12 de março de 2021

Qual é o seu projeto de santidade?


Deus reserva para o pecador as Suas delicadezas de Pai de misericórdia, que ama e perdoa sempre. Regenera-o totalmente para que possa retornar o caminho e trabalhar para o Reino d'Ele, pela justiça e pela paz. "Misericórdia" é uma das palavras que mais aparecem na Bíblia, sobretudo, no Evangelho de Lucas, que é chamado "o evangelista da misericórdia". A prática de Jesus confirma a atitude de um Pai misericordioso. Cuidar e cuidar-se são atitudes que geram qualidade de vida. Tudo na vida requer cuidado. Um projeto de santidade requer uma atitude contínua de vigilância e de cuidados diários. Devemos cuidar diariamente de nosso corpo e de nossa alma, assim como quem tem flores precisa cuidar delas todos os dias para não perdê-las.

A Igreja oferece a seus fiéis um sacramento especial: rito do perdão. O sacramento da confissão é o lugar privilegiado do perdão de Deus para recuperar e cuidar da vida decaída dos cristãos.

Você se sente fraco e pecador? Deus lhe diz: "Faça sua parte e eu farei o resto. Tende confiança. Eu venci o mundo" (cf. Jo 16,33).

Qual é o seu projeto de santidade?

Foto ilustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

Almeje a santidade!

Diga com vontade: "Quero ser santo", "quero continuar a caminhada", e isso vai acontecer. Quem persegue um sonho precisa ter obstinação e uma santa teimosia, além de um otimismo repleto de esperança, que confia em Deus e em Seu poder. Deixe o resto por conta d'Ele. Deus ama a todos como são. Aliás, ama os pecadores mais que os "santos". É a lógica do amor. O Senhor entende profundamente o coração humano, que é inconstante.

Deus Pai perdoa não apenas pelo sacramento da confissão. Sempre que alguém se arrepender de algo e pedir perdão será perdoado. A Bíblia diz que a caridade cobre uma multidão de pecados. Então quem tem o amor no coração não deve ter medo do pecado. O Altíssimo não só perdoa, mas se alegra com o retorno do filho, com sua conversão e faz festa, assim como o pai do filho pródigo, que abraçou e beijou o filho que retornava para a casa, preparando uma grande festa para comemorar a sua volta.

O tratamento que Jesus dispensava aos publicanos e aos pecadores era tão especial que escandalizava os fariseus, que se julgavam os "melhores". Cristo agia bem diferente: perdoava e esquecia os pecados cometidos pelos homens.

A alegria do perdão

Há pessoas muito boas, bem intencionadas, que carregam certos "pecados" como uma verdadeira cruz, às vezes, pela vida inteira. Só Deus conhece o sofrimento terrível dessas pessoas que querem seguir a Jesus, mas não conseguem porque cometem sempre a mesma falta, a qual, muitas vezes, nem pecado é, e sim hábito. Qualquer texto de moral cristã ensina que o hábito diminui a culpabilidade e até cancela a culpa. Embora, muitas vezes, não sejam pecados, criam, no entanto, um "sentimento de culpa" causando sofrimento às pessoas. Deus não quer isso para os Seus filhos queridos.


É preciso ter paciência também consigo mesmo e perdoar-se, sentir a alegria do perdão. O Salmo 50 nos ajuda a rezar: "Devolve-me a alegria de ser salvo" (Sl 50,14). Quem se perdoa, perdoa aos outros também.

O grande recurso criado por Cristo para restituir a paz e o perdão ao pecador e permite-lhe continuar, sem remorsos inúteis, o caminho da santidade é o sacramento da reconciliação ou penitência. Com ele, sela-se a paz. Sentir-se perdoado, poder "deixar para trás" um passado que, muitas vezes, nos incomoda e envergonha, para recomeçar uma vida nova, é certamente um grande dom de Cristo a cada cristão e à Sua Igreja.

(Trecho extraído do livro "Cristãos de atitude – O caminho espiritual proposto por Dom Bosco" de padre Mário Bonatti)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/qual-e-o-seu-projeto-de-santidade/

10 de março de 2021

Em todas as situações podemos alcançar a vitória


O profeta Daniel traz um fato muito importante no capítulo 3 de seu livro, e acredito que Deus quer nos falar por meio desse texto hoje. Ele narra que o rei da Babilônia Nabucodonosor mandou construir uma estátua de ouro enorme, media 30 metros de altura por 3 metros de diâmetro, e decretou que todos os habitantes do reino deveriam prostrar-se e adorá-la quando tocassem as trombetas e os instrumentos musicais. E fizeram isso. Só que chegou a seus ouvidos que três jovens judeus – chamados Sidrac, Misac e Abdênago (cf. Daniel 3, 16ss) – não estavam obedecendo as suas ordens. Furioso, mandou chamar os três rapazes e os ameaçou dizendo que se não adorassem a estátua, seriam jogados na fornalha de fogo e morreriam queimados, e ainda os insultou perguntando: "E qual é o Deus que vos há de livrar da minha mão?" (v. 15)

A resposta dos três jovens foi esta: "Nem precisamos dar resposta a esta ordem. Existe o nosso Deus a quem cultuamos, Ele nos pode livrar da fornalha acesa, salvando-nos da tua mão. Mas mesmo que isso não aconteça, fica sabendo, ó rei, que não vamos prestar culto ao seu deus, nem vamos adorar a estátua de ouro construída por ti, ó rei" (v. 16-18).

Em todas as situações podemos alcançar a vitória

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Para alcançar a vitória, busque uma maturidade de fé

Aqui está o segredo do coração desses três jovens: "Mas mesmo que isso não aconteça, não vamos prestar culto ao seu deus". Em outras palavras, mesmo que o Senhor não nos livre, não O trairemos, permaneceremos fiéis, morreremos se for preciso, mas não voltamos atrás! Isso é amor incondicional a Deus, é fidelidade a toda prova. Que maturidade de fé!

Isso também precisa acontecer conosco. Precisamos chegar a essa maturidade e a esse amor incondicional a ponto de dizermos: "Mesmo que nada mude em minha vida, mesmo que eu não seja curado, mesmo que isso não aconteça, permanecerei fiel ao Senhor! Não O negarei! Não desistirei! Mesmo que a minha oração aparentemente não traga resultados, não deixarei de orar, permanecerei fiel ao Senhor!"

O rei ficou furioso e mandou amarrar os três, colocou ainda mais combustível na fogueira e os jogou lá dentro. Eles caíram louvando a Deus, dando seu testemunho de fé. E algo maravilhoso aconteceu: "Os três ficaram passeando por entre as chamas, cantando hinos a Deus e louvando ao Senhor" (v. 24). E a Palavra de Deus continua descrevendo que "o Anjo do Senhor, porém, desceu para junto de Azarias e seus companheiros na fornalha. Impeliu as labaredas para fora da fornalha e fez surgir no meio da fornalha um vento úmido e refrescante. O fogo não os atingiu nem lhes causou qualquer incômodo" (v. 49).


O que me chama a atenção é que eles não negaram o poder de Deus; muito pelo contrário, afirmaram com toda a força que Ele tinha o poder de livrá-los daquela situação terrível. Só que eles deram um passo a mais, e aqui está o ensinamento para nós, eles deixaram claro que a sua fidelidade a Deus não estava condicionada ao fato de Ele os livrar ou não! Independentemente disso, decidiram permanecer fiéis ao Senhor. Num mundo tão materialista como o nosso, com tantas ofertas e propostas de negociar com Deus, com tentativas até de forçá-Lo a fazer o que se quer ou de querer comprá-Lo com votos, promessas e coisas parecidas, o testemunho desses três rapazes é muito forte.

Corações apaixonados por Deus conquistam a vitória

Sinto com essa passagem bíblica um forte convite do Senhor para que primeiro façamos uma revisão de vida a respeito de nossas disposições de fé. E depois, que possamos pedir esse coração apaixonado, essa fé madura, essa atitude fiel e gratuita para com Ele.

"A vitória vem pelo louvor!" E é justamente isso que vemos nesse texto bíblico. O louvor que brotou desses corações convictos em Deus, apaixonados pelo Senhor e fiéis a Ele de maneira incondicional, conquistou da parte do Senhor o livramento da fornalha, a libertação diante da tirania de Nabucodonosor. E o fruto dessa fidelidade foi a conversão do próprio rei, que reconheceu o poder de Deus e passou também a buscá-Lo.

Creio firmemente que a partir dessa mudança interior, dessa mudança do nosso coração e de nossa postura diante das situações e das tribulações, se tivermos esse coração totalmente confiante em Deus, e principalmente, incondicional na fidelidade a Ele, muita coisa vai começar a mudar em nossa vida, não haverá "fornalha" capaz de nos fazer mal, não haverá tirania suficiente para nos prender, não haverá situação impossível. Veremos a glória de Deus!

Que o Senhor nos conceda essa conversão no dia de hoje!

Deus abençoe você!

Por Padre Clóvis Andrade de Melo
Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/em-todas-as-situacoes-podemos-alcancar-a-vitoria/

8 de março de 2021

O tempo da Quaresma nos convida à conversão


A Quaresma é tempo o propício de conversão, de retorno dos que se encontram distanciados de Deus. Dois instrumentos da graça divina nos são oferecidos para essa renovação e fortalecimento espiritual: a Confissão ou Reconciliação, e a Comunhão. Recebendo-os, cumprimos um dever pascal.

A trajetória histórica dos sacramentos apresenta períodos de maior vitalidade e também de sombras, dúvidas e negações. Conforme o maior aperfeiçoamento de conceitos e crises, de épocas ou gerações, surgem falhas e também vitórias. São avanços ou retrocessos, mas sempre preservando e essencial desses canais da graça redentora deixados por Jesus a Sua Igreja.

O tempo da Quaresma nos convida à conversão

Foto ilustrativa: BrianAJackson by Getty Images

Os sacramentos são meios importantes para a conversão

Hoje, a Eucaristia, a Comunhão e a Penitência ou Reconciliação sofrem impactos opostos. Quanto à primeira, verifica-se uma crescente participação, aumentam os comungantes, mas surge uma interrogação sobre a observância do indispensável estado de graça adquirido pelo Sacramento da Confissão, requerido para uma adequada e frutuosa recepção da Eucaristia.

Até há pouco tempo, a Comunhão era cercada de uma série de medidas que, protegendo-a, provocavam, por vezes, um afastamento pelos obstáculos criados exteriormente. Ao serem estes removidos, sob o sopro do Espírito Santo, parece que, por vezes, tentaram eliminar o que não era acessório, mas indispensável à obtenção de seus frutos.

Um clima de que "tudo é permitido" ameaça atingir essa área sagrada, e pode levar alguns a uma aproximação imprópria da mesa do Senhor. Indevida e sacrílega, produzirá a morte o que devia aumentar a vida. Pelo documento "De Sacra Communione", da Congregação para o Culto Divino, continua firme a prescrição: "ninguém que tenha cometido pecado mortal, ainda que arrependido, participe da mesa eucarística sem a prévia confissão sacramental". Evidentemente pode haver caso extraordinário, e a Igreja sempre o reconheceu. O mesmo documento estimula a recepção, com oportuna frequência, do sacramento da Penitência.

Remédio de revigoramento

A Confissão sempre encontrou resistência na natureza humana. Hoje, a maior ânsia de prazer e de liberdade, a reação ao que exige sacrifício são, entre outras, causas da menor afluência ao tribunal sagrado. Outro documento da Sagrada Congregação para o Culto Divino, com data de 2 de dezembro e divulgado a 8 de fevereiro de 1974, sobre o novo rito do Sacramento da Penitência, abriu grandes perspectivas pastorais para sua revitalização. O uso do termo reconciliação indica um encontro do homem arrependido com Deus que perdoa.

A confissão, para quem não perdeu a vida espiritual, é como um remédio de revigoramento no encontro sacramental com o Cristo na cruz, fonte de toda reconciliação e da vida santificada. O novo rito, que, evidentemente, não altera a essência do sacramento, dá maior destaque ao caráter eclesial, comunitário, da reconciliação, pois há um prejuízo social no pecado.

No documento, permaneceu a confissão individual, cujo ritual é enriquecido com elementos catequéticos e pastorais. Além disso, há a possibilidade da reconciliação em cerimônia coletiva, com acusação dos pecados e absolvição também individual; e também a confissão comunitária, com absolvição coletiva, esta em circunstâncias absolutamente especiais. Para a última já foi dada clara orientação pela Santa Sé.

Ao ser notificada a reforma litúrgica da Penitência, houve destaque para o acessório. Assim, com certo sensacionalismo, afirmou-se terem sido supressos os confessionários. O documento, entretanto, remeteu às determinações do Direito vigente e às Conferências Episcopais. Eis o esforço pastoral da Igreja, conforme determinação do Concílio Ecumênico, sobre esses dois sacramentos.


Favores divinos

A Quaresma nos oferece especial oportunidade para uma renovação profunda na prática da reconciliação e da comunhão. A recepção da Eucaristia, em circunstâncias interiores e exteriores aptas, produzirá os frutos oriundos da sua infinita vitalidade. A maior participação na Penitência nos dá melhores ou indispensáveis condições para a comunhão sacramental e uma valiosa contribuição na vida espiritual. Cabe a cada um o devido aproveitamento dessa fonte de favores divinos. Os resultados ultrapassam a esfera pessoal e irão beneficiar a coletividade católica, pela maior vitalização da presença divina.

Neste período do ano litúrgico, muito útil também recordar a Carta Apostólica "Misericordia Dei" sobre alguns aspectos da celebração do sacramento da Penitência. Merece uma particular reflexão esse "forte convite aos meus irmãos Bispos, e através deles, a todos os presbíteros para um solícito relançamento do sacramento da Reconciliação, inclusive com exigência de autêntica caridade e de verdadeira justiça pastoral, lembrando-lhes que cada fiel com as devidas disposições interiores, tem o direito de receber pessoalmente o dom sacramental".

Recordo que o Concilio de Trento declarou que é necessário "por direito divino, confessar todos e cada um dos pecados mortais". E assim por diante.

O tempo litúrgico que vivemos é uma oportunidade para refletir sobre essas verdades. Elas são importantes para a saúde espiritual do povo de Deus.

Peçamos a Nossa Senhora Aparecida e a São Sebastião que nos ajudem.

Dom Eugenio de Araújo Sales


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/o-tempo-da-quaresma-nos-convida-a-conversao/

5 de março de 2021

Não há nada pior do que o pecado


O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos mostra toda a gravidade do pecado: "Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro" (§ 1488). São palavras fortíssimas, pois mostram que não há nada pior do que o pecado. Por outro lado, o Catecismo afirma que ele é uma realidade: "O pecado está presente na história dos homens: seria inútil tentar ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes" (CIC, §386).

Deus disse a Santa Catarina de Sena, em "O Diálogo": "O pecado priva o homem de Mim, Sumo Bem, ao tirar-lhe a graça". São Paulo, numa frase lapidar, explica toda a hediondez do erro e razão de todos os sofrimentos deste mundo: "O salário do pecado é a morte" (Rom 6,23). Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é consequência dessa falha que "começou" com Adão. "Por meio de um só homem, o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e, assim, a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rom 5,12). O Catecismo ensina que: "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído, se não tivesse pecado (GS,18), é assim o último inimigo do homem a ser vencido" (1Cor 15, 26).

Não há nada pior do que o pecado

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Escravos do pecado

Santo Agostinho dizia que: "É desígnio de Deus que toda alma desregrada seja para si mesma o seu castigo", e acrescentava: "O homem se faz réu do pecado no mesmo momento em que decide cometê-lo." Sintetizava tudo dizendo que "pecar é destruir o próprio ser e caminhar para o nada". Ele dizia de si mesmo nas confissões: "Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso precipitava-me na dor, na confusão e no erro".

Toda a razão de ser da Encarnação do Verbo foi para destruir, na Sua carne, a escravidão do pecado. "Como imperou o pecado na morte, assim também, imperou a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rom 5,21).

O demônio escraviza a humanidade com a corrente do pecado, mas Jesus vem exatamente para quebrá-la. São João deixa bem claro na sua carta: "Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados" (1Jo 3,5). "Para isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3,8). Essa "obra do diabo" é exatamente o pecado, que nos separa da intimidade e da comunhão com Deus e nos rouba a vida bem-aventurada.

Liberdade

Com a Sua Morte e Ressurreição triunfante, Jesus nos libertou das cadeias do pecado e, por Sua graça, podemos agora viver uma nova vida. É o que São Paulo nos ensina na Carta aos Colossenses: "Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Col 3,1). Aos romanos ele garante: "Já não pesa mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte" (Rom 8,1).

Aos gálatas o apóstolo diz: "É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão" (Gal 5,1). A vitória contra o pecado custou a vida do Cordeiro de Deus. São João Batista, o precursor, aquele que foi encarregado por Deus para apresentar ao mundo o Seu Filho, podia fazê-lo de muitas formas: "Ele é o Filho de Deus", ou, "Ele é o esperado das nações", como diziam; ou ainda: "Ele é o Santo de Israel", ou quem sabe: "Eis aqui o mais belo dos filhos dos homens", etc.; mas em vez de usar essas expressões que designavam o Messias que haveria de vir, João preferiu dizer: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29).

O perigo do erro

Aqueles que querem dar outro sentido à vida de Jesus, que não o d'Aquele que "tira o pecado do mundo", esvaziam a Sua Pessoa, a Sua missão e a missão da Igreja. A partir daí, a fé é esvaziada e toda a "sã doutrina" (1Tm4,6) é pervertida. Eis o perigo da "teologia da libertação" que exigiu a intervenção direta da Santa Sé e do próprio Papa João Paulo II, pois, na sua essência, esta "teologia" substitui o Cristo Redentor do pecado por um Cristo apenas libertador dos males sociais e terrenos, reinterpreta o Evangelho e o Cristianismo dentro de uma exegese e de uma hermenêutica, que não é aceita pelo Magistério da Igreja.

Assim, como a missão de Cristo foi a de libertar o homem da culpa, a missão da Igreja, que é o Seu Corpo místico e Sua continuação na história, é também, a de libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação. Fora disso, a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor. "Jesus" quer dizer, em hebraico, "Deus salva". Salva dos pecados e da morte. Na anunciação, o anjo disse a Maria: "[…] lhe porás o nome de Jesus" (Lc 1,31).


A José, o mesmo anjo disse: "Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,21). A salvação se dá pelo perdão dos pecados; e já que "só Deus pode perdoar os pecados" (Mc 2, 7), Ele enviou o Seu Filho para salvar o Seu povo dos pecados. "Foi Ele quem nos amou e nos enviou Seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados" (1Jo 4,10). "Este apareceu para tirar os pecados"(1Jo 3,5).

Misericórdia divina

Tudo isso mostra que a grande missão de Jesus era, de fato, "tirar o pecado do mundo", e Ele não teve dúvida de chegar até a morte trágica para tal fato. Agora, Vivo e Ressuscitado, Vencedor do pecado e da morte, pelo ministério da Igreja, dá o perdão a todos os homens. Jesus disse aos apóstolos na Última Ceia: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14,15). Guardar os mandamentos é a prova do amor por Jesus. Quem obedece aos Seus mandamentos, foge do pecado.

O grande São Basílio Magno (329-379), bispo e doutor da Igreja, ensina em seus escritos, que há três formas de amar a Deus: a primeira é como o mercenário, que espera a retribuição; a segunda é como escravo que obedece, por medo do chicote, o castigo de Deus; e o terceiro é o amor filial, daquele que obedece, porque, de fato, ama o Pai. É assim que devemos amar o Senhor; e a melhor forma de amá-Lo é repudiando todo mal.

Os Dez Mandamentos são a salvaguarda contra o pecado. Por isso, o primeiro compromisso de quem almeja a santidade deve ser o compromisso de viver, na íntegra, os mandamentos. Diante da gravidade do pecado, o autor da Carta aos Hebreus chega a dizer aos cristãos: "Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado" (Hb 12,4). Nesta luta, justifica-se chegar até ao sangue, se for preciso, como Jesus o fez.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/nao-ha-nada-pior-do-que-o-pecado/

3 de março de 2021

Tornar-se cristão é um processo diário


Na Tradição da Igreja, o Tempo Quaresmal é o momento forte para a administração dos sacramentos, o tempo de acolher os novos filhos para a Igreja. O processo de transformação não é possível ser realizado em breve momento, e sim por um caminho de conversão que deve ser percorrido passo a passo. Com a convicção de que esse caminho de renovação não acontece de uma só vez, mas abrange toda a vida do homem em um processo contínuo de ano após ano que devemos percorrer sempre.

A Quaresma quer conservar presente esse processo que, para se chegar a Deus, é preciso passar por um processo sempre novo de transformação e mudança de vida. Assim, a palavra mais forte que nos acompanha, neste Tempo Quaresmal, é uma busca sincera de conversão, a metanoia que reorienta todo o nosso ser em direção a Deus.

Tornar-se cristão é um processo diário

Foto ilustrativa: artisteer by Getty Images

Tornar-se cristão diariamente e voltar para Deus

Nesse sentido, a Igreja abraça o Tempo Quaresmal como o tempo de purificação, de tornar-se cristão, a oportunidade do homem voltar-se do mau caminho em direção a Deus, como o próprio Senhor afirma em Sua Palavra: "Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta" (Ez 33, 11). Mas é preciso tomar consciência de que o se tornar cristão é um processo diário, de ir a Cristo, renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-Lo (cf. Mc 8, 34).

Por isso, esse tempo é marcado pelo jejum, abstinência e esmola, para lutarmos contra as tentações, unindo-nos a Cristo, que enfrentou a tentação no deserto durante quarenta dias. Um tempo realmente favorável para abandonar o "homem velho" e nascer um "homem novo".

O próprio Cristo precisou passar pelo deserto, deixando-se ser tentado pelo diabo para mostrar que n'Ele fomos tentados e n'Ele vencemos o demônio. Ninguém pode vencer sem ter combatido; nem combater se não tiver inimigo e tentações.


Por isso, o apelo da Igreja ao jejum, pois, por meio dele, é que nos libertamos de nós mesmos, nos libertamos para Deus, tornando-nos livres para os outros e para a oração e do domínio das paixões desordenadas.

No prefácio da Quaresma, a Igreja usa a expressão: Jejunio mentem elevas – que significa "Pelo jejum elevais os vossos sentimentos". Os quarenta dias que a Igreja nos proporciona, por intermédio da renúncia, para que encontremos uma vida nova.



Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/tornar-se-cristao-e-um-processo-diario/

1 de março de 2021

Quaresma é tempo de oração, jejum e esmola


Eis o tempo de conversão. Eis o dia da salvação. Ao Pai voltemos, juntos andemos, eis o tempo de conversão. Mais um ano o Senhor nos concede a graça de vivermos este tempo forte de conversão, que é a Quaresma. Tempo favorável ao arrependimento e ao retorno à casa paterna. Tempo de fazermos a experiência do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Alguns passos somos chamados a dar neste tempo de reflexão e de mudança de vida, e a Igreja nos indica três: a oração, o jejum e a esmola.

Quaresma é tempo de oração, jejum e esmola

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Quaresma, tempo de voltar-se para Deus e existem 3 vias que podem nos auxiliar

A Oração

De Deus nós viemos e para Ele voltaremos. Necessitamos, cada vez mais, de nos colocarmos na presença d'Ele e mantermos nosso contato de intimidade. Deus nos convida a uma vida de entrega, e em Jesus Ele se revela como um Pai amoroso que quer, cada vez mais, a presença de Seus filhos e filhas. A Quaresma é o tempo favorável à oração, pois só vivendo uma vida de oração vamos compreende a vontade de Deus para nossa vida, e assim, amar a vontade d'Ele.

O Jejum

O jejum nos lembra a nossa fragilidade humana. Somos pó, e pelo pecado, a semente da rebeldia entrou no coração da humanidade. O jejum nos ajudará a trazermos cativos nas mãos de Deus nossas más inclinações. Pelo jejum, Jesus, repleto do Espírito Santo, venceu as tentações do diabo e, assim, realizou a vontade do Pai.


A Esmola

Estamos acostumados a dar para os outros aquilo que nos sobra. Esmola no Brasil se tornou algo a ser dado nas feiras livres. A esmola quaresmal é totalmente diferente, ela é o fruto do nosso jejum, da nossa abstinência quaresmal.

Seguindo esses passos, abrindo-nos à ação do Espírito Santo, estaremos vivendo uma verdadeira Quaresma, voltando, assim, para a casa do Pai e experimentado o Seu abraço amoroso.

A paz de Jesus!

Equipe de Colunistas do Formação


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/quaresma-e-tempo-de-oracao-jejum-e-esmola/

26 de fevereiro de 2021

Quaresma, tempo de vencer as tentações e o diabo


Antigamente, a Quaresma era o período durante o qual – por meio da penitência e da provação – os catecúmenos*  preparavam-se para receber o batismo na noite de Páscoa. A Liturgia sempre coloca Jesus no Evangelho do Primeiro Domingo da Quaresma vencendo as tentações do demônio (cf. Mt 4,1-11). O Nosso Senhor e Mestre não só vence como também nos dá as dicas para vencermos o nosso inimigo e as tentações pequenas e grandes que enfrentamos todos os dias.

O objetivo desta reflexão de hoje será avaliar a nossa defesa e aumentar as nossas resistências diante das tentações e celebrar a vitória com o Senhor Jesus.

Quaresma, tempo de vencer as tentações e o diabo

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

A Quaresma é um tempo privilegiado para voltarmos ao Senhor

O Senhor derrotou o maligno, por meio da docilidade ao Espírito Santo, pois, "no deserto, Ele era guiado pelo Espírito". Da Palavra: "A Escritura diz: 'Não só de pão vive o homem'". Da Oração: "Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus". Do Jejum: "Não comeu nada naqueles dias e, depois disso, sentiu fome". Pela Adoração: "Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás". Exercendo Sua autoridade, que vinha de uma vida coerente e santa. Isso fica bem claro na leitura deste Evangelho.

De maneira semelhante, como o antigo povo de Israel partiu durante 40 anos pelo deserto para ingressar na Terra Prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante 40 dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um tempo triste nem depressivo. Trata-se de um período especial de purificação e renovação da vida cristã, para que possamos participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.

Jesus Cristo, ao dar início à caminhada do novo povo de Deus, dirige-se ao deserto como lugar de encontro com o Pai, lugar de recolhimento, onde Ele se revela, onde escuta Sua Palavra. Diferente do antigo povo da Aliança, que sucumbe à tentação, revolta-se, tem saudade "das cebolas do Egito", onde eles tinham o que comer, mas eram escravos, o Senhor vence a tentação, vence o demônio pela oração, pelo jejum, pela Palavra e obediência ao Pai.

Tempo de intensificar seu caminho de conversão

A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Esse caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao "homem velho" que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nosso coração, afastar-nos de tudo aquilo que nos separa do plano de Deus, e, por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.

No pórtico da Quaresma, encontramos Jesus tentado pelo diabo. A Bíblia tem vários nomes para esse personagem, mas em todos subjaz a mesma incumbência da sua missão: o que separa, o que arranca; diabo, dia-bolus: o que divide. O demônio – no meio do mundo que o ignora e o torna frívolo – está mais presente do que nunca: nos medos, nos dramas, nas mentiras e nos vazios do homem pós-moderno, aparentemente descontraído, brincalhão e divertido.

Com Jesus, como com todos nós, o diabo procurará fazer uma única tentação, ainda que com diversos matizes: romper a comunhão com Deus Pai. Para este fim, todos os meios serão aptos, desde citar a própria Bíblia até fantasiar-se de anjo da luz. As três tentações de Jesus são um exemplo muito atual: da sua fome, converta as pedras em pão; das suas aspirações, torne-se dono de tudo; da sua condição de filho de Deus, coloque a sua proteção à prova. Em outras palavras: o dia-bolus buscará conduzir o Senhor por um caminho no qual Deus ou é tido como banal e supérfluo ou como inútil e nocivo.


Prescindir de Deus, porque reduzimos nossas necessidades a um pão que nós mesmos podemos fabricar, como se fosse nossa própria mágica (1ª tentação). Prescindir de Deus modificando Seu plano sobre nós, incluindo aspirações de domínio que não têm a ver com a missão que Ele confiou a nós (2ª tentação). Prescindir de Deus banalizando Sua providência, fazendo dela um capricho ou uma diversão (3ª tentação).

Isso torna-se atual, se formos traduzindo com nomes e cores quais são as tentações reais (!) que nos separam – cada um de nós e todos juntos – de Deus e, portanto, dos outros também. A tentação do "deus-ter" (em todas as suas manifestações de preocupação pelo dinheiro, pela acumulação de bens, pelas "devoções" a loterias e jogos, pelo consumismo). A tentação do "deus-poder" (com todo o leque de pretensões de ascensão, que confundem o serviço aos demais com o servir-se dos demais, para os próprios interesses e controles). A tentação do "deus-prazer" (com tantas, tão infelizes e, sobretudo, tão desumanizadoras formas de praticar o hedonismo, tentando censurar inutilmente nossa limitação e finitude).

Quem duvida de que existem mil diabos, que nos encantam e seduzem a partir da chantagem das suas condições e, apresentando-nos tudo como fácil e atrativo, e que nos separam de Deus, dos demais e de nós mesmos?

Jesus venceu o diabo! A Quaresma é um tempo privilegiado para voltarmos ao Senhor, unindo novamente tudo o que o tentador separou. Jejuando 40 dias no deserto, Cristo consagrou a abstinência quaresmal. Desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a vencer o fermento da maldade. Celebrando agora o mistério pascal, nós nos preparamos para a Páscoa definitiva (Prefácio do 1° Domingo da Quaresma).

Oremos: "Ó Deus, que nos alimentastes com este pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, pão vivo e verdadeiro, e viver de toda Palavra que sai de vossa boca para vencer ao pecado, a nós mesmos e ao diabo. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém."

Minha bênção fraterna.



Padre Luizinho

Padre Luizinho, natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 22 de dezembro de 2000, cujo lema sacerdotal é "Tudo posso naquele que me dá força". Twitter: http://@peluizinho


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/quaresma-tempo-de-vencer-as-tentacoes-e-o-diabo/