6 de novembro de 2020

As três fases para formação de uma boa amizade


Reflita sobre as fases da amizade, as quais nos ajudarão a compreender melhor esse relacionamento. A amizade é uma construção, por isso existem três fases para sua formação:

1. Primeira fase: Iniciação;
2. Segunda fase: Manutenção;
3. Em alguns casos, há uma terceira fase: Dissolução.

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Foto Ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

A amizade é um processo contínuo e dividido em fases

A amizade tem um início que corresponde aos primeiros encontros, os quais são entendidos como um tempo para o conhecimento do outro. Esse período inicial é de suma importância, pois, é aqui que a confiança se inicia e, aos poucos, o envolvimento se torna mais profundo. Muitas pessoas não conseguem se aproximar de uma outra por dificuldades pessoais, como uma introversão excessiva ou mesmo uma baixa autoestima, que o faz acreditar que nenhuma outra pessoa poderia o escolher como amigo.

Esses comportamentos podem dificultar a fase inicial, uma vez que a pessoa não se aproxima de outra para estabelecer os primeiros laços. Nessa fase, é importante permitir que o outro nos conheça para então o relacionamento amadurecer e avançar para a manutenção da amizade, que é a próxima fase.


Cultivar a amizade diariamente

Para manter uma amizade é preciso cultivá-la, cuidar dela diariamente. Esse período é chamado de manutenção. Nessa fase, é importante disponibilizar o mínimo de tempo para conversas, diálogos, trocas de experiências, partilhas, carinhos, demonstrações de amor, ajuda concreta etc., porque quem ama oferece tempo. É fundamental empenho contínuo e cuidados que amadureçam o relacionamento. Esse tempo pode ser muito longo, como anos, décadas ou mesmo toda a vida. Os níveis de atenção ou negligência para o relacionamento são fatores que determinam se a relação se aprofundará ou caminhará em direção à fase de dissolução, ou seja, o fim da amizade.

Como dissemos anteriormente, existem amizades que duram uma vida inteira. Nesses relacionamentos, os amigos são verdadeiros, demonstram afeto e respeito, estão sempre atentos às necessidades do outro e dispostos a ajudá-los, consideram o amigo como alguém importante em sua vida.

Existe ainda a dissolução. Essa fase pode ser o resultado da falta de atenção para com o outro, falta de interesse pela vida do amigo, falta de respeito com as diferenças, quando os amigos traem um acordo de sigilo ou mesmo quando um dos membros morre. No entanto, a morte não tem significado de término da amizade; na maioria dos casos, um amigo normalmente não morre para o outro, pois ele passa a existir vividamente na memória.

A amizade, portanto, é um processo contínuo que depende dos envolvidos para crescer, amadurecer, durar a vida toda ou diminuir até a extinção.



Diácono João Carlos e Maria Luiza

João Carlos Medeiros é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova. Psicólogo clínico e familiar, Medeiros também é logoterapeuta, sexólogo e mestre em sexologia humana. Casado com Maria Luiza da Silva Medeiros que também é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova, é psicóloga clínica e familiar. Ela é pós-graduada em psicoterapias cognitivas e em neuropsicologia. Autores do livro "Diagnóstico Familiar", pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/amizade/as-tres-fases-para-formacao-de-uma-boa-amizade/

4 de novembro de 2020

Você já olhou sua janela hoje?


Um casal recém-casado mudou-se para um bairro muito tranquilo. Na primeira manhã que passaram na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou pela janela em uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido: "Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar roupas!".

O marido observou calado. Três dias depois – também durante o café da manhã – a vizinha pendurava lençóis no varal e, novamente, a mulher comentou com o marido: "Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!".

Você já olhou sua janela hoje?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Tudo depende da janela pela qual observamos os fatos

E assim, a cada três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal. Passando um mês, a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos, e empolgada foi dizer ao marido:

"Veja, ela aprendeu a lavar roupas! Será que uma outra vizinha lhe deu sabão? Porque eu não fiz nada."

O marido calmamente respondeu: "Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei a vidraça da nossa janela!".


E assim é: tudo depende da janela pela qual observamos os fatos. Antes de criticar, devemos verificar se fizemos alguma coisa para contribuir e podemos começar verificando nossos próprios defeitos e limitações.

Você já olhou sua janela hoje?



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/voce-ja-olhou-sua-janela-hoje/

30 de outubro de 2020

A oração é o elo entre o nosso coração e Deus

Primeiro, é bom nos lembrarmos de que toda oração, quando a fazemos com o coração e com a mente abertos à vontade de Deus, torna-se eficaz porque Deus sempre ouve a nossa voz.

A oração eficaz não resulta de seguirmos fórmulas ou certos princípios. Pelo contrário, a oração eficaz baseia-se na Palavra de Deus . Ela é simples, sincera, cheia de fé e não tem nada a ver com regras e formas. Mas ela precisa vir de um coração sincero e dependente, porque ela é o elo entre Deus e nós, além disso, precisa ser feita em nome de Jesus.

Nossas orações devem ser feitas em harmonia e de acordo com a vontade do Senhor. Devem ser feitas com o coração aberto e não com respostas prontas ou com pedidos fechados. Devemos sempre estarmos abertos à vontade de Deus para que Ele nos ouça e nos atenda.

Foto Ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

É preciso estar sempre pronto para escutar a Deus

Tenho vivido muitas experiências com relação a Deus. Com isso, percebo que, para uma oração eficaz, precisamos ser perseverantes. Vejamos o exemplo de Moisés: somente quando ele perseverava, em oração e com suas mãos erguidas a Deus, foi que os israelitas venceram a batalha.

A oração eficaz é aquela em que levantamos as mãos, como o livro do Êxodos nos mostra: eles levantaram as mãos e venceram. O povo já sentia-se derrotado pela força de Amaleque, o próprio demônio, porém, a oração eficaz de Moisés, sustentada pelas mãos de Arão e Ur, deu àquele povo a vitória.

Então, a oração eficaz não é aquela que fazemos sozinhos, e sim a que fazemos apoiados nos irmãos e sustentados por eles. Sobre a oração, na Bíblia, lemos muitas outras situações de perseverança. Temos de nos manter vigilantes à oração e estarmos sempre prontos para escutar a Deus, isso é uma oração.


A vontade de Deus na nossa vida

"Meu Deus, curai e libertai a todos aqueles que tomam a decisão de manterem suas mãos levantadas e de orar sem cessar. Curai aqueles que tomam a firme decisão de não querer o seu próprio interesse e nem o que os outros querem, e sim o querer de Deus. Eu levanto minhas mãos, Senhor, sobre a vida de cada um desses filhos, sustentadas pela Sua Palavra que diz: 'Orai sem cessar' e, em todas circunstâncias, apresentai a Deus as vossas preocupações."

Uma oração eficaz é aquela que temos um pé nas nuvens e o outro no chão, ou seja, é aquela que caminhamos determinadamente, mesmo sem sentir ou ver o resultado. Mesmo sendo olhado como alguém derrotado, perdido na visão humana, mas jamais alguém que desiste. Pois, sabe que a vitória de Deus é certa!

A oração eficaz é sua "escravidão" absoluta ao Espírito Santo. Todos os dias, ao acordar, devemos dizer: "Bom dia, Espírito Santo, o que vamos fazer juntos hoje?". A cada passo da nossa vida, perguntemos ao Espírito Santo qual palavra, atitude ou decisão tomaremos juntos. À noite, antes de dormir, devemos nos ajoelhar e pedir perdão ao Espírito Santo por tudo o que fazemos sem consultá-Lo, sem pedir um novo Pentecostes. E que, quando o dia raiar, em todas as situações, possamos caminhar com Ele.



Ironi Spuldaro

Ironi Spuldaro é Membro do CAE (Comissão de Ação Evangelizadora) da diocese de Guarapuava. Membro do conselho diocesano, estadual e nacional da RCC (Renovação Carismática Católica) movimento do qual participa desde 1987. Ironi exerce o ministério de pregação em todo o Brasil e em outros países, como Argentina, Paraguai, Bolívia, Estados Unidos, Itália, Coréia do Sul, Inglaterra e Suiça. Fundador da Missão Há Poder de Deus, escritor e apresentador do Programa Há Poder de Deus.

Site: www.ironispuldaro.com.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/a-oracao-e-o-elo-entre-o-nosso-coracao-e-deus/

26 de outubro de 2020

O sofrimento é uma via maravilhosa de encontro com Jesus


É impossível que haja alguém que nunca sofreu na vida. Não importam o tipo e o grau do sofrimento: todos nós já sofremos por algo ou alguém. Não existe um ser humano que não tenha passado ou não irá passar por um momento difícil em sua vida, mas sempre que este dia chega, caímos em nossos questionamentos: "Mas por que estou vivendo isso?"; "Por que existe o sofrimento?", ou ainda, "Por que sofro tanto?".

A princípio, não há uma resposta que possa responder superficialmente a essa situação, tampouco existem explicações e soluções mágicas para isso, como o mundo imediatista nos propõe. Somente olhando para Jesus encontramos o sentido do sofrimento humano. Só o calvário nos revela algo de concreto.

Foto Ilustrativa: By Getty Images/electravk

Olhando para Jesus encontramos o sentido do sofrimento humano

Jesus sofreu ao receber a notícia da morte de seu amigo Lázaro; e sofre ao ver que o Seu povo anda como ovelhas sem pastor. O Senhor sofre ao contemplar Jerusalém que não queria escutar os profetas, que lhe eram enviados, assim como sofrera ao contemplar o calvário que Lhe esperava e o peso dos pecados que iria carregar, e mesmo assim decidiu – por amor –  subir a montanha do sofrimento. Na Paixão de Cristo, encontramos também a paixão (sofrimento) do homem de todos os tempos. E a montanha do calvário, (antes o lugar de morte) é para o cristão –  lugar de encontro com a misericórdia.

O Cristianismo é a religião aparentemente do "absurdo", porque Deus resolveu visitar e salvar o Seu povo através do sofrimento, e é na cruz que temos a prova de que Deus precisou sofrer até a morte, para nos mostrar que o sofrimento é uma via maravilhosa de encontro com Ele. Encontramos em Jesus não somente o Homem dos sofrimentos (Is 53, 3-7), mas o Homem que venceu o sofrimento (Mt 11, 18; Ap 21, 4), e o Homem que declara bem-aventurado todo aquele que sofre e é perseguido (Mt 5, 11; Lc 6, 21).

Experimentando o calvário

Quem disse que sofrimento é motivo para desânimo? A Palavra de Deus nos mostra o exemplo de Cristo: "Em vez de gozo que lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus. Considerai Aquele que sofreu tantas contrariedade dos pecadores e não vos deixeis abater pelo desânimo" (Heb 12, 2-3).

Quem disse que Jesus está indiferente ao seu sofrimento? A Palavra também nos revela a compaixão de Cristo por nós: "De fato, por Ele mesmo ter suportado tribulações, está em condições de vir em auxilio dos que são atribulados" (Heb 2,18). Em outras palavras, Jesus sofreu muito mais do que você sofreu, por esta razão, sabe o que sente e do que precisa.


Ele venceu o maior de todos os sofrimentos: a morte

Não desperdice seu sofrimento, não jogue fora suas lágrimas. Se Deus escolheu a Cruz de Cristo como ponte de salvação entre Ele e o homem, por qual motivo queremos lançá-la fora? Por que não carregá-la com alegria? Muitos querem fazer a experiência com Cristo, mas poucos querem fazer experiência com o Crucificado.

Não sei qual é o seu sofrimento; só sei que sem ele você não contemplará a aurora de um novo dia. As suas lágrimas não podem impedi-lo de ver o sol que nasce todos os dias. E para nós, que cremos, esse sol é novo, pois faz parte de uma nova criação, inaugurada pela Ressurreição do Filho de Deus, que venceu o maior de todos os sofrimentos: a morte.

Só existe Ressurreição porque um Homem "que se esvaziou de Sua condição divina" decidiu subir a montanha do calvário. Somente os grandes homens sobem as montanhas da vida.

E você? Quer fazer a experiência de subir a montanha do calvário? Se a resposta for sim, seja bem-vindo ao encontro com Cristo. Porém, se sua resposta for negativa, por favor, não vá ao sepulcro, pois a pedra ainda não foi removida. Lembre-se de que o sepulcro só está vazio porque o calvário também o está.


 


Daniel Machado

Daniel Machado de Assis, natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/o-sofrimento-e-uma-via-maravilhosa-de-encontro-com-jesus/

23 de outubro de 2020

Possíveis consequências das regras de distanciamento social


Com a desaceleração da pandemia ligada ao covid-19, pouco a pouco as cidades começam a retomar um ritmo "normal". Esse, com certeza, será um processo muito longo, pois acredito que ainda não temos ideia das reais consequências desta crise sanitária. Uma coisa é certa: muitas mudanças no nosso modo de vida acontecerão. Neste segundo texto sobre "a volta da quarentena", quero partilhar com você uma preocupação pessoal sobre as possíveis consequências das regras de distanciamento social.

Aqui, na França, antes mesmo dessa medida drástica para atravessar a crise, cerca de 12% dos franceses já viviam o drama da solidão e 24% da população se sentia só ou isolada (informações do site do ministério da saúde da França). Temos ainda outros números assustadores: dados de 2019 mostram que em 2018 mais de 8500 pessoas se suicidaram na França (média de um suicídio a cada hora!), e outras 200.000 tentaram cometer tal ato. O suicídio já é a maior causa de mortalidade entre pessoas de 25 a 34 anos. É assustador.

Claro que vários fatores levam ao suicídio, mas não posso deixar de ligar esses dois dados: solidão elevada e suicídio elevado! Sei que infelizmente o Brasil caminha nessa direção. Não sou médico, nem psicólogo. Quero dar somente minha palavra de padre que ama a vida e que se preocupa com o povo de Deus. Por favor, lembrem-se: somos a religião da encarnação. Essa verdade tem que mudar e transformar nossas relações – com nós mesmos e com o mundo.

Foto Ilustrativa: Antonio_Diaz by Getty Images

Consequências do distanciamento social

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1,14). Negligenciar as necessidades de nosso corpo e nossas necessidades relacionais é um erro gravíssimo com consequências dramáticas. Não somos anjos! Deus é Trindade: há uma relação perfeita de amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Somos criados à imagem e semelhança de Deus, ou seja, somos também seres de relação, feitos por amor, para amar e para sermos amados. Aprendi um ditado aqui, na França, muito pertinente: "cristão isolado é cristão em perigo".

Não fazemos parte de uma religião onde podemos viver nossa vida espiritual sozinhos. (Pequena consideração: existem pessoas chamadas de modo extraordinário à vida eremítica; vale destacar que os ermitas estão sozinhos, mas não isolados, pois sabem que estão em plena comunhão com Deus e com todas as realidades do mundo). Jesus, Deus que se encarnou, teve fome e sede, sentiu-se cansado, chorou a morte de seu amigo Lázaro, alegrou-se quando teve seus pés lavados e perfumados por Maria, estendeu a mão para curar e erguer pessoas excluídas, toucou e lavou os pés dos discípulos, partilhou pão e vinho, sentiu uma grande agonia antes de morrer… Poderia citar tantos outros exemplos que mostram a vida social e relacional de Jesus. Mas Jesus também se retirava para rezar sozinho. Tantas e tantas passagens do Evangelho mostram isso. Ele estava em tamanha comunhão com o Pai, que os apóstolos o admiravam de longe rezar. Um dia, quando voltava da oração, pediram a Ele: "ensina-nos a orar" (Lc 11,1). Sobre rezar sozinho, Jesus ensinou: "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará" (Mt 6,6).

Mesmo se esses momentos "a sós" de Jesus com o Pai eram algo corriqueiro na vida de Jesus, e mesmo um ensinamento precioso para nós, o Senhor também se reunia sempre com o povo para rezar; essa oração comunitária se dava na sinagoga com grande assembleia, ou então apenas com os discípulos, ou ainda simplesmente em alguma família. Neste sentido, Ele também nos diz que "onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18,20). Na nossa caminhada cristã não escolhemos entre viver a nossa fé "eu e meu Deus" ou "eu com o povo de Deus" – precisamos dessas duas dimensões. Muitos puderam aprender na quarentena a crescer numa vida espiritual mais íntima com Deus, sozinho em casa e com os meios possíveis: terço, leitura da Palavra, pregações televisionadas, comunhão espiritual, oração em família, dentre outros.


Estou seguro de que tudo isso é benéfico e essencial para nossa caminhada cristã. Que bom se você cresceu neste ponto. Se não for o caso, nunca é tarde! Não se desespere. Muitas vezes, o ritmo frenético de antes da quarentena nos "impedia" de crescer na vida de oração pessoal. Mas, depois de tudo isso, vamos retomar esse ritmo louco e teremos que encontrar meios de manter e crescer ainda mais na oração pessoal e familiar, sem esquecer a importância da nossa oração comunitária. Pouco a pouco, segundo a legislação de cada lugar, vamos retomar nosso ritmo habitual. Não ache que você pode continuar se contentando de missa, pregações e orações pelas redes sociais. Estes não são os meios ordinários de comunhão do cristão. Deus nos deu um corpo com sensações e sentimos, e com estes, a capacidade de entrar em relação uns com os outros.

O distanciamento social necessário para proteção não é uma regra, e sim exceção

Repito: "o Verbo se fez carne", e Ele chorou, sorriu, sentiu, tocou… na última ceia Jesus nos deu três ordens importantes: "tomai, bebei, comei… isso é meu corpo, isso é meu sangue" (cf. Mt 26,26-28). Vamos ser sinceros: é impossível colocar esses verbos em prática através das mídias. São gestos que pedem nossa presença real. Não se faca de desentendido: o distanciamento social necessário para proteção não é uma regra, e sim uma exceção. Quando pudermos, e da melhor maneira possível, precisamos nos relacionar novamente para vivenciar nossa fé juntos, como povo de Deus. Somos o corpo de Cristo, e um corpo funciona com seus membros agindo juntos. Tocar, passar a mão na cabeça, bater nos ombros, abraçar, beijar e apertar de a mão… tudo isso faz parte das relações humanas, e sobretudo da nossa cultura brasileira. Cada gesto feito de maneira casta transmite uma mensagem. Não podemos perder isso. Não creio que exagero dizendo que cortar nossas relações humanas é mutilar a nossa fé.

Isso vale também para a maneira com a qual estamos realmente presentes nos diversos eventos da nossa vida: se vou à missa, eu fico atento às leituras, à homilia e aos irmãos; se comungo, penso no que estou fazendo e rezo tendo a certeza de que Deus está comigo; se exerço a caridade, o faço em nome de Jesus, e não para me promover; participo de retiros ou de encontros com o intuito de realmente crescer e me converter. Pequenas atitudes feitas com ardor e maior zelo podem transformar nossa relação com Deus e com os irmãos.

Enquanto padre, dou ênfase na nossa vida espiritual. Mas convido você a utilizar esse mesmo princípio em tudo o que você faz – na escola, na faculdade, no trabalho, numas ONG ou em qualquer outro lugar onde você esteja. Que seus pequenos gestos sejam gestos de transformação para o bem. O mundo conta conosco. Deus conta conosco. Que Deus nos dê força e sabedoria para sermos aquilo que realmente somos: filhos amados e membros do corpo de Cristo.



Padre André Favoretti

Natural de Vitória – ES, foi ordenado sacerdote dia 25/06/2017, na diocese de Fréjus-Toulon, onde atua como missionário. Antes de ser padre, concluiu uma licenciatura em Geografia (UFES), foi professor e fez uma pós-graduação em filosofia (UFOP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/possiveis-consequencias-das-regras-de-distanciamento-social/

21 de outubro de 2020

Quais são os traços que a santidade dos nossos dias nos trazem?


Neste artigo, vamos continuar nosso caminho rumo à santidade proposto pelo Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate. Nos artigos anteriores, percebemos que o caminho de santidade consiste no mandamento do amor. Nas Sagradas Escrituras, o próprio Senhor deixou claro ser este o maior mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo". (Lc 10,27).

É mais do que importante sabermos as características ou os traços que podem fazer de nós santos nos tempos atuais. Bem, sabemos que o contexto sociocultural no qual estamos vivendo não é nada fácil. Atualmente, temos desafios próprios relacionados à maneira de pensar, às ideologias que surgem e ao contexto humano específico dos nossos dias.

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Os riscos de não trilhar o caminho da santidade

Talvez, a sua vida seja tão corrida devido aos afazeres de casa, do trabalho, dos estudos, filhos e compromissos sociais, que você tenha certas atitudes que não fazem bem para você e muito menos para os outros que convivem com você. Às vezes, você nem percebe tais atitudes. Contudo, o Papa Francisco nos lembra atitudes que são comuns a nós, mas precisamos evitar "a ansiedade nervosa e violenta que nos dispersa e enfraquece; o negativismo e a tristeza; a acídia (preguiça) cômoda, consumista e egoísta; o individualismo e tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso atual". (n. 111).

O Papa nos alerta sobre uma espiritualidade sem Deus. Parece algo paradoxal e até estranho aos nossos ouvidos, "como podemos ter uma espiritualidade cristã sem Deus?". Podemos comparar com uma festa de casamento sem os noivos. É absurdo! Mas Francisco deixa claro que acontece. Como características contrárias a essas atitudes, o Papa nos deixa cinco formas de manifestarmos o amor a Deus e ao próximo.

Cinco manifestações do amor

O primeiro ato de amor é: "permanecer centrado, firme em Deus que ama e sustenta". Essa primeira característica nos permite suportar as dificuldades e até mesmo as agressões que se apresentam a nós, afirma Francisco. (Cf. n. 112). Permanecer centrado e firme em Deus, que nos ama, será o motivo da nossa paz e fará de nós testemunhas de uma santidade possível. Lutar contra as nossas inclinações agressivas e egocêntricas, combatendo-as com a firmeza interior que procede de Deus, eis o segredo para conservar-nos centrados na busca pela santidade. Peçamos a Deus o dom da firmeza interior.

O segundo ato consiste em "viver com alegria e sentido de humor". A santidade não consiste em ser triste ou amarga, desanimada, mas a nossa alegria contagiará os outros e atrairá a esperança. O Papa, no n. 122, utiliza de São Tomás de Aquino na Suma Teológica e nos diz: "do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado". Meus irmãos, o amor é o fundamento da alegria. Se amamos a Deus, não podemos ser tristes. Ainda temos a possibilidade de amar fraternalmente e assim nos alegrar, ou seja, a alegria do outro alegra-me também. "Alegrai-vos com os que se alegram". (Rm 12,15).

Como terceiro ato, Papa Francisco traz a parresia, que significa ousadia e ardor, como impulsos do evangelizar cristão. É próprio de quem experimenta o sabor da santidade, mesmo que de forma limitada a desejar que outros também experimentem essa graça, e esse desejo é evangelização com parresia. E quem nos dá a parresia? Ela é própria do Espírito Santo, por isso, peçamos o Espírito, a fim de que nos dê ousadia e ardor na evangelização.


Corremos o risco de cairmos em um comodismo, procurando as nossas próprias seguranças, afirma o Papa. Porém, Deus se faz novidade e a seu exemplo nos quer tirar da vida cômoda: "Ele próprio se fez periferia. Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá o encontraremos […]" (n. 135). Jesus está naqueles irmãos que estão feridos e excluídos da sociedade. (Cf. n. 135).

O quarto ato de amor que nos leva à santificação é a vida em comunidade. É fato que, quando estamos sozinhos, corremos mais riscos de cairmos e sucumbirmos à tentação. Além disso, a vida comunitária também proporciona o crescimento espiritual, pois é a oportunidade de exercitarmos as virtudes. Francisco nos diz: "A comunidade é chamada a criar aquele espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado. Assim como viver os sacramentos. A comunidade é guardiã do amor.

Por fim, o quinto e último ato de amor é o que o nosso Papa chama de oração constante. Não podemos ser santos sem ter um espírito orante. Gosto da definição de oração de Santa Teresa quando ela diz: "oração é um trato de amizade, estando muitas vezes a sós com quem amamos." O santo tem necessidade de estar nessa relação com Deus. Mas para isso precisa que nós tiremos um tempo do nosso dia para estarmos com o Amado de nossas almas. Procuremos ocasiões e momentos para estar a sós com Ele, o silêncio é o nosso amigo para que esse diálogo aconteça.

Espero que, com a ajuda do nosso amado Papa Francisco, seguindo os passos indicados nesta exortação apostólica, cheguemos à santidade tão desejada por Deus para as nossas vidas. Que encarnemos essas características e busquemos a vontade de Deus no nosso dia a dia.



Fábio Nunes

Francisco Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Fábio Nunes é também Bacharelando em Teologia pela Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP) . Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/quais-sao-os-tracos-que-santidade-dos-nossos-dias-nos-trazem/

19 de outubro de 2020

A importância de dedicar-se à vida de oração


Nos textos anteriores vimos que todos somos chamados por Deus à santidade, mas poucos optam por esse caminho. A grande maioria das pessoas se divide entre viver no pecado e viver uma vida mundana. Isso apenas confirma o que o próprio Jesus nos ensinou: "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e numerosos são os que por aí entram" (Mt 7,13). E Nosso Senhor arremata com palavras que parecem bastante desanimadoras: "Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram" (Mt 7,13). São raros os que encontram o caminho da vida, ainda que muitos passem anos e anos buscando. Por que
isso acontece? O que fizeram de diferente aqueles que encontraram o caminho? Santa Teresa d'Ávila dá a resposta de maneira muito simples: a porta para entrar no castelo interior é a oração. Não se trata somente de recitar orações, porque há muitas pessoas que passam anos e anos rezando e não crescem no amor a Deus. A oração que nos conduz à santidade passa por duas direções apontadas por Santo Agostinho há mais de 1.500 anos:

"Deus sempre o mesmo: que eu me conheça a mim mesmo; que eu Te conheça".

A importância de dedicar-se à vida de oração

Foto ilustrativa: tepic by Getty Images

A vida de oração dos mundanos e dos que querem ser santos

Se Deus habita no mais íntimo do meu coração, nas moradas mais secretas da minha alma, a minha oração precisa, portanto, me conduzir para o meu interior. Qual a diferença entre a oração de alguém que está confortável com sua vida mundana, ainda que não esteja em pecado mortal, e a oração de alguém que quer ser santo? É só lembrarmos da parábola do fariseu e do publicano: o fariseu rezava agradecendo a Deus por não ser como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros. Já o publicano se mantinha à distância e sequer levantava os olhos, enquanto suplicava que Deus tivesse piedade dele, por ser pecador. Jesus não disse que o fariseu mentia na sua oração, então podemos crer que de fato ele não era ladrão, nem injusto, nem adúltero. Era um perfeito cumpridor de obrigações, tanto que ele completa a sua oração dizendo que jejuava duas vezes por semana e pagava o dízimo de todos os seus lucros. Ele, contudo, não saiu justificado da presença de Deus, mas sim o publicano. Qual a diferença entre as duas orações? O próprio Jesus nos responde: a humilhação diante do Senhor. O mundano não percebe, mas sua atitude é sempre conduzida pela soberba. Ele está satisfeito com o próprio relacionamento com Deus, com a própria vida porque julga a si mesmo como alguém bom, justo, que já está fazendo o suficiente. Ele pensa: "Antes eu traía minha esposa, mas agora larguei o pecado e sou um homem de Deus", ou "Eu vivia nas cachaçadas da vida, de bar em bar, e agora que encontrei Jesus, vou à missa aos domingos, não bebo mais, sou um novo homem!"


Humildade

Louvado seja Deus por tudo isso, mas ainda não é essa a vontade de Deus para a nossa vida. Não basta abandonar o pecado, é preciso amar, e amar muito, mas para amar eu preciso reconhecer quem eu sou e quem é Deus na minha vida. É por isso que Santo Agostinho diz que a oração dele é sempre essa, pedindo que ele conheça a si mesmo e conheça a Deus. O primeiro movimento da nossa oração deve ser sempre guiado pela mais elevada humildade. À medida que nos aproximamos de Deus com humildade, falando das nossas misérias, limitações e dores, Ele, em sua misericórdia, vai nos revelando quem somos de verdade. A verdadeira oração vai invertendo os papéis. O mundano tende a chegar diante de Deus como aquele fariseu, achando-se cheio de "créditos" por conta dos preceitos que cumpre. Por conta disso, sua oração normalmente é cheia de pedidos, de súplicas de graças, milagres, sinais. O mundano pede muito que Deus afaste o seu sofrimento, resolva seus problemas, lhe dê a vitória, honre sua fidelidade. Aquele que busca a santidade, contudo, aproxima-se de Deus de cabeça baixa, humilde, porque à medida que rasga seu coração diante de Deus, vai se reconhecendo em sua miséria. Um dos primeiros frutos dessa oração é a consciência dos próprios pecados: "Senhor, eu tento fazer o bem, mas sou orgulhoso demais! Senhor, como eu sou infiel a ti! Meu Deus, eu sou um teimoso, um preguiçoso, não consigo controlar meus impulsos. Misericórdia, Senhor!"

A oração automaticamente passa do "que eu me conheça" para o "que eu Te conheça, Senhor", porque a consciência das próprias misérias acende um enorme holofote diante da pessoa: "Eu não te amo, Senhor, como eu deveria!" Essa descoberta é fundamental para quem quer ser santo. Aliás, pode-se até dizer que é essa descoberta que começa a mover a pessoa em direção à santidade, porque ela quebra todas as estruturas que sustentam a vida mundana. Até então, tudo estava tranquilo, pois parecia ser prova de amor o cumprimento das obrigações. Mas ao contemplar a obra salvífica de Deus, ao compreender o sacrifício redentor de Jesus e colocá-lo lado a lado com os meus muitos pecados passados e presentes, algo se agiganta na minha alma: ao mesmo tempo que louvo a Deus por perceber isso e poder me consertar, vejo-me arrependido, envergonhado, com o coração dilacerado por ter ofendido tanto a Nosso Senhor Jesus Cristo, por ter feito tão pouco caso da sua Paixão. Santa Teresa d'Ávila expressa isso muito bem: "Não peçais aquilo que não mereceis; nem haveria de nos passar pela cabeça que, por muito que sirvamos a Ele, poderíamos merecer tanto ao termos ofendido a Deus". Em outro momento de As Moradas do Castelo Interior, ela diz que mesmo que até o último instante da nossa vida não pecássemos mais, ainda assim seríamos devedores, por conta da nossa ingratidão passada com o Sangue inocente de Cristo derramado na Cruz. Quando me dou conta de que com os meus pecados eu tornei mais pesada a cruz que Cristo levou ao Calvário, como disse Santo Afonso de Ligório, vejo que não tenho outra opção: preciso viver até o fim da minha vida me esforçando para amar mais a Deus, para tentar retribuir, tanto quanto eu puder, o amor que Cristo demonstrou por mim.

Amar somente a Deus

Ao pedir a Deus "que eu me conheça, que eu Te conheça", eu me uno a São João de Ávila, que diz:

"Senhor, quando vos vejo na cruz,
tudo me convida a amar:
o madeiro, a vossa pessoa, as feridas de vosso corpo e principalmente o vosso amor.
Tudo me convida a vos amar e a não me esquecer mais de Vós."

Mas o caminho de santidade não é nada fácil, porque descobrimos que não conseguimos amar a Deus como Ele merece por conta das nossas muitas faltas, da maldade e dos muitos apegos que ainda residem no nosso coração. É necessário, portanto, educar nosso corpo e nossa alma para amar somente a Deus, para ter somente a Ele como tesouro. Mas isso é um assunto para o próximo texto.



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/importancia-de-dedicar-se-vida-de-oracao/