26 de agosto de 2020

Por que cometemos sempre os mesmos pecados?


O encontro pessoal com Cristo Ressuscitado provoca uma transformação em nosso interior. O amor de Deus é responsável pelo nascimento de homens e mulheres novos, gerados na água e no Espírito (cf. Jo 3,3-5). Nossas aspirações passam a ser de enveredar pelo caminho da santidade, procurar o arrependimento dos pecados, para não ofender o Senhor, que revelou o quanto nos ama.

A esperança renasce, uma força contagia e, principalmente, um novo conceito de si, a partir da dignidade de filho de Deus, abrange nossos corações. Porém, decorrido algum tempo, pode acontecer de voltarmos a cometer alguns pecados. Mesmo com luta e vigilância, acabamos por cair, vez ou outra, nos mesmos erros. São os chamados "pecados de estimação".

Foto Ilustrativa: by Getty Images / torwai

O que esses pecados geram em nós

Temos a consciência e a inspiração de não pecar, então, por que nos percebemos fracos diante de certos impulsos? A primeira coisa a entender é que: o Senhor criou o homem todo no bem, para o bem e pelo bem. "E viu (Deus) que tudo era muito bom" (Gn 1,31). São Tomás de Aquino diz que "o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina". Ainda citando São Tomás de Aquino, ele diz: "O pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem". O que leva o ser humano a pecar sempre será o desejo de alcançar o bem que nele foi constituído.

Pecamos quando usamos esses "bens", dons e talentos depositados em nós por Deus de forma incorreta. Esse anseio pelo bem nunca será extirpado e, ainda que a forma de buscar alcançá-lo seja errada, "o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar-se, mas não consegue destruir o senso moral até a raiz" (Catecismo da Igreja Católica, n. 1865). O dom nunca morrerá, mesmo que o estejamos usando para o pecado. "Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" (Rm 11,29).

Se todas as nossas faculdades humanas foram criadas para o bem, mas, por nossa livre iniciativa ou porque aprendemos as coisas de forma pecaminosa, nós ainda não conseguimos nos livrar de uma prática ruim, significa que estamos lidando com um traço da nossa personalidade criada para o bem; porém, durante a história pessoal, foi habituado na forma de pecado e não de virtude.

O demônio e as nossas fraquezas

Aí entra satanás, o autor do pecado com suas artimanhas. A tentação será maior em uma área do que em outra, pois o demônio conhece nossas fraquezas, ou melhor, conhece nossos traços e quer acabar com o que temos de melhor. Jesus, no deserto, foi tentado justamente em Sua mais sagrada particularidade, naquilo que só Ele é: "Se és Filho de Deus!" (Mt 4,3-6). De Jó, o demônio pediu contas de seu maior mérito: a fé (cf. Jó 1,21; 2,9-10).

Também, nossa maior luta será nas maiores características do nosso ser, no que diz respeito ao núcleo íntimo de cada um. É por isso que voltamos à prática do pecado, pois foi afetado um traço da sacra individualidade do ser, está selado em nós e não há como lançar fora o que somos. Exemplo disso: uma grande habilidade de comunicar-se, em vez de ser usufruída para levar a Boa Nova, pode estar sendo desenvolvida para a maledicência.

Se uma fraqueza persiste, há ali um forte traço da nossa humanidade. É um valioso dom, mas não o percebemos como riqueza, pois estamos lutando para sufocá-lo, já que está manifesto na forma de pecado. O homem que enterrou seu único talento, no fim perdeu-o, exatamente por não ter investido corretamente (cf. Mt 25, 14-30). O livro "Pecados e Virtudes Capitais", do professor Felipe Aquino, salienta que os erros e os bens capitais têm todos uma mesma raiz, apenas que um é inverso do outro.

O que devo fazer?

O que se deve fazer agora é direcionar essas forças para o bem, descobrindo em que ponto nos apropriamos, aprendemos ou canalizamos essa característica individual de forma errada e potencializá-la de maneira que venha à tona toda riqueza que o Altíssimo deu a cada um de nós.

Também, é essencial não lutarmos sozinhos! Tanto para detectar em que ponto da nossa vida o dom foi se inclinando para o pecado como para bem canalizá-lo será importante a ajuda de uma outra pessoa. Busque auxílio: biológico (se for patologia ou vício), psicológico e espiritual (alguém ministeriado).

Nessa descoberta, que é permeada pela luta, acima de tudo devemos ter paciência conosco. Sendo humanos, somos limitados e sempre conviveremos com nossas misérias, porém, não podemos nos render a elas. A busca da santidade não é atingir a perfeição, mas lutar contra nossas fraquezas. Nisso o ser humano avança, torna-se humanamente melhor e mais próximo de Deus.

É preciso lutar!

São Francisco de Sales ensinava: "Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, com mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio de um amor brando, sossegado e terno".

Caiu? Levante-se! Não se conforme com o pecado nem desanime. Você vai vencer! O Catecismo da Igreja Católica afirma, no número 943: "os leigos têm o poder de vencer o império do pecado em si mesmos e no mundo". Além de o Senhor dotar-nos com essa força interior, que é mais potente que nossas faltas, ainda podemos recorrer à Sua graça. "Mas Ele [Jesus] me disse: Basta-te a minha graça".


Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, necessidades, perseguições e no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. "Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte" (II Cor 12,9a-10).

A graça de Deus, também, se manifesta em nossa pobreza. Quando nos percebemos impotentes diante de um fato, só podemos recorrer à Misericórdia Divina que, neste mundo, manifesta-se por excelência no Sacramento da Confissão. Confessar-se será sempre a melhor via de libertação.

Deus o abençoe!



Sandro Arquejada

Missionário da Comunidade Canção Nova, Sandro Arquejada é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente, trabalha na Editora Canção Nova. Autor de livros pela Editora Canção Nova, ele já publicou três obras: "Maria, humana como nós"; "As cinco fases do namoro"; e "Terço dos Homens e a grande missão masculina".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/por-que-cometo-sempre-os-mesmos-pecados/

24 de agosto de 2020

Vocação: como saber se é Deus me chamando?


Há diferentes vocações, mas é um mesmo e único Deus que chama a todos. O chamado é sempre particular, pessoal e intransferível; ou seja, ninguém ouve por você o chamado que Ele te fez. Você ouve Deus falando, das mais infinitas e criativas formas, mas sempre de um jeito que você "ouvinte" entenda, ou Ele não chamou. Deus é simples, Ele não gosta de complicar as coisas.

Às vezes, o Senhor se utiliza de uma pessoa ou outra para chamar a sua atenção, pois quer falar com você, mas Ele falará com você e não para essa pessoa. Entendeu? A vocação é sempre um exercício de correspondência, Deus chama; eu escuto e respondo; Ele envia, assim como Samuel: "O Senhor chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui!" (1 Samuel 3, 4).

Vocação: como saber se é Deus me chamando?

Foto ilustrativa: Delmaine Donson by Getty Images

A revelação da vontade do Senhor em relação a nós se dará no decorrer desse processo de correspondência. É na intimidade com o Ele, ou seja, tornando-me cada vez mais amigo d'Ele é que as coisas se tornam mais claras. No início, Samuel precisava da ajuda de Eli para entender que era Deus quem o chamava, mas, à medida que ele mesmo foi buscando essa intimidade, mais alto e claro ouvia o Senhor.

Seja amigo de Deus

Aqui, quero chamar a atenção para a importância de um diretor espiritual nesse processo de discernimento. Mas lembre-se de: ser amigo de Deus é o primeiro passo para quem quer discernir bem uma vocação. E será sempre o "toque de caixa" dessa vocação, quanto mais íntimo d'Ele eu for, mais eu corresponderei com alegria a esse chamado e mais fácil será obedecer à voz de Deus que, na mesma proporção da nossa correspondência, nos pede mais e mais e nos confia missões cada vez maiores.


É interessante que possa parecer tensa essa relação com Deus, então, é aí é que está o segredo. Quando é o Senhor quem chama e livremente vamos respondendo a esse chamado e  nos tornamos amigos d'Ele, vamos sendo tomados por uma paz e uma alegria que autentica esse chamado e chancela a nossa decisão. O medo não cabe nessa relação de amizade com o Senhor e, pouco a pouco, vai ficando menor e mais distante.

Portanto, paz e alegria serão os nossos companheiros no discernimento vocacional e em nossa vocação, pois também serão eles que, nas horas difíceis e nubladas, nos indicarão o caminho certo.

"A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus" (Evangelli Gaudium n.1).

Deus abençoe e bom discernimento!



Carla Picolotto

Carla Picolotto, é natural de São José das Missões-Rio Grande do Sul membro da Canção Nova desde 2009. Passou pelas missões do Rio de Janeiro- RJ, Fortaleza- CE, além de Cachoeira Paulista-SP e Lavrinhas-SP atua hoje na missão de Queluz- SP na Equipe de Formação do Discipulado, que corresponde ao segundo ano do período de Averiguação de ingresso das novas vocações à Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vocacao-como-saber-se-e-deus-me-chamando/

20 de agosto de 2020

Será que devo recomeçar ou desistir?

Em algumas situações de nossa vida, é necessário parar, rezar e fazer os cálculos, nos perguntando qual é a melhor escolha: desistir ou recomeçar. Recomeçar é sempre bom porque vem depois do verbo esperançar. Pois, se você acha que vale a pena recomeçar é porque, certamente, acredita que, dessa vez, poderá dar certo.

Mas antes é necessário realmente se questionar: "De fato, vale a pena tentar novamente?". Existem situações que a vida já nos mostrou que uma mudança não vai acontecer. Então, por que continuar insistindo? É melhor você parar e pegar a força que usa para tais situações dar certo e realocá-la em outra coisa.

Será que devo recomeçar ou desistir?

Foto ilustrativa: Tamara Dragovic by Getty Images

Recomeçar ou desistir depende de você

Porém, se após rezar e fazer os cálculos você perceber que vale a pena recomeçar, não tenha medo, recomece. Encha seu coração de alegria, de esperança, de força… E recomece! Seja um estudo, um relacionamento, sua vida de intimidade com Deus… Apenas recomece.


Recomeçar existe para situações que ainda não se acabaram, mas que, por vezes, foram deixadas de lado ou até mesmo ficaram desgastadas com o tempo, contudo, é possível retomar e dar a elas o sabor de novidade. O bom de recomeçar é porque você já aprendeu com as coisas que deram certas e erradas. Então, a sua chance de acertar agora são bem maiores. Recomeçar ou desistir depende de você e do discernimento de cada situação.

Eu rezo para que você saiba quais são as situações que precisa desistir como também as que precisa recomeçar. E para as que precisa recomeçar, desejo a você a força e a sabedoria. Você merece ser feliz!



Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). Membro da Comunidade Canção Nova, desde o ano de 2009, a missionária é graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/sera-que-devo-recomecar-ou-desistir/

17 de agosto de 2020

Diga-me quem “segues” e eu te direi quem és!


Em 1972, diante de toda perseguição e crise em que a Igreja vivia após o Concílio Vaticano II, São Paulo VI declarou que "de alguma fenda a fumaça de satanás entrou no templo de Deus", e seguiu explicando: "Há dúvida, incerteza, problemática, inquietação, insatisfação, confronto… Não confiamos mais na Igreja; confiamos no primeiro profeta profano que vem falar conosco de algum jornal ou de algum movimento social para persegui-lo e perguntar se ele tem a fórmula da vida real"1. São Paulo VI denunciava uma crise de referencial. A Igreja que, desde o dia em que "nasceu do lado aberto de Cristo"2 foi mãe para a humanidade, agora, era deixada de lado, era abandonada, era desprezada por pagãos e pelos seus próprios filhos.

Diga-me quem

Foto ilustrativa: pkanchana by Getty Images

Hoje não é diferente. Também estamos em um tempo em que buscamos referenciais, mas, se esses forem buscados em lugares errados, seremos muito mais manipulados do que conduzidos à Verdade, como sempre foi o papel de Cristo e de sua Igreja.

Qual é a sua referência?

O mundo atual carece de referência e qualquer nova oportunidade pode tornar-se um bem ou um mal. O cuidado com os meios se encontra em quem tem domínio de si e não em quem segue "qualquer vento de doutrina" (Ef 4, 14), em quem acredita na mentira mais esfarrapada e sem fundamento que lhe contem. É preciso urgentemente voltar a desenvolver no coração do filho de Deus, que nasceu nas águas do batismo, o domínio nas paixões e o discernimento. Atualmente, qualquer um que tenha um perfil nas redes sociais pode encontrar nelas um referencial, um "digital influencer", e isso não é em tudo ruim, o perigo se encontra em fazer das nossas referencias os nossos ídolos, o nosso "Baal" do mundo moderno. E, na era digital, qualquer pessoa pode se tornar um falso messias!


A grande referência de quem é cristão deve ser a Doutrina da Igreja! Tudo deve ser passado pelo crivo da fé; e tudo que a extrapola ou a abandona pode ser um perigo grande demais para quem não tem maturidade de enfrentar. A Igreja com a sua Doutrina sempre foi a "Lumen Gentium"3, a luz dos povos, e hoje não pode ser diferente.

A quem você está seguindo? Quem te conduz? Para onde te conduz?

Referências:

1 Homilia do dia 29 de junho de 1972.
2 Enciclica Haurietis Aquas, nº 39.
3 Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja.

Renné Santos de Sena Viana


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/dize-me-quem-segues-e-eu-te-direi-quem-es/

14 de agosto de 2020

Não pecar contra a castidade!


Talvez a castidade seja o mandamento mais desobedecido em nossos dias. Mais do que nos demais, nesse campo a Lei de Deus é vista como mera repressão sexual a ser abolida com a máxima urgência. "Chega de tabus religiosos!", dizem. Para os que querem ser fiéis a Jesus Cristo, e querem ser de fato felizes, o mandamento continuará sempre de pé, pois é eterno.

Foto Ilustrativa: by Getty Images / west

Não fira a castidade

O triste espetáculo dos motéis, dos telefones eróticos, das novelas sensuais, dos filmes pornôs, da camisinha etc., atestam a decadência de uma civilização que, ousadamente, suprimiu a Lei sagrada de Deus. Calca aos pés o sagrado e afronta loucamente o Criador.

Já no Antigo Testamento, o Senhor dizia a Seu povo: "Não cometerás adultério" (Dt 5,18). E Jesus leva o preceito à perfeição: "Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração" (cf. Mt 5,27-28). O Mestre é radical nesse ponto, mas, ao mesmo tempo que é intransigente com o pecado, ama o pecador. À mulher adúltera, a ser apedrejada, Ele diz: "Vai e não peques mais".

O nosso mundo moderno quer, a todo custo, adaptar o Evangelho aos seus prazeres. Ao que São Paulo responde: "Não vos conformeis com este mundo, mas reformai-vos pela renovação do vosso espírito" (cf. Rm 12,2).

As desordens humanas

Não é verdade que aqueles que profanam o próprio corpo, indefinidamente, acabam numa morte triste? É interessante como São Paulo insiste nesse ponto. Também sobre o homossexualismo, hoje tão defendido por muitos, a condenação da Bíblia e da Igreja é expressa: "Não te deitarás com um homem como se fosse uma mulher: isso é uma abominação" (cf. Lv 18,22). "Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometeram uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa" (cf. Lv 20,13).

São palavras claras, pelas quais Deus classifica a prática do homossexualismo como uma abominação.

Na Carta aos Romanos, São Paulo mostra a gravidade desse comportamento desordenado: "Conhecendo Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças […] Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações e à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos […], as suas mulheres mudaram o uso natural em outro que é contra a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam de desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida a seu desvario" (cf. Rm 1,21-27).

Deus ama o pecador, mas abomina o pecado

Quando, em 1994, no "Ano da Família", o Parlamento Europeu, tristemente, reconheceu a validade jurídica dos matrimônios entre homossexuais, até admitindo a adoção de crianças por eles, o Papa João Paulo II tomou posição imediata: "Não é moralmente admissível a aprovação jurídica da prática homossexual. Ser compreensivos para com quem peca, e para com quem não é capaz de libertar-se desta tendência, não significa abdicar das exigências da norma moral… Não há dúvida de que estamos diante de uma grande e terrível tentação" (20/02/94).

O Catecismo da Igreja também é claro nos pontos que ofendem a castidade: Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (Gn 19,1-20; I Tm 1,10), a tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural (nº 2357).

Também com referência à masturbação, defendida por muitos como algo normal, ensina a Igreja: "Na linha de uma tradição constante, tanto o magistério da Igreja como o senso moral dos fiéis afirmam sem hesitação que a masturbação é um ato intrínseco e gravemente desordenado" (nº 2352).

Enfim, diz o Catecismo: "Qualquer que seja o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais normais contradiz sua finalidade" (idem).

A luta contra as impurezas

Sabemos que não é fácil a luta contra as misérias da carne, e é preciso ter caridade, respeito e compaixão pelos que sofrem desses males. É preciso lembrar-lhes que só Cristo pode dar força e libertação. Lembra-nos o apóstolo que: "Tudo posso naquele que me dá forças" (Fl 4,13).

Importa não desanimar na luta em busca da pureza. Sempre lutar, com a graça de Deus, até que o espírito submeta a matéria. São Pedro nos diz: "Depois que tiverdes padecido um pouco, [Deus] vos aperfeiçoará, vos tornará inabaláveis, vos fortificará" (I Pd 5,10).

Muitas vezes, pode nos parecer que a luta contra as paixões da carne sejam sem fim, ou que a vitória seja impossível. De fato, com a nossa fraqueza jamais podemos vencê-las, mas, como disse Santo Agostinho, que experimentou tão bem este combate: O que é impossível à natureza, é possível à graça.


Somente com os auxílios da graça de Deus é que podemos vencer as misérias da nossa carne. Daí a importância de uma continua vigilância sobre nós mesmos, ao mesmo tempo em que vivemos uma profunda e perseverante vida de oração e de participação nos Sacramentos da Reconciliação (Confissão) e Eucaristia. Nesses Sacramentos, Jesus nos lava com o seu próprio Sangue redentor, alimenta-nos e cura a alma, a fim de que sejamos fortes contra as tentações. Nossa Mãe Maria é a Rainha da pureza e está sempre pronta a nos auxiliar nesta luta árdua. Precisamos recorrer a ela e nos colocarmos continuamente debaixo de sua proteção materna.

A luta contra as impurezas é da maior importância, não só para cada um de nós, mas, principalmente, porque cada batizado é membro de Cristo (cf. I Cor 12,27). É preciso estarmos cientes de que, quando nos sujamos, sujamos também o Corpo de Cristo; aí está toda a gravidade da luxúria. Cada um de nós é parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja; logo, o nosso pecado afeta toda a Igreja. Eis porque nos confessamos com um ministro seu, também, para nos reconciliarmos com ela.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/castidade/nao-pecar-contra-a-castidade/

12 de agosto de 2020

Ofensas e humilhações: combustível para mais ofensas e humilhações


Costuma-se dizer que uma pessoa só revela aquilo que ela verdadeiramente é quando se exige dela uma resposta imediata diante de uma situação repentina. Não sei se isso é totalmente verdadeiro, porém, é inegável que a zona de conforto que todos nós gostamos tanto e na qual nos refugiamos é também uma região em que se manifestam apenas as nossas aparências. Nela, o 'verdadeiro eu' permanece num cochilo "hibernaz".

Por vezes, o sossego duradouro do 'verdadeiro eu' é incomodado. Geralmente, esse inconveniente é causado por aquilo que ouvimos, vemos, pensamos, presenciamos, em suma, pelo que se nos apresenta, principalmente, de supetão. Caso me fosse pedido um exemplo concreto, eu logo responderia o mais recente: o tal vídeo que  "tsunamizou" a internet essa semana. Quem não assistiu, afinal, ao vídeo daquele rapaz que trabalha com entregas de alimento sendo recebido com exasperação por um outro que fizera a tal encomenda?

Não pretendo fazer nenhum comentário diretamente sobre o vídeo, muitos já o fizeram. Que cada um analise para si a justeza (ou não) dessa repercussão acalorada. A bem da verdade, confesso, não consegui até hoje assistir ao vídeo do início ao fim. Meu propósito é tecer alguns breves comentários sobre a repercussão do caso nas redes sociais.

Ofensas e humilhações: combustível para mais ofensas e humilhações

Foto ilustrativa: skynesher by Getty Images

Jesus quebrou o ciclo das ofensas e das humilhações

Alguém parou para pensar, ao menos por um minuto, no conteúdo dessa repercussão? Merecida ou imerecidamente, a pessoa que humilhou foi fortemente repreendida com mais humilhações. Situação que se assemelha, de certo modo, a uma reprimenda de uma mãe que, aos berros enlouquecedores, pede para o filho parar de gritar. Não teria essa situação algo de esquizofrênico? Eis o ciclo do mal e da ignorância sendo fomentado com mais mal e mais ignorância.

A título de exemplo, que bem se poderia tirar comparando a uma caixa d'água aquele que, no vídeo, provocou a humilhação? Pelas redes sociais, o infeliz ainda ganhou rosto de demônio, feições suínas, corpo de personagens jocosos do cinema, sem contar os intermináveis xingamentos desmedidos que nem cabe retomar. Com isso, não estou defendendo nem deixando de defender ninguém.

A propósito, o Mateus – aquele do Evangelho – possuía uma profissão que lhe trazia enormes somas de dinheiro, ou seja, era coletor de impostos. Embora fosse rico, aquele homem, o Mateus do Evangelho, foi desprezado. Considerado por todos como um aproveitador, certamente Mateus seria alvo de muitos memes caso estivesse nos nossos tempos. Assim como os fariseus daquele tempo não o perdoaram, os do nosso tempo, provavelmente, também não o faria. O fato importante é que Jesus, mesmo sabendo quem ele era, quis jantar em sua casa.


Ser cristão, caro internauta, realmente é um grande desafio. Jesus quebrou o ciclo das ofensas e das humilhações. Em Jesus, o mal que Mateus fazia não foi usado de combustível para fomentar mais ofensas e humilhações. Jesus quebrou o ciclo do mal com o amor, desarmou o gatilho do mal. Aliás, Ele é especialista em fazer essas coisas. A mansidão do nazareno trouxe outra perspectiva para o caso do Mateus do Evangelho. O antídoto para a vozearia e o
burburinho ensurdecedor causado pela vontade de vingança havia sido apresentado por Jesus. Os fariseus, infelizmente, não o souberam usar.

Colocando novamente em evidência o caso específico do vídeo que citei acima, atrevo-me a perguntar a todos que, de alguma forma, reagiram ao caso: "Você foi capaz de quebrar o ciclo de vingança e de ofensa, assim como nos ensinou Jesus?". Não sei qual será a resposta que sua consciência lhe dará. Sei, porém, a resposta que a minha consciência me dá, a saber, um vergonhoso "não". Preciso me converter!

Desse caso tirei um aprendizado: não quero deixar escapar dos meus pensamentos que até mesmo o rico Mateus, aquele do Evangelho, recebeu o perdão e a misericórdia de Deus. Viver o cristianismo, realmente, não é fácil.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/ofensas-e-humilhacoes-combustivel-para-mais-ofensas-e-humilhacoes/

10 de agosto de 2020

O poder do diálogo no matrimônio


A última encíclica do Santo Padre, o Papa emérito Bento XVI, "Caritas in Veritate", de 29 de junho de 2009, apresenta uma proposta de vida, na qual as pessoas devem viver a verdade. E essa verdade deverá ser procurada, expressada e encontrada na caridade; e toda caridade precisa ser compreendida, avaliada e praticada à luz da verdade. O Papa usa a expressão "ágape" para falar de caridade e "logos" para dizer da verdade. E afirma que: da verdade (logos) sai a palavra "dia-logos" – diálogo, comunicação, comunhão. A comunhão é o fruto do diálogo.

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Foto Ilustrativa: itakayuki by Getty Images

O diálogo é fundamental no matrimônio

No matrimônio, o diálogo entre os cônjuges é a fonte para que o amor se alimente, cresça e frutifique em obras na própria vida do casal e também frutos de transformação da sociedade. A base do diálogo é e será sempre a verdade, mas a forma de se dizer a verdade precisa ser a caridade, com respeito a outra pessoa. Vemos muitos casais em crises conjugais por causa da falta de diálogo, por não expressarem livremente a sua opinião, causando sempre a depressão no outro, que se sente sufocado por viver a partir da verdade do cônjuge, sem poder se dizer. Por isso, o diálogo é fundamental no matrimônio.

O que seria, então, o diálogo? Arrisco afirmar que a base é a escuta e não o falar. Para aprender a dialogar com os outros é preciso aprender a ouvi-lo sem qualquer preconceito, sem querer corrigi-lo ou interferir em sua fala. Toda pessoa precisa ser ouvida, precisa ter alguém que a escute e dê atenção às suas aspirações, sofrimentos, anseios diários. Enfim, todos precisamos que alguém nos acolha com amor e nos escute por um momento do dia. Acho esse o ponto essencial no diálogo: um fala e o outro escuta, depois, o outro fala e o primeiro escuta. O fruto do diálogo deverá ser o consenso, uma opinião comum.


Quando tudo isso não acontece as pessoas acabam se fechando e não se comunicando com quem ama, porque esse não soube ouvi-la ou, então, interpretou a sua fala de forma errônea, distorcendo aquilo que ouviu e reagindo de forma agressiva ou indiferente.

O diálogo deve ser pautado na verdade

O centro do diálogo é a busca da verdade, e a verdade é Jesus Cristo. N'Ele podemos encontrar o ponto de unidade para o diálogo, por isso, a importância do casal rezar juntos. Quem reza junto consegue conversar e dialogar de forma madura e sempre com respeito. Podemos até discordar da opinião dos outros, mas é sempre bom separar o fato da pessoa. Separe e preserve sempre a pessoa; discuta opiniões. Toda discussão tem de ter como base o amor.

A verdade dita sem amor torna-se agressiva e não produz o efeito de ajuda para a melhora do outro. Se aprendermos a viver o diálogo pela verdade, mas ajustado ao amor de Deus, poderemos ser mais felizes no nosso matrimônio.

Deus o abençoe!


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/matrimonio/o-poder-do-dialogo-no-matrimonio/