18 de março de 2022

Como possuir uma profunda intimidade com Deus?


Intimidade quer dizer aquilo que há de mais profundo no homem e em Deus. Está ligado ao "dar-se a conhecer profundamente". O próprio ser humano precisa querer dar-se a Deus no mais profundo de si, porque Deus conhece o nosso íntimo, mas é preciso buscar uma amizade profunda com Deus, a ponto de dizer: "Já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).

Só teremos uma profunda intimidade com Deus por meio do Espírito Santo, pois só Ele pode nos levar a uma plena comunhão de alma com Deus. "A nós, porém, Deus o revelou pelo Espírito. Pois, o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus" (I Cor 2,10). O Espírito nos leva para as profundezas de Deus, ou seja, à intimidade; é Ele quem nos revela Deus.

Deus em nós e nós em Deus

Segundo Raniero Cantalamessa, o Espírito Santo (Ruah) "indica o que de mais íntimo e secreto há em Deus; e indica o que há de mais íntimo e secreto no homem, seu princípio vital, sua própria alma".

Como possuir uma profunda intimidade com Deus?

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Khanchit Khirisutchalual / cancaonova.com

Com razão, Santo Agostinho dizia: "Deus me é mais íntimo a mim do que eu mesmo". "Quem, pois, dentre os homens conhece o que é do homem, senão o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, o que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus" (I Cor 2,11).

O Espírito nos leva à profundidade com Deus e, com o Espírito, o Senhor torna-Se nosso hóspede. Por isso, Ele é conhecido como o "Doce Hóspede da Alma". Assim, pode até se dizer: é Deus em nós e nós em Deus, por meio do Espírito Santo.

Quando uma alma quer ser íntima de Deus, Ele se apropria dela, há uma afeição, um profundo amor. Deus é atraído a ponto da pessoa tornar-se uma oikeiosis (casa), onde Ele pode habitar. São Basílio Magno diz: "o Espírito Santo é Aquele que cria a intimidade com Deus".

"O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo. Neles ora e dá testemunho de que são filhos adotivos" (LG,4).


Intimidade com o Senhor

Ser íntimo do Senhor é apresentar-se ou estar diante d'Ele despojado de si mesmo; é desvelar-se, tirar as máscaras; esvaziar-se totalmente; apresentar-se como dependente unicamente d'Ele; sair da hipocrisia para a transparência. Estar totalmente "nu" diante de Deus implica, também, em não ter vontade própria; assumir a vontade de Deus e não estar cheio de si.

O viver submisso a Deus é caminho para uma profunda intimidade com Ele. Daí parte o ser dependente do Senhor. Assim, a vida torna-se plena de sentido quando nos rendemos ao Seu doce amor e à ação do Espírito. A nossa maturidade espiritual só será plena, só chegará ao ápice, quando entendermos o que significa sermos totalmente dependentes de Deus.

A intimidade com o Senhor, com a Trindade, vai muito além de uma experiência mística, adoração etc.; ela é parte da morada de Deus. Por isso, quem é íntimo de Deus não fica preso a nada, ao contrário, experimenta a liberdade plena. Contudo, ser íntimo é ser livre diante da pessoa, sem medo ou constrangimento.

"Dessa intimidade com o Deus fiel, lento para a cólera e cheio de amor, Moisés tirou a força e a tenacidade de sua intercessão" (CIC 2577).


Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-possuir-uma-profunda-intimidade-com-deus/


16 de março de 2022

Precisamos buscar a cura das nossas carências afetivas


Todos nós precisamos ser amados e, consequentemente, amar. Buscamos ser acolhidos pelas pessoas, abraçados, beijados e elogiados; e isso faz bem para todos nós, pois nos cura e liberta de nossas carências. Quando isso não acontece, surge a chamada carência afetiva, o vazio de amor que permanece no coração humano pelo fato de não ter recebido amor suficiente na gestação, na infância ou adolescência.

As carências afetivas manifestam-se de muitas maneiras no comportamento, como a busca de prazeres sensíveis: a maneira de lidar com as pessoas e os objetos, estar no centro das atenções, "inventar modas", criar situações, revoltar-se, fazer críticas, "grevezinhas" e até na maneira como está comendo (compensação).

Precisamos buscar a cura das nossas carências afetivas

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Nossas carências afetivas nascem já no seio familiar

Tudo começa já no seio da família, quando uma pessoa não recebe bastante amor de seus pais e irmãos. Então, ela se torna egoísta, fechada em si mesma, vive descontente, critica seus pais e briga o tempo todo. Entra na fase escolar e tenta mendigar ou comprar o amor de professores e colegas, sempre quer ser o centro das atenções. Tudo isso acaba desembocando em um namoro no qual se busca o outro não para o amar, e sim para ser amado. É no namoro que vai tentar suprir o amor que não recebeu dos pais, transferindo-o para o namorado. Assim, nascem os ciúmes, as brigas e cobranças. Lança-se ao outro manifestando os abraços, beijos, carícias, contatos físicos e até relação sexual. Tudo isso na tentativa de suprir a falta de amor.


Algumas dicas para sermos curados de nossas carências:

1- Reconhecermos que somos carentes e precisamos de cura;
2- Enfrentarmos essa realidade, nunca fugirmos dela;
3- Recebermos o amor puro das pessoas, como amigos, pais, namorados;
4- Buscarmos a cura interior com pessoas de nossos grupos ou comunidades;
5- Amarmos nossa história de salvação e rezarmos pela nossa cura, se possível, diante de Jesus Sacramentado;
6- Perdoarmos as pessoas que nos magoaram ou feriram, que não nos deram amor;
7- Termos uma vida de oração, adoração e comunhão.

Tudo isso vai ser concretizado pelo batismo no Espírito Santo, em que Deus vai curá-lo profundamente, com Seu amor de Pai.


 


Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/precisamos-buscar-a-cura-das-nossas-carencias-afetivas/ 


14 de março de 2022

Como ser uma mulher conforme a Palavra de Deus


Deus criou a mulher para ser um apoio físico, emocional, espiritual e conjugal. Na criação, o Senhor disse: "Não é bom que o homem esteja só: vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda" (Gn 2,18). Quando Deus tirou aquela costela de Adão para fazer a mulher, Adão dormiu solteiro e acordou casado. Buscar a vocação ou o chamado de Deus para a vida de cada uma é um passo para ser uma mulher segundo o coração do Criador.

É importante notar que o ato criador foi de Deus, que transformou a costela, dando à mulher o seu Ser. Ela é parte do homem, mas seu primeiro e primordial contato é com seu Criador. Portanto, a Bíblia ensina que para ser feliz é preciso buscar o senso elementar de Deus. É ilusório buscar uma espiritualidade se não reconhece que foi obra de Deus e que não se fez sozinha. É preciso também enxergar a perfeição dessa criação e que o divino reluz dentro de cada ser. Precisamos valorizar o ser mulher, mas, acima de tudo, o fato de sermos de Deus.

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Foto Ilustrativa: Tutye by Getty Images

O ser mulher

Quando Adão sai do seu sono profundo e olha para aquela mulher, ele diz: "Osso de meus ossos e a carne de minha carne!". O Criador sabia que Adão não estaria completo sem Eva. Ele seria um homem solitário. Deus criou a mulher para que ela se tornasse a perfeita companheira do homem. No caso específico, o texto bíblico fala da relação de casal, porque a mulher edifica ou destrói um lar. Ler a Bíblia e aprender com as mulheres, as quais largaram suas raízes para seguir seus maridos, que foram companheiras na alegria e na tristeza, é fundamental. Nos nossos dias, muitas querem ser felizes, mas se esquecem de que precisam, primeiramente, fazer o outro feliz.

Uma mulher conforme a Palavra de Deus é aquela que faz somente o bem a todos aqueles que a rodeiam. Sabe fazer do silêncio sua arma, em vez de usar palavras ofensivas. É boa ouvinte, não se deixa vencer pelo cansaço ou desânimo, mantém o bom ânimo e a generosidade. Claro que não é fácil, mas o caminho da santidade é não se contentar com suas dificuldades, mas lutar em Deus em busca da perfeição.

A mulher precisa estar atenta ao físico e ao espiritual

Ser mulher é refletir antes de falar ou agir, o que faz com que seus filhos a respeitem e a admirem. Enfim, ser mulher é não se preocupar apenas com seu bem-estar físico, mas também com seu bem-estar espiritual, porque o tempo é breve e a herança futura resultará das escolhas de hoje. Nesse sentido, Maria é o modelo para todas as mulheres. Ela conseguiu enfrentar com dignidade situações estressantes, mantendo-se serena mesmo no sofrimento indecifrável perante o suplício de Jesus. Assim devemos ser: mais silenciosas, éticas, generosas e fiéis ao Senhor.


No Antigo Testamento, podemos ver o exemplo de Ana, uma pessoa provada até o âmago do seu ser – tem-se até a impressão de que algum poder invisível está em operação para extinguir a sua vida. Ana deve ter se sentido assim. Tinha derramado lágrimas sem fim, porque se sentia abandonada por Deus, por não ter filhos. A outra esposa do seu marido nunca perdia uma ocasião de lembrar-lhe a sua esterilidade. Ela é uma intercessora, faz suas orações e vai várias vezes ao tabernáculo. Num determinado dia, cansada do seu sofrimento e sem vislumbrar uma solução, Ana perde o controle. Joga-se aos pés do Senhor e derrama sua alma, expondo sua amargura. Sua oração veio do fundo do coração, e clamou ao único que podia socorrê-la.

Aprendemos com as mulheres da Bíblia que a oração pode ser pequena, em baixa ou alta voz, na solidão do quarto ou em assembleia, mas precisa ser relacional e compromissada com Deus, com uma verdadeira vontade de ter uma vida. O atendimento do pedido passa a ser uma vontade de Deus em busca da salvação individual e coletiva.



Angela Abdo

Mestre em Ciências Contábeis pela Fucape, pós-graduada em Gestão de Pessoas pela FGV, Gestão de Pessoas pela Faesa, graduada em Serviço Social pela Ufes e psicanalista. Consultora e Executiva na área de RH e empresa hospitalar. Foi coordenadora do grupo fundador do Movimento Mães que Oram pelos Filhos da Paróquia São Camilo de Lellis, em Vitória (ES) e do grupo de Amigos da Canção Nova de Vitória. Atualmente, é coordenadora nacional e internacional do Movimento Mães que Oram pelos Filhos. Escritora dos livros "La Salette, o grito de uma Mãe!" (2018), "Superação x Rejeição: Aprendendo a ser livre" (2017), "Ser Mulher À Luz da Bíblia: Porque Deus Pode Tudo!" (2016) e "Mães que Oram pelos Filhos" (2016). Participa do programa "Papo de Mãe que Ora", no canal Mães que Oram pelos Filhos Oficial, e do "Mães que Oram pelos Filhos", na Rádio América.  Autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/como-ser-uma-mulher-conforme-a-palavra-de-deus/


11 de março de 2022

Como alcançar a força e a vitória em Jesus Cristo?


A fé católica é centrada na pessoa de Cristo. Ele é Deus e, sendo Deus, é onipotente, ou seja, tem poder sobre todas as coisas e vence qualquer exército, porque fortaleza e vitória estão nele. Como Filho de Deus, Cristo também é Senhor. Tudo a Ele está submetido, como nos garante as Sagradas Escrituras: Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor" (Fl.2,11).

Em outra passagem bíblica, o Senhor também nos garante que "em todas as coisas somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou" (Rm. 8,37). Dessa forma, não há inimigo, criatura, situação ou coisa qualquer que o possa vencer.

Falando a respeito de Cristo Senhor, o Catecismo da Igreja Católica também nos lembra que "ao longo de toda a sua vida pública, seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as doenças, a morte e o pecado demonstravam sua soberania divina" ( Catecismo 447). É por tudo isso que, como cristãos, podemos dizer, com plena certeza, que "a nossa força e a nossa vitória estão em Jesus".

Como alcançar a força e a vitória em Jesus Cristo

Foto Ilustrativa: DaveLongMedia by GettyImages/ cancaonova.com

No entanto, muitas vezes, nos questionamos: "Por que não alcançamos certas graças ou não vencemos em determinadas lutas? Por que nos sentimos tão fracos? A questão que, certamente, deveríamos nos fazer é: Estamos, de fato, em Cristo? Este "estar em Cristo" traz dois sentidos que gostaria de destacar:

O verdadeiro significado de estar em Cristo

O primeiro sentido é o da condição, é o modo como devemos estar. Existe algo que precisa acontecer para que alcancemos êxito em nossas lutas: Estar em Jesus, isto é, unidos a Ele e ao Seu projeto a nosso respeito. Precisamos estar inseridos e empenhados em Seu plano de amor por nós. Devemos entender o que Ele deseja para a nossa vida e colaborarmos com isso. Nesta condição – inteiramente rendidos ao que o Senhor nos propõe e direcionados pela Sua Palavra –, teremos a força e a vontade de ver Sua obra chegando ao Seu objetivo e, certamente, o alcançaremos, porque é do agrado de Deus. Batalharemos por algo que o Senhor nos quer dar. Desse modo, a vitória é certa!


O segundo é o sentido de lugar. Nossa força e vitória estão em um lugar específico: Cristo, Deus e Senhor. Não é fora d'Ele, não é numa instituição, numa outra pessoa ou coisa, mas somente em Jesus – forte e vitorioso – que está a fonte dos dons com que Ele mesmo quer nos presentear. Toda graça está n'Ele. Podemos então buscar, no Senhor, a capacidade de enfrentar com disposição de alma os desafios e alcançar a vitória que nos foi reservada, pois foi a Ele que tudo foi dado. Sua presença, agindo em nossa natureza humana, nos impele a lutar e a vencer.

A força e vitória de Deus

Outro ponto importante que precisamos levar em conta, nesta reflexão, é que a vitória e a força do cristão não são as mesmas impostas pela mentalidade deste mundo. Algumas vezes, a vitória para mim e para você será apenas a de poder lutar e não se deixar vencer pelo medo ou a frustração de não ter tentado. Poderá ser também a vitória de ter se tornado melhor durante a batalha, ainda que não se alcance o que se almejou no início da luta. Outros frutos vieram! Isso já nos faz vencedores. Muitas vezes, nossa força será não nos deixarmos enfraquecer pela turbulência e as contrariedades, ainda que sintamos as dores dos golpes.

A fé é a porta aberta para isso, é a fé de entrega e confiança, a qual, muitas vezes, nos faz dar passos que não seguem a lógica da razão, mas sim a de quem acredita mesmo sem ver. A fé deve ser o modus operandi de cada um que acredita no Cristo. É a forma como atuamos no mundo, em cada situação desafiadora que nos é apresentada, caminhando sobre as águas, vendo vitórias onde só haveriam derrotas e sendo fortes diante daquilo que nos levaria a fraquejar.

Entregue suas lutas e fraquezas ao Senhor

Contudo, a fé se alimenta da oração, desses encontros diários e a sós com Jesus. Forte e vitoriosa é a alma que ora. Se essas características vêm de Jesus, não há como as alcançar se não formos íntimos de seu coração. Quando somos amigos de alguém, é fácil obtermos dele algo de que necessitamos. Sabemos que ele o tem e que, a qualquer momento que precisarmos, sendo nosso amigo, nos dará. Jesus já tem em Suas mãos a vitória e a força de que necessitamos hoje. Num ato de fé, coloquemo-nos em oração e Lhe apresentemos nossas lutas e fraquezas, usemos a Palavra, porque nela há uma série de versículos que nos levam a não desanimar. Creiamos que, por amor, o Senhor nos dará a vitória neste dia.

Comece sua oração por esses versículos

"O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo?" (Sl, 26,1) "Porque o Senhor, vosso Deus, marcha convosco para combater contra os vossos inimigos e para vos dar a vitória." (Dt. 20,4) "Nada temas, porque estou contigo, não lances olhares desesperados, pois eu sou teu Deus; eu te fortaleço e venho em teu socorro, eu te amparo com minha destra vitoriosa." (Is. 41,10)


 


Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-alcancar-a-forca-e-a-vitoria-em-jesus-cristo/


9 de março de 2022

Quais situações vivemos, no dia a dia, são consideradas pecaminosas?


Continuando nossa série de textos voltados para o sacramento da confissão, após ter meditado, nas semanas anteriores, sobre o que é o pecado, como saber se pecamos, a distinção entre os graves e veniais, e os elementos do sacramento da confissão, vamos, agora, tratar das ocasiões que em si são pecaminosas, mas cujas práticas são lícitas, dependendo da situação. Aliás, às vezes, seremos obrigados a praticá-las.

Existem dois tipos de cooperação com o mal: formal e material.

A cooperação formal ocorre quando, para executar um ato mau, precisamos fazer um outro ato mau primeiro. Por exemplo: assaltantes fazem um plano para assaltar um banco, mas, para isso, eles abordam você primeiro e o obrigam a matar o guarda. Matar o guarda, que é um mal em si, é condição para fazer um outro ato mau: assaltar o banco. Matar o guarda é a cooperação formal com o mal de assaltar o banco.

Foto Ilustrativa: Bertlmann by Getty Images

Situações pecaminosas e os tipos de cooperação

A cooperação material seria uma ação que, em si, não é má ainda, mas ela poderá conduzir à execução de um ato mal posterior. Daí, ela se torna má, dependendo da ação seguinte. Ainda no assalto ao banco, em vez de ter de matar o guarda, os assaltantes o obrigam a abrir a porta para eles entrarem. Abrir a porta em si não é um mal.

A cooperação material pode se dividir em dois tipos: necessária e indiferente.

A cooperação necessária, ainda no caso do assalto ao banco, seria quando só você tem a chave para abrir a porta. A indiferente seria quando, você, sendo o assaltante, obriga a outro a abrir a porta. Se a pessoa se recusar a abri-la, tendo a possibilidade, você a abre do mesmo jeito. O assalto acontece de qualquer modo, alguém abrindo ou não a porta.

Com o tempo de auto-observação, esse discernimento se torna muito rápido, mas é preciso começar a meditar sempre que tiver diante de si a questão: aquilo que estão pedindo para eu fazer é cooperação com o mal? Formal ou material? Se for material, é necessário ou indiferente?

Situações de pecado

Quando a cooperação for formal, você nunca poderá aceitar, mesmo que seja preciso enfrentar a morte. Você não pode cooperar em caso nenhum!

Quando é material, tem de avaliar o dano que você pode sofrer caso haja a recusa. Dependendo do dano, se for muito grande, você deve cooperar. Se for igual, pode cooperar ou não. Se for menor, deve recusar cooperar, supondo que a cooperação seja necessária.

Por exemplo: Você é refém de um grupo de assaltantes que o mandam ir na frente deles a um banco e matar o guarda. Isso é cooperação formal. Você não pode matar o guarda. Se eles disserem que vão matar você e depois vão matar o guarda, mesmo assim você não pode cooperar. Você não pode matar um inocente, mesmo que seja pelo bem da própria vida. O que vai acontecer em diante, cada qual responderá diante de Deus.

Agora, se o caso for somente um "abrir a porta", nesse caso, você pode abrir a porta. Sua vida vale mais do que qualquer dinheiro que tenha em um banco. Mesmo que, ao abrir a porta, os assaltantes matem alguém no banco, isso não é certeza, pois pode também acontecer de não haver morte.

Se lhe pedirem para abrir uma porta, para que possam matar alguém ali dentro, e você não a abrir, na hipótese de que o máximo que vai lhe acontecer seja uma surra, não se deve abrir a porta, pois levar uma surra é menor que a cooperação com a morte de alguém. Se o caso for o exato contrário, você deve abrir a porta.

A prática do bem

É preciso crescer na virtude da prudência, porque, mesmo que seja para a prática do bem, é preciso discernimento para que não venha a ter complicações sérias para si, que podem acarretar em mal moral.

Existe para isso a ordem da caridade. São elas:

Necessidade extrema: englobam os casos de vida ou morte de outro ou a própria.
Necessidade grave: são situações em que a sua ação poderá incorrer em problemas sérios para si. Algum grave prejuízo ou sua morte, desemprego, perda de tudo.
Necessidade leve: são situações que incorrem em prejuízos leves para si.


Exemplos

Quando você não tem obrigação de ofício e encontra uma pessoa em uma situação difícil, é preciso julgar segundo os critérios acima. Se, ao socorrer alguém, você ficar pior que a pessoa, não há obrigação de socorrer. Se seu prejuízo foi menor, há a obrigação de socorrer.

Ao ver alguém se afogando, estando somente você por perto sem saber nadar, a pessoa pode estar em necessidade extrema, mas se tentar salvá-la, você entrará em igual necessidade. Não há obrigação moral de ajudá-la. Se para salvar a vida de alguém você tiver que dar a sua vida, não há obrigação moral.

Imagine a situação: um médico, que trabalha num hospital que faz atendimento público gratuito e atendimento conveniado, mas ele não tem liberação para atender na parte pública durante seu turno. Se chegar um paciente com grave risco de vida no atendimento público, esse médico tem a obrigação moral de atendê-lo, mesmo que incorra na sua demissão. Vale mais a vida do outro que o seu emprego. A situação do outro é extrema. A sua é grave.

Situações graves existem o tempo todo. Esse julgamento se faz quando a situação chega até você. Não é necessário sair procurando esses casos, pois poderão o levar à ruína.

Esse discernimento nos ajuda a gerir bem os sentimentos de culpa inúteis, os quais nutrimos muitas vezes.



Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/confissao/quais-situacoes-vivemos-no-dia-a-dia-sao-consideradas-pecaminosas/


7 de março de 2022

Como crescer na virtude da paciência?


Há muita gente que se orgulha dos vícios que possui e fala das virtudes como motivo de vergonha.

"Eu sou teimoso mesmo. Se sei que estou certo, não me dobro, vou até o fim na minha opinião."

"Gato escaldado tem medo de água fria. Eu mesmo não confio em ninguém."

"Fulano é um coitado. O povo abusa da bondade dele e ele sempre perdoa. Pise no meu calo para ver. Podem se passar dez anos que eu não esqueço."

Como crescer na virtude da paciência

Foto Ilustrativa: splendens by Getty Images / cancaonova.com

A falta de paciência

Muito possivelmente a paciência seja a virtude que mais sofra com isso. Nas redes sociais, nos filmes, nas conversas cotidianas, a falta de paciência – seja para lidar com as pessoas, seja para esperar por algo – é exaltada como própria das pessoas de personalidade, de iniciativa, gente forte e firme, o "líder da matilha", que resolve e "bota a coisa para andar".

"Eu não tenho paciência mesmo! Canso de brigar na fila do banco quando passa dos dez minutos."

"Detesto trabalho em grupo, porque não tenho paciência para esperar pelo outro. Aí vou e faço tudo sozinho."

Ser paciente é ser fraco, frágil, sem energia, coisa de quem se deixa conduzir pela vida e pelos outros, de quem não tem personalidade. Nada mais distante da verdade! Como é regra, o que é sabedoria para o mundo é loucura para Deus e vice-versa.

Exemplos de paciência

São Paulo coloca a paciência como o primeiro dos atributos do amor no famoso hino do capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios; Santa Teresa d'Ávila escreveu que "a paciência tudo alcança" e Santo Agostinho disse que "não há lugar para a sabedoria onde não há paciência"; São Gregório Magno disse que "todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela paciência" e Santo Antônio disse que "a paciência é o baluarte da alma, ela a fortifica e defende de toda perturbação".

Para encerrarmos os exemplos dos santos, vale refletir sobre o belíssimo exemplo de São Francisco de Sales, conhecido pela sua mansidão e paciência. Depois da sua morte descobriram que sua mesa de trabalho estava toda arranhada por baixo, porque seu temperamento era forte e ele preferia arranhar a mesa a responder sem mansidão e perder a paciência com as pessoas.


Seja firme para suportar

Você quer ser paciente? A receita é simples, mas demorada: a cada provação que vier, a cada pessoa irritante que aparecer, a cada demora de Deus, decida suportar com amor, decida ser paciente POR CAUSA DE CRISTO.

É o motivo sobrenatural que muda tudo.

Quem cultiva a virtude da paciência tendo como motivo relacionar-se bem com as pessoas, ser educado, exercer bem seu trabalho ou qualquer outra razão humana, tornar-se-á paciente após um longo treinamento, mas sempre haverá um estopim, um limite após o qual a pessoa considerará justo "perder a paciência". É aquela mãe que suporta a teimosia e a malcriação do filho pequeno, mas que depois de um certo tempo perde a compostura e deixa-se levar pela ira, ou o atendente de telemarketing que estabeleceu como limite para si um certo número de ofensas recebidas por dia e, depois de ultrapassado o limite, muda a sua forma de se comunicar com os clientes, tornando-se mais áspero e deixando de lado a boa vontade.

Seja como os santos: alcance a virtude da paciência

Se você realmente quer se tornar uma pessoa paciente, faça todo o necessário, vença a si mesmo, sua ira, sua pressa, por causa de Cristo. Quem busca as virtudes, sejam elas quais forem, por amor a Cristo, crescerão até o inimaginável, além daquilo que seria impossível para qualquer pessoa. Foi isso que viveram os santos: eles alcançaram heroísmo nas virtudes por conta do muito amor que tinham por Jesus. Olhando para a paciência de Cristo, buscaram eles mesmos suportar com paciência todos os reveses e provações, todas as dores e humilhações.

Você pode começar isso hoje, agora mesmo. "Engatilhe" um ato de paciência. Prepare-se para responder com mansidão quando sua paciência for provada da próxima vez. Não se preocupe, não vai demorar. Quando isso acontecer, prepare-se novamente, pedindo a graça a Deus, suplicando ao Senhor que lhe de forças para ser paciente, que por amor a Jesus Cristo você suporte com paciência o que vier a perturbar sua vida naquele dia.

Repita o ato de paciência e renove a motivação – por amor a Jesus Cristo – quantas vezes por dia forem necessárias. Faça isso todos os dias até o fim de sua vida.

Este é o segredo dos santos.



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/como-crescer-na-virtude-da-paciencia/


4 de março de 2022

Entre o nascer do pó e o voltar para ele, vivamos no Espírito!


A liturgia do tempo quaresmal é, sem dúvidas, dentre as liturgias celebradas no ano, a mais rica e profunda que a Santa Igreja oferta aos seus fiéis. Além disso, é o convite mais amoroso de um Deus apaixonado por Sua criação e, de modo particular, pela obra-prima da criação: o ser humano. É o Senhor nos atraindo a adentrar os santos mistérios da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Trata-se de um período profundo para fazer de nós, homens e mulheres, profundos na espiritualidade e humanidade.

Todo e qualquer convite feito por Jesus e por Sua Igreja não é para assistirmos, como se o que estamos lendo, vendo ou celebrando só servisse para mera observância. Definitivamente, não! Em matéria de vida cristã, somos convidados ao pleno envolvimento com o Reino de Deus.

Entre o nascer do pó e o voltar ao pó, viva no Espírito

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Se, na Quarta-feira de Cinzas, você entrou na fila para receber as cinzas pelas mãos de um sacerdote ou um ministro destacado por ele, além de marcar sua fronte com o sinal da cruz, você ouviu uma dessas frases: "Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc.1,15) ou "Lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás de voltar" (Gn 3, 19), tanto uma quanto a outra nos chamam a relembrarmos nossa fragilidade humana e a urgência de nosso retorno à vontade de Deus.

Nossas fragilidades não nos impedem de avançar na vida da graça

Sim, somos comprovadamente limitados. E por maiores que sejam nossas conquistas nesta Terra, é justamente porque temos limites que dependemos do favor divino. Deus faz uso também da generosidade humana para nos mostrar que sozinhos pouco avançamos. Você já deve, como eu, ter ouvido monsenhor Jonas dizendo: "ninguém é bom sozinho". Que saudável limitação.

Porém, quantas vezes nos detemos em avançar quando nossas fragilidades nos confrontam? Pare um pouco para pensar se suas fragilidades tem lhe motivado a prosseguir ou se o estagnaram. Se o estagnaram, você precisa reconsiderar o significado delas em sua vida. Porque nossas limitações existem, mas usar delas como desculpa para não evoluirmos, soa como covardia. E covardia não combina com quem se declara ser de Deus!


Certa vez, o Apóstolo Paulo, identificando uma de suas fragilidades, ergueu um pedido ao Senhor: "Tirai esse espinho de minha carne. Mas o Senhor respondeu: Basta-te a Minha Graça, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente." (cf.2Cor.12,8-9).

Tal pedido Paulo o fez por três vezes ao Senhor, e a resposta nas três vezes foi a mesma. Era Cristo fazendo seu Apóstolo enxergar que há uma força interior que nos coloca em movimento mesmo com nossas debilidades. Caro irmão, a mesma Graça que sustentou Paulo sustentará você. Em cada um de nós existem "espinhos", mas a dor não consegue parar os agraciados.

Viva segundo o Espírito

Quando Deus criou o homem fez uso do pó, mas introduziu Sua essência ao soprar nas narinas do homem. Isso significa que nascemos sim do pó e a ele voltaremos, mas entre o nascer dele e o voltar para ele existe um intervalo. Então, é justamente esse intervalo o período mais importante da nossa existência. É nele que decidimos quem seremos, o que faremos, se queremos ser participantes da Igreja triunfante. Esse intervalo para nós é um convite divino aguardando nossa resposta, e no vocabulário do céu ele se chama: vida no Espírito Santo!

O intervalo é o tempo mais precioso que possuímos. É ele que comprova se você está atingindo a estatura de Cristo ou não. O que você está fazendo em seu intervalo?

Temos na vida dos santos a inspiração que precisamos para buscar viver no Espírito. Encerro este artigo na certeza de que você aceitará a santa proposta de viver por Cristo, como Cristo e em Cristo para que, ao fim de sua Quaresma, no terceiro dia, ressuscite com Ele.



Evandro Nunes

Membro da Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro (SP), Evandro Nunes tem se dedicado à vida missionária desde 2010, exercendo o Ministério da Pregação em todo o Brasil e no exterior. Casado, Nunes também é autor dos livros "Do Céu para você" e "Se Tu queres Senhor, eu quero", ambos lançados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/entre-o-nascer-do-po-e-o-voltar-para-ele-vivamos-no-espirito/