26 de agosto de 2021

Como escolher padrinhos de batismo para os meus filhos?


Os padrinhos devem acompanhar o seu afilhado com a presença, com o bom testemunho de cristão. "O santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo batismo, somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, e somos incorporados à Igreja e feitos participantes da sua missão: o batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra" (CIC § 1213).

Veja o quanto é importante esse sacramento! O batismo torna a pessoa filha de Deus, e ela passa a fazer parte da família de Jesus, que é a Igreja. O batizado se torna um membro ativo, uma testemunha que vive a missão de anunciar Cristo aos povos. Por isso, aqueles que serão escolhidos para acompanhar os batizados precisam ter algumas características importantes.

Como escolher padrinhos de batismo para os meus filhos?

Foto ilustrativa: JasonDoiy by Getty Images

A importância do sacramento do batismo

Não basta ser alguém conhecido, amigo, parente, rico ou "uma pessoa boa, que faz parte da minha história", pode até trazer as caraterísticas citadas, entretanto, vejamos o que o Código de Direito Canônico diz:

Cân. 872 – Ao batizando, enquanto possível, seja dado um padrinho, a quem cabe acompanhar o batizando adulto na iniciação cristã e, junto com os pais, apresentar ao batismo o batizando criança. Cabe também a ele ajudar que o batizado leve uma vida de acordo com o batismo e cumpra com fidelidade as obrigações inerentes.

Cân. 873 – Admite-se apenas um padrinho ou uma madrinha, ou também um padrinho e uma madrinha.


Cân. 874 – Para que alguém seja admitido para assumir o encargo de padrinho, é necessário que:

1º seja designado pelo próprio batizando, por seus pais ou por quem lhes faz as vezes, ou, na falta deles, pelo próprio pároco ou ministro, e tenha aptidão e intenção de cumprir esse encargo;

2º tenha completado dezesseis anos de idade, a não ser que outra idade tenha sido determinada pelo bispo diocesano ou pareça ao pároco ou ministro que se deva admitir uma exceção por justa causa;

3º seja católico, confirmado (seja crismado), já tenha recebido o sacramento da Eucaristia e leve uma vida de acordo com a fé e o encargo que vai assumir;

4º não se encontre atingido por nenhuma pena canônica legitimamente irrogada ou declarada;

5º não seja pai nem mãe do batizando;

6º quem é batizado e pertence a uma comunidade eclesial não-católica só seja admitido junto com o padrinho católico, e apenas como testemunha do batismo.

O cuidado na escolha dos padrinhos

O sacramento do batismo é tão importante, por isso exige um cuidado com aquele que vai apadrinhar o batizando. Costuma-se dizer que o padrinho ou a madrinha faz,  muitas vezes, o "papel" do pai ou da mãe. O que esses fazem ou deveriam fazer? Educar o filho na fé católica, nos bons costumes, nos bons valores, deve educar para a responsabilidade e para a vida. Os padrinhos devem acompanhar o seu afilhado com a presença, com o bom testemunho de cristão, inúmeras vezes assumir a responsabilidade de pais ou auxiliar aos pais em suas faltas.

Como é sério ser padrinho ou madrinha, não é verdade? Conforme o ensinamento da Igreja, a pessoa precisa viver o batismo, ou seja, ser católica, ser crismada e ter uma vida de Comunhão Eucarística. Uma pessoa assim está, provavelmente, inserida na vida da igreja paroquial, vai à Missa aos domingos, busca confissão periódica, é uma pessoa que busca, a todo custo, a santidade. Essa pessoa é santa? Não! Mas se percebe nela a sede de ser santa.



Padre Marcio

Padre Márcio do Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 20 de dezembro de 2009, cujo lema sacerdotal é "Fazei-o vós a eles" (Mt 7,12), padre Márcio cursou Filosofia no Instituto Canção Nova, em Cachoeira Paulista; e Teologia no Instituto Mater Dei, em Palmas (TO).  Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova. Twitter: @padremarciocn. Instagram: @padremarciocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/como-escolher-padrinhos-de-batismo-para-os-meus-filhos/


23 de agosto de 2021

Edith Stein questiona a psicologia de seu tempo


Interesse pela natureza humana

Edith Stein interessa-se desde jovem pelo estudo da natureza humana e procura analisá-la em primeira pessoa, partindo de suas próprias vivências. Procura na psicologia, que no seu tempo estava se organizando como ciência, uma resposta aos seus profundos questionamentos. Todavia, percebe que essa não lhe fornece os elementos necessários para a análise que desejava desenvolver, pois ela utilizava o método empregado nas ciências naturais, tais como a fisiologia, a biologia, a zoologia, buscando compreender a psique humana. Fazendo isso, a considerava apenas como uma psique animal, fundada na corporeidade e reagindo aos estímulos externos e internos de modo instintivo. A vida interior pautada em atos da vontade e pensamentos livres era desconsiderada. O ser humano era visto apenas como um produto de sua genética e do meio em que estava inserido.

No final do ano letivo de 1912, Edith já havia cursado quatro semestres na Universalidade da Breslávia e estava decepcionada com o que havia estudado, principalmente na disciplina de psicologia, onde pretendia fazer sua tese doutoral. Edith havia sido criada por sua mãe e irmãos para ser uma pessoa capaz de atos livres e responsáveis, e a pensar a natureza humana como simplesmente reativa não lhe era possível, pois estava em desacordo com o que ela experimentava de sua própria natureza, assim como a das pessoas que a cercavam.

"Todos os meus estudos em Psicologia me tinham convencido apenas de que essa ciência ainda estava em seus primeiros balbucios: faltava-lhe o fundamento indispensável e conceitos de base clarificados, e ela própria não estava em condições de forjar para si tais conceitos"¹ (EA, p. 277).

Interessante percebermos que, em primeiro lugar, esse mesmo desconforto que Edith Stein teve com a psicologia foi o que lhe abriu os olhos para conhecer a fenomenologia e, depois, quando compreende de modo bem fundamentado que o ser humano em sua integralidade é uma pessoa livre, abre-se para o estudo dos autores cristãos, que a leva a um encontro pessoal com a pessoa de Cristo. Conhecer esse percurso da Edith pode nos ajudar a dialogar com tantos jovens que se dizem agnósticos ou ateus, por não conhecer em profundidade a religião cristã e o conceito de ser humano por ela pressuposto.

Edith Stein questiona a psicologia de seu tempo

Foto Ilustrativa: ilbusca by Getty Images

Uma nova crise leva Edith à Fenomenologia

Edith, ao mesmo tempo em que tinha contato com a concepção pobre de ser humano da psicologia, conhecia uma dimensão mias profunda da alma humana, relatada nos livros de literatura que lia, especialmente em Tolstoi, Dostoievski e Goethe.

Um de seus amigos, Georg Moskiewicz, um colega mais velho, estava indo estudar com Edmund Husserl, em Gotinga. Nas universidades públicas da Alemanha era possível começar os estudos em uma universidade e terminar em outra, desde que fosse aceito por um professor da universidade em que iria cursar. Mos, como elas chamava o seu amigo, lhe falou desse grande matemático e filósofo Edmund Husserl, indicando a leitura de suas Investigações Lógicas, escrito em dois tomos, publicados em 1900 e 1901. Nesse livro, Husserl falava de um novo método para estudar o ser humano em sua capacidade de conhecer as coisas e as pessoas, ou seja, o mundo externo a si, de modo objetivo e verdadeiro.

Husserl, matemático de formação, havia partido de uma investigação do conceito de número, um tema da filosofia da matemática, mas que também dizia respeito à psicologia, visto ser uma característica de todo ser humano, não encontrada nos animais. Ele investiga esse ato unificador e percebe que o seu fundamento não é nem lógico e nem psicológico, combatendo assim o logicismo e o psicologismo como capazes de fundamentar o que existe de específico no ser humano².

Edith é poupada de aprofundar-se em suas crises

No final do segundo tomo das Investigações Lógicas, Husserl diz que é necessário investigar na estrutura da pessoa humana o que a torna capaz desse ato unificador, fundamento não só da matemática, mas de todo conhecimento que se quer preciso e universal, ou seja, científico. Sugere um novo método para se compreender como a especificidade do ser humano, o seu sentido, a sua essência³. A intuição de que existia uma estrutura comum a todo ser humano, independentemente de sua origem, condição social, influências do meio etc., havia levado Husserl a deixar os estudos de matemática para dedicar-se aos estudos de psicologia com Franz Brentano, em 1884 e 1885, e seguir investigando por meio da filosofia, assim como a sua conversão, do judaísmo ao cristianismo, ocorrida em 18864.

Pode-se dizer, então, que as crises de Edmund Husserl vão poupar Edith de aprofundar a sua própria crise. Ela passa as suas férias na biblioteca da universidade lendo os dois tomos do primeiro volume das Investigações Lógicas de Husserl, indo em casa apenas para comer e dormir. Nessas leituras, ela intui que ali encontraria os fundamentos que buscava e decide procurar Husserl para pedir se poderia seguir seus cursos na Universidade de Gotinga. Sua mãe aprova e se dispõe a sustentá-la, juntamente com a sua amiga que cursava matemática Rose Guttmann, do "trevo de quatro folhas".  Edith disse para mãe e os irmãos que provavelmente ficaria em Gotinga apenas por um semestre, mas eles não acreditaram, pois sabiam que quando ela tomava uma decisão, ela ia até o fim.

Aspectos importantes dessa fase da vida de Edith Stein

Edith não se deixa levar por teorias que ofereçam uma compreensão reduzida do ser humano, mas parte sempre de seu autoconhecimento. Quando percebe uma limitação, nãos e deixa abater, mas a toma como um impulso para seguir para frente e tentar superá-la. Ela segue o exemplo de sua mãe, que a ensinou a perseguir os próprios sonhos sem abandoná-los.


Edith reconhece também suas qualidades e potencialidades. Percebe com um grande futuro pela frente, desde que consiga desenvolver essas suas potencialidades sem esmorecer, com coragem e determinação. Preocupada em formar sua própria concepção de mundo, ela só acredita no que percebe como verdadeiro e bem fundamentado. Aplica esse mesmo raciocínio para obter uma maior compreensão do que é o ser humano. Encontra na fenomenologia de Edmund Husserl preocupações semelhantes às suas e vai, sem medo, em busca de um contato com esse grande filósofo de seu tempo.

Referências:

2 Para um maior conhecimento do percurso histórico pessoal e da fenomenologia de Edmund Husserl, aconselho a leitura do livro de Tommy AKIRA GOTO: Introdução à psicologia fenomenológica – a nova psicologia de Edmund Husserl. São Paulo: Ed. Paulus, 2015.

Um conhecimento introdutório do que é a fenomenologia pode ser encontrado no livro de Angela ALES BELLO: Introdução à fenomenologia. Trad. Ir. Jacinta Turolo Garcia e Miguel Mahfoud. Revisão de Tommy Akira Goto. Belo Horizonte: Spes Editora, 2017.

Em nosso curso Introdução à Fenomenologia de Husserl e Edith Stein apresentamos como essa corrente filosófica aproximou diversos estudiosos da religião cristã, em meio a uma época de crise e ateísmo. Conhecer esses autores pode nos servir como ânimo, estímulo e exemplo a ser imitado. Para mais informações acesse: http://cursos.edithstein.com.br.



Maria Cecilia Isatto Parise

Maria Cecilia Isatto Parise. Casada há 30 anos e mãe de dois filhos. Mestra, pesquisadora, professora e conferencista em Edith Stein.
Site: edithstein.com.br
Instagram: Maria Cecilia Isatto Parise
Facebook: Chouette – Filosofia Comentada


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/edith-stein-questiona-psicologia-de-seu-tempo/


20 de agosto de 2021

A intimidade com Deus alimenta a vida religiosa?


Respondendo a essa pergunta existencial, apresento elementos que constituem e dão vigor e identidade à vida religiosa cristã e à sua necessidade para a Igreja e para o mundo.

A vida consagrada procura a perfeição, que é Deus, palmilhando o caminho-vida protótipo do Filho, Deus-homem: Jesus Cristo. Jesus – o Verbo encarnado – revelou o Pai, o caminho ao Pai e, assim, foi revelando a Si mesmo e o profundo da pessoa humana. Jesus viveu na vontade do Pai – era um com o Pai – e convidou pessoas para segui-Lo: para assumir a Sua vida. Assim, o centro decisivo da vida religiosa cristã é Deus, como aparece em Jesus Cristo.

A intimidade com Deus alimenta a vida religiosa?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A necessidade da vida religiosa para o mundo

Na história, sempre houve homens e mulheres que escolheram na vida o Absoluto de Deus, dedicando toda a vida a Ele. Essa escolha se efetiva na sequela radical de Cristo pobre, obediente e casto. Assim, processou-se e foi constituída a vida consagrada, que se exprime na profissão pública dos três conselhos evangélicos: obediência, castidade e pobreza, ou na consagração das Novas Comunidades.

A pessoa de vida consagrada procura entregar-se a Deus de forma permanente e com intensidade progressiva, de maneira absoluta, atualizando o batismo e assumindo a sua radicalidade. Como vocacionados, não somos nós quem nos colocamos no seguimento. Somos chamados, escolhidos, constituídos no dom do Senhor. Jesus cria o Seu discípulo, torna o Seu vocacionado capaz da missão. O seguimento radical de Cristo se torna a alma da vida do consagrado, como projeto particular de vida cristã, concretizada numa forma histórica.

Vida consagrada, vida íntima com Deus

No seguimento radical a Cristo, a Vida Consagrada é uma existência no Absoluto de Deus. Trata-se de uma vida íntima e intensa com Deus: desposar a vontade de Deus. A pessoa que encontra Deus e se apaixona por Ele não é mais capaz de amar uma criatura com doação total e permanente (como no matrimônio – Mt 19). Esse amor exclusivo constitui o dinamismo da sequela ao Cristo, que significa amá-lo com a vida, em profundidade e radicalidade absoluta.


Esse amor, essa experiência amorosa nenhuma lei, regra ou juramento pode criar ou manter. Essa é somente uma manifestação explicativa objetivada e pública. Isso porque a vocação à vida consagrada brota de um encontro entre duas liberdades que se atraem e se dão: Deus e a pessoa. A estrutura – lei, regra, vida comunitária – pode e deve ajudar a manter o cultivo do amor esponsal. O Evangelho só existe vivo: não pode ser representado! O cerne da vida religiosa é o conteúdo; a forma é relativa, mesmo que necessária. O seguimento de Cristo assume, desta maneira, um caráter mais existencial e menos moral.

Concluindo: casos bíblicos conhecidos comprovam que a vida religiosa sem intimidade exclusiva com Deus não se mantém: morre!



Dom João Inácio Müller

Dom João Inácio Müller é Bispo da Arquidiocese de Campinas (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/intimidade-com-deus-alimenta-vida-religiosa/


18 de agosto de 2021

A vocação ao celibato é uma opção de amor orientada para Cristo


O sexto mandamento da Lei de Deus determina guardar a castidade nas palavras e obras. O seu âmbito inclui também a descoberta do significado e do valor do celibato consagrado, e implica a sua vivência por aqueles que receberam um tal dom divino. Muita gente, hoje, não entende o celibato dos sacerdotes e não acredita que eles o vivam fielmente. Isso acontece, certamente, por alguns o quebrarem ou o colocarem em dúvida; e outros nem sempre sabem testemunhar com a sua vida feliz. Ao mesmo tempo, parece não ser contestada a virgindade das religiosas e de outras mulheres consagradas a Deus. Não sei se esse estado de vida é realmente admirado por uma fatia significativa da sociedade. Pode acontecer que o grande valor dessa opção de vida não seja passado para as pessoas nem as interpelem.

Há, entretanto, um outro fenômeno, na nossa sociedade, que contribui para dificultar o reconhecimento do valor do celibato consagrado: o alastrar do número de pessoas, homens e mulheres, que vivem solteiros por motivos de independência pessoal ou dedicação a uma causa da qual se apaixonam e absorvem. O desinteresse pelo casamento pode também ser motivado pela falta de atração pelo outro sexo, por não acreditar no casamento, por alguma imaturidade ou pelo medo de assumir compromissos definitivos. Nessas motivações, vem a dificuldade crescente de estabelecer relações afetivas maduras e estáveis por parte de muitas pessoas.

Que diferença há entre a vida cristã no celibato e essas situações humanas, escolhidas ou involuntárias? A forma exterior de vida pode ser semelhante, mas são bem diferentes a motivação, o espírito e a finalidade.

A vocação ao celibato é uma opção de amor orientada para Cristo

Foto ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

O celibato e o matrimônio são duas vocações diferentes, mas não contrapostas

Quando o fiel cristão descobre, na sua situação de solteiro, um apelo de Deus e o aceita de livre vontade, a sua vida celibatária pode tornar-se vocação assumida e valorizada. A pessoa pode, então, como diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC), passar a viver "a sua situação no espírito das bem-aventuranças, servindo a Deus e ao próximo de modo exemplar" (nº 1658). Essa forma de vida pode não ser definitiva, e a pessoa ser chamada ao matrimônio em qualquer idade.

Assumem, de forma definitiva, o celibato pelo Reino dos Céus os que consagram totalmente a sua vida a Deus e, por isso, renunciam ao casamento. A sua opção resulta da percepção do amor de Cristo e do seu chamamento, correspondidos positivamente numa relação crescente de amor para com Ele. Nesse caso, a motivação para o celibato é teológica e carismática, é uma graça divina que a pessoa acolheu e a qual correspondeu livremente com a entrega total de si mesma a Deus.

Outra forma é o celibato sacerdotal. Esse, em certo sentido, une as duas formas anteriores: por um lado, resulta da circunstância de a pessoa sentir a vocação para o ministério sagrado; por outro, corresponde a uma entrega de si mesma para o serviço do Reino de Deus. A motivação é acentuadamente apostólica, mas fundamentada em razões teológicas e carismáticas. Diz o Catecismo: os ministros sagrados "chamados a consagrarem-se totalmente ao Senhor e às suas coisas dão-se por inteiro a Deus e aos homens. O celibato é um sinal dessa vida nova, para cujo serviço o ministro da Igreja é consagrado; aceito de coração alegre, anuncia de modo radioso o Reino de Deus" (nº. 1579; cf. 1599).

Vocação ao amor e à comunhão

Como o matrimônio, também a vida celibatária é a concretização da vocação ao amor e à comunhão a que todos são chamados. Respondendo a tal vocação inscrita no seu próprio ser, a pessoa humana realiza a sua condição e dignidade de imagem e semelhança de Deus, que "é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor" (CIC, 2331). Não pode haver opção celibatária que não seja motivada pelo amor a Deus e ao próximo. Mesmo na primeira forma acima apontada, se a pessoa assume a sua condição como vontade de Deus, não pode deixar de orientar a sua vida pelo amor, abrindo-se a uma relação sempre mais profunda de comunhão e serviço.

Sendo resposta à vocação ao amor, a vida celibatária não significa menosprezo nem visão negativa da sexualidade. Esta, como afirma o Catecismo, "afeta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito, particularmente, à afetividade, à capacidade de amar e procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem" (CIC, 2332). Escolhendo o celibato, a pessoa renuncia a uma forma de viver a sexualidade, para se entregar a Deus "com um coração indiviso" (CIC, 2349). Sublima o impulso e a energia sexual, dando-lhe outro significado e finalidade, para uma fecundidade espiritual. Como Cristo, também "o Celibatário" entrega o seu corpo e todo o seu ser, por amor a Deus e em favor dos homens. Nesta doação total, por um amor oblativo, vive a castidade própria da sua condição.

Opção de amor

O celibato, como o matrimônio, implica uma vida de relação com os outros e não de solidão, é caminho para a maturidade e não privação. É expressão de uma doação de si mesmo livremente decidida e não resultado de qualquer frustração ou desengano na relação afetiva. Também implica uma certa vivência da sexualidade: não na união física, nem na autossatisfação narcisista ou na procura do prazer recíproco e na expressão de afeto mútuo, mas na sua sublimação espiritual mediante o domínio de si mesmo. Essa liberdade pessoal é condição para fazer de si uma doação total e definitiva a Deus, suscitada pela graça que d'Ele recebeu. O celibatário renuncia: "à intimidade física em ordem a uma mais perfeita disponibilidade"; "ao calor humano de uma família, para se tornar pai ou mãe da humanidade"; "à continuação da vida nos próprios filhos para uma vida que não tem fim, a vida de Deus nas pessoas" (E. Pepe).


A vida no celibato é uma opção de amor

A vida no celibato é, portanto, também uma opção de amor, mas orientada para Cristo. A pessoa doa-se a si mesma, não a uma pessoa de outro sexo com a qual estabeleceu vínculos de afeto, mas a Cristo no qual crê e pelo qual acredita ser amado. A sua entrega significa o assumir de uma vida que é renovada por Cristo e penetrada pela força do Espírito. A pessoa doa-se em todo o seu ser, também na dimensão física, mas o faz de forma diferente da que é vivida no matrimônio.

Há um texto muito sugestivo de Chiara Lubich que fala da castidade como o "dilatar o coração segundo a medida do coração de Jesus". Fazendo assim, a pessoa empenha-se em amar cada irmão 'como Jesus o ama'. A isso a autora chama a "castidade de Deus". Escolhendo o celibato por ter sentido o grande amor de Cristo por ele, o fiel cristão esforça-se por viver o amor à maneira e segundo a medida de Cristo. Para ele, o amor a Cristo e aos irmãos constituem um mesmo e único amor. E trata-se sempre de amar por Jesus, por uma graça que vem d'Ele. É um amor a todos, universal, mas vivido na doação um a um, isto é, àquele que encontro, que passa pela minha vida. Está aqui a originalidade do amor na pessoa celibatária, que é diferente, portanto, do amor conjugal. Esse passa sempre pelas expressões humanas da sexualidade e da ternura.

Gerar a vida na dimensão espiritual

A doação livre de si mesma ao outro, fielmente, como Jesus ama, é o que torna o amor puro e casto, tanto na pessoa casada como na celibatária. Na primeira, as expressões físicas do amor não o degradam; na segunda, não precisa tolher o coração nem reprimir o amor, pois encontrará sempre expressões belas para amar o seu próximo, de forma concreta e sensível. No primeiro caso, o amor une sempre mais quem o vive e estreita os vínculos entre as pessoas. É vivido na doação e acolhimento mútuos. No celibatário, o amor não prende, mas liberta, é vivido na generosidade e no desapego, torna a pessoa dom para os outros sem esperar a compensação.

O amor do celibatário há de ser também fecundo, gerar vida não no sentido físico, mas na dimensão espiritual. Mediante o amor, o celibato gera a vida de Jesus nas almas que encontra, cria vínculos espirituais com as pessoas e pode mesmo exercer uma paternidade espiritual, fazendo com que tais pessoas se sintam regeneradas, recebendo uma nova vida: a de Deus. Desse modo, enriquece também a humanidade, contribui para o seu crescimento qualitativo e espiritual.

Quem é chamado ao celibato, consagrando a sua vida a Deus, faz a renúncia à vida de casado. Cumpre, quase à letra, a palavra de Jesus: "Qualquer de vós que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo" (Lc 14,33). Renuncia à sexualidade genital, à relação de afeto com outra pessoa, à paternidade ou maternidade biológica, a constituir a sua família, desapega-se de tudo e de qualquer pessoa, para seguir Cristo mais de perto e viver uma comunhão especial com Ele. Mas dessa relação, no Espírito Santo, pelo amor, há de surgir uma nova família, a fraternidade cristã, que pode adquirir múltiplas formas e que se traduz na vida da comunidade cristã, na sua variedade. Se não gerar a comunidade dos filhos e filhas de Deus, o celibato fica infecundo. Sem a paternidade ou maternidade espiritual, o celibatário corre o risco de ficar estéril e viver a sensação de perda, de frustração, de estar incompleto, de não atingir a plenitude.

Liberdade pessoal

"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8). O celibatário, que assume a sua vocação livremente e a vive fielmente numa doação incondicional a Deus, no amor e no serviço generoso aos irmãos, experimenta realmente a felicidade e "vê", verdadeiramente, Deus na sua vida. Deixou tudo pelo Senhor e nada lhe falta. Renunciou a constituir uma família e vive rodeado de irmãos e irmãos, de filhos e filhas, numa grande família espiritual reunida no amor de Cristo.

A sua vida é muito diferente da de muitos solteiros de moda, centrados em si mesmos e nos seus prazeres, gerando e gerindo a solidão, que produz um vazio de alma e tédio. Viver em celibato, conservando a castidade do coração, exige esforço para corresponder à graça da própria vocação. É preciso, antes de mais, cuidado em manter e consolidar a liberdade pessoal, para amar sempre mais, mantendo a vigilância sobre todas as situações que a podem pôr em causa. E, face aos limites e falhas, o celibatário há de abraçar a cruz e recomeçar no empenho pela fidelidade no amor. A relação com Deus, sempre mais profunda, cultivada na oração, e uma sadia comunhão fraterna ajudam muito a manter-se fiel na própria entrega de amor.

O celibato e o matrimônio são duas vocações diferentes, mas não contrapostas. Celibatários e casados, felizes na sua vocação, deverão constituir estímulo e ajuda uns aos outros, partilhando o próprio dom, reconhecendo e estimando o dos outros, numa comunhão eclesial operada pelo Espírito Santo.

Padre Jorge Manuel Faria Guarda


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vida-religiosa/vocacao-ao-celibato-e-uma-opcao-de-amor-orientada-para-cristo/


16 de agosto de 2021

A importância da vida consagrada


Quando a Igreja fala de vida consagrada, ela está falando de uma vocação; e sabemos que há várias modalidades de vida consagrada dentro da Igreja. Seguem essa vocação os monges e monjas, os religiosos e religiosas das ordens, congregações e institutos religiosos.

Além desses, existem os membros dos Institutos Seculares, bem como os consagrados e consagradas das assim chamadas "Novas Comunidades", muitas das quais nasceram dentro de movimentos eclesiais relativamente recentes ou formam seu núcleo central. Há também a Ordem das Virgens consagradas, restaurada por Paulo VI a partir do Concílio Vaticano II, cujos membros não constituem comunidade de vida, mas vivem no mundo, tendo consagrado sua virgindade a Cristo, para o testemunho e o serviço na sua respectiva diocese.

A importância da vida consagrada

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

A vida consagrada é um dos grandes tesouros da Igreja

Neste Mês Vocacional, divulguemos também essa vocação de vida consagrada e rezemos por ela, porque constitui um grande tesouro na Igreja e é uma excepcional força e serviço nas atividades da pastoral direta nas dioceses e paróquias, como também no setor de escolas, colégios e universidades, no setor dos hospitais e demais serviços de saúde, no setor de obras assistenciais, só para citar os mais conhecidos.

Cada forma de vida consagrada tem um carisma próprio, ou seja, seus fundadores decidiram e, depois, a Igreja os aprovou viver um ou mais aspectos do Evangelho de Jesus Cristo, numa forma radical e ampla, e ainda professar os conselhos evangélicos da pobreza, obediência e castidade como algo próprio e comum de todas as formas de vida consagrada. Assim, os fundadores lhes deram normalmente uma regra de vida e Constituições ou apenas Constituições, que lhes dão organização e normas de vida.

A vida consagrada depois do Concilio Vaticano II

O Concílio Vaticano II, ao tratar da vida consagrada, diz: "O estado (de vida consagrada) constituído pelos conselhos evangélicos, embora não pertença à estrutura hierárquica da Igreja, está, contudo, firmemente relacionado com sua vida e santidade" (LG, 44). Os conselhos evangélicos da castidade consagrada a Deus, da pobreza e da obediência se baseiam nas palavras e nos exemplos do Senhor. São recomendados pelos apóstolos, santos e padres e pelos mestres e pastores da Igreja. Constituem um dom divino que a Igreja recebeu do seu Senhor e por graça dele sempre conserva. A própria autoridade da Igreja, guiada pelo Espírito Santo, cuidou de interpretar os conselhos evangélicos, regulamentar-lhes a prática e estabelecer formas estáveis de vida (LG 43).

A vida consagrada é, sobretudo, um sinal. Diz o Concílio: "A profissão dos conselhos evangélicos se apresenta como um sinal que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja, para o cumprimento dedicado dos deveres impostos pela vocação cristã. Como, porém, o povo de Deus não possui aqui (no mundo) morada permanente, mas busca a futura, o estado religioso (de vida consagrada), pelo fato de deixar seus membros mais desimpedidos dos cuidados terrenos, ora manifesta já aqui, neste mundo, a todos os fiéis, a presença dos bens celestes; ora dá testemunho da nova e eterna vida conquistada pela redenção de Cristo; ora prenuncia a ressurreição futura e a glória do Reino Celeste" (LG 44). Assim, a vida consagrada é sinal das coisas de Deus, da nossa ressurreição futura e da glória do Reino Celeste, pois faz dessas realidades sua vida já aqui no mundo.

Santos brasileiros gerados na vida consagrada

São João Paulo II diz: "A primeira tarefa da vida consagrada é tornar visíveis as maravilhas que Deus realiza na frágil humanidade das pessoas chamadas. Mas do que com as palavras, elas testemunham essas maravilhas com a linguagem eloquente de uma existência transfigurada, capaz de suscitar a admiração do mundo. A essa admiração dos homens respondem com o anúncio dos prodígios da graça que o Senhor realiza naqueles que ama." (VC, 20). Desse modo, a vida consagrada torna-se um dos rastos concretos que a Trindade deixa na história, para que os homens possam sentir o encanto e a saudade da beleza divina, diz o Papa (VC,20). Exemplos de pessoas consagradas são os brasileiros: Santa Paulina, Beato Frei Galvão e Beato José de Anchieta.

A vida consagrada torna seus membros testemunhas de Cristo no mundo, sobretudo pela prática da caridade, da solidariedade com os pobres e excluídos e pela missionariedade. "Há que afirmar que a missionariedade está inscrita no coração mesmo de toda forma de vida consagrada", afirma o Papa (VC, 25).

Então, que o mês vocacional seja uma oportunidade feliz para fazer conhecer e amar essa vocação tão preciosa da vida consagrada!

Dom Cláudio Cardeal Hummes
Arcebispo de São Paulo


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vida-religiosa/a-importancia-da-vida-consagrada/


13 de agosto de 2021

O matrimônio é o sacramento da criação


A 'Teologia do Corpo', que faz parte dos ensinamentos proferidos do saudoso Papa João Paulo II, é um conjunto de 129 catequeses que dizem respeito ao amor humano.

Nós nos voltamos para o dom extraordinário da Santa Missa, na qual Deus se entrega por nós. O que a Eucaristia tem a ver com o matrimônio? O saudoso Pontífice polonês viu, com clareza, a existência de um nexo, uma ligação entre a comunhão que vivemos na Eucaristia e no ato conjugal, unindo ambos.

Nas 129 catequeses, João Paulo II nos fala de duas uniões: o casamento de Adão e Eva, no livro de Gênesis; e as núpcias do Cordeiro, no livro do Apocalipse, no casamento em que Deus se une à humanidade. Hoje, os casamentos duram pouco, pois logo se deterioram em função da cobrança. Qual é a cobrança no casamento? A felicidade. O casamento está mal, porque essa cobrança é injusta. Ninguém é capaz de fazer o outro feliz, porque fomos feitos para Deus.

O matrimônio é o sacramento da criação

Foto Ilustrativa: KaninRoman by Getty Images

O que diz a Igreja sobre o matrimônio?

Santo Agostinho nos recorda: "O coração é inquieto até que se encontre em Deus". Na Terra, somos como uma pessoa que viajou a noite toda, coloca a cabeça de um lado e de outro sem ter como repousá-la. A vida, neste mundo, é uma viagem, na qual nós não temos onde repousar a cabeça. Não podemos transformar o outro no porto seguro, pois somos companheiros de viagem.

Papa João Paulo explica que, antes da vinda de Jesus, o matrimônio era uma espécie de sacramento da criação. O homem e a mulher ajudam nessa criação. No ventre da mulher, acontece o milagre de criar, do nada, a alma do ser humano [com a graça do Espírito Santo. A Igreja não é contra o sexo, ela aprecia tanto a sexualidade e dá tanto valor a ela, que lhe dá um valor sagrado. Por sua natureza, o sexo tem algo de divino, mas isso ainda não é o suficiente para torná-lo sacramento.

Buscar a felicidade a dois

O casamento entre dois batizados é um sacramento, porque é uma participação na redenção, é salvífico porque é uma entrega. É a entrega da sua vida para fazer com que o outro chegue à felicidade, que é Jesus. Você não é a fonte da felicidade, mas deve entregar a sua vida para alcançar a felicidade, um se faz sacrifício ao outro.

O ato da união sexual entre o marido e a mulher é prazeroso, faz com que ambos fiquem satisfeitos, mas também é uma entrega. O esposo entrega o seu corpo à esposa, e ela se entrega ao esposo, é uma doação. Essa entrega em Cristo é um sacramento, não simplesmente pela criação de Adão e Eva, mas no ato da cruz.

Quando pagãos se unem no casamento participam da criação, mas quando batizados se unem em matrimônio eles participam da Igreja. Essa união maravilhosa de entrega mútua entre Cristo e a Igreja se torna visível na entrega pela sua esposa e pelo esposo.

Na Eucaristia, vivemos o grande mistério em que o Esposo [Nosso Senhor Jesus Cristo] entrega o Seu Corpo pela Esposa [Igreja]. O Esposo dá tudo o que é por amor. O matrimônio é uma "cruz", pois é uma entrega de amor. O mundo perdeu a noção do amor, ele não é subjetivo e pessoal.


Sexo

Quando os namorados se unem sexualmente, muitos criticam a Igreja dizendo que julgamos o amor deles, mas isso não é amor, é egoísmo. Nós católicos sabemos que amor não é sentimento, mas existe um sentimento que acompanha o amor, pois este é uma entrega e não é um sentimento subjetivo, pois você pode se sentir bem tomando um veneno, como as drogas. O mundo moderno quer "viajar" no amor, quer se sentir bem, mas o sentimento pode ser gostoso e profundamente egoísta.

O sexo é uma entrega total, o corpo fala, pois é uma linguagem. Se uma pessoa diz: "Eu te amo" – com os lábios cerrados e com gestos negativos –, você vai acreditar no corpo ou na palavra dela? O corpo, na relação sexual entre marido e mulher, diz: "O meu corpo é todo seu", mas, quando o sexo está no namoro, não há entrega total. Quando cada um vai para sua casa é uma mentira. Somente no matrimônio, na entrega para sempre, é que ocorre a entrega total, isso é redentor, sacramento que Jesus nos revelou na cruz.

Você vive uma crise conjugal? Olhe para a cruz no sacrifício do calvário e peça a Deus a força de se entregar, derramar o sangue pelo seu cônjuge e filhos.

Papa Bento XVI afirmou: "O amor-ágape deve buscar forças no amor-erótico", ou seja, no amor que temos. Ao desejar Deus, podemos usar nossos afetos. O amor não é só sentimento, mas ele se expressa no desejo.



Padre Paulo Ricardo

Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior pertence ao clero da Arquidiocese de Cuiabá (Mato Grosso – Brasil) –  contato@padrepauloricardo.org . Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/matrimonio/o-matrimonio-e-o-sacramento-da-criacao/


11 de agosto de 2021

Qual é a reflexão que podemos fazer da casa sobre a rocha?


Nas palavras de conclusão do Sermão da Montanha, Jesus apresenta aos seus discípulos a seguinte parábola: "Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína " (Mt. 7 24-27).

Antes disso, Jesus também falou: "nem todo aquele que me diz: "Senhor, Senhor" entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt.7, 21). A parábola parece servir para confirmar isto: não basta falar, é preciso fazer a vontade de Deus. Não adianta somente
rezar, é preciso viver a partir de sua Palavra. O Sermão da Montanha é como o resumo de toda a pregação de Cristo sobre o Reino dos Céus. E essa parábola, ao final, deixa claro que, fazendo o que ele apresenta neste Sermão, estaremos cumprindo a vontade de Deus, alimento da nossa vida (cf. Jo. 4,34).

Qual é a reflexão que podemos fazer da casa sobre a rocha?

Foto ilustrativa: Pliene by Getty Images

Vamos refletir sobre a casa e a rocha

O ponto central da parábola da casa sobre a rocha parece estar na Palavra, o Verbo, que é Deus, que estava no princípio, que fez todas as coisas e que rege a nossa vida. Palavra que se encarnou, que veio habitar em nosso meio, para que conheçamos de perto o Reino. É, portanto, sobre essa Palavra que devem se edificar nossas construções.

Diante disso, outra ideia que nos vem deste texto é a da construção. Quando pensamos em construir, vem automaticamente em nossa mente o que construir e em qual lugar. Mesmo quem não entende muito de obras sabe que nelas precisam haver um fundamento, uma base sólida, ou não se sustentará. Entendendo que a casa da história contada por Jesus é a nossa vida ou a nossa família, concluímos: Cristo é a base de tudo, o fundamento de qualquer coisa que pensarmos em erguer: trabalho, estudo, missão, relacionamento… Ele precisa estar na origem.

Uma terceira ideia que vem dessa parábola é a da rocha, fundamento de grandes edificações. Por várias vezes, Deus é citado na Bíblia como rocha, ou rochedo. É também a casa fortificada, abrigo seguro (Cf. II Sam. 22,3). Dessa forma, sábio e prudente é quem resolve construir a própria vida nesse fundamento. Essa casa servirá de refúgio para ele nos momentos da tribulação. O dono da casa pode se abandonar no Senhor, que não deixará a edificação ruir.

Como fazer de Cristo a rocha firme da nossa vida

É preciso que nossos projetos estejam baseados no projeto de Deus a nosso respeito: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem"(Sl. 126,1). Na prática, isso quer dizer que tudo o que desejarmos fazer, antes é preciso perguntar a Jesus se é o que Ele quer e como Ele quer. Caso
contrário, nossa declaração de Jesus como Senhor das nossas vidas é vã. Infelizmente, começamos com projetos que parecem muitos bons, cristãos, mas que, no fundo, são lindas articulações de nossas mentes. Não vêm de Deus. Entretanto, como os desejamos muito, esquecemos de perguntar ao Senhor, ou damos um jeito de achar que foi Ele quem nos pediu. Parece que os enxergamos como óbvios, mas, no fundo, são frutos de nossas invenções. Detectar a origem de nossos projetos é a primeira forma de colocar Jesus como o fundamento; depois, é interessante perguntarmos de que modo Ele quer que executemos aquilo.

Dessa maneira, o que fizermos irá em frente, pois contaremos com o auxílio do grande arquiteto que é Deus. E algo tão importante quanto perguntar ao Senhor é fazer o que Ele mandar. Não basta ouvir, é preciso fazer acontecer o que o Senhor pede, do jeito que Ele quer; sem isso, a construção nem chega a
acontecer.


Saindo das questões terrenas, essa parábola nos aponta para o Céu. Uma vida em Deus aqui constrói o nosso "lugar no Céu". Essa "vida em Deus" é baseada no que escutemos através da Igreja, da Comunidade, da nossa família ou quando estamos sós com Ele. É uma vida de obediência às suas leis já inscritas em nosso coração, apresentadas na pregação de Jesus. É essencial nos mantermos inabaláveis ao que nos pede o Senhor, mesmo que isso nos custe a vida, um emprego e tantas outras coisas; ou mesmo nas tribulações. Por pior que sejam as adversidades, sempre haverá um espaço de liberdade para optarmos por obedecer a Deus. O mesmo acontece nas coisas pequenas que parecem inofensivas e que ninguém nunca verá, apenas nós mesmos. Nelas, também precisamos permanecer fiéis, porque o Senhor nos vê. E uma casa construída desta forma ajudará na edificação de outras com o nosso testemunho de vida.

Sem ouvir a vontade de Deus no que fazemos, sem obedecermos ao que Ele nos pede, além de nos levar a sofrer com as inundações, ventos, enchentes e tempestades da vida, também não nos ajuda a nos construir para o Céu.



Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/qual-e-a-reflexao-que-podemos-fazer-da-casa-sobre-a-rocha/