11 de maio de 2022

A formação da mulher: Edith Stein


Em 1926, quando ainda era professora na escola das dominicanas em Espira, Edith Stein inicia uma nova e inesperada carreira de conferencista ao ser convidada a dar palestras nessa cidade e em Kaiserlauten sobre o tema: "Verdade e clareza no ensinamento e na educação". Em maio de 1927, ela entra para a "Associação de Professoras Católicas da Baviera", dedicando-se ao estudo da formação dos pedagogos, especialmente das mulheres.

Entre 1926 e 1933, Edith Stein dá uma longa série de palestras sobre a educação e sobre a questão feminina em várias cidades da Alemanha e países vizinhos: Espira, Bendorf, Heidelberg, Nuremberg, Salzburg, entre outros. Ela já havia se tornado uma intelectual católica de renome, tanto pelo seu conhecimento aprofundado da fenomenologia de Husserl e da filosofia tomista quanto pelo seu engajamento na luta pela igualdade de condições de formação e dos direitos das mulheres.

A formação da mulher Edith Stein

A obra "Olav Audunssön", de Sigrid Undset.

Edith Stein e as questões femininas

Como havíamos falado no final do artigo anterior, Edith Stein aborda em suas conferências principalmente o tema da constituição do ser humano. Para ela, não se pode falar de educação e formação sem levar em consideração o sujeito a ser formado, ou seja, sem analisar de modo profundo o que é o ser humano.

Em nossa cultura ocidental, até muito pouco tempo atrás, o ser humano masculino era tido como aquele que representa o ser humano em geral – isso se nota inclusive na linguagem, pois geralmente fala-se "homem" quando se refere aos homens e às mulheres no plural. Faltava, então, uma análise aprofundada da mulher, de suas especificidades e se ela precisaria, ou não, de um tipo específico de formação. Homens e mulheres são capazes de realizar as mesmas tarefas? A entrada das mulheres no mercado de trabalho, especialmente no período da industrialização e da Primeira Guerra Mundial, tornava a questão sobre a formação feminina um tema prioritário a ser abordado.

A alma feminina na literatura

Em 18, 20, 25 e 27 de janeiro de 1932, Edith Stein ministra quatro conferências na "Associação Feminina Católica" de Zurique sobre o tema: "A vida cristã da mulher" 1 . Ao falar para um público leigo, não formado em filosofia, fenomenologia ou psicologia, ela trata o tema da formação feminina apresentando a que entende por "essência" ou
"alma" feminina, recorrendo às obras literárias. Não se pode, contudo, esquecer que, apesar do recurso à literatura, ela o faz como filósofa e fenomenóloga, fundamentando-se sempre ao método fenomenológico de Husserl, mesmo quando não o cita de modo explícito.

Ao apresentar o objeto a ser analisado, a "alma feminina", ela coloca uma questão: como falar desse objeto de um modo genérico? Sabemos que não existe uma "coisa" que podemos identificar como sendo a "alma feminina", mas existe apenas uma enorme variedade de mulheres, distintas umas das outras. Partindo dessa imensa variedade, o
máximo que se poderia fazer é identificar alguns "tipos gerais" de mulher e descrevê-los, tal como faz a psicologia. Mas isso não é suficiente. É preciso buscar, por meio desses tipos, um "denominador comum" e diferenciá-lo de outro denominador, o que entendemos por "essência" ou "alma" masculina.

Para Edith Stein, a literatura, mais do que a análise psicológica, revela esse denominador comum encontrado em vários tipos diferentes de mulheres, especialmente nas obras que apresentam uma "interpretação e descrição da alma", que manifestam "um valor simbólico especial" (STEIN, 1999, p. 107). Esse valor simbólico não se encontra em qualquer tipo de literatura. Edith Stein, formada em germanística, no estudo da língua e da literatura alemã, escolhe três autores reconhecidos pela capacidade de apresentar o íntimo da alma humana de um modo profundo: Goethe (Alemanha, 1749-1832), Henrik Ibsen (Noruega, 1828-1906) e Sigrid Undset (Noruega, 1882-1949). Para ela, a análise da "alma humana" apresentada nas obras desses três autores é profunda e abrangente, desenvolvendo-se no âmbito das essências, dos arquétipos.

Edith Stein escolhe três obras diversas entre si, cuja narrativa se dá em épocas bem distintas: a obra "Olav Audunssön", de Sigrid Undset; a peça teatral "A casa das bonecas" (Nora oder ein Puppenheim) de Henrik Ibsen; e a peça dramática de Goethe, "Ifigênia", inspirada em uma peça clássica grega.

Ingunn, a personagem feminina da obra de Sigrid Undset, e Olav, seu irmão de criação, vivem no campo, na Noruega da Idade Média. São criados soltos no campos e agem como "forças da natureza", presos aos seus instintos e, especialmente com relação à figura feminina de Sigrid, sem conseguir lutar contra eles. Os pais, quando sabem que estão apaixonados, enviam Olav para lutar em países longínquos e eles não se veem por muitos anos. Ingunn procura em vão a felicidade nos sonhos e é seguidamente afligida por crises de histeria. Acaba tornando-se vítima de um sedutor e concebe um filho.

Quando Olav retorna ao lar, ouve de Ingunn a confissão de sua culpa e aceita não romper o vínculo sagrado que tinha prometido: a leva para morar em seu sítio e cria o filho como seu próprio herdeiro. Mas eles não são felizes, pois Ingunn vive tão abatida pela consciência de sua falta que todos os seus filhos com Olav nascem mortos. No
entanto Olav, no final da vida de Ingunn, "começa a suspeitar que nessa alma deve ter germinado algo mais do que afeição surda e irracional, que deve ter havido uma centelha divina subnutrida e a compreensão de um mundo superior, mas sem a necessária claridade, e que, por isso, não tivera a força necessária para dar forma à sua
vida (STEIN, 1999, p. 108).

Os personagens Nora e Robert de Henrik Ibsen também vivem na Noruega, mas em uma cidade moderna, provavelmente no final do século XIX, e suas personalidades são formadas como produtos da sociedade. Especialmente Nora, pois "tendo sido a boneca preferida de seu pai, é agora a boneca preferida de seu marido, assim como os filhos são suas bonecas" (STEIN, 1999, p. 109). Quando seu marido sofre de um grave problema
de saúde, afastando-se do trabalho e gerando dificuldades financeiras, Nora falsifica sua assinatura para conseguir um empréstimo.

O objetivo era nobre, pois ela queria custear o caro tratamento de seu esposo para salvá-lo, mas quando o marido descobre, a condena moralmente e diz que ela já não merece mais ser a educadora dos filhos. Apesar de Robert tentar depois restabelecer a vida marital comum, Nora sente que já não pode mais voltar atrás. Ela percebe "que precisa tornar-se outra pessoa antes de tentar outra vez ser esposa e mãe" (STEIN, 1999, p. 109). Por causa da tomada de consciência da mulher, Robert também chega a uma conclusão semelhante: "precisa transformar-se em ser humano, deixando de ser apenas uma figura social, para que sua convivência pudesse transformar-se em casamento" (STEIN, 1999, p. 109).


A Ifigênia de Goethe, última obra citada por Edith Stein, vive na Grécia Antiga. Ainda muito jovem é ameaçada de morte, mas é salva pela mão dos deuses e tirada do convívio de seus pais e irmãos. Ela é destinada ao serviço sagrado do templo em Táuris, onde é muito bem tratada como sacerdotisa e venerada como uma santa. Apesar
disso, Ifigênia mantém o amor à sua família e sonha retornar ao convívio de seus parentes. O rei de Táuris a pede em casamento, mas ela recusa, sabendo que desse modo será muito mais difícil retornar à pátria. Como castigo o rei ordena que dois estrangeiros devam ser sacrificados à deusa, "cumprindo assim um antigo costume local que tinha
sido revogado justamente por sua iniciativa" (STEIN, 1999, p. 110).

Os estrangeiros que aparecem na praia são o seu irmão e um amigo dele. Ifigênia é posta diante do dilema de salvar o seu irmão, o amigo dele e a si mesma por meio da mentira e trapaça, ou cumprir uma antiga maldição de sua família. A princípio, ela decide pelo mal menor, mas a sua alma pura "não suporta a falsidade e o abuso de confiança, lutando contra eles como um corpo sadio se opõe aos germes de uma doença" (STEIN, 1999, p. 110). Confiando na veracidade dos deuses, Ifigênia acaba contando todo o plano ao rei, que felizmente a perdoa e como recompensa permite que ela, o irmão e seu amigo retornem à pátria. O irmão, que vivia atormentado pela morte da mãe, também é capaz de se perdoar.

A função eterna da mulher contraposta a do homem

O objetivo de Edith Stein nesse ciclo de conferências aparece agora de modo mais claro: pressupondo o método fenomenológico, chegar o mais próximo possível do que seria a essência da mulher, a "alma feminina" contrapondo-a a "alma masculina", por meio da análise dessas personagens principais de três romances.

Apesar das diferentes concepções de ser humano, que estão por trás desses personagens, como produto da natureza, do meio social ou podendo elevar-se acima de toda determinação natural e cultural em busca de um ideal ético e religioso –, Edith Stein identifica algo comum às três figuras femininas retratadas, que permite que se fale em termos gerais de uma "essência" da mulher:

Podemos, então, destacar algo comum nessas três figuras que cresceram em solos tão diversos (tanto com relação ao ambiente em que a criação literária as coloca quanto à época cultural e à personalidade de seus criadores)? (…) Em todas, encontro uma índole comum: o desejo de dar e de receber amor, e com isso, a aspiração de serem tiradas da estreiteza de sua existência real atual para serem guindadas a um ser e agir mais elevado (STEIN, 1999, p. 111).

Nesses três "arquétipos" femininos, Edith Stein diz encontrar no fundo uma mesma aspiração, mesmo que desenvolvida em contextos diversos. Esse desejo essencialmente feminino corresponde ao que ela define como a "função eterna da mulher", estreitamente vinculada à sua relação com os outros que se encontram em relação com
ela:

Tornar-se aquilo que se deve ser, deixar amadurecer para o desdobramento mais perfeito possível a humanidade que está latente nela, da forma individual especial que foi colocada nela. Deixar amadurecê-la na união amorosa que, fecundando, provoca esse processo de amadurecimento e, ao mesmo tempo, estimula e promove também nos outros o amadurecimento de sua perfeição, essa é a aspiração mais profunda do desejar feminino, que pode manifestar-se nos mais diversos disfarces e mesmo distorções e desfiguramentos (STEIN, 1999, p. 112).

A mulher a exemplo de Maria

Em uma outra conferência, "A vocação do homem e da mulher de acordo com a graça" – que abordaremos no próximo artigo –, Edith Stein associa essa visão da "mulher eterna" à Maria, Mãe de Jesus. Por Cristo, toda mulher é convidada a olhar para Maria, sua mãe, como modelo a ser seguido para tentar resgatar, ao menos parcialmente, a
ordem original. A imagem da mãe de Deus nos revela a atitude fundamental da alma feminina que corresponde à vocação natural da mulher, querida por Deus no momento da Criação.

Nossa Senhora realiza em sua natureza o modelo perfeito de doação e amor desinteressado pelos outros. Por meio de Maria, as mulheres podem tomar para si esse ideal elevado de realização, contando sempre com a graça. Apesar de saber que a realização plena de sua essência só se dará plenamente na vida eterna, cabe a cada um de nós começar a cultivá-la e construí-la no aqui e agora de nossas vidas.

Referência Bibliográficas:

1 STEIN, Edith. A vida cristã da mulher. In: A mulher: Sua missão segundo a natureza e a graça. Trad. Alfred J. Keller. Bauru, SP: EDUSC, 1999, p. 105-133.



Maria Cecilia Isatto Parise

Maria Cecilia Isatto Parise. Casada há 30 anos e mãe de dois filhos. Mestra, pesquisadora, professora e conferencista em Edith Stein.
Site: edithstein.com.br
Instagram: Maria Cecilia Isatto Parise
Facebook: Chouette – Filosofia Comentada


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/formacao-da-mulher-edith-stein/


9 de maio de 2022

Reflita: as diferentes faces do amor de Deus


Amor é uma das palavras mais difíceis de conceituar em nosso mundo. A necessidade ou a conveniência foram gerando diversos significados para essa palavra e, na minha opinião, todos esses significados têm certo teor de verdade, mas necessitados de contextualização. Minha intenção, no momento, não é a de trabalhar os contextos do amor, e sim as diferentes faces do amor de Deus.

O Senhor nos ama com toda a Sua capacidade infinita. Ele não sabe amar menos e toma a iniciativa sempre. No entanto, a vida humana se desenvolve num complexo ambiente, com fases diferenciadas e momentos próprios, por isso a nossa necessidade de amor é alterada também.

Reflita: as diferentes face do amor de Deus

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O amor pode ter várias representações, então conheça o amor de Deus por você

Uma criança, por exemplo, não pode ser amada com um amor de "homem-mulher", porque isso não atende a sua necessidade e ainda pode provocar deficiências em seu amadurecimento interior, e Deus sabe disso. O Pai Poderoso ama a todos igualmente, mas não nos ama com um amor genérico. O Seu amor vai se configurando a nossa necessidade, e quase podemos dizer que, por amar pessoalmente cada um, Ele nos ama de "forma diferente" – em estilo, mas em igual intensidade. Um amor pessoal e único em sua expressão. A cada momento, somos amados da forma adequada e diferenciada.

Exatamente por sermos reflexos do amor de Deus, nós também não amamos a todos do mesmo jeito. Se assim o fizéssemos, seríamos injustos, porque o amor de verdade deve tocar a individualidade de cada um, amar do jeito certo. E como o amor é criativo! Ele encontra a forma individual e única de ser fecundo em cada pessoa. Não adianta pensar que amaremos todos de forma igual, porque isso não é possível. Ao sabermos disso, evitamos o risco de nos sentirmos pouco amados, simplesmente porque somos amados de forma diferente que os outros.


O amor divino

Para compreendermos o amor divino, podemos observar as imagens dele existentes no amor humano. Um exemplo fácil é o amor de uma mãe que, com a mesma intensidade de amor, ama de uma forma os seus pais, de outra o seu esposo, de outra os seus filhos e de outra ainda seus amigos. Será que o que muda é a intensidade do amor? Não. O que muda é o estilo dele, suas características, e não sua profundidade.

O amor na forma e na dose certa é como um medicamento, um fortificante ou uma vitamina; não é ele quem leva ao desenvolvimento, mas é ele que garante que o processo da vida não sofrerá atrofias ou danos permanentes. Nossa identidade surge a partir do estilo de amor que recebemos.

Descobrimo-nos filhos a partir do amor de pai e mãe; descobrimo-nos irmãos a partir do amor de nossos irmãos. É o amor que abre nossos olhos à nossa própria identidade, é ele quem dá a sobriedade de vida e nos faz amar e gostar de nós mesmos, desejando sempre sermos melhores.

Que Deus o abençoe e o faça crescer sempre em seu amor!



Padre Xavier

Padre Antônio Xavier Batista, sacerdote na Comunidade Canção Nova ordenado em 16 de dezembro de 2007, é formado em Filosofia, Teologia e Mestre em Ciências Bíblicas e Arqueologia pela Pontifícia Universidade Antoniana (Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém). Twitter: @padrexaviercn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/reflita-as-diferentes-face-do-amor-de-deus/


6 de maio de 2022

Não existe a fórmula perfeita para ser mãe. Não se cobre tanto!


Quem não chegou em um momento da vida em que precisou se deparar com as fragilidades de sua própria mãe? Que frustração! Ela era uma heroína, quase "imaculada" àqueles olhos infantis. Nesse dia, passamos a ter de compreender que ela tem muitas fraquezas e não dá conta de tudo como imaginávamos.

Quando fomos introduzidos em nossa cultura, herdamos essa imagem materna de alguém que não erra, que nos protege, que é forte. E quase podemos dizer que é dotada de "superpoderes".

Não existe a fórmula perfeita para ser mãe. Não se cobre tanto!

Foto: Larissa Ferreira/cancaonova.com

Toda mãe traz em si a obrigação de ser infalível, mas não existe mãe perfeita

Toda mãe traz em si essa enraizada "obrigação" de ser infalível para seus filhos, principalmente nos dias atuais, em que é preciso dar conta de uma jornada de trabalho longa, cuidar da saúde dos filhos, assim como escola, atividades extras, alimentação, roupa, higiene, organização da casa, relacionamento com o marido, agenda da família, e assim vai. Ufa! E, ainda, tem o cuidado com si mesma. Por que isso só me veio à lembrança por último? Sim, é assim que acontece. Toda mãe traz consigo o dom da renúncia e de querer fazer o melhor possível para os filhos, mesmo que esse melhor requeira não colocar a si mesma na lista de prioridades.

Com essa "obrigação" de acertar em tudo, perde-se também o direito de cometer falhas. E quando elas acontecem, desmorona um "mundo" sobre os próprios ombros, justamente porque sabemos que nos foi confiado alguém que depende totalmente de nós. "Educar e suprir as necessidades de um filho não é uma tarefa fácil, pois consome todo tempo e energia da mãe. É um cuidado integral, de intensa dependência, que pode, muitas vezes, gerar sentimentos de angústia, ansiedade, fracasso e culpa", esclarece a psicóloga Lisandra Borges.

Os motivos que fazem as mães não se sentirem ideais

Comum é encontrar alguém não se sentindo a mãe ideal, e os motivos são díspares. Algumas vezes, porque se acham muito protetoras ou muito ausentes. Outras vezes, porque são muito rígidas ou ainda não conseguem ter a firmeza necessária. Quantas vezes choramos depois de gritarmos com as crianças, mas também, porque percebemos nossas omissões e limitações. Ou ainda sentimos aquela angústia e medo por não conseguirmos dar para eles o que precisam. Se o desenvolvimento do filho não está da melhor forma, se as notas na escola estão baixas, se tem ficado doente com frequência ou se o filho está muito rebelde… Ai, meu Deus! Onde estou errando? Tudo pode se tornar motivo de preocupação dentro da cabeça de uma mãe, pois ela entende que suas atitudes são determinantes na vida dos filhos.

Esse sentimento é fruto do muito amor, de alguém que não sabe fazer nada além de se doar, um verdadeiro martírio, como tem citado Papa Francisco, ressaltando também que esse dom não é só o de gerar o filho, mas de lhe dar a vida, a sua própria vida no dia a dia, nas suas escolhas.

Cuidar-se

Por outro lado, na vivência desse dom, a mulher é chamada a cuidar de si mesma para que esteja também em boas condições para lidar com aqueles que tanto ama e para que tenha saúde e disposição para as lutas diárias. Lisandra Borges dá algumas dicas que favorecem esse processo.

"Lembre-se de que a mãe perfeita não existe, pois somos seres humanos e estamos aprendendo todos os dias. Além disso, nenhuma criança vem com manual de instruções, então, aprendemos no dia a dia, com a experiência. Aceite a imperfeição, isso já é um começo! É importante saber que você está fazendo o melhor, atendendo as necessidades do seu filho, mas nunca as conseguirá sanar cem por cento. Aproveite os bons momentos junto com os filhos, valorizando mais os sentimentos positivos", ensina a psicóloga.

Esse consumir-se provoca um esgotamento, por isso é necessário dar-se o direito de ser cuidada, sem culpa; e aqui vale reafirmar: sem culpa mesmo. Não é porque você se tornou mãe, que vai esquecer de si mesma. Quando nos sentimos bem, os filhos colhem o melhor de nós e são os primeiros beneficiados. Quando você se sente bonita, por exemplo, tudo muda, principalmente o humor.

Separar um tempo para si

Em meio a tanta correria, não é fácil ser prioridade, porém vale muito a pena separar um tempo para si. De repente, cuidar das unhas, do cabelo ou fazer algo que lhe dê prazer. Que tal encontrar-se com os amigos de que tanto gosta? Separar um momento para estar a sós com Deus? Ou então deixar as crianças com alguém para curtir um cineminha com o marido? De repente, um jantar a dois!

Filhos são os melhores presentes que uma pessoa pode receber de Deus, mas, as mães precisam respirar novos ares de vez em quando, retomar as forças para dar o melhor de si para esses tesouros.

É preciso também, e principalmente, olhar para o Senhor

Ele sabe das nossas intenções, como está em 1 João 3,19-20: "Nisto conheceremos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração; porque se o coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas".

Com isso, a mãe é chamada a confiar na graça de Deus. Aliás, mulheres heroínas só existem nas telas de cinema e revistas em quadrinhos. Nós, simples pecadoras, dependemos da graça de Deus. Uma boa forma de nos depararmos com nossas fragilidades e limitações é entendermos que sem Ele não conseguimos realizar nossa missão, que não somos suficientes.


Sempre é tempo de retomar

Pedir ajuda é uma excelente saída. Muitas vezes, escondemo-nos atrás de lamúrias ou autopiedade, para não enfrentarmos os problemas.

"Se o sentimento de culpa realmente tiver fundamento e você conseguir identificar alguns pontos que pode melhorar, faça isso, encontre soluções práticas para resolver o problema. Se você se sente culpada por não estar sempre presente com seu filho, encontre uma hora para estar somente os dois", diz a psicóloga Lisandra Borges.

Aproveite para escutar seu filho e refletir o que está fora do equilíbrio e, talvez, minando sua maternidade. Os nossos exageros como mães, muitas vezes, deixam-nos cegas. Porém, dá para respirar fundo e recomeçar.

A Palavra de Deus nos diz ainda que "a mulher será salva pela maternidade, contanto que permaneça com modéstia na fé, na caridade e na santidade" (I Tm 2,15). Portanto, abandonemo-nos nas mãos de Nosso Senhor, pois, à medida que fazemos isso, o fardo se torna leve. A maternidade não é algo que possuímos, mas um presente que nos faz participar da criação e paternidade de Deus. Uma linda experiência do amor de Deus.

Não deixe que a tristeza tome conta de seu coração. Cuide de você sem culpa, cuide de seu filho e acredite na graça de Deus. Celebre, porque Deus, Aquele que realmente é perfeito, faz festa com sua maternidade!

Elzirene Pereira
Jornalista e Missionária da Comunidade Canção Nova 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/maternidade/nao-existe-a-formula-perfeita-para-ser-mae-nao-se-cobre-tanto/


4 de maio de 2022

Um caminho com Maria


Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: "Onde estás?". Ele respondeu: "Ouvi teu ruído no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me". Deus perguntou: "E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?" O homem respondeu: "A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi". Então, o Senhor Deus perguntou à mulher: "Por que fizestes isso?" E a mulher respondeu: "A serpente enganou-me, e eu comi". E o Senhor Deus disse à serpente: "Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos os dias de tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,9-15).

A serpente, que é Satanás, sabia a que Mulher o Senhor se referia: desde o princípio, em seu eterno projeto, Deus já queria que seu Filho viesse a esta terra para ser Senhor, para ser o primogênito de todas as criaturas, o primeiro em meio a uma multidão de irmãos. E esse Filho precisava de uma mãe. Portanto, antes de pensar em qualquer outra criatura, o Senhor pensou na mãe de seu Filho e de todos os outros homens: Maria. Ela foi a primeira de todas as criaturas, querida e amada desde o princípio.

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina: "Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas para "formar-lhe um corpo", quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia, "uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27) (§488).

Lúcifer – que era anjo, e por isso feito para servir deveria preparar a humanidade para a vinda do Filho de Deus. Assim, ele foi escolhido por Ele como príncipe deste mundo. O Senhor lhe revelou seu plano aos poucos até chegar o momento em que lhe disse que teria de servir não apenas a seu Filho, mas também àquela que seria a primeira das criaturas. Ao saber que teria de submeter-se a uma pessoa humana, Lúcifer, que era um anjo resplandecente, poderoso, cheio de qualidades, sentiu-se ferido em seu orgulho e se revoltou. Como os anjos foram criados para servir, Lúcifer, ao se recusar a obedecer a Deus, perdeu a razão de ser. A partir de então, em vez de preparar a terra para o Filho de Deus, de ajudar a humanidade a servir, a receber, a acolher, a obedecer a Jesus, ele preparou-a para o anticristo. Daí seu ódio por Jesus, pela mulher, por nós; um ódio com o qual não se brinca.

Somos a descendência de Maria

Ao pensar em uma Mãe para seu Filho primogênito, Deus a imaginava também a mãe de todos os seus filhos – uma vez que para ser o primogênito, um filho precisa de irmãos e de uma mãe em comum. Portanto, a descendência da mulher a que Deus se refere na passagem acima, quando fala à serpente, não é apenas Jesus, mas nós também. Somos a bendita descendência de Maria.

Pregado na cruz, minutos antes de morrer, Jesus nos deu sua Mãe para ser a nossa Mãe; o apóstolo João, aos pés da cruz, representava cada um de nós. Recebeu-a e levou-a para sua casa. Você já fez isso? Já levou Maria para sua casa,  para sua vida, como sua mãe espiritual?

Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: 'Mulher, eis o teu filho!'. Depois disse ao discípulo: 'Eis a tua mãe!'. A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu ( Jo 19,25-27).

Infelizmente, a serpente conseguiu introduzir o veneno do seu ódio contra Maria no coração de nossos irmãos. Temos de ter piedade deles, e não segui-los. Devemos fazer de tudo para arrancar a revolta de nosso coração. Precisamos ter amor por Maria, nossa mãe, a primeira das criaturas, e ajudar nossos irmãos a se libertar do ódio contra ela.

"Eis minha mãe e meus irmãos"

Jesus voltou para casa, e outra vez se ajuntou tanta gente que eles nem mesmo podiam se alimentar. Quando seus familiares souberam disso, vieram para detê-lo, pois diziam: "Está ficando louco". Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios. Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: "Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino se divide internamente, ele não consegue manter-se. Se uma família se divide internamente, ela não consegue manter-se. Assim também, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, ele não consegue manter-se, mas se acaba. Além disso, ninguém pode entrar na casa de um homem forte para saquear seus bens, sem antes amarrá-lo; só depois poderá saquear a sua casa. Em verdade, vos digo: tudo será perdoado às pessoas, tanto os pecados com o as blasfêmias que tiverem proferido. Aquele, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será réu de 'um pecado eterno'". Isso, porque diziam: "Ele tem um espírito impuro". Nisso, chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe: "Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram". Ele respondeu: "Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?". E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: "Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,20-35).

Maria: a primeira a fazer a vontade de Deus

Esse trecho do Evangelho nos fala da mulher, de Maria, da sua mãe. Alguns diriam que aqui há um desprezo pela sua mãe, pelo fato de Jesus perguntar quem são seus irmãos e sua mãe. Mas não se trata disso, pois Jesus bem sabia que ela era a primeira a fazer a vontade de Deus. Portanto, ao dizer que aquele que faz a vontade de Deus é seu irmão, sua irmã e sua mãe, Ele proclamava duplamente Maria.

Nas bodas de Caná, Jesus chamou sua mãe de mulher – "Mulher, o que temos nós com isso? Minha hora ainda não chegou" –, isso à primeira vista pode parecer estranho, e até ofensivo, mas não. Tanto Jesus como Maria sabia que ela era aquela Mulher, a bendita das criaturas, que desde o princípio foi pensada por Deus para ser nossa mãe. E porque Maria disse "Eles não têm mais vinho", mandando que enchessem as talhas de água, Jesus apressou sua hora e fez o milagre, transformando a água em vinho.

Do alto da cruz, olhando para Maria e, ao lado dela,  para João, Jesus lhe disse: "Mulher, eis o teu filho!". Dessa forma, Jesus, no momento em que realizava seu sacrifício, recordou a si mesmo, ao Pai, a Maria e a todas as mulheres de todos os tempos que ali estava a Mulher anunciada no Gênesis (3,15). Do alto da cruz, Ele a confirmou como a mãe de todas as criaturas.

Não pode ser súdito do Rei quem não respeita a Rainha

A mãe do Rei é Rainha; a mãe do Senhor é Senhora, e deve ser venerada, honrada, respeitada. Portanto, não pode ser súdito do Rei quem não respeita a Rainha; não pode servir ao Senhor quem não respeita sua Mãe e não a tem como Senhora. Nós, católicos, temos de fazer com que nossos irmãos a reconheçam e a respeitem.

Muitos nos criticam quando rezamos a segunda parte  da Ave-Maria – "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós" –, que não está no Evangelho, dizendo tratar-se de uma invenção da Igreja.

Vejamos: no ano 430, em Constantinopla, surgiu uma heresia por parte de um bispo patriarca chamado Nestório. Ele negava que Maria seria a Mãe de Deus, mas apenas a mãe do homem Jesus, separando a natureza divina e a natureza humana de Jesus, como se fossem duas pessoas distintas: o Jesus homem e o Jesus Deus. A teologia católica sempre defendeu duas naturezas, a humana e a divina, na pessoa única  de Jesus. A Igreja sempre ensinou que o Filho de Deus assumiu a natureza humana no ventre de Maria, por obra do Espírito Santo, e o Deus feito homem nos salvou.

Diante desta heresia, a Igreja estremeceu, porque estava em risco a própria verdade sobre a nossa salvação. Se eram duas pessoas distintas, o Filho de Deus e a pessoa humana de Jesus, que nasceu da virgem Maria e morreu por nós na cruz, como poderia acontecer a nossa salvação? A ideia espalhada de que Maria era mãe de Jesus homem e não mãe do Filho de Deus foi tão grave que, no ano 431, a Igreja se reuniu para o Concílio de Éfeso, hoje na Turquia, local onde São João morou com Nossa Senhora numa casa ainda existente.

A Mãe de Deus!

Discutiram muito, oraram, pediram luzes ao Espírito Santo, foram à Palavra, ao ensino dos apóstolos e, por fim, a Igreja chegou a uma conclusão: o Filho de Deus se fez homem. São duas naturezas, a humana e a divina, mas numa única pessoa. E Maria, portanto, é a mãe dessa pessoa que é Deus e homem.

O Concílio de Éfeso proclamou solenemente que Maria é Hagios Theotókos, em grego, "Santa Mãe de Deus"; e o povo aplaudiu, pois desde o primeiro século os cristãos já rezavam a bela oração: "Debaixo da vossa proteção nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas necessidades, ó Virgem gloriosa e bendita!"


Ao ser lida a bula de proclamação dessa verdade, o Papa, que estava à espera da decisão dos bispos, se pôs de joelhos no chão e disse, numa exclamação que veio de dentro do seu coração: "Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, os pecadores [porque estavam duvidando dela], agora e na hora de nossa morte", e toda a assembleia pronunciou: "Amém!" Naquela noite, os religiosos ali reunidos saíram em procissão com tochas, velas, cantando e orando para que todos soubessem a verdade. "Quem é esta que avança como a aurora, formosa como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha? Esta é a Maria, a mãe de Jesus e a nossa mãe".

Reze o Santo Rosário!

Ela, Maria, a Imaculada, quer salvar seus filhos do rio de lama, e a corda que ela usa para isso é o Terço. Em cada oração do Terço, estamos proclamando aquela que é "cheia de graça", com quem o Senhor esteve desde o começo; aquela que nos trouxe o Salvador Jesus em sua primeira vinda e vai nos trazer na segunda. E o inimigo não gosta disso. Cada Ave-Maria que rezamos é uma condenação para ele; a cada oração dizemos que a serpente vai ser esmagada pelo calcanhar de Maria, ou seja, que ele será esmagado.

Um dia, assim como o trouxe da primeira vez, Maria trará Jesus em sua segunda vinda, para Ele implantar o Reino de Deus entre nós, de maneira definitiva, e nesse dia nossos irmãos que não a aceitam irão reconhecê-la e respeitá-la.

O Senhor, nos últimos tempos, dá-nos uma grande "arma": sua própria mãe, Maria. Todos nós amolecemos o coração diante do amor de mãe. Não é à toa que Nossa Senhora está aparecendo continuamente. Em Medjugorje, por exemplo, já são 29 anos de aparição. Ela está vindo para esmagar a cabeça da serpente, tocar o coração endurecido de seus filhos, cortar as amarras que prendem as mãos e os pés de seus filhos ao fundo do rio de lama.

Una-se a Maria e reze, principalmente o Terço, que, ao contrário do que às vezes se pensa, não é uma oração ingênua, mas de poder. É uma aliança feita entre você e aquela que nos trouxe a Salvação, Jesus. Amém.

Trecho extraído do livro "Caminho para a santidade", de  Monsenhor Jonas Abib



Mons. Jonas Abib

Fundador da Comunidade Canção Nova e Presidente da Fundação João Paulo II. É autor de diversos livros, milhares de palestras em audio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. Acesse: http://www.padrejonas.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/um-caminho-com-maria/


2 de maio de 2022

É Deus quem escolhe alguém para eu amar?


É claro que você deve rezar e pedir a Deus para que Ele o ajude a encontrar a pessoa certa para o casamento, pois se podemos pedir qualquer coisa ao Pai do Céu, como Jesus nos ensinou, imagine essa, que será uma das escolhas mais importantes que faremos na vida.

Nós não tivemos a oportunidade de escolher a família em que nascemos, ou o nome, a cor dos olhos, tipo de cabelo etc. Agora, se podemos fazer a escolha da pessoa com quem iremos conviver por toda a vida, construindo um lar, precisamos caprichar.

É claro que nesse processo de escolha podemos – e por que não dizer, devemos – contar com a graça de Deus. Tem gente que recorre a tantas coisas na ânsia de acertar: horóscopo, cartomante, tamanha a insegurança e dúvida a respeito do que fazer.

Nós, que somos cristãos e amamos a Deus, recorremos a Ele porque confiamos no Seu amor de Pai, que quer o melhor para seus filhos. Você tem um Pai no Céu que atende a nossa oração e ajuda a quem Lhe pede; eu mesmo sou prova disso.

É Deus quem escolhe alguém para eu amar

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Jovanmandic / cancaonova.com

Deus não escolhe, ele guia

Mas Deus fará tudo isso sem nunca tirar a sua liberdade de escolha. Não é Ele quem escolhe alguém para você, a escolha é sua! Mas, como Pai, Ele planeja o melhor para sua vida. E quando a gente pede para Deus, sua mão bondosa vai nos conduzindo e guiando.

Ele não vai obrigar você a se casar com uma pessoa que você não quer, como também não vai obrigar você a se casar com qualquer uma, só porque essa é a Sua Vontade. Deus nos respeita, mais do que nós mesmos nos respeitamos.

Ele não escolhe por você, porque escolher com quem se casar será a sua parte. Mas, como Pai, Ele o ajudará a escolher, se você pedir.

Na minha vida, por exemplo, como disse no capítulo anterior, foi assim: eu fiz um compromisso com Deus de esperar para encontrar a pessoa certa (porque, às vezes, agimos muito pela emoção e deixamos a razão e a oração de lado) e pedi a Ele que me ajudasse a encontrar a pessoal ideal, isto é, aquela que, como eu, O amasse e buscasse viver sua Palavra, que comigo quisesse construir uma família feliz e santa, que O colocasse em primeiro lugar.

Os caminhos devem se unir

No sacramento do Matrimônio, o casal é chamado a viver a unidade, a caminhar juntos e não separados. Então, se ambos caminham para esse propósito de vida na unidade, o namoro é o tempo de perceber se estão caminhando na mesma direção, pois se cada um caminhar para lados opostos, com propósitos de vidas diferentes, será uma vida de desencontros e desavenças.

Esperei a Fábia por dois anos. Ela não é perfeita, como eu também não sou; temos muito o que mudar. Nem acredito que ela seria a única mulher do mundo com quem eu pudesse me casar, mas acredito que quando Deus nos apresentou um ao outro, e quando eu a conheci, aí sim, a partir daquele momento, ela se tornou a única mulher para mim, aquela que eu escolhi para amar por toda a minha vida, e com a qual eu escolhi constituir uma família.

A exclusividade de uma pessoa em sua vida não começa antes de você conhecê-la, mas ela precisa se tornar exclusiva a partir do momento em que você a conhece e assume um compromisso de amá-la para sempre.

A Palavra que Deus me deu, quando pedi a Ele que confirmasse se a Fábia era a mulher da minha vida, me deu o suporte para que eu entendesse que existe um tempo em que o jovem chamado à vocação do Matrimônio começa a escolher a sua esposa, o qual eu entendi naquele momento já ter chegado. Mas entenda: a escolha era minha!

Você tem liberdade de escolha

Não compete à Palavra de Deus apontar e dizer: "é ela", ou "não é ela". Deus não fará isso, mesmo porque, se assim fizesse, Ele não te daria a liberdade de escolha. E essa é uma das primícias do amor de Deus, dar-nos a liberdade de filhos.

Quem decidirá é você. O que você pode e deve fazer é rezar, entregar sua vida a Deus e pedir que Ele ilumine seus caminhos.


Nossa parte é cooperar com a graça de Deus para encontrar a pessoa adequada. Destino não existe, e Deus não determina uma pessoa se unir com outra sem que isso seja decisão dos dois.

A Bíblia indica o que procurar em uma pessoa

A Palavra de Deus nos orienta e nos mostra o caminho para a vida, abre o nosso entendimento, dá-nos sabedoria para fazer escolhas. Aprendemos com ela que precisamos escolher alguém que nos ame e respeite, a quem precisaremos amar e respeitar também se quisermos construir um lar feliz. Ensina também que não podemos construir uma casa sobre a areia, porque na vida matrimonial virão ventos, enchentes, tempestades, e que se a casa não estiver construída sobre a rocha, que é Jesus, ela não vai aguentar: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 5,5).

Deus lhe dará toda a graça para que você tenha sabedoria na escolha, mas quem irá procurar e escolher com quem se relacionar é você. A responsabilidade da escolha é sua.

Quereríamos que Deus escolhesse para nós a pessoa amada e que, inclusive, nos apontasse o endereço da sua casa para que pudéssemos encontrá-la, o que seria bem mais fácil e seguro, mas definitivamente Ele não fará isso, porque deu a cada um a liberdade de escolher.

O grande desafio de viver nesse mundo é que a vida não tem nada de seguro; vivemos em meio a incertezas, inseguranças e surpresas. O mundo está em constante mudança, e foi em meio a essa realidade que Deus nos permitiu viver.

Reze e medite nos relacionamentos

Mas, com tudo isso, temos a possibilidade de caminhar ou não com Deus, e essa escolha também é sua. Se escolhermos caminhar na Sua presença, teremos a certeza de que Ele sempre estará ao nosso lado, nos guiando e protegendo como Bom Pastor que é, livrando-nos do mal, pois Ele mesmo prometeu: "Eis que estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos" (Mt 28,20).

É esta certeza que deve nos mover como cristãos: Deus está sempre comigo. É com essa confiança que devemos rezar antes de começar um relacionamento; só não podemos fazer isso com o propósito de ouvir Deus dizendo "sim" ou "não" em relação a determinada pessoa.

E isso tudo não muda em nada o papel de Deus em nossa vida. Ele é o centro de tudo; foi Ele quem nos deu a capacidade de decidir e fazer escolhas. Nós é que precisamos assumir nossas responsabilidades e obrigações, sabendo que, se quisermos um matrimônio feliz e duradouro, precisaremos pôr a mão na massa e construí-lo, pois não está pronto. O que plantarmos iremos colher.

Deus é esse Pai que o ama demais, e torce para que você seja muito feliz e faça as melhores escolhas na vida. Por isso, é importante cultivar nosso relacionamento e amizade com Ele. Precisamos aprender a ouvi-Lo e dialogar como filhos, como Jesus nos ensinou no Evangelho:  Qual o pai entre vós que, se um filho pedir um pão, lhe dará  uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós, que sois maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que O pedirem. (Lc 11,11-13)

O Espírito Santo é o guia

Creia: apesar de Deus não escolher por você, porque essa é a sua parte, Ele lhe dará o Espírito Santo, doce hóspede da alma, amigo fiel, para orientá-lo, para que você faça a melhor escolha, livrando-o também daquele relacionamento que Ele sabe que não lhe fará bem.

Reze e peça a luz do Espírito Santo para que você encontre a pessoa a quem amar, e a graça de poder viver um belo caminho de namoro com ela. Que vocês possam se conhecer de verdade, respeitando-se e vivendo cada coisa a seu tempo.

Ao escolhê-la, analise se é com ela que você irá se casar e construir um lar, e depois de uma escolha livre e consciente feita pelos dois, caminhem decididos até o fim, sempre na presença de Deus, para que tudo vá bem, mesmo em meio às provações.  Pois problemas virão, mas se vocês contaram em tudo com a graça de Deus, irão superá-los e viverão o verdadeiro amor.

Trecho extraído do livro "Namoro: em busca do verdadeiro amor", de Leandro Gavioli. 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/e-deus-quem-escolhe-alguem-para-eu-amar/


29 de abril de 2022

Como restabelecer a intimidade com Deus a partir dos sacramentos?


Santo Agostinho pôde constatar que, no início da cristandade, existia uma dificuldade em níveis morais, intelectual e espiritual. Ao mesmo tempo, temos o Concílio Vaticano II que percebeu a crise do homem moderno e procurou meios para trazer as pessoas de volta, incluindo o chamado à busca da sabedoria. Princípio da sabedoria é a busca de Deus. Para isso, existe uma receita para a vivência de uma vida santa, mas como estamos em crise, foi-se decaindo a percepção da consciência do pecado. E o primeiro passo para iniciar-se um caminho espiritual é o de permanecer em estado de graça. É possível reaver esse relacionamento com Deus, rompido com o pecado original.

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como reaver o relacionamento com Deus?

Com a vinda de Jesus e por meio d'Ele, Deus cria os meios de restabelecer essa intimidade. E isso se dá por meio dos sacramentos:

– Batismo;
– Crisma;
– Eucaristia;
– Penitência;
– Matrimônio;
– Ordem;
– Unção dos Enfermos.

Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações) acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam, em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo (Cf.CIC 1084).

Vejam, o diploma não faz de uma pessoa um médico; o que realmente a faz capaz são os vários anos de estudo e disciplina. O diploma funciona somente como um sinal da aprovação do aluno que estudou e foi aprovado em medicina. Os sacramentos em si são símbolos daquilo que representam. Por exemplo, o Batismo é o símbolo do banho, de uma lavagem espiritual que o cristão necessita da sujeira do pecado. E o batismo realmente faz isso! Ele nos purifica de todo o pecado e nos faz capazes de alcançar essa ligação íntima perdida no Édem.

A Eucaristia simboliza o sacrifício do Cordeiro, o altar é o lugar do sacrifício e, ao mesmo tempo, o altar é a mesa do banquete festivo do céu. De fato, a Eucaristia alimenta a nossa alma.

O Sacramento da Confirmação ou Crisma trás o batismo do Espírito Santo na vida do cristão. O mesmo que ocorreu em Atos dos Apóstolos, capítulo 2.

O Sacramento do Matrimônio simboliza a aliança entre Deus e os homens. Esse sacramento deve ser vivido dentro de uma dimensão de doação entre os cônjuges, semelhante ao amor e doação do próprio Deus para com seus filhos e a própria Igreja. Ele entregou-se em sacrifício de amor por ela, sem nenhuma reserva.

O Sacramento da Penitência simboliza um julgamento. Ali o "réu" se acusa dos próprios pecados. No entanto, essa confissão dos "crimes cometidos", ao invés de conduzir à condenação, faz alcançar a Misericórdia Divina.

O que são os sacramentos?

Os sacramentos são os meios criados pelo Senhor Jesus para Ele infundir a graça santificante na alma da pessoa. Eles restauram a graça de Deus uma vez alcançada ou a cria, pela primeira vez, no coração da pessoa. Essa graça de Deus trabalha como um organismo, um organismo sobrenatural, e a finalidade desse organismo é a de nos aproximar, cada vez mais, da filiação divina, da união mais íntima possível, entre Deus e o homem.


Existem várias formas de se trabalhar e de aumentar a graça de Deus no nosso interior, e uma dessas formas é a vivência correta dos sacramentos. A Igreja é a "carpintaria" de Jesus; os sacramentos são as ferramentas das quais Jesus se utiliza para operar em nós o crescimento da graça santificante. Uma das graças específicas do Sacramento da Eucaristia é a de aumentar o amor em nós. É fazer o nosso amor crescer, sobrenaturalmente, e se transformar em atos perfeitos. Já a graça específica do Sacramento da Reconciliação é a de fortalecer o penitente da luta contra o pecado e restaurar a intimidade com Deus.

Conteúdo baseado nas aulas do autor do site www.cristianismo.org.br



Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/como-restabelecer-a-intimidade-com-deus-a-partir-dos-sacramentos/


27 de abril de 2022

Por que Maria é estritamente ligada a Cristo?


O Concílio Vaticano II (1962-1965), considerado como o evento mais importante da Igreja no século XX, num dos seus documentos mais significativos, mostra a estreita ligação de Maria a seu Filho Jesus nestes termos: "Pensando nela com devoção, a Igreja penetra mais profundamente no mistério da encarnação e se conforma sempre mais ao seu esposo" (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 65). Em outras palavras, a correta devoção a Nossa Senhora nos aproxima mais de Cristo. Vamos ver como isso acontece.

Os dogmas marianos mostram que Cristo é verdadeiro Deus e homem (Dogma da Maternidade Divina de Maria); apontam para a necessidade de encontrar em Cristo a libertação do pecado (Dogma da Imaculada Conceição); garantem a tensão escatológica, quer dizer que estamos caminhando para a ressurreição final (Dogma da Assunção de Maria); e confirmam a fé em Deus Criador, que intervém livremente na matéria (Dogma da Virgindade de Maria).

Os dogmas de Maria nos levam a Cristo

Ressalta-se a primeira afirmação: para mostrar que Jesus era, ao mesmo tempo, Deus e homem, o Pontífice, "aquele que faz a ponte" entre Deus e o homem, a "fórmula" mais fácil foi afirmar que Maria é a Mãe de Deus. No fundo, este dogma mariano foi mais um dogma cristológico. Aqui, podemos entender que Maria nos leva a Cristo: esse, pois, foi o "caminho" que Deus escolheu para nós, como diz o Credo do Concílio de Niceia (ano de 325): "Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem".

MARIA ESTRITAMENTE LIGADA A CRISTO

Foto: Arquivo CN

Há, no entanto, uma outra interessante consideração sobre o lugar de Maria na Igreja. A devoção a Maria manifesta a necessária integração entre Bíblia e Tradição: pois esses quatro dogmas têm fundamento na Escritura, como semente que cresce na tradição (liturgia, intuição do povo crente, reflexão teológica sob a guia do Magistério). Falou-se disso, acima, particularmente com referência aos dogmas da Imaculada e da Assunção. Então, na sua pessoa de moça judia, mãe do Messias, Maria liga Antigo e Novo Testamento: sem essa junção, a fé vai demais para o Antigo Testamento ou se limita ao Novo Testamento.

Quanto ao Antigo Testamento, eis, por exemplo, o anjo Gabriel anunciando a Maria que "o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará para sempre na casa de Jacó. E seu reino não terá fim" (1,32-33). O mesmo evangelista relata o cântico do Magnificat, em que Maria fala do cumprimento das promessas de Deus "a Abraão e seus filhos" (1,55). E quanto ao Novo Testamento, nas bodas de Caná, o evangelista João nos apresenta uma significativa atuação de Maria que leva os discípulos a "crerem nele" (2,11).

Maria modelo da Igreja

O Concílio Vaticano II apresenta Maria como modelo perfeitíssimo na fé e na caridade" (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 53). Olhando para esse modelo, a Igreja preserva-se daquele modelo machista, que a reduz a uma ação sócio-política, a uma abstração. E quando vira abstração, não precisa de uma mãe. Ela mostra "o rosto materno de Deus", garantindo a convivência da indispensável "razão" com as indispensáveis "razões do coração".

É interessante verificar que nenhum outro cristão, exceto Maria, é considerado como "modelo perfeitíssimo da Igreja". Esse modelo nos leva necessariamente a seu Filho, Jesus Cristo.

A profunda ligação entre Cristo e Maria nos foi lembrada, a título de exemplo, numa homilia do Papa Francisco, proferida no dia 1º de janeiro de 2015. Eis as suas palavras: "Cristo e sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. Tal inseparabilidade é significada também pelo fato de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário". Mas o "momento forte", ou "kairos", no qual nós cristãos entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem Maria é a Liturgia, ou seja, a oração pública da Igreja. Essa oração, pois, expressa e alimenta a nossa fé.

A lei da oração é a lei da fé

Há um princípio muito importante a ser seguido no caminho da nossa fé, expresso pelo princípio Lex orandi, lex credendi, a saber, "A lei da oração é a lei da fé". Isso significa que a oração expressa a nossa fé.

Tal princípio se aplica particularmente na oração pública da Igreja: a Liturgia. A palavra "Liturgia" vem do grego "leiton ergon" e significa "ao pé da letra", "obra pública". Para nós, refere-se à oração pública e oficial da Igreja. A "Liturgia" é definida pelo Concílio Vaticano II como "o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo" e "obra de Cristo Sacerdote e do Seu corpo, que é a Igreja" (Documento sobre a Liturgia, Sacrossanctum Concilium, n. 7).

A Liturgia se expressa, de maneira eminente, na celebração da Eucaristia, que é "fonte e cume de toda a vida cristã" (Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 11).

A partir disso, podemos afirmar que, quando participamos da Celebração Eucarística, vamos entender, expressar e aprofundar a nossa fé. No fundo, a Liturgia é a grande escola da fé do povo cristão. Nessa "escola", precisamos aprender a ser "bons alunos". Isso, pois, significa que, para entendermos o lugar de Maria na vida cristã, é fundamental partir das celebrações da Igreja que faz solene memória da mãe de Cristo.

O lugar de Maria na vida cristã a partir da Liturgia

As três celebrações marianas mais importantes do ano litúrgico apontam para os quatro dogmas marianos: Maria Mãe de Deus, sempre Virgem (1º de janeiro); Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (15 de agosto).

A Igreja definiu estas quatro verdades sobre Nossa Senhora, a saber:
– Maternidade Divina de Maria. Foi definida no Concílio de Éfeso (ano 431).
– Virgindade Perpétua de Maria. Foi definida no II Concílio de Constantinopla (ano 553).
– Imaculada Conceição de Maria. Foi definida pelo Papa Pio IX na Bula Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854).
– Assunção de Maria. Foi definida pelo Papa Pio XII na Bula Munificentissimus Deus (1º de novembro de 1950).

Essas verdades são expressas na Liturgia. A título de exemplo, podem-se considerar algumas orações da Solenidade de "Maria Mãe de Deus".

Orações à Maria

No dia 1º de Janeiro, Solenidade de Maria Mãe de Deus, a Igreja proclama, ao mesmo tempo, a Maternidade Divina de Maria e sua Virgindade Perpétua.

Eis, pois, como expressar isso:

a) Na Coleta: "Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o Autor da vida".

b) Na Oração sobre as oferendas: "Ó Deus, que levais à perfeição os Vossos dons, concedei aos Vossos filhos, na festa da Mãe de Deus, que, alegrando-se com as primícias da Vossa graça, possam alcançar a sua plenitude".

c) No Prefácio: "Na verdade, ó Pai, Deus Eterno e Todo-poderoso, é nosso dever dar-Vos graças, é nossa salvação dar-Vos glória, em todo tempo e lugar, e na Maternidade de Maria, sempre Virgem, celebrar os vossos louvores".

d) Oração depois da Comunhão: Ó Deus de bondade, cheios de júbilo, recebemos os sacramentos celestes; concedei que eles nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos a Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja.

As partes dessas orações apontam para a fé da Igreja na Maternidade Divina e na Virgindade Perpétua de Nossa Senhora. Esse mesmo "exercício" pode ser feito para as outras solenidades marianas; e, no fundo, para cada celebração cristã.

O sentido da fé dos fiéis e os dogmas marianos

Voltando ao princípio – "a lei da oração é a lei da fé" –, pode-se observar que as definições dos Concílios, ou dos Papas acima indicadas, são todas posteriores à fé do povo.

No mês de junho de 2014, a Comissão Teológica Internacional publicou um interessante documento intitulado Sensus fidelium, que significa o sentido dos fiéis. Eis como o define:

"O sensus fidei fidelis [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica." (N. 49).

Essa afirmação tem uma significativa confirmação quanto à fé da Igreja sobre Maria. A título de exemplo, os dogmas da Imaculada e da Assunção foram definidos recentemente, como foi visto acima: mas o povo de Deus celebrava, fazia séculos, a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria: e, particularmente, na Liturgia. Em outras palavras, já havia as festas da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora da Glória.

É interessante lembrar, a esse respeito, o que Jesus disse aos Seus discípulos na última ceia: "Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade completa" (João 16,12-13). Nesse sentido, os apóstolos não receberam uma "revelação completa" de Jesus. O Espírito, dom do Cristo Ressuscitado, "sopra" sobre o povo de Deus, a Igreja, e a leva, aos poucos "à verdade completa". Nesta "caminhada da fé", guiados pelo Espírito, entendemos sempre mais quem é Cristo e todos os que a Ele pertencem, a partir da Sua Mãe.



Lino Rampazzo

Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma), Lino Rampazzo é coordenador do Curso de Teologia e professor nos cursos de filosofia e teologia da Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/por-que-maria-e-estritamente-ligada-a-cristo/