10 de fevereiro de 2021

O amor recíproco é o distintivo de todos nós cristãos


"Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Certamente, você gostaria de saber quando Jesus disse essas palavras de amor. Foi um pouco antes de iniciar Sua Paixão, quando pronunciou um discurso de despedida que constitui o Seu testamento. Imagine, então, como essas palavras são importantes. Se ninguém jamais esquece as palavras ditas por um pai antes de morrer, quanto mais as que foram pronunciadas por um Deus! Portanto, encare-as com grande seriedade e procure  entendê-las profundamente.

Jesus está prestes a morrer, e tudo o que diz reflete esse acontecimento que se aproxima. Sua partida iminente exige, sobretudo, a solução de um problema: como permanecer entre os seus para dar continuidade à Igreja? Você sabe que Jesus está presente nas ações sacramentais, por exemplo, na Eucaristia da Missa. Pois bem, Jesus também está presente onde se vive o amor recíproco.

O amor recíproco é o distintivo de todos nós cristãos

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Mladen Zivkovic

Ele disse: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (e isso é possível onde existe o amor recíproco), eu estou no meio deles" (Mt 18,20). Portanto, ele pode permanecer eficazmente presente na comunidade, cuja vida se fundamenta no amor recíproco. E, por meio da comunidade, pode continuar a revelar-se ao mundo, a influir no mundo. Não é maravilhoso? Você não sente vontade de viver imediatamente este amor, juntamente com os cristãos que lhe estão próximos? João, em cujo Evangelho encontramos esta Palavra de Vida, vê no amor recíproco o mandamento por excelência da Igreja, que tem como vocação justamente ser comunidade, ser unidade.

O mundo, ao ver a unidade, o amor recíproco, acredita em Jesus

De fato, Jesus diz: "Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros" (cf. Jo 13,35). Portanto, se você quiser descobrir o verdadeiro sinal de autenticidade dos discípulos de Cristo, se quiser conhecer o distintivo dos cristãos, deve procurá-lo no testemunho do amor recíproco vivido. Os cristãos são reconhecidos por este sinal. E, se ele faltar, o mundo não mais reconhecerá, nos cristãos, os discípulos de Jesus.

O amor recíproco gera a unidade. Mas o que é que a unidade realiza? Jesus também diz: "Que sejam um, (…) a fim de que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). A unidade, revelando a presença de Cristo, convence o mundo a segui-lo. O mundo, ao ver a unidade, o amor recíproco, acredita em Jesus.

Novo mandamento

No mesmo discurso de despedida, Jesus diz que esse mandamento é "seu". É seu e, portanto, tem para ele uma importância especial. Você não deve encará-lo simplesmente como uma norma, uma regra ou um mandamento como os outros. Com ele, Jesus quer lhe revelar um modo de viver, quer lhe indicar como orientar a sua existência. Os primeiros cristãos colocavam esse mandamento como base da própria vida.

Pedro dizia: "Antes de tudo, tende um constante amor uns para com os outros" (cf. 1Pd 4,8). Antes de trabalhar, antes de estudar, antes de ir à missa, antes de qualquer atividade, verifique se o amor recíproco reina entre você e quem vive com você. Se for assim, sobre essa base, tudo tem valor. Sem esse fundamento, nada agrada a Deus.

"Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Jesus lhe diz que esse mandamento é "novo": "Eu vos dou um novo mandamento". O que quer dizer com isso? Que esse mandamento não era conhecido? Não. "Novo" significa feito para os "tempos novos". Então, do que se trata? Veja bem: Jesus morreu por nós. Portanto, amou-nos até a máxima medida. Mas que amor era o seu? Por certo não era como o nosso. O seu amor era e é um amor "divino". Ele disse: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei" (Jo 15,9).


Realidade divina

Portanto, ele nos amou com o mesmo amor que existe entre Ele e o Pai. E é com esse mesmo amor que devemos nos amar reciprocamente para atuar o mandamento "novo". No entanto, você, como ser humano, não possui um amor como esse. Mas alegre-se porque, como cristão, você o recebe. E quem é que lhe dá esse amor? O Espírito Santo, que o infunde no seu coração, no coração de todos os fiéis.

Existe, portanto, uma afinidade entre o Pai, o filho e nós, cristãos, devido ao amor divino que possuímos em comum. É esse amor que nos insere na Trindade. É esse amor de Deus que nos torna filhos seus. É por esse amor que céu e terra estão ligados, como que por uma grande corrente. É por esse amor que a comunidade cristã é conduzida até o âmbito de Deus e a realidade divina vive na terra, onde os fiéis se amam. Você não acha tudo isso divinamente belo? E a vida cristã não lhe parece extremamente fascinante?

Chiara Lubich, Fundadora do Movimento Focolare


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/o-amor-reciproco-e-o-distintivo-de-todos-nos-cristaos/

5 de fevereiro de 2021

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar?


Se você prestar atenção no tempo que consegue conversar com seus amigos e familiares sem falar a respeito do trabalho que realiza ou de situações relacionadas a ele, fica fácil perceber se está vivendo para trabalhar ou trabalhando para viver.

A Palavra de Deus, em Eclesiástico 3, afirma que "grande sabedoria é viver bem cada coisa a seu tempo". Com relação ao trabalho, creio que não é diferente. Precisamos ser bons profissionais, cumprir com responsabilidade nossa missão, mas também devemos ter o discernimento e a coragem de separar as coisas, deixando o que é próprio do trabalho no seu setor, e levando para casa somente seus bons frutos. Não que seja proibido falar com quem convivemos a respeito das nossas lutas e vitórias vivenciadas no trabalho, a questão está no equilíbrio com que lidamos com isso.

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar

Foto Ilustrativa: martin-dm by Getty Images

Tempo para trabalhar e tempo para descansar

Na Comunidade Canção Nova, da qual faço parte, vivemos algo que considero interessante nesse sentido. Naturalmente, também nós missionários, quando voltamos para casa depois de um dia de atividades, temos a tendência de continuar falando a respeito do que vivemos em cada setor da missão. Porém, monsenhor Jonas [fundador da comunidade] nos ensina que, quando agimos assim, é como se não nos desligássemos do trabalho e não conseguíssemos descansar nem viver tantas outras coisas boas que a vida fraterna tem a nos oferecer.

Com isso, quando percebemos que o centro de nossas conversas está sendo o trabalho, alguém do grupo deve ter a iniciativa de mudar de assunto até que os demais o acompanhe. É que existe um tempo para cada coisa: "tempo para trabalhar e tempo para descansar". Se continuarmos, no tempo de descanso, a nos referir ao trabalho, poderemos até ser refeitos no físico, mas a cabeça continuará trabalhando e, consequentemente, virá o degaste geral. Será que não é essa a razão pela qual temos encontrado tantas pessoas cansadas?

Admiro quem trabalha com dedicação e ama o que faz. Eu mesma sinto-me privilegiada por fazer o que gosto, mas uma coisa é certa: preciso estar atenta para separar o que faço do que sou, pois sei que quando nos identificamos demais com o que fazemos podemos facilmente nos esquecer de quem somos, e isso é um sério problema.

Se nos esquecermos da nossa real identidade de filhos amados de Deus, passaremos a nos autoidentificar e valorizar por aquilo que fazemos e possuímos; muitas vezes, dessa atitude nascerá o desequilíbrio com relação ao "viver para trabalhar". A pessoa foca seu esforço em 'ter cada vez mais', pensa que aí está o seu valor, por isso trabalha, cada vez mais, sem nem mesmo perceber que está vivendo cada vez menos.

Descobrir o que vale a pena

Muitos de nós já descobrimos que as coisas que realmente valem a pena nesta vida não têm preço.

Outro dia, li um relato que me fez pensar. A história falava de um menino que sentia a falta do pai, pois este estava trabalhando cada vez mais e ficando cada vez menos em casa. O pai pensava estar fazendo o bem para sua família, dando-lhe um melhor "padrão" de vida com sua exigente profissão, mas era um grande engano.

O filho mais novo sentia tanto sua falta que, certa noite, quando ele voltara tarde para casa, perguntou-lhe: "Papai, quanto você ganha por hora no trabalho?". O pai ficou aborrecido com a pergunta, mas, enfim, respondeu. A partir daquele dia, o menino começou a guardar todo dinheiro que ganhava até chegar ao valor equiparado a um hora de serviço de seu pai.


Depois, o chamou para brincar e foi logo avisando: "não se preocupe com o tempo papai, eu lhe pagarei o valor de uma hora para brincar comigo". Abrindo uma pequena caixa, na qual havia guardado as moedas, entregou o dinheiro ao pai, que, já em lágrimas, pediu que explicasse como o havia conseguido.

O garoto explicou que estava juntado todo o dinheiro que ganhou por várias semanas, inclusive o doado pelo próprio pai. Não sei se a história é real, mas fico imaginando como ficou o coração daquele homem e qual foi atitude dele a partir daquele dia.

O trabalho merece ser valorizado

Na Carta Encíclica Laborem exercens, São João Paulo II esclarece que o trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, pois somente ele tem a capacidade para realizá-lo, preenchendo, ao mesmo tempo, a sua existência sobre a Terra. Este é o meio pelo qual o homem deve procurar o pão cotidiano, ou seja, o trabalho é sinal de bênção e merece ser valorizado.

Todos nós sabemos que é graças ao empenho e dedicação de tantos homens e mulheres trabalhadores, ao longo dos tempos, que, hoje, temos condições de vida bem melhores do que nossos antepassados. O que não nos convém é permitirmos que a cultura do consumismo nos domine e nos leve a fazer de nossa atividade profissional o centro de nossa vida.

Acredito que seja oportuno, hoje, pensar a respeito do lugar que o trabalho tem ocupado em sua vida e quais são os frutos que ele tem lhe proporcionado. Considerando que vai permanecer, no fim de tudo, o amor que damos e recebemos, não tenhamos medo de fazer escolhas que irão nos proporcionar viver bem para trabalhar melhor, deixando nossa marca de sucesso não apenas no mercado, mas, principalmente, no coração que Deus lhe confiar, por onde passar, inclusive dentro de sua própria casa.



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/profissao/trabalhar-para-viver-ou-viver-para-trabalhar/

3 de fevereiro de 2021

A humanidade e a divindade de Jesus


Caro leitor, gostaria de lançar dois questionamentos logo no início deste artigo: Jesus, por ser Deus, é mais divino que humano? O que é mais importante, afinal, sua divindade ou sua humanidade? No início do cristianismo, os grandes pais da Igreja, dentre eles Irineu de Lyon, Inácio de Antioquia, Clemente Romano, além dos ensinamentos de alguns Concílios como, por exemplo, o de Niceia, o de Éfeso e o de Calcedônia, tiveram que responder a estas questões de maneira bem precisa. Isso se deu porque foram surgindo diversas heresias que colocavam em cheque pontos importantes da nossa fé, especialmente com relação à humanidade e a divindade de Jesus.

Apenas a título de exemplo, surgiram grupos que reduziam ou negavam completamente a condição divina de Jesus, é o caso das correntes ebionitas e adocionistas. Por outro lado, havia grupos como os docetas, que colocavam em prejuízo a humanidade de Jesus. Nota-se, portanto, uma tendência de se querer separar a divindade da humanidade de Jesus como se elas fossem opostas ou se uma pudesse causar prejuízo à outra.

A humanidade e a divindade de Jesus

Foto ilustrativa: THEPALMER by Getty Images

Humanidade e divindade, as duas naturezas de Jesus

Desde os primeiros séculos, a Igreja percebeu o grandíssimo problema que essas heresias poderiam causar à fé, uma vez que elas estavam ligadas diretamente às questões soteriológicas, ou seja, à salvação humana. Depois de alguns séculos de muitas discussões, a Igreja compreendeu e passou a confessar que Jesus, embora fosse uma única pessoa, possuía duas naturezas (a divina e a humana). Assim, Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito homem sem deixar de ser Deus, nosso Senhor (cf. CIC 469).

Uma vez que chegamos até aqui, já teríamos condições de respondermos às duas perguntas que abriram o artigo. As respostas, portanto, seriam: Jesus, por ser Deus, não é mais divino que humano, já que Ele é ao mesmo tempo totalmente divino e totalmente humano. Uma coisa não exclui nem diminui a outra. Assim, não existe grau de importância entre estas duas naturezas de Jesus. Aliás, as duas são essenciais para que a salvação tenha ocorrido. Sua vontade humana não faz resistência nem oposição à sua vontade divina.

Diante disso, temos toda a tranquilidade para entendermos que Jesus, enquanto ser humano, precisou experimentar todas as realidades dessa natureza. Por isso, o Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano (CIC 470). Tudo isso significa que, embora fosse Deus, Jesus precisou aprender com os seus pais a falar seu idioma, a andar, a adquirir conhecimento, a trabalhar no seu ofício. Em suma, Ele precisou crescer no conhecimento, na estatura e na graça.

Jesus era semelhante a nós em tudo, menos no pecado

Não se poderia esperar de Jesus, aos dois anos de idade, todo o conhecimento de um adulto. Até mesmo a consciência de que Ele era Deus esteve sujeita ao seu amadurecimento humano dotado de um corpo que precisava passar pelo processo natural de desenvolvimento. Logicamente, a natureza humana do Filho de Deus, pela sua união com o Verbo, conhecia e manifestava em si tudo o que é próprio de Deus (cf. CIC 473).


Da mesma maneira que todos os seres humanos sofrem, Jesus também sofreu. Ele sentiu dor, câimbras, frio, calor e sono. Precisou dormir, descansar, comer e beber. Fazia todas as necessidades fisiológicas que um ser humano comum está sujeito. Jesus amou, se alegrou, se entristeceu, sorriu e se aborreceu. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente semelhante a nós em tudo, exceto no pecado.

Portanto, Ele entende o nosso sofrimento e a nossa dor; mas também se alegra conosco. Em outras palavras, nós temos um Deus que não está alheio às necessidades humanas. Ele não precisava, porém, seu amor por cada um de nós é tão grande a ponto d'Ele ter se apequenado tornando-Se limitado e sujeito às vicissitudes da matéria como nós o somos. Ao se tornar homem, Deus continuou sendo Deus. Deus não se enfraqueceu sendo homem, pelo contrário, nossa humanidade é que foi fortalecida por Ele.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-humanidade-e-a-divindade-de-jesus/

1 de fevereiro de 2021

Maria tem o poder de nos aproximar de Jesus


Se buscais Maria, encontrareis Jesus, e aprendereis a entender um pouco o que há nesse coração de Deus que se comove, que renuncia a manifestar seu poder e sua majestade para apresentar-se em forma de escravo.

Humanamente falando, poderíamos dizer que Deus se excede, pois não se limita ao que seria essencial ou imprescindível para salvar-nos sem que vá mais além. A única norma ou medida que nos permite compreender, de algum modo, essa maneira de Deus operar é dar-nos conta de que carece de medida: ver que nasce de uma loucura de amor, que o leva a ter nossa carne e a carregar o peso de nossos pecados.

Maria tem o poder de nos aproxima de Jesus

Foto Ilustrativa: by Getty Images / sedmak

Como é possível dar-nos conta disso, afirmar que Deus nos ama, e não nos envolver também loucos de amor? É necessário deixar que essas verdades de nossa fé possam cessar na alma, até mudar toda nossa vida. Deus nos ama: o Onipotente, o Todo-poderoso, o que fez céus e terra.

Maria, nossa grande intercessora

Deus se interessa até pelas pequenas coisas de suas criaturas: das vossas e das minhas, e nos chama um a um pelo nosso próprio nome. Essa certeza que nos dá a fé permite que olhemos o que nos rodeia com uma nova luz, e que, permanecendo tudo igual, afirmemos que tudo é distinto, porque tudo é expressão do amor de Deus.

Nossa vida se converte assim em uma contínua oração, em um bom humor e em uma paz que nunca se acabam, em um ato de ação de graças que acontece através das horas. 'Minha alma glorifica ao Senhor – cantou a Virgem Maria – e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador; porque olhou para sua pobre serva; portanto, as gerações me chamarão bem-aventurada. Porque Aquele que é o Todo-poderoso, cujo nome é Santo, fez em mim maravilhas.'


Nossa oração pode acompanhar e imitar essa oração de Maria. Como Ela, sentiremos o desejo de cantar, de proclamar as maravilhas de Deus, para que a humanidade inteira e todos os seres participem da nossa felicidade.

São Josemaria Escrivá


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/maria-tem-o-poder-de-nos-aproximar-de-jesus/

29 de janeiro de 2021

O que é a prática do exorcismo e quem pode ministrá-lo?


O exorcismo é um tema que exerce fascínio entre as pessoas, além disso, é sempre explorado pelo cinema, que abusa dos "sustos" como forma de garantir a audiência. A existência do demônio é um grande chamado a pensarmos na existência de Deus, sem o qual ele não existiria.

Entre os elementos que ocorrem nos casos de manifestações demoníacas trazidos pelos filmes estão: o falar palavras em línguas desconhecidas, a manifestação de coisas distantes ou ocultas, superioridade de força em relação à idade ou condições físicas, aversão a Deus, a Virgem Maria, aos demais santos e à Igreja.

O que é a prática do exorcismo e quem pode ministrá-lo?

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

O que é o exorcismo?

O exorcismo é uma ação litúrgica – propriamente um sacramental – utilizada, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto sejam protegidos contra a ação do maligno e subtraído ao seu domínio.

A prática dos exorcismos foi iniciada na Igreja pelo seu próprio Fundador, e nela esteve presente ao longo de toda sua existência. Foi o mesmo Senhor quem deu aos apóstolos o poder de expulsar os espíritos imundos, afirmando que, entre os sinais que os acompanhariam os que creem, estaria a expulsão dos demônios (cf. Mt 16,17).

Atualmente os exorcismos podem ser classificados como públicos e privados. Os públicos são aqueles administrados em nome da Igreja, por uma pessoa legitimada e segundo os ritos previstos; e caso contrário, são os privados.

Exorcismos são também conhecidos como solenes e simples. Solenes são aqueles previstos para os casos de possessão ou obsessão diabólica; já os simples são aqueles que estão integrados dentro de outros ritos, como os do catecumenato ou do batismo.

Posição da Igreja para reconhecer a necessidade de um exorcismo e quem pode ministrá-lo?

Certa vez, o Papa Bento XIV, na Carta Sollicitudini, de 1745, essa necessidade se dá quando o exorcista possui uma certeza moral de que o exorcizando esteja realmente atormentado pelo demônio.

Essa certeza moral é atingida quando se emprega todos os meios prudenciais para certificar-se de que não se trata de algum fenômeno de ordem puramente natural.

O exorcismo solene, tal como está previsto no Ritual de Exorcismos, só pode ser realizado por um sacerdote e com a devida licença do Bispo diocesano, que pode concedê-la, como indica o Código de Direito Canônico, a um presbítero piedoso, douto, prudente e com integridade de vida.

Quando o exorcismo é descartado?

Para evitar uma tendência a considerar todos os eventos aparentemente extraordinários, uma intervenção do demônio, o próprio Ritual de Exorcismos indica que, antes do uso desse sacramental, o exorcista deve manifestar a máxima prudência, não crendo facilmente que alguém esteja possesso, pois não se descarta, a princípio, a existência de alguma doença, sobretudo, de ordem psíquica.

Neste sentido, o exorcista, sempre observando o sigilo da confissão, poderá recorrer aos peritos em ciência médica e psiquiátrica para avaliação de cada caso. E, se ficar comprovado que o fenômeno é, de fato, de ordem natural, não deverá ser realizada a celebração do exorcismo.

Agora, a Igreja está atenta a outro extremo: àquela postura dos que consideram que o demônio não intervém na vida dos homens, tentando reduzir a intervenção dos espíritos malignos a fenômenos meramente psíquicos ou paranormais.

Também o Ritual de Exorcismo alerta sobre essa questão, solicitando a atenção aos artifícios e fraudes usadas pelo diabo para enganar a pessoa, para convencer o possesso a não se submeter ao exorcismo, afirmando tratar-se de doença natural.

Aliás, esta é uma das grandes vitórias do demônio: fazer acreditar que ele não existe ou que não atua na história dos homens de hoje.

Caridade com as pessoas atormentadas

Infelizmente, pode acontecer, como notou certa vez o exorcista de Roma, padre Gabriele Amorth, de muitos sacerdotes aderirem a essa segunda postura e acabarem se descuidando do tremendo dever de caridade que têm de atender a essas pessoas atormentadas pelo demônio, afirmando, sem uma diligente investigação, tratar-se de algum fenômeno psicológico.

Avaliando, de forma mais direta, três filmes que abordam o Exorcismo: "O Exorcista", "O exorcismo de Emily Rose" e "O Ritual", pode-se dizer que abordam conteúdos reais ocorridos realmente nos exorcismos, acrescentados com toques cinematográficos para torná-los mais "palatáveis" aos apreciadores do gênero.

Entre os elementos que ocorrem nos casos de manifestações demoníacas trazidos pelos filmes estão: o falar palavras em línguas desconhecidas, a manifestação de coisas distantes ou ocultas, superioridade de força em relação à idade ou condições físicas, aversão a Deus, a Virgem Maria, aos demais santos e a Igreja.

Não é difícil encontrar esses elementos nos filmes citados, o que, certamente revela que houve um mínimo de preocupação por parte dos diretores por investigar os casos de exorcismo na Igreja. Aliados a esses conteúdos aparecem, também, outras imprecisões que certamente passarão despercebidas pelo público geral.

Penso, por exemplo, no último exorcismo do filme "O Ritual", no qual o seminarista – ou diácono? – aparece realizando as funções próprias e exclusivas de um sacerdote na celebração do exorcismo maior. Apesar dessas e outras imprecisões penso que, esses filmes, trazem muito mais semelhanças com o real do que cenas fantasiosas.


Experiência de Deus

Em minha opinião, existe uma característica comum a esses filmes citados – sobretudo aos dois últimos – que me parece digna de ser mencionada. Mesmo estando elencados na categoria "terror", não diria que são filmes propriamente desse gênero. Sem dúvida alguma, contêm cenas assustadoras, que nos permitem vislumbrar o quão extraordinariamente podem manifestar-se as forças infernais.

Porém, vejo esses filmes como um grande convite ao telespectador a enfrentar-se diante de uma pergunta fundamental: "Será que tudo o que existe se esgota nesta realidade do que conhecemos pelos nossos sentidos?". Parece-me que esses filmes proporcionam um grande apelo a abrir-nos ao sobrenatural, a descobrirmos que existe uma realidade que nos rodeia e ultrapassa aquilo que podemos captar com nossos sentidos, sem ferir, contudo, a nossa razão natural.

A existência do demônio – tônica desses filmes – é um grande chamado a pensarmos na existência de Deus, sem o qual, aquele não existiria. No fundo, subjaz – talvez inconscientemente – algo bem semelhante ao argumento filosófico utilizado por Santo Agostinho de Hipona, que apontava para a existência de Deus – o Bem – a partir da existência do mal, já que este consiste na privação do bem.

Filmes Emily Rose e O Ritual

Estas características aparecem em algumas frases que chamam bastante a atenção do atento telespectador. Cito, por exemplo o trecho da Carta de São Paulo, que aparece na lápide do túmulo Emily Rose, ao final do filme sobre essa pessoa: "Trabalhai pela vossa salvação com temor e tremor" (Fil 2,12).

Do filme "O Ritual", que é uma frase do padre Lucas, personagem de Anthony Hopkins para o jovem seminarista Michael Kovak: "Escolher não acreditar no demônio não te protegerá dele." Uma excelente exortação aos homens de nosso tempo, que pretendem banir toda a alusão a Deus da esfera pública. A presença do mal no mundo, paradoxalmente, é uma manifestação patente de que Deus existe.

Termino lembrando de umas palavras tomadas dos escritos de Santa Teresa de Jesus, bastante confortadoras diante do temor que pode surpreender-nos ao tratar deste tema: "O demônio teme uma alma unida a Deus, como teme o próprio Deus."

É por isso que o sacramento da penitência – mais importante que os exorcismos, que são apenas sacramentais – é tão temido pelo demônio, pois aumenta a união do fiel a Deus. E, infelizmente, é um dos sacramentos mais negligenciados de nosso tempo.



Padre Demétrio Gomes

Padre Demétrio Gomes é Pároco Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Niterói, e Chanceler do Arcebispado de Niterói. Professor do Instituto Filosófico e Teológico do Seminário São José de Niterói. Membro da Sociedade Internacional Tomás de Aquino (SITA – Brasil), do Centro Dom Vital e da Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC). Administrador do website Presbíteros http://www.presbiteros.com.br para a formação do clero católico.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/o-que-e-pratica-exorcismo-e-quem-pode-ministra-lo/

27 de janeiro de 2021

Faça uma reflexão: como eu posso ser santo nos dias atuais?


É com essa pergunta que iniciamos este artigo, no qual utilizaremos a exortação apostólica do Papa Francisco Gaudete et Exsultate como pano de fundo para entender e trilhar um caminho rumo a ser santo e fazer a vontade de Deus.

Deus o quer santo

Você já parou para pensar que Deus, por meio do Espírito Santo, derrama a santidade sobre Seu povo fiel, porque Ele próprio quer salvar e santificar os homens? Sim, essa é uma verdade que acontece. Portanto, podemos nos ajudar, porque Deus não quer nos salvar sozinhos, mas quer, comunitariamente, levar em conta nossas relações, e, assim, a santidade acontece nas coisas simples.

Não precisamos almejar realidades grandiosas, mas podemos buscar a santidade no cotidiano da nossa vida. O Papa traz o exemplo dos pais que criam seus filhos, nos homens e mulheres que trabalham para trazer o pão para dentro de casa, nos doentes e idosos que continuam a sorrir. Esses são "os santos ao pé da porta". Pessoas que, nos afazeres diários, buscam realizá-los com amor. O segredo está em viver com alegria, honestidade e competência o seu trabalho, ou melhor, a sua vocação. Por isso, utiliza os momentos ordinários para viver de forma extraordinária. Assim seremos santos!

Faça uma reflexão: como eu posso ser santo nos dias atuais?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Configurado a Cristo

Alcançaremos a santidade à medida que formos nos configurando e nos identificando com Cristo. Essa mudança quem realizará será o Espírito Santo, à medida que Lhe dermos abertura, para que nos transforme. Como já aprendemos, esse é o desejo de Deus: a nossa santidade. Sendo assim, o próprio Deus nos apresentará situações e pessoas para que possamos crescer em santidade.

A fuga nunca será capaz de modelar santos; pelo contrário, somente enfrentando a nós mesmos e os que vêm a nosso encontro teremos a possibilidade de sermos transformados em pessoas melhores. Da mesma forma que o silêncio e a oração gestam em nós o homem novo, e o encontro com o outro nos dá a capacidade de agirmos como novo homem.

Eis um dos desafios para os que querem ser santos nos dias de hoje: Não cair em um ativismo nem ocupação excessiva com as coisas, esquecendo o autor das coisas nem tão pouco fugindo dos encontros e obrigações próprias de qualquer pessoa comum. O Papa Francisco nos exorta: "Precisamos de um espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão do amor doado sob o olhar do Senhor" (n. 31).


Cada vez mais humanos

A santidade, como já deu para percebermos, realiza-se na vida, no cotidiano e nas coisas simples que cada pessoa realiza. Colocar amor naquilo que fazemos dá um sentido totalmente evangélico nos afazeres da vida. Por isso, podemos nos lançar sem medo de sermos santos, pois nada nos será tirado, nem as forças nem a alegria, porque, afinal de contas, foi Deus quem desejou isso para nós, e essa é a nossa vocação primeira, a santidade.

Tornar-se humano nada mais é do que fazer as coisas normais do nosso dia, mas, como acima mencionado, com amor. Eis o segredo! Contudo, um amor de fato e não um amor de teorias. Um amor traduzido em atos com aqueles que estão mais próximos de nós. Comecemos por esses. Tenhamos quase certeza de que, durante o dia, estamos rodeados de pessoas que nos são caras ao coração, e muitas dessas pessoas podemos dizer que as amamos. Eis que temos um campo repleto de pessoas para amar, e assim nos tornarmos testemunhas de uma santidade humana, sem deixar de reconhecer a graça de Deus nas nossas atitudes.

Por fim, quero animar cada um de vocês, amigos leitores, a sermos juntos o que Deus quer de nós. Santos! Por assim dizer, sermos cada vez mais humanizados e solícitos com aqueles que mais necessitam. O Papa Francisco exorta: "Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro com a tua fragilidade e com a força da graça" (n. 34).

"[…] existe apenas uma tristeza: a de não ser santo" (León Bloy)



Fábio Nunes

Francisco Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Fábio Nunes é também Bacharelando em Teologia pela Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP) . Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/faca-uma-reflexao-como-eu-posso-ser-santo-nos-dias-atuais/

25 de janeiro de 2021

Como aconteceu o processo de conversão de São Paulo?


O que entendemos por conversão? Será que essa palavra tem apenas um cunho religioso ou podemos dizer que pode ser usada também em outro contexto? E sendo usada em outro contexto, ela pode ser usada também em cunho religioso? Parece confuso, mas a palavra conversão, na maioria das vezes, é compreendida de maneira equivocada. Quando falamos da conversão de São Paulo, quando falamos que "fulano de tal" se converteu ou coisa parecida falamos com um certo preconceito, ou seja, um conceito já pré-estabelecido dentro de nós.

Falar de conversão em ambos os sentidos, religioso ou noutro contexto, não é falar de pegar sentido inverso ao caminho até então feito, mas falar de um retorno às origens. E foi justamente isso que aconteceu com São Paulo na estrada de Damasco, como relata o capítulo 9 dos Atos dos Apóstolos.

Como aconteceu o processo de conversão de São Paulo?

Imagem ilustrativa: Bartolomé Esteban Murillo 1675-1682

Vivamos a conversão assim como São Paulo

Paulo, na verdade, não pegou um caminho inverso, mas retornou às suas origens, para, aí sim, poder trilhar um caminho que o levaria à meta do ser humano. Ou seja, viemos de Deus e voltaremos para Deus, como canta a liturgia da Igreja, que temos uma origem divina e um destino divino.

Falar de destino aqui, nada tem a ver com predestinação na qual não temos escolha, e que somos por Deus "escravizados ou condenados" a este destino, ou seja, estaríamos presos neste mundo esperando essa condenação predestinada. Na verdade, quando a Igreja diz de "destino divino", ela fala justamente que, um dia, pouco tempo depois da nossa morte, quando nosso corpo ainda estiver quente, nós já estaremos diante do Justo Juiz, Nosso Senhor Jesus Cristo, para sermos, por Ele julgados. Neste sentido, entende-se que saímos de Deus, nossa origem divina, pois por Ele fomos criados, e um dia estaremos diante d'Ele, mas não mais aqui nesta terra, e sim no nosso destino divino, para que lá possamos ser julgados pela vida que tivemos enquanto membros deste mundo passageiro.

Paulo, naquele bendito dia em que cai do cavalo, fica cego e escuta a voz do Senhor dizendo: "Por que me persegues?", ele tem o seu encontro pessoal com Jesus, e isso o faz voltar ao caminho da sua origem divina, para que esse caminho o levasse ao seu destino divino, o encontro derradeiro com Jesus Juiz. Conversão, no sentido religioso, não acontece apenas com uma atitude moral de, isso pode, isso não pode; nem mesmo com leis e doutrinas a serem obedecidas; mas com um autêntico encontro pessoal com Jesus, como nos ensina Bento XVI na encíclica "Deus caritas est"(Deus é amor). Conversão como a de Paulo de Tarso é possível somente quando encontramos Aquele que nos criou (origem divina), o qual nos mostra a nossa meta, o Céu (destino divino).


Viva um caminho de conversão

Conversão é voltar à estrada que o pecado nos tirou. Conversão, como aconteceu com Paulo, é nos fazer ver Jesus no nosso caminho. Conversão é decisão de trilhar um caminho de vida, e não mais de morte como era antes o de Paulo. Conversão é saber ser criado por Deus, amado por Ele, e querer morar eternamente com Ele no Céu. Conversão é dizer com a vida, que estamos aqui somente de passagem, e que por isso, nada daquilo que é passageiro poderá roubar-me o Céu. Conversão é dizer, sou de Deus, pois dele eu vim, e um dia eu quero voltar definitivamente para Ele.



Padre Anderson Marçal

Anderson Marçal Moreira é padre da Igreja Católica Apostólica Romana. Natural da cidade de São Paulo (SP), padre Anderson é membro da comunidade Canção Nova desde o ano 2000. No dia 16 de dezembro de 2007, foi ordenado sacerdote. Estudou Teologia Pastoral Bíblica-Litúrgica na Universidade Salesiana de Roma. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/como-aconteceu-o-processo-de-conversao-de-sao-paulo/