19 de julho de 2021

Como gotejar o perdão?


Não existe a menor possibilidade de cura interior sem a efetiva experiência do perdão. Sem perdão
não podemos nem mesmo falar em cura interior. Por mais difícil e exigente que seja, o perdão é absolutamente fundamental. É condição sem a qual não existe cura. O perdão é absolutamente excludente: ou se perdoa e se recebe a cura, ou não se perdoa e a cura estará cada vez mais longe do
coração ferido.

Como perdoar com o coração ferido? Aí está um segredo fabuloso. O perdão não é um sentimento, mas uma decisão. Logo, é preciso que a compreensão do perdão seja deslocada do campo das emoções, sobre as quais não temos controle, e assim chegar ao campo da vontade, que é dominada pela razão e não pela emoção. É preciso clarear também a diferença entre vontade e desejo. O desejo é emocional, a vontade é racional. O perdão, portanto, é racional. É fruto de decisão. É possível mesmo quando o desejo é
contrário. O perdão é um ato da vontade.

Como-gotejar-o-perdão

Foto Ilustrativa: AntonioGuillem by Getty Images

O que gotejar perdão e como perdoar?

Perdoar não é deixar de sentir, não é aniquilar os sentimentos e as emoções, mas canalizá-los para a meta de nossa vida. É possível perdoar uma pessoa e continuar sentindo raiva ou tristeza no coração. Aliás, se espero a raiva e a tristeza passarem, isso é sinal de que o problema já foi esquecido, e então o perdão não é mais necessário. Perdoar não é deixar de sentir amargura interior. Perdoar é gotejar amor no próprio coração e, a partir daí, chegar a gotejar amor no coração de quem nos feriu e magoou.

Não devemos pensar que, quando perdoamos e continuamos sentindo a ferida, o perdão tenha sido falso ou mentiroso. O perdão só tem sentido quando nos sentimos feridos e machucados, e isso gera amargura e tristeza interior. O perdão só pode ser exercido quando temos o coração ferido. Sem a ferida, o que
vamos perdoar? Como perdoar se não nos sentimos ofendidos? Logo, a amargura interior é a indicação de que algo negativo aconteceu e que precisa ser perdoado. O sentimento tem de ser revestido pela inteligência e pelo Espírito Santo, sem o qual é impossível perdoar.


Vencer as emoções

Quando confundimos perdão com sentimento, acabamos deixando que as emoções negativas dominem nossa vontade. É preciso sair do campo do desejo para chegar ao autodomínio da vontade. Perdão é uma decisão. Para gotejar perdão em nosso coração temos de nos decidir a vencer as emoções. Apesar do que sentimos, nos decidimos pelo perdão. Esse é o passo fundamental.

Gotejar perdão é decidir não se deixar dominar pelos sentimentos estragados que a ofensa, a traição, os abusos e as agressões imprimiram em nosso coração. Nesse sentido, estou frisando a necessidade de gotejar perdão. Ninguém perdoa uma ofensa grave de uma hora para outra. O perdão não é um ato mágico que produz esquecimento da ofensa recebida. O perdão é um ato voluntário, uma decisão da inteligência, que supõe manter-se perseverante na decisão – ou melhor, nas decisões, já que não basta uma única decisão. Ele precisa ser gotejado, de maneira lenta e constante. Perdão é convicção firmemente mantida e expressamente manifesta.

Trecho extraído do livro "Gotas de cura interior", do padre Léo, SCJ


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/como-gotejar-o-perdao/


16 de julho de 2021

A vitória é possível mesmo diante das batalhas


Quando o povo hebreu saiu do Egito, houve dois acontecimentos muito parecidos: a passagem do Mar Vermelho (saída do Egito) e a passagem do Rio Jordão, na fronteira da Terra Prometida, ambas as situações buscavam a vitória.

O primeiro acontecimento foi para levantar o ânimo dos fugitivos escravos, o que chamamos hoje de autoestima. Com essa experiência, eles se sentiram capazes de superar problemas invencíveis. Era a gasolina que necessitavam para atravessar as inclemências do deserto e poder vencer o número de obstáculos que ainda se apresentaria.

O segundo acontecimento, a passagem do Rio Jordão, era para que os habitantes de Canaã constatassem que o povo hebreu era acompanhado por um Deus poderoso, fiel à aliança e que cumpriria a promessa de entregar-lhes a Terra Prometida. Os habitantes de Jericó perceberam que se tratava de um Deus poderoso, que caminhava ao lado dos hebreus e era capaz de intervir com uma força sobrenatural para cumprir as promessas.

A vitória é possível mesmo diante das batalhas

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Quem não tem a certeza da vitória jamais a conseguirá no campo de batalha da vida

Josué enviou alguns espiões que exploraram e analisaram cuidadosamente tudo o que se referia aos moradores de Canaã. Os "repórteres" trouxeram duas versões.

"São gigantes invencíveis. Suas muralhas chegam ao céu. Somos simples gafanhotos a seus pés". Sim, tratava-se de um exército invencível, que tinha armas defensivas (as muralhas) e armas ofensivas (gigantes bem armados).

"A terra é bela, a mais bela de todas as terras. Vale a pena todo esforço". Mas o mais importante foi que, desde antes de entrar em Canaã, Josué já havia imaginado as aspirações dos povos nômades, sedentos de território. Josué realiza então um gesto simbólico e profético: antes da batalha, divide o território. "Vamos tomar esta terra hoje mesmo. Ela é nossa". Está seguro que vai ganhar a batalha. Quem não tem a certeza da vitória na mente, jamais a conseguirá no campo de batalha da vida.

Assim, quando os hebreus chegaram à fronteira da Terra Prometida, sua fama e façanha já haviam penetrado as fronteiras de Canaã e conquistado a mente de seus inimigos, pois começaram a ter medo.

Os habitantes de Jericó tinham tudo para derrotar facilmente um exército que ainda estava à sombra da escravidão. Eles [os hebreus] eram nômades, sem armas, sem experiência ou poder militar. No entanto, os moradores de Jericó decidiram não lutar. Diz a Palavra que Jericó "estava trancada dentro de seus muros e barreiras". Eles olhavam uns para os outros e o medo crescia entre si. Já estavam derrotados, porque não queriam lutar.

A tática de Josué

Dar sete voltas ao redor da cidade para fazer crescer o temor de um ataque que não veio. "De uma forma ou outra, vocês cairão em nossas mãos", disse ele. O medo cresceu tanto, que decidiram não se defender. Já tinham renunciado a atacar os hebreus. Agora, ruem e caem as muralhas defensivas da vida deles. Eles foram, então, presas fáceis para os inimigos, que eram bem menos fortes e capacitados.

Por que perdeu Jericó? O problema deles foi não atacar nem se defender, pois se deram por vencidos antes da batalha.

Tiveram medo da fama que precedia os hebreus: Seu Deus era poderoso. Os hebreus conquistaram Jericó não porque suas paredes caíram por milagre, mas porque seus habitantes não queriam lutar, pois se deram por derrotados antes mesmo de entrar na batalha.

Por que ganharam os hebreus?

Eles tomaram posse antes de entrar no território. Eles estavam convencidos da vitória. Sua mente era vitoriosa. Eles tinham um Deus poderoso ao lado deles, que os fez passar o Mar Vermelho para lhes dar autoconfiança.


Nas mãos dos adversários

Quando cruzamos os braços e não lutamos, estamos nas mãos dos nossos adversários. Quando decidimos atravessar o "Jordão", não podemos voltar, então não há outra estrada a não ser a luta e a vitória até o fim. Quando conhecemos os pontos fortes e fracos do inimigo ou a empreitada, queremos ganhar, estamos mais bem preparados para a batalha.

Quando, num ato real, tomamos posse do desafio que está diante de nós, então somos capazes de superá-lo. Acima de tudo, na vitória ou na derrota existe um fato definitivo: o Deus que nos libertou da escravidão, conduzindo-nos através do deserto, nos prometeu uma terra.

Quando fizemos a experiência da passagem do "Mar Vermelho", a passagem da escravidão, perdemos o medo de outros problemas. Quando escolhemos um largo caminho, já não podemos voltar. Só fica aberta a possibilidade da vitória.

Quando sabemos que tudo depende de uma promessa feita por Deus, as nossas atitudes mudam, porque temos confiança e esperança. Sabemos que alcançaremos a vitória, porque Deus prometeu e Ele é fiel.

José H Prado Flores
Pregador internacional, Fundador e Diretor Internacional das Escolas de Evangelização Santo André
https://eesabrasil.com.br/


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/vitoria-e-possivel-mesmo-diante-das-batalhas/


14 de julho de 2021

Como lidar com o desânimo


Você já deve ter ouvido alguém lhe dizer na última semana: "Nossa, estou desanimado, não tenho vontade para nada!". Para avaliarmos as situações que geram desânimo, convido você a perceber o quanto consegue ter habilidade para lidar com as dificuldades e as situações delicadas em sua vida.

As pessoas atribuem essa capacidade à chama resiliência, ou seja, capacidade de conviver com as situações cotidianas, superar dificuldades e dar um novo sentido para a vida.

Qual é o sentido da vida? De que forma é possível encontrar propósito, realização e satisfação? É possível construir algo que tenha duração plena?

Como lidar com o desânimo

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Martin Dimitrov

Não deixe o desânimo atrapalhar seus planos

Muitas pessoas jamais pararam para pensar no sentido da vida e, um dia, depois de muitos anos, começam a se questionar por que seus relacionamentos não deram certo e por que se sentem tão vazias, mesmo tendo alcançado algum objetivo anteriormente estabelecido. Um jogador de baseball, que alcançou sucesso neste esporte, foi questionado sobre o que gostaria que lhe tivessem dito quando ainda estava começando a jogar baseball. Ele respondeu: "Eu gostaria que alguém tivesse me dito que, quando você chega ao topo, não há nada lá". Ou seja, muitos propósitos para os quais nos voltamos não fazem sentido pleno. Vamos atrás de propósitos que nos completem, tais como sucesso no trabalho, prosperidade, relacionamentos, entretenimento entre outros; no entanto, muitas pessoas, quando conseguem tudo isso, ainda sentem que nada parece os preencher.

O sentido da vida é descobrir quem você é, ou seja, descobrir quem somos, de onde viemos e para onde vamos, sobre a procura da felicidade, sobre o amor ao próximo e aos outros. O sentido da vida é também o progresso material e especialmente espiritual, pois no crescimento individual a pessoa consegue se compreender.

Questione-se

Muitas vezes, paramos em situações até mesmo simples, dando-lhes mais importância do que elas realmente merecem, maximizando problemas ou vendo situações que nem sempre são adequadas, e nisso acabamos por cair no desânimo.

Nem todos temos uma vida perfeita, mas o mais importante é entendermos que, por vezes, precisamos parar, colocando-nos de forma ativa diante das dificuldades, de modo a compreender que a vida se faz a cada momento que superamos as dificuldades. Confiar, aceitar suas capacidades e limitações, aceitar algumas coisas e dar passos na mudança de outras será muito importante neste caminho.




Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.



12 de julho de 2021

Como lidar com a saudade dos filhos que estão longe


Saudade, sentimento tão falado e cantado em prosa e verso, que vai nascendo devagarinho no coração daqueles que amam.

Sinto saudade de muitas coisas, situações e pessoas. Hoje, no entanto, vou contar-lhes a minha vivência em relação à saudade de uma filha que saiu de casa para estudar.

Como lidar com a saudade dos filhos que estão longe

Foto Ilustrativa: by Getty Images / fstop123

Neste momento, passam-se flashs de situações que vivemos juntas: a gravidez tranquila, o nascimento, dor que explode em alegria , a ansiedade da mãe desajeitada dos primeiros meses, os primeiros passos, as crises de bronquite, o primeiro dia no maternal, o nascimento da irmã, as mudanças de casa e de cidade, as brigas com a irmã, seu carinho com os pais e avós, a primeira menstruação, as festas com os amigos, o primeiro namorado, a orientação vocacional, os vestibulares, a espera do resultado, o "enfim passei", a arrumação das coisas, o dia da partida.

Aprenda a lidar com a saudade que você traz dos filhos

Como bons pais, fomos levá-la e deixamos milhares de recomendações. Já ao entrar no carro, para voltar para casa, olhei para trás e… Cadê ela? Pensei: tudo bem, é só por um tempo. A viagem foi calada. Creio que o pai, assim como eu, veio rezando para Deus não nos desamparar neste momento, para protegê-la, e todas aquelas orações que pais que amam sabem fazer.

Cheguei em casa e o mesmo ritmo de vida continuou, isto é, uma correria. Mas, em alguns momentos, passando por seu quarto, vendo uma peça de roupa sua, a falta na mesa para o almoço, encontrando com suas colegas, a lembrança vinha tão forte, que parecia como um soco no estômago. Eu pensava: "Como ela está? Será que comeu? Está dormindo bem? Não ficou doente? E a rinite alérgica? Está gostando do curso, da casa, das colegas?".

Preocupação é diferente de saudade

Nas conversas pelo telefone, tudo era respondido, mas, dentro de mim, ficava uma tristeza tão grande depois que desligava o telefone; então, compreendi que era saudade, e que precisava diferenciá-la das preocupações. A preocupação sempre existiu e sempre vai existir, e só é aliviada quando se tem confiança em Deus. A saudade, no entanto, deixa um buraco no coração; é como se algo faltasse e nada nem ninguém diferente dessa pessoa pudesse preencher. O lugar dela está ali e é só ela quem cabe naquele espaço.


Compreender isso me ajudou a lidar com a saudade, pois entendi que quem ama sofre muito mais de saudade, mas o amor que sente é maior que tudo, maior que a dor da separação a até maior que a morte. Então, se sofro por amor, este próprio amor preenche o espaço deixado pela falta.

Muitas vezes, eu me questiono: "Porque deixei que ela fosse?"; então, penso que essa era a decisão certa, pois eu não poderia prender aquela que criei para ser livre, para realizar a missão a ela destinada, para ser aquilo que deve ser.

Os anos se passaram, e hoje faço um balanço: sou mais mãe, ela é mais filha, estamos mais maduras, aprendemos uma com a outra e Deus está realizando uma oração que faço todos os dias para minhas filhas: que elas sejam felizes!

Mara S. Martins Lourenço, psicóloga e membro da Comunidade de Aliança Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/como-lidar-com-a-saudade-dos-filhos-que-estao-longe/


9 de julho de 2021

Como podemos religar nosso relacionamento com Deus?


"O pecado é, antes de mais nada, ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é um atentado contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a conversão traz consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da penitência e reconciliação". CIC 1440

Confessar-se, segundo a Igreja, é fazer uma revisão dos pecados da sua vida passada, reconhecer o erro, fazer o propósito de não voltar a cometê-los e mudar de vida.

"…por um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação: por outro, a ação de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por meio do bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa o modo da satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência com ele. Assim, o pecador é curado e restabelecido na comunhão eclesial". (CIC 1448)

Reflita sobre os elementos que nos aproximam de Deus

O sacramento da confissão é, primeiramente, para perdoar os pecados graves, mas também, assim como os demais Sacramentos, para infundir a graça no penitente. E nessa graça tem a cura, que nos fortalece na luta contra os pecados. Mas você pode pensar: "Peraí! Eu me confesso regularmente há 25 anos, e ainda cometo os mesmos pecados! Cadê a cura?". No decorrer deste texto e dos próximos, vamos procurar dar o "pulo do gato", a chave para acessar essa graça.

Após confessar-se com as santas e devidas disposições, depois da absolvição, na vida comum vai ser possível perceber uma força além do que teria conseguido por meios naturais, como se fosse uma vacina, uma proteção sobrenatural contra a fraqueza do pecado. O seu propósito fica suavemente mais firme. Teremos entrado em estado de graça.

Como podemos religar nosso relacionamento com Deus?

Foto Ilustrativa:Wesley Almeida/cancaonova.com

Os elementos da confissão

Exame de consciência

Trata-se do ato de lembrar-se de todos os pecados que cometeu desde a última confissão. Se foi há muito tempo, pode levar alguns dias. Com o hábito cotidiano da confissão, esse momento se torna mais simples. O que se tem que procurar não é o que está afligindo a consciência, mas aquilo que vai contra a lei de Deus e à lei natural objetivamente. (Primeiro pulo do gato!).

Não analisar a vida moral de acordo com o sentimento de culpa apenas. Esse sentimento é enganoso, pois, às vezes, culpamo-nos de coisas das quais não temos culpa, e deixamos de nos culpar pelo que há de fato. O exame de consciência nos ajuda no autoconhecimento. Aprendemos a não ser subjetivos.

Precisamos julgar os erros de acordo com a regra externa que não está sujeita a alterações. Por isso, o exame de consciência tem de ser feito de acordo com a moral cristã. Vale a pena, no ato do exame de consciência, escrever o pecado em um papel para não se esquecer na hora da confissão.

Arrependimento

Reconhecer que realmente estava errado e detestar os atos que fez pelo menos do ponto de vista racional. (Segundo pulo do gato!). No exame de consciência, nós nos lembramos do pecado cometido; no arrependimento, reconhecemos o erro cometido, e que rompemos nosso relacionamento com Deus.

No arrependimento, para ser sincero e mais nobre, é preciso meditar sobre o mal que o pecado nos fez. Perceber que nos afastou de Deus e nos pôs no caminho da condenação eterna. Se não houver o arrependimento sincero e a confissão sacramental, ao morrer podemos ir para o inferno.

Propósito

Aqui está a chave para uma boa confissão. O propósito deve ser definitivo e universal, de não tornar a cometer nenhum dos pecados graves cometidos. Universal no sentido de serem todos os pecados graves. Não pode faltar nenhum. E não pode ser um propósito de ir largando aos poucos o pecado. É preciso ser radical e de uma vez por todas. Caso contrário, a confissão não será válida e não recebemos a graça da cura e a ajuda contra o pecado.

Novo homem após a confissão

Parece ser um despropósito, mas não é. À medida em que se nutrem essas decisões, ao sair da confissão, no intuito de sermos fiéis ao propósito feito diante de Deus, passamos a estar atentos à nossa vida para, de fato, não mais cometermos o pecado mortal. Munidos com a ajuda sobrenatural sacramental, será evidente que, em poucas semanas, os pecados graves vão desaparecendo da nossa vida!

Caso torne a cometer um pecado mortal, bem pouco tempo depois da confissão, volte a confessar-se com a mesma disposição, pois essa repetição em curto tempo será só no início, pois logo eles vão desaparecer de nossa vida!

Essa firme decisão deve ser sobre todos os pecados graves. Os leves, é bom que se tenha a mesma disposição, porém, obrigatoriamente, no primeiro momento, deve ser sobre os mortais.

Não cometa os mesmos pecados

Caso não se tenha ainda a coragem de se ter um propósito desses, o caminho é meditar ainda mais sobre as consequências do pecado grave em nossa vida.

A confissão possui mais três elementos, mas, nessa semana, vamos até aqui. Pense no que você leu e seja sincero: era assim mesmo que você se preparava para a confissão? Tinha um exame de consciência voltado para os conceitos da moral natural ou eram somente de acordo com o peso de consciência, sem saber muito bem do que se trata a moral? Havia em você um arrependimento e um horror pelos pecados cometidos? E, ao se confessar, havia um propósito firme e sincero de nunca mais cometer, pelo menos os pecados graves?



 


Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/confissao/como-podemos-religar-nosso-relacionamento-com-deus/


7 de julho de 2021

O papel da cultura na formação da juventude


No artigo passado, terminamos com o relato da Edith sobre o afastamento de sua família quando começou a frequentar a universidade. Esse afastamento não se deu apenas com relação ao contato físico, pelo fato de passar a maior parte do dia nas salas de aula e nos grupos em que havia se inscrito, mas também ocorreu na dimensão psíquica: emocionalmente, a mãe e os irmãos passaram a contar menos para ela.

Sabemos que isso não aconteceu só com Edith, mas provavelmente todos nós já passamos por esse momento, ou passaremos, se ainda somos bem jovens. É algo que faz parte desse momento na formação de vida humana, quando se está buscando um maior autoconhecimento e autoafirmação dos próprios valores, para se preparar para a vida adulta, com maiores responsabilidades1. A família de Edith sabia respeitar as transformações que estavam acontecendo na filha caçula, e o que os deixava mais tranquilos era o fato de Edith e Erna estarem sempre juntas em suas novas experiências. Elas andavam com suas "almas-irmãs": Rose Guttman, Lilli Platau (com quem formavam o "trevo de quatro folhas") e Hans Biberstein, que depois se tornou o esposo de Erna.

A mãe de Edith conhecia bem as amizades das duas filhas, assim como as suas famílias, e sabia que compartilhavam de valores semelhantes aos seus. Ela assumia uma atitude muito construtiva: estava atenta e disponível, mas respeitava a necessidade dos filhos jovens de experimentarem uma maior autonomia, para serem capazes de descobrir a própria singularidade, a "nota pessoal" de cada um. Mas apesar de todos esses cuidados, sabe-se que os jovens, mesmo com o apoio atento dos pais, se tornam mais suscetíveis às influências do meio, especialmente da cultura em que estão inseridos. Edith relata um episódio em que relata a influência da cultura, tanto negativa quanto positiva, nesse momento de sua vida.

O papel da cultura na formação da juventude

Foto ilustrativa: Alessandro Biascioli by Getty Images

Uma crise de depressão durante a juventude

Edith Stein narra em seus escritos autobiográfico2 que, em 1912, teve uma crise de depressão ao ler o romance Helmut Harringa: Uma história de nossa época. Nesse romance, o irmão do herói se suicida e o protagonista principal cai em profunda depressão, da qual nada poderia tirá-lo, senão um hino composto por Lutero (salmo 46). Edith se identifica profundamente com o herói e ela também se deprime (EA, p. 268). Adoece em sua dimensão psíquica, que também influencia a sua dimensão corpórea, diminuindo a sua força vital e levando-a a experimentar uma profunda depressão ocasionada pela leitura de um romance. Ela adoeceu psiquicamente, e ao reconhecer esse seu adoecimento, se torna capaz de penetrar mais profundamente em sua dimensão interior e analisar-se de modo reflexivo, responsável e livre3.

Edith aprende com essa sua experiência, visto que a relata em seus escritos autobiográficos de 1933. Mas não só neles, pois quando se torna, entre 1928 e 1933, uma conferencista renomada, aborda esse tema da influência da cultura, especialmente da literatura, na formação dos jovens4. Desde abril de 1923, quando havia percebido que não conseguiria se tornar professora de filosofia em uma universidade por ser mulher, Edith passa a lecionar latim e literatura alemã no Colégio das irmãs dominicanas de Espira. Daí seu interesse pelas questões pedagógicas, que, para ela, não a distanciavam de sua formação filosófica fenomenológica. Veremos isso nos artigos seguintes.

Relato de Edith

Retomando o relato de Edith, ela explica o que aconteceu ao ler o romance de Harringa:

"Ele descrevia com as cores as mais nítidas a vida estudantil e seu
deserto de vínculos humanos, deserto este que inicia as pessoas
absurdamente no consumo de álcool e em outros descaminhos morais
daí resultantes. Aquilo me encheu de um desgosto tal, que não fiquei
bem por semanas. Perdera toda a confiança nos seres humanos que eu
cruzava a cada dia. Ia e vinha com a impressão de estar esmagada por
um peso enorme e não podia reencontrar a minha alegria" (EA, p. 269).

Interessante saber de que modo a sua depressão foi curada, pois esse fato nos mostra a influência, tanto negativa quanto positiva, da cultura5. Edith relata que foi curada da depressão, que tinha ocasionado um afastamento emocional até dos próprios amigos, quando ouviu, numa festa celebrada em sua cidade em honra do compositor Bach, uma cantata composta por ele a partir do mesmo hino de Lutero que curou o herói do romance. Ela readquire confiança em si mesma e no seu pequeno grupo de amigos.

"Foi então que o mal do século que eu sentia desapareceu de um só
golpe. Decerto é possível que o mundo seja mau, mas me dei conta de
que, se eu mesma e o pequeno grupo de amigos em quem eu podia
confiar empregássemos todas as nossas forças, então terminaríamos
com todos os "diabos"" (EA, p. 269).

O amor que Edith recebe de sua família e dos seus amigos falou mais forte. Lhe deu condições para enfrentar a própria depressão e voltar a acreditar na bondade, que também existe, junto com o mal, em todo ser humano.


Além disso, a postura de Edith nesse relato revela um outro elemento muito importante: apesar de sua origem judaica e mesmo vivenciando um período de forte agnosticismo, ela considera todas essas manifestações culturais, inclusive vinculadas à religião, como fazendo parte da cultura de um povo. Por isso, não podemos dizer que Edith vivenciou um "ateísmo", a partir de seus 14 anos, pois ela não considera a religião como um mal, combatendo-a. Ela apenas não reconhece nela um valor, uma justificação que pudesse ser universal, verdadeira. Assim, podemos chamá-la de "agnóstica", cuja palavra vem do grego: o prefixo "ag", significa "não", e "gnose" é "conhecimento". Se é agnóstico com relação a algo quando não se acredita em algo por não conseguir pensá-lo, conhecê-lo, compreendê-lo. Edith tinha conhecido, por meio de sua mãe, o Deus da tradição judaica, percebido como um Ser supremo e distante, que sequer pode ser nomeado. Coerente com o seu modo de ver o mundo, ela nega a existência desse Deus por não ser capaz de pensá-lo e reconhecê-lo enquanto tal. Acredito que, nesse estado, se encontram muitas pessoas com quem convivemos, e Edith pode nos ajudar, com sua vida e pensamento, a dialogar com eles e conduzi-los por um caminho mais verdadeiro e aberto, menos preconceituoso, com relação ao fenômeno religioso em geral.

Para conhecer mais sobre a vida de Edith Stein, entre no nosso site: http://edithstein.com.br.
Siga-nos em nossa página do Instagram: @edithstein.estudosintegradores

Em agosto estudaremos o fenômeno religioso em geral, em uma nova disciplina introdutória, para pessoas que não têm conhecimento prévio de filosofia e de fenomenologia. Se tiver interesse em conhecer nosso curso sobre Fenomenologia da Religião, entre em contato conosco pelo http://cursos.edithstein.com.br. Ou fale com a Michele pelo WhatsApp: (51) 99140-6725.

Referências:

1Adair Aparecida Sberga, em seu livro A formação da pessoa humana em Edith Stein: um percurso de conhecimento do núcleo interior. São Paulo: Paulus, 2014. (Coleção filosofia em questão), aborda esse tema e explicita como Edith refletiu e escreveu sobre esse processo de formação, que ela mesma vivenciou, de modo bem consciente, a partir de seus sete anos de idade.

2Edith Stein. Vida de uma família judia e outros escritos autobiográficos. Trad. Maria do Carmo Wollny e Renato Kirchner. Rev. Juvenal Savian Filho. São Paulo: Paulus, 2018. – Coleção Obras de Edith Stein. Esse texto será referido aqui por: EA (Escritos Autobiográficos),

3Se vivesse em nosso tempo, Edith Stein certamente refletiria sobre a influência das redes sociais na formação de nossas crianças e jovens. Pela internet, toda pessoa pode ter acesso imediato a qualquer tipo de informação, e por isso é preciso redobrar a atenção com relação a nossas crianças e jovens. Aprendemos com Edith que tudo que se passa no interior, da dimensão psíquica e nos sentimentos, acaba se manifestando na dimensão o corpo, como, por exemplo, uma diminuição da energia vital como um todo: do apetite, de horas de sono, do interesse pelas pessoas e coisas que se passam ao redor. Esse
tipo de atenção, podemos ter com nossos filhos, sobrinhos, netos, alunos etc., sem ter medo de estar sendo muito invasivos.

4Essas conferências de Edith Stein foram reunidas e publicadas em um livro chamado "A Mulher". Existe uma tradução brasileira: STEIN, Edith. A mulher – sua missão segundo a natureza e a graça. Trad. Alfred Keller. Bauru, SP: EDUSC, 1999. Nessas conferências Edith Stein não trata apenas de questões femininas, mas da formação dos jovens, em geral. Como em sua época a formação das mulheres era muito mais restrita, comparada a dos homens, ela enfatiza numa igualdade de condições para que todos possam se formar, sem deixar de respeitar a especificidade masculina e feminina, mas compreendendo que é apenas o indivíduo singular que deve ser formado, sempre em vistas do desenvolvimento de suas potencialidades própria, a sua "nota pessoas", como ela se refere. É realizando a própria essência, aquilo que se "sente" que se "deve ser", que as pessoas são capazes de se tornar indivíduos livres, responsáveis e felizes.

5Não podemos evitar que as crianças e jovens tenham contato com a cultura "liquida" que vivemos hoje em dia, mas podemos fortalecê-los e prepará-los para vive-la por meio dos vínculos afetivos com a família.



Maria Cecilia Isatto Parise

Maria Cecilia Isatto Parise. Casada há 30 anos e mãe de dois filhos. Mestra, pesquisadora, professora e conferencista em Edith Stein.
Site: edithstein.com.br
Instagram: Maria Cecilia Isatto Parise
Facebook: Chouette – Filosofia Comentada


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/o-papel-da-cultura-na-formacao-da-juventude/


5 de julho de 2021

Como não se abater pelas notícias e acontecimentos externos?


A notícia que tenho para dar a vocês é: dificilmente, você não irá se abater pelas notícias e acontecimentos externos. Sabe por quê? Porque estamos o tempo todo absorvendo e construindo cognições. Isso mesmo! Cognição é a capacidade que temos de assimilar o mundo, de colocar para dentro, de algum modo, o que experimentamos no mundo. Sendo assim, tudo o que você tem contato, gerará algo dentro de você, uma lembrança, uma ideia, um conceito… E, assim, vamos construindo conhecimento.

A única forma de nos privar deste relacionamento com as más notícias seria nos privando delas. O que, honestamente, para algumas pessoas, é extremamente necessário. Podemos pensar neste tempo de pandemia, por exemplo, muitas pessoas adoeceram devido ao intenso fluxo de informações trágicas, ruins que recebemos. E, nesses casos, onde a pessoa já estava em um quadro depressivo, ansioso ou desenvolveu algum deles devido à pandemia, a melhor opção seria se abster totalmente dos jornais, notícias, vídeos polêmicos ou grupos de conversa que só tratavam desse assunto. Essa exclusão seria uma medida de tratamento, em busca de uma saúde mental perdida.

Como não se abater pelas notícias e acontecimentos externos?

Foto ilustrativa: fizkes by Getty Images

Como lidar com as notícias ruins?

No entanto, para aqueles que não estão adoecidos, existe uma forma de se relacionar com tais notícias ruins. Sabe como? Aprendendo a olhar para os fatos de forma realista e aceitando as próprias limitações. Aqui podemos abrir inúmeras discussões, seja sobre até onde aceitar ou seja sobre saber que a vida acontece, mesmo contra a minha vontade, pois não tenho domínio de todas as coisas. Isto, sem falar da verdade, uma vez que verdade é verdade e pronto! Não existe um ponto de vista, as coisas são e pronto.


Por isso, jogar à luz da verdade nos orienta. Pois, diante dela, não restam dúvidas, apenas uma adaptação nossa para viver a verdade. E, uma vez que se depara com uma realidade trágica, dura, difícil, nos cabe racionalizar para não nos perdermos em nossas emoções desordenadas. Sim! Muitas vezes, o que dificulta a nossa relação com essa realidade dura é o deixar se envolver e olhar apenas para o que se sente e não para o que é. Separar o real do imaginário, a emoção da razão nos orientará e auxiliará a viver melhor a realidade, pois, por mais que se deseje, não vivemos em um conto de fadas, a vida não acontece em um "Era uma vez", mas na verdade que se apresenta diariamente diante dos teus olhos.



Aline Rodrigues

Aline Rodrigues é missionária da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo. É psicóloga desde 2005, com especializações na área clínica e empresarial e pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental. Possui experiência profissional tanto em atendimento clínico, quanto empresarial e docência. Autora do livro "Conversando sobre ansiedade: aprenda a vencer os seus limites", pela Editora Canção Nova. Instagram: @alinerodrigues.ss


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/como-nao-se-abater-pelas-noticias-e-acontecimentos-externos/