10 de setembro de 2021

Qual é a diferença entre o professor e o educador?


"Professor é profissão. Educador é missão" (Salomão Becker).

Tenho de trazer uma dura, porém, uma pura verdade da docência: "todo educador é professor, mas nem todo professor é educador". Professor é uma profissão, enquanto que educador é mais do que isso, é dom, é missão, é vocação. Ressalto que, não é a intenção deste texto desmerecer ou diminuir o papel do professor, e sim diferenciar o educador do professor. Sabendo que ambos são fundamentais para o desenvolvimento intelectual e integral do aluno, inserindo-o na sociedade.

Qual a diferença entre o professor e o educador?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Professor x Educador

Imaginemos a seguinte situação: você fez a faculdade de Matemática, por exemplo, porque gosta dos números, da exatidão do "2 + 2 = 4", da complexidade da equação de 2º grau. Você pretendia seguir carreira na área de matemático, mas como opção de emprego, encontrou uma vaga numa escola de Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano.

Sendo assim, você elabora o seu Plano de Ensino de acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), prepara suas aulas, entra em sala de aula e desenvolve muito bem o seu papel. Além disso, você acompanha o desenvolvimento cognitivo dos seus alunos. Você sabe exatamente o aluno que é nota 10, o que é mediano, e sabe, ainda mais, os alunos que são abaixo da média.

No entanto, saber disso não interfere na sua metodologia, isto é, você continua elaborando suas aulas e desenvolvendo-as bem, mas não mudou o seu modo de agir. O caminho para atingir o objetivo do aprendizado eficiente continua o mesmo que você usava para a geração de alunos do ano 2005, sendo que estamos em outra década. Então, meu caro colega, você é professor por profissão e não educador por vocação.

O educador tem como vocação o dom de ensinar, e isso é natural nele

Você está, ali, para ensinar os componentes curriculares, para "dar conta do recado" e obter resultados razoáveis. Isso é ruim? Não! Afinal, é dever do professor levar o conhecimento intelectual (em suas várias vertentes) aos alunos. Porém, com o passar dos anos, a estafa tomará conta da sua rotina: as horas/aulas, as reuniões incontáveis de planejamento, de professores, pais e coordenadores da sua área de atuação etc.

O salário que, cá entre nós, sabemos não ser (nem de longe) o melhor que o professor mereça, começa a pesar duramente no bolso e nas atitudes. Você passa a lecionar de acordo com o valor que recebe. Um salário péssimo passará a ser sinônimo de uma aula ruim, e o seu engajamento como educador começará a se perder.

Não há mais motivação nem de onde as tirar, você tem especializações e cursos diversos, mas começa a bater um vazio, um esfriamento vocacional perceptível antes a você e depois aos que estão ao seu lado, inclusive seus alunos.

Cada aluno é uma vida a ser tecida

Já o educador tem como vocação o dom de ensinar, e isso é natural nele. Não que o salário e o reconhecimento não sejam importantes, no entanto, ele sabe que os que ali estão à espera do que ele tem a ensinar, não têm culpa do valor da hora/aula recebida por ele. Ele reconhece naqueles alunos muito mais do que médias e resultados satisfatórios. O educador sabe que, ali, naquela sala de trinta e poucos alunos, cada um é uma vida a ser tecida. Ele sabe da importância que ele tem para a vida daqueles, e isso já lhe basta.


Independente das características individuais de cada aluno, ele consegue diagnosticar em cada um sua melhor habilidade, qual a sua competência; e a partir desse "diagnóstico", inicia um novo método de ensino-aprendizagem, de fato, eficiente. Alguns podem dizer que é utopia, que isso é impossível, porém, tenho absoluta certeza de que você conhece algum colega professor que, ao entrar em uma sala de aula, é recebido com tanto entusiasmo pelos alunos, e esses ficam atentos à aula dele de maneira nunca vista com outro professor; então, esse professor é também educador.

O educador enxerga sempre o melhor

Faça uma reflexão: Quantos professores marcaram a sua vida? Lembre-se do nome de, pelo menos, um. Agora, esse mesmo professor marcou a sua vida de modo positivo ou negativo? Se a sua resposta foi "de modo positivo", então, você teve um educador na sua vida. E quanta sorte você teve!

Sei que, no atual contexto educacional do nosso país, onde os professores não têm o devido reconhecimento necessário, é muito difícil ser educador quanto se tem tudo para ser um professor e ponto. Mas se você consegue enxergar além dos "erros" do seu aluno, não os vê como obstáculos para o aprendizado, e sim como base para um novo aprendizado, reconhecendo que um aluno feliz com ele mesmo aprende mais e melhor, seja bem-vindo ao mundo dos educadores, que enxergam uma grande esperança nos alunos.

Educar vai além de ensinar a ler e escrever, de ensinar continhas de mais e menos. Educar é adentrar-se na vida do aluno e ali enxergar bondade, inteligência, múltiplas habilidades. E até mesmo naquele aluno que todos dizem "não ter solução", o educador enxerga o melhor.

O educador é, muitas vezes, a única referência boa de vida para os alunos

O educador alfabetiza, mas também ensina o aluno a fazer a "leitura de mundo". O ensina a enxergar nas entrelinhas de sua própria vida e da história da sociedade. O educador zela pela sua vocação; e mesmo faltando recursos, sobrecarregado de burocracias, ele não deixa a "peteca cair". Ele entra na sala de aula disposto a dar o melhor de si, porque sabe que, na vida de muitos alunos, ele é o único exemplo bom, pois ele é, muitas vezes, a única referência boa que os alunos têm.

Cada aluno que passa pelas mãos de um educador não sai o mesmo. Porque o educador tem o dom de semear nos terrenos mais inférteis e, dali, receber e distribuir as mais lindas sementes. Fica um pouco dele em cada aluno, e ele também aprende, além disso, é semeado em seu coração mais humanidade, mais amor e compreensão.

"Professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão, é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança" ( Rubem Alves).

Marcília Ferrer, professora


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/educacao/qual-e-diferenca-entre-o-professor-e-o-educador/


8 de setembro de 2021

Não faça da Igreja uma aspirina


Caro internauta, no início deste artigo, gostaria de fazer uma espécie de dinâmica com você. Nas próximas linhas, farei algumas perguntas e quero que você as responda uma a uma. Não passe para a próxima pergunta sem responder, ainda que interiormente, a anterior, ok?

Pergunta 1: O que você faria se aquela enxaqueca terrível te abraçasse no momento mais impróprio?

Pergunta 2: Cólica é outro problema sério, especialmente para as mulheres no período menstrual. O que você faria se, por acaso, ela lhe apresentasse neste momento?

Pergunta 3: Tão desagradável quanto a cólica é aquilo que os mineiros denominam de "piriri gangorra", quer dizer, o intestino extremamente solto. Intestino solto e compromisso inadiável são duas situações que não combinam. Pense: o que você faria se estivesse nessa situação?

Não faça da Igreja uma aspirina

Foto Ilustrativa: ilbusca by Getty Images

Você gosta de tomar aspirina ou remédios para aliviar a sua dor?

Eu poderia fazer mais algumas dezenas de perguntas dentro desse mesmo enredo, porém, creio que já posso parar por aqui. Para algumas dessas perguntas, pelo menos uma, garanto que você tenha respondido algo do tipo: "eu tomaria tal remedinho!"; "para essa situação, tal medicamento é 'tiro e queda'". Poucas pessoas responderiam, por exemplo: "eu usaria da minha enxaqueca como uma oferta a Deus pelas almas do purgatório", ou "a cada pontada abdominal, uma 'Ave Maria' para os moribundos", ou ainda, "que minha alma seja limpa dos meus pecados, assim como esse 'piriri gangorra' está limpando-me por dentro".

De modo algum elaborei essas respostas, digamos, um pouco fora do habitual para que você ficasse com dor na consciência caso não tenha sido as suas, mas para ressaltar a ideia de que nossa reação mais imediata diante da dor é querer que ela se afaste de nós o mais rápido possível. E, não se preocupe, é natural.

A nossa alma também adoece?

Citei alguns exemplos de dores que o nosso corpo pode sofrer, porém, não apenas ele padece de dores, mas também a alma. Quem nunca teve sua alma incomodada ou até mesmo dilacerada por alguma dor ou sofrimento? Não existe quem não a tenha experimentado, seja num grau menor ou maior. Uma perda de um ente querido, um abandono por alguém que amamos muito, uma desilusão, por exemplo, tudo isso nos fere a alma. Porém, ainda não foi inventado um xarope que cure instantaneamente a dor da nossa alma. Sendo assim, ela precisa ser enfrentada.

É muito comum buscarmos algum conforto espiritual quando somos afligidos por sofrimentos, especialmente quando eles estão para além da nossa capacidade humana de resolução. E isso é magnífico, é salutar! O nosso Deus pode todas as coisas e, se for para o bem maior daquele que clama, certamente Ele o livrará do sofrimento. Essa atitude de recorrer a Deus nas situações difíceis mostra o quanto o nosso povo, especialmente o latino americano, possui uma extremamente enraizada.

Por outro lado, existe também, e de maneira bastante sutil, uma mentalidade imediatista que beira a uma espécie de misticismo mágico, que faz com que a Igreja seja usada como uma ferramenta de resolução instantânea dos problemas particulares. É isso que não está certo! Quase sempre, para não dizer sempre, aquele que procede dessa maneira se decepciona. Depois da decepção, vem a fase de duvidar de Deus e, não raras vezes, cai no grande equívoco de buscar outros tipos de religião.

A Igreja não é aspirina

Será que essa atitude pode realmente ser considerada uma expressão de fé genuína e madura? Mais parece uma atitude infantilmente birrenta. Não manipule a Santa Igreja como quem manipula um comprimido de farmácia, em que o único benefício esperado é a eliminação instantânea de dores e sofrimentos. Não faça da Igreja uma aspirina!


Deus pode mudar todas as situações da nossa vida, porém, Ele o fará no Seu tempo e de Sua maneira. Será mesmo que a cura ou a eliminação dos problemas da nossa vida é o melhor para nós? Peça a Deus, e se for para o seu bem e sua Salvação, Ele o fará. Não se esqueça de que Deus é o único que vê além; vê sem fronteiras e sem barreiras. Espere confiando no Senhor a todo o tempo e em todas as situações.

Por fim, caro internauta, não espere o sofrimento ou a dor bater à sua porta para buscar a Deus. Ele está sempre  esperando por você. Ele quer para você a salvação, a eternidade e a cura de todo o mal.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/nao-faca-da-igreja-uma-aspirina/


3 de setembro de 2021

Como saber se vivo um namoro abusivo?


O namoro é compreendido como um tempo em que os apaixonados se conhecem mutuamente, a fim de alcançar uma maior consciência de si e do outro antes de um compromisso definitivo. Muitas vezes, no entanto, essa paixão pode se transformar numa necessidade de controle e domínio sobre a outra pessoa. Então, é aí que surgem os ciúmes doentios, as brigas intermináveis e, em casos extremos – mas não raros –, a violência física e psicológica.

Em termos gerais, um namoro pode ser considerado abusivo quando o indivíduo perde a sua liberdade e espontaneidade em decorrência da imposição ou intimidação de um dos pares. Por exemplo: se uma moça precisa se distanciar do seu círculo de amigos, porque o namorado simplesmente é ciumento, estamos diante de um mecanismo de controle de um pelo outro. Quando, então, o relacionamento começa a anular a liberdade de um, estamos diante da instrumentalização da pessoa.

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Foto Ilustrativa: stock-eye

Você sabe o que é e como acontece um namoro abusivo?

O relacionamento abusivo pode apresentar diversos sinais, mas todos eles possuem um padrão comum de manipulação e necessidade de controle. O mais comum nos relacionamentos é o ciúme excessivo.

Por ciúme, entendemos o temor de perder a pessoa amada para um terceiro, tendo como comportamento reativo a esse medo a preocupação constante e exagerada, desconfianças infundadas, comportamentos extravagantes acompanhados de crises de raiva, tristeza, ansiedade e uma compulsividade em checar a vida do parceiro, "bisbilhotando" ou até mesmo invadindo a vida pessoal como checagem de seu perfil nas redes sociais, registro de ligações de celular, conversas no WhatsApp e, em casos extremos, seguir a pessoa para ver se "confirma" uma possível traição.

No fundo, a pessoa ciumenta apresenta um alto grau de baixa autoestima e um sentimento de insegurança emocional que, na maioria dos casos, têm sua origem na negligência de afeto dos pais na infância.

O abuso pode aparecer sobre forma de imposição de ideias ou pensamento, quando a pessoa se considera sempre certa, nunca cede, não admite erros nem pede perdão, pois isso é visto por ela como sinal de fraqueza; nunca vê as qualidades e virtudes do outro, nunca reconhece, elogia nem motiva o parceiro. Há uma necessidade de ser o centro das atenções no namoro.

Há ainda o tipo manipulador-sarcástico, em que as histórias do parceiro nunca batem, são permeadas de fantasias e discrepâncias. Ele está sempre com uma conversa envolvente para conseguir o que quer.

Violência

Por fim, falamos da violência no namoro, que se manifesta de forma física, verbal ou psicológica. É marcado por troca de agressões, ameaças, xingamentos, constrangimentos (muitas vezes em público) e intimidações. A dinâmica desse relacionamento é em forma de 'montanha russa'. O parceiro tem picos de fúria, seguido de agressões verbais e físicas, mas, depois, se mostra arrependido, faz juras de amor, promete nunca mais fazer novamente; no entanto, infelizmente, volta a fazer.

É muito comum, no atendimento a mulheres casadas que sofrem violência, perceber que já no namoro o parceiro dava claro sinais de agressividade, mas que sempre se mostrava arrependido e prometia mudar. Diante de tais promessas e no medo de permanecer sozinha, muitas seguiram adiante no relacionamento e descobriram, no fundo, um marido perverso e manipulador.


Quais as consequências de um namoro abusivo?

As consequências são diversas, desde um trauma psicológico até uma violência física. No caso de uma pessoa que apresenta comportamento de ciúme doentio, haverá também sofrimento por parte deste abusador, visto que as crises de ciúmes desencadeiam vários fatores de sofrimento emocional e físico, provenientes da ansiedade, como taquicardia, sudorese e palpitações. Nesse caso, é preciso uma ajuda profissional, mas o sofrimento maior ficará por parte da pessoa que está "cativa".

A sensação de aprisionamento, de insegurança e medo aparece como uma violência psicológica. Se a pessoa não tem a maturidade e o apoio necessário para encerrar esse relacionamento, pode desenvolver transtornos psíquicos como pânico, transtorno de ansiedade generalizado, crises de estresse, fadiga e doenças psicossomáticas, além dos prejuízos sociais no trabalho, na escola e o distanciamento da família ou círculo de amigos.

O relacionamento abusivo por si só deixará uma ferida psicológica que deverá ser elaborada para que a pessoa possa adentrar de forma mais saudável em um outro relacionamento.

O que leva uma pessoa a permanecer em um relacionamento abusivo?

Infelizmente, muitas pessoas não conseguem sair ou se dar conta de que estão envoltas nesse mecanismo, ainda que esteja lhe causando certo grau de sofrimento. É muito comum encontrarmos homens e mulheres que possuem um histórico de relacionamento marcados por desejo de controle ou serem controlados.

Na maioria dos casos, as pessoas que se deixam controlar por outras também estão comprometidas psicologicamente, seja porque o parceiro lembra uma figura autoritária como o pai ou a mãe, ou por simples medo de permanecer sozinha e não conseguir um companheiro para apresentar ao seu círculo social.

Muitas mulheres, por exemplo, por causa de uma pressão social de que "precisam se casar", acabam se sujeitando a todo tipo de abuso no relacionamento para sustentar uma falsa imagem de que "mulher realizada é mulher casada". Na maioria dos casos, essa pressão social funciona como uma armadilha que atrai homens neuróticos e controladores.

Como sair de um relacionamento abusivo?

Em primeiro lugar, é preciso perguntar: "Você se sente seguro neste relacionamento? Você se sente livre e respeitado já no namoro?". Se a resposta for 'não', procure colocar em uma lista os motivos de sua insegurança neste namoro, verifique o seu grau de sofrimento e não tenha medo de terminar o relacionamento se detectar que você está preso neste mecanismo de controle.

Um forma de perceber se esse relacionamento está no caminho certo é constatar se ele o aproxima ou afasta das pessoas que você ama, como familiares e amigos. Esse é um bom termômetro. Se mesmo assim estiver difícil de terminar ou se, ao menor sinal de término, você sente medo dele(a), das possíveis consequências, procure ajuda de amigos ou familiares.

Tenha em mente que namoro e noivado não são casamento, que você está num período propício de conhecer alguém a quem se entregará para o resto da vida. O namoro saudável é aquele que o deixa livre para fazer suas escolhas e contribui para a sua autonomia e amadurecimento enquanto pessoa, justamente, porque é com essa liberdade que você dirá 'sim' no altar. O amor só pode ser concebido nessa dinâmica da liberdade, caso contrário, estamos mentindo para os outros e para nós mesmos.

Como dizia o psicólogo suíço Carl Gustav Jung: "Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro".



Daniel Machado

Daniel Machado de Assis, natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/como-saber-se-vivo-um-namoro-abusivo/


1 de setembro de 2021

A vida cristã é uma luta permanente


Começamos este quinto e último artigo da nossa série "sobre santidade" com uma tríade que o nosso querido Papa Francisco nos deixa de maneira emblemática: Luta, Vigilância e Discernimento. O Papa enfatiza com isso a importância da luta, mas também da vigilância e do discernimento no processo de santidade do cristão. É notório que, na nossa vida de homens e mulheres que buscam atingir a vontade de Deus, andam lado a lado a luta contra o demônio e o anúncio do Evangelho.

Então, nesta derradeira parte da exortação apostólica Gaudete et Exsultate, o Santo Padre nos alerta sobre a existência do demônio, quando ele escreve: "Não pensemos que seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia" (n. 161). É fato e não podemos negligenciar aquele que é contrário a Deus, o demônio. Um dos maiores equívocos que cometeríamos é imaginar que o demônio não existe. Nota-se a sua presença na Sagrada Escritura desde as primeiras páginas até o livro do Apocalipse.

Contudo, fiquemos certos da vitória de Deus sobre as forças do mal, pois a mesma Sagrada Escritura nos garante que, no fim, Deus triunfará sobre o demônio. Na sociedade em que nos encontramos, que é de certa forma cética e só acredita no que a ciência pode comprovar, o Catecismo da Igreja Católica, documento que consta a Santa Doutrina, deixa claro a existência do Mal, como podemos ler: "o Mal não é abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O 'diabo' (diabolos) é aquele que 'se atira no meio' do plano de Deus e de sua 'obra de salvação' realizada em Cristo." (CIC, 2851).

A vida cristã é uma luta permanente

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Estaremos sempre em luta, mas, ao final, cantaremos vitória

É com a palavra da Carta aos Efésios que o Papa Francisco nos exorta a respeito da vigilância: "revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do diabo." (Ef, 6,11). Para que possamos lutar necessitamos de armas e para que não sejamos pegos de surpresa, precisamos estar vigilantes e atentos, pois o diabo anda como um leão procurando a quem devorar (Cf. 1 Pd 5,8).

Não podemos permitir que nos corrompamos espiritualmente, porque a corrupção da nossa alma impede que percebamos os erros que cometemos, sejam eles leves ou graves. A corrupção espiritual é uma espécie de entorpecente das almas, de um anestésico. O perigo encontra-se no fato que se não percebemos que estamos em erros, não sentimos a necessidade de mudarmos e, cada vez mais, caímos nas sutilezas do diabo.

O pecado, por mais venial que ele seja, pode ser comparado ao bolor. Aos poucos, ele vai embotando a nossa consciência e, como cegos, vamos caindo no engano e no erro, achando que estamos caminhando com Deus e na luz. Contudo, o Papa Francisco nos lembra que também Satanás se disfarça em anjo de luz (Cf. 2 Cor 11,14).

Espírito de Deus, do mundo ou do maligno?

Como saber se o que vem até mim, nas mais variadas formas como pensamentos, vontades, lembranças, situações e até oportunidades, são de Deus ou não? A maneira para saber a origem de tais situações é o que chamamos de "discernimentos dos espíritos". E o que é o discernimento dos espíritos? Respondo dizendo que não é simplesmente a capacidade que temos de usar a razão para entendermos as realidades que chegam até nós, mas é um dom de Deus. E todo dom é graça, carece que se peça.

Papa Francisco escreve sobre o uso do discernimento: "O discernimento não é necessário apenas em momentos extraordinários, quando temos de resolver problemas graves ou quando se deve tomar uma decisão crucial; mas é um instrumento de luta, para seguir melhor o Senhor." (n. 169). Se queres seguir melhor a Deus, ter êxito e eficácia na busca pela santidade, use do dom do discernimento. Coloque sua vida sob o crivo de Cristo e da Sua Igreja, assim não correrás o risco de errar.

A intimidade com o Senhor, os momentos de oração, a reflexão, assim como uma leitura, ajudará a você a crescer em sabedoria e nas suas capacidades espirituais. Para ajudar nesse itinerário rumo à santidade, o Papa, no último capítulo da Gaudete et Exsultate, faz um pedido a todos os cristãos: "[…] não deixem de fazer, a cada dia, em diálogo com o Senhor que nos ama, um sincero exame de consciência." (n. 169). Meus amigos, a relação que cada um tem com Deus será o termômetro dos seus discernimentos. Por isso, tenhamos os ouvidos bem próximos do coração de Nosso Senhor.


Deus nos fala ao coração

Alguém só poderá obedecer se antes tiver escutado a ordem dada. É com essa afirmação que findamos este itinerário de santidade, meio que descobrimos o nosso chamado à santidade, a vontade de Deus para cada um, e a maneira pela qual atingimos esse fim. Contudo, o Senhor Deus, que é o Autor de todas as coisas, deseja nos comunicar a Sua vontade; e para que possamos escutá-la é necessário nos colocarmos à disposição.

Primeiramente, Ele nos comunica o Seu Espírito, para que, munidos com esse dom maior, compreendamos as demais locuções de Deus. O Senhor nos fala diretamente por meio da Sagrada Escritura, por isso é indispensável a sua leitura e meditação para quem deseja ser santo. Vejamos a orientação do nosso querido Papa: "Quando perscrutamos na presença de Deus os caminhos da vida, não há espaços que fiquem excluídos. Em todos os aspectos da existência, podemos continuar a crescer e dar algo mais a Deus [..]." (n. 175).

Por fim, não esqueçamos a Santíssima Virgem Maria, pois foi ela quem mais soube escutar, obedecer e trilhar em perfeição esse caminho de santidade. Peçamos a intercessão de Maria, busquemos também a proximidade com ela. "Conversar com ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para lhe explicar o que se passa conosco. É suficiente sussurrar uma vez ou outra: 'Ave Maria…'". (n. 176).

Que a santidade nos una numa alegria eterna!



Fábio Nunes

Francisco Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Fábio Nunes é também Bacharelando em Teologia pela Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP) . Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/a-vida-crista-e-uma-luta-permanente/


30 de agosto de 2021

Como fazer uma oração para pedir a fé?


Senhor, eu creio; eu quero crer em ti. Senhor, faze que a minha fé seja total, sem reserva; que ela penetre
no meu pensamento e na minha maneira de julgar as coisas divinas e as coisas humanas. Senhor, fazei
que a minha fé seja livre, isto é, tenha o concurso pessoal de minha adesão, aceite as renúncias e os
deveres que ela comporta, seja expressão do que há de mais decisivo na minha personalidade. Eu creio
em ti, Senhor!

Senhor, faze que minha fé seja certa, graças a uma convergência exterior de provas e ao testemunho interior  do Espírito Santo; que ela seja certa por tua luz que assegura, por tuas conclusões que pacificam, por tua assimilação que repousa.

Como fazer uma oração para pedir a fé

Foto Ilustrativa: by Getty Images / ImagineGolf

A nossa fé precisa ser forte

Senhor, faze que minha fé seja forte, que ela não tema a contradição dos problemas de que está repleta
a experiência de nossa vida ávida de luz; que ela não tema a oposição daqueles que a contestam, atacam-
-na, recusam-na e a negam; mas que ela se fortifique na experiência íntima da verdade, que ela resista ao
desgaste da crítica, que ela se afirme na afirmação contínua, que ela ultrapasse as dificuldades dialéticas e espirituais no meio das quais transcorre nossa experiência temporal.

Senhor, faze que minha fé seja alegre, que ela dê paz e alegria à minha alma, que ela se disponha a rezar
a Deus e a conversar com os homens de tal maneira que irradie nesses encontros sagrados e profanos a
felicidade interior de tua posse feliz.


Crie uma amizade com Cristo

Senhor, faze que minha fé seja atuante e que ela dê à caridade a razão de sua expansão moral, de maneira que ela seja verdadeira amizade contigo e que na ação, no sofrimento, na espera da revelação final, ela seja uma contínua busca de ti, um contínuo testemunho, um contínuo alimento de esperança.
Senhor, faze que a minha fé seja humilde, e que não tenha a presunção de fundar-se na experiência de
meu pensamento e de meu sentimento; mas que se submeta ao testemunho do Espírito Santo, e que não
tenha outra nem melhor garantia que a docilidade à tradição e à autoridade do magistério da Santa Igreja. Amém. (Papa Paulo VI)

Trecho extraído do livro Oração para pedir a fé, do Márcio Mendes.



Márcio Mendes

Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo, é autor de vários livros publicados pela Editora Canção Nova, dentre eles '30 minutos para mudar o seu dia', um poderoso instrumento de Deus na vida de centenas de milhares de pessoas.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-fazer-uma-oracao-para-pedir-a-fe/


26 de agosto de 2021

Como escolher padrinhos de batismo para os meus filhos?


Os padrinhos devem acompanhar o seu afilhado com a presença, com o bom testemunho de cristão. "O santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo batismo, somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, e somos incorporados à Igreja e feitos participantes da sua missão: o batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra" (CIC § 1213).

Veja o quanto é importante esse sacramento! O batismo torna a pessoa filha de Deus, e ela passa a fazer parte da família de Jesus, que é a Igreja. O batizado se torna um membro ativo, uma testemunha que vive a missão de anunciar Cristo aos povos. Por isso, aqueles que serão escolhidos para acompanhar os batizados precisam ter algumas características importantes.

Como escolher padrinhos de batismo para os meus filhos?

Foto ilustrativa: JasonDoiy by Getty Images

A importância do sacramento do batismo

Não basta ser alguém conhecido, amigo, parente, rico ou "uma pessoa boa, que faz parte da minha história", pode até trazer as caraterísticas citadas, entretanto, vejamos o que o Código de Direito Canônico diz:

Cân. 872 – Ao batizando, enquanto possível, seja dado um padrinho, a quem cabe acompanhar o batizando adulto na iniciação cristã e, junto com os pais, apresentar ao batismo o batizando criança. Cabe também a ele ajudar que o batizado leve uma vida de acordo com o batismo e cumpra com fidelidade as obrigações inerentes.

Cân. 873 – Admite-se apenas um padrinho ou uma madrinha, ou também um padrinho e uma madrinha.


Cân. 874 – Para que alguém seja admitido para assumir o encargo de padrinho, é necessário que:

1º seja designado pelo próprio batizando, por seus pais ou por quem lhes faz as vezes, ou, na falta deles, pelo próprio pároco ou ministro, e tenha aptidão e intenção de cumprir esse encargo;

2º tenha completado dezesseis anos de idade, a não ser que outra idade tenha sido determinada pelo bispo diocesano ou pareça ao pároco ou ministro que se deva admitir uma exceção por justa causa;

3º seja católico, confirmado (seja crismado), já tenha recebido o sacramento da Eucaristia e leve uma vida de acordo com a fé e o encargo que vai assumir;

4º não se encontre atingido por nenhuma pena canônica legitimamente irrogada ou declarada;

5º não seja pai nem mãe do batizando;

6º quem é batizado e pertence a uma comunidade eclesial não-católica só seja admitido junto com o padrinho católico, e apenas como testemunha do batismo.

O cuidado na escolha dos padrinhos

O sacramento do batismo é tão importante, por isso exige um cuidado com aquele que vai apadrinhar o batizando. Costuma-se dizer que o padrinho ou a madrinha faz,  muitas vezes, o "papel" do pai ou da mãe. O que esses fazem ou deveriam fazer? Educar o filho na fé católica, nos bons costumes, nos bons valores, deve educar para a responsabilidade e para a vida. Os padrinhos devem acompanhar o seu afilhado com a presença, com o bom testemunho de cristão, inúmeras vezes assumir a responsabilidade de pais ou auxiliar aos pais em suas faltas.

Como é sério ser padrinho ou madrinha, não é verdade? Conforme o ensinamento da Igreja, a pessoa precisa viver o batismo, ou seja, ser católica, ser crismada e ter uma vida de Comunhão Eucarística. Uma pessoa assim está, provavelmente, inserida na vida da igreja paroquial, vai à Missa aos domingos, busca confissão periódica, é uma pessoa que busca, a todo custo, a santidade. Essa pessoa é santa? Não! Mas se percebe nela a sede de ser santa.



Padre Marcio

Padre Márcio do Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 20 de dezembro de 2009, cujo lema sacerdotal é "Fazei-o vós a eles" (Mt 7,12), padre Márcio cursou Filosofia no Instituto Canção Nova, em Cachoeira Paulista; e Teologia no Instituto Mater Dei, em Palmas (TO).  Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova. Twitter: @padremarciocn. Instagram: @padremarciocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/como-escolher-padrinhos-de-batismo-para-os-meus-filhos/


23 de agosto de 2021

Edith Stein questiona a psicologia de seu tempo


Interesse pela natureza humana

Edith Stein interessa-se desde jovem pelo estudo da natureza humana e procura analisá-la em primeira pessoa, partindo de suas próprias vivências. Procura na psicologia, que no seu tempo estava se organizando como ciência, uma resposta aos seus profundos questionamentos. Todavia, percebe que essa não lhe fornece os elementos necessários para a análise que desejava desenvolver, pois ela utilizava o método empregado nas ciências naturais, tais como a fisiologia, a biologia, a zoologia, buscando compreender a psique humana. Fazendo isso, a considerava apenas como uma psique animal, fundada na corporeidade e reagindo aos estímulos externos e internos de modo instintivo. A vida interior pautada em atos da vontade e pensamentos livres era desconsiderada. O ser humano era visto apenas como um produto de sua genética e do meio em que estava inserido.

No final do ano letivo de 1912, Edith já havia cursado quatro semestres na Universalidade da Breslávia e estava decepcionada com o que havia estudado, principalmente na disciplina de psicologia, onde pretendia fazer sua tese doutoral. Edith havia sido criada por sua mãe e irmãos para ser uma pessoa capaz de atos livres e responsáveis, e a pensar a natureza humana como simplesmente reativa não lhe era possível, pois estava em desacordo com o que ela experimentava de sua própria natureza, assim como a das pessoas que a cercavam.

"Todos os meus estudos em Psicologia me tinham convencido apenas de que essa ciência ainda estava em seus primeiros balbucios: faltava-lhe o fundamento indispensável e conceitos de base clarificados, e ela própria não estava em condições de forjar para si tais conceitos"¹ (EA, p. 277).

Interessante percebermos que, em primeiro lugar, esse mesmo desconforto que Edith Stein teve com a psicologia foi o que lhe abriu os olhos para conhecer a fenomenologia e, depois, quando compreende de modo bem fundamentado que o ser humano em sua integralidade é uma pessoa livre, abre-se para o estudo dos autores cristãos, que a leva a um encontro pessoal com a pessoa de Cristo. Conhecer esse percurso da Edith pode nos ajudar a dialogar com tantos jovens que se dizem agnósticos ou ateus, por não conhecer em profundidade a religião cristã e o conceito de ser humano por ela pressuposto.

Edith Stein questiona a psicologia de seu tempo

Foto Ilustrativa: ilbusca by Getty Images

Uma nova crise leva Edith à Fenomenologia

Edith, ao mesmo tempo em que tinha contato com a concepção pobre de ser humano da psicologia, conhecia uma dimensão mias profunda da alma humana, relatada nos livros de literatura que lia, especialmente em Tolstoi, Dostoievski e Goethe.

Um de seus amigos, Georg Moskiewicz, um colega mais velho, estava indo estudar com Edmund Husserl, em Gotinga. Nas universidades públicas da Alemanha era possível começar os estudos em uma universidade e terminar em outra, desde que fosse aceito por um professor da universidade em que iria cursar. Mos, como elas chamava o seu amigo, lhe falou desse grande matemático e filósofo Edmund Husserl, indicando a leitura de suas Investigações Lógicas, escrito em dois tomos, publicados em 1900 e 1901. Nesse livro, Husserl falava de um novo método para estudar o ser humano em sua capacidade de conhecer as coisas e as pessoas, ou seja, o mundo externo a si, de modo objetivo e verdadeiro.

Husserl, matemático de formação, havia partido de uma investigação do conceito de número, um tema da filosofia da matemática, mas que também dizia respeito à psicologia, visto ser uma característica de todo ser humano, não encontrada nos animais. Ele investiga esse ato unificador e percebe que o seu fundamento não é nem lógico e nem psicológico, combatendo assim o logicismo e o psicologismo como capazes de fundamentar o que existe de específico no ser humano².

Edith é poupada de aprofundar-se em suas crises

No final do segundo tomo das Investigações Lógicas, Husserl diz que é necessário investigar na estrutura da pessoa humana o que a torna capaz desse ato unificador, fundamento não só da matemática, mas de todo conhecimento que se quer preciso e universal, ou seja, científico. Sugere um novo método para se compreender como a especificidade do ser humano, o seu sentido, a sua essência³. A intuição de que existia uma estrutura comum a todo ser humano, independentemente de sua origem, condição social, influências do meio etc., havia levado Husserl a deixar os estudos de matemática para dedicar-se aos estudos de psicologia com Franz Brentano, em 1884 e 1885, e seguir investigando por meio da filosofia, assim como a sua conversão, do judaísmo ao cristianismo, ocorrida em 18864.

Pode-se dizer, então, que as crises de Edmund Husserl vão poupar Edith de aprofundar a sua própria crise. Ela passa as suas férias na biblioteca da universidade lendo os dois tomos do primeiro volume das Investigações Lógicas de Husserl, indo em casa apenas para comer e dormir. Nessas leituras, ela intui que ali encontraria os fundamentos que buscava e decide procurar Husserl para pedir se poderia seguir seus cursos na Universidade de Gotinga. Sua mãe aprova e se dispõe a sustentá-la, juntamente com a sua amiga que cursava matemática Rose Guttmann, do "trevo de quatro folhas".  Edith disse para mãe e os irmãos que provavelmente ficaria em Gotinga apenas por um semestre, mas eles não acreditaram, pois sabiam que quando ela tomava uma decisão, ela ia até o fim.

Aspectos importantes dessa fase da vida de Edith Stein

Edith não se deixa levar por teorias que ofereçam uma compreensão reduzida do ser humano, mas parte sempre de seu autoconhecimento. Quando percebe uma limitação, nãos e deixa abater, mas a toma como um impulso para seguir para frente e tentar superá-la. Ela segue o exemplo de sua mãe, que a ensinou a perseguir os próprios sonhos sem abandoná-los.


Edith reconhece também suas qualidades e potencialidades. Percebe com um grande futuro pela frente, desde que consiga desenvolver essas suas potencialidades sem esmorecer, com coragem e determinação. Preocupada em formar sua própria concepção de mundo, ela só acredita no que percebe como verdadeiro e bem fundamentado. Aplica esse mesmo raciocínio para obter uma maior compreensão do que é o ser humano. Encontra na fenomenologia de Edmund Husserl preocupações semelhantes às suas e vai, sem medo, em busca de um contato com esse grande filósofo de seu tempo.

Referências:

2 Para um maior conhecimento do percurso histórico pessoal e da fenomenologia de Edmund Husserl, aconselho a leitura do livro de Tommy AKIRA GOTO: Introdução à psicologia fenomenológica – a nova psicologia de Edmund Husserl. São Paulo: Ed. Paulus, 2015.

Um conhecimento introdutório do que é a fenomenologia pode ser encontrado no livro de Angela ALES BELLO: Introdução à fenomenologia. Trad. Ir. Jacinta Turolo Garcia e Miguel Mahfoud. Revisão de Tommy Akira Goto. Belo Horizonte: Spes Editora, 2017.

Em nosso curso Introdução à Fenomenologia de Husserl e Edith Stein apresentamos como essa corrente filosófica aproximou diversos estudiosos da religião cristã, em meio a uma época de crise e ateísmo. Conhecer esses autores pode nos servir como ânimo, estímulo e exemplo a ser imitado. Para mais informações acesse: http://cursos.edithstein.com.br.



Maria Cecilia Isatto Parise

Maria Cecilia Isatto Parise. Casada há 30 anos e mãe de dois filhos. Mestra, pesquisadora, professora e conferencista em Edith Stein.
Site: edithstein.com.br
Instagram: Maria Cecilia Isatto Parise
Facebook: Chouette – Filosofia Comentada


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/edith-stein-questiona-psicologia-de-seu-tempo/