4 de maio de 2022

Um caminho com Maria


Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: "Onde estás?". Ele respondeu: "Ouvi teu ruído no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me". Deus perguntou: "E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?" O homem respondeu: "A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi". Então, o Senhor Deus perguntou à mulher: "Por que fizestes isso?" E a mulher respondeu: "A serpente enganou-me, e eu comi". E o Senhor Deus disse à serpente: "Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos os dias de tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,9-15).

A serpente, que é Satanás, sabia a que Mulher o Senhor se referia: desde o princípio, em seu eterno projeto, Deus já queria que seu Filho viesse a esta terra para ser Senhor, para ser o primogênito de todas as criaturas, o primeiro em meio a uma multidão de irmãos. E esse Filho precisava de uma mãe. Portanto, antes de pensar em qualquer outra criatura, o Senhor pensou na mãe de seu Filho e de todos os outros homens: Maria. Ela foi a primeira de todas as criaturas, querida e amada desde o princípio.

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina: "Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas para "formar-lhe um corpo", quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia, "uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27) (§488).

Lúcifer – que era anjo, e por isso feito para servir deveria preparar a humanidade para a vinda do Filho de Deus. Assim, ele foi escolhido por Ele como príncipe deste mundo. O Senhor lhe revelou seu plano aos poucos até chegar o momento em que lhe disse que teria de servir não apenas a seu Filho, mas também àquela que seria a primeira das criaturas. Ao saber que teria de submeter-se a uma pessoa humana, Lúcifer, que era um anjo resplandecente, poderoso, cheio de qualidades, sentiu-se ferido em seu orgulho e se revoltou. Como os anjos foram criados para servir, Lúcifer, ao se recusar a obedecer a Deus, perdeu a razão de ser. A partir de então, em vez de preparar a terra para o Filho de Deus, de ajudar a humanidade a servir, a receber, a acolher, a obedecer a Jesus, ele preparou-a para o anticristo. Daí seu ódio por Jesus, pela mulher, por nós; um ódio com o qual não se brinca.

Somos a descendência de Maria

Ao pensar em uma Mãe para seu Filho primogênito, Deus a imaginava também a mãe de todos os seus filhos – uma vez que para ser o primogênito, um filho precisa de irmãos e de uma mãe em comum. Portanto, a descendência da mulher a que Deus se refere na passagem acima, quando fala à serpente, não é apenas Jesus, mas nós também. Somos a bendita descendência de Maria.

Pregado na cruz, minutos antes de morrer, Jesus nos deu sua Mãe para ser a nossa Mãe; o apóstolo João, aos pés da cruz, representava cada um de nós. Recebeu-a e levou-a para sua casa. Você já fez isso? Já levou Maria para sua casa,  para sua vida, como sua mãe espiritual?

Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: 'Mulher, eis o teu filho!'. Depois disse ao discípulo: 'Eis a tua mãe!'. A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu ( Jo 19,25-27).

Infelizmente, a serpente conseguiu introduzir o veneno do seu ódio contra Maria no coração de nossos irmãos. Temos de ter piedade deles, e não segui-los. Devemos fazer de tudo para arrancar a revolta de nosso coração. Precisamos ter amor por Maria, nossa mãe, a primeira das criaturas, e ajudar nossos irmãos a se libertar do ódio contra ela.

"Eis minha mãe e meus irmãos"

Jesus voltou para casa, e outra vez se ajuntou tanta gente que eles nem mesmo podiam se alimentar. Quando seus familiares souberam disso, vieram para detê-lo, pois diziam: "Está ficando louco". Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios. Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: "Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino se divide internamente, ele não consegue manter-se. Se uma família se divide internamente, ela não consegue manter-se. Assim também, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, ele não consegue manter-se, mas se acaba. Além disso, ninguém pode entrar na casa de um homem forte para saquear seus bens, sem antes amarrá-lo; só depois poderá saquear a sua casa. Em verdade, vos digo: tudo será perdoado às pessoas, tanto os pecados com o as blasfêmias que tiverem proferido. Aquele, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será réu de 'um pecado eterno'". Isso, porque diziam: "Ele tem um espírito impuro". Nisso, chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe: "Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram". Ele respondeu: "Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?". E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: "Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,20-35).

Maria: a primeira a fazer a vontade de Deus

Esse trecho do Evangelho nos fala da mulher, de Maria, da sua mãe. Alguns diriam que aqui há um desprezo pela sua mãe, pelo fato de Jesus perguntar quem são seus irmãos e sua mãe. Mas não se trata disso, pois Jesus bem sabia que ela era a primeira a fazer a vontade de Deus. Portanto, ao dizer que aquele que faz a vontade de Deus é seu irmão, sua irmã e sua mãe, Ele proclamava duplamente Maria.

Nas bodas de Caná, Jesus chamou sua mãe de mulher – "Mulher, o que temos nós com isso? Minha hora ainda não chegou" –, isso à primeira vista pode parecer estranho, e até ofensivo, mas não. Tanto Jesus como Maria sabia que ela era aquela Mulher, a bendita das criaturas, que desde o princípio foi pensada por Deus para ser nossa mãe. E porque Maria disse "Eles não têm mais vinho", mandando que enchessem as talhas de água, Jesus apressou sua hora e fez o milagre, transformando a água em vinho.

Do alto da cruz, olhando para Maria e, ao lado dela,  para João, Jesus lhe disse: "Mulher, eis o teu filho!". Dessa forma, Jesus, no momento em que realizava seu sacrifício, recordou a si mesmo, ao Pai, a Maria e a todas as mulheres de todos os tempos que ali estava a Mulher anunciada no Gênesis (3,15). Do alto da cruz, Ele a confirmou como a mãe de todas as criaturas.

Não pode ser súdito do Rei quem não respeita a Rainha

A mãe do Rei é Rainha; a mãe do Senhor é Senhora, e deve ser venerada, honrada, respeitada. Portanto, não pode ser súdito do Rei quem não respeita a Rainha; não pode servir ao Senhor quem não respeita sua Mãe e não a tem como Senhora. Nós, católicos, temos de fazer com que nossos irmãos a reconheçam e a respeitem.

Muitos nos criticam quando rezamos a segunda parte  da Ave-Maria – "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós" –, que não está no Evangelho, dizendo tratar-se de uma invenção da Igreja.

Vejamos: no ano 430, em Constantinopla, surgiu uma heresia por parte de um bispo patriarca chamado Nestório. Ele negava que Maria seria a Mãe de Deus, mas apenas a mãe do homem Jesus, separando a natureza divina e a natureza humana de Jesus, como se fossem duas pessoas distintas: o Jesus homem e o Jesus Deus. A teologia católica sempre defendeu duas naturezas, a humana e a divina, na pessoa única  de Jesus. A Igreja sempre ensinou que o Filho de Deus assumiu a natureza humana no ventre de Maria, por obra do Espírito Santo, e o Deus feito homem nos salvou.

Diante desta heresia, a Igreja estremeceu, porque estava em risco a própria verdade sobre a nossa salvação. Se eram duas pessoas distintas, o Filho de Deus e a pessoa humana de Jesus, que nasceu da virgem Maria e morreu por nós na cruz, como poderia acontecer a nossa salvação? A ideia espalhada de que Maria era mãe de Jesus homem e não mãe do Filho de Deus foi tão grave que, no ano 431, a Igreja se reuniu para o Concílio de Éfeso, hoje na Turquia, local onde São João morou com Nossa Senhora numa casa ainda existente.

A Mãe de Deus!

Discutiram muito, oraram, pediram luzes ao Espírito Santo, foram à Palavra, ao ensino dos apóstolos e, por fim, a Igreja chegou a uma conclusão: o Filho de Deus se fez homem. São duas naturezas, a humana e a divina, mas numa única pessoa. E Maria, portanto, é a mãe dessa pessoa que é Deus e homem.

O Concílio de Éfeso proclamou solenemente que Maria é Hagios Theotókos, em grego, "Santa Mãe de Deus"; e o povo aplaudiu, pois desde o primeiro século os cristãos já rezavam a bela oração: "Debaixo da vossa proteção nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas necessidades, ó Virgem gloriosa e bendita!"


Ao ser lida a bula de proclamação dessa verdade, o Papa, que estava à espera da decisão dos bispos, se pôs de joelhos no chão e disse, numa exclamação que veio de dentro do seu coração: "Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, os pecadores [porque estavam duvidando dela], agora e na hora de nossa morte", e toda a assembleia pronunciou: "Amém!" Naquela noite, os religiosos ali reunidos saíram em procissão com tochas, velas, cantando e orando para que todos soubessem a verdade. "Quem é esta que avança como a aurora, formosa como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha? Esta é a Maria, a mãe de Jesus e a nossa mãe".

Reze o Santo Rosário!

Ela, Maria, a Imaculada, quer salvar seus filhos do rio de lama, e a corda que ela usa para isso é o Terço. Em cada oração do Terço, estamos proclamando aquela que é "cheia de graça", com quem o Senhor esteve desde o começo; aquela que nos trouxe o Salvador Jesus em sua primeira vinda e vai nos trazer na segunda. E o inimigo não gosta disso. Cada Ave-Maria que rezamos é uma condenação para ele; a cada oração dizemos que a serpente vai ser esmagada pelo calcanhar de Maria, ou seja, que ele será esmagado.

Um dia, assim como o trouxe da primeira vez, Maria trará Jesus em sua segunda vinda, para Ele implantar o Reino de Deus entre nós, de maneira definitiva, e nesse dia nossos irmãos que não a aceitam irão reconhecê-la e respeitá-la.

O Senhor, nos últimos tempos, dá-nos uma grande "arma": sua própria mãe, Maria. Todos nós amolecemos o coração diante do amor de mãe. Não é à toa que Nossa Senhora está aparecendo continuamente. Em Medjugorje, por exemplo, já são 29 anos de aparição. Ela está vindo para esmagar a cabeça da serpente, tocar o coração endurecido de seus filhos, cortar as amarras que prendem as mãos e os pés de seus filhos ao fundo do rio de lama.

Una-se a Maria e reze, principalmente o Terço, que, ao contrário do que às vezes se pensa, não é uma oração ingênua, mas de poder. É uma aliança feita entre você e aquela que nos trouxe a Salvação, Jesus. Amém.

Trecho extraído do livro "Caminho para a santidade", de  Monsenhor Jonas Abib



Mons. Jonas Abib

Fundador da Comunidade Canção Nova e Presidente da Fundação João Paulo II. É autor de diversos livros, milhares de palestras em audio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. Acesse: http://www.padrejonas.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/um-caminho-com-maria/


2 de maio de 2022

É Deus quem escolhe alguém para eu amar?


É claro que você deve rezar e pedir a Deus para que Ele o ajude a encontrar a pessoa certa para o casamento, pois se podemos pedir qualquer coisa ao Pai do Céu, como Jesus nos ensinou, imagine essa, que será uma das escolhas mais importantes que faremos na vida.

Nós não tivemos a oportunidade de escolher a família em que nascemos, ou o nome, a cor dos olhos, tipo de cabelo etc. Agora, se podemos fazer a escolha da pessoa com quem iremos conviver por toda a vida, construindo um lar, precisamos caprichar.

É claro que nesse processo de escolha podemos – e por que não dizer, devemos – contar com a graça de Deus. Tem gente que recorre a tantas coisas na ânsia de acertar: horóscopo, cartomante, tamanha a insegurança e dúvida a respeito do que fazer.

Nós, que somos cristãos e amamos a Deus, recorremos a Ele porque confiamos no Seu amor de Pai, que quer o melhor para seus filhos. Você tem um Pai no Céu que atende a nossa oração e ajuda a quem Lhe pede; eu mesmo sou prova disso.

É Deus quem escolhe alguém para eu amar

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Jovanmandic / cancaonova.com

Deus não escolhe, ele guia

Mas Deus fará tudo isso sem nunca tirar a sua liberdade de escolha. Não é Ele quem escolhe alguém para você, a escolha é sua! Mas, como Pai, Ele planeja o melhor para sua vida. E quando a gente pede para Deus, sua mão bondosa vai nos conduzindo e guiando.

Ele não vai obrigar você a se casar com uma pessoa que você não quer, como também não vai obrigar você a se casar com qualquer uma, só porque essa é a Sua Vontade. Deus nos respeita, mais do que nós mesmos nos respeitamos.

Ele não escolhe por você, porque escolher com quem se casar será a sua parte. Mas, como Pai, Ele o ajudará a escolher, se você pedir.

Na minha vida, por exemplo, como disse no capítulo anterior, foi assim: eu fiz um compromisso com Deus de esperar para encontrar a pessoa certa (porque, às vezes, agimos muito pela emoção e deixamos a razão e a oração de lado) e pedi a Ele que me ajudasse a encontrar a pessoal ideal, isto é, aquela que, como eu, O amasse e buscasse viver sua Palavra, que comigo quisesse construir uma família feliz e santa, que O colocasse em primeiro lugar.

Os caminhos devem se unir

No sacramento do Matrimônio, o casal é chamado a viver a unidade, a caminhar juntos e não separados. Então, se ambos caminham para esse propósito de vida na unidade, o namoro é o tempo de perceber se estão caminhando na mesma direção, pois se cada um caminhar para lados opostos, com propósitos de vidas diferentes, será uma vida de desencontros e desavenças.

Esperei a Fábia por dois anos. Ela não é perfeita, como eu também não sou; temos muito o que mudar. Nem acredito que ela seria a única mulher do mundo com quem eu pudesse me casar, mas acredito que quando Deus nos apresentou um ao outro, e quando eu a conheci, aí sim, a partir daquele momento, ela se tornou a única mulher para mim, aquela que eu escolhi para amar por toda a minha vida, e com a qual eu escolhi constituir uma família.

A exclusividade de uma pessoa em sua vida não começa antes de você conhecê-la, mas ela precisa se tornar exclusiva a partir do momento em que você a conhece e assume um compromisso de amá-la para sempre.

A Palavra que Deus me deu, quando pedi a Ele que confirmasse se a Fábia era a mulher da minha vida, me deu o suporte para que eu entendesse que existe um tempo em que o jovem chamado à vocação do Matrimônio começa a escolher a sua esposa, o qual eu entendi naquele momento já ter chegado. Mas entenda: a escolha era minha!

Você tem liberdade de escolha

Não compete à Palavra de Deus apontar e dizer: "é ela", ou "não é ela". Deus não fará isso, mesmo porque, se assim fizesse, Ele não te daria a liberdade de escolha. E essa é uma das primícias do amor de Deus, dar-nos a liberdade de filhos.

Quem decidirá é você. O que você pode e deve fazer é rezar, entregar sua vida a Deus e pedir que Ele ilumine seus caminhos.


Nossa parte é cooperar com a graça de Deus para encontrar a pessoa adequada. Destino não existe, e Deus não determina uma pessoa se unir com outra sem que isso seja decisão dos dois.

A Bíblia indica o que procurar em uma pessoa

A Palavra de Deus nos orienta e nos mostra o caminho para a vida, abre o nosso entendimento, dá-nos sabedoria para fazer escolhas. Aprendemos com ela que precisamos escolher alguém que nos ame e respeite, a quem precisaremos amar e respeitar também se quisermos construir um lar feliz. Ensina também que não podemos construir uma casa sobre a areia, porque na vida matrimonial virão ventos, enchentes, tempestades, e que se a casa não estiver construída sobre a rocha, que é Jesus, ela não vai aguentar: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 5,5).

Deus lhe dará toda a graça para que você tenha sabedoria na escolha, mas quem irá procurar e escolher com quem se relacionar é você. A responsabilidade da escolha é sua.

Quereríamos que Deus escolhesse para nós a pessoa amada e que, inclusive, nos apontasse o endereço da sua casa para que pudéssemos encontrá-la, o que seria bem mais fácil e seguro, mas definitivamente Ele não fará isso, porque deu a cada um a liberdade de escolher.

O grande desafio de viver nesse mundo é que a vida não tem nada de seguro; vivemos em meio a incertezas, inseguranças e surpresas. O mundo está em constante mudança, e foi em meio a essa realidade que Deus nos permitiu viver.

Reze e medite nos relacionamentos

Mas, com tudo isso, temos a possibilidade de caminhar ou não com Deus, e essa escolha também é sua. Se escolhermos caminhar na Sua presença, teremos a certeza de que Ele sempre estará ao nosso lado, nos guiando e protegendo como Bom Pastor que é, livrando-nos do mal, pois Ele mesmo prometeu: "Eis que estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos" (Mt 28,20).

É esta certeza que deve nos mover como cristãos: Deus está sempre comigo. É com essa confiança que devemos rezar antes de começar um relacionamento; só não podemos fazer isso com o propósito de ouvir Deus dizendo "sim" ou "não" em relação a determinada pessoa.

E isso tudo não muda em nada o papel de Deus em nossa vida. Ele é o centro de tudo; foi Ele quem nos deu a capacidade de decidir e fazer escolhas. Nós é que precisamos assumir nossas responsabilidades e obrigações, sabendo que, se quisermos um matrimônio feliz e duradouro, precisaremos pôr a mão na massa e construí-lo, pois não está pronto. O que plantarmos iremos colher.

Deus é esse Pai que o ama demais, e torce para que você seja muito feliz e faça as melhores escolhas na vida. Por isso, é importante cultivar nosso relacionamento e amizade com Ele. Precisamos aprender a ouvi-Lo e dialogar como filhos, como Jesus nos ensinou no Evangelho:  Qual o pai entre vós que, se um filho pedir um pão, lhe dará  uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós, que sois maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que O pedirem. (Lc 11,11-13)

O Espírito Santo é o guia

Creia: apesar de Deus não escolher por você, porque essa é a sua parte, Ele lhe dará o Espírito Santo, doce hóspede da alma, amigo fiel, para orientá-lo, para que você faça a melhor escolha, livrando-o também daquele relacionamento que Ele sabe que não lhe fará bem.

Reze e peça a luz do Espírito Santo para que você encontre a pessoa a quem amar, e a graça de poder viver um belo caminho de namoro com ela. Que vocês possam se conhecer de verdade, respeitando-se e vivendo cada coisa a seu tempo.

Ao escolhê-la, analise se é com ela que você irá se casar e construir um lar, e depois de uma escolha livre e consciente feita pelos dois, caminhem decididos até o fim, sempre na presença de Deus, para que tudo vá bem, mesmo em meio às provações.  Pois problemas virão, mas se vocês contaram em tudo com a graça de Deus, irão superá-los e viverão o verdadeiro amor.

Trecho extraído do livro "Namoro: em busca do verdadeiro amor", de Leandro Gavioli. 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/e-deus-quem-escolhe-alguem-para-eu-amar/


29 de abril de 2022

Como restabelecer a intimidade com Deus a partir dos sacramentos?


Santo Agostinho pôde constatar que, no início da cristandade, existia uma dificuldade em níveis morais, intelectual e espiritual. Ao mesmo tempo, temos o Concílio Vaticano II que percebeu a crise do homem moderno e procurou meios para trazer as pessoas de volta, incluindo o chamado à busca da sabedoria. Princípio da sabedoria é a busca de Deus. Para isso, existe uma receita para a vivência de uma vida santa, mas como estamos em crise, foi-se decaindo a percepção da consciência do pecado. E o primeiro passo para iniciar-se um caminho espiritual é o de permanecer em estado de graça. É possível reaver esse relacionamento com Deus, rompido com o pecado original.

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como reaver o relacionamento com Deus?

Com a vinda de Jesus e por meio d'Ele, Deus cria os meios de restabelecer essa intimidade. E isso se dá por meio dos sacramentos:

– Batismo;
– Crisma;
– Eucaristia;
– Penitência;
– Matrimônio;
– Ordem;
– Unção dos Enfermos.

Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações) acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam, em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo (Cf.CIC 1084).

Vejam, o diploma não faz de uma pessoa um médico; o que realmente a faz capaz são os vários anos de estudo e disciplina. O diploma funciona somente como um sinal da aprovação do aluno que estudou e foi aprovado em medicina. Os sacramentos em si são símbolos daquilo que representam. Por exemplo, o Batismo é o símbolo do banho, de uma lavagem espiritual que o cristão necessita da sujeira do pecado. E o batismo realmente faz isso! Ele nos purifica de todo o pecado e nos faz capazes de alcançar essa ligação íntima perdida no Édem.

A Eucaristia simboliza o sacrifício do Cordeiro, o altar é o lugar do sacrifício e, ao mesmo tempo, o altar é a mesa do banquete festivo do céu. De fato, a Eucaristia alimenta a nossa alma.

O Sacramento da Confirmação ou Crisma trás o batismo do Espírito Santo na vida do cristão. O mesmo que ocorreu em Atos dos Apóstolos, capítulo 2.

O Sacramento do Matrimônio simboliza a aliança entre Deus e os homens. Esse sacramento deve ser vivido dentro de uma dimensão de doação entre os cônjuges, semelhante ao amor e doação do próprio Deus para com seus filhos e a própria Igreja. Ele entregou-se em sacrifício de amor por ela, sem nenhuma reserva.

O Sacramento da Penitência simboliza um julgamento. Ali o "réu" se acusa dos próprios pecados. No entanto, essa confissão dos "crimes cometidos", ao invés de conduzir à condenação, faz alcançar a Misericórdia Divina.

O que são os sacramentos?

Os sacramentos são os meios criados pelo Senhor Jesus para Ele infundir a graça santificante na alma da pessoa. Eles restauram a graça de Deus uma vez alcançada ou a cria, pela primeira vez, no coração da pessoa. Essa graça de Deus trabalha como um organismo, um organismo sobrenatural, e a finalidade desse organismo é a de nos aproximar, cada vez mais, da filiação divina, da união mais íntima possível, entre Deus e o homem.


Existem várias formas de se trabalhar e de aumentar a graça de Deus no nosso interior, e uma dessas formas é a vivência correta dos sacramentos. A Igreja é a "carpintaria" de Jesus; os sacramentos são as ferramentas das quais Jesus se utiliza para operar em nós o crescimento da graça santificante. Uma das graças específicas do Sacramento da Eucaristia é a de aumentar o amor em nós. É fazer o nosso amor crescer, sobrenaturalmente, e se transformar em atos perfeitos. Já a graça específica do Sacramento da Reconciliação é a de fortalecer o penitente da luta contra o pecado e restaurar a intimidade com Deus.

Conteúdo baseado nas aulas do autor do site www.cristianismo.org.br



Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/como-restabelecer-a-intimidade-com-deus-a-partir-dos-sacramentos/


27 de abril de 2022

Por que Maria é estritamente ligada a Cristo?


O Concílio Vaticano II (1962-1965), considerado como o evento mais importante da Igreja no século XX, num dos seus documentos mais significativos, mostra a estreita ligação de Maria a seu Filho Jesus nestes termos: "Pensando nela com devoção, a Igreja penetra mais profundamente no mistério da encarnação e se conforma sempre mais ao seu esposo" (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 65). Em outras palavras, a correta devoção a Nossa Senhora nos aproxima mais de Cristo. Vamos ver como isso acontece.

Os dogmas marianos mostram que Cristo é verdadeiro Deus e homem (Dogma da Maternidade Divina de Maria); apontam para a necessidade de encontrar em Cristo a libertação do pecado (Dogma da Imaculada Conceição); garantem a tensão escatológica, quer dizer que estamos caminhando para a ressurreição final (Dogma da Assunção de Maria); e confirmam a fé em Deus Criador, que intervém livremente na matéria (Dogma da Virgindade de Maria).

Os dogmas de Maria nos levam a Cristo

Ressalta-se a primeira afirmação: para mostrar que Jesus era, ao mesmo tempo, Deus e homem, o Pontífice, "aquele que faz a ponte" entre Deus e o homem, a "fórmula" mais fácil foi afirmar que Maria é a Mãe de Deus. No fundo, este dogma mariano foi mais um dogma cristológico. Aqui, podemos entender que Maria nos leva a Cristo: esse, pois, foi o "caminho" que Deus escolheu para nós, como diz o Credo do Concílio de Niceia (ano de 325): "Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem".

MARIA ESTRITAMENTE LIGADA A CRISTO

Foto: Arquivo CN

Há, no entanto, uma outra interessante consideração sobre o lugar de Maria na Igreja. A devoção a Maria manifesta a necessária integração entre Bíblia e Tradição: pois esses quatro dogmas têm fundamento na Escritura, como semente que cresce na tradição (liturgia, intuição do povo crente, reflexão teológica sob a guia do Magistério). Falou-se disso, acima, particularmente com referência aos dogmas da Imaculada e da Assunção. Então, na sua pessoa de moça judia, mãe do Messias, Maria liga Antigo e Novo Testamento: sem essa junção, a fé vai demais para o Antigo Testamento ou se limita ao Novo Testamento.

Quanto ao Antigo Testamento, eis, por exemplo, o anjo Gabriel anunciando a Maria que "o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará para sempre na casa de Jacó. E seu reino não terá fim" (1,32-33). O mesmo evangelista relata o cântico do Magnificat, em que Maria fala do cumprimento das promessas de Deus "a Abraão e seus filhos" (1,55). E quanto ao Novo Testamento, nas bodas de Caná, o evangelista João nos apresenta uma significativa atuação de Maria que leva os discípulos a "crerem nele" (2,11).

Maria modelo da Igreja

O Concílio Vaticano II apresenta Maria como modelo perfeitíssimo na fé e na caridade" (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 53). Olhando para esse modelo, a Igreja preserva-se daquele modelo machista, que a reduz a uma ação sócio-política, a uma abstração. E quando vira abstração, não precisa de uma mãe. Ela mostra "o rosto materno de Deus", garantindo a convivência da indispensável "razão" com as indispensáveis "razões do coração".

É interessante verificar que nenhum outro cristão, exceto Maria, é considerado como "modelo perfeitíssimo da Igreja". Esse modelo nos leva necessariamente a seu Filho, Jesus Cristo.

A profunda ligação entre Cristo e Maria nos foi lembrada, a título de exemplo, numa homilia do Papa Francisco, proferida no dia 1º de janeiro de 2015. Eis as suas palavras: "Cristo e sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. Tal inseparabilidade é significada também pelo fato de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário". Mas o "momento forte", ou "kairos", no qual nós cristãos entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem Maria é a Liturgia, ou seja, a oração pública da Igreja. Essa oração, pois, expressa e alimenta a nossa fé.

A lei da oração é a lei da fé

Há um princípio muito importante a ser seguido no caminho da nossa fé, expresso pelo princípio Lex orandi, lex credendi, a saber, "A lei da oração é a lei da fé". Isso significa que a oração expressa a nossa fé.

Tal princípio se aplica particularmente na oração pública da Igreja: a Liturgia. A palavra "Liturgia" vem do grego "leiton ergon" e significa "ao pé da letra", "obra pública". Para nós, refere-se à oração pública e oficial da Igreja. A "Liturgia" é definida pelo Concílio Vaticano II como "o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo" e "obra de Cristo Sacerdote e do Seu corpo, que é a Igreja" (Documento sobre a Liturgia, Sacrossanctum Concilium, n. 7).

A Liturgia se expressa, de maneira eminente, na celebração da Eucaristia, que é "fonte e cume de toda a vida cristã" (Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 11).

A partir disso, podemos afirmar que, quando participamos da Celebração Eucarística, vamos entender, expressar e aprofundar a nossa fé. No fundo, a Liturgia é a grande escola da fé do povo cristão. Nessa "escola", precisamos aprender a ser "bons alunos". Isso, pois, significa que, para entendermos o lugar de Maria na vida cristã, é fundamental partir das celebrações da Igreja que faz solene memória da mãe de Cristo.

O lugar de Maria na vida cristã a partir da Liturgia

As três celebrações marianas mais importantes do ano litúrgico apontam para os quatro dogmas marianos: Maria Mãe de Deus, sempre Virgem (1º de janeiro); Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (15 de agosto).

A Igreja definiu estas quatro verdades sobre Nossa Senhora, a saber:
– Maternidade Divina de Maria. Foi definida no Concílio de Éfeso (ano 431).
– Virgindade Perpétua de Maria. Foi definida no II Concílio de Constantinopla (ano 553).
– Imaculada Conceição de Maria. Foi definida pelo Papa Pio IX na Bula Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854).
– Assunção de Maria. Foi definida pelo Papa Pio XII na Bula Munificentissimus Deus (1º de novembro de 1950).

Essas verdades são expressas na Liturgia. A título de exemplo, podem-se considerar algumas orações da Solenidade de "Maria Mãe de Deus".

Orações à Maria

No dia 1º de Janeiro, Solenidade de Maria Mãe de Deus, a Igreja proclama, ao mesmo tempo, a Maternidade Divina de Maria e sua Virgindade Perpétua.

Eis, pois, como expressar isso:

a) Na Coleta: "Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o Autor da vida".

b) Na Oração sobre as oferendas: "Ó Deus, que levais à perfeição os Vossos dons, concedei aos Vossos filhos, na festa da Mãe de Deus, que, alegrando-se com as primícias da Vossa graça, possam alcançar a sua plenitude".

c) No Prefácio: "Na verdade, ó Pai, Deus Eterno e Todo-poderoso, é nosso dever dar-Vos graças, é nossa salvação dar-Vos glória, em todo tempo e lugar, e na Maternidade de Maria, sempre Virgem, celebrar os vossos louvores".

d) Oração depois da Comunhão: Ó Deus de bondade, cheios de júbilo, recebemos os sacramentos celestes; concedei que eles nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos a Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja.

As partes dessas orações apontam para a fé da Igreja na Maternidade Divina e na Virgindade Perpétua de Nossa Senhora. Esse mesmo "exercício" pode ser feito para as outras solenidades marianas; e, no fundo, para cada celebração cristã.

O sentido da fé dos fiéis e os dogmas marianos

Voltando ao princípio – "a lei da oração é a lei da fé" –, pode-se observar que as definições dos Concílios, ou dos Papas acima indicadas, são todas posteriores à fé do povo.

No mês de junho de 2014, a Comissão Teológica Internacional publicou um interessante documento intitulado Sensus fidelium, que significa o sentido dos fiéis. Eis como o define:

"O sensus fidei fidelis [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica." (N. 49).

Essa afirmação tem uma significativa confirmação quanto à fé da Igreja sobre Maria. A título de exemplo, os dogmas da Imaculada e da Assunção foram definidos recentemente, como foi visto acima: mas o povo de Deus celebrava, fazia séculos, a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria: e, particularmente, na Liturgia. Em outras palavras, já havia as festas da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora da Glória.

É interessante lembrar, a esse respeito, o que Jesus disse aos Seus discípulos na última ceia: "Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade completa" (João 16,12-13). Nesse sentido, os apóstolos não receberam uma "revelação completa" de Jesus. O Espírito, dom do Cristo Ressuscitado, "sopra" sobre o povo de Deus, a Igreja, e a leva, aos poucos "à verdade completa". Nesta "caminhada da fé", guiados pelo Espírito, entendemos sempre mais quem é Cristo e todos os que a Ele pertencem, a partir da Sua Mãe.



Lino Rampazzo

Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma), Lino Rampazzo é coordenador do Curso de Teologia e professor nos cursos de filosofia e teologia da Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/por-que-maria-e-estritamente-ligada-a-cristo/


25 de abril de 2022

É necessário educar com o auxílio da internet!


Parte-se do princípio de que a educação é um "bem comum" e "um direito universal", conforme explicita o Papa Francisco no Pacto Educativo Global, assim, pode-se entender a internet como um lugar privilegiado para um processo amplo de educação. Há de se recordar que, desde o Concílio Vaticano II, com a declaração Gravissimum Educationis, a Igreja propõe a educação como caminho necessário e importante para o progresso social da humanidade.

Papa Francisco propõe como inspiração para uma educação integral e inclusiva o provérbio africano: "Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira". Nesse sentido, quer o Santo Padre que os educadores alcancem uma mentalidade nova e inclusiva. É preciso fazer um exercício de conversão educativa e pedagógica para superar um conceito de educação que se reduz a percursos educacionais formais. É oportuno abrir a mente e o coração, também percursos informais de ensino e aprendizagem.

É necessário educar com auxílio da internet!

Foto ilustrativa: mixetto by GettyImages / cancaonova.com

Ambientes educativos

Os ambientes educativos não se reduzem à escola e à universidade, mas existem outros lugares e outras iniciativas "que podem ser compreendidos em chave educativa".

Para a Igreja, é certo que a família ocupa o papel central no processo de educação. Entretanto, não de forma isolada ou exclusiva, mas em mútua colaboração com todos os outros sujeitos sociais, instituições governamentais e privadas que são chamadas, pela Igreja, a renovar a paixão pela educação.

Nesse horizonte, cabe trazer aqui a reflexão feita por Herbert Marshall McLuhan, importante educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense, que, no início da segunda metade do século passado, profetizou que o mundo seria uma "aldeia global". Ele estava falando da internet, que impactou o mundo, redefiniu o tempo e o espaço, transformou o modo de ensinar e aprender, criou convergências e capitalizou um grande patrimônio técnico-didático.

A internet é a aldeia do século XXI

O uso da internet é tão importante quanto necessário, que seria um "pecado" contra os educandos e educadores criar um processo educativo, em pleno século XXI, que não considerasse o uso das plataformas digitais e das redes sociais. Elas são a aldeia do nosso tempo, que, conforme diz o Texto Base da Campanha da Fraternidade 2022, versa sobre a educação com "abrangência global e plasma um novo jeito de ser e de viver".


Denis McQuail, um teórico britânico da comunicação, professor emérito da Universidade de Amsterdã, afirma que os meios de comunicação são "a arena onde se desenvolve muitos fatos da vida pública nacional e internacional". Dentro do esquema hermenêutico de educação proposto pelo Papa Francisco, podemos concordar com McQuail que os meios de comunicação, sobretudo a internet, com todas as suas redes e convergências, são "fonte importante de definições e de imagens da realidade social, portanto, o lugar onde se constroem, conservam-se e manifestam-se a mudança cultural e os valores da sociedade e dos grupos". Em poucas palavras, ambiente educativo do qual não se pode prescindir.

Em sintonia com o que dizem a Igreja e os teóricos da comunicação e da educação sobre a internet, nestes espaços virtuais, pode ser exercida uma prática educativa que orienta para o intercâmbio fecundo, a gratuidade que acolhe o conteúdo local e a abertura ao horizonte global. A internet pode ser um lugar de superação do narcisismo bairrista e a inclusão dos pobres e frágeis. É possibilidade para o encontro, a amizade, o perdão.

A Igreja e a internet

A Igreja percebe grande valor da internet no campo educacional, como a existência de bibliotecas digitais com suas obras e os periódicos eletrônicos com possibilidades de serem consultados de qualquer lugar do planeta. Revolucionou o ambiente educativo, criando nova ambiência, as novas tecnologias e metodologias educacionais que permitem Educação a Distância (EaD), ou seja, de qualquer lugar do mundo.

O Concílio Vaticano II, sob o olhar da Inter Mirifica, considera os meios de comunicação "admiráveis invenções da técnica" que, "com o auxilio de Deus, o engenho humano extraiu das coisas criadas". A internet é uma delas.

Entretanto, documentos do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e as mensagens dos Papas para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, não obstante, reconhecem os grandes frutos da internet para a educação, união e o progresso dos povos, alerta para as sombras do ambiente digital, que, muitas vezes, é usado para propagar o ódio, a guerra, o terrorismo, a pedofilia, as notícias falsas dentre outras.



Padre Antonio Camilo de Paiva

Padre Antonio Camilo de Paiva, Mestre em Ciências da Comunicação, pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma; Vice-Reitor do Seminário Arquidiocesano Santo Antônio de Juiz de Fora; Coordenador e Professor do Curso de Teologia do UniAcademia e Seminário Santo Antônio e Vigário Episcopal para a Educação Comunicação e Cultura.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/educacao/e-necessario-educar-com-o-auxilio-da-internet/


22 de abril de 2022

A Misericórdia Divina está sempre ao nosso alcance


O coração de Jesus Cristo é o lugar de experimentarmos a misericórdia. O Senhor se compadece das nossas fraquezas, já que Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado (cf. Hb 4,15). Por isso, Cristo nos acolhe em Sua misericórdia, no trono do Seu coração. É Nosso Senhor quem primeiro vem a nós, como Ele mesmo disse a Santa Faustina: "Não tenhas medo do teu Salvador. Eu, por primeiro, tomo a iniciativa de Me aproximar de ti" (Diário 1.485).

Nós precisamos estar dentro do coração misericordioso de Jesus, que sempre está aberto e acessível a todos. Podemos perceber essa realidade quando Nosso Senhor diz a Santa Faustina: "A minha misericórdia é maior que as tuas misérias e as do mundo inteiro, quem pode medir a extensão da minha bondade? Por ti desci do céu à terra, por ti permiti que me pregassem na cruz, por ti permiti que fosse aberto pela lança o meu sacratíssimo coração e, assim, abri para ti uma fonte de misericórdia" (D. 1.485).

A Misericórdia Divina está sempre ao nosso alcance

Foto Ilustrativa: by Getty Images / RyanJLane / cancaonova.com

Jesus sofreu para que todos pudessem experimentar a misericórdia

Tudo o que Jesus sofreu foi também para que pudéssemos experimentar a misericórdia em nossa vida, que sempre vem ao encontro das nossas fraquezas e angústias, pois, diante dos nossos erros, as pessoas e o mundo podem até querer nos condenar, mas Jesus Cristo nunca nos condena, porque Ele é o Amor.

Jesus não faz acepção de pessoas para derramar a Sua misericórdia redentora. Ele faz questão de chamar excluídos e pecadores (Cf. Marcos 2,17), envolvendo todos no Seu plano salvífico. Dessa forma, Cristo não faz distinção para manifestar Sua misericórdia, que é para todos. Entretanto, muitas vezes, desviamo-nos dessa misericórdia quando insistimos no sentimento de culpa, que nos faz bloquear Sua ação em nós, pois ficamos paralisados por culpas relacionadas ao que fizemos e ao que não fizemos no decorrer da nossa vida.

Isso nos leva a uma desconfiança do amor, da bondade e da misericórdia de Deus, o que faz com que nos afastemos d'Ele e não nos permitamos ser alcançados por Ele. Por isso, é necessário, diariamente, repetir: Jesus, eu confio em vós, eu confio no Seu coração misericordioso, que me perdoa e acolhe hoje e sempre.


Colocar em prática

São João Paulo II disse: "que a humanidade acolha e compreenda a Divina Misericórdia". Em Mateus 5,7, Jesus diz: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia". Assim, a partir dessas duas frases, façamos uma análise se temos exercido a misericórdia ou se temos julgado e condenado nossos irmãos.

Na Catequese do Papa Francisco, em 10/09/2014, ele disse: "é a misericórdia que muda o coração e a vida, ela pode regenerar uma pessoa e permitir que esta se insira de modo novo na sociedade". Sabemos que Jesus é essa misericórdia que transforma os corações, mas nós precisamos nos convencer interiormente dessa verdade e colocá-la em prática na nossa vida.

Peçamos a intercessão da Mãe da Misericórdia, a Virgem Maria. Que ela nos conduza nesta "misericórdia que se estende, de geração em geração" (Lucas 1,50), para que, como seu Filho Jesus, possamos testemunhar com a vida o que professamos pela fé.



Padre Márcio Leandro Fernandes

Natural de Sete Lagoas (MG), é missionário da Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Márcio Leandro é também Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, em Taubaté (SP). Atua no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/misericordia-divina-esta-sempre-ao-nosso-alcance/


20 de abril de 2022

O que é a Oitava de Páscoa na Liturgia?


Após o domingo de Páscoa, a Igreja vive o Tempo Pascal. São sete semanas em que a Liturgia celebra a presença de Jesus Cristo Ressuscitado entre os Apóstolos, dando-lhes as suas últimas instruções (At 1,2). Quarenta dias depois da Ressurreição, Jesus teve a Sua ascensão ao Céu e, ao final dos 49 dias, enviou o Espírito Santo sobre a Igreja reunida no Cenáculo com a Virgem Maria. É o coroamento da Páscoa. O Espírito Santo dado à Igreja é o grande dom do Cristo glorioso.

O Tempo Pascal compreende esses cinquenta dias (em grego = "pentecostes") vividos e celebrados "como um só dia". Dizem as "Normas Universais do Ano Litúrgico" que "os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes devem ser celebrados com alegria e júbilo, "como se fosse um único dia festivo", como um grande domingo" (n. 22).

O que é a Oitava de Páscoa na Liturgia?

Foto Ilustrativa: RyanKing999 by Getty Images

Vivamos a ressurreição de Jesus intensamente na Oitava de Páscoa

É importante não perder o caráter unitário dessas sete semanas. A primeira semana é a  "Oitava da Páscoa". Ela termina com o domingo da oitava, chamado "in albis", porque, neste dia, os recém-batizados tiravam as vestes brancas recebidas no dia do batismo. Esse é o Tempo Litúrgico mais forte de todo o ano. É a Páscoa (passagem) de Cristo da morte à vida, a sua existência definitiva e gloriosa. É a Páscoa também da Igreja, seu Corpo. No dia de Pentecostes, a Igreja é introduzida na "vida nova" do Reino de Deus. Daí para frente, o Espírito Santo guiará e assistirá a Igreja em sua missão de salvar o mundo, até que o Senhor volte no Último Dia, a Parusia.

Nestes cinquenta dias de Tempo Pascal, e de modo especial na Oitava da Páscoa, o Círio Pascal é aceso em todas as celebrações, até o domingo de Pentecostes. Ele simboliza o Cristo ressuscitado no meio da Igreja.  Ele deve nos lembrar que todo medo deve ser banido, porque o Senhor ressuscitado caminha conosco, mesmo no vale da morte (Sl 22). É tempo de renovar a confiança no Senhor, colocar em Suas mãos a nossa vida e o nosso destino, como diz o salmista: "Confia os teus cuidados ao Senhor e Ele certamente agirá" (Salmo 35,6).

A alegria e as bênçãos do Tempo Pascal

Este é, portanto, um tempo de grande alegria espiritual, onde devemos viver intensamente na presença do Cristo ressuscitado, que transborda sobre nós os méritos da Redenção. É um tempo especial de graças, onde a alma mais facilmente bebe nas fontes divinas. É o tempo de vencer os pecados, superar os vícios,  renovar a fé e assumir com Cristo a missão de todo batizado: levar o mundo para Deus através de Cristo. É tempo de anunciar o Cristo ressuscitado e dizer ao mundo que somente nele há salvação.

Então, a Igreja deseja que nos "oito dias de Páscoa" (Oitava de Páscoa) vivamos o mesmo espírito do Domingo da Ressurreição, colhendo as mesmas graças. Assim, a Igreja prolonga a Páscoa, com a intenção de que "o tempo especial de graças", que significa a Páscoa, estenda-se por oito dias, e o povo de Deus possa beber mais copiosamente, e por mais tempo, as graças de Deus neste tempo favorável, onde o céu beija a terra e derrama sobre ela suas bênçãos copiosas.

Só pode beneficiar-se dessas graças abundantes e especiais aqueles que têm sede, que conhecem, acreditam e pedem. É uma lei de Deus, e quem não pede não recebe. E só recebe quem pede com , esperança, confiança e humildade.

Viva este tempo de graça

As mesmas graças e bênçãos da Páscoa se estendem até o final da Oitava. Não deixe passar esse tempo de graças em vão! Viva oito dias de Páscoa e colha todas as suas bênçãos. Não tenha pressa! Reclamamos tanto de nossas misérias, mas desprezamos tanto os salutares remédios que Deus coloca à nossa disposição tão frequentemente.

Muitas vezes, somos miseráveis sentados em cima de grandes tesouros, pois perdemos a chave que podia abri-los. É a chave da fé que, tão maternalmente, a Igreja coloca em nossas mãos todos os anos. Aproveitemos esse tempo de graça, para renovarmos nossa vida espiritual e crescer em santidade.


O significado do Círio Pascal

O Círio Pascal estará aceso por 40 dias, lembrando-nos que a grande vela acesa simboliza o Senhor Ressuscitado. É o símbolo mais destacado do Tempo Pascal. A palavra "círio" vem do latim  "cereus", de cera. O produto das abelhas. O círio mais importante é o que é aceso na vigília Pascal, como símbolo de Cristo – Luz, e fica sobre uma elegante coluna ou candelabro enfeitado.

O Círio Pascal é já, desde os primeiros séculos, um dos símbolos mais expressivos da vigília, por isso, ele traz uma inscrição em forma de cruz, acompanhada da data do ano e das letras Alfa e Ômega, a primeira e a última do alfabeto grego, para indicar que a  Páscoa do Senhor Jesus, princípio e fim do tempo e da eternidade, nos alcança com força sempre nova no ano concreto em que vivemos. O Círio Pascal tem em sua cera incrustado cinco cravos de incenso simbolizando as cinco chagas santas e gloriosas do Senhor da Cruz.

O Círio Pascal ficará aceso na Oitava da Páscoa e em todas as celebrações durante as sete semanas do Tempo Pascal, ao lado do ambão da Palavra, até a tarde do domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o tempo Pascal, convém que o Círio seja dignamente conservado no batistério. O Círio Pascal também é usado durante os batismos e as exéquias, ou seja, no princípio e o término da vida temporal, para simbolizar que um cristão participa da luz de Cristo ao longo de todo seu caminho terreno, como garantia de sua incorporação definitiva à Luz da vida eterna.

Viver intensamente a Oitava da Páscoa é uma grande graça que Deus nos dá através da Igreja. Cultive esse tempo, com oração, meditação e vida sacramental, agradecendo ao Senhor tantas bênçãos.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/o-que-e-oitava-de-pascoa-na-liturgia/