28 de junho de 2021

O cérebro pode nos enganar


Se fôssemos contar a história de nossa vida, muitos seriam os fatos relatados, mas nosso cérebro pode criar armadilhas e esconder cenas, principalmente diante de situações que nos fizeram sofrer. Se isso acontece, a realidade é distorcida e ficamos só com o que queremos ver.

O quanto nossas feridas podem bloquear memórias positivas do nosso cérebro? A resposta para essa pergunta é: podem bloquear muito e, em muitos casos, tudo.

Vários estudos da neurociência têm mostrado o quanto nossas dores emocionais e nossos traumas causam também modificações no funcionamento do nosso cérebro. São como feridas, o que nos faz compreender melhor o próprio significado da palavra trauma. Em grego, ela quer dizer exatamente isso: ferida.

O cérebro pode nos enganar

Foto ilustrativa: Prostock-Studio by Getty Images

Como o cérebro funciona

Em meu livro 'A cura dos sentimentos em mim e no mundo', explico que um trauma é uma experiência armazenada no cérebro de maneira inadequada, uma "forma errada da memória". Se pedirmos a um paciente que recorde de uma situação que o fez sofrer e, ao mesmo tempo, monitorarmos o funcionamento cerebral por meio de ressonância magnética funcional, observaremos que há maior atividade no hemisfério direito do cérebro; em contrapartida, parte do córtex pré-frontal fica sem ativação.

Considerando que o lado direito do cérebro é nosso cérebro emocional, e o córtex pré-frontal é o cérebro racional, poderíamos pensar que, diante de um trauma ou da lembrança de um trauma, ficamos "burros"; não pensamos, apenas sentimos.

Outros estudos sobre depressão, por exemplo, pontuam alterações no córtex orbitofrontal lateral, que atua no sistema de recompensa, gerando uma sensação de perda e decepção constante. Essa região também é responsável pelo senso de si mesmo, que interfere diretamente na autoestima – logo, uma pessoa, mesmo sendo muito bonita, não se vê assim. Esse é apenas um exemplo, a partir do qual podemos constatar que uma pessoa deprimida não vê a verdade sobre si mesma.

Imagine, então, o quanto o trauma pode cegar a visão que temos da pessoa que nos machucou! E se não somos  sequer capazes de enxergar a verdade sobre nós mesmos, tampouco veremos a verdade sobre o outro. Passamos a viver uma grande mentira, pois o cérebro traumatizado bloqueia as memórias positivas. Sim! O cérebro é capaz de esconder as memórias positivas e ficar "agarrado" apenas à memória traumática.

Diante da dor, você pode pensar que seu pai é um monstro, mas será que é essa a verdade? Como saber?

Nossa criança interior tem respostas

Gosto muito do filme de animação Divertida Mente (Inside out, 2015). Os responsáveis pelo roteiro entendem de emoção, de Psicologia e de como isso funciona no nosso  cérebro. Nesse filme, Riley, uma menina alegre de onze anos, enfrenta reviravoltas em sua vida quando sua família precisa deixar sua pequena cidade natal para viver em São Francisco. O roteiro do filme mostra, de uma forma lúdica, porém, muito assertiva, como nosso cérebro lida com as diferentes emoções. A personagem Alegria, que vive dentro do cérebro de Riley, tenta fazer de tudo para a menina reagir, mas a Raiva e, principalmente, a Tristeza aos poucos entram em ação no cérebro da menina. Na medida em que as emoções negativas ganham força, as lembranças positivas – representadas por esferas de memória – vão perdendo o brilho, desbotando e, por fim, se escondendo no fundo do cérebro.

É assim também na vida real. Temos a capacidade de esconder memórias positivas e potencializar somente as negativas. Assim, conseguimos "esquecer" de tudo o que era bom.

Por exemplo, digamos que você tenha um problema com seu pai ou com seu cônjuge. Se você está com raiva, ou magoado com a situação, quando olha para essa pessoa, enxerga apenas as memórias negativas, esquecendo-se, portanto, das passagens positivas. Passa-se, assim, a ver aquela pessoa pela metade, pois ninguém é só mau. E a verdade de sua história se transforma em uma mentira, pois foi contaminada pelas cenas negativas. Assim, você recorda apenas as coisas ruins que essa pessoa lhe fez, confundindo sua própria verdade e pensando que aquela pessoa é somente má. Nosso cérebro pode, muito facilmente, nos enganar.

Como conseguirei olhar para essa pessoa com amor novamente? Quando eu conseguir trazer de volta à superfície as memórias positivas que estavam bloqueadas no cérebro.


Relato

Lembro-me de um jovem que, na primeira sessão terapêutica, falava de seu pai com muita mágoa e raiva. Citou  várias cenas em que ele estava bêbado. Dizia que o pai era um fraco, que quem dava conta de tudo era a mãe, que ele fora ausente na criação dos filhos; enfim, um "zé-ninguém".

Leia, na carta que ele escreveu, as consequências desse relacionamento:

Andei por caminhos que não queria andar, caminhos que julgava serem corretos. Tentei preencher o vazio com vazio. Sou muito julgado pelas coisas que faço, pela maneira como vivo minha vida, por ser uma pessoa complicada, de difícil convivência, até mesmo o mau tratamento com as pessoas que mais amo…

Só que é muito difícil para as pessoas entenderem a minha pessoa, porque nunca ninguém se interessou em saber o que se passa em meu coração. Hoje, neste momento, resolvi colocar isso para fora. Sou uma pessoa que se sente muito solitária; mesmo  estando rodeado de pessoas, me sinto muito sozinho. Assim, me fechei em meu mundo. Queria cada vez mais me fechar nesse mundinho e não contar com ninguém pra nada, pois sinto que tudo é muito artificial.

Se teve uma pessoa que me entendia, que se preocupava comigo, era minha namorada, que acabou por terminar comigo. Era ela quem supria minhas necessidades e superava minhas expectativas… Nunca ninguém me perguntou se sofri com essa história, com essa separação. Quantas vezes me pegava sozinho, chorando a falta de um grande amor.

Às vezes acho que, para minha vida andar, dependo de alguma coisa que está guardada dentro de um cofre, mas a chave e o segredo foram enterrados junto com meu pai no dia em que ele morreu.

Mas eu tenho uma companheira que nunca se afastou de mim, e nem eu sei se seria capaz de me afastar dela. Ela me entende sem fazer nenhum esforço, faz-me sentir outra pessoa, me dá forças para  prosseguir, me deixa mais esperto em relação a tudo. Me sinto até mais inteligente quando estou com ela. E o melhor, ela nunca me questiona, nem me julga, nem me dá tapa na cara. Pena que não é sempre que ela pode estar comigo, pois há muita gente que a odeia. Acham que ela só me faz sofrer, mas pelo contrário: é ela que me  faz feliz, mesmo que de mentira. Minha companheira é a maconha.

Talvez, ao ler esse relato, possamos errar ao julgar o pai como culpado de tudo. Essa é a história que o filho conta, mas isso não significa que ela seja verdadeira. No meio de uma sessão, quando ele menos esperava, o cérebro dele, ao ser desbloqueado com o uso de técnicas, recordou-se de uma vez em que o pai, que havia bebido na noite anterior, acorda, vai à cozinha em direção ao filho – que na época tinha apenas dois anos de idade – e a mãe, com muita raiva, diz: "Que papelão! Que vergonha, o que você fez ontem…".

Nesse momento, em vez de aceitar o colo que seu pai queria dar, o menino se vira de costas para ele, rejeitando-o, e vai em direção ao colo da mãe.

Sentir-se inteiro

Esse jovem, ao recordar dessa cena, começa a chorar compulsivamente, reconhecendo que quem não amou naquele momento foi ele. O pai buscava amá-lo. Dali adiante, inúmeras lembranças positivas, antes "enterradas", vieram à tona. Havia muito mais lembranças positivas do que negativas. Esse pai era bom; porém, rejeitado por todos daquela família, morreu muito jovem e sozinho.

Foi muito sofrido para esse paciente ver a realidade, mas era a metade que lhe faltava para que pudesse sentir-se inteiro. Assim, não precisa mais das drogas para tapar o vazio. Ele passa a acolher todas as coisas positivas que vinham desse pai, e que antes ele rejeitava. Agora ele se sente inteiro, e não precisa mais das drogas para preencher a metade que lhe faltava.

E quanto à sua história de dor? É plenamente verdadeira?

Trecho extraído do livro "Vencendo Os Traumas que nos Prendem", de Adriana Potexki.



Adriana Potexki

Adriana Potexki é escritora e autora dos livros 'A cura dos sentimentos em mim e no mundo' e 'A cura dos sentimentos nos pequeninos'. Com formação em Psicologia, ela é terapeuta certificada pelo EMDR Institute, palestrante internacional e blogueira do site 'Sempre Família', do Grupo GRPCom. Autora do livro "Vencendo os traumas que nos prendem" , pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-cerebro-pode-nos-enganar/


25 de junho de 2021

Aprenda a reconhecer os pequenos milagres


Esses dias, deparei-me com a passagem do Evangelho de João, capítulo 11, que narra a Ressurreição de Lázaro, e fiquei encantada com o que ela despertou em mim. Diz a Palavra que Jesus era amigo de Lázaro e de suas irmãs Marta e Maria, mas, ao ser avisado da doença do amigo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar em vez de ir socorrê-lo. Compreendi, nesse fato, que Jesus não se deixava levar pelos sentimentos, mas tinha como meta fazer a vontade do Pai, a qual, pelo visto, naquele momento, era que Ele continuasse pregando o Evangelho em Jerusalém por mais dois dias. Como a viagem até Betânia era longa, chegou à casa do amigo quatro dias depois de seu sepultamento. Aos olhos humanos, um quadro angustiante, não acha? Marta chorando de um lado, Maria do outro, e a casa cheia de judeus que tinham vindo apresentar condolências à família. Era uma situação tão crítica, que diz a Palavra: "Jesus pôs-se a chorar". Diga-se de passagem, é a única vez que a Bíblia narra o choro de Jesus.

Bom, mas aí vem o mais importante, como o próprio Jesus declarou: "… esta enfermidade tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o filho de Deus" (Jo 11,4).

Aprenda a reconhecer os pequenos milagres

Foto Ilustrativa: by Getty Images /zeynep boğoçlu

Realmente foi o que aconteceu: a morte e a ressurreição de Lázaro glorificou tanto a Deus, que despertou ainda mais a ira dos fariseus, que procuraram, a partir disso, matar não somente Jesus, mas também Lázaro, por causa do número de pessoas que, atraídos por sua vida nova, vinham ao seu encontro e acabavam seguindo seu Mestre e amigo. Imagina o quanto a amizade entre Jesus, Lázaro, Marta e Maria deve ter crescido depois desse fato! Foi, sem dúvida, um dos maiores milagres narrados na Bíblia.

Valorize os pequenos milagres da sua vida

Agora, uno minha reflexão à do padre Léo, quando ele nos chama a atenção, em seu livro 'Experienciai Milagres', para percebermos e valorizarmos os milagres que acontecem todos os dias, mas não os valorizamos; às vezes, nem os percebemos. É, realmente, oportuno nos perguntarmos: "Será que alguma coisa só é milagre quando vem precedida de uma desgraça? Será que só valorizamos a saúde depois que aparece a doença? Se andar depois de se ter ficado paralítico é um milagre, por que não consideramos um milagre o fato de podermos andar, pular e correr todos os dias?".

Parece que é até natural ao homem valorizar mais as coisas e as pessoas depois que as perde. Geralmente, os momentos de maior elogios e boa fama são concedidos às pessoas depois de sua morte. Isso não faz sentido. Uma simples flor dada com carinho em vida vale mais que grandes coroas de flores enviadas durante o velório.


Deus está presente

Com isso tudo, Deus me chama a atenção para eu valorizar, hoje, a vida que tenho, a saúde, o trabalho, as pessoas que, de uma forma ou outra, são parte de minha história. Costumo sempre dizer para as pessoas o que elas representam para mim, mas pretendo investir mais nisso!

Se você quiser, faça o mesmo. Não espere acontecer uma tragédia para perceber o milagre que está ao seu lado. Valorize cada ação, cada fato, cada pessoa. Valorize sua vida, pois ela é o maior milagre de Deus. E como Jesus disse a Lázaro, ouso dizer-lhe, hoje, em nome de Jesus: "Vem para fora!". Feliz vida nova!



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/aprenda-a-reconhecer-os-pequenos-milagres/


23 de junho de 2021

A oração perpétua do coração


Caro leitor, um dos versículos mais inspiradores das Sagradas Escrituras pode ser encontrado no livro dos cânticos do rei Salomão (Cântico dos Cânticos). Eis a passagem: "Eu dormia, mas meu coração velava" (Ct 5,2).

Que versículo estupendo! Ele nos apresenta a grande alegria e vigilância que podem existir em um coração que ama apaixonadamente e que, por sua vez, aguarda expectante a presença do amado que se aproxima. Qualquer pequeno barulho na fechadura da porta, o mais ínfimo movimento no ponteiro do relógio que parece estar mais lento e, é claro, aquele especial e tão desejado perfume que se apresenta no ar antes mesmo da chegada do amado, despertam naquele que ama a mais solene expectativa. Somente um coração enamorado sabe o que isso significa.

A oração perpétua do coração

Foto Ilustrativa: by Getty Images / YakobchukOlena

O nosso coração é casa do Senhor

A linguagem é romantizada, porém, a mensagem é de uma agudeza impressionante! Neste maravilhoso cenário, o amor abrasado da amada pode ser comparado à nossa oração; a casa em que ela se encontra à espera do amado é o nosso coração; a amada somos cada um de nós, e o amado é o próprio Deus.

Santo Afonso Maria de Ligório na sua obra "A Verdadeira Esposa de Cristo" afirma que "o primeiro meio para amar a Jesus Cristo é a oração". Ela, segundo o santo, é a "ditosa fornalha em que a alma se abrasa do divino amor". Assim, quem não cessa de rezar jamais terá extinguida a chama do amor por Deus em seu interior. Ela será uma permanente companhia daquele que reza.

Você sabe reconhecer a voz de Deus?

A casa, como já foi mencionado, é o nosso coração. Do seu interior deve ressoar uma voz tranquila e perpétua. Essa voz jamais deve cessar. Quando o amado estiver passando pela casa, ele a ouvirá e, ao reconhecer a voz suave de sua amada, quererá entrar para vê-la.


Esta mesma voz, por outro lado, afugenta os ladrões porque denota a presença de alguém bem desperto dentro da casa. Um dos padres antigos já nos alertou que quando ladrões se aproximam de uma casa para arrombá-la e roubá-la, mas ouvem alguém falar do lado de dentro, não tentam entrar. Da mesma forma, quando nossos inimigos tentam invadir a alma e possuí-la, ficam à espreita, mas têm medo de entrar quando ouvem aquela prece que vem lá do seu interior. A prece denota presença, uma sublime presença.

A oração é o caminho

Quem reza sem cessar, ainda que o corpo passe pelo descanso e pelo sono, experimenta um coração em constante estado de vigília. Velar implica uma contínua lembrança de Deus em todo tempo e em qualquer situação. Lembrar-se de Deus ao longo do dia, em meio às tristezas e alegrias, torna-O perto, muito perto. Recordar-se de Deus também é oração e quem muito reza, muito ama; e quem muito ama jamais abandona a oração.

Sejamos, portanto, sempre vigilantes, e jamais deixemos morrer a prece interior, mesmo que silenciosa.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/oracao-perpetua-coracao/


21 de junho de 2021

A gente só precisa de coisas simples para ser feliz


Você já se deu conta de que só precisamos de coisas simples para ser feliz? Por muitas vezes, achamos que para sermos felizes precisamos que aconteçam coisas grandiosas, extraordinárias, que se realizem todos os nossos maiores sonhos. Mas tenho compreendido e aprendido que são coisas simples que têm a capacidade de trazer a felicidade para a nossa vida.

Um sorriso de uma criança ou um abraço de uma pessoa querida, um olhar de um amigo, a paz que vem na oração, uma gargalhada inesperada, a companhia de uma pessoa amada, a consciência tranquila, a alegria de ter feito o bem ao outro, o sol que aquece nosso rosto no inverno, o vento que refresca no verão, a beleza ou cheiro da rosa, uma mensagem de uma pessoa querida.

A gente só precisa de coisas simples para ser feliz

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Dmytro Buianskyi

Precisamos treinar nosso olhar para sermos felizes?

São coisas tão simples, tão cotidianas, que é preciso treinar o olhar, o coração para ver a beleza dessas coisas simples, e não permitir que elas passem despercebidas na correria do nosso dia a dia.

Quando treinamos o nosso coração a ver o Belo, que é o próprio Deus, nas coisas simples, descobrimos que a felicidade está ao nosso lado sempre, que não precisamos correr atrás dela, só precisamos abrir nossos braços, olhos, coração e abraçá-la.




Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). Membro da Comunidade Canção Nova, desde o ano de 2009, a missionária é graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido. Instagram: @regianecn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/gente-precisa-de-coisas-simples-para-ser-feliz/


18 de junho de 2021

É preciso saber diferenciar liberdade de libertinagem


A maior aspiração do ser humano é a liberdade seguida de felicidade. E isso é consequência natural de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gen 1,26), para participar de sua vida bem-aventurada. Deus pôs em nós uma sede infinita, a fim de que somente n'Ele ela pudesse ser saciada.

Santo Agostinho (354-430), depois de buscar a felicidade nos prazeres do mundo, na retórica e oratória, no maniqueísmo e em tantas outras estripulias, somente saciou seu coração quando encontrou o Evangelho. Mais adiante, lamentou ter demorado tanto para ter descoberto a verdadeira fonte da felicidade: "Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida amei, por que desejei outra coisa senão Vós?".

O Criador não quis para nós uma felicidade pequena, essa que se encontra entre as coisas do mundo: o prazer dos sentidos, o delírio das riquezas ou o fascínio do poder e do prestígio. Tudo isso é ilusão porque o que está abaixo de nós não pode satisfazer nossa alma. Isso é muito pouco para nós! Deus quis que a nossa felicidade fosse muito maior, quis que nossa felicidade fosse Ele próprio. Esse é um grande ato de amor do Pai para conosco. O Pai sempre quer o melhor para o filho.

É preciso saber diferenciar liberdade de libertinagem

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Liberdade ou libertinagem?

É preciso distinguir entre liberdade e libertinagem, entre ser livre e ser libertino. Liberdade, sem compromisso com a verdade e com a responsabilidade, torna-se libertinagem; e essa jamais poderá gerar felicidade, já que vai desembocar no pecado. E "o salário do pecado é a morte" (Rom 6,23).

Ser livre não é fazer tudo o que se quer. Não! Muitas vezes, isso é loucura. A verdade é o trilho da verdadeira liberdade, e essa, sem verdade, é loucura. Será liberdade assegurar que dois mais dois são cinco? Será liberdade desrespeitar o manual do seu aparelho de TV e, em vez de ligá-lo em uma tomada de 127 volts, como alerta o manual, você teimar em ligá-lo em outra de 220 volts?

Será liberdade, por exemplo, usar drogas para se sentir livre, mesmo destruindo a vida?

Da mesma forma, será liberdade usar o sexo sem o compromisso do casamento apenas por prazer, mesmo sabendo que ele poderá gerar uma gravidez despreparada, um aborto, um adultério? Não! Tudo isso não é liberdade, mas sim loucura!

A liberdade é alicerçada na responsabilidade

Liberdade não pode ser confundida com libertinagem. Posso dar socos no ar à vontade, mas sem atingir o nariz do meu irmão. Pregar a liberdade de expressão, sem respeitar os direitos dos outros, equivale à perversão intelectual e a volta à barbárie.

A liberdade de expressão não dá o direito a alguém de ofender ou ridicularizar o pai ou a mãe dos outros. Defender a liberdade absoluta de expressão é, muitas vezes, uma forma de corporativismo doentio, de uma mídia, às vezes, mal formada, sem princípios éticos, que mascara a truculência e o arbítrio, e se esconde atrás de uma interpretação maldosa da lei.

A liberdade, que faz a felicidade, é alicerçada na verdade e na responsabilidade. Fora disso é loucura, libertinagem, irresponsabilidade, é pecado que vai gerar a dor, sofrimento e lágrimas. Não queira experimentá-la. É muito melhor aprender com o erro dos outros. Abra os olhos e tenha coragem de ver!

Ser livre ou ser libertino?

Experimente, hoje, dar a um jovem tudo o que ele quiser: dinheiro à vontade, prazer até não poder mais, curtição de toda natureza, e você verá que a sua fome de felicidade continuará insaciada. Não fosse isso verdade, não teríamos tantos jovens de famílias ricas, mas delinquentes, envolvidos com drogas, crimes etc. Por outro lado, vá a um mosteiro e pergunte a um monge, que abdicou de todos os prazeres do corpo e do espírito, para abraçar somente a Deus, se lhe falta algo para ser feliz. A resposta será não! Nada lhe falta para ser feliz.


A liberdade só atinge a perfeição quando está ordenada para Deus, seu bem último. Quanto mais praticar o bem e a virtude, tanto mais livre a pessoa será. Enquanto as paixões nos dominarem, não seremos livres nem felizes. Enquanto o espírito do homem for escravo da sua carne e da sua sensibilidade, esse ainda não será livre, e ainda viverá se arrastando pela vida.

"Não vos conformeis com este mundo"

No tempo de Carnaval, parece que se oficializou a prática do pecado, a liberação de todo vício e de todos os mais baixos instintos. Pobre criatura humana ferida pelo pecado original! Mergulha na lama mais fétida, achando que sairá dela perfumada.

O pior de tudo é quando as autoridades constituídas, que deveriam primar pelo bom senso, pelo pudor, equilíbrio entre outros, agem ao contrário disso e fomentam a imoralidade e a depravação, distribuindo fartamente a camisinha e a pílula do dia seguinte, para que haja "sexo seguro".

O cristão que vive segundo a lei de Cristo sabe que tudo isso é mau e aumenta o sofrimento e a escravidão da pessoa; por isso, não compactua com essa situação.

"Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito" (Rm 12,2).



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/e-preciso-saber-diferenciar-liberdade-e-libertinagem/


16 de junho de 2021

A vocação nasce do encontro


Por que Saulo (Paulo) perseguia a Igreja? Pergunta que nos interroga, sensibiliza e abre uma grande lacuna. Por que Deus escolheu um perseguidor? Tanta gente boa! Contudo, vamos conhecer primeiro Saulo para podermos entender o porquê da pergunta. Saulo, natural de Tarso da Cilícia, filho da tribo de Benjamim, a mesma do rei David, era filho de comerciantes ricos, cidadão romano, ligado à seita dos fariseus, aluno do glorioso rabino Gamaliel, zeloso defensor da Torá. Ele era fariseu, filho de fariseu.

Israelita orgulhoso, alma de fogo e coração íntegro, ainda jovem, era conhecido apenas por seu nome judeu de Saulo. Impulsionado pelo entusiasmo impetuoso da mocidade, abrasado em ânsias de proselitismo próprio do judeu, julgou que tinha missão religiosa para cumprir: combater o Cristianismo até destruí-lo. Por considerá-lo uma traição ao Judaísmo, perseguia os seguidores de Cristo porque eles tinham abandonado a lei mosaica para seguir um tal de Jesus, sobre o qual um monte de fanáticos cristãos pregavam e diziam ter ressuscitado dos mortos.

Ele, como um bom judeu, intelectual e fiel à lei, precisava fazer alguma coisa para acabar com aqueles que estavam destruindo o Judaísmo. Quando Paulo se dirigia pelo caminho a Damasco, seu coração estava cheio de agressividade contra os cristãos, não porque fosse um homem mau, mas por ser fiel às tradições nas quais havia sido formado. Estava cheio de agressividade, pois se sentia ameaçado por essa nova fé que se opunha às suas tradições mais caras. Era pelo amor de Deus que perseguia os inovadores.

A vocação nasce do encontro

Foto llustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

A experiência do encontro entre Paulo e Cristo

Um belo exemplo de experiência de Deus é a do Apóstolo Paulo. O que lhe acontece no caminho de Damasco foi certamente uma experiência de ponta, marcante e indelével. Esse foi um momento muito importante em sua vida. Mas ele esteve certamente também intensamente unido ao Cristo durante todos os anos seguintes de sua vida e não apenas nesse momento particular.

Essa experiência era para Paulo, unicamente para ele. Naquele momento, Jesus o queria, o Senhor se apossou da vida dele, mas sem tirar sua liberdade. Então, Paulo passou a pertencer unicamente a seu Senhor, pelo qual foi convocado. Agora, sua vida se resumia à obediência ao seu Senhor.

Deus foi absolutamente livre no chamado de Paulo, nada foi lhe imposto, sendo ele livre para dar uma resposta responsável ao Altíssimo. O Senhor, quando o chamou, pôs em seu coração a capacidade de resposta, não o amarrou nem o obrigou a nada, mas lhe deu condições de decidir e corresponder ao dom recebido. Deus abriu-se a Paulo em uma condição de diálogo, algo pessoal e íntimo.

O chamado é iniciativa do Pai e a resposta precisa ser livre

O apóstolo dos gentios passou por uma transformação histórica e interior, tornou-se uma nova criatura, porque Deus lhe concedeu o dom da fé e da esperança. Por intermédio de Cristo, ele recebeu de Deus a vida nova.

O chamado é uma pura iniciativa do Pai. Ele, quando vocaciona alguém, já tem um projeto para a vida de quem responde o 'sim', não como uma predestinação, mas como uma resposta de amor. Ninguém veio do ocaso, nem para ficar solto no mundo; todos viemos para livremente dar uma resposta ao projeto de Deus único e irrepetível. Dizer 'sim' é tornar-se um canal de graça para os outros e para o mundo. Nesse sentido, participamos do plano do Pai.


Seguimento de Cristo

O seguimento a Deus é apenas uma "gratidão" espiritual. Acima de tudo, foi Ele quem possibilitou ao homem participar da existência que pertence somente a Ele.

Seguir o Senhor deve ser a expressão máxima da alegria de todo ser humano; deve exalar o perfume de Cristo. Toda vocação deve tornar-se atraente, deve provocar nas pessoas um encontro com Deus, transformar o mundo e os corações.

Por isso, uma vez vivendo e experimentando o amor vocacional, o chamado de Deus não deve ser vivido de forma frustrante, deixando a vocação tornar-se velha; esta deve ser sempre nova, apresentar a cada dia a novidade do Espírito Santo. Os outros precisam ficar fascinados com o efeito da graça na vida de quem é consagrado ao Senhor. É preciso comunicar a vida para os homens que somente Cristo pode dar.


 


Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vida-religiosa/a-vocacao-nasce-do-encontro/


14 de junho de 2021

Você já parou e pensou que essa batalha não é sua?


Assistindo às Crônicas de Nárnia, uma fala de Aslam me chamou a atenção: "Esperem! Essa batalha é de Pedro!". Bem ali, naquela cena, pude compreender que na minha vida também acontece assim. Por mais que o Senhor me ame, existem batalhas, confrontos, lutas e situações que Ele não resolverá por mim. E, algumas vezes, Ele também ordenará àqueles que me são caros, próximos e me conhecem a ESPERAR. Esperar que eu responda, que eu reaja, que eu enfrente os monstros e as realidades que eu mesma criei.

Como é bom tocar nessa ação de Deus que, muitas vezes, passa pela passividade, pela espera, pela presença que simplesmente contempla a minha ação. Fruto de um amor infinito, que não me cobra, que me espera porque me ama! Mas, sobretudo, que acredita em mim, que sabe que eu sou capaz e, por isso, não me poupa.

Você-já-parou-e-pensou-que-essa-batalha-não-é-sua

Foto Ilustrativa: Chalabala by Getty Images

Lute e enfrente as suas batalhas diárias

Sim, muitas vezes, vi as exigências de Deus para comigo como um caminho rigoroso; hoje, compreendi que não é por dureza que Ele me submete, e sim pela largueza do Seu olhar que me enxerga como eu ainda não me vejo. "Essa batalha é de Pedro!", e essa batalha também é minha, porque o Senhor jamais fará por mim o que eu sou capaz de fazer; Ele não me infantiliza nem me quer paralisada!! Ele acredita em mim! Ele me encoraja, me lança, me leva para o meio do combate e me espera.


Sem luta não há vitória

Tudo isso porque me quer madura, livre e cada vez mais refletindo a imagem do "Homem Perfeito". Tenho aprendido que: sem luta não há vitória; sem confrontos é impossível tocar na superação, pois, sem medo ninguém se torna corajoso.

Hoje, o Senhor me dá a graça de entender que estou na arena da vida, diante de grandes confrontos nos quais só eu posso lutar. Ele não me abandona! Ele está comigo e espera meu tempo! E, por amor, me deixa lutar! Então, que eu lute, que eu não perca tempo; que eu não cresça em estatura, mas no abandono em Deus e na graça de ser eu mesma.



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/voce-ja-parou-e-pensou-que-essa-batalha-nao-e-sua/