos aos seus instintos e, especialmente com relação à figura feminina de Sigrid, sem conseguir lutar contra eles. Os pais, quando sabem que estão apaixonados, enviam Olav para lutar em países longínquos e eles não se veem por muitos anos. Ingunn procura em vão a felicidade nos sonhos e é seguidamente afligida por crises de histeria. Acaba tornando-se vítima de um sedutor e concebe um filho.

Quando Olav retorna ao lar, ouve de Ingunn a confissão de sua culpa e aceita não romper o vínculo sagrado que tinha prometido: a leva para morar em seu sítio e cria o filho como seu próprio herdeiro. Mas eles não são felizes, pois Ingunn vive tão abatida pela consciência de sua falta que todos os seus filhos com Olav nascem mortos. No
entanto Olav, no final da vida de Ingunn, "começa a suspeitar que nessa alma deve ter germinado algo mais do que afeição surda e irracional, que deve ter havido uma centelha divina subnutrida e a compreensão de um mundo superior, mas sem a necessária claridade, e que, por isso, não tivera a força necessária para dar forma à sua
vida (STEIN, 1999, p. 108).

Os personagens Nora e Robert de Henrik Ibsen também vivem na Noruega, mas em uma cidade moderna, provavelmente no final do século XIX, e suas personalidades são formadas como produtos da sociedade. Especialmente Nora, pois "tendo sido a boneca preferida de seu pai, é agora a boneca preferida de seu marido, assim como os filhos são suas bonecas" (STEIN, 1999, p. 109). Quando seu marido sofre de um grave problema
de saúde, afastando-se do trabalho e gerando dificuldades financeiras, Nora falsifica sua assinatura para conseguir um empréstimo.

O objetivo era nobre, pois ela queria custear o caro tratamento de seu esposo para salvá-lo, mas quando o marido descobre, a condena moralmente e diz que ela já não merece mais ser a educadora dos filhos. Apesar de Robert tentar depois restabelecer a vida marital comum, Nora sente que já não pode mais voltar atrás. Ela percebe "que precisa tornar-se outra pessoa antes de tentar outra vez ser esposa e mãe" (STEIN, 1999, p. 109). Por causa da tomada de consciência da mulher, Robert também chega a uma conclusão semelhante: "precisa transformar-se em ser humano, deixando de ser apenas uma figura social, para que sua convivência pudesse transformar-se em casamento" (STEIN, 1999, p. 109).


A Ifigênia de Goethe, última obra citada por Edith Stein, vive na Grécia Antiga. Ainda muito jovem é ameaçada de morte, mas é salva pela mão dos deuses e tirada do convívio de seus pais e irmãos. Ela é destinada ao serviço sagrado do templo em Táuris, onde é muito bem tratada como sacerdotisa e venerada como uma santa. Apesar
disso, Ifigênia mantém o amor à sua família e sonha retornar ao convívio de seus parentes. O rei de Táuris a pede em casamento, mas ela recusa, sabendo que desse modo será muito mais difícil retornar à pátria. Como castigo o rei ordena que dois estrangeiros devam ser sacrificados à deusa, "cumprindo assim um antigo costume local que tinha
sido revogado justamente por sua iniciativa" (STEIN, 1999, p. 110).

Os estrangeiros que aparecem na praia são o seu irmão e um amigo dele. Ifigênia é posta diante do dilema de salvar o seu irmão, o amigo dele e a si mesma por meio da mentira e trapaça, ou cumprir uma antiga maldição de sua família. A princípio, ela decide pelo mal menor, mas a sua alma pura "não suporta a falsidade e o abuso de confiança, lutando contra eles como um corpo sadio se opõe aos germes de uma doença" (STEIN, 1999, p. 110). Confiando na veracidade dos deuses, Ifigênia acaba contando todo o plano ao rei, que felizmente a perdoa e como recompensa permite que ela, o irmão e seu amigo retornem à pátria. O irmão, que vivia atormentado pela morte da mãe, também é capaz de se perdoar.

A função eterna da mulher contraposta a do homem

O objetivo de Edith Stein nesse ciclo de conferências aparece agora de modo mais claro: pressupondo o método fenomenológico, chegar o mais próximo possível do que seria a essência da mulher, a "alma feminina" contrapondo-a a "alma masculina", por meio da análise dessas personagens principais de três romances.

Apesar das diferentes concepções de ser humano, que estão por trás desses personagens, como produto da natureza, do meio social ou podendo elevar-se acima de toda determinação natural e cultural em busca de um ideal ético e religioso –, Edith Stein identifica algo comum às três figuras femininas retratadas, que permite que se fale em termos gerais de uma "essência" da mulher:

Podemos, então, destacar algo comum nessas três figuras que cresceram em solos tão diversos (tanto com relação ao ambiente em que a criação literária as coloca quanto à época cultural e à personalidade de seus criadores)? (…) Em todas, encontro uma índole comum: o desejo de dar e de receber amor, e com isso, a aspiração de serem tiradas da estreiteza de sua existência real atual para serem guindadas a um ser e agir mais elevado (STEIN, 1999, p. 111).

Nesses três "arquétipos" femininos, Edith Stein diz encontrar no fundo uma mesma aspiração, mesmo que desenvolvida em contextos diversos. Esse desejo essencialmente feminino corresponde ao que ela define como a "função eterna da mulher", estreitamente vinculada à sua relação com os outros que se encontram em relação com
ela:

Tornar-se aquilo que se deve ser, deixar amadurecer para o desdobramento mais perfeito possível a humanidade que está latente nela, da forma individual especial que foi colocada nela. Deixar amadurecê-la na união amorosa que, fecundando, provoca esse processo de amadurecimento e, ao mesmo tempo, estimula e promove também nos outros o amadurecimento de sua perfeição, essa é a aspiração mais profunda do desejar feminino, que pode manifestar-se nos mais diversos disfarces e mesmo distorções e desfiguramentos (STEIN, 1999, p. 112).

A mulher a exemplo de Maria

Em uma outra conferência, "A vocação do homem e da mulher de acordo com a graça" – que abordaremos no próximo artigo –, Edith Stein associa essa visão da "mulher eterna" à Maria, Mãe de Jesus. Por Cristo, toda mulher é convidada a olhar para Maria, sua mãe, como modelo a ser seguido para tentar resgatar, ao menos parcialmente, a
ordem original. A imagem da mãe de Deus nos revela a atitude fundamental da alma feminina que corresponde à vocação natural da mulher, querida por Deus no momento da Criação.

Nossa Senhora realiza em sua natureza o modelo perfeito de doação e amor desinteressado pelos outros. Por meio de Maria, as mulheres podem tomar para si esse ideal elevado de realização, contando sempre com a graça. Apesar de saber que a realização plena de sua essência só se dará plenamente na vida eterna, cabe a cada um de nós começar a cultivá-la e construí-la no aqui e agora de nossas vidas.

Referência Bibliográficas:

1 STEIN, Edith. A vida cristã da mulher. In: A mulher: Sua missão segundo a natureza e a graça. Trad. Alfred J. Keller. Bauru, SP: EDUSC, 1999, p. 105-133.



Maria Cecilia Isatto Parise

Maria Cecilia Isatto Parise. Casada há 30 anos e mãe de dois filhos. Mestra, pesquisadora, professora e conferencista em Edith Stein.
Site: edithstein.com.br
Instagram: Maria Cecilia Isatto Parise
Facebook: Chouette – Filosofia Comentada


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/formacao-da-mulher-edith-stein/


9 de maio de 2022

Reflita: as diferentes faces do amor de Deus


Amor é uma das palavras mais difíceis de conceituar em nosso mundo. A necessidade ou a conveniência foram gerando diversos significados para essa palavra e, na minha opinião, todos esses significados têm certo teor de verdade, mas necessitados de contextualização. Minha intenção, no momento, não é a de trabalhar os contextos do amor, e sim as diferentes faces do amor de Deus.

O Senhor nos ama com toda a Sua capacidade infinita. Ele não sabe amar menos e toma a iniciativa sempre. No entanto, a vida humana se desenvolve num complexo ambiente, com fases diferenciadas e momentos próprios, por isso a nossa necessidade de amor é alterada também.

Reflita: as diferentes face do amor de Deus

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O amor pode ter várias representações, então conheça o amor de Deus por você

Uma criança, por exemplo, não pode ser amada com um amor de "homem-mulher", porque isso não atende a sua necessidade e ainda pode provocar deficiências em seu amadurecimento interior, e Deus sabe disso. O Pai Poderoso ama a todos igualmente, mas não nos ama com um amor genérico. O Seu amor vai se configurando a nossa necessidade, e quase podemos dizer que, por amar pessoalmente cada um, Ele nos ama de "forma diferente" – em estilo, mas em igual intensidade. Um amor pessoal e único em sua expressão. A cada momento, somos amados da forma adequada e diferenciada.

Exatamente por sermos reflexos do amor de Deus, nós também não amamos a todos do mesmo jeito. Se assim o fizéssemos, seríamos injustos, porque o amor de verdade deve tocar a individualidade de cada um, amar do jeito certo. E como o amor é criativo! Ele encontra a forma individual e única de ser fecundo em cada pessoa. Não adianta pensar que amaremos todos de forma igual, porque isso não é possível. Ao sabermos disso, evitamos o risco de nos sentirmos pouco amados, simplesmente porque somos amados de forma diferente que os outros.


O amor divino

Para compreendermos o amor divino, podemos observar as imagens dele existentes no amor humano. Um exemplo fácil é o amor de uma mãe que, com a mesma intensidade de amor, ama de uma forma os seus pais, de outra o seu esposo, de outra os seus filhos e de outra ainda seus amigos. Será que o que muda é a intensidade do amor? Não. O que muda é o estilo dele, suas características, e não sua profundidade.

O amor na forma e na dose certa é como um medicamento, um fortificante ou uma vitamina; não é ele quem leva ao desenvolvimento, mas é ele que garante que o processo da vida não sofrerá atrofias ou danos permanentes. Nossa identidade surge a partir do estilo de amor que recebemos.

Descobrimo-nos filhos a partir do amor de pai e mãe; descobrimo-nos irmãos a partir do amor de nossos irmãos. É o amor que abre nossos olhos à nossa própria identidade, é ele quem dá a sobriedade de vida e nos faz amar e gostar de nós mesmos, desejando sempre sermos melhores.

Que Deus o abençoe e o faça crescer sempre em seu amor!



Padre Xavier

Padre Antônio Xavier Batista, sacerdote na Comunidade Canção Nova ordenado em 16 de dezembro de 2007, é formado em Filosofia, Teologia e Mestre em Ciências Bíblicas e Arqueologia pela Pontifícia Universidade Antoniana (Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém). Twitter: @padrexaviercn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/reflita-as-diferentes-face-do-amor-de-deus/