16 de junho de 2021

A vocação nasce do encontro


Por que Saulo (Paulo) perseguia a Igreja? Pergunta que nos interroga, sensibiliza e abre uma grande lacuna. Por que Deus escolheu um perseguidor? Tanta gente boa! Contudo, vamos conhecer primeiro Saulo para podermos entender o porquê da pergunta. Saulo, natural de Tarso da Cilícia, filho da tribo de Benjamim, a mesma do rei David, era filho de comerciantes ricos, cidadão romano, ligado à seita dos fariseus, aluno do glorioso rabino Gamaliel, zeloso defensor da Torá. Ele era fariseu, filho de fariseu.

Israelita orgulhoso, alma de fogo e coração íntegro, ainda jovem, era conhecido apenas por seu nome judeu de Saulo. Impulsionado pelo entusiasmo impetuoso da mocidade, abrasado em ânsias de proselitismo próprio do judeu, julgou que tinha missão religiosa para cumprir: combater o Cristianismo até destruí-lo. Por considerá-lo uma traição ao Judaísmo, perseguia os seguidores de Cristo porque eles tinham abandonado a lei mosaica para seguir um tal de Jesus, sobre o qual um monte de fanáticos cristãos pregavam e diziam ter ressuscitado dos mortos.

Ele, como um bom judeu, intelectual e fiel à lei, precisava fazer alguma coisa para acabar com aqueles que estavam destruindo o Judaísmo. Quando Paulo se dirigia pelo caminho a Damasco, seu coração estava cheio de agressividade contra os cristãos, não porque fosse um homem mau, mas por ser fiel às tradições nas quais havia sido formado. Estava cheio de agressividade, pois se sentia ameaçado por essa nova fé que se opunha às suas tradições mais caras. Era pelo amor de Deus que perseguia os inovadores.

A vocação nasce do encontro

Foto llustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

A experiência do encontro entre Paulo e Cristo

Um belo exemplo de experiência de Deus é a do Apóstolo Paulo. O que lhe acontece no caminho de Damasco foi certamente uma experiência de ponta, marcante e indelével. Esse foi um momento muito importante em sua vida. Mas ele esteve certamente também intensamente unido ao Cristo durante todos os anos seguintes de sua vida e não apenas nesse momento particular.

Essa experiência era para Paulo, unicamente para ele. Naquele momento, Jesus o queria, o Senhor se apossou da vida dele, mas sem tirar sua liberdade. Então, Paulo passou a pertencer unicamente a seu Senhor, pelo qual foi convocado. Agora, sua vida se resumia à obediência ao seu Senhor.

Deus foi absolutamente livre no chamado de Paulo, nada foi lhe imposto, sendo ele livre para dar uma resposta responsável ao Altíssimo. O Senhor, quando o chamou, pôs em seu coração a capacidade de resposta, não o amarrou nem o obrigou a nada, mas lhe deu condições de decidir e corresponder ao dom recebido. Deus abriu-se a Paulo em uma condição de diálogo, algo pessoal e íntimo.

O chamado é iniciativa do Pai e a resposta precisa ser livre

O apóstolo dos gentios passou por uma transformação histórica e interior, tornou-se uma nova criatura, porque Deus lhe concedeu o dom da fé e da esperança. Por intermédio de Cristo, ele recebeu de Deus a vida nova.

O chamado é uma pura iniciativa do Pai. Ele, quando vocaciona alguém, já tem um projeto para a vida de quem responde o 'sim', não como uma predestinação, mas como uma resposta de amor. Ninguém veio do ocaso, nem para ficar solto no mundo; todos viemos para livremente dar uma resposta ao projeto de Deus único e irrepetível. Dizer 'sim' é tornar-se um canal de graça para os outros e para o mundo. Nesse sentido, participamos do plano do Pai.


Seguimento de Cristo

O seguimento a Deus é apenas uma "gratidão" espiritual. Acima de tudo, foi Ele quem possibilitou ao homem participar da existência que pertence somente a Ele.

Seguir o Senhor deve ser a expressão máxima da alegria de todo ser humano; deve exalar o perfume de Cristo. Toda vocação deve tornar-se atraente, deve provocar nas pessoas um encontro com Deus, transformar o mundo e os corações.

Por isso, uma vez vivendo e experimentando o amor vocacional, o chamado de Deus não deve ser vivido de forma frustrante, deixando a vocação tornar-se velha; esta deve ser sempre nova, apresentar a cada dia a novidade do Espírito Santo. Os outros precisam ficar fascinados com o efeito da graça na vida de quem é consagrado ao Senhor. É preciso comunicar a vida para os homens que somente Cristo pode dar.


 


Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vida-religiosa/a-vocacao-nasce-do-encontro/


14 de junho de 2021

Você já parou e pensou que essa batalha não é sua?


Assistindo às Crônicas de Nárnia, uma fala de Aslam me chamou a atenção: "Esperem! Essa batalha é de Pedro!". Bem ali, naquela cena, pude compreender que na minha vida também acontece assim. Por mais que o Senhor me ame, existem batalhas, confrontos, lutas e situações que Ele não resolverá por mim. E, algumas vezes, Ele também ordenará àqueles que me são caros, próximos e me conhecem a ESPERAR. Esperar que eu responda, que eu reaja, que eu enfrente os monstros e as realidades que eu mesma criei.

Como é bom tocar nessa ação de Deus que, muitas vezes, passa pela passividade, pela espera, pela presença que simplesmente contempla a minha ação. Fruto de um amor infinito, que não me cobra, que me espera porque me ama! Mas, sobretudo, que acredita em mim, que sabe que eu sou capaz e, por isso, não me poupa.

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Foto Ilustrativa: Chalabala by Getty Images

Lute e enfrente as suas batalhas diárias

Sim, muitas vezes, vi as exigências de Deus para comigo como um caminho rigoroso; hoje, compreendi que não é por dureza que Ele me submete, e sim pela largueza do Seu olhar que me enxerga como eu ainda não me vejo. "Essa batalha é de Pedro!", e essa batalha também é minha, porque o Senhor jamais fará por mim o que eu sou capaz de fazer; Ele não me infantiliza nem me quer paralisada!! Ele acredita em mim! Ele me encoraja, me lança, me leva para o meio do combate e me espera.


Sem luta não há vitória

Tudo isso porque me quer madura, livre e cada vez mais refletindo a imagem do "Homem Perfeito". Tenho aprendido que: sem luta não há vitória; sem confrontos é impossível tocar na superação, pois, sem medo ninguém se torna corajoso.

Hoje, o Senhor me dá a graça de entender que estou na arena da vida, diante de grandes confrontos nos quais só eu posso lutar. Ele não me abandona! Ele está comigo e espera meu tempo! E, por amor, me deixa lutar! Então, que eu lute, que eu não perca tempo; que eu não cresça em estatura, mas no abandono em Deus e na graça de ser eu mesma.



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/voce-ja-parou-e-pensou-que-essa-batalha-nao-e-sua/


11 de junho de 2021

A glória do Coração de Jesus


Provavelmente, você conheça algo sobre as aparições de Jesus à irmã Margarida Maria, proclamada santa pela Igreja, no dia 13 de maio de 1920, pelo papa Bento XV. Essas aparições aconteceram entre 1673 a 1675, no convento da Visitação da cidade de Paray-le-Monial, na França.

Há muito o que se dizer, mas gostaria de expor um dos aspectos revelados por Jesus à religiosa, que é conhecida como a "apóstola do Coração de Jesus". Ela nos conta o que aconteceu durante uma aparição na 1ª sexta-feira de 1674: "Uma vez, entre outras, quando estava o Santíssimo exposto, depois de ter-me sentido retirada de dentro de mim mesma, com um recolhimento muito grande de todos os meus sentidos e minhas potências. Jesus Cristo, meu doce Mestre, apareceu-me todo radiante de glória com as cinco chagas, brilhantes como cinco sóis. Sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os lados, mas sobretudo de seu peito sagrado peito, que parecia uma fornalha. Abrindo-o, mostrou-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração, que era a fonte viva daquelas chamas. Foi então que Ele me revelou as maravilhas inexplicáveis de seu puro amor, e o excesso a que chegara em amar os homens, de quem não recebia senão ingratidões e friezas." Jesus lhe disse: "Se você acreditar, você verá o poder do meu coração!".

A glória do coração de Jesus

Foto ilustrativa: jemastock by Getty Images

O Sagrado Coração de Jesus

O Coração de Jesus é apresentado como um trono de chamas. Esta é a imagem de sua realeza. Assim como Jesus fez com Santa Margarida, Ele quer mostrar seu poder e sua glória a cada um de nós.

Ao falarmos de Jesus, utilizamos com frequência as palavras rei e glória. Todos os anos, na festa de Cristo Rei, temos uma explicação ou uma meditação sobre a realeza de Jesus. Mas e quanto à sua glória? Essa glória que está tão presente na Bíblia, em nossos cânticos, em nossa liturgia… Poucas são as homilias sobre esse assunto!

Ao celebrarmos o Natal, lemos esta passagem onde o anjo anuncia o nascimento do Menino Deus aos pastores: "Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles" (Lc 2,9). Em seguida: " uma multidão do exército celeste, louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no alto dos céus" (Lc 2,14).

O que significa "glória"?

Na Bíblia, a palavra "glória" é a tradução para o português da palavra hebraica "kavod" e da palavra grega "doxa".

No hebraico, "kavod" significa "o peso": a glória de Deus é o "peso de Deus", isto é, a totalidade da "pessoa", seu peso na existência, sua importância e influência. É o brilho de sua força divina e real. Quando dizemos: "fulano é uma pessoa de peso!", não falamos dos seus quilos, mas de sua importância ou de sua influência.

Essa noção é bem diferente do termo grego "doxa", que significa "parecer", "julgar", "estimar". Uma palavra que nos grupos filosóficos antigos tinha o sentido de "opinião", ou seja, de um julgamento que podemos ter sobre as pessoas e sobre os eventos.

Contudo, quando o termo "doxa" começou a ser utilizado no Novo Testamento, ele perdeu seu valor antigo de "opinião" e ganhou um significado religioso completamente diferente, passando a designar a esplêndida majestade divina.


Esses dois termos, em duas línguas diferentes, se complementam em seus significados e nos ajudam a entender o que rezamos: a glória de Deus é uma forma de falar de sua presença tão importante em nosso meio, uma presença transformadora.

Em seus escritos, santa Margarida-Maria afirma que "[Jesus] deseja que, santificando-nos, o glorifiquemos".

Há um movimento descendente: a glória de Deus que se manifesta às criaturas… Mas há também um movimento ascendente: pois as criaturas dão glória a Deus! "Dar glória a Deus" é reconhecer que a Ele devemos honrar e dar graças acima de tudo. Glorificar ao Senhor significa também refletir, como um espelho, sua glória em nossa própria vida, por meio de nossas palavras e nosso comportamento. Dar glória a Deus é, portanto, sinônimo de conversão: a melhor maneira de glorificá-lo é desejar profundamente ser como Deus. É um caminho difícil, mas não impossível.

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Jesus encoraja Margarida-Maria e nos encoraja: "Não tenha medo, minha filha. Eu reinarei apesar dos meus inimigos e daqueles que desejam se opor a Mim". Para responder ao desejo do Coração de Jesus, a religiosa respondeu: "Para mim, basta que Ele reine."

Como santa Margarida-Maria, precisamos estar convencidos de que a devoção ao Coração de Jesus destrói o império de satanás e estabelece o reino do amor verdadeiro.

Oremos

"Senhor Jesus, Rei dos reis, com Santa Margarida-Maria, queremos dizer-Te mais uma vez: "reina em nós"! Abrimos as portas para que possas entrar em nossos corações e aí fazer tua morada. Coloca tua luz em nós, expulsa todas as trevas – manifesta tua glória! Que nossa vida te glorifique. Que o Império do Mal seja arruinado e que Teu reino de amor seja estabelecido e dure para sempre. Amém."

Viva o Coração de Jesus!



Padre André Favoretti

Natural de Vitória – ES, foi ordenado sacerdote dia 25/06/2017, na diocese de Fréjus-Toulon, onde atua como missionário. Antes de ser padre, concluiu uma licenciatura em Geografia (UFES), foi professor e fez uma pós-graduação em filosofia (UFOP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/a-gloria-do-coracao-de-jesus/


9 de junho de 2021

Pandemia e comportamento humano: há um antes e depois?


Após um ano de uma mudança intensa em nossas vidas com o início da pandemia, temos observado comportamentos dos mais variados no cotidiano. Do estresse continuado, passando pelos lutos ainda não elaborados, a mudança de vida radical para muitos, as perdas de várias naturezas e o isolamento social têm trazido fatores importantes e de grande impacto no comportamento humano.

Em países onde se inicia o desconfinamento, como em Portugal, que passou por regras mais rígidas e um fechamento por completo das cidades, observa-se em parte da população sinais e sintomas característicos da ansiedade, bem como medos acentuados e muitos destes sinais são advindos de um tempo que, para muitos, trouxe sofrimentos intensos. Isso também ocorre em várias partes do mundo. Conversando com pessoas que vivem em outros locais, muitos relatam angústia, medo e tristeza constante.

Pandemia e comportamento humano: há um antes e depois?

Foto ilustrativa: valentinrussanov by Getty Images

Os impactos da pandemia nas pessoas

Públicos distintos vivem quadros emocionais específicos. As mulheres têm apresentado um impacto psíquico significativo, uma vez que boa parte delas também carrega consigo a responsabilidade das aulas on-line, do trabalho, do sustento da casa, muitas vezes, e de uma série de condições sociais

Podemos pensar efetivamente que as pessoas mudaram ou mudarão após tudo isso? Será que existem reações momentâneas ou, de fato, este momento trará uma mudança de comportamento?

Estamos numa fase onde várias pesquisas acerca das reações e dos comportamentos na população têm sido realizadas, mas até o momento sabemos que os níveis de estresse pelas incertezas têm se mostrado cada vez mais presentes, bem como uma debilidade na saúde emocional, no aumento expressivo nos casos de depressão e ansiedade.

Além disso, fica mais evidente, infelizmente, o agravamento dos casos de violência doméstica das mais diversas naturezas. Dos lutos que ainda serão elaborados às perdas de várias naturezas, temos vivido adaptações a cada dia e, na verdade, temos mais dificuldade de adaptação ao novo, especialmente se este novo ocorrer com frequência.

Como tem vivido os dias de pandemia?

Refletindo sobre o tema, noto que esta expectativa sobre um novo comportamento das pessoas pode ser ampliado se pensarmos: como eu tenho visto a vida a partir da experiência vivida neste tempo de pandemia? Mais do que esperar que o mundo mude e as pessoas mudem, posso pensar: como eu tenho vivido? O que tenho valorizado ou deixado de valorizar?

Portanto, mais do que esperar novo modelo de vida e comportamento, podemos pensar nos seguintes pontos:

– Tenho valorizado a vida que tenho?

– Qual meu olhar frente a vida e a morte, uma vez que tocamos efetivamente na fragilidade da vida, ou seja, como é importante viver bem a cada tempo, visto que somos tão frágeis.


– Quais padrões de consumo eu tenho? Realmente preciso de tudo o que compro e guardo? Tenho acumulado desnecessariamente, comprado demais, acumulado dívidas sem necessidade?

– Vivo para trabalhar ou trabalho para viver? Como tenho conduzido minha vida profissional, o equilíbrio no trabalho e minhas escolhas? Tenho vivido bem meu trabalho, seja ele qual for?

– Como tenho conduzido meus relacionamentos familiares, profissionais, de amizade, de afeto? Tenho levado a vida com rancores e egoísmos excessivos?

– Como tenho alimentado minha vida intelectual? O que tenho consumido nas mídias, nas redes sociais, no aprendizado? Tenho usado boas fontes? Tenho me preocupado com meu desenvolvimento pessoal e profissional?

– Tenho lidado com a vida de forma realista ou ainda de forma imatura frente às dificuldades? Procuro soluções mágicas e fáceis ou tolero a busca por aquilo que realmente vai me ajudar?

– Penso realmente no coletivo ou tenho vivido uma vida egoísta e autocentrada, que não leva em conta o outro, o meio ambiente, as pessoas ao redor?

Avalia a sua postura frente a pandemia

Estes e outros pontos são formas de ver e rever nossa vida. Mais do que esperar que o outro tenha um novo comportamento e uma nova atitude, um bom começo é revermos as atitudes que eu temos frente a este momento de vida.

Diferente daquilo que muitos pensam, não podemos afirmar que a totalidade das pessoas adotará novas posturas, mas comece por você a pensar em como que poderá ter um novo comportamento frente à vida.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.



7 de junho de 2021

A fé nos coloca em ação


Existe em cada um de nós a capacidade de crer. Em nosso batismo, o Senhor não somente nos faz filhos, mas infunde em nós dons e virtudes que nos tornam capazes de viver como filhos. Dentre as virtudes com as quais o próprio Deus, como Pai bondoso, presenteia-nos está a fé. É ela que desperta em nós uma profunda inquietude e uma busca pela verdade que, dia a dia, encaminha-nos para o encontro com Cristo.

A fé nos propõe uma jornada, coloca-nos neste caminho de profunda união com Cristo. Contudo, a estrada é pessoal, construída a cada dia. A partir dela, somos convidados a dar passos em caminhos que ainda não foram trilhados. É assim que ela cresce, desenvolve-se, frutifica e forma em nós a criatura nova. Com ela somos convidados a começar, todos os dias, como um novo Kairos, um tempo de graça.

A fé nos coloca em ação

Foto ilustrativa: RyanJLane by Getty Images

A fé nos move a fazer o bem

A fé nos coloca em ação sempre: move-nos a fazer o bem e, assim, conduz-nos a Deus, o puro bem. O que, muitas vezes, esquecemos é que para adentrar nessa estrada não é suficiente conhecermos as nossas fraquezas, limites e impotência. Muito mais que isso, é preciso reconhecer o poder de Deus, sua força e seu amor que, todos os dias, nos salva, perdoa-nos, levanta-nos e ensina-nos a recomeçar. Muito mais do que saber quem somos, é preciso saber quem Ele é. É assim que compreendemos que Ele, verdade e puro bem, é também eterno amor que nunca nos deixa caminhar sozinhos e continua a nos conduzir. O que precisamos é tirar os nossos olhos de nós e voltar para Aquele que jamais deixou de nos olhar, e assim seguir o caminho na certeza de que Ele nos olha sempre.

Crescer na fé só é possível quando, reconhecendo nossa pequenez, somos capazes de deixar que a grandeza de Deus aconteça em nós. Somos convidados a trilhar o caminho de João Batista: "Que Ele cresça, e eu diminua!". E o que é diminuir senão render-nos a Deus e adorá-Lo, reconhecendo que tudo o que não podemos Ele é capaz de realizar. É assim que todas as realidades que vivemos são santificadas. Isso porque não estamos mais sós.


Seguimos acreditando que o Deus que habita em nós age em nós estando cada dia mais perto de ocupar o lugar que, desde sempre, pertenceu a Ele: o centro da nossa vida!



Marcela Cunha

Marcela Martins da Cunha, natural da Cidade de Edéia – GO, é missionária da Comunidade Canção Nova desde 2013. A missionária formou-se em Fisioterapia pela PUC – GO em 2004; é Mestra em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela UFG (Universidade Federal de Goiás), pós-graduada em Saúde da Família (UFG) e em Gestão da Comunicação pela Faculdade Canção Nova (FCN). Atualmente, atua na gestão do Posto Médico Padre Pio e na missão RVJ. Tem a escrita como uma forma de comunicar o Cristo vivo e vivido em sua vida.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/a-fe-nos-coloca-em-acao/


2 de junho de 2021

Sonhos e planos de Deus para uma mulher


Sempre ouvi dizer que quem sonha muito fica cada vez mais inteligente por alargar sua alma com criatividade e esperança. Os sonhos são muito significativos, não somente no processo de autoconhecimento do ser humano, por carregarem símbolos importantes para o entendimento do nosso processo de amadurecimento, como também por ser esse lugar tão importante da alma, onde projetamos a vida bem acordados, regando cada um desses sonhos com esforço, dedicação e muito suor.

É preciso esperança e alegria para sonhar! Uma alma triste não sonha, pois os sonhos nos obrigam a avaliar a vida, a projetar os passos e também a fazer perguntas importantes a nós mesmos, perguntas que são fruto da certeza de que tudo pode ser ainda melhor. Quem sonha não se conforma, mas se transforma.

Como mulher, não sei se tenho sonhado "certo", nem sequer sei se existe uma "fórmula de êxito" para sonhar bem. Algumas mulheres que conheço, por medo do fracasso, nem sequer se atrevem a imaginar uma vida melhor. Já não sonham. Elas se conformam e seguem a vida assim, tornando-se feias e amargas. A feiura é decorrente da falta de brilho no olhar. E o segredo do bem sonhar não é o êxito em si, mas a transformação da alma que está a caminho de uma promessa.

Sonhos e planos de Deus para uma mulher

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

"Se os sonhos de uma mulher dependem de dinheiro, é porque são muito baratos"

O que consigo perceber, nos passos do meu caminhar, é que sonhar me aproxima muito de Deus e me faz ser movida pela esperança. Sonhar também me faz correr riscos que, sem Deus e sozinha, jamais teria a coragem de os enfrentar. Sonhar é bom, mas sonhar com Deus me faz muito mais forte! Sonhar com Deus faz toda a diferença! Implica docilidade aos sinais da vida e, ao mesmo tempo, o assumir real e concreto de todas as habilidades que conquistei na vida e que me foram dadas e abençoadas por Deus.

Quem sonha acordado não economiza esforço, e seu alimento principal é a fidelidade, pois os sonhos dignos de um coração de mulher não se realizam da noite para o dia. Os sonhos de uma mulher de fé são como um castelo a ser construído com cada pedra que ela encontra em sua caminhada. Nesse processo, nenhuma pedra pode ser desperdiçada. Nenhum sofrimento é vão quando decidimos perseguir um sonho vivido com Deus. Uma estrada sem obstáculos é como uma comida sem tempero, um rosto sem sorriso, uma estrada sem caminhantes.

Providência divina

Em alguns momentos, reconheço, com humildade, que vejo pedras no meu caminho, mas algumas delas fui eu mesma que as coloquei ao minar meus sonhos pela desesperança, pela murmuração e pela falta de fé e disciplina. Em outros momentos, as pedras que encontro fazem parte das circunstâncias da minha vida, e nelas a Providência Divina também se revela. Nos "nãos" que recebo, leio os sinais da vontade de Deus. É preciso docilidade na negação e também resiliência pelo tempo que for preciso, até que chegue o momento certo de cada coisa. E quando esse momento chega, nada segura a mão poderosa de Deus no destino esperançoso de uma mulher orante. Se ela ora, ela entende isso claramente e aceita tudo, pois sabe que ali o Senhor se revelou e a direcionou em seus sonhos mais secretos, ainda que demorem a se concretizar.

Meus sonhos de mulher têm asas, e vejo que muitos deles estão se realizando. Já não estão instalados nas coisas a conquistar, nos projetos a serem desenvolvidos, nos lugares a conhecer, mas no meu jeito de viver e na mulher que desejo ser a cada dia. Os sonhos que povoam meu coração de mulher são específicos, raros, únicos. Já dizia um grande amigo que "se os sonhos de uma mulher dependem de dinheiro, é porque são muito baratos", porque o maior deles é interior: ser uma mulher nova e que se conquista a si mesma a cada dia!

Coragem de sonhar

Por isso pergunto a você, diante das pedras do seu caminho ou das montanhas que você ainda tem de enfrentar: quais são os sonhos mais nobres que poderiam povoar o seu coração de mulher?

Ter coragem de sonhar e documentar os meus sonhos, assumi-los e lutar por eles, é o convite que ouço em meu interior feminino. Esse é o sonho da minha vida: ser uma mulher melhor a cada minuto que se passa.


Olhar adiante

Não tenha medo de ser ridicularizada por ser uma mulher sonhadora ou mesmo por ter um grande projeto na vida. Guarde essa frase de Santa Teresa em seu coração feminino: "Deus me faz desejar tudo o que Ele sempre quis me dar". Faça como a Palavra de Deus nos convida em Habacuc 2: olhe adiante, tenha uma visão do seu futuro, assuma o seu presente e perdoe a si mesma e a tantos pelo seu passado; escreva cada um dos seus sonhos, os mais secretos do seu coração, da sua alma feminina e documente-os! Não tenha medo da sua idade, das suas circunstâncias ou mesmo do seu pouco tempo. Apenas acredite que Deus a vê e Ele mesmo a convida. Espere e, se demorar, não desista!

Quando uma mulher sonha sozinha, ela pode ser muito decepcionada. Ao passo que, ao orar e sonhar com Deus, ela será muito surpreendida, pois ela será movida por uma esperança cega. Quando uma mulher, realmente, confia em Deus, ela está sendo preparada para ouvir tanto um "sim" como um "não". E seja numa resposta positiva ou seja negativa diante de um sonho documentado com esperança, ela será feliz por confiar sua vida inteiramente a Deus.

Sonhando, uma mulher de fé é movida pela esperança; e sendo movida pela esperança, ela fica muito mais bonita, pois essa é a verdadeira beleza: ter uma alma cheia de esperança que se esparrama pelo rosto.



Ziza Fernandes

Ziza é cantora, compositora, musicoterapeuta, professora e mosaicista. Estudou piano por 12 anos no Conservatório Santa Cecília, Maringá – PR, aperfeiçoando-se com o professor Paulo Giovanini, na Universidade Estadual de Maringá.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/coracao-de-mulher/sonhos-e-planos-de-deus-para-uma-mulher/


31 de maio de 2021

Não consigo vencer meus pecados, o que fazer?


Existe uma passagem muito significativa do Evangelho de São João que coloca cada um de nós diante de uma verdade tão crua e, ao mesmo tempo, tão libertadora, que nenhum de nós deveria ser displicente com relação a ela: Qui sine peccato est vestrum, primus in illam lapidem mittat ("Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a lançar uma pedra" (Jo 8,7)).

Oliver Clemente, um teólogo do oriente, certa vez afirmou: "Ávido de infinito, mas não menos ignorante dele, o homem se ama e se odeia infinitamente. Ele se pretende soberano e se descobre escravo". Em outras palavras, existe uma luta incessante no interior do homem que busca o infinito, o céu, a beleza. Porém, este mesmo homem percebe-se preso num cativeiro de difícil soltura. Assim, quanto mais ele se debate, tanto mais ele se machuca, sangra e, por fim, desiste. Esta é a realidade de qualquer ser humano.

Não consigo vencer meus pecados, o que fazer

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Colocando a questão de maneira mais direta, todos nós precisamos travar grandes enfrentamentos contra o pecado todos os dias. Cada um tem a sua luta particular. Quem de nós nunca experimentou o cansaço depois de ter lutado tanto, e mesmo assim perdido a batalha para o pecado? Às vezes, é penoso reconhecer esta realidade, mas aquele que deseja muito a santidade precisará também experimentar o amargor da derrota, porém, o mais importante vem agora: quem busca a santidade deve aprender a levantar-se, seja qual for o tamanho do tombo.

Você sabe reconhecer seus pecados?

Uma vez abatido, duas coisas são fundamentais. A primeira delas é não se comparar, em hipótese alguma, repito, em hipótese alguma, com ninguém. Nem com aqueles que julgamos mais pecadores, porque correríamos o risco de afrouxar a autorreprimenda justa da nossa consciência diante do mal cometido, nem nos comparar com aqueles que julgamos mais santos. Neste segundo caso, poderíamos anular as parcas forças que ainda possuímos. Portanto, este não é o momento de comparações, mas de reconhecimento sincero da fraqueza e do mal cometido.

Dito isso, como vencer aqueles pecados crônicos que, de tão entranhados em nós, julgamos por vezes incorrigíveis? Por mais que possa parecer estranho o que vou dizer agora, creio que a resposta seja: "deixe de preocuparse com este seu pecado como se ele fosse seu baal". Atenção, não se preocupar não significa relaxar a consciência e continuar pecando indiscriminadamente. Isto seria um mal ainda maior, um suicídio espiritual.


Tire o foco do pecado

No século VI, lá no deserto de Gaza, havia um grande e sábio ancião chamado Barsanulfo, e o seu jovem discípulo Doroteu. Este último, por sua vez, era constantemente atormentado por um grave pecado e, mesmo tendo feito tudo o que estava ao seu alcance para superá-lo, não havia logrado êxito. Certa vez, aflito e desanimado com esta situação, Doroteu procura o seu mestre para apresentar o seu caso. Barsanulfo, o mestre, disse a ele que não mais se preocupasse com isso, e pediu que ele reforçasse sua relação com Cristo pelo exercício da humildade, da caridade, da prece confiante e do humilde exercício ao próximo.

Então, o discípulo parou de gastar em vão suas energias com a preocupação do pecado e começou a colocar em prática tudo o que seu mestre havia lhe indicado. Assim, o coração do discípulo se transformou, e com ele, pouco a pouco, toda a sua vida. Uma vida de intimidade com Deus faz reavivar, em cada pessoa, o homem interior e, naturalmente, acontece um despertar de consciência. Onde Deus entra, o pecado naturalmente se afugenta. À medida que Deus vai entrando em nossa vida e nós vamos experimentando a vida d'Ele, a morte do pecado vai se enfraquecendo. Em outras palavras, retire o foco do pecado e coloque o foco em Deus.

Busque Deus

Isto não se dá, porém, numa esfera meramente psicológica. É preciso descer para o domínio da práxis, ou seja, a primeira etapa da vida espiritual é a prática. O esforço humano, portanto, deve ser empregado neste ponto. Para ficar mais claro, o esforço humano deve ser investido no cultivo de uma vida espiritual que se alcança por meio da vivência diária de tudo o que o mestre Barsanulfo nos ensinou acima. Em matéria de vida espiritual, não existe fórmula mágica nem romantismos.

Para finalizar, deixo esse pensamento como matéria de reflexão: quem está apenas fugindo do pecado está fazendo pouco, muito pouco, quase nada. Quem está buscando verdadeiramente a Deus está fazendo muito.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/nao-consigo-vencer-meus-pecados-o-que-fazer/