5 de maio de 2021

Jesus Cristo é o nosso melhor exemplo de humildade


Israel, na sua história feita de longos exílios, frequentemente fazia a experiência de total impotência diante de acontecimentos que nenhuma força humana poderia ter mudado. E, assim, adquiria a humildade, ou seja, uma atitude de total dependência e plena confiança em Deus. E, justamente na sua condição de povo humilde e pobre, muitas vezes, Israel encontrava refúgio e acolhida somente n'Aquele que havia feito uma eterna aliança com o seu povo.

Além disso, na perspectiva messiânica, o esperado é um rei humilde que entra em Sião cavalgando um jumentinho, porque o Deus de Israel é, sobretudo, o "Deus dos humildes". Uma vez que todas as expectativas se cumpriram em Jesus, é da sua vida e dos seus ensinamentos que poderemos colher a verdadeira humildade, aquela que torna a nossa oração agradável ao Senhor. "A prece dos humildes atravessa as nuvens" (Eclo 35,17).

Jesus Cristo é o nosso melhor exemplo de humildade

Foto Ilustrativa: PeteWill by Getty Images

A vida de Jesus é uma perfeita lição de humildade

A vida de Jesus é uma perfeita lição de humildade. Ele, embora sendo Deus, primeiro se fez homem no seio da Virgem Maria, depois se fez pão na Eucaristia e, enfim, se fez "nada" sobre a Cruz. Ele dissera: "Sede meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração" (Mt 11,29)e, depois, no lava-pés, ele que era o Mestre, se abaixou para fazer o mais humilde dos serviços, também, propôs como modelo as crianças e entrou em Jerusalém montado num jumento. E, no final, se deixou crucificar, anulando-se no corpo e na alma, para conquistar-nos o Paraíso.

Ele não fazia outra coisa senão revelar-nos o seu relacionamento com o Pai; revelar o modo de amar da Trindade que é um mútuo "fazer-se nada" por amor; revelar uma eterna doação de um ao outro. Jesus derrama sobre a humanidade o amor trinitário que alcança o seu auge, justamente, no ato de doar-se de maneira completa na Sua Paixão e Morte na Cruz. Deus mostra, assim, a sua potência na fraqueza. O seu amor é daqueles que elevam o mundo porque se põe no último lugar, no degrau mais ínfimo da criação.

É realmente humilde quem, seguindo o exemplo de Jesus, sabe fazer-se nada por amor aos outros; quem se coloca diante de Deus numa atitude de completa disponibilidade à Sua vontade; quem está vazio de si mesmo a ponto de deixar que seja Jesus a vivê-lo. E, então, a sua oração será atendida, porque, quando pronunciar a palavra "Abbá-Pai", não é mais ele mesmo quem reza e sua oração obtém aquilo que pede, pois essa palavra foi colocada em seus lábios pelo Espírito Santo.

A prece dos humildes atravessa as nuvens (Eclo 35,17)

O ponto culminante da vida de Jesus foi o momento em que Ele "dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas Àquele que tinha poder de salvá-Lo da morte. E foi atendido, por causa de Sua entrega a Deus" (Hb 5,7-8), ou seja, por causa da Sua oração inspirada na total obediência à vontade do Pai, devido ao seu pleno abandono n'Ele.


Eis a oração que atravessa as nuvens e atinge o coração de Deus: a prece de um filho que se levanta da sua miséria para lançar-se confiante nos braços do Pai.

Chiara Lubich – Fundadora do Movimento Focolares


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/jesus-cristo-e-o-nosso-melhor-exemplo-de-humildade/

3 de maio de 2021

O que realmente significa ser um profeta?


"Eu te consagrei; eu faço de ti um profeta para as nações" (Jr 1,5b).

O próprio Deus é quem nos chama a sermos profetas. O chamado é divino, mas a resposta é humana. Deus nos confia a missão de profetizarmos às nações, mas também nos dá a liberdade de aceitarmos ou não esse chamado. Se o aceitarmos, e deveríamos aceitá-lo, precisamos entender o que realmente significa ser um profeta.

O que realmente significa ser um profeta?

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Muitos acreditam que profecia é uma espécie de enigma e que profeta é aquele que adivinha as coisas

Infelizmente, a maioria das pessoas, tem uma imagem deturpada do que realmente é a profecia e, consequentemente, do sujeito que a transmite. Muitos acreditam que profecia é uma espécie de enigma; que profeta é aquele que adivinha as coisas, que tem visões sobre o futuro, algo parecido com cartomantes, videntes e outros que dizem por aí que descobrem coisas relacionadas ao futuro. O profeta e a verdadeira profecia não são nada disso.

Há um tempo, apareceu até novela para confundir ainda mais a cabeça das pessoas. A trama mostrava uma pessoa com um "dom especial" que, na verdade, a transforma num desses adivinhos, uma pessoa que tem visões de fatos que ainda irão acontecer.

Aí temos dois problemas principais: o primeiro é que, dessa maneira, só os que nascem com esse tal "dom especial" é que podem profetizar, e isso contradiz o que a Igreja nos ensina quando nos instrui que todos nós, batizados, participamos do múnus (da função) profético de Cristo, através do qual devemos evangelizar pela vida e também pela palavra. No batismo, Deus mesmo nos faz profetas.

Profecia não é adivinhação

O outro problema é a respeito do conteúdo da profecia. Profecia não é adivinhação, e sim uma forma de se educar para o futuro, de descobrir caminhos para o futuro. Isso é tão verdade que os profetas são, antes de tudo, intérpretes da história do povo. A profecia acaba sendo uma releitura da vida do povo. O profeta parte do presente, volta ao passado, a fim de projetar o futuro.

Exemplo disso são os livros proféticos da Bíblia que nos mostram os profetas nas várias situações de dificuldade enfrentadas pelo povo de Deus. Esses profetas sempre faziam referências ao passado, especialmente ao evento da libertação do povo, ao Êxodo, para que, a partir dali, fizessem essa releitura da história, analisassem o momento presente e educassem o povo rumo ao futuro desejado por Deus.


Faça a experiência. Quando estiver num momento de crise, faça um retrospecto da sua história desde o momento que você considere fundamental para sua vida. Faça a releitura desse momento até a atualidade (momento de crise), e você conseguirá perceber muitos dos motivos que geraram as dificuldades do presente, além disso, conseguirá vislumbrar alguma direção por onde seguir.

São estas as duas coisas que precisamos entender: primeiro, profecia não é para meia dúzia de pessoas consideradas especiais, pois, no batismo, Deus nos consagrou e fez de nós profetas. Segundo: A profecia não é uma adivinhação, e sim inspiração de Deus que, nos momentos difíceis, nos ensina a relermos a história e, dessa maneira, projetar o futuro.

Que cada um de nós assuma a missão profética e ajudemos mutuamente a descobrirmos os caminhos que Deus deseja para o nosso futuro, para a nossa felicidade.

Artigo extraído do livro "A experiência de ouvir e transmitir a voz de Deus" de Denis Duarte.



Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
Facebook: facebook/aprofundamento


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-que-realmente-significa-ser-um-profeta/

30 de abril de 2021

A água benta e seu sentido na vida cristã


A água, como fórmula química H2O, é elemento fundamental para a vida humana. Desde os primórdios até os dias de hoje, o homem necessita e depende do uso diário da água para sua subsistência.

Nas Sagradas Escrituras, a água é considerada símbolo de purificação (cf. Sal 51,4; Jo 13,8) e de vida (cf. Jo 3,5; Gal 3,27). Como dom de Deus, a água é instrumento vital, imprescindível para a sobrevivência e, portanto, um direito de todos (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 484).

A água benta e seu sentido na vida cristã

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A importância da água para a vida humana, seja física e espiritual

Contudo, a água, quando abençoada, passa a ter um sentido também espiritual. No Ritual Romano da celebração das bênçãos, no número 1090, diz que, com a bênção da água, recordamos Cristo, que é a Água Viva, e o sacramento do batismo, que nos fez renascer pela água e pelo Espírito Santo. Por isso, sempre que formos aspergidos com essa água ou nos benzermos com ela, ao entrar na igreja ou dentro das nossas casas, demos graças a Deus pelo seu dom inestimável e imploremos o Seu auxílio para que, na nossa vida, sejamos fiéis.

A água benta não é uma espécie de mágica ou superstição para quem a utiliza, pelo contrário, ela é uma eficaz forma de se chegar às realidades espirituais, por meio de sinais sensíveis e visíveis, que, no caso da água benta, se denomina como sacramental.

Água benta é um sacramental

O que é um sacramental? "A santa mãe Igreja instituiu os sacramentais, que são sinais sagrados pelos quais, à imitação dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja. Pelos sacramentais, os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos e são santificadas as diversas circunstâncias da vida" (Catecismo da Igreja Católica, n.1667)

Assim, o ministro ordenado, seja um padre ou diácono, ao abençoar a água, conforme prescreve a Santa Igreja Católica, obtém-se um sacramental, que possui grande eficácia para as pessoas nas diversas realidades da vida. Essa água benta também pode ser usada para a aspersão nos vários ritos que a Igreja celebra para a santificação do povo.

Com isso, "os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela" (CIC 1670).


O sentido da água benta

O sentido da água benta, portanto, não é uma representação imaginária, mas sim um sinal concreto e efetivo utilizado com fé e piedade pelo povo de Deus.

Para os católicos, "segundo um costume muito antigo, a água é um dos símbolos que a Igreja usa com frequência para abençoar os fiéis. A água ritualmente benzida evoca nos fiéis o mistério de Cristo, que é para nós a plenitude da bênção divina. Ele próprio Se apresentou como água viva e instituiu para nós o batismo, sacramento da água, como sinal de bênção salvadora" (Ritual Romano – Celebração das bênçãos, n.1085).

Na Introdução Geral do Missal Romano, número 51, quando se trata do ato penitencial, a água benta tem um determinado sentido, quando se afirma que "ao domingo, principalmente no tempo pascal, em vez do costumado ato penitencial, pode fazer-se, por vezes, a bênção e a aspersão da água em memória do batismo", ou seja, a água benta tem ação importante na Liturgia da Igreja.

Um outro aspecto é que, na maioria das bênçãos sobre pessoas, casas e objetos, é feita a seguinte oração: "Esta água nos recorde o nosso batismo em Cristo, que nos remiu com a Sua Morte e Ressurreição". É realizada uma oração que nos une a Jesus, o centro da vida do cristão; após essa oração, pode acontecer a aspersão com a água benta sobre a pessoa ou objeto abençoado.

A água benta é um sacramental, que, conforme a Igreja, pode-se ingerir, persignar, aspergir a si e aos outros, a objetos e lugares. Ela é uma graça que traz muitos benefícios para o corpo e para a alma daqueles que, com fé e devoção, a utilizam para o bem próprio e comum.



Padre Márcio Leandro Fernandes

Natural de Sete Lagoas (MG), é missionário da Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Márcio Leandro é também Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, em Taubaté (SP). Atua no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/catequese-liturgica/agua-benta-e-seu-sentido-na-vida-crista/

26 de abril de 2021

Deus ama a quem dá com alegria


"Deus ama a quem dá com alegria" (2Cor 9,7).

Como qualquer outro pai e mãe, Deus deseja ver seus filhos sempre bem dispostos, sempre felizes, sempre ressuscitados, apesar das dificuldades, aliás, se fôssemos santos, diríamos: exatamente por causa das dificuldades.

Evidentemente, não trata-se de uma alegria meramente humana, fruto do ter, do prazer e do poder, pois essa é uma alegria falsa e passageira, que deixa o coração mais vazio e amargurado do que antes, uma alegria que, não poucas vezes, é construída sobre a dor e a amargura dos outros. Todos os que têm idade e experiência sabem que, quanto mais se busca preencher a fome de felicidade, que todos sentimos, com essas alegrias, a frustração que daí nasce pode acabar se transformando em depressão incurável.

Deus ama a quem dá com alegria

Foto Ilustrativa: Halfpoint by Getty Images

A alegria que nasce do amor

A verdadeira alegria nasce da certeza de sermos amados por Deus sempre, a cada instante, não porque somos bons, mas porque Ele é bom. Aliás, Deus nada mais faz senão praticar o que Ele mesmo ensinou no Evangelho: "Se amais somente os que vos amam, que prêmio mereceis? Também os pecadores fazem isso. Se amais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Também os pagãos fazem isso" (Mt 5,46).

Se acreditamos que Deus é sempre e somente amor; se acreditamos que somos amados infinitamente por Ele, então, será natural exclamar, assim como São Paulo: "Estou cheio de consolo, transbordo de alegria em toda a espécie de tribulação" (2Cor 7,4). Por que? "Porque é ainda São Paulo quem nos lembra: "Sabemos que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus" (Rm 8,28).

É aprofundando essa verdade que os verdadeiros cristãos, que são os santos, chegam a entender que a felicidade, muito mais do que das riquezas, dos prazeres, do bem-estar e do poder, brota da pobreza, da parcimônia, do equilíbrio e até mesmo do sofrimento, porque escreve Chiara Lubich é "somente passando pelo gelo da dor que se chega ao incêndio do amor".

Essa afirmação de Chiara me traz à memória o que dizia um santo frade capuchinho, quando eu, habituado a queixar-me das amarguras da vida, recorria a ele para buscar conforto e apoio: "Graças ao mistério pascal, as coisas vão bem quando vão mal". Não se trata de masoquismo ou, pior ainda, de sadismo; trata-se, pelo contrário, de uma lei da vida: para produzir fruto, o grão de trigo precisa ser enterrado e morrer. Se não quisermos passar por essa metamorfose, o grão, ou seja, eu e você acabaremos asfixiados pela solidão do egoísmo.

A alegria que nasce da doação

A verdadeira alegria nasce de nossa capacidade de doação: "Há mais felicidade em dar do que em receber" (At 20,35). Quem vive buscando ansiosamente tudo o que o satisfaz; quem nada quer senão acumular bens materiais, sem se importar com a situação dos outros; quem faz de seu corpo e de sua beleza o principal escopo da vida; quem pretende apenas subir e aparecer, mesmo que às custas dos demais, jamais será feliz, porque sempre pensará que ainda não alcançou suficiente. Aliás, cada momento de satisfação aumentará a fome de felicidade e, assim, o círculo vicioso nunca se fecha.


A conclusão só pode ser uma: deixar-se arrebatar pelo amor de Cristo. Então a vida será outra: "Quem nos separará do amor de Cristo: o sofrimento, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? Não, pois em tudo isso somos mais do que vencedores, graças Àquele que nos amou" (Rm 8, 36-37).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/deus-ama-a-quem-da-com-alegria/

23 de abril de 2021

É possível provar a existência de Deus usando somente a razão?


A existência de Deus não é uma tese aceita por todas as pessoas. No mundo acadêmico, em especial no filosófico, esse é um dos temas mais debatidos. Se, para nós que temos fé não é um problema, para os não crentes o é. Dessa maneira, fica claro que: falar da existência de Deus não é tão simples como se pensa, embora seja possível constatá-la.

Você pode me perguntar: Elenildo, então é possível conhecer Deus sem os dados da fé? Conhecê-Lo apenas com a luz da razão? Para responder, recorrerei ao Compêndio da Igreja Católica, que afirma: "partindo da criação, ou seja, do mundo e da pessoa humana, o homem pode, simplesmente com a razão, conhecer, com certeza, Deus como origem e fim do universo e como sumo bem, verdade e beleza infinita" (Compêndio, n. 3).

Talvez, você tenha ficado surpreso com essa declaração do Compêndio em afirmar que o homem simplesmente com a razão pode conhecer Deus. Karl Rahner, teólogo católico, afirma que quem sinceramente busca a verdade entende que Deus é a melhor explicação para tudo que existe no mundo. Seja em relação às coisas materiais, isto é, que possui matéria, tais como: os planetas, as estrelas e a vida em geral. Como também aquilo que é imaterial, ou seja, coisas que existem sem conter matéria, isto é, que existem, mas não podemos ver ou tocar, mas que está aí e não podemos negar sua existência, tais como valores, inteligência humana, amor, perdão, essência das coisas etc.

É possível provar a existência de Deus usando somente a razão?

Foto ilustrativa: Liderina by Getty Images

Argumentos racionais sobre a existência de Deus

Em uma análise verdadeira da realidade, percebemos que existem mais argumentos que afirmam a existência de Deus do que os que O negam. Porém, vale ressaltar que nós católicos somos, muitas vezes, carentes de argumentos racionais sobre a existência de Deus. Sempre que conversamos com alguém que não tem fé, temos a tentação de falarmos de Deus a partir da fé. Quero dizer, a partir disso, da necessidade de investirmos também nos argumentos racionais. Precisamos dos argumentos racionais para defender nossa fé nos ambientes em que ela não é aceita. Mais ainda, para que a minha fé e a sua tenha mais razão de ser, ou seja, uma fé enraizada e não simplesmente superficial.

Quais são esses argumentos racionais? São aqueles que a nossa própria inteligência é capaz de compreender sem auxílio da fé. Santo Tomás de Aquino nomeia cinco argumentos, ou vias racionais, capazes de provar a existência de Deus.

Movimento

A primeira via é a do movimento. Diz Santo Tomás que tudo aquilo que se move é movido por outro, desse modo, é preciso admitir a existência de um movimento primeiro, logo este só pode ser Deus.

Causalidade

O segundo diz da causalidade. Não é possível que exista uma série infinita de causas. Existe uma primeira causa não-causada, que só pode ser Deus.

Contingência das coisas

A terceira diz da contingência das coisas. Diz Santo Tomás que as coisas existem e, em um determinado tempo, deixam de existir. Se assim fossem todas as coisas, o mundo deixaria de existir em dado momento. Com isso, entende-se que existe algo que sempre existiu e precisa existir para que as demais coisas continuem existindo.

Graus de perfeição

O quarto argumento refere-se aos graus de perfeição. Quando observamos detalhadamente, vemos a perfeição com que cada coisa no universo foi criada. Além do mais, constatamos que um ser é mais perfeito que o outro. Não resta dúvida ao dizer que uma pedra é menos complexa em entender que um animal, e um animal qualquer, menos complexo que um homem. Se existem diversos graus de perfeição, isso implica dizer que precisa existir o grau máximo de perfeição que só pode ser Deus.


Fim último das coisas

Por último, Tomás fala do fim último das coisas. Todas as coisas criadas foram feitas com uma finalidade própria. Ninguém nunca presenciou uma laranjeira que se confundiu e produziu manga. Todas as coisas estão ordenadas para determinado fim.

João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, logo na introdução, diz: "A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-Lo, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio".

Como ilustrado pelo Papa João Paulo II, precisamos da fé, porém ela sozinha não é suficiente. O que a Igreja ensina é voarmos com as duas asas. Só com a asa da fé cairemos no fideísmo. Unicamente com a razão cairemos no racionalismo. A saída está exatamente em voarmos com as duas asas, a da razão e a outra da fé. Somente assim alçaremos voo e contemplaremos a verdade.

Que o Senhor aumente a nossa fé e ilumine nossa razão, para melhor Lhe servirmos e O amarmos.



Padre Elenildo Pereira

Padre Elenildo Pereira é membro da Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários. Autor do livro "Ser humano, obra prima das mãos de Deus", pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/e-possivel-provar-a-existencia-de-deus-usando-somente-a-razao/

19 de abril de 2021

O bem verdadeiro coloca a vida em primeiro


«É totalmente falsa e ilusória a defesa que se faz dos direitos humanos – por exemplo, os direitos à saúde, à moradia, ao trabalho, à família e à cultura – se não se defende, com a mesma energia, o direito à vida como primeiro e capital direito, fundamento de todos os outros direitos da pessoa.»

Não nego que, ao deparar-me com essa afirmação do Papa João Paulo II, fiquei bastante preocupado. Por quê? Porque sempre pensei que o verdadeiro cristão é aquele que sabe dialogar com as diversas correntes de pensamento que compõem a sociedade e se dispõe a apoiar quaisquer iniciativas direcionadas ao bem-estar social, cultural e econômico dos povos, independentemente se elas são promovidas por esta ou aquela organização, este ou aquele partido político.

De fato, um famoso escritor latino gostava de repetir: «Nada do que é humano me é estranho». Da mesma forma, onde quer que haja uma necessidade a acudir, uma esperança a suscitar, uma mão a estender, um passo a dar, lá é o lugar do verdadeiro cristão. Mantendo sempre os olhos voltados para Deus, o cristão aprende a amar os irmãos começando pelos mais necessitados com o mesmo amor de Deus, um amor simultaneamente paterno e materno, afetivo e efetivo.

O bem verdadeiro coloca a vida em primeiro

Foto Ilustrativa: MmeEmil by Getty Images

A vida como bem primordial

Mas o que o João Paulo II quis dizer com essa afirmação? A meu ver, nada mais nada menos do que isto: o bem só é verdadeiro quando tomado em sua globalidade. Assim, de nada adianta buscar ou proporcionar o bem-estar social, cultural e econômico se, ao mesmo tempo, não se busca ou não se proporciona o bem integral da pessoa humana.

Esta é a diferença entre a ética católica e a ética promovida por numerosos organismos ou agremiações políticas. Graças à consciência sociopolítica que um número cada vez maior de pessoas está adquirindo, não são poucos os organismos e partidos às vezes, porém, mais na teoria do que na prática que defendem e promovem valores como a liberdade, a educação, o emprego, a moradia etc. Mas, enquanto eles param por ali, os cristãos fazem um passo a mais, e defendem e promovem também outros valores, que, muitas vezes, não são vistos como tais por esses mesmos organismos e partidos, como o respeito pela vida (em seu início e em seu término), a fidelidade matrimonial, o casamento heterossexual etc.


Os cristãos fazem essa opção, porque sabem que os valores culturais, sociais e econômicos de um povo são realmente tais se estão vinculados a outros valores, mais profundos e universais. Para os que sabem ver, todos os dias a história está a provar que, de nada adianta ter estudo, moradia, dinheiro, carro, fama etc., se, ao mesmo tempo, não houver outra riqueza, constituída por valores mais substanciais, normalmente oferecidas por uma religião bem entendida e melhor ainda praticada.

Por esses e outros motivos, compreende-se facilmente que não é fácil ser cristão.

Quase sempre, como já advertiu o próprio Jesus, ele será sinal de contradição. E ninguém gosta de ser esquecido, marginalizado ou perseguido. Sobretudo por pessoas com quem defendeu grandes batalhas.

Mas o Papa é incisivo: «É falso e ilusório defender alguns direitos e, ao mesmo tempo, esquecer ou desprezar outros direitos, tão ou mais importantes que os primeiros». Palavras estas que lembram outras, proferidas por Jesus: «Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, ou seja, ter moradia, carro, saúde, etc., se isso prejudicar a sua vida?».


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-da-vida/o-bem-verdadeiro-coloca-a-vida-em-primeiro/

16 de abril de 2021

Como a vida em família nos faz pessoas melhores


A família é a nossa base, e os nossos primeiros aprendizados iniciam-se com os nossos pais e irmãos, na convivência familiar com os avós, tios, primos e qualquer outra pessoa que compõe a nossa família.

Quando vivemos o amor e o respeito em família, todos os seus membros crescem de uma maneira a levar esses sentimentos consigo ao longo da vida. Aprendemos a conviver uns com os outros, a resistir, perdoar, a sermos persistentes, pacientes, a chorar, consolar, enfim, a vida em família é uma constante formação pessoal. Ela enraíza em nós os conceitos de tradição, de moral, de costumes. Faz nascer os sentimentos, os pensamentos, e nos guia em nossas decisões.

É completamente errôneo o pensamento de que a família e a vida familiar nos formata de modo quadrado, encaixota-nos e faz-nos limitados, dentro de um conceito e jeito fechados e sem opiniões. É ao contrário disso.

Como a vida em família nos faz pessoas melhores

Foto ilustrativa: fizkes by Getty Images

A família nos faz crescer e entender o que é bom

A família não é só o "núcleo básico da sociedade", como até a ONU reconhece, mas em sua definição mais perfeita e feliz é a família que nos faz crescer, desperta-nos para o que é bom e justo, respeita as diferenças e ajuda o outro em seu crescimento pessoal.

O ambiente familiar saudável, aberto ao diálogo, que se alegra com as conquistas e descobertas de seus membros e que consola e reergue os que estão caídos, desanimados e decepcionados, não é utopia. Claro, não existe família perfeita, afinal, somos humanos, erramos, decepcionamos o outro, irritamo-nos e, muitas vezes, falamos o que não deveríamos.

É certo, no entanto, que não aprendemos a convivência familiar em cursos ou faculdade, apesar de haver terapias, grupos de ajuda etc. Verdadeiramente, aprendemos a vida familiar com o que acontece no dia a dia, nas conversas ao redor de uma mesa de refeição, no trabalho em equipe para fazer os serviços domésticos, na reorganização dos móveis da casa, brincando com os irmãos no quintal, dialogando sobre um assunto específico, pedindo desculpas e perdoando.


No abraço, no carinho, nos passeios, no respeitar o tempo do outro, na partilha das roupas, do bolo, do suco. A vida familiar é uma escola. Escola de vida. De vida em família. De convivência, renúncia, amor, respeito, partilha, sorrisos e lágrimas. Da escola tiramos grandes lições para uma vida inteira. Assim também da vida familiar. Ela nos forma e nos orienta para onde ir, o que e como fazer. Ensina-nos a viver em sociedade, a escutar um 'não', um 'espere sua vez'. Forma-nos como pessoas para a vida profissional, na reorganização dos sentimentos, nos relacionamentos futuros.

Como dissemos, ela é base, portanto, essa base precisa ser como uma árvore, forte, enraizada, nutrida; que sua sombra cubra e proteja, para que seus frutos sejam os melhores e mais saborosos.



Paulo Victor e Letícia Dias

Cirurgião-dentista de formação, Paulo Victor foi membro da Comunidade Canção Nova como apresentador, locutor e radialista. Atualmente, ele mora em Campo Grande (MS). É empresário e casado com Letícia Dias.

Letícia Dias é Gerente de Conteúdo e estudante de Letras/Libras com foco na Educação Especial. Foi membro da Comunidade Canção Nova como apresentadora de programas. Hoje, ela mantém uma agitada rotina familiar. Letícia tem um filho caçula que nasceu com Síndrome de Down, e isso a refaz todos os dias.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/como-a-vida-em-familia-nos-faz-pessoas-melhores/