17 de março de 2021

Não tenha medo de se reconhecer como miserável


Costumamos dizer que a vida às vezes nos prega peças. Um desses casos são aquelas ocasiões inesperadas que despertam em nós uma espécie de monstro interior que preferiríamos que permanecesse dormindo. Aquele senhor aparentemente calmo e comedido que bebeu demais na confraternização do condomínio e escandalizou a todos fazendo um discurso no qual dizia a sua opinião mais sincera (e extremamente negativa) a respeito de seus vizinhos, do síndico e até da mãe do síndico. Ou o pai que foi levar o filho pequeno para vacinar e aparentemente surtou porque imaginou que alguém furou a fila, dirigindo uma ira desproporcional a outro pai que ali estava com um bebê nos braços. Não faltam exemplos, e em tempo de vídeos virais, todos nós já devemos ter visto cenas como essas circulando em nossos celulares, a maioria delas de pessoas comuns que tiveram reações imprevisivelmente ruins a eventos aparentemente simples (Nem sempre essas reações se resumem à ira, frise-se. Em alguns casos é uma mentira grave "contada no susto", uma trapaça numa competição familiar que nem valia nada, só para não passar pelo vexame da derrota, ou mesmo um troco que veio a mais e você, num impulso, não devolveu). Normalmente, a pessoa se sente afogada na vergonha quando o episódio passa e tem grande dificuldade de encarar aqueles que presenciaram o "espetáculo", mas uma dificuldade ainda maior de encarar a si mesmo, de aceitar que aquele monstro saiu de dentro de si.

Não tenha medo de se reconhecer como miserável

Foto ilustrativa: triocean by Getty Images

Você tem medo de agir assim?

Dorian Gray, um dos mais famosos personagens da literatura, permanecia belo e jovem, com rosto angelical e puro, apesar de se deixar levar cada vez mais pelos vícios. Um dia, movido pela curiosidade, decidiu olhar o quadro com a sua imagem, justamente o quadro que ele tanto invejara pela beleza e pelo qual vendera a sua alma com o juramento imprudente de que daria qualquer coisa para permanecer eternamente belo e jovem como aquela imagem no quadro. Ele ficou então sumamente escandalizado quando viu que o quadro havia envelhecido e não ele, e que o quadro assumira as feições perversas e eivadas de vícios, enquanto ele mantinha a máscara de bondade que encantava as pessoas ao seu redor. O quadro claramente simbolizava o seu interior, sujo e mau, mas ele não podia suportar essa dura verdade, por isso escondeu a obra de arte onde nem mesmo ele fosse capaz de ver. É o que muitos de nós fazemos quando nos deparamos com nossas misérias. Negamos toda a situação, como se isso apagasse o fato  corrido: "Isso nunca me aconteceu antes!" ou "Eu sou incapaz de fazer isso, foi a bebida, a situação tal que eu estou vivendo, um surto etc., porque eu sei que sou incapaz de fazer mal a uma mosca". Aqui, preciso fazer algumas correções: sim, você é capaz de fazer isso. Sim, você é capaz de fazer mal a uma mosca. Não, não foi a bebida, não foi a tensão ou o nervosismo. Essas coisas apenas tornaram mais difícil controlar o que já estava dentro de você: o homem velho, dominado pelo pecado, inclinado para o mal, avesso ao bem. Essas "peças" que a vida nos prega são ocasiões privilegiadas de conversão e não deveríamos fingir que elas não aconteceram, não deveríamos ser covardes como Dorian Gray e esconder o quadro do nosso interior, mas refletir bastante sobre nossa conduta, à luz do Espírito Santo. Por meio desses momentos catárticos, entramos em contato direto com as nossas misérias, sem filtros, sem máscaras. Podemos ver de que barro somos feitos e o que somos realmente quando agimos guiados apenas por nossos instintos.

Há uma semana, envolvi-me num acidente de carro. Eu, minha esposa, dois dos meus filhos e um sobrinho voltávamos à noite do cinema em uma cidade próxima. Estávamos numa rodovia estadual e quando passávamos pelos quebra-molas, na área de um posto de gasolina, um motociclista bêbado, sem capacete e com o farol da moto desligado perdeu o controle e cruzou a pista diretamente na nossa direção, batendo frontalmente no nosso carro. Como eu havia passado por um quebra-molas e estava me aproximando de outro, o carro vinha bem devagar e o impacto não foi tão grande. Minha família e eu não nos machucamos, mas o motociclista fraturou a perna direita. Desci com a minha esposa do carro, vimos que o rapaz estava consciente, não estava sangrando, acalmamos as crianças e eu liguei para o SAMU e para a polícia. Ficamos aguardando e enquanto isso apareceram muitas pessoas que moravam ali na área, curiosas com o acidente. Após alguns minutos, o efeito do choque deve ter passado, assim como o torpor da bebida, e o motociclista começou a reclamar de dor. Mais do que reclamar, ele começou a gritar a plenos pulmões, intercalando os gritos com palavrões. O SAMU já tinha sido chamado há cerca de meia hora e não chegava, e o rapaz no chão, sem poder ser removido, por conta da fratura, gritando, sofrendo em agonia. Minha esposa estava inquieta, perturbada com o sofrimento do rapaz. A todo instante ela vinha me perguntar da ambulância que não chegava, enquanto rezava silenciosamente por ele.

É isso mesmo, produção?

Foi então que me dei conta de algo que acontecia em meu interior, ou, melhor dizendo, não acontecia: eu não sentia compaixão ou pena por aquele rapaz acidentado. Na verdade, eu não sentia nada. No melhor estilo "é isso mesmo, produção?", eu me questionei interiormente a respeito disso. "Não é verdade", eu dizia a mim mesmo, "eu não posso ser tão insensível". Não é que eu estivesse com raiva dele e por isso não sentia compaixão. Não, não era esse o caso. Eu simplesmente não conseguia me compadecer de uma pessoa que estava há meia hora agonizando de dor no chão com uma perna fraturada. Compartilhei essa descoberta com a minha esposa e continuei refletindo. Pedi a Deus a graça de sentir compaixão dele, esforcei-me para isso, mas era algo que vinha do intelecto, não do coração. Algumas pessoas vinham puxar conversa comigo, por exemplo, dizendo que aquele bêbado desgraçado só complicava a vida de gente de bem, que não tinha nada a ver com a cachaça dele, como eu. Eu dizia que não era bem assim, que o coitado estava sofrendo muito mais do que eu e o que nós passamos ali era só um pequeno transtorno perto do que ele iria enfrentar até se recuperar do acidente. Eu me esforçava vivamente para manifestar compaixão, mas me sentia como Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro 2, quando o garoto John Connor tenta ensiná-lo a ser descolado, a falar gírias e dizer frases de efeito, mas tudo que o Exterminador fala é artificial, mecânico, sem o calor próprio de quem tira as coisas do coração.

Passei dias e dias refletindo sobre isso e parte de mim queria negar tudo aquilo, buscando argumentos e razões que explicassem a minha "aparente" insensibilidade, como algum possível choque diante do acidente, mas eu sabia que isso não era verdade. Foram dias de um longo diálogo com Deus e comigo mesmo, e, ainda assustado, assumi que aquela minha reação me dizia algo importante sobre mim mesmo, mostrava quem eu sou. E quem eu sou? Um homem com quase vinte e cinco anos de vivência intensa na Igreja, catorze deles como membro da Canção Nova. Um homem que busca a santidade de vida, que prega essa santidade, que participa da missa diariamente, confessa-se com regularidade, esforça-se para permanecer na Graça de Deus. Um homem que busca ser em tudo guiado pelo Espírito Santo, que reflete diariamente sobre a Cruz de Cristo e a cruz nossa de cada dia… Ainda assim, um homem que depois de tudo isso tem tão pouco amor no coração que foi incapaz de se compadecer de uma pessoa acidentada no chão, gritando de dor com os ossos quebrados. Esse sou eu. Sem enfeites, sem máscaras, sem exageros nem autocondescendência, esse sou eu. Após um quarto de década de vida na Igreja, eu já aprendi sobre virtudes e sobre vida dos santos, sobre graça santificante e sobre a história da Igreja, sobre tantas coisas, mas ainda não aprendi a ver Cristo no próximo, amando-o. Essa descoberta me desanimou, me fez ter a impressão de que perdi meu tempo? Não. Pelo contrário, o pensamento que me veio foi: se andando com Cristo esses anos todos eu ainda sou assim, imagine quem eu seria se não fosse a Graça de Deus agindo sobre mim.


Fonte de conversão

Tirei desse episódio duas grandes conclusões, que posso chamar de dois frutos espirituais para a minha conversão. "Onde estaria eu se não fosse o seu amor, Senhor?", parafraseando a bela canção, é o primeiro. Deus tem feito uma obra belíssima em mim e se não fosse isso, que tipo de coração ainda mais duro e cruel eu não teria! Entra então o segundo fruto: baixe a sua bola, Leonardo. Você não é isso tudo que às vezes tenta se convencer que é. O que quer que exista de bom dentro de você vem exclusivamente de Deus. Os talentos, as boas inspirações, os gestos, os sentimentos, tudo vem de Deus. Quando você age movido pelos seus próprios impulsos, acontece isso que você
experimentou: miséria, desamor, falta de compaixão, insensibilidade… Por isso, esvazie-se de si mesmo como o próprio Cristo esvaziou-se. Ele, que é Deus, não fez questão disso, mas aniquilou-se a si mesmo, viveu a obediência até o último instante e humilhou-se até a morte de Cruz. Esvazie-se das suas pretensões de bondade, das suas certezas, das suas vaidades. Quando tudo estiver vazio dentro de você, sobrarão as misérias, a fraqueza, a vulnerabilidade. Então você ouvirá de Deus o que São Paulo ouviu: "Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força".



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/nao-tenha-medo-de-se-reconhecer-como-miseravel/

15 de março de 2021

Como combater o pecado da impureza e viver a castidade?


Dando continuação a nossa série de estudos sobre os pecados capitais, tomemos conhecimento, agora, do pecado da impureza e o remédio para combatê-la: a castidade.

Diz São Paulo aos Coríntios: "Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um de sua parte, é um dos seus membros" (ICor 12,27). Diz ainda: "Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo" (ICor 6,18). Com isso, podemos dizer que o pecado da impureza é grave, porque faz mal não só para quem o pratica, como também para todo o corpo místico de Cristo.

O apóstolo ainda diz: "Tomarei, então, os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta? Ou não sabeis que o que se ajunta a uma prostituta se torna um só corpo com ela? Está escrito: 'Os dois serão uma só carne' (Gen 2,24)" (ICor 6,16). Vemos que, para Paulo, entregar-se à prostituição é o mesmo que prostituir o Corpo de Cristo. Diz professor Felipe Aquino, em seu livro 'Os Pecados e as Virtudes Capitais', que "essa é uma realidade religiosa da qual ainda não tomamos ciência plena, isto é, toda vez que eu peco, o meu pecado atinge todo o Corpo de Cristo. Essa é uma das razões pela qual nos confessamos com o ministro da Igreja, para nos reconciliarmos com ela, que foi manchada pela nossa falta".

Como combater o pecado da impureza e viver a castidade?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O remédio para combater a impureza é a castidade

Jesus levou muito a sério o pecado da impureza. No Sermão da Montanha, quando ensinava ao povo, Ele disse: "Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração." (Mt 5,27-28). Com essas palavras, Jesus quer ensinar que o pecado da impureza necessariamente deve ser cortado pela raiz, isto é, já nos pensamentos e imaginações. "É do coração que provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias." (Mt 15,19). Se o pecado da impureza não for cortado nos pensamentos, não tardará em se transformar em ato.

O pecado da impureza é vivido, muitas vezes, entre os casais de namorados e noivos. Começam a viver uma vida marital antes do sacramento do matrimônio. Não compreenderam que a "união dos corpos só tem sentido quando existe a união prévia dos corações e das almas, de maneira sólida e permanente, como se dá no casamento" (Felipe Aquino).

Como bem ensina professor Felipe Aquino, "o sexo é belo, mas fora do plano de Deus é um desastre, explode como uma bomba atômica. Desgraçadamente, a nossa sociedade promove o sexo acintoso, sujo, sem responsabilidade nem compromisso, e depois se assusta com as milhões de meninas grávidas, estupros, separações, adultérios etc".


Castidade

Papa João Paulo II: "A educação sexual, direito e dever fundamental dos pais, deve fazer-se sempre sob a sua solícita guia, quer em casa, quer nos centros educativos escolhidos (…). Nesse contexto, é absolutamente irrenunciável a 'educação para a castidade' como virtude que desenvolve a autêntica maturidade da pessoa, e a torna capaz de respeitar e promover o 'significado nupcial' do corpo." (Familiaris Consortio, n. 37).

Vale recordar o emocionante momento de São João Paulo II quando esteve nas Filipinas em janeiro de 1995. Haviam ali mais de 4 milhões de jovens para participar da Santa Missa celebrada em Manila. Para surpresa e, ao mesmo tempo, alegria do Papa, um grupo de aproximadamente cinquenta mil jovens entregou para Sua Santidade um abaixo-assinado contendo o compromisso deles em viver a castidade. O Papa ficou emocionado.

Em suma, "a castidade é a virtude que mais forma homens e mulheres de verdade, de acordo com o desejo de Deus, e os prepara para constituir famílias sólidas, indissolúveis e férteis. Mas, infelizmente, também nós católicos, por terrível omissão, permitimos que fosse arriada a bela bandeira da castidade. Ficamos mudos e calados diante abaixo, os horrores de um "sexo-livre", devasso e pervertido" (Felipe Aquino).

O remédio contra a impureza é a castidade. Devemos fugir de toda e qualquer ocasião de pecado. Diz o ditado popular: "a ocasião faz o ladrão". Não podemos abrir brechas para o pecado em nossa vida. Se abrirmos, ele entrará e destruirá nossa vida. Por isso mesmo, devemos dizer não a tudo que nos leva a pecar: filmes, livros, revistas, músicas etc. Uma coisa é certa: jamais viverá a castidade quem não vigiar o olhar, os pensamentos e as imaginações. Acima de tudo, evitar as ocasiões que podem levar ao pecado.



Padre Elenildo Pereira

Padre Elenildo Pereira é membro da Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários. Autor do livro "Ser humano, obra prima das mãos de Deus", pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/como-combater-o-pecado-da-impureza-e-viver-a-castidade/

12 de março de 2021

Qual é o seu projeto de santidade?


Deus reserva para o pecador as Suas delicadezas de Pai de misericórdia, que ama e perdoa sempre. Regenera-o totalmente para que possa retornar o caminho e trabalhar para o Reino d'Ele, pela justiça e pela paz. "Misericórdia" é uma das palavras que mais aparecem na Bíblia, sobretudo, no Evangelho de Lucas, que é chamado "o evangelista da misericórdia". A prática de Jesus confirma a atitude de um Pai misericordioso. Cuidar e cuidar-se são atitudes que geram qualidade de vida. Tudo na vida requer cuidado. Um projeto de santidade requer uma atitude contínua de vigilância e de cuidados diários. Devemos cuidar diariamente de nosso corpo e de nossa alma, assim como quem tem flores precisa cuidar delas todos os dias para não perdê-las.

A Igreja oferece a seus fiéis um sacramento especial: rito do perdão. O sacramento da confissão é o lugar privilegiado do perdão de Deus para recuperar e cuidar da vida decaída dos cristãos.

Você se sente fraco e pecador? Deus lhe diz: "Faça sua parte e eu farei o resto. Tende confiança. Eu venci o mundo" (cf. Jo 16,33).

Qual é o seu projeto de santidade?

Foto ilustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

Almeje a santidade!

Diga com vontade: "Quero ser santo", "quero continuar a caminhada", e isso vai acontecer. Quem persegue um sonho precisa ter obstinação e uma santa teimosia, além de um otimismo repleto de esperança, que confia em Deus e em Seu poder. Deixe o resto por conta d'Ele. Deus ama a todos como são. Aliás, ama os pecadores mais que os "santos". É a lógica do amor. O Senhor entende profundamente o coração humano, que é inconstante.

Deus Pai perdoa não apenas pelo sacramento da confissão. Sempre que alguém se arrepender de algo e pedir perdão será perdoado. A Bíblia diz que a caridade cobre uma multidão de pecados. Então quem tem o amor no coração não deve ter medo do pecado. O Altíssimo não só perdoa, mas se alegra com o retorno do filho, com sua conversão e faz festa, assim como o pai do filho pródigo, que abraçou e beijou o filho que retornava para a casa, preparando uma grande festa para comemorar a sua volta.

O tratamento que Jesus dispensava aos publicanos e aos pecadores era tão especial que escandalizava os fariseus, que se julgavam os "melhores". Cristo agia bem diferente: perdoava e esquecia os pecados cometidos pelos homens.

A alegria do perdão

Há pessoas muito boas, bem intencionadas, que carregam certos "pecados" como uma verdadeira cruz, às vezes, pela vida inteira. Só Deus conhece o sofrimento terrível dessas pessoas que querem seguir a Jesus, mas não conseguem porque cometem sempre a mesma falta, a qual, muitas vezes, nem pecado é, e sim hábito. Qualquer texto de moral cristã ensina que o hábito diminui a culpabilidade e até cancela a culpa. Embora, muitas vezes, não sejam pecados, criam, no entanto, um "sentimento de culpa" causando sofrimento às pessoas. Deus não quer isso para os Seus filhos queridos.


É preciso ter paciência também consigo mesmo e perdoar-se, sentir a alegria do perdão. O Salmo 50 nos ajuda a rezar: "Devolve-me a alegria de ser salvo" (Sl 50,14). Quem se perdoa, perdoa aos outros também.

O grande recurso criado por Cristo para restituir a paz e o perdão ao pecador e permite-lhe continuar, sem remorsos inúteis, o caminho da santidade é o sacramento da reconciliação ou penitência. Com ele, sela-se a paz. Sentir-se perdoado, poder "deixar para trás" um passado que, muitas vezes, nos incomoda e envergonha, para recomeçar uma vida nova, é certamente um grande dom de Cristo a cada cristão e à Sua Igreja.

(Trecho extraído do livro "Cristãos de atitude – O caminho espiritual proposto por Dom Bosco" de padre Mário Bonatti)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/qual-e-o-seu-projeto-de-santidade/

10 de março de 2021

Em todas as situações podemos alcançar a vitória


O profeta Daniel traz um fato muito importante no capítulo 3 de seu livro, e acredito que Deus quer nos falar por meio desse texto hoje. Ele narra que o rei da Babilônia Nabucodonosor mandou construir uma estátua de ouro enorme, media 30 metros de altura por 3 metros de diâmetro, e decretou que todos os habitantes do reino deveriam prostrar-se e adorá-la quando tocassem as trombetas e os instrumentos musicais. E fizeram isso. Só que chegou a seus ouvidos que três jovens judeus – chamados Sidrac, Misac e Abdênago (cf. Daniel 3, 16ss) – não estavam obedecendo as suas ordens. Furioso, mandou chamar os três rapazes e os ameaçou dizendo que se não adorassem a estátua, seriam jogados na fornalha de fogo e morreriam queimados, e ainda os insultou perguntando: "E qual é o Deus que vos há de livrar da minha mão?" (v. 15)

A resposta dos três jovens foi esta: "Nem precisamos dar resposta a esta ordem. Existe o nosso Deus a quem cultuamos, Ele nos pode livrar da fornalha acesa, salvando-nos da tua mão. Mas mesmo que isso não aconteça, fica sabendo, ó rei, que não vamos prestar culto ao seu deus, nem vamos adorar a estátua de ouro construída por ti, ó rei" (v. 16-18).

Em todas as situações podemos alcançar a vitória

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Para alcançar a vitória, busque uma maturidade de fé

Aqui está o segredo do coração desses três jovens: "Mas mesmo que isso não aconteça, não vamos prestar culto ao seu deus". Em outras palavras, mesmo que o Senhor não nos livre, não O trairemos, permaneceremos fiéis, morreremos se for preciso, mas não voltamos atrás! Isso é amor incondicional a Deus, é fidelidade a toda prova. Que maturidade de fé!

Isso também precisa acontecer conosco. Precisamos chegar a essa maturidade e a esse amor incondicional a ponto de dizermos: "Mesmo que nada mude em minha vida, mesmo que eu não seja curado, mesmo que isso não aconteça, permanecerei fiel ao Senhor! Não O negarei! Não desistirei! Mesmo que a minha oração aparentemente não traga resultados, não deixarei de orar, permanecerei fiel ao Senhor!"

O rei ficou furioso e mandou amarrar os três, colocou ainda mais combustível na fogueira e os jogou lá dentro. Eles caíram louvando a Deus, dando seu testemunho de fé. E algo maravilhoso aconteceu: "Os três ficaram passeando por entre as chamas, cantando hinos a Deus e louvando ao Senhor" (v. 24). E a Palavra de Deus continua descrevendo que "o Anjo do Senhor, porém, desceu para junto de Azarias e seus companheiros na fornalha. Impeliu as labaredas para fora da fornalha e fez surgir no meio da fornalha um vento úmido e refrescante. O fogo não os atingiu nem lhes causou qualquer incômodo" (v. 49).


O que me chama a atenção é que eles não negaram o poder de Deus; muito pelo contrário, afirmaram com toda a força que Ele tinha o poder de livrá-los daquela situação terrível. Só que eles deram um passo a mais, e aqui está o ensinamento para nós, eles deixaram claro que a sua fidelidade a Deus não estava condicionada ao fato de Ele os livrar ou não! Independentemente disso, decidiram permanecer fiéis ao Senhor. Num mundo tão materialista como o nosso, com tantas ofertas e propostas de negociar com Deus, com tentativas até de forçá-Lo a fazer o que se quer ou de querer comprá-Lo com votos, promessas e coisas parecidas, o testemunho desses três rapazes é muito forte.

Corações apaixonados por Deus conquistam a vitória

Sinto com essa passagem bíblica um forte convite do Senhor para que primeiro façamos uma revisão de vida a respeito de nossas disposições de fé. E depois, que possamos pedir esse coração apaixonado, essa fé madura, essa atitude fiel e gratuita para com Ele.

"A vitória vem pelo louvor!" E é justamente isso que vemos nesse texto bíblico. O louvor que brotou desses corações convictos em Deus, apaixonados pelo Senhor e fiéis a Ele de maneira incondicional, conquistou da parte do Senhor o livramento da fornalha, a libertação diante da tirania de Nabucodonosor. E o fruto dessa fidelidade foi a conversão do próprio rei, que reconheceu o poder de Deus e passou também a buscá-Lo.

Creio firmemente que a partir dessa mudança interior, dessa mudança do nosso coração e de nossa postura diante das situações e das tribulações, se tivermos esse coração totalmente confiante em Deus, e principalmente, incondicional na fidelidade a Ele, muita coisa vai começar a mudar em nossa vida, não haverá "fornalha" capaz de nos fazer mal, não haverá tirania suficiente para nos prender, não haverá situação impossível. Veremos a glória de Deus!

Que o Senhor nos conceda essa conversão no dia de hoje!

Deus abençoe você!

Por Padre Clóvis Andrade de Melo
Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/em-todas-as-situacoes-podemos-alcancar-a-vitoria/

8 de março de 2021

O tempo da Quaresma nos convida à conversão


A Quaresma é tempo o propício de conversão, de retorno dos que se encontram distanciados de Deus. Dois instrumentos da graça divina nos são oferecidos para essa renovação e fortalecimento espiritual: a Confissão ou Reconciliação, e a Comunhão. Recebendo-os, cumprimos um dever pascal.

A trajetória histórica dos sacramentos apresenta períodos de maior vitalidade e também de sombras, dúvidas e negações. Conforme o maior aperfeiçoamento de conceitos e crises, de épocas ou gerações, surgem falhas e também vitórias. São avanços ou retrocessos, mas sempre preservando e essencial desses canais da graça redentora deixados por Jesus a Sua Igreja.

O tempo da Quaresma nos convida à conversão

Foto ilustrativa: BrianAJackson by Getty Images

Os sacramentos são meios importantes para a conversão

Hoje, a Eucaristia, a Comunhão e a Penitência ou Reconciliação sofrem impactos opostos. Quanto à primeira, verifica-se uma crescente participação, aumentam os comungantes, mas surge uma interrogação sobre a observância do indispensável estado de graça adquirido pelo Sacramento da Confissão, requerido para uma adequada e frutuosa recepção da Eucaristia.

Até há pouco tempo, a Comunhão era cercada de uma série de medidas que, protegendo-a, provocavam, por vezes, um afastamento pelos obstáculos criados exteriormente. Ao serem estes removidos, sob o sopro do Espírito Santo, parece que, por vezes, tentaram eliminar o que não era acessório, mas indispensável à obtenção de seus frutos.

Um clima de que "tudo é permitido" ameaça atingir essa área sagrada, e pode levar alguns a uma aproximação imprópria da mesa do Senhor. Indevida e sacrílega, produzirá a morte o que devia aumentar a vida. Pelo documento "De Sacra Communione", da Congregação para o Culto Divino, continua firme a prescrição: "ninguém que tenha cometido pecado mortal, ainda que arrependido, participe da mesa eucarística sem a prévia confissão sacramental". Evidentemente pode haver caso extraordinário, e a Igreja sempre o reconheceu. O mesmo documento estimula a recepção, com oportuna frequência, do sacramento da Penitência.

Remédio de revigoramento

A Confissão sempre encontrou resistência na natureza humana. Hoje, a maior ânsia de prazer e de liberdade, a reação ao que exige sacrifício são, entre outras, causas da menor afluência ao tribunal sagrado. Outro documento da Sagrada Congregação para o Culto Divino, com data de 2 de dezembro e divulgado a 8 de fevereiro de 1974, sobre o novo rito do Sacramento da Penitência, abriu grandes perspectivas pastorais para sua revitalização. O uso do termo reconciliação indica um encontro do homem arrependido com Deus que perdoa.

A confissão, para quem não perdeu a vida espiritual, é como um remédio de revigoramento no encontro sacramental com o Cristo na cruz, fonte de toda reconciliação e da vida santificada. O novo rito, que, evidentemente, não altera a essência do sacramento, dá maior destaque ao caráter eclesial, comunitário, da reconciliação, pois há um prejuízo social no pecado.

No documento, permaneceu a confissão individual, cujo ritual é enriquecido com elementos catequéticos e pastorais. Além disso, há a possibilidade da reconciliação em cerimônia coletiva, com acusação dos pecados e absolvição também individual; e também a confissão comunitária, com absolvição coletiva, esta em circunstâncias absolutamente especiais. Para a última já foi dada clara orientação pela Santa Sé.

Ao ser notificada a reforma litúrgica da Penitência, houve destaque para o acessório. Assim, com certo sensacionalismo, afirmou-se terem sido supressos os confessionários. O documento, entretanto, remeteu às determinações do Direito vigente e às Conferências Episcopais. Eis o esforço pastoral da Igreja, conforme determinação do Concílio Ecumênico, sobre esses dois sacramentos.


Favores divinos

A Quaresma nos oferece especial oportunidade para uma renovação profunda na prática da reconciliação e da comunhão. A recepção da Eucaristia, em circunstâncias interiores e exteriores aptas, produzirá os frutos oriundos da sua infinita vitalidade. A maior participação na Penitência nos dá melhores ou indispensáveis condições para a comunhão sacramental e uma valiosa contribuição na vida espiritual. Cabe a cada um o devido aproveitamento dessa fonte de favores divinos. Os resultados ultrapassam a esfera pessoal e irão beneficiar a coletividade católica, pela maior vitalização da presença divina.

Neste período do ano litúrgico, muito útil também recordar a Carta Apostólica "Misericordia Dei" sobre alguns aspectos da celebração do sacramento da Penitência. Merece uma particular reflexão esse "forte convite aos meus irmãos Bispos, e através deles, a todos os presbíteros para um solícito relançamento do sacramento da Reconciliação, inclusive com exigência de autêntica caridade e de verdadeira justiça pastoral, lembrando-lhes que cada fiel com as devidas disposições interiores, tem o direito de receber pessoalmente o dom sacramental".

Recordo que o Concilio de Trento declarou que é necessário "por direito divino, confessar todos e cada um dos pecados mortais". E assim por diante.

O tempo litúrgico que vivemos é uma oportunidade para refletir sobre essas verdades. Elas são importantes para a saúde espiritual do povo de Deus.

Peçamos a Nossa Senhora Aparecida e a São Sebastião que nos ajudem.

Dom Eugenio de Araújo Sales


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/o-tempo-da-quaresma-nos-convida-a-conversao/

5 de março de 2021

Não há nada pior do que o pecado


O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos mostra toda a gravidade do pecado: "Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro" (§ 1488). São palavras fortíssimas, pois mostram que não há nada pior do que o pecado. Por outro lado, o Catecismo afirma que ele é uma realidade: "O pecado está presente na história dos homens: seria inútil tentar ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes" (CIC, §386).

Deus disse a Santa Catarina de Sena, em "O Diálogo": "O pecado priva o homem de Mim, Sumo Bem, ao tirar-lhe a graça". São Paulo, numa frase lapidar, explica toda a hediondez do erro e razão de todos os sofrimentos deste mundo: "O salário do pecado é a morte" (Rom 6,23). Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é consequência dessa falha que "começou" com Adão. "Por meio de um só homem, o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e, assim, a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rom 5,12). O Catecismo ensina que: "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído, se não tivesse pecado (GS,18), é assim o último inimigo do homem a ser vencido" (1Cor 15, 26).

Não há nada pior do que o pecado

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Escravos do pecado

Santo Agostinho dizia que: "É desígnio de Deus que toda alma desregrada seja para si mesma o seu castigo", e acrescentava: "O homem se faz réu do pecado no mesmo momento em que decide cometê-lo." Sintetizava tudo dizendo que "pecar é destruir o próprio ser e caminhar para o nada". Ele dizia de si mesmo nas confissões: "Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso precipitava-me na dor, na confusão e no erro".

Toda a razão de ser da Encarnação do Verbo foi para destruir, na Sua carne, a escravidão do pecado. "Como imperou o pecado na morte, assim também, imperou a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rom 5,21).

O demônio escraviza a humanidade com a corrente do pecado, mas Jesus vem exatamente para quebrá-la. São João deixa bem claro na sua carta: "Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados" (1Jo 3,5). "Para isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3,8). Essa "obra do diabo" é exatamente o pecado, que nos separa da intimidade e da comunhão com Deus e nos rouba a vida bem-aventurada.

Liberdade

Com a Sua Morte e Ressurreição triunfante, Jesus nos libertou das cadeias do pecado e, por Sua graça, podemos agora viver uma nova vida. É o que São Paulo nos ensina na Carta aos Colossenses: "Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Col 3,1). Aos romanos ele garante: "Já não pesa mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte" (Rom 8,1).

Aos gálatas o apóstolo diz: "É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão" (Gal 5,1). A vitória contra o pecado custou a vida do Cordeiro de Deus. São João Batista, o precursor, aquele que foi encarregado por Deus para apresentar ao mundo o Seu Filho, podia fazê-lo de muitas formas: "Ele é o Filho de Deus", ou, "Ele é o esperado das nações", como diziam; ou ainda: "Ele é o Santo de Israel", ou quem sabe: "Eis aqui o mais belo dos filhos dos homens", etc.; mas em vez de usar essas expressões que designavam o Messias que haveria de vir, João preferiu dizer: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29).

O perigo do erro

Aqueles que querem dar outro sentido à vida de Jesus, que não o d'Aquele que "tira o pecado do mundo", esvaziam a Sua Pessoa, a Sua missão e a missão da Igreja. A partir daí, a fé é esvaziada e toda a "sã doutrina" (1Tm4,6) é pervertida. Eis o perigo da "teologia da libertação" que exigiu a intervenção direta da Santa Sé e do próprio Papa João Paulo II, pois, na sua essência, esta "teologia" substitui o Cristo Redentor do pecado por um Cristo apenas libertador dos males sociais e terrenos, reinterpreta o Evangelho e o Cristianismo dentro de uma exegese e de uma hermenêutica, que não é aceita pelo Magistério da Igreja.

Assim, como a missão de Cristo foi a de libertar o homem da culpa, a missão da Igreja, que é o Seu Corpo místico e Sua continuação na história, é também, a de libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação. Fora disso, a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor. "Jesus" quer dizer, em hebraico, "Deus salva". Salva dos pecados e da morte. Na anunciação, o anjo disse a Maria: "[…] lhe porás o nome de Jesus" (Lc 1,31).


A José, o mesmo anjo disse: "Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,21). A salvação se dá pelo perdão dos pecados; e já que "só Deus pode perdoar os pecados" (Mc 2, 7), Ele enviou o Seu Filho para salvar o Seu povo dos pecados. "Foi Ele quem nos amou e nos enviou Seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados" (1Jo 4,10). "Este apareceu para tirar os pecados"(1Jo 3,5).

Misericórdia divina

Tudo isso mostra que a grande missão de Jesus era, de fato, "tirar o pecado do mundo", e Ele não teve dúvida de chegar até a morte trágica para tal fato. Agora, Vivo e Ressuscitado, Vencedor do pecado e da morte, pelo ministério da Igreja, dá o perdão a todos os homens. Jesus disse aos apóstolos na Última Ceia: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14,15). Guardar os mandamentos é a prova do amor por Jesus. Quem obedece aos Seus mandamentos, foge do pecado.

O grande São Basílio Magno (329-379), bispo e doutor da Igreja, ensina em seus escritos, que há três formas de amar a Deus: a primeira é como o mercenário, que espera a retribuição; a segunda é como escravo que obedece, por medo do chicote, o castigo de Deus; e o terceiro é o amor filial, daquele que obedece, porque, de fato, ama o Pai. É assim que devemos amar o Senhor; e a melhor forma de amá-Lo é repudiando todo mal.

Os Dez Mandamentos são a salvaguarda contra o pecado. Por isso, o primeiro compromisso de quem almeja a santidade deve ser o compromisso de viver, na íntegra, os mandamentos. Diante da gravidade do pecado, o autor da Carta aos Hebreus chega a dizer aos cristãos: "Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado" (Hb 12,4). Nesta luta, justifica-se chegar até ao sangue, se for preciso, como Jesus o fez.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/nao-ha-nada-pior-do-que-o-pecado/

3 de março de 2021

Tornar-se cristão é um processo diário


Na Tradição da Igreja, o Tempo Quaresmal é o momento forte para a administração dos sacramentos, o tempo de acolher os novos filhos para a Igreja. O processo de transformação não é possível ser realizado em breve momento, e sim por um caminho de conversão que deve ser percorrido passo a passo. Com a convicção de que esse caminho de renovação não acontece de uma só vez, mas abrange toda a vida do homem em um processo contínuo de ano após ano que devemos percorrer sempre.

A Quaresma quer conservar presente esse processo que, para se chegar a Deus, é preciso passar por um processo sempre novo de transformação e mudança de vida. Assim, a palavra mais forte que nos acompanha, neste Tempo Quaresmal, é uma busca sincera de conversão, a metanoia que reorienta todo o nosso ser em direção a Deus.

Tornar-se cristão é um processo diário

Foto ilustrativa: artisteer by Getty Images

Tornar-se cristão diariamente e voltar para Deus

Nesse sentido, a Igreja abraça o Tempo Quaresmal como o tempo de purificação, de tornar-se cristão, a oportunidade do homem voltar-se do mau caminho em direção a Deus, como o próprio Senhor afirma em Sua Palavra: "Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta" (Ez 33, 11). Mas é preciso tomar consciência de que o se tornar cristão é um processo diário, de ir a Cristo, renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-Lo (cf. Mc 8, 34).

Por isso, esse tempo é marcado pelo jejum, abstinência e esmola, para lutarmos contra as tentações, unindo-nos a Cristo, que enfrentou a tentação no deserto durante quarenta dias. Um tempo realmente favorável para abandonar o "homem velho" e nascer um "homem novo".

O próprio Cristo precisou passar pelo deserto, deixando-se ser tentado pelo diabo para mostrar que n'Ele fomos tentados e n'Ele vencemos o demônio. Ninguém pode vencer sem ter combatido; nem combater se não tiver inimigo e tentações.


Por isso, o apelo da Igreja ao jejum, pois, por meio dele, é que nos libertamos de nós mesmos, nos libertamos para Deus, tornando-nos livres para os outros e para a oração e do domínio das paixões desordenadas.

No prefácio da Quaresma, a Igreja usa a expressão: Jejunio mentem elevas – que significa "Pelo jejum elevais os vossos sentimentos". Os quarenta dias que a Igreja nos proporciona, por intermédio da renúncia, para que encontremos uma vida nova.



Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/tornar-se-cristao-e-um-processo-diario/