9 de março de 2022

Quais situações vivemos, no dia a dia, são consideradas pecaminosas?


Continuando nossa série de textos voltados para o sacramento da confissão, após ter meditado, nas semanas anteriores, sobre o que é o pecado, como saber se pecamos, a distinção entre os graves e veniais, e os elementos do sacramento da confissão, vamos, agora, tratar das ocasiões que em si são pecaminosas, mas cujas práticas são lícitas, dependendo da situação. Aliás, às vezes, seremos obrigados a praticá-las.

Existem dois tipos de cooperação com o mal: formal e material.

A cooperação formal ocorre quando, para executar um ato mau, precisamos fazer um outro ato mau primeiro. Por exemplo: assaltantes fazem um plano para assaltar um banco, mas, para isso, eles abordam você primeiro e o obrigam a matar o guarda. Matar o guarda, que é um mal em si, é condição para fazer um outro ato mau: assaltar o banco. Matar o guarda é a cooperação formal com o mal de assaltar o banco.

Foto Ilustrativa: Bertlmann by Getty Images

Situações pecaminosas e os tipos de cooperação

A cooperação material seria uma ação que, em si, não é má ainda, mas ela poderá conduzir à execução de um ato mal posterior. Daí, ela se torna má, dependendo da ação seguinte. Ainda no assalto ao banco, em vez de ter de matar o guarda, os assaltantes o obrigam a abrir a porta para eles entrarem. Abrir a porta em si não é um mal.

A cooperação material pode se dividir em dois tipos: necessária e indiferente.

A cooperação necessária, ainda no caso do assalto ao banco, seria quando só você tem a chave para abrir a porta. A indiferente seria quando, você, sendo o assaltante, obriga a outro a abrir a porta. Se a pessoa se recusar a abri-la, tendo a possibilidade, você a abre do mesmo jeito. O assalto acontece de qualquer modo, alguém abrindo ou não a porta.

Com o tempo de auto-observação, esse discernimento se torna muito rápido, mas é preciso começar a meditar sempre que tiver diante de si a questão: aquilo que estão pedindo para eu fazer é cooperação com o mal? Formal ou material? Se for material, é necessário ou indiferente?

Situações de pecado

Quando a cooperação for formal, você nunca poderá aceitar, mesmo que seja preciso enfrentar a morte. Você não pode cooperar em caso nenhum!

Quando é material, tem de avaliar o dano que você pode sofrer caso haja a recusa. Dependendo do dano, se for muito grande, você deve cooperar. Se for igual, pode cooperar ou não. Se for menor, deve recusar cooperar, supondo que a cooperação seja necessária.

Por exemplo: Você é refém de um grupo de assaltantes que o mandam ir na frente deles a um banco e matar o guarda. Isso é cooperação formal. Você não pode matar o guarda. Se eles disserem que vão matar você e depois vão matar o guarda, mesmo assim você não pode cooperar. Você não pode matar um inocente, mesmo que seja pelo bem da própria vida. O que vai acontecer em diante, cada qual responderá diante de Deus.

Agora, se o caso for somente um "abrir a porta", nesse caso, você pode abrir a porta. Sua vida vale mais do que qualquer dinheiro que tenha em um banco. Mesmo que, ao abrir a porta, os assaltantes matem alguém no banco, isso não é certeza, pois pode também acontecer de não haver morte.

Se lhe pedirem para abrir uma porta, para que possam matar alguém ali dentro, e você não a abrir, na hipótese de que o máximo que vai lhe acontecer seja uma surra, não se deve abrir a porta, pois levar uma surra é menor que a cooperação com a morte de alguém. Se o caso for o exato contrário, você deve abrir a porta.

A prática do bem

É preciso crescer na virtude da prudência, porque, mesmo que seja para a prática do bem, é preciso discernimento para que não venha a ter complicações sérias para si, que podem acarretar em mal moral.

Existe para isso a ordem da caridade. São elas:

Necessidade extrema: englobam os casos de vida ou morte de outro ou a própria.
Necessidade grave: são situações em que a sua ação poderá incorrer em problemas sérios para si. Algum grave prejuízo ou sua morte, desemprego, perda de tudo.
Necessidade leve: são situações que incorrem em prejuízos leves para si.


Exemplos

Quando você não tem obrigação de ofício e encontra uma pessoa em uma situação difícil, é preciso julgar segundo os critérios acima. Se, ao socorrer alguém, você ficar pior que a pessoa, não há obrigação de socorrer. Se seu prejuízo foi menor, há a obrigação de socorrer.

Ao ver alguém se afogando, estando somente você por perto sem saber nadar, a pessoa pode estar em necessidade extrema, mas se tentar salvá-la, você entrará em igual necessidade. Não há obrigação moral de ajudá-la. Se para salvar a vida de alguém você tiver que dar a sua vida, não há obrigação moral.

Imagine a situação: um médico, que trabalha num hospital que faz atendimento público gratuito e atendimento conveniado, mas ele não tem liberação para atender na parte pública durante seu turno. Se chegar um paciente com grave risco de vida no atendimento público, esse médico tem a obrigação moral de atendê-lo, mesmo que incorra na sua demissão. Vale mais a vida do outro que o seu emprego. A situação do outro é extrema. A sua é grave.

Situações graves existem o tempo todo. Esse julgamento se faz quando a situação chega até você. Não é necessário sair procurando esses casos, pois poderão o levar à ruína.

Esse discernimento nos ajuda a gerir bem os sentimentos de culpa inúteis, os quais nutrimos muitas vezes.



Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/confissao/quais-situacoes-vivemos-no-dia-a-dia-sao-consideradas-pecaminosas/


7 de março de 2022

Como crescer na virtude da paciência?


Há muita gente que se orgulha dos vícios que possui e fala das virtudes como motivo de vergonha.

"Eu sou teimoso mesmo. Se sei que estou certo, não me dobro, vou até o fim na minha opinião."

"Gato escaldado tem medo de água fria. Eu mesmo não confio em ninguém."

"Fulano é um coitado. O povo abusa da bondade dele e ele sempre perdoa. Pise no meu calo para ver. Podem se passar dez anos que eu não esqueço."

Como crescer na virtude da paciência

Foto Ilustrativa: splendens by Getty Images / cancaonova.com

A falta de paciência

Muito possivelmente a paciência seja a virtude que mais sofra com isso. Nas redes sociais, nos filmes, nas conversas cotidianas, a falta de paciência – seja para lidar com as pessoas, seja para esperar por algo – é exaltada como própria das pessoas de personalidade, de iniciativa, gente forte e firme, o "líder da matilha", que resolve e "bota a coisa para andar".

"Eu não tenho paciência mesmo! Canso de brigar na fila do banco quando passa dos dez minutos."

"Detesto trabalho em grupo, porque não tenho paciência para esperar pelo outro. Aí vou e faço tudo sozinho."

Ser paciente é ser fraco, frágil, sem energia, coisa de quem se deixa conduzir pela vida e pelos outros, de quem não tem personalidade. Nada mais distante da verdade! Como é regra, o que é sabedoria para o mundo é loucura para Deus e vice-versa.

Exemplos de paciência

São Paulo coloca a paciência como o primeiro dos atributos do amor no famoso hino do capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios; Santa Teresa d'Ávila escreveu que "a paciência tudo alcança" e Santo Agostinho disse que "não há lugar para a sabedoria onde não há paciência"; São Gregório Magno disse que "todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela paciência" e Santo Antônio disse que "a paciência é o baluarte da alma, ela a fortifica e defende de toda perturbação".

Para encerrarmos os exemplos dos santos, vale refletir sobre o belíssimo exemplo de São Francisco de Sales, conhecido pela sua mansidão e paciência. Depois da sua morte descobriram que sua mesa de trabalho estava toda arranhada por baixo, porque seu temperamento era forte e ele preferia arranhar a mesa a responder sem mansidão e perder a paciência com as pessoas.


Seja firme para suportar

Você quer ser paciente? A receita é simples, mas demorada: a cada provação que vier, a cada pessoa irritante que aparecer, a cada demora de Deus, decida suportar com amor, decida ser paciente POR CAUSA DE CRISTO.

É o motivo sobrenatural que muda tudo.

Quem cultiva a virtude da paciência tendo como motivo relacionar-se bem com as pessoas, ser educado, exercer bem seu trabalho ou qualquer outra razão humana, tornar-se-á paciente após um longo treinamento, mas sempre haverá um estopim, um limite após o qual a pessoa considerará justo "perder a paciência". É aquela mãe que suporta a teimosia e a malcriação do filho pequeno, mas que depois de um certo tempo perde a compostura e deixa-se levar pela ira, ou o atendente de telemarketing que estabeleceu como limite para si um certo número de ofensas recebidas por dia e, depois de ultrapassado o limite, muda a sua forma de se comunicar com os clientes, tornando-se mais áspero e deixando de lado a boa vontade.

Seja como os santos: alcance a virtude da paciência

Se você realmente quer se tornar uma pessoa paciente, faça todo o necessário, vença a si mesmo, sua ira, sua pressa, por causa de Cristo. Quem busca as virtudes, sejam elas quais forem, por amor a Cristo, crescerão até o inimaginável, além daquilo que seria impossível para qualquer pessoa. Foi isso que viveram os santos: eles alcançaram heroísmo nas virtudes por conta do muito amor que tinham por Jesus. Olhando para a paciência de Cristo, buscaram eles mesmos suportar com paciência todos os reveses e provações, todas as dores e humilhações.

Você pode começar isso hoje, agora mesmo. "Engatilhe" um ato de paciência. Prepare-se para responder com mansidão quando sua paciência for provada da próxima vez. Não se preocupe, não vai demorar. Quando isso acontecer, prepare-se novamente, pedindo a graça a Deus, suplicando ao Senhor que lhe de forças para ser paciente, que por amor a Jesus Cristo você suporte com paciência o que vier a perturbar sua vida naquele dia.

Repita o ato de paciência e renove a motivação – por amor a Jesus Cristo – quantas vezes por dia forem necessárias. Faça isso todos os dias até o fim de sua vida.

Este é o segredo dos santos.



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/como-crescer-na-virtude-da-paciencia/


4 de março de 2022

Entre o nascer do pó e o voltar para ele, vivamos no Espírito!


A liturgia do tempo quaresmal é, sem dúvidas, dentre as liturgias celebradas no ano, a mais rica e profunda que a Santa Igreja oferta aos seus fiéis. Além disso, é o convite mais amoroso de um Deus apaixonado por Sua criação e, de modo particular, pela obra-prima da criação: o ser humano. É o Senhor nos atraindo a adentrar os santos mistérios da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Trata-se de um período profundo para fazer de nós, homens e mulheres, profundos na espiritualidade e humanidade.

Todo e qualquer convite feito por Jesus e por Sua Igreja não é para assistirmos, como se o que estamos lendo, vendo ou celebrando só servisse para mera observância. Definitivamente, não! Em matéria de vida cristã, somos convidados ao pleno envolvimento com o Reino de Deus.

Entre o nascer do pó e o voltar ao pó, viva no Espírito

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Se, na Quarta-feira de Cinzas, você entrou na fila para receber as cinzas pelas mãos de um sacerdote ou um ministro destacado por ele, além de marcar sua fronte com o sinal da cruz, você ouviu uma dessas frases: "Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc.1,15) ou "Lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás de voltar" (Gn 3, 19), tanto uma quanto a outra nos chamam a relembrarmos nossa fragilidade humana e a urgência de nosso retorno à vontade de Deus.

Nossas fragilidades não nos impedem de avançar na vida da graça

Sim, somos comprovadamente limitados. E por maiores que sejam nossas conquistas nesta Terra, é justamente porque temos limites que dependemos do favor divino. Deus faz uso também da generosidade humana para nos mostrar que sozinhos pouco avançamos. Você já deve, como eu, ter ouvido monsenhor Jonas dizendo: "ninguém é bom sozinho". Que saudável limitação.

Porém, quantas vezes nos detemos em avançar quando nossas fragilidades nos confrontam? Pare um pouco para pensar se suas fragilidades tem lhe motivado a prosseguir ou se o estagnaram. Se o estagnaram, você precisa reconsiderar o significado delas em sua vida. Porque nossas limitações existem, mas usar delas como desculpa para não evoluirmos, soa como covardia. E covardia não combina com quem se declara ser de Deus!


Certa vez, o Apóstolo Paulo, identificando uma de suas fragilidades, ergueu um pedido ao Senhor: "Tirai esse espinho de minha carne. Mas o Senhor respondeu: Basta-te a Minha Graça, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente." (cf.2Cor.12,8-9).

Tal pedido Paulo o fez por três vezes ao Senhor, e a resposta nas três vezes foi a mesma. Era Cristo fazendo seu Apóstolo enxergar que há uma força interior que nos coloca em movimento mesmo com nossas debilidades. Caro irmão, a mesma Graça que sustentou Paulo sustentará você. Em cada um de nós existem "espinhos", mas a dor não consegue parar os agraciados.

Viva segundo o Espírito

Quando Deus criou o homem fez uso do pó, mas introduziu Sua essência ao soprar nas narinas do homem. Isso significa que nascemos sim do pó e a ele voltaremos, mas entre o nascer dele e o voltar para ele existe um intervalo. Então, é justamente esse intervalo o período mais importante da nossa existência. É nele que decidimos quem seremos, o que faremos, se queremos ser participantes da Igreja triunfante. Esse intervalo para nós é um convite divino aguardando nossa resposta, e no vocabulário do céu ele se chama: vida no Espírito Santo!

O intervalo é o tempo mais precioso que possuímos. É ele que comprova se você está atingindo a estatura de Cristo ou não. O que você está fazendo em seu intervalo?

Temos na vida dos santos a inspiração que precisamos para buscar viver no Espírito. Encerro este artigo na certeza de que você aceitará a santa proposta de viver por Cristo, como Cristo e em Cristo para que, ao fim de sua Quaresma, no terceiro dia, ressuscite com Ele.



Evandro Nunes

Membro da Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro (SP), Evandro Nunes tem se dedicado à vida missionária desde 2010, exercendo o Ministério da Pregação em todo o Brasil e no exterior. Casado, Nunes também é autor dos livros "Do Céu para você" e "Se Tu queres Senhor, eu quero", ambos lançados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/entre-o-nascer-do-po-e-o-voltar-para-ele-vivamos-no-espirito/


2 de março de 2022

Como evitar que a ansiedade e o estresse gerem doenças físicas?


Conhecemos bem o estresse e a ansiedade, doenças psíquicas que têm aumentado sua incidência de forma vertiginosa. O ser humano tem virado refém de tais doenças por não saber lidar com as suas questões, como inseguranças, incertezas, cobranças, perfeccionismos, frustrações e tantas outras coisas.

-Como-evitar-que-a-ansiedade-e-o-estresse-gerem-doenças-físicas-

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Confira algumas dicas para identificar a ansiedade

Vamos, então, abordar alguns pontos que podem evitar o desenvolvimento patológico da ansiedade e do estresse, compreendendo, a grosso modo, que ansiedade todos nós a temos, mas vira doença quando aumentada. Então, o que você acredita ser um auxílio para evitar tais doenças?

1) Saber identificar quando estou em uma crise de ansiedade

Isso engloba fortes pensamentos e reações físicas como dor de barriga, taquicardia, respiração ofegante, falta de ar, dormência, sensação de descontrole dentre outras reações. É importante saber quando se está em crise, para poder perceber que você não é a ansiedade 24 horas, mas que está ansioso e que todas essas reações vão passar em alguns minutos.

2) Observar quais situações geram ansiedade

A essa situação damos o nome de gatilho. O que tem disparado o gatilho da ansiedade? Um lugar, uma situação específica, o tom de voz, um olhar, uma determinada fala?

3) Que tipo de pensamentos invadem sua mente quando é ativado esse gatilho?

Normalmente, são pensamentos catastróficos (alguma coisa muito ruim vai acontecer, uma catástrofe!); leitura de pensamento (sei o que as outras pessoas estão pensando ou acredito que elas sabem o que estou pensando); pensamento "e se" (fico o tempo todo pensando "e se isso acontecer?". E, raramente, fico satisfeito com a resposta que dou). Pensamento "deveria" (interpreto os acontecimentos em termos de como as coisas deveriam ser e do que eu deveria fazer em vez de como as coisas são e do que posso fazer agora ou no futuro. Pensamentos generalistas (generaliza a vida a partir de um fato ou uma situação). É claro que podem surgir outras formas de pensamentos, mas citei os mais comuns para os ansiosos.


4) Depois de identificar o que ativa sua ansiedade e os pensamentos que o assaltam

É preciso questioná-los, pois eles podem não ser uma verdade absoluta. É preciso questionar e buscar a resposta real para cada situação. Por exemplo: uma pessoa vai viajar e fica ansiosa, pois isso gera um pensamento catastrófico ("vou sofrer um acidente e vou morrer"). Como questionar esse pensamento, que me parece ser tão real?

Primeiro: você já sofreu acidente de carro? Se sim, você morreu? ("claro que não! Afinal, você está pensando em tudo isso agora e está bem vivinho!"). A pessoa que está dirigindo tem experiência? Ela já se envolveu em algum acidente? Qual a probabilidade de se envolver em algum acidente? São muitos os questionamentos. Pode parecer cansativo, neste momento, mas eles são capazes de lhe mostrar que não existem motivos reais para estar sofrendo dessa maneira e com essa intensidade.

É sempre importante ressaltar que o que gera as doenças psíquicas são as formas distorcidas de pensar. Por isso, é preciso verificar até onde os pensamentos estão funcionais ou disfuncionais. Caso já esteja com sintomas de ansiedade aumentado e pensamentos disfuncionais que o dominam, será necessário procurar um psicólogo, para que ele o ajude a fazer um melhor caminho de equilíbrio interior. Olhe para você, agora, e avalie até onde você dá conta de caminhar sozinho e controlar os seus pensamentos ou até onde eles, os pensamentos, o dominam.


Aline Rodrigues

Aline Rodrigues é missionária da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo. É psicóloga desde 2005, com especializações na área clínica e empresarial e pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental. Possui experiência profissional tanto em atendimento clínico, quanto empresarial e docência. Autora do livro "Conversando sobre ansiedade: aprenda a vencer os seus limites", pela Editora Canção Nova. Instagram: @alinerodrigues.ss


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/como-evitar-que-a-ansiedade-e-o-estresse-gerem-doencas-fisicas/


28 de fevereiro de 2022

Não faça desta Quaresma apenas mais uma em sua vida


"Concedei-nos, ó Deus Todo-poderoso, iniciar, com este dia de jejum, o tempo da Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal."

A linda oração que abre este artigo trata-se de uma súplica entoada por toda a Igreja por ocasião da cerimônia de imposição das cinzas na Quarta-feira de Cinzas. Ela pode ser encontrada tanto no Missal quanto no Breviário Romano, e apresenta, com singular clareza, a tonalidade geral do Tempo Quaresmal: período de combate "contra o espírito do mal". Assim, a Quaresma pode ser concebida como a etapa, por excelência, de luta contra os espíritos malignos.

Se recorrermos à Palavra de Deus, perceberemos que, após o batismo de Jesus e antes de Sua vida pública, Ele se retirou para o deserto e lá permaneceu por 40 dias inteiros (cf. Mt 3;4). Sua permanência no deserto de nada possui um sentido de passividade, pelo contrário, lá, Jesus aniquilou todas as investidas do diabo. Ele jejuou, orou, combateu e triunfou sobre o mal. Com o seu exemplo, mostrou àqueles que seriam seus seguidores, o modo de combater. Por isso, durante a Quaresma, com todo esmero, devemos observar a prática do jejum e a luta cotidiana contra o diabo que se manifesta, dia e noite, por meio das tentações: pensamentos maldosos, momentos de raiva, julgamentos, maledicências (…).

Não faça desta Quaresma apenas mais uma em sua vida

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como surgiu o período da Quaresma?

Desde os primeiros séculos do cristianismo, havia o costume de se fazer um curto período de jejum antes da Solenidade da Páscoa com um sentido de preparação para essa significativa celebração cristã. Aos poucos, esse curto período de tempo foi se estendendo e deu origem ao período da Quaresma como se tem hoje.

Esse tempo privilegiado da Quaresma se estende por cinco semanas. Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas e encerra-se na Quinta-feira Santa, antes da Missa da Ceia do Senhor (exclusive). O número de dias da Quaresma não se relaciona apenas com os 40 dias que Jesus esteve no deserto. É associado também a muitas outras passagens bíblicas como os 40 dias e as 40 noites do dilúvio (cf. Gn 7, 12); os anos em que o povo hebreu perambulou no deserto (cf. Nm 14, 33) dentre muitas outras passagens.


É tempo de exercícios espirituais

Assim como todas as sextas-feiras do ano, a Quaresma é um período próprio para os exercícios espirituais. Tempo de penitência, privações voluntárias como o jejum e a esmola; abstinências e outras formas de mortificação; orações, leitura e meditação das escrituras. Período, acima de tudo, para exercitar a caridade (cf. CIC 1438).

Todos esses importantes exercícios espirituais não devem ser vistos como um peso, senão, como um extraordinário meio de purificação. Eles auxiliam os fiéis a recordarem que o pecado traz gravíssimas consequências para todo o Corpo Místico de Cristo, sendo assim, um período propício para detestar o pecado e levar a todos às obras de misericórdia, ao Sacramento da Reconciliação e à Eucaristia.

Em suma, durante a Quaresma, cada fiel, na intenção da Igreja, deve aproximar-se um pouco mais daquele tipo de vida cristã mais perfeita, experimentada pelos ascetas e pelos santos. Não viva, caríssimo internauta, esse tempo de qualquer maneira. Que esta não seja apenas mais uma Quaresma de nossa vida.

Para concluir este artigo, gostaria de deixar uma estrofe de um hino rezado por toda a Igreja nesse Tempo Quaresmal durante o ofício das leituras dos dias de semana:

Agora é tempo favorável,
divino dom da Providência
para curar o mundo enfermo
com um remédio, a penitência.

Deus abençoe você e até a próxima!


 


Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/nao-faca-dessa-quaresma-apenas-mais-uma-em-sua-vida/


23 de fevereiro de 2022

O céu e o inferno existem. Onde nós merecemos estar?


Dois temas comumente evitados na vivência da nossa fé são o céu e o inferno, mas deste último fala-se ainda menos. Às vezes, tem-se a impressão de que todos os caminhos levam ao céu. Não importa o que façamos, não importa como vivamos nossa vida, parece que sempre haverá um jeitinho de escapar da larga estrada que conduz à perdição. Mas não é isso o que Nosso Senhor nos ensina: "Lutai para entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos tentarão e não conseguirão".

Infelizmente, a maioria de nós vive como se o inferno não existisse, como se não houvesse consequências para as nossas ações. Ainda que sejamos mentirosos, invejosos, orgulhosos, adúlteros e ladrões, Deus nos acolherá em Sua presença, desde que invoquemos e exaltemos seu Santo Nome. Mais uma vez é o próprio Jesus que nos corrige: "Nem todo aquele que me disser: Senhor, Senhor! entrará no reino de Deus, mas aquele que cumprir a vontade de meu Pai do céu".

O-céu-e-o-inferno-existem-Onde-nós-merecemos-estar

Você pensa sobre o céu e o inferno?

Mais do que crer no inferno, precisamos meditar sobre ele, sobre o que significa ser condenado. Lá, como ensina Santo Afonso Maria de Ligório, "passarão todos os séculos e o inferno estará em seu princípio". Nem conseguimos imaginar o que é sofrer suplícios eternos, ver passar o tempo em meio às penas e não ter esperança de que elas cessarão. O alerta de São João da Cruz, de que "por causa de prazeres passageiros, sofrem-se grandes tormentos eternos", serve para todos nós.

Um passo adiante nessa meditação é pensar quantas vezes já merecemos o inferno. Conta-se que alguns santos nunca pecaram mortalmente, mas acredito que isso seja uma condição excepcionalíssima. Sei que eu já incorri incontáveis vezes em pecado mortal e talvez seja essa a sua situação. Se já me confessei e fui absolvido, de que serve pensar nisso? Para reconhecer o amor e a misericórdia de Deus para conosco: "Louvado sejas, Senhor, pois diversas vezes mereci o inferno, mas vós não me precipitastes nele, dando-me novas chances de me emendar".

Se o inferno é um tema que pouco aparece na nossa vida espiritual, não é menos verdade que temos enorme dificuldade para pensar sobre o céu, o paraíso. Como somos governados pelos sentidos, toda representação que se vê do céu tende a se basear neles. Ocorre que como esse mundo é o império dos sentidos, não dá para o céu "concorrer" com os prazeres sensuais que já encontramos aqui na terra. Será possível encontrar no paraíso alguma comida que satisfaça mais o nosso paladar do que aquelas que já encontramos nos banquetes de que participamos? O mesmo pode se dizer dos aromas, dos sons, das belas imagens e do tato. Nosso mundo é especialista em agradar os sentidos, então toda representação mundana do céu parece boba, sem graça, chata, a ponto de parecer mais "legal" ir para o inferno, onde há mais "agitação".


Como é entrar no céu?

Deveríamos sair dessa dimensão superficial e meditar sobre o que realmente significa entrar no céu. Isso, contudo, não é fácil. Tanto é assim que Jesus sempre recorreu a muitas imagens para descrever o Reino dos céus: um tesouro escondido no campo, uma rede lançada ao mar, uma pérola preciosa, o fermento sobre a massa, o grão de mostarda que cresce e se torna enorme…

Santo Afonso Maria de Ligório nos ajuda demais a imaginar que tipo de tesouro encontraremos no céu. Lá veremos, "a descoberto e sem véu, a beleza infinita de Deus, e é nisto que consistirá o gozo do bem-aventurado". Enquanto estamos nesse corpo mortal, somos incapazes de ver a Deus, porque nos prendem os nossos sentidos. Uma vez tirado esse véu, veremos, diz o santo, "o amor imenso que Deus nos mostrou em fazer-se homem e em sacrificar por amor a nós sua vida na Cruz". Finalmente conheceremos "o amor excessivo encerrado no mistério da Eucaristia: ver um Deus posto presente sob a espécie de pão e feito alimento de suas criaturas".

Pense na sua eternidade

Tudo o que nós virmos no céu nos fará conhecer a bondade infinita de Deus e nós como que seremos "submergidos no mar infinito da bondade divina". Não podemos nos perder no que nos dizem nossos sentidos, mas fiar-nos na promessa de Cristo, Nosso Senhor: "Vou preparar-vos um lugar".

Não perca tempo: reflita muito sobre a morte, o céu, o inferno, sobre seus pecados e pense que "tudo quanto se faça para evitar uma eternidade de penas é pouco, é nada". Por isso, exclame: "Eis-me aqui, Senhor: quero fazer tudo o que de mim quiserdes".



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/o-ceu-e-o-inferno-existem-onde-nos-merecemos-estar/


21 de fevereiro de 2022

A cura das nossas heranças espirituais


O nosso antepassado, durante muito tempo, foi marcado por situações dolorosas: a colonização do Brasil, a tortura, a escravidão, as senzalas, o feitorismo, dentre diversas outras. Trazemos todas essas marcas em nosso sangue.

Além das heranças materiais que recebemos de nossos pais e familiares – casas, dinheiro, fazendas –, trazemos também as heranças físicas (genéticas) e espirituais.

A Bíblia nos fala dessa herança espiritual e afirma que todos somos afetados tanto pelos erros quanto pelos acertos, mesmo que eles tenham sido realizados no passado, antes mesmo de nascermos. "Castigo a culpa dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam" (Ex 20,5b).

A consciência de que os erros cometidos por nossos antepassados influenciam diretamente a vida das gerações futuras sempre esteve presente. Os israelitas afirmavam: "Nossos pais, que pecaram, já morreram, e carregamos seus pecados"  (Lm 5,7). Deus não quer que o pecado seja perpetuado. Isso é uma consequência da infidelidade dos pais para com Ele, gerando, assim, situações dolorosas para seus filhos.

O profeta Daniel também reconhece a influência do pecado dos antepassados como origem dos males. Ele orou a Deus com as seguintes palavras: "Senhor, com toda a tua justiça, volta teu rosto, tem pena de Jerusalém, tua cidade, a tua Montanha Santa, pois, por causa de nossos crimes e dos pecados de nossos pais, Jerusalém e teu povo são hoje uma vergonha em todo o derredor"(Dn 9,16).

Uma vez que trazemos conosco estas heranças dos nossos antepassados, precisamos rezar pelos falecidos, pelas almas do purgatório. Se Deus é eterna pureza, no Céu não entrará nenhuma poeirinha. Todos nós vamos passar pelo purgatório. Por isso, a oração precisa ser constante, principalmente para os que estavam longe da graça de Deus. Jesus pediu isso para nós, mas somos muito displicentes em rezar pelos nossos mortos, pois lembramos deles somente no Dia de Finados.

Precisamos rezar pelos nossos avós, bisavós, tataravós, pela cura das gerações e por todo nosso antepassado.

A cura das nossas heranças espirituais

Foto ilustrativa: doidam10 by Getty Images

As más heranças precisam ser destruídas pelo poder da Palavra e da presença de Jesus

Precisamos destruir todas as más heranças que carregamos conosco: alcoolismo, prostituição, taras, adultério, miséria, pobreza, maldição, confusão, destruição nos casamentos. Isso não é terapia de vida passada, não é reencarnação. É o próprio catolicismo, dogma da Igreja Católica.

Quantas coisas eu, irmã Maria Eunice, fui descobrindo, e quantas graças me aconteceram depois que comecei a rezar pelas minhas heranças e meu antepassado. Eu rezo, pois a minha confiança está no Senhor que fez o Céu e a Terra.

A Palavra de Jesus rasga os nossos corações e tem o poder de curar, de libertar, de nos resgatar de  qualquer situação. Jesus vai a lugares onde as pessoas costumam pedir a Sua presença, onde bênçãos são semeadas.

É exatamente por isso que precisamos orar, pedir e professar palavras de bênçãos para os nossos filhos, para a nossa família. Se alguém nos maltrata, precisamos dizer: "Deus o abençoe".

Em minha casa, éramos catorze irmãos. Na hora de sair e na hora de dormir, era uma gritaria só: "Bença, mãe, bença, pai". Precisamos aprender a abençoar e não a amaldiçoar.

Palavras de bênção X Palavras de maldição

O Diabo aproveita situações muito simples para nos usar. São situações que aos nossos olhos podem parecer bobas, porém não são – as palavras que falamos sem pensar, os xingamentos, aquilo que declaramos quando estamos nervosos. As palavras são sementes que lançamos e plantamos, consequentemente, são as que colheremos. Se pronunciarmos palavras de maldição, a maldição virá. Se pronunciarmos palavras de bênçãos, as bênçãos virão.

Nós somos uma geração abençoada e precisamos fazer jus a essa graça. Precisamos pedir a Deus a graça de limpar nosso coração, quebrar as maldições em nossa família. Precisamos renunciar ao maligno, ao ocultismo, a satanás, em nosso nome, de nossa família e de nosso antepassado. Essa renúncia deve ser feita diante de Jesus, aliada à oração do credo:

"Creio em Deus Pai Todo-poderoso, criador do Céu e da Terra. E em Jesus Cristo, Seu único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja católica, na comunhão do santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém!"

O sangue de Cristo é o remédio

Nunca podemos esquecer também o quanto a oração do Pai-Nosso durante a Santa Missa é poderosa. A sua continuação diz: Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a Vossa paz. Ajudados pela Vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo na esperança, aguardamos a vinda de Cristo Salvador.

As maldições nos atingem e nos ferem, mas existem soluções; caso contrário, seríamos casos perdidos. Todos nós temos problemas, e para solucioná-los precisamos detectar o que se passou em nossa família, os pecados presentes em nossa árvore genealógica, em nossa geração passada. Se não buscarmos por soluções, daremos uma grande abertura para o demônio entrar em nossa vida.

Deus não sente prazer em amaldiçoar um filho, porque Ele é amor. Somos nós quem não observamos os Seus mandamentos. Sabe qual o remédio para as maldições? O Sangue de Jesus, derramado dois mil anos atrás e que perdura eternamente. Somos curados das maldições que nos afetam pela nossa em Jesus.

A fé é capaz de mover montanhas

Quando voltavam para junto da multidão, alguém aproximou-se de Jesus, caiu de joelhos e disse: "Senhor, tem compaixão do meu filho. Ele tem crises de epilepsia e passa mal. Muitas vezes cai no fogo ou na água. Levei-o aos teus discípulos, mas eles não conseguiram curá-lo!" Jesus tomou a palavra: "Ó geração sem fé e perversa! Até quando vou ficar convosco? Até quando vou suportar-vos? Trazei aqui o menino". Então Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino, que ficou curado a partir dessa hora. Então, os discípulos aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram em particular: "Por que nós não conseguimos expulsar o demônio?" Ele respondeu: "Por causa da fraqueza de vossa fé! Em verdade vos digo: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: 'Vai daqui para lá, e ela irá. Nada vos será impossível'" (Mt 17,14-21).

Jesus reprova a incredulidade daquele povo e nos traz, por meio dessa passagem, esse ensinamento: os milagres e libertações em nossa casa não acontecerão sem oração e sem fé.

Jesus curou os Seus discípulos do complexo de superioridade. Eles viviam discutindo quem era o maior, quem seria o maior. Jesus curou o coração dos dois discípulos de Emaús, que desciam decepcionados para sua aldeia. Qual decepção Deus precisa curar na nossa vida? Decepção com alguém? Com a Igreja? Com Jesus? Com as pessoas? Com a família? Com a nossa própria história? Essas decepções precisam ser perdoadas, curadas! O sentimento de derrota e decepção é uma poderosa arma para o demônio.

O perigo das decepções e da ingratidão

O demônio ataca e começa a trabalhar nas nossas decepções, inseguranças e nos nossos medos. Se estivermos curados, reconciliados com nossa história e pronunciarmos com fé: "Eu sou cristão", o demônio fugirá. Ele tem medo da Palavra de Deus.

Outro grande perigo para nós é a ingratidão. O Diabo gosta de pessoas ingratas, que reclamam de tudo. Quando falamos em batalha espiritual, a arma mais poderosa é a palavra. Quantas vezes falamos: "Eu morro de trabalhar e ganho pouco". Ou reclamamos: "Não tem o que comer nessa casa", quando os armários e geladeiras estão cheios de mantimentos. Isso é arma para o demônio! Reclamar é uma forma de amaldiçoar o próprio trabalho, o próprio sustento. No momento em que falamos que ganhamos pouco, aumentamos a nossa miséria.

Padre Léo dizia que o demônio (o "encardido") não é criativo. Apesar de ser "esperto", ele é repetitivo, nos pega pelos mesmos erros, pelos nossos mesmos defeitos, tentando impedir ou adiar a nossa conversão.

Não deixe para amanhã a sua conversão!

É como a história de Santo Expedito. Nosso santo guerreiro marcou a história por seu testemunho de vida. Mártir da fé, morreu decapitado em abril do ano 303, por ordem do imperador Diocleciano. Expedito era soldado romano, levava uma vida devassa, até que teve um marcante encontro com Deus. Tocado pela graça Divina, ele se converteu e mudou radicalmente de vida, mas também nessa ocasião teve início o seu sofrimento, ao ser tentado pelo inimigo da salvação dos homens, que quis ludibriá-lo. O espírito do mal apareceu diante dele em forma de corvo e lhe falou: "Crás! Crás! Crás!" – palavras latinas que querem dizer: "Amanhã! Amanhã! Amanhã!".

Eis a proposta do maligno para ele: "Deixe para amanhã. Não tenha pressa! Adie sua conversão!" Esse grande santo da Igreja, cansado daquela vida, não titubeou e pisoteou  o corvo, esmagando-o e gritando: "hodie!" – que quer dizer: "hoje!".

A grande armadilha do diabo contra nós é esta: convencer-nos a mudar de vida só amanhã. Ele sabe das nossas manias: deixamos a roupa para lavar amanhã, o armário para arrumar amanhã, deixamos a vida nova para amanhã.


Converta-se hoje!

Se algo quebrou, temos de consertar na hora. Aprendi com monsenhor Jonas Abib que não podemos deixar nada para o outro dia. Não podemos abrir brechas para o demônio entrar em nossa casa. Pode parecer bobeira, mas as coisas pequenas se tornam grandes. São coisas práticas  e da nossa vida particular, mas que precisam ser endireitadas. Pois se não as endireitarmos, elas se tornarão gigantes e piores.

É uma luta! Quanto mais a gente tenta se converter,  mais o demônio nos ataca de todas as formas. Nós, cristãos, temos o dever de reconhecer quais são essas formas. Talvez, seja pelo orgulho, pela ganância, pela ansiedade, pela bagunça que deixo para arrumar amanhã, pelas coisas que deixo de fazer por preguiça, pela nossa reclamação, pelos programas aos quais assisto na televisão e que não são agradáveis aos olhos de Deus.

Assim, como Santo Expedito, precisamos discernir de que maneira o inimigo de Deus quer nos atacar.

Trecho extraído do livro "Jesus, o amor que cura", de Irmã Maria Eunice


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/a-cura-das-nossas-herancas-espirituais/